Jovem é morto em supermercado no Rio… Você acha que esse crime não tem nenhuma relação com o RACISMO? Isso é mimimi? Mais do que nunca, eu preciso escrever sobre isso…
Para advogar acerca da existência do racismo no Brasil, eu poderia utilizar argumentos históricos. Citar que o racismo está diretamente ligado à história do Brasil. Afinal, a “abolição” da escravatura, simplesmente, relegou aos negros à condição de “libertos”. Mas, como a esmagadora maioria deles eram sem instrução, restou-lhes os sub-empregos, as periferias sem condições de moradia… Comprometeu-se sua DIGNIDADE… E, consequentemente, sua perspectiva positiva para o futuro. Foi um literal “Estão livres e sobrevivam como puderem”.
Eu poderia usar argumentos baseados em estatísticas que apontam, a cada 23 minutos, morrer assassinado um negro no Brasil. Ou informar que os jovens negros, ainda, são a maioria dos analfabetos e com menor inserção no nível superior, neste país. Dizer que a maioria dos encarcerados são negros… Enfim… enfim… enfim…
Contudo, acredito que esses argumentos não convencem àqueles que levantam a bandeira do “Brasil não é racista”. E se você é intransigente e solidificou sua opinião favorável à essa bandeira, nem precisa se dispor a comentar neste texto. Porém, se você ainda possui a capacidade de ouvir para refletir acerca de opiniões contrárias às suas, continue a leitura.
Há pessoas que defendem que ‘Só entende de racismo contra negro quem é negro”. Eu concordo e acrescento “Entende também, sobre racismo, quem convive com negros”
Então, convido-lhes a fazer um teste.
Quando você estiver nos lugares mais sofisticados na sua cidade, olhe em volta e conte quantos negros estão ao seu redor? Não vale contar o garçom, o porteiro, o frentista… Quantos negros sentados à sua mesa? Quantos?
Se você estuda em colégio, pré-vestibular ou curso superior que lhe exige alto investimento financeiro, chegue à sua sala, na segunda, e contabilize a quantidade de negros presentes. Quantos?
Feche seus olhos e imagine você, à noite, entrando na sua casa e, de repente, surge um homem. Se ele for branco, qual a sua reação? Mas e se ele for um homem negro? (Sinceridade!)
Agora responda-me: quantas histórias de negros como a de Joaquim Barbosa, você conhece?
Então, será quem essa não é uma das causas dos negros lutarem tanto por REPRESENTATIVIDADE?
Ah! Você “até tem amigos negros”. Ok! Porém se você possuir um bom poder aquisitivo e negar o racismo, reflita acerca do seu convívio com a família desse seu amigo. Se, acaso, ele morar nesses locais, você sobe o morro ou se desloca até a periferia para os churrascos de domingo? Ou batizado do filho? Aniversário?
Acredite, se você não conhece a história e a realidade da maioria dos negros pobres deste país, eu até compreendo você negar o Racismo. Entretanto, isso não lhe obriga a jamais mudar de opinião.
Esse trágico episódio da morte no Extra suscita a necessidade de discutirmos e lutarmos contra o racismo. Sabem o que analisei desta barbárie? Vi de um lado, Davi- o segurança. Do outro lado, Pedro- o jovem assassinado. O que os dois têm em comum? O fato de serem pobres e negros. Todavia, por alguma razão, o segurança esqueceu de que ambos “estão no mesmo barco” que navega nas ondas de um racismo que ora se mostra velado, ora explícito, ora camuflado pelo descaso.
Por isso, calar, não escrever, não se manifestar é, também, se manter na janela da casa grande observando a morte de mais um negro julgado culpado, sem direito à defesa.
E eu? Nunca fui da casa grande… Por isso, lutarei ao lado daqueles a quem, infelizmente, muitos ainda consideram “senzala”.
Não ao preconceito.
Toda carne humana tem valor.