Ao iniciarmos o presente estudo sobre a atuação da psicologia indígena, devemos entender alguns contextos históricos de luta pelos direitos dos índios e os empecilhos que surgem ao longo desse caminho. Os esforços por um espaço de fala e escuta da cultura indígena se dá desde a ocupação dos europeus, desde então, a cultura nativa sofreu várias influências de outros povos estrangeiros, e por isso a luta continua para o reconhecimento e valorização de seus costumes. Diante disso, ganhou uma grande aliada, a contribuição dos estudos e atuação da psicologia na causa indígena.
Nos primórdios do Brasil-Colônia, havia no território, em torno de cinco milhões de índios nativos, dos quais milhares foram afetados com doenças levando-os à morte com a chegada dos europeus e seu modo de vida. Atingidos por patologias antes desconhecidas, que implicava também as doenças comuns a eles, e pela colonização forçada e maus tratos dos brancos europeus, esse número caiu consideravelmente após a chegada dos estrangeiros e seus hábitos totalmente diferentes e desconhecidos aos povos que ali habitavam (FERRAZ e DOMINGUES, p. 683 2016. apud RIBEIRO, 2013).
Diante desses acontecimentos, Beraldo e Costa (2018) nos mostra que as influências desse marco histórico estão até hoje atreladas a cultura brasileira, naturalizados, principalmente sob a visão de comportamentos preconceituosos e desrespeitosos em relação a cultura indígena. A percepção de raça inferior, ainda existe nos conceitos atuais. Ao perceberem que a imagem do índio se reduz a um ser “folclorizado” ou inexistente à nossa realidade, é que temos acesso a dimensão dessa experiência na nossa cultura.
De acordo com o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 896.917 dos brasileiros são indígenas, e destes, 63,8% vivem em áreas urbanas e 57,7% localizam-se em terras direcionadas a esta população segundo o Ministério da Justiça. Além disso, registrou-se em torno de 305 etnias diferentes das quais, somam 274 idiomas. Resultando em inúmeras diversidades e imensidão de aspectos a serem compreendidos, e principalmente, respeitados.
Diante disso, surge então as contribuições dos estudos da psicologia sobre essa cultura. A compreensão dos costumes indígenas deve ser a maior força inicial deste movimento, para que se promova um trabalho de respeito e valorização genuína da história dos índios. Conhecer e enfatizar a educação, valores familiares e sociais, interações inter-pessoais, saúde mental, atendimentos às necessidades individuais de cada etnias, promoção de políticas públicas voltadas às questões indígenas são aspectos que a psicologia moderna visa contribuir. (FERRAZ E DOMINGUES, p.683, 2016).
Com o passar dos anos, a psicologia vem construindo seus estudos de forma ampla e singular e de forma a expandir ainda mais os seus conhecimentos. Desta forma, o objetivo dos estudos da psicologia avança e esbarra em cada particularidade que a atravessa, a partir da subjetividade de cada conhecimento a ser compreendido, “cujo sua principal ferramenta de enfrentamento é a técnica da escuta, a capacidade de empatia e a sensibilidade no olhar o sofrimento do próximo” (BERALDO E COSTA, p.11, 2018).
Foi no ano de 2014, quando ocorreu o IV Congresso Nacional da Psicologia, onde se discutiu durante o Seminário Nacional Subjetividade e Povos Indígenas, representantes de todo o país sobre as causas indígenas. Onde abriram espaço para debates sobre a atuação dos psicólogos sobre questões indígenas e ampliação da rede de apoio aos mesmos. Desde então, a questão indígena ganhou maior visibilidade dentro do campo da psicologia, antropologia e áreas afins (CRP SP, 2016).
Para os autores Beraldo e Costa (p.9, 2018 apud Godoy 2016), a atuação do psicólogo na população indígena é conhecer e reconhecer a população de atendimentos específico, de forma que os próprios costumes e comportamento em nada altere a sua postura diante de seu trabalho. De modo imparcial e compreensivo, é que o profissional de psicologia terá maior chance do alcance do seu trabalho e dará espaço aos anseios daquele povo.
Os mesmos autores ainda relatam que, ao se trabalhar com os povos indígenas, o profissional precisa se atentar que há diferença deste trabalho para os atendimentos de populações vulneráveis. Pois o psicólogo está inserido e vive numa cultura diferente dos índios, e por isso, este precisará de estudo, respeito e planejamento no manejo dessas populações para que atenda todas as características e necessidades particulares dos seus pacientes. (BERALDO E COSTA, p. 10, 2018 apud GUIMARÃES, 2016).
Com o crescente interesse de atuação dos psicólogos sobre as causas indígenas, devido a vários fatores. A visibilidade do profissional de psicologia na contribuição das ações do poder judiciário para suas decisões, e olhar acolher sobre as mazelas vividas por este povo diante das injustiças sociais enfrentadas historicamente e a resistências de seus direitos, são fatores que influenciam na participação da psicologia e população indígena contemporânea (p.185. CRP SP 2016).
REFERÊNCIAS
BERALDO, I. S. COSTA, M. F. Psicologia e povos indígenas: Reflexões iniciais sobre a atuação do psicólogo no movimento indígena na luta por território. 2018.
BERNI, Luiz Eduardo Valiengo. Psicologia e saúde mental indígena: Um panorama para construção de políticas públicas. Psicologia para América Latina. 2017.
CRP SP. Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. Povos indígenas e psicologia: A procura do bem viver. Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. São Paulo: CRP SP, 2016.
DOMINGUES, Eliane. FERRAZ, Isabella Tormena. A Psicologia Brasileira e os Povos Indígenas: Atualização do Estado da Arte Psicologia: Ciência e Profissão Jul/Set. 2016 v. 36 n°3, 682-695. DOI: 10.1590/1982-3703001622014. Universidade Estadual de Maringá, PR, Brasil.
IBGE. Indígenas. Estudos especiais: o Brasil indígena. Rio de Janeiro, RJ: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. Disponível em: . Acesso em: 9 jul. 2018.