T.H.U.G.L.I.F.E: O ódio que você semeia

A obra faz uma crítica sobre o que é ser uma pessoa negra frequentando ambientes onde a maioria das pessoas são brancas e privilegiadas

O livro “O ódio que você semeia”, escrito por Angie Thomas (e que deu origem ao filme), conta a história de Starr, uma adolescente negra que enfrenta um processo jurídico após presenciar a morte de seu melhor amigo, também negro, Khalil, por um policial branco. A história foi adaptada para os cinemas e foi estrelado por Amandla Stenberg em 2018. Antes dos acontecimentos principais do livro, a protagonista também testemunha a morte de outra amiga negra durante a infância, resultado de brigas de gangue de seu bairro. Tanto o livro quanto o filme trabalham com questões como o racismo, a violência policial sofrida por pessoas negras e em como a violência em si, no seu formato puro, transforma a vida de pessoas negras para sempre.

Antes do assassinato de Khalil, este apresenta os conceitos da T.H.U.G.L.I.F.E para Starr, que seria as siglas para The Hate U Give Lil’ Infants F**** Everyone, na tradução: O ódio que você semeia para as crianças, ferra com todo mundo. A sigla e pensamento foram criadas pelo cantor já falecido Tupac em 1992 juntamente com membros de duas gangues rivais, originando um código de ética para membros de gangues. Levando este ódio para o âmbito da saúde mental, é impossível não pensar em como o racismo e a violência contra pessoas negras afetam os campos emocional e psíquico dessa população marginalizada, podendo levar a transtornos ansiolíticos, depressivos e até mesmo contribuir para o aumento da violência, criando assim um ciclo de ódio.

Fonte: encurtador.com.br/hoSV3

O livro, ilustrado muito bem pelo filme, mostra o quanto crianças negras que nascem na violência estão suscetíveis a fazerem parte do ciclo, só para depois serem mortas pela polícia ou serem jogadas em presídios. Quando mais adultas, se vêem sem opções para o sustento da família e as alternativas mais acessíveis é o tráfico ou outra atividade ilícita. É uma boa explanação do que as minorias negras vivenciam. Nem todos possuem escolhas e o que é mais viável é sempre acessado. Obviamente há as exceções, mas os motivos dos encarceramentos em massa da população negra estão aí.

Na história, a protagonista frequenta uma escola particular em uma cidade próxima por causa da violência em seu bairro e descreve colocar uma máscara no ambiente onde apenas ela e outro rapaz são as únicas pessoas negras presentes. Starr deixa explícito que separa sua vida escolar do lugar onde mora, seja no modo de agir, modo de falar, entre outros, alegando que seria taxada de estranha se agisse da mesma maneira que age em seu bairro. A obra faz uma crítica sobre o que é ser uma pessoa negra frequentando ambientes onde a maioria das pessoas são brancas e privilegiadas que não possuem a consciência de que vivem em uma bolha social.

Fonte: encurtador.com.br/hoSV3

No decorrer da história, Starr se vê em um processo onde deverá dar um testemunho sobre o ocorrido da morte de seu melhor amigo, para que seja definida a prisão ou não do policial que puxou o gatilho. A protagonista não conta que foi a testemunha para seus colegas de escola para simplesmente não deixar a “normalidade” do ambiente escolar privilegiado ser poluído pela vida que leva em seu bairro, mas acaba por quebrar esses estigmas e solta a sua voz no protesto sobre o resultado da audiência, expondo sua indignação e toda a sua raiva reprimida.

Histórias como a de Starr não ocorrem somente na ficção. Estão mais perto do que você imagina e muitas vezes não são nem noticiadas na televisão, mas com o advento da internet, estão sendo cada vez mais propagadas e feitas reflexões críticas acerca do assunto. Um dos maiores problemas que acontecem quando histórias da vida real, parecidas com esta, são expostas, as pessoas negras que sofreram a violência, são apontadas como vitimistas.

Infelizmente, esses “donos da razão”, são pessoas que não conseguem enxergar além do próprio nariz, sem nenhuma consciência de classe e privilégio. Pessoas que vivem em um outro mundo, onde tudo é perfeito… Tudo muito perfeito, até uma pessoa negra soltar a voz e estourar de vez a bolha social.

FICHA TÉCNICA

O ódio que você semeia

Título original: The Hate U Give

Direção:  George Tillman, Jr.

Elenco: Amandla Stenberg, Regina Hall, Russell Hornsby, Anthony Mackie

País: EUA

Ano: 2018

Gênero: Drama.