Cartas para a morte, o amor e o tempo

A Fusão e a Desfusão Cognitiva no Filme Beleza Oculta e uma perspectiva da Terapia de Aceitação e Compromisso.

Talita Marques Teixeira (Acadêmica de Psicologia) –  talitampsi@rede.ulbra.br

 

Beleza Oculta é um filme de drama lançado em 2016, dirigido por David Frankel. A trama gira em torno de Howard Inlet, interpretado por Will Smith, um publicitário bem-sucedido que sofre uma grande tragédia pessoal, a perda de sua filha. Em sua dor, Howard se isola e escreve cartas para três abstrações: o Tempo, o Amor e a Morte. O inesperado acontece quando as três abstrações começam a responder as cartas e interagir com ele, personificadas por três artistas de teatro, que com ajuda de amigos entram em cena para ressignificar a vida de Howard.

As cartas são expostas ao decorrer do filme, em uma delas o personagem escreve “Querida morte, inevitável. Talvez mais distante para quem administra o tempo amando a vida. Reforça a certeza de agirmos em vida para não lamentarmos a sua presença.”, como também uma carta para o amor “Querido amor, eu continuo te esperando, por favor, não demore.” Em outra ocasião, o tempo responde Howard alegando “Eu sou abundante, eu sou um presente e você está me desperdiçando.” É possível captar que o personagem principal está envolto no luto, e encontra na troca com os personagens e em suas respostas, uma forma de superar a morte precoce da filha, o filme abre a interpretação psicológica de como um indivíduo diante de uma experiência de perda, pode se fundir psicologicamente com o ocorrido, de forma a fugir da aceitação e das emoções envolvidas no processo.

                                                                                                               Fonte:https://www.planocritico.com

A morte, o amor e o tempo

 

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) baseia-se na teoria da Flexibilidade Psicológica, composta por seis processos interligados. Um desses processos é a Desfusão Cognitiva, que envolve a quebra da Fusão Cognitiva, na qual as pessoas estão fixadas em seus pensamentos e sentimentos, considerando-os como verdades absolutas. A Fusão Cognitiva dificulta a diferenciação entre eventos privados e circunstâncias externas. Essa fusão tem raízes na evolução e na capacidade humana de classificar, prever, explicar, comparar, preocupar e julgar, desempenhando papéis de proteção e adaptação.

O personagem de Will Smith, se encontra fusionado ao luto, em ACT a problemática não está na fusão, pois como exposto, ela está a serviço das funções cognitivas, mas sim em outras palavras Em outras palavras; a cognição pode nos proteger de eventos passados, inexistentes, ausentes no presente ou incertos quanto ao futuro. Como afirmou Hayes(2007), “quando aderimos literalmente aos nossos pensamentos, ficamos à mercê de todas as experiências da vida”. Portanto, o desafio não está na existência da fusão cognitiva (pois ela tem seu propósito), mas sim na nossa capacidade de discernir quando essa fusão é ou não benéfica para guiar nossas vidas em direção ao que realmente importa.

A fusão cognitiva refere-se à ideia de que, muitas vezes, estamos “fundidos” com nossos pensamentos, o que significa que nos identificamos tanto com eles que eles se tornam nossa realidade. No filme, Howard Inlet (interpretado por Will Smith) está profundamente “fundido” com sua dor e luto pela perda de sua filha. Ele se tornou incapaz de separar sua identidade da tristeza e do sofrimento que sente. Ele está completamente imerso em sua fusão com a dor, o que o leva a se isolar e se afastar de seus entes queridos.

Howard dá início à sua desfusão cognitiva no filme, quando começa se relacionar com os personagem representando o Tempo, o Amor e a Morte, pois começa a se separar desses pensamentos e comportamentos privados, e percebem que eles não definem sua identidade. Eles o desafiam a encarar suas emoções e pensamentos de maneira mais objetiva. Com o tempo, Howard começa a perceber que ele não é seus pensamentos de dor e luto, mas sim alguém que está experimentando essas emoções. Por tanto a desfusão cognitiva é o processo de se separar dos pensamentos e emoções, percebendo que eles não os definem.

Beleza Oculta é uma história emocionalmente carregada que destaca a importância de encontrar significado nas experiências de vida mais difíceis e a conexão entre as pessoas. O filme também aborda como lidar com o luto e seguir em frente, mesmo quando a vida parece insuportável.

Sites consultados

Compreendendo a Desfusão Cognitiva

https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/beleza-oculta-une-drama-e-fantasia-em-historia-sobre-superacao.ghtml