A Clínica Psicodinâmica da Cooperação acontece via criação de um espaço de discussão para dar voz ao sofrimento dos trabalhadores, e, assim, potencializar a mobilização subjetiva do coletivo para a construção das regras sobre o fazer e o viver no espaço de trabalho (Mendes & Araujo, 2012). Afinal, “trabalhar não é apenas produzir, é também viver junto” (Dejours, 2012b, p. 85). Esta Clínica tem seu arcabouço teórico-metodológico na Psicodinâmica do Trabalho, desenvolvida por Christophe Dejours, na França na década de 1980, época que chegou ao Brasil, com a publicação da obra a Loucura no Trabalho.
Trata-se de uma pesquisa-ação para trabalhadores que não adoeceram, mas que desejam falar sobre seu sofrimento no trabalho, assim, seu intuito é ser promotora de saúde, agindo preventivamente, pois esta mobilização do coletivo vai agir na organização do trabalho, como poderá ser visto nesta prática com alguns trabalhadores da Associação de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis da Região Centro Norte de Palmas-TO (ASCAMPA).
Sede da ASCAMPA
Foto: Liliam Ghizoni (maio, 2013)
A ASCAMPA contava, na época da realização da Clínica, com 34 associados, 16 participaram das sessões, sendo 9 homens e 7 mulheres, com idade variando entre 39 e 78 anos. Por sessão obteve-se a participação de 4 a 10 catadores. A maioria possui poucos anos de escolaridade, três já concluíram o ensino médio e uma catadora o estava cursando.
As sessões aconteceram de fevereiro a junho de 2012, aos sábados pela manhã, tiveram a duração média de 1h20 e participavam deste coletivo de pesquisa, uma psicóloga, uma estagiária estudante de Psicologia do CEULP/ULBRA e os catadores. Contou-se com a supervisão semanal de uma psicóloga em Palmas e mensal com a orientadora da Tese em Brasília. Cada sessão era iniciada com um memorial, que resgatava os principais conteúdos da sessão anterior.
Apresenta-se a seguir, um resumo de cada sessão para, na sequência, descrever o processo de mobilização dos catadores ao longo das sessões.
Na 1a Sessão (4 fev 2012), os catadores relataram sua rotina de trabalho explicando que não há um horário fixo para catar, depende de fatores como clima, demanda específica de algum órgão que solicita a coleta, ou, ainda, de disponibilidade de tempo. Alguns possuem emprego fixo (vigilante; faxineira; vendedores de bolos, espetinhos, milho verde) ou precisam conciliar a catação com os cuidados domésticos e familiares. Fizeram as seguintes queixas: falta de local apropriado para armazenamento dos materiais; forma como a fiscalização da vigilância sanitária/zoonoses contra focos de dengue faz a abordagem na Sede e nas casas dos catadores; falta de maquinários para transformar o material coletado e, assim, valorizar o preço do produto; baixo preço dos materiais; e falta de comunicação entre diretoria, associados e demais catadores individuais. Verificou-se que as ações dos catadores são individuais, mesmo fazendo parte de uma associação que deveria funcionar de forma coletiva, como um grupo, onde todos podem participar das decisões sobre o trabalho bem como sobre suas responsabilidades.
Na 2a Sessão (25 fev 2012), o destaque nas falas foi a falta de união entre os catadores, o que acaba por denunciar desorganização dos catadores e da própria Associação para resolver as questões do dia a dia de trabalho. Enquanto clínica-pesquisadora manifestou-se sentimentos de aflição e agonia pelo fato de ouvir boas ideias para a solução dos problemas citados e angústia por não ter ninguém que se prontificasse a colocar em prática tais ideias. Afinal, os que poderiam fazer alguma coisa estavam ali na sessão: os próprios catadores, os protagonistas/personagens desta história. Nesta sessão, a clínica-pesquisadora manifestou o medo de os catadores ocuparem o terreno concedido pela Prefeitura de qualquer jeito, começando as atividades neste novo espaço de maneira desorganizada.
A 3a Sessão (03 mar 2012) teve um memorial diferente: fez-se um pedido de desculpas pela quebra de compromisso na sessão anterior, quando rompeu-se o sigilo ao realizar a sessão de Clínica do Trabalho na presença de pessoas que não eram catadores, mesmo estes sendo convidados pelos próprios catadores. Diante da situação, percebeu-se que os objetivos do trabalho não estavam claros nem para as clínicas-pesquisadoras nem para os catadores. Retomou-se o sentido da Clínica Psicodinâmica da Cooperação com o grupo.
Na 4a Sessão (10 mar 2012), o memorial não foi lido, pois em supervisão, decidiu-se que a sessão seria iniciada solicitando aos catadores que relembrassem o que havia sido falado na última sessão. Elencou-se como pontos de destaque para virem à tona durante a sessão: estresse no trabalho; gosto pelo trabalho, pelos objetos do lixo; e medo de perder o espaço.
A 5a Sessão (24 mar 2012) ficou marcada pela dificuldade dos catadores de relembrarem os conteúdos da sessão anterior, sem o memorial. Um catador trouxe a questão da pouca união entre a classe dos catadores. A clínica-pesquisadora aproveitou a fala para trazer a temática do estresse no trabalho. Eles não atribuíram estresse à prática da catação, pelo contrário, alguns relacionaram essa atividade a um momento de descontração, de extravasamento. Os motivos para não sentirem estresse, citados pelos catadores, foram novamente: a flexibilidade na rotina e nos horários, a facilidade da atividade (não é de difícil execução), e a possibilidade de movimentar-se e estar em contato com outras pessoas. Porém, é neste contato interpessoal que o estresse se manifesta, como relata um catador: “Todo mundo desconta estresse em todo mundo, os catadores descontam no [Administrador da Sede],assim como o [Administrador]também já descontou nos catadores”. Há também outras fontes estressoras: desconfiança na balança que faz toda pesagem dos materiais para o Administrador efetuar os pagamentos e falta de cooperação, de diálogo e organização. Outro aspecto relevante foi a manifestação de insegurança por parte dos catadores, que têm medo de perder o espaço para “as pessoas de fora”, “os grandes”. Eles expressaram também sentimento de vulnerabilidade e impotência, já que esses “grandes” (empresários que atuam com a reciclagem e/ou indústrias de incineração), como eles mesmos dizem, “têm poder, têm dinheiro, têm tudo”.
A 6a Sessão (31 mar 2012) foi iniciada novamente com o relato dos participantes sobre o que havia sido discutido no encontro anterior. Os catadores relembraram o tema “estresse no ambiente de trabalho”, relacionando-o ao acúmulo de problemas pessoais com os profissionais, mas também trouxeram novos elementos: um “antiestresse”, que seria um membro da Associação que, quando de bom-humor, consegue descontrair o ambiente fazendo piadas e brincadeiras com todos à sua volta. E outras fontes estressoras: o acúmulo e não cumprimento das tarefas diárias, a diferença nos ritmos de trabalho, a falta de cooperação e de pensamento coletivo (união). Implícito ficou a falta de comunicação e de diálogo bem como a forma de lidar com as fofocas e a dificuldade para resolverem os conflitos.
Na 7a Sessão (14 abr 2012), os catadores falaram bastante das dificuldades que têm encontrado na Associação, principalmente sobre as regras de funcionamento e de convivência. Falaram sobre a necessidade de reuniões entre os catadores para decidirem os horários e regras da entrega/pesagem do material, pois alguns estão se sentindo discriminados e desanimados, uma vez que sempre que chegam à Sede, o Administrador está ocupado e tem dificuldade para atendê-los. Reconheceram a sobrecarga de trabalho do Administrador e a necessidade de falarem sobre os problemas da associação no coletivo. Pontuou-se que os catadores têm dificuldades para falar diretamente para o Administrador o que os incomoda, pois gostam dele, o respeitam, mas sabem que ele comete erros assim como todos os seres humanos. Falar é importante para que o próprio Administrador reflita e possa modificar algumas de suas atitudes, assim como cada catador também possa refletir e mudar sua forma de agir com os colegas associados.
A gestão financeira da ASCAMPA foi muito citada nesta sessão, pois tem gerado desconfiança que, por sua vez, tem afastado alguns catadores. Assim, sugeriu-se que os catadores que têm participado efetivamente da Associação (uma média de 10 catadores) organizem esta questão, pois, assim, poderão atrair outros catadores e dar credibilidade à ASCAMPA e à futura Cooperativa que pretendem criar. Ainda nesta sessão, um catador deu a definição de associação/cooperativa:“O pessoal tem que por na cabeça que a Associação, é todo mundo presente, mas está todo mundo ausente. Então como é que você pode cobrar uma coisa a uma pessoa, se você não está lá presente? Todos têm que estar junto. Chama-se associação, o nome está bem claro, associado, ó, é grudado é a mesma coisa um dia que quiser cooperativa, é cooperando um com outro, estar cooperativa, o nome diz tudo”.
Na 8a Sessão (28 abr 2012), além de exporem suas queixas sobre as problemáticas vivenciadas com a gestão da ASCAMPA, os catadores começaram a articular o que precisava ser feito. Assim, surgiram algumas ideias: reunião com café da manhã pelo Dia do Trabalhador na Sede da Associação, o que é muito importante e significativo, pois, até então, todas as atividades eram feitas na Sede de uma entidade parceira; e dar continuidade a estas reuniões, agendando um dia fixo para conversarem sobre as questões/problemas da Associação. Definiram como pauta: falar sobre os problemas de gestão da ASCAMPA e ver como irão fazer isto junto com o Administrador, uma vez que ele não estava presente na sessão; dividir as funções dentro da Associação de acordo com o “jeito” de cada um.
Na 9a Sessão (05 de mai 2012), o marco foi o enfrentamento com o Administrador da Sede, uma vez que ele havia faltado nas duas sessões anteriores. As clínicas-pesquisadoras tomaram conhecimento de um coletivo gestor que havia sido criado pelos catadores para atuar na Sede, conjuntamente com o Administrador. Assim, refizeram normas de convivência e de trabalho.
Na 10a Sessão (26 mai 2012), mais uma vez, foi pontuado o atraso para o início das sessões, desta vez, com elementos interpretativos sobre os motivos deste atraso. Porém, em forma de questionamento: “Chegar no horário é respeitar os colegas, independente da atividade ou não?O que acham disto?É difícil chegar no horário? É complicado ouvir o memorial/texto lido no início da sessão e falar dele?”.
Retomou-se a temática da construção das tarefas do coletivo gestor dentro da Sede. Pontuou-se a forma como a convivência tem avançado entre os catadores, eles começaram a falar mais sobre o que pensam em relação ao trabalho e sobre o comportamento dos colegas, deixando o medo de lado, pois, percebia-se que a amizade e o trabalho estavam muito misturados. Porém, faltam ajustes referentes às diferenças de ritmos e tempos de trabalho bem como toda a organização financeira da ASCAMPA.
Na 11a Sessão (02 jun 2012), os catadores falaram de seus sentimentos em relação às mudanças já implantadas na Sede pelo coletivo gestor. Embora cansados, devido à quantidade de trabalho, os catadores afirmaram que a principal mudança observada foi na organização para a pesagem e o respeito com o catador que chega à Sede. Assim como evidenciaram a coragem para falar o que veem de errado, sem medo de perder a amizade ou criar confusão.
Pontuou-se a coragem e o entusiasmo dando lugar ao medo de falar e de agir. Mas também se demarcou a necessidade deconversarem sobre o que vão fazer, como a tarefa vai ser feita, como irão tratar das desavenças/brigas e confusões. As clínicas-pesquisadoras falaram sobre a importância de reconhecerem tanto o trabalho do colega quanto do coletivo gestor.
A 12a Sessão (09 jun 2012) foi a última e, assim, marcada pela emoção. Foi a primeira sessão que aconteceu na sede da ASCAMPA, por decisão dos catadores já na sessão anterior. Havia cadeiras para todos sentarem, mesa arrumada para o café e tudo muito limpo e organizado, num espaço novo, criado para ser uma espécie de escritório, recepção, área de convivência.
Houve o reconhecimento da equipe de trabalho, sobretudo das mudanças implantadas (o atendimento, a pesagem, a quantidade de material e a limpeza). Reconhecem os conflitos (atritos), mas estão confiantes no trabalho da equipe. No início da Clínica, eram três pessoas atuando na Sede, agora são sete. Há ainda discordâncias sobre o futuro, sobretudo nos aspectos relacionados a forma de pagamento aos catadores que atuam na Sede.
Relataram a necessidade de melhorarem os controles financeiros da Associação, torná-los mais transparentes; porém, há resistências quanto a quem irá ocupar esta função.
Descrição da mobilização subjetiva dos catadores
Pontuam-se as Sessões 7a a 9a como as “disparadoras dos grandes incômodos com a administração da Sede. Nestas sessões, houve enfrentamentos, começavam a vencer o medo de falar, porém havia muita desconfiança. Começaram a se reunir após a sessão da Clínica para discutir as questões que estavam surgindo na Clínica referente ao dia a dia na Sede” (Memorial da 12a Sessão, 09 jun 2012).
A 7a e a 8ª Sessões não contaram com a presença do Administrador da Sede, o que acabou por provocar muitas falas importantes, sobretudo para que os catadores pudessem perceber que poderiam se organizar num coletivo, para além do Administrador. E assim, conseguem, começam, a fazer reuniões após as sessões de Clínica e também na Sede da Associação, culminando com a criação de um coletivo gestor que passa a entender e organizar os processos de trabalho dentro da ASCAMPA.
É na 9ª Sessão que acontece o enfrentamento com o Administrador da Sede: “Esta 9a Sessão foi bem difícil… difícil ver a passividade dos catadores diante da aparência de rude e triste do[Administrador]. Todos sofrem com isto… [O Administrador]por achar que está sendo apunhalado pelas costas e os demais por não terem a coragem de falar… mas eu ainda tenho a esperança que eles consigam agir, no dia a dia e ir consertando estas questões” (Diário de Campo da 9a Sessão, 05 mai 2012).
Percebe-se que a mobilização está acontecendo através da decisão tomada pelos catadores de vencerem os medos e reafirmarem o que haviam dito nas duas sessões anteriores. As estratégias de defesa do Administrador, de vitimização e de justificação de todas as críticas recebidas, não afetam todos os catadores, alguns seguem decididos na reorganização coletiva da Associação, incluindo-o, apesar das dificuldades.
Assim, este momento configura-se pela passagem do grupo dasdiscussões para as deliberações,um movimento essencial para a mobilização subjetiva acontecer no coletivo e a organização do trabalho ser repensada.
A 10a e 11a Sessões: “Foram as sessões de deliberações. Formaram um coletivo de trabalho e começaram a colocar a ‘mão na massa’ na Sede da Associação. Antes eram 4 pessoas para atuar na Sede (1 administrador, 1 prensador e 2 jovens auxiliares), agora chegaram mais 4 integrantes catadores, formando um coletivo de 7 pessoas (houve desistência de um jovem). Criaram regras de convivência, regras para a realização das tarefas, dos horários e distribuição de atividades conforme o perfil” (Relatório Final, 06 jul 2012).
Se nas sessões anteriores o enfrentamento tinha sido verbal, os conteúdos trazidos nestas duas sessões se caracterizam pelo conflito na gestão da ASCAMPA. O velho e o novo jeito de administrar. Um consolidado e que os catadores não aceitam mais e outro ainda confuso, em construção.
A inovação não perpassa somente as questões administrativas e de processos de trabalho, mas também da necessidade de lidar com mulheres ocupando o mesmo espaço, anteriormente eminentemente masculino. Configura-se um “mal estar/incômodo com a presença das “mulheres” na Sede… ou seja, começaram a falar sobre a forma como a nova gestão está acontecendo… e com isto foram também refletindo” (Diário de Campo, 10a Sessão, 26 mai 2012).
Percebe-se que a comunicação entre os catadores ainda é truculenta, em vários momentos agressivas. Acaba-se por perceber que discutir regras, onde não havia nenhuma, está se tornando uma tarefa bem difícil para o coletivo do trabalho, sobretudo por ser a primeira experiência de tê-las e de habituar-se a regras de trabalho e convivência. Como houve pouca discussão sobre tais regras, os próprios catadores começam a negar tais normas e, assim, tentam atingir a catadora que escreveu o cartaz, afirmando que ela é mandona e que eles não irão aceitar este tipo de atitude.
Neste momento, os catadores têm dificuldades para perceber que eles podem criar as regras, experimentá-las, e fazer novas regras, como desejarem. Mas esta liberdade para administrar os inibe e acabam por repetir comportamentos do então Administrador, assim como ainda deixam com ele o controle dos pagamentos para os catadores, embora não concordem com a forma como ele faz.
Assumir os riscos e as responsabilidades ainda é uma tarefa difícil para o coletivo gestor, lembrando que este coletivo é formado por catadores que valorizavam justamente a liberdade da catação nas ruas, a construção dos seus horários e o fato de não terem patrão. Acredita-se que os catadores do coletivo gestor terão um tempo para esta adaptação que, talvez, não coincida com o final da Clínica.
A última sessão, a 12a: “Foi a primeira sessão na sede da ASCAMPA. Foi criado um espaço para tal. Uma espécie de escritório com sala de convivência. Fez-se uma avaliação positiva (e emocionada) das mudanças implantadas pelo grupo gestor bem como reconhecimento pelo trabalho de toda a equipe, com as seguintes melhorias percebidas pelos demais catadores: o atendimento ao catador, a pesagem (respeito ao catador), a quantidade de material (aumentou significativamente), a limpeza e organização da Sede, a qualidade dos almoços. Ainda estão discutindo: organização da contabilidade, formas de pagamento a equipe gestora, rodízios nas atividades da Sede, representação da ASCAMPA em reuniões externas, aumento da equipe de catadores na Sede, negociações de preço junto aos atravessadores (compradores)” (Relatório Final, 06 jul 2012).
Espaço da 12a Sessão de Clínica em 09/06/2012
Foto: Liliam Ghizoni
A Clínica termina, mas a mobilização do coletivo de catadores continua, novas demandas surgem e não se sabe que rumos a organização do trabalho da ASCAMPA vai tomar. Este é o vir a ser da Clínica, no seu durante e no seu após.
A clínica-pesquisadora, por sua vez, tem “satisfação em ver a teoria e o método dando certo… pois se propôs ao grupo a criação de um espaço de escuta do sofrimento, para transformar a organização do trabalho. E as mudanças são perceptíveis… embora fique a sensação de que a Clínica termina, mas o trabalho não… pois há muitas novas discussões e deliberações a serem feitas… e o ciclo continua…” (Memorial da 12a Sessão, 09 jun 2012).
Observou-se a mudança na forma de se verem e de verem o coletivo da Associação. No início, reclamavam que eram poucos, fracos, individualistas, ao final: “É muito interessante […] de se organizar porque a gente achava assim difícil, mas tudo tem solução basta ter o consenso que depende de cada um de nós, a união faz a força, a gente sozinho não consegue […], nós temos que aprender a confiar um no outro [..] trabalho nós melhora a cada dia mais, então estamos de parabéns a gente esta de parabéns mesmo quando fala somos poucos, mais uns poucos que acreditem” (Transcrição da Reunião de Discussão do Relatório Final, 06 jul 2012). A confiança como base para a cooperação é percebida pelos catadores e, assim, reconhecida na Reunião de Discussão de toda a Clínica, o que foi muito importante para a continuidade da mobilização do coletivo.
Atualmente, um ano e seis meses após a criação do Coletivo Gestor, a ASCAMPA colhe alguns frutos desta mobilização. Articulam a constituição de uma Cooperativa; contam com o trabalho de uma estagiária do Curso de Administração da UFT, via Projeto do NESol, no apoio administrativo-financeiro, desde outubro de 2013 e são proponentes do Projeto CATAFORTE – Negócios Sustentáveis em Redes Solidárias, do qual participam oito Associações e Cooperativas do Estado, contam com recursos do Ministério do Trabalho e Emprego e Fundação Banco do Brasil para o próximo ano, para tal contam com a Parceria do Instituto de Direitos Humanos e Meio Ambiente de Palmas-TO.
Referências:
Dejours, C. (2012b). Trabalho vivo: trabalho e emancipação (Tomo 2, F. Soudant trad.). Brasília: paralelo 15. 222 p.
Mendes, A. M & Araújo, L. K. R. (2012). Clínica Psicodinâmica do Trabalho: o sujeito em ação. Curitiba, Juruá. 154 p.
Nota:
Este texto é baseado no capítulo 8 da tese da primeira autora, orientada pela segunda autora, extraído de: Ghizoni, L. D. (2013). Clínica Psicodinâmica da Cooperação na Associação de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis da Região Centro Norte de Palmas – TO (ASCAMPA).Tese de Doutorado. Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações. Brasília, DF.