Quando a Vida Floresce em Novos Caminhos: Minha Jornada na Psicologia aos 50

Compartilhe este conteúdo:

Iniciar uma segunda graduação aos 50 anos, quase três décadas após me formar em Fisioterapia, representou e ainda representa uma travessia rumo a um renascimento pessoal e profissional inesperado e profundamente gratificante.

A psicologia sempre exerceu um fascínio em mim, intensificado pela leitura das obras de Irvin D. Yalom, como “Quando Nietzsche Chorou”, “Mentiras no Divã” e “Mamãe e o Sentido da Vida: Histórias de Psicoterapia”, entre tantos outros títulos que me cativaram profundamente. A escrita perspicaz e a abordagem existencialista desse renomado psiquiatra americano, professor emérito de Stanford, foram uma constante fonte de inspiração. E assim, em meio ao cenário da pandemia de Covid-19, retornei a vida acadêmica, sendo que os três primeiros semestres transcorreram no ambiente virtual.

O início da faculdade foi uma experiência compartilhada com minhas amigas Lúcia, Cristina e Glaucilene. Juntas, demos os primeiros passos nessa nova jornada universitária, que para mim representava também um mergulho no meu próprio processo de individuação, uma jornada que se constrói a cada dia e que ainda estou a percorrer. A vida, porém, nos leva por diferentes sendas, e Lúcia e Cristina acabaram seguindo outros percursos, enquanto eu e Glaucilene mantivemos o firme propósito de avançar nos estudos da psicologia.

Em alguns momentos, pensei em desistir. Mas, como escreveu Clarice Lispector, “depois do medo, vem o mundo”. E é tão real! A gente tem medo do novo, tem medo de ir, tem medo de mudar. Uma frase de uma música do Caetano me representa neste processo: “e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho”. 

Um fator determinante para minha jornada foi a disciplina “Psicologia Analítica”, ministrada pelo professor Sonielson Luciano. Por meio de suas aulas, comecei a desvendar a riqueza do mundo psíquico, a compreender a força dos arquétipos que moldam nossa experiência e a dinâmica sutil dos complexos que influenciam nosso comportamento. Essa nova lente de análise tornou a jornada profundamente enriquecedora e apaixonante. Minha idade, outrora um receio, transmutou-se em bagagem, em um acúmulo de experiências que enriquecem minha compreensão da complexidade da vida.

Ao mergulhar nos estudos da alma humana, encontrei ressonâncias inesperadas com minha vivência pregressa. A experiência na Fisioterapia, com suas nuances de dor física e emocional, revelou-se um terreno fértil para a compreensão da intrínseca ligação entre corpo e mente. Descobri que minhas “feridas” da vida, minhas próprias lutas e superações, paradoxalmente, me conferiam a capacidade de ser, como na mitologia grega, um Quíron moderno: um curador ferido, capaz de auxiliar outros em seus processos de cura justamente por ter experimentado a vulnerabilidade.

Com a perspectiva de me tornar psicóloga ao final de 2025, aos 55 anos, sinto que a jornada iniciada aos 50 segue com uma força revigorada. Aquele medo inicial, outrora presente, cede espaço a uma confiança serena, firmemente ancorada na certeza de que a vida se tece em um constante recomeço, numa espiral de aprendizados e transformações. Permito-me, com entusiasmo renovado, ser aprendiz a cada instante, desconstruindo velhas convicções para acolher as inúmeras possibilidades: uma delas, aposentar como fisioterapeuta e recomeçar como psicóloga. Sigo com a convicção de que a idade jamais poderá restringir a busca pelo conhecimento e a concretização de um propósito.

Minha jornada e de tantos que se reinventam após os 50 anos, que aos olhos do mundo pode ter se iniciado tardiamente, revela-se profundamente enriquecedora e gratificante, demonstrando que o tempo, longe de ser um empecilho, pode atuar como um poderoso catalisador para o crescimento tanto pessoal quanto profissional. E, ecoando a sabedoria de Clarice, celebro o vasto mundo que se descortinou após a superação do medo, um universo onde a maturidade se harmoniza com a renovação, e a experiência nutre uma insaciável sede de aprender e de contribuir, impulsionada pela profunda compreensão da psique humana que a obra de Jung me proporcionou.

Compartilhe este conteúdo: