A expansão dos princípios da Abordagem Centrada na Pessoa na Psicologia Clínica

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Desde a sua concepção, a psicologia clínica tem passado por processos de evolução, diversas abordagens teóricas e práticas surgem ao longo dos anos e deixam sua marca na construção dos princípios da psicologia. Uma das influências marcantes nesse processo foi a contribuição da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de Carl Rogers na formação da história. No contexto em que emergiu, a ACP contrastava com abordagens predominantes, como a psicanálise e a análise do comportamento, ao enfatizar elementos como empatia, aceitação incondicional e a importância do vínculo terapêutico.

A abordagem de Rogers foi importante por ser a precursora em sua ênfase na relação terapêutica como catalisadora do processo de mudança. Rogers postulou que um ambiente terapêutico caracterizado pela empatia do terapeuta, aceitação incondicional e congruência promove a autoexploração e a autorrevelação do cliente, facilitando assim o crescimento pessoal e a resolução de problemas psicológicos (Rogers, 1957). Esses princípios, porém, que são advindos da terapia centrada na pessoa, na decorrência do tempo, se tornaram reconhecidos como fundamentais em toda psicologia clínica.

A empatia, por exemplo, foi amplamente reconhecida como uma habilidade crucial para estabelecer uma aliança terapêutica sólida em diferentes contextos clínicos (Bohart & Greenberg, 1997). A habilidade do terapeuta de compreender e refletir as experiências emocionais e cognitivas do cliente é considerada essencial para promover uma maior compreensão e aceitação do self do cliente.

Além disso, a aceitação incondicional, conceito central na ACP, influenciou a forma como os terapeutas abordam as experiências e comportamentos dos clientes. Ao adotar uma postura de aceitação genuína, os terapeutas são capazes de criar um ambiente seguro e não julgador que encoraja a autoexploração e a expressão autêntica do cliente (Truax & Carkhuff, 1967), a partir deste posicionamento, promove-se o contexto em que na psicoterapia, o paciente/cliente, pode se sentir seguro, pois o terapeuta não irá contribuir para um ambiente de rejeição.

Outro aspecto importante da ACP que se expandiu para a psicologia clínica moderna é a ênfase no vínculo terapêutico. A qualidade da relação entre terapeuta e cliente tem sido consistentemente associada aos resultados terapêuticos positivos (Horvath & Symonds, 1991). Um vínculo terapêutico forte e seguro proporciona ao cliente um ambiente propício para explorar desafios emocionais e cognitivos, facilitando assim o processo de mudança e crescimento pessoal.

É importante ressaltar que, embora os princípios da ACP tenham sido amplamente adotados na psicologia clínica moderna, isso não significa que outras abordagens tenham sido descartadas. Pelo contrário, muitas abordagens integraram esses princípios em suas práticas, reconhecendo a importância da relação terapêutica na promoção do bem-estar psicológico dos clientes.

A abordagem cognitivo-comportamental (TCC), por exemplo, surgiu da integração das técnicas comportamentais com a teoria cognitiva, enfatizando a relação entre pensamentos, emoções e comportamentos (Knapp; Beck, 2008). Os princípios da ACP foram incorporados na TCC através do reconhecimento da importância da aliança terapêutica e da relação terapeuta-cliente na eficácia do tratamento (Safran & Muran, 2000).

Dentro da TCC, a empatia é vista como uma habilidade fundamental para compreender as crenças e emoções do cliente, enquanto a aceitação incondicional é vista como uma atitude terapêutica que promove a abertura e a autenticidade do cliente (Persons & Tompkins, 2013). Esses princípios são integrados em técnicas como a formulação cognitiva, onde o terapeuta colabora ativamente com o cliente para entender e modificar padrões de pensamento disfuncionais.

Dessa forma, os princípios da Abordagem Centrada na Pessoa continuam a influenciar não apenas as práticas terapêuticas, mas também a compreensão mais ampla da psicologia clínica como um campo dedicado ao cuidado e ao bem-estar emocional dos indivíduos cheios de empatia e aceitação incondicional.

Referências:

 

Knapp, P;  Beck, A. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva, Revista Brasileira de Psiquiatria;30(Supl II):S54-64. 2008

Bohart, C., & Greenberg, S. Empatia e Psicoterapia, Associação de Psicologia Americana, 1997

Cury, E. ACP: encruzilhada de perspectivas. Boletim da Abordagem Centrada na Pessoa.1988

Horvath, A & Symonds, D. Aliança terapêutica: estabelecimento, manutenção e rupturas da relação. Revista de Psicologia de Aconselhamento, 1991

Rogers, C. As condições necessárias e suficientes para a mudança de personalidade terapêutica. Psicologia Consultiva. 1957

Safran, J., Muran,C. Negociando a aliança terapêutica: Um guia de tratamento relacional. Biblioteca de Psicologia Descleé de Brouwer, 2000.

Truax, B, Carkhuff, R. Para uma orientação e psicoterapia eficazes, Aldine Publishing, 1967

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CAOS 2022: Seminários Clínicos em Psicologia evidencia práticas clínicas em diferentes abordagens

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Por Ana Paula Abreu Dos Anjos

Na manhã do dia 21 de novembro, dentro da programação do CAOS (Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia) aconteceram os Seminários Clínicos, a abertura ficou por conta da coordenadora do Serviço Escola de Psicologia do CEULP/ULBRA (SEPSI), a psicóloga Bruna Medeiros Freitas, que iniciou o evento pontuando questões relacionadas ao SEPSI enquanto campo de estágio, sendo os seminários o momento que oportuniza o contato dos acadêmicos do curso com diversas abordagens. Através da elucidação de recortes de experiências clínicas dentro do SEPSI, cada apresentação evidenciou o tipo de abordagem usada durante os atendimentos dos casos, o perfil, demandas e as características relevantes observadas durante o processo terapêutico.

As apresentações foram iniciadas pela acadêmica de Ênfase II em Processos Clínicos, Beatriz Cirqueira Almeida, sob a supervisão da Psicóloga e Professora de Psicologia do CEULP/ULBRA Cristina D’Ornellas Filipakis, com abordagem Sistêmica e o tema “Quando poderei ser adolescente? Atendendo filhos triangulados com os pais”. Com o caso de uma adolescente de 15 anos, usando o nome fictício Mirabel, com demandas como: problemas familiares relacionais, crises de ansiedade e medo excessivo. Durante a apresentação também foi discutido os pressupostos da Sistemática que fundamentaram os atendimentos, com apontamentos sobre a Terapia de Bowen, e os aspectos relacionados a triangulação, Terapia Narrativa, e os paradigmas que conduzem nossas ações e a forma como vivenciamos e funcionamos no mundo. Outro ponto exposto durante a apresentação foi relacionado a triangulação que ocorria com a paciente e seus pais, além de estratégias como a externalização do problema, finalizando com os progressos observados após a intervenção terapêutica, como por exemplo a diminuição do medo, melhora da ansiedade e o entendimento sobre o seu papel no contexto familiar.

A segunda apresentação foi do egresso do curso de Psicologia do Ceulp, Jucimar Souza Ribeiro, supervisionado pelo Professor de Psicologia do Ceulp e Psicólogo Sonielson Luciano de Sousa, com abordagem Psicologia Analítica e temática “Individuação/Autorrealização no manejo clínico Junguiano”, com exposição do caso da paciente Von Franz (nome fictício), uma mulher de 60 anos que tinha demandas relacionadas a abandono. A apresentação também incluiu informações sobre a abordagem com a exposição de termos como por exemplo consciência, inconsciente pessoal e coletivo e arquétipos. Durante os atendimentos terapêutico orientando pela Psicologia Analítica, como os processos dinâmicos Junguianos, com a explanação de múltiplas expressões que são usadas dentro da Psicologia Analítica, como, compensação que se refere a ação de busca completar aquilo que não se teve, identificação e diferenciação entre outros. Foi realizada explanação das fases da psicoterapia, por meio da exemplificação de recursos utilizados como a imaginação ativa, sendo finalizado com os progressos observados após a intervenção, como autorrealização e fortalecimento do Ego.

As acadêmicas do curso de Psicologia do Ceulp, Laura Braga e Giovanna Camargo, sob a supervisão da Psicóloga e Professora de Psicologia do Ceulp Ariana Campana Rodrigues, deram prosseguimento aos seminários, com a abordagem Psicanálise Freudiana e o tema “Sessões iniciais nos atendimentos psicanalítico” apresentando o caso de Lucas (nome fictício), 22 anos, com as demandas de ansiedade e insegurança. A apresentação prosseguiu com falas sobre os aspectos teóricos e técnicos da abordagem, com explanações sobre o início de uma psicanálise, as entrevistas preliminares, com o intuito de conhecer o caso, dando destaque ao ponto em que o terapeuta não pode determinar com exatidão os resultados que produzirá, e que é consentido tempo para o paciente entrar na análise. A apresentação seguiu com relatos sobre as técnicas utilizadas durante os atendimentos, sendo escuta, acolhimento e pontuação, um possível diagnóstico estrutural de neurose obsessiva, as resistências e testagem com a estagiária, como a repetição de assuntos e não querer falar da infância, finalizando com as pontuações sobre o sentido que o paciente quer dar para a terapia, com o paciente trazendo durante a última sessão o que ele trazia como sofrimento.

A quarta apresentação foi realizada pelos acadêmicos de Ênfase I em Processos Clínicos do curso de Psicologia do Ceulp Matheus Gouveia Araújo e Crislenne Vitoria Meneses Silva, supervisionados pela Psicóloga e Professora de Psicologia do Ceulp Izabela Almeida Querido, com a temática “Psicologia Baseada em Evidências: aplicações na prática clínica”, pontuando a relação entre a escolha do tema e a prática clínica em Terapia Cognitivo-Comportamental, seguindo com o panorama geral dos pacientes em atendimentos no SEPSI em TCC, cuja idade média gira em torno de 38 anos, pontuando que as maiores demandas estão relacionadas ao humor, com a presença de queixas de aspectos somáticos, emocionais, cognitivas e comportamentais. Correlacionado o planejamento e condução do tratamento com as experiências vivenciadas no SEPSI, como a supervisão clínica semanal, que constitui uns dos pilares da Psicologia Baseada em Evidências (PBE). O seminário prosseguiu passando pelos pontos das expectativas ou preferências do cliente, a melhor evidência disponível, a perícia do profissional, os confundidores e os vieses, termos presentes na abordagem. Durante a apresentação também foram as práticas que vão em contrapartida à PBE, os benefícios da atuação norteada pela abordagem, finalizando com a diferenciação entre ausência de evidência é evidência de ausência, e a fatores que podem estar correlacionados entre a intervenção e a melhora, porém sem a necessidade de ser a causa específica.

A egressa do curso de Psicologia Paula Renata Casimiro, supervisionada pela Psicóloga e Professora de Psicologia do Ceulp Muriel Correa Neves Rodrigues, foi a quinta apresentação, com a abordagem psicoterapêutica Psicanálise e o tema “Recordar, repetir, repetir, repetir… qual o tempo de elaborar?”, trazendo informações sobre o caso atendido da paciente Ana (nome fictício), 28 anos e as demandas sendo dificuldade em lidar com os traumas em relação ao relacionamento familiar e amoroso. Inicialmente a egressa citou os aspectos teóricos e técnicos da abordagem, relatando sua fundação por Sigmund Freud, a partir dos seus estudos sobre a histeria, e menções aos outros autores que surgiram ao longo da história, como Melanie Klein e Jacques Lacan, explicando que os autores supracitados têm em comum é a utilização da associação livre, também citando o uso da entrevista preliminar, a identificação da estrutura da personalidade (neurótico, psicótico ou perverso), que determina a forma como o terapeuta lida com o paciente, trabalhando o inconsciente, as resistências o atos falhos e chistes, usando os sonhos e as metáforas na intervenção. A apresentação foi finalizada com os progressos observados após a intervenção, destacando a tomada de consciência sobre momentos traumáticos da infância, a repetição como um caminho para a elaboração e a quebra da resistência, enfatizando a importância de respeitar o tempo de compreender, repetindo, até chegar ao momento de elaborar, enfatizando sobre tempo ser subjetivo para cada indivíduo.

O evento foi continuado com a exposição da abordagem Analitico-Comportametal, representado pelas acadêmicas de Ênfase I em Processos Clínico Ana Paula de Lima e Jéssika Luane Barboza, sob a supervisão da Psicóloga e Professora de Psicologia do Ceulp Ruth do Prado Cabral, e a temática “Terapia Analitico-Comprtamental Infantil: a orientação parental como estratégia de intervenção”, iniciando a fala com exposições acerca do modelo de terapia, onde entendesse a criança a partir das suas interações, que norteia a construção da intervenção, mencionado conceitos presentes na abordagem como o modelo tríade, e dialogando sobre os pais como agentes efetivos para a promoção de mudanças comportamentais em seus filhos. O caso mostrado foi um grupo de orientação parental, que teve 7 sessões de 1h30min, detalhando o planejamento e desenvolvimento do grupo, o objetivo dos encontros era o de colaborar para que os pais pudessem oferecer condições para a generalização de comportamentos apreendidos durante as sessões, levando para o ambiente familiar, a partir do treinamento parental, finalizando relatando os resultados do processo de orientação aos pais, como uma possível melhora nas relações interpessoais vivenciadas no meio familiar, aumentos da habilidades sociais dos filhos e diminuição da frequência de comportamentos-problemas, a função da orientação parental no desenvolvimento da saúde mental infantil, entre outros.

A última apresentação foi realizada pelas acadêmicas de Ênfase I em Processos Clínicos Ana Maria Moura Maciel Costa e Larissa Ferreira Nogueira, supervisionadas pela Psicóloga e Professora de Psicologia do Ceulp Ana Letícia Covre Odorizzi Marquezan, com o tema relacionado a abordagem TFE – Terapia Focada nas Emoções “A raiva desadaptativa desencadeada por situações de violências”, trazendo o caso de Maria (nome fictício), 29 anos e as demandas, ajudar a organizar os pensamentos, mudanças de humor e a compreensão das emoções e sentimentos. Inicialmente as acadêmicas expuseram os objetivos da TFE, destacando que, dentro da abordagem a transformação de emoções com outras emoções, por meio da experimentação corporifica, que gera uma nova narrativa, e entendimentos que orienta a intervenção na abordagem, como a classificação das emoções como primárias adaptativa e desadaptativas, e emoções secundárias e instrumentais, além das técnicas que foram utilizadas durante o processo interventivo como, história de vida e focalização. A apresentação foi finalizada com os progressos após a intervenção, com a paciente acessando o esquema emocional traumático.

A quarta edição dos Seminários Clínicos em Psicologia foi encerrada após as perguntas direcionadas aos acadêmicos e egressos sobre os seus casos e/ou abordagem, a fim de proporcionar maior contato com os conhecimentos abordados durante o evento.

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Um panorama geral sobre transtornos alimentares

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Quando a comida faz o papel de vilão na vida de uma pessoa, e ela tem uma relação disfuncional com o ato de se alimentar, algo pode estar muito errado. Não sejamos ingênuos de achar que os transtornos alimentares são somente preocupações com comida e peso.  Na maioria das vezes é um panorama muito mais amplo do que isso.

Os transtornos alimentares (TA) fazem parte da categoria dos transtornos psicológicos que são caracterizados por distúrbios graves e persistentes nos comportamentos alimentares e pensamentos e emoções angustiantes associados ao comportamento de comer. São frequentemente associados a preocupações com comida, peso ou forma, ou com ansiedade sobre comer e as consequências de comer certos alimentos. Mas além disso, são condições complexas que começam a partir de uma combinação de fatores comportamentais, emocionais, psicológicos, interpessoais e sociais de longa data.

Os tipos de transtornos alimentares incluem compulsão alimentar periódica, anorexia nervosa, bulimia nervosa, e patologias ligadas como ingestão alimentar restritiva e uso de métodos inadequados para manutenção e perda de peso, além da prática de exercícios físicos de forma compulsiva. Esses comportamentos podem ser conduzidos de maneiras que se assemelham a um vício.

Fonte: encurtador.com.br/myCHW

O comer transtornado (CT) abarca todo tipo de comportamento alimentar disfuncional ou que possa ser conceituado como não saudável, tendo grandes chances de desenvolver um TA, como por exemplo dietas restritivas, uso de medicamentos para o controle de peso, jejum prolongado, utilização de substitutos para refeições como shakes ou suplementos, ingestão muito baixa de alimentos ou outros tipos de comportamentos que têm como objetivo reduzir a quantidade de alimento consumido e o controle de peso de forma problemática. O comer transtornado (disordered eating) pode aumentar a probabilidade de desenvolvimento de TA, visto que ele apresenta particularidades parecidas dos transtornos alimentares, o que muda é a frequência e gravidade dos sintomas, que são diminuídos.

Os transtornos alimentares são condições muito graves que afetam a função física, psicológica e social, e abrangem até 5% da população, na maioria das vezes se desenvolvem na adolescência e na idade adulta jovem (de 12 a 35 anos). Normalmente estão mais relacionados às mulheres, mas todos estes comportamentos podem ocorrer em qualquer idade e afetar qualquer gênero.  Nos últimos anos, tem-se observado o aumento do número de homens acometidos, embora a proporção estimada seja de um para cada 10 casos.

Fonte: encurtador.com.br/jmJQX

Geralmente ocorrem em conjunto com outros transtornos, como transtornos de humor e ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo e problemas de abuso de álcool e drogas. As evidências sugerem que os genes e a hereditariedade desempenham um papel importante, motivo pelo qual algumas pessoas correm maior risco de apresentar em algum momento da vida um transtorno alimentar, mas esses distúrbios também podem afetar aqueles sem histórico familiar da doença. Pessoas que sofrem de uma dessas condições costumam usar a comida na tentativa de compensar sentimentos e emoções que, de outra forma, podem parecer esmagadores. Para alguns, fazer dieta, compulsão e purgação podem começar como uma maneira de lidar com emoções dolorosas e se sentir no controle de suas vidas. Mas, ao passar do tempo, esses comportamentos prejudicarão a saúde física e emocional deste indivíduo, sua autoestima e o senso de competência e controle.

A literatura traz algumas características de personalidade que podem ser percebidas nas pessoas que possuem algum TA. Estudos apontam que eles podem vir em forma de uma preocupação em excesso com a aprovação social, alterações na sua percepção corporal, tentativa de se encaixar nas expectativas dos pais, sentimento de vazio e sintomas depressivos. A hipervalorizarão da magreza na atualidade pode contribuir para sentimentos de depressão, culpa, raiva, estresse e insegurança nas pessoas menos confiantes que se percebem longe de um padrão socialmente valorizado do corpo ideal.

O DSM-5 traz como sinais e sintomas da anorexia nervosa por exemplo alguns critérios como a recusa em manter o peso corporal saudável, medo intenso do ganho de peso ou de se tornar obeso, ainda que esteja abaixo do peso, distorção na forma de perceber o corpo e o peso, ou negação da seriedade da atual perda de peso. Em mulheres, consideram-se como critério diagnóstico a ausência de menstruação e restrições alimentares com um padrão alimentar atípico e extrema perda de peso, induzida e mantida a todo custo, além de um medo intenso de engordar. Já para a Bulimia Nervosa incluem episódio de compulsão alimentar seguido de comportamentos compensatórios (episódio bulímico). Desse modo, a preocupação excessiva com relação ao controle do peso corporal conduz a uma alternância entre uma ingestão excessiva de alimentos e vômitos autoinduzidos, ou até uso de métodos purgativos, como estratégias compensatórias para o grande volume de alimentos ingeridos (Associação Americana de Psiquiatria, 2003).

Fonte: encurtador.com.br/fxIMX

Como os transtornos alimentares têm causas multifatoriais, e levando em consideração a complexidade dos transtornos, tanto no início dos sintomas como na manutenção do quadro como um todo, o tratamento dos TA deve envolver uma abordagem multidisciplinar, envolvendo nutricionista, endocrinologista, psicólogo e psiquiatra. O tratamento deve abordar complicações psicológicas, comportamentais, nutricionais e outras complicações médicas. A ambivalência em relação ao tratamento, a negação de um problema com a alimentação e o peso ou a ansiedade sobre a mudança dos padrões alimentares não são incomuns, mas com técnicas comportamentais o paciente pode começar a perceber algumas mudanças, como maior controle da ansiedade, diminuição dos sintomas, maior auto controle, diminuição do sentimento de culpa, desenvolvimento de estratégias para lidar com as crises, melhora da autoestima, equilíbrio do peso e a mudança na relação com o ato de comer e com o corpo, deixando de enxergar a alimentação como vilã e fazendo as pazes com o comportamento de comer.

O tratamento deve ter como objetivo restaurar a nutrição adequada do paciente, e a compulsão e o exagero devem ser reduzidos de forma que o hábito alimentar do paciente se torne algo prazeroso, sem culpa e, principalmente, saudável.

REFERÊNCIAS

Comer transtornado e o transtorno de compulsão alimentar e as abordagens da nutrição comportamental. Revista Interciência, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/estpsi/a/Cxfh6QpdC9cM57xLsQZjFfv/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 04/04/2022.

Aconselhamento em saúde: fatores terapêuticos em grupo de apoio psicológico para transtornos alimentares. Estudos de Psicologia, 2014. Disponível em: file:///C:/Users/Usuario/Downloads/302-Texto%20do%20artigo-1229-1-10-20210713.pdf. Acesso em 05/04/2022.

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É preciso ir além da sala de aula e se engajar em estudos externos, diz estudante de Psicologia

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A acadêmica de Psicologia do Rio de Janeiro, Luana Venâncio, alerta aos colegas para se alinharem a grupos de estudos extraclasse, caso os estudantes de fato queiram se aprofundar mais nas abordagens escolhidas.

Em entrevista para o (En)Cena, a acadêmica do curso de Psicologia Luana Venâncio, de 28 anos, dá dicas preciosas para os estudantes que estão em todas as fases de formação no curso. Talvez a mais sintomática seja não perder tempo e se aprofundar nas abordagens que geram mais curiosidade. Ou seja, isso também envolve participar de grupos de estudos para além das salas de aula da universidade, uma vez que a tendência dos cursos – na maioria das universidades – é ser generalista, o que inviabiliza, no decorrer da formação, um mergulho profundo no campo teórico escolhido.

Luana, que está no quarto período de Psicologia no Centro Universitário Augusto Motta, do Rio de Janeiro, participa de três grupos de estudos em Psicologia Analítica/Junguiana – inclusive um deles de Palmas, vinculado ao Ceulp/Ulbra – e comenta sobre a riqueza de participar de coletivos compostos por estudantes de Psicologia, professores, psicólogos e profissionais de áreas afins.

Fonte: Arquivo Pessoal

Confira este e outros tópicos na entrevista que segue.

(En)Cena: Como está sua vida acadêmica no momento?

Luana Venâncio – Eu estudo na Unisuam (Centro Universitário Augusto Motta) no Rio de Janeiro e, atualmente, estou cursando o 4º período em Psicologia. Em época de pandemia, tive que me adaptar a uma nova rotina de estudos. Ter aulas online é um desafio para mim que sinto muita falta do ambiente acadêmico, mas estou otimista que tudo vai passar!

(En)Cena: Você participa de grupos de estudos para além da universidade… o que te motivou a procurar estes grupos?

Luana Venâncio – Acredito que a minha vontade de me aprofundar na abordagem analítica. Sinto que a Universidade traz muito conhecimento em todas as áreas da Psicologia e traz vivências, experiências, mas a Psicologia Junguiana não tem muito espaço na universidade onde estudo.  Com os grupos de estudo, tenho a oportunidade de desenvolver mais os conhecimentos da prática clínica. O primeiro grupo que entrei é daqui do Rio de Janeiro, chamado Lampeju,  que  é composto por estudantes e profissionais (psicólogos clínicos, pedagogos, professores e entre outros). É comum debatermos sobre textos e, também, discutirmos sobre casos clínicos das obras.

(En)Cena: Você considera que só o estudo acadêmico, dentro dos limites da universidade, é suficiente para a formação?

Luana Venâncio – Não considero. Acredito que a academia prepara o profissional para o mercado, mas a qualidade do profissional Psicólogo exige muito conhecimento que vai muito além da universidade. Filmes, livros, séries, documentários, grupos de estudos, feiras, encontros ajudam muito, mas é fundamental que além disso o graduando possa também estar em sua análise (psicoterapia individual). Muitos alunos ainda não têm o contato com a psicoterapia por falta de condições financeiras, o que traz consequências a sua qualidade como profissional. Isso reforça que ainda infelizmente o curso é elitizado (custo alto) em muitas universidades. Acredito que projetos que venham trazer a psicoterapia de forma mais acessível é sempre uma abertura, não só para este público, mas para todos.

(En)Cena: Qual a dica que você dá aos alunos que ainda ficam em dúvida, mesmo tendo avançado bastante no curso? Esta indecisão pode atrapalhar o mergulho na abordagem?

Luana Venâncio – Acredito que a dúvida faz parte do caminho dos graduandos (Risos). É comum flertarmos com outras abordagens e, também, com outras áreas (clínica, educacional, organizacional, jurídica…). Acredito que não exista um caminho padrão para lidar com essa dúvida, porque cada aluno vai lidar com a sua forma de resolver esta indecisão. Algo que pode ajudar muito é estudar mais sobre a área de atuação , conversar com profissionais e pesquisar materiais destes profissionais afim de ter mais conhecimento. Antes de entrar na universidade eu tinha uma ideia definida de ser somente Psicóloga Clínica, e hoje estou pensando em fazer mais um estágio além da clínica. Estou em dúvida sobre a Psicologia Social ou a Escolar como segundo estágio. Ainda não decidi (Risos).

(En)Cena: Você tem um perfil no Instagram onde narra, de forma bastante interessante, as cartas de Jung… como surgiu a ideia, e qual a reação do público?

Luana Venâncio – Quando li a primeira carta do Jung fiquei impressionada com tanta sensibilidade. A ideia surgiu na minha cabeça como forma de tornar este conhecimento acessível de uma forma diferente. A ideia da página é de levar conhecimento as pessoas, mas também uma forma de aprender com os textos, cartas e pensamentos da Psicologia Junguiana. As pessoas gostam muito e se sentem sensibilizadas com as cartas, principalmente aquelas em que Jung escreveu a pacientes. Pacientes que estavam muitas vezes em grandes conflitos sobre suas escolhas e caminhos.

(En)Cena: Você pensa em transformar estes posts em podcasts?

Luana Venâncio – Penso sim. Na verdade, essa é a proposta dos posts.

(En)Cena: Você pretende atuar na clínica?

Luana Venâncio – Sim. É o meu maior sonho! Ver as mudanças de uma pessoa, acompanhar sua história, suas escolhas, caminhos, para mim é o prazer da clínica.

(En)Cena: Há algo a mais que você gostaria de dizer aos estudantes de Psicologia?

Luana Venâncio – Eu gostaria de deixar uma frase do Jung que resume o meu pensamento. “Quem olha fora sonha, quem olha dentro desperta”. Acredito que toda vez que a dúvida bater à porta ou mesmo diante daqueles dias ruins, seria voltar o olhar para dentro. A resposta que procuramos sempre está dentro de nós. É isso que estou aprendendo. É muito importante trilharmos em caminhos que condizem com caminhos do nosso coração. Tudo que é feito com amor tem um grande diferencial.

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