No último dia 04 de novembro, nas dependências do Núcleo de Atendimento Integrado de Palmas (NAI), ocorreu o último encontro de capacitação promovido pelos alunos do curso de psicologia, da ULBRA – Palmas, como parte das atividades do Estágio Básico de Intervenção em Crise. O evento contou com a presença de trabalhadores das instituições de acolhimento da Casa de Acolhimento Raio de Sol e Casa Acolhida.
A capacitação foi estruturada em três encontros. No primeiro, ocorrido em 3 de outubro, foram abordados temas como saúde mental e os tipos de crise vivenciados nas casas. Em 21 de outubro, a professora Mariana Borges destacou a importância dos servidores compreenderem os conceitos de estressores, limiar e vulnerabilidade, para uma abordagem preventiva e eficiente em situações de crise.
O último encontro, em 4 de novembro, trouxe a matriz de responsabilidade para auxiliar os servidores a identificarem a responsabilidade de cada um em situações de crise. Para a professora Mariana Borges esta fase teve o objetivo de apresentar a matriz de saúde mental, um dispositivo criado para monitorar e acompanhar as ações de cuidado em saúde. Durante a atividade, buscou-se levantar junto aos profissionais, os princípios éticos que guiam o atendimento, os serviços de apoio que são acionados em situações de crise e as atividades desenvolvidas nesse contexto.
Após a capacitação, os alunos desenvolverão protocolos de intervenção personalizados para cada instituição. “Após essa etapa, construiremos juntos a matriz e o fluxograma, que será entregue às casas de acolhimento dentro de 15 dias. Na apresentação desses fluxogramas iremos até as casas e teremos um momento para explicar a estrutura proposta e, em seguida, realizaremos uma segunda visita para receber o feedback dos profissionais. Esse retorno será fundamental para identificar os pontos que refletem suas práticas diárias e ajustar o que for necessário antes da versão final dos protocolos”, informou Mariana Borges.
Para Joanete Barbosa, coordenadora da Casa Acolhida, o evento foi um espaço importante tanto no sentido da construção do protocolo, quando como espaço de fala dos servidores. “Esse protocolo vai ser crucial para direcionar as práticas nos momentos de crise dos meninos. Serviu também como um espaço de fala da equipe, que às vezes sente muita falta nesses momentos difíceis. Uma das coisas que mais chamou minha atenção é justamente essa proximidade com a nossa prática. Vai ser um documento que, diferente de muitos outros, vai ser construído em cima do nosso cotidiano”, relata Joanete.
De acordo com a discente do 8º período de psicologia, Glaucilene Santana, este tipo de capacitação é muito significativo, uma vez que está vendo um serviço funcionar na realidade. “A gente fez visitas e as capacitações, ouvindo as pessoas que trabalham nesses locais, assim relacionamos teoria com a prática, pois em sala de aula a gente leu artigos de situações de crise e aqui nós estamos vivenciando junto com os trabalhadores das casas de acolhida as situações que eles vivenciam nessas casas, para depois construir um protocolo de enfrentamento de situações de crise na realidade, com pessoas que estão no dia a dia com essa situação”.
As casas acolhem crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade por decisão judicial, como medida protetiva determinada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. A medida é adotada em casos de violação de direitos, como abandono, negligência ou violência, e busca proteger a integridade física e psicológica dos acolhidos.
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Projeto Saúde Mental em Casa: acadêmicos de psicologia da Ulbra Palmas realizam capacitação de trabalhadores de casas de acolhimento institucional
Com objetivo de construir um protocolo de intervenção em crise para as casas de acolhimento institucional do município de Palmas, estudantes da disciplina de Estágio Básico de Intervenção em Situação de Crise, do curso de psicologia da ULBRA, organizam capacitação, no mês de outubro e novembro, para os servidores da Casa de Acolhimento Raio de Sol e Casa Acolhida, no Núcleo de Atendimento Integrado de Palmas (NAI).
Segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, as casas acolhem crianças e adolescentes como medida protetiva, por determinação judicial, em decorrência de violação de direitos (abandono, negligência, violência) ou pela impossibilidade de cuidado e proteção por sua família. Essa ação é uma medida excepcional, aplicada apenas nas situações de grave risco à sua integridade física e/ou psíquica.
Antes da capacitação ocorreu um momento em que os estudantes se reuniram com os servidores, em ambas as casas, para levantar as situações de crises de cada uma. A equipe observou que alguns gatilhos costumam precipitar as crises, como a chegada de um novo acolhido, pois altera a dinâmica do grupo; a sensação de rejeição quando o acolhido não recebe visita de um familiar e a rotatividade dos educadores, especialmente os de referência devido a perda do vínculo. Outro ponto levantado foi a percepção de que alguns adolescentes passam a reproduzir comportamentos de crise como estratégia de ganho secundário. Os educadores explicaram que, ao perceber o início de uma crise, tentam conversar com o adolescente buscando uma distração ou oferecendo medicação.
A capacitação foi dividida em três momentos, o primeiro encontro que aconteceu no dia 3 de outubro de 2024, propôs explicar: O que é saúde mental? O que é crise? E relatar os tipos de crise que foram identificadas nas casas. Na atividade realizada na última segunda-feira (21), segundo a professora Mariana Borges: “A ideia é conversar mais sobre esses tipos de crise e trazer um pouco também o que são os estressores, limiar e vulnerabilidade, que são algumas questões que podem auxiliar eles a identificarem de forma mais preventiva situações de crise para intervenção, como também se eles conseguem visualizar esses estressores nas casas de acolhimento”.
Para Mariana Cabral, psicóloga tanto na Casa Acolhida quanto na Raio de Sol é de extrema importância entender teoricamente os conceitos e a diferenciação de crise e surto, para que o servidor saiba manejar não só o outro, mas a si também e se autorregular. “Dessa forma, a gente pode unir forças, conhecimento com a prática e perpassar não só o fazer dos profissionais que estão aqui reunidos, mas também nessa formação dos acadêmicos entendendo um pouquinho dessa nossa realidade, que apesar de ter esse viés de amar o serviço, de estar ali para de fato ajudar e acolher as crianças e adolescentes, nós também enfrentamos muitos desafios, por falta às vezes de conhecimento e capacitação.”
De acordo com a professora Mariana Borges, o próximo encontro ocorrerá no dia 4 de novembro e abordará sobre a matriz de responsabilidade, o objetivo é identificar qual é a parte de cada um dos profissionais na situação de crise, em qual fase ela se encontra, em qual momento de uma situação de crise precisaria intervir e quem são as pessoas que precisariam intervir. Logo após os eventos os alunos irão criar protocolos de mediação de situação de crise para cada uma das casas de acolhimento.
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Como a bifobia pode repercutir na saúde mental do adolescente
8 de outubro de 2023 Lucilene da Silva Milhomem Campos
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A adolescência é uma fase crucial e especial no processo de desenvolvimento físico, psicológico e social do indivíduo. Ela é considerada uma transição entre a infância e a idade adulta e é caracterizada por intenso crescimento e mudanças que se manifesta por marcantes transformações anatômicas, fisiológicas, psicológicas e sociais. É uma etapa na qual o indivíduo busca a identidade adulta, apoiando-se nas primeiras relações afetivas, já interiorizadas, que teve com seus familiares, ao observar a realidade que a sociedade lhe oferece.
É importante ressaltar que a identidade do adolescente ainda está em processo de construção. A identidade, segundo Erikson (1972), forma-se quando os jovens resolvem três questões importantes: a escolha de uma ocupação, a adoção de valores sob os quais vivem e o desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória. No entanto, a identidade sexual satisfatória é, às vezes, negligenciada pela família e pela sociedade que não aceita e nem acolhe a orientação sexual diferente daquela construída socialmente.
E quando o adolescente se apresenta como bissexual, surge um desafio ainda maior, porque, muitas vezes, enfrenta conflitos internos, especialmente as dificuldades familiares e sociais, quanto à aceitação de sua orientação sexual. Tal ponto pode traumatizar, adoecer e dificultar a transição do adolescente para a vida adulta.
Mas o que é a bifobia? É o ato de deslegitimar a sexualidade de alguém que é bissexual. É agredir verbalmente ou fisicamente por sua condição existencial de ser. É qualquer reação de ódio ou aversão contra a pessoa bissexual. É aquela pessoa que não sabe respeitar e acolher a orientação sexual de outrem.
Segundo alguns estudiosos, entre eles a sexóloga e psiquiatra, Dra. Carmita Abdo: a “sexualidade é o principal polo estruturante da personalidade e da identidade”. Dito isso, é oportuno diferenciar sexo de sexualidade. Ainda de acordo com a Dr. Carmita, sexo não necessariamente é atividade sexual, mas é libido. É a força que nos põe na cama e a energia que nos tira dela. A energia libidinal que nos faz ter interesse no sexo é a mesma que nos dá interesse pela vida. Tais referências são retiradas do livro “Sexualidade Humana e Seus Transtornos”.
Quando alguém age de forma desrespeitosa contra outra pessoa, em especial um adolescente, por causa de sua orientação sexual, como no caso em voga, os bissexuais, essa pessoa está corroborando com o adoecimento psíquico e ofuscando a identidade de daquele que está em processo de desenvolvimento psicossocial, trazendo consequências em sua autoestima, em sua autoconfiança. Em casos mais graves, tais atitudes desencadeiam depressão, ansiedade ou outros transtornos psiquiátricos, emocionais, psicológicos e até provocando o suicídio em alguém. Portanto, é grave o efeito do preconceito na vida de quem não enquadra nas crenças construídas culturalmente pela sociedade.
E o que é o preconceito? É um pré-julgamento. Veja o prefixo “pré” que significa “antes de”. É um juízo de valor formulado de forma antecipada, baseando-se em estereótipos ou generalizações que podem resultar em atos de discriminação, agressões físicas ou verbais, psicológicas e emocionais. No caso em questão, a identidade do adolescente e sua personalidade também são afetadas por atitudes desrespeitosas. Há vários tipos de preconceitos em nossa sociedade como a condição social, nacionalidade ou de origem, orientação sexual, identidade de gênero, etnia, raça e sotaque.
A UNESCO em 2018 conceituou a sexualidade como uma dimensão do ser humano, incluindo: a compreensão do corpo e a relação com ele, além do apego emocional e amor, sexo, gênero, identidade de gênero, orientação sexual, intimidade sexual, prazer e reprodução. Sua complexidade envolve dimensões de ordem biológica, social, psicológica, espiritual, religiosa, politica, legal, histórica, ética e cultural, que evoluem ao longo da vida. Por consequência, o adolescente em processo de desenvolvimento, ao se afastar de si, de sua essência, de um dos pilares de sua existência humana, dificilmente seguirá com a saúde mental saudável.
Na prática clínica, como estudante de psicologia, em período de estágio, escutei casos em que o pré-adolescente, de determinada idade, passou por fases confusas tentando se encaixar, pois a sociedade adulta exige que se escolha apenas um sexo. E depois passou a viver em um relacionamento hétero afetivo porque era o “certo”, mas com o tempo foi tendo clareza de sua orientação sexual homoafetiva, embora a família preferisse o seu envolvimento com o sexo oposto. Na escuta clínica, escutei, também, discursos de pacientes em que a família prefere o relacionamento afetivo com sexo oposto a se relacionar com alguém do mesmo sexo ou com ambos os sexos, no caso os bissexuais.
Acredita-se que a informação e a educação sejam uma forte “arma” para combater a bifobia ou qualquer outro tipo de preconceito. A educação sexual é algo que deveria ser incorporado na grade curricular das escolas e faculdades, tendo em vista que é um dos pilares da personalidade e na consolidação da identidade do ser humano em desenvolvimento. A educação sexual previne diversos abusos, educa a sociedade quanto à diversidade sexual e reforça a saúde mental, em especial daqueles que estão em desenvolvimento. O respeito é ensinado desde o núcleo familiar primário e repercute em todas as espera da sociedade, sendo a escola e a universidade complementares nessa tarefa de educar o ser humano.
A Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017, estabelece que: “Art. 2º A criança e o adolescente gozam dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhes asseguradas a proteção integral e as oportunidades e facilidades para viver sem violência e preservar sua saúde física e mental e seu desenvolvimentomoral, intelectual e social, e gozam de direitos específicos à sua condição de vítima ou testemunha. Art. 3º Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento, às quais o Estado, a família e a sociedade devem assegurar a fruição dos direitos fundamentais com absoluta prioridade”.
Portanto, o adolescente vive as mudanças e transformações que lhes são próprias da faixa etária, mas os bissexuais que, por vezes, não se encaixam dentro do que esperado pela sociedade ou pela família, passam por inúmeros sofrimentos ou prejuízos em todas as espera da vida. Assim, por preconceito social ou pela interpretação equivocada da família, que acreditam que a pessoa que se atrai por ambos os sexos é indecisa ou promíscua, estão potencializando os danos à saúde mental. Além dos fatores externos, alguns se recolhem em si, por vergonha ou até mesmo autopreconceito e não conseguem se expressar, de forma pública ou privada, a sua orientação sexual, necessitando assim, de auxílio especializado para tanto.
ERIKSON, Erik H. Infância e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.
PAPALIA, D. E. e FELDMAN, R. D. (2013). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, Artmed, 12ª ed.
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Como a prática de Mindfulness e Musicoterapia amenizam estresse e ansiedade em pré-vestibulandos?
20 de setembro de 2022 Annanda Larissa Aires
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A ansiedade e o estresse são termos confundidos por alguns, afirmando que são sinônimos ou até mesmo invertem os seus conceitos, já que estão intrinsecamente interligados, fazendo parte da vida cotidiana dos sujeitos. No entanto, a primeira palavra mencionada é um estado de humor que o indivíduo possui, da qual, na maioria das vezes é enxergada negativamente por conta do sistema nervoso central permitir que o “comportamento biológico” do corpo se altere mediante situações, coisas, pensamentos ameaçadores (BARLOW, 2020, p. 125). Já o estresse (embora esse termo seja idiossincrático na atualidade), é a consequência de uma situação ansiogênica, isto é, a resposta fisiológica e emocional de uma pessoa mediante uma circunstância estressora (MORRIS, 2004, p. 373).
Levando em conta o contexto, vale ressaltar que a utilização de técnicas, como o Mindfulness (WILLIAMS, 2015), que trata-se de um método de atenção plena centrada no presente, perante a ausência de julgamentos ou rotulações de si e dos outros, juntamente com a Musicoterapia, no qual caracteriza-se como um campo do saber que se volta para “o que a música proporciona no setting”, ou seja, os seus efeitos e envolve também as subjetividades dos participantes com a música sendo direcionado entre o musicoterapeuta e o grupo ao longo da intervenção (UBAM, 2018), com o intuito de amenizar o estresse e a ansiedade em adolescentes pré-vestibulandos.
A importância da dinâmica de grupo com fins terapêuticos
O grupo e sua finalidade no processo terapêutico dependem da fluidez do mesmo, no que tange a participação ativa dos integrantes como também as diversas estratégias, recursos, técnicas e atividades que incentivam a comunicação e a ação dos membros do grupo, a fim de elaborar, facilitar e esclarecer o campo dinâmico do processo grupal.
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Conforme Osório (2003), o grupo é um conjunto de pessoas que possuem a capacidade de se reconhecer em sua singularidade e que estão exercendo uma ação interativa com objetos compartilhados. Dessa interação, que se desenvolve a partir da organização dos aspectos sociais, culturais e normativos, surgem fenômenos que são denominados fenômenos grupais. Existem grupos espontâneos, como grupo de amigos, e grupos organizados, com objetivos específicos.
A intervenção em grupo deve-se preocupar com a possibilidade de os participantes entrarem em contato com seu mundo interno para aprenderem a lidarem com suas angústias, lançar mão de recursos até então desconhecidos para eles e garantir segurança aos membros deixando claro os objetivos da dinâmica e suas regras. Segundo Minicucci (2002, p. 32), acredita Kurt Lewin que, até certo ponto, o indivíduo tem seus próprios objetivos pessoais. Precisa de suficiente espaço de movimento livre no interior do grupo para atingir tais objetivos e satisfazer às próprias necessidades. Os objetivos do grupo não precisam ser idênticos aos objetivos do indivíduo, mas as divergências entre indivíduo e grupo não podem ultrapassar determinados limites, além dos quais um rompimento entre ambos é inevitável.
Diante disso, o psicanalista Pichon-Rivière define o grupo como “um conjunto de pessoas, ligadas no tempo e no espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe explícita ou implicitamente a uma tarefa, interatuando para isto em uma rede de papéis, com o estabelecimento de vínculos entre si.” (AFONSO, 2006, p. 20).
Conhecendo o Mindfulness
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O autor Mark Williams (p.9, 2015) apresenta o prefácio de Jon Kabat-Zinn, em seu livro “Atenção Plena”, que o Mindfulness requer um empenho verídico ou participação verdadeira do indivíduo. O precursor dessa técnica de meditação científica, Jon Kabat-Zinn, enfatizou as concepções desta que Mark Williams e Danny Penman notaram:
“É um estilo de vida, e não apenas uma boa ideia, uma técnica inteligente ou uma moda passageira. É um conceito que data milhares de anos e costuma ser citado como “o coração da meditação budista”, embora sua essência seja universal” (WILLIAMS, p.9, 2015).
Outro ponto sobre este assunto é que a atenção plena faz a pessoa estar com a mente e corpo no agora, no presente. É claro, como fora mencionado, que estar mediante a esta situação só é possível quando o indivíduo estiver disposto para isso e engajar-se.
A Musicoterapia no controle do estresse e da ansiedade
A musicoterapia é definida como um tipo de intervenção de tem a intenção de prevenir, desenvolver e restabelecer as potencialidades do indivíduo a partir dos encontros musicoterapêuticos. E pode ser tanto direta quanto indireta a intervenção (ANJOS et al., 2017, p.230).
Na interpretação de Tyson (1981) (PUCHIALLO, M.; HOLANDA, A., 2014, p. 130), nos Estados Unidos a Musicoterapia, em meados do século 20, entrou em prática oficialmente durante a Primeira Guerra Mundial e também foi utilizada no período da Segunda Guerra em soldados para fins terapêuticos, focalizando-se na recuperação e reabilitação desses indivíduos tanto física e educacionalmente.
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E quanto à Musicoterapia, conforme Bruscia (2000; apud GARCIA et al., 2020, p.111), “as experiências utilizadas na musicoterapia são audição, recriação, improvisação e composição, podendo ser aplicadas conjunta ou separadamente”. E por meio dela, dá para reforçar “os efeitos terapêuticos de um tratamento por meio da “produção dos sentimentos, pensamentos e atos dinamicamente transformados no contato com o outro” […].” (GARCIA et al., 2020, p. 111).
A eficácia da Musicoterapia na Argentina, mencionada por Costa (1989), em seu segundo plano surgiram resultados positivos em pacientes de “casas de depressão pós-poliomielite” (Apud PUCHIALLO e HOLANDA, 2014, p. 131). Aplicou-se a Musicoterapia de guerra a mesma utilizada nos soldados norte-americanos que fora enquadrada nesses indivíduos dessas casas (PUCHIALLO; HOLANDA, 2014).
Adolescência e vestibular: um evento ansiogênico
Para a realização da intervenção optou-se por público-alvo, os adolescentes pré-vestibulandos. A adolescência se entende como um processo longo e complexo que envolve diversas variáveis, como as mudanças físicas advindas da puberdade, as modificações cognitivas, emocionais e socias, que se refletem em contextos sociais, econômicos e culturais (PAPALIA e FELDMAN, p.386, 2013).
Segundo Lamônica e Carvalho (2019), as diversas transformações vivenciadas pelos adolescentes, aliada a importância que os exames vestibulares tem recebido nas últimas décadas (o que o tornou um evento ansiogênico para a maior parte dos estudantes), podem contribuir para que estes sejam mais propensos à ocorrência de algumas psicopatologias, como o estresse, a ansiedade, (que serão o foco da intervenção em grupo), ademais de outros transtornos como as fobias e os comportamentos obsessivos compulsivos.
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Polonia e Senna (2008), afirmam que a associação presente entre os fatores culturais, cognitivos e a escola, tem gerado debates acerca de como estes interagem como unidade e causam impacto sobre a promoção de uma aprendizagem efetiva para os indivíduos.
Evidenciando que a educação desempenha um papel significativo no desenvolvimento dos adolescentes (PAPALIA e FELDMAN, p.412, 2013), sendo influenciada diretamente através das culturas de cada país. Outros fatores que influenciam o desempenho escolar dos adolescentes, é o estilo de parentalidade dos pais, o ambiente em que ocorre a aprendizagem, o nível socioeconômico, a qualidade de ensino, a influência dos pares, a escola e autoconfiança manifestada pelos estudantes.
Referências
AFONSO, M. L. M. (Org.). Oficinas em Dinâmica de Grupo: um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
ANJOS, A.G. et al. Musicoterapia como estratégia de intervenção psicológica com crianças: uma revisão da literatura. Gerais, Rev. Interinst. Psicol., Belo Horizonte, v. 10, n. 2, p. 228-238, dez. 2017. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/gerais/v10n2/08.pdf. Acesso em: 14 set. 2022.
BARLOW, D.; DURAND, M. Psicopatologia: uma abordagem integrada. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning. 2020.
CASTILLO, A. et al. Transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Psiquiatria. Porto Alegre, n. 22, 2000.
GARCIA, L. G.; et al (Orgs.). Saúde Mental: abordagens e estratégias para a promoção do cuidado. Porto Alegre: Editora Fi, 2020.
LAMÔNICA, L.C.; CARVALHO, A.L.N.; Prevalência de indicadores de ansiedade, estresse e depressão entre adolescentes vestibulandos concluintes do ensino médio. Universidade Federal Fluminense Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional Departamento de Psicologia; Campo dos Goytacazes, RJ, 2019.
MINICUCCI, A. Dinâmica de grupo: manual de técnicas. São Paulo: Atlas, 1982.
MORRIS, C. G.; MAISTO, A. Introdução à psicologia. 6. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
OSORIO, L. C. Psicologia Grupal: uma nova disciplina para o advento de uma era. Porto Alegre: Artmed, 2003.
PAPALIA, D.E.; FELDMAN, R.D. Desenvolvimento humano, 12. ed. – Porto Alegre: AMGH, 2013.
POLONIA, A.C.; SENNA, S.R.C.M. A ciência do desenvolvimento humano e suas interfaces com a educação. In DESSEN, M.A.; JUNIOR, A.L.C. et. al. A ciência do desenvolvimento humano: tendências atuais e perspectivas futuras, Porto Alegre: Artmed, 2008.
PUCHIVAILO, M.; HOLANDA, A. A história da musicoterapia na psiquiatria e na saúde mental: dos usos terapêuticos da música à musicoterapia. Revista Brasileira de Musicoterapia. n. 16. p.122-142, 2014.
WILLIAMS, M.; PENMAN, D. Atenção plena. Rio de Janeiro: Sextante, 2015.
Autores:
Annanda Larissa Aires Coimbra
Joana D’Arc Gomes Pimentel
Laura Marcela Chaves Pereira
Naomi Alves Almeida
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Saúde do adolescente em ação
3 de junho de 2022 Franciele Rodrigues dos Santos
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Parte integrante do processo avaliativo da disciplina Gestão e Políticas na Odontologia Social II, ministrada pela Professora Micheline Pimentel Ribeiro Cavalcante no Curso Odontologia, do Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA, este trabalho intitulado “PROJETO DE INTERVENÇÃO SAÚDE DO ADOLESCENTE EM AÇÃO- UMA AÇÃO INTEGRADA”. Objetiva executar o plano de intervenção idealizado pelas acadêmicas Franciele Rodrigues dos Santos, Amanda Teles Amorim, Ana Eduarda Freitas Araujo, Karen Mylla Cunha, Vanise Dias da Silva e Mariana Rezende Oliveira do Curso de Odontologia, que foi aplicado junto aos/às estudantes do 1º ao 3º ano do ensino médio no Centro de Ensino Médio Castro Alves, vinculada à Secretaria de Educação, Juventude e Esporte do Governo do Estado do Tocantins (Seduc).
A escola se configura em um espaço de interação social, que promove educação, construção de valores, formação cidadã, bem como do desenvolvimento de habilidades socioemocionais e autoconhecimento. É nesse organismo vivo que se pode perceber o tecer diário na formação do sujeito, aos poucos desenhado através do pensamento crítico, da aquisição de conhecimentos e da expressividade emocional.
A Base Nacional Comum Curricular compreende que o processo educativo vai além do conhecimento e da propagação científica, sendo necessário o desenvolvimento de competências e habilidades, que contribuam na formação de atitudes e valores dos indivíduos inseridos dentro da comunidade escolar.
Em função disso, a BNCC propõe na sua oitava competência um relevante aspecto para a promoção da saúde física e mental do sujeito: Conhecer-se, apreciar se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
Diante do contexto apresentado, entende-se que há uma ciranda entre escola, educação e saúde, compreendendo que quanto mais ocorre a comunicação entre esses elementos, mais benefícios poderão ser percebidos na comunidade escolar, indo assim de encontro à perspectiva do desenvolvimento integral do aluno proposto na BNCC. Os bons níveis de educação, que envolvem a melhor compreensão dos conteúdos, podem ser percebidos em indivíduos mais saudáveis. Em função disso, a escola deve ser entendida como promotora de saúde, através de práticas interdisciplinares e multiprofissionais, intervindo nos mais diversos contextos de vida do estudante.
Nessa perspectiva, as metodologias educacionais devem priorizar a participação e a interação dos atores da escola, compreendendo que o conceito de saúde configura um conjunto de habilidades, tais como autonomia e a tomada de decisões, sendo necessário estimulá-las nos indivíduos, favorecendo atitudes mais saudáveis como a corresponsabilização e o enfrentamento das situações.
Dessa forma, diante do cenário pandêmico em que o contexto escolar está vivenciando com completa mudança da rotina e estrutura vivenciada até então, o presente projeto busca realizar ações de promoção, educação e prevenção em saúde do adolescente ampliando a integralidade do cuidado de forma interprofissional e criando elo entre a saúde e educação.
Com vistas à problematização e ao enfrentamento dos problemas elencados, este relato de experiência apresenta a execução de uma intervenção, cujo procedimento terá na utilização de grupos terapêuticos a sua referência principal.
No dia 26/04/2022 e 07/05/2022 realizamos um projeto de intervenção multiprofissional “Adolescente em ação” sob responsabilidade da professora Micheline Pimentel com parcerias da Secretaria Municipal da Saúde de Palmas (SEMUS), e com a Fundação Escola de Saúde Pública (FESP) e a Universidade Federal do Tocantins (UFT) onde teve curso de nutrição, psicologia, enfermagem e agentes comunitários de saúde, na escola CEM Castro Alves, cada curso ficava em uma sala recepcionando os alunos para realizar a atividade educativa destinada a sua responsabilidade. Como palestras educativas, avaliação bucal, fisioterapia, avaliação nutricional e outros serviços.
Nosso grupo ficou responsável por apresentar uma palestra educativa que tem como objetivo sensibilizar os adolescentes quanto às fakes news sobre estética facial encontradas nas redes sociais, apresentamos para cinco turmas do turno vespertino e além das palestras teve uma orientação de higiene bucal, e aplicação de flúor. Realizamos uma dinâmica no qual os alunos descreviam em um papel os que eles sabiam a respeito do assunto abordado e colocar também pontos negativos e positivos.
A ação mobilizou a escola inteira, levando aos alunos acesso à informação sobre a saúde mental, a utilização de métodos clareadores que são comprados pela internet, sobre IST ‘s, e também sobre a gravidez, além de estimular as atividades físicas. Observamos que grande parte dos alunos não têm acesso às informações sobre alguns temas, e acaba indo em busca desse conhecimento pela internet e achando informações erradas, dessa forma mobilizar eles com a ação é um incentivo para que eles filtrem os conhecimentos que acham nesse meio na internet.
É importante ressaltar que houve a avaliação da saúde bucal e depois os alunos serão levados para unidade Básica de saúde para realizar o tratamento, a minoria dos alunos demonstrou não ter cuidado com a cavidade bucal, deixando de lado a escovação, o uso do fio dental. A grande parte dos alunos não tem como ir ao dentista, fica com receio de ir, ou não observa a cavidade bucal, quando acontece uma ação educativa e preventiva ele tem a oportunidade de que um profissional aponte suas necessidades e o incentive a procurar um dentista para poder avaliar e melhor a cavidade bucal deles.
Considerações finais
Concluímos que o encontro foi positivo, pois eles se interessaram pelo assunto e tiraram suas dúvidas, puderam ver que as mídias sociais podem influenciar o modo como pensamos e que nem sempre isso é o melhor para nossa saúde física e mental. Ter o contato com os alunos matriculados na escola CEM Castro Alves nos motivou a ajudar a comunidade a ver suas reais necessidades e a ajudá-los a encontrar os tratamentos e resultados desejados de maneira correta baseadas em evidências científicas.
Visando que esses trabalhos são significativos para a comunidade, fica evidente a necessidade de intervenção nesse ambiente, dando amparo, acolhimento e mostrando a realidade de fake news que a mídia trás principalmente para os jovens, por isso abordamos o ensino médio onde encontra-se jovens tentando acompanhar a moda. A cada dia algo novo surge para os jovens a qual fazem de tudo para acompanhar, o que às vezes leva no prejuízo fazendo de qualquer jeito e com pessoa incapacitada de fazer certos procedimentos. Ao levar essa ação para a escola damos a oportunidade para os alunos terem conhecimento e buscar uma melhora na sua qualidade de vida.
Referências
Alencar, A.C.I.; Lemos, D.C.R.B.; Rodrigues da Silva, E.V.; Sousa, K.B.N.; Sousa Filho, P.C.B.;Ciranda entre Educação e Saúde: Aspectos da Saúde Mental do Adolescente em Contexto Escolar em Tempos de Pandemia. saúdecoletiva • 2021; (11) COVID.
Brasil. MEC/CONSED/UNDIME. Base Nacional Comum Curricu-lar (BNCC). Educação é a Base. Brasília; 2017.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Orientações básicas de atenção integral à saúde de adolescentes nas escolas e unidades básicas de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. 1. ed., 1 reimpr. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2013.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção em Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. 132 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos.
Casemiro JP, Fonseca ABC, Secco, FVM. Promover saúde na escola: reflexões a partir de uma revisão sobre saúde escolar na América Latina. Ciência & Saúde Coletiva. 2014; 19(3): 829-840.
Menezes KM, Rodrigues CBC, Candito V, Soares FAA. Educação em Saúde no contexto escolar: construção de uma proposta inter-disciplinar de ensino-aprendizagem baseada em projetos. Rev. Ed. Popular. 2020; 48-66.
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Características psicológicas da Geração Floco de Neve
Quando falamos de floco de neve logo nos vem em mente não só sua beleza, mas também sua fragilidade e vulnerabilidade, e essas duas características são as que definem pessoas que atingiram a fase adulta na década de 2010. A “geração floco de neve” (“snowflakes”), “milênio” (“millenial”) ou geração “Y”, é uma geração formada por pessoas extremamente sensíveis em pontos de vista que desafiam sua visão de mundo, jovens adultos que se acham melhores e mais especiais que os outros e são tratados como flocos de neve, pois “derretem” com muita facilidade.
Essa expressão teve origem no filme Clube da Luta, quando Brad Pitt fala “vocês não são especiais, não são um floco de neve, o único, o singular. Vocês são feitos da mesma matéria de que vai se decompor como todo mundo”. Essa geração geralmente tem a atitude de filtrar e só permitir entradas de opiniões que não irão ferir sua sensibilidade tendo como suas possíveis consequências à preparação de mentes frágeis do ponto de vista da saúde mental e maus profissionais para o mercado, já que sempre vai existir a diversidade de pensamentos e comportamentos entre as pessoas.
O fato de se achar especial e melhor que os outros acabam deixando o jovem muito mais vulnerável, segundo a psicóloga Jean Tweng, geralmente essas pessoas crescem em famílias onde qualquer atitude da criança os pais já o tratam como se fosse diferente dos outros, ela dá como exemplo uma criança que faz um traço em um papel e seus pais já trata como se fosse Picasso, a criança vai crescendo com muita pressão vinda das pessoas ao seu redor, tanto para sobrevivência financeira quanto para suas ações, que devem ser sempre extremamente legais, amáveis e corretos, havendo assim certo determinismo sócio histórico pressionando e fazendo com que essas crianças cresçam como uma grande projeção narcísica dos pais, que sempre se enchem de expectativas sobre os filhos, imaginando e criando assim uma personalidade que seus filhos devem seguir.
Segundo Luiz Felipe Pondé o crescimento das expectativas dos pais de hoje está ligado a diminuição do número de filhos, pois com o passar do tempo houve essa diminuição e isso consequentemente acabou fazendo os pais colocarem todas suas expectativas e neuras em uma criança.
Estes Jovens acabam se tornando super dependentes dos pais, demoram mais a sair da casa dos pais e ao saírem acabam afundando uma parte de sua vida, já que geralmente ganham menos que seus genitores, tendo relacionamentos líquidos por terem dificuldade e medo do desejo, pois ao entrar em um relacionamento longo começam a lidar com pessoas reais (o que é uma das maiores dificuldades dos jovens), e cada vez menos querem ter filhos, já que será uma responsabilidade muito grande cuidar e bancar um filho. Ao sair de casa o jovem precisa trabalhar, agir como adulto, tendo cada vez mais que se preocupar com as coisas ao seu redor, não podendo depender ou correr para seus pais no primeiro problema a sua frente.
Fonte: Freepik
Como dito, na visão da chamada geração floco de neve, as pessoas se negam as frustrações da vida cotidiana, buscando sempre estarem em suas zonas de conforto, na “mesmice” não a espaço para novas experiências e, portanto novos possíveis fracassos. A humanidade deveria rumar à alteridade, a capacidade de reconhecer e conviver com o diferente e a diversidade, pois este é um belo caminho para evolução.
Atualmente as redes sociais tem sido um mecanismo de espaço de fuga para expressão da geração floco de neve. Nesse espaço virtual é cada vez mais fácil fazer comparações surreais e injustas com a vida de pessoas com realidade completamente distintas, o que gera a frustração na pessoa de pensar que nunca poderá chegar a determinado “pódio” e devido a isso se acomodar em sua rotina, seu cotidiano sem ambição e sem vontade de ir além. As pessoas dessa geração também expressam extrema sensibilidade, uma fragilidade e um papel de vítima, indivíduos que por tudo se ofendem.
Nesse sentindo, tem sido estabelecido nas universidades aos redores do mundo o chamado “espaço seguro”, que se trata de uma reclusão aceitável e voluntaria daqueles que não se sentem à vontade em dialogar, ouvir ou falar sobre determinados assuntos que possam o infringir como individuo por algum motivo, independente de qual seja. Todavia esse espaço pode acabar se tornando uma bolha de reclusão daqueles que não enfrentam determinadas questões, e isso pode influenciar muito na evolução desta pessoa. Pois nem sempre nos meios em que ela se encontrará haverá essa opção de se opor ao debata fala ou escuta.
“Eu não me sinto confortável”, “não aguento mais” ou “isso não é para mim’ são frases marcantes desta geração em questão, de pessoas que privam de realizar e ir em direção aos seus sonhos e objetivos, por se encaixarem na zona de conforto, se colocam em posição de vítima por ser uma válvula de escape mais fácil do que sair em busca de um sentido a sua vida.
Quanto a essa geração no âmbito profissional, estima-se que em 2025 o mercado de trabalho será 70% composto por jovens pejorativamente chamados “flocos de neve”. As características deste grupo no mercado de trabalho são diversas, observa-se muitas vantagens e contribuições na inserção e atuação deste grupo dentro das organizações, contudo, há também muitos pontos a serem discutidos.
Fonte: Freepik
Lombardia (2008) define a Geração Y como “as pessoas nascidas entre 1980 a 2000, conhecida como a geração dos resultados, tendo em vista que nasceu na época das tecnologias, da Internet e do excesso de segurança”. E Oliveira (2009) ressalta que “ela não viveu nenhuma grande ruptura social, vive a democracia, a liberdade política e a prosperidade econômica”.
Após estudos e pesquisas realizadas por grandes autores comprometidos com o assunto em questão, observou-se que os adultos jovens pertencentes à Geração Y são inovadores, criativos, buscam crescimento dentro das organizações, dominam a tecnologia, gostam de serem desafiados, precisam ser constantemente motivados e valorizados pelo seu chefe ou superiores, sempre procuram um lugar que se sintam satisfeitos e precisam trabalhar felizes, se sentindo bem.
Em empresas que são comandadas por essa geração, geralmente os colaboradores são livres para trabalharem quando e como quiserem, eles também possuem espaço de lazer e diversão dentro da empresa que pode ser acessado caso estes atinjam suas metas, e caso isso ocorra, eles ainda podem ganhar premiações para se sentirem valorizados.
Em contrapartida, esta geração “sofre” muitos questionamentos e falta de propósito, estão desacostumados a reconhecer seus erros e a lidar bem com frustrações. Conhecida também como a geração “mimimi”, se faz constantemente de vítimas e transferem a culpa de seus fracassos a terceiros, são imediatistas e visto também como ressentidos e hipersensíveis.
De acordo com Lipikin e Perrymore, os jovens Y não enxergam o chefe como uma figura superior que está lá para ser respeitada, mas sim alguém cujo dever é ajudá-las e orientá-las – sendo uma pessoa que merece respeito como qualquer outra. Isso retrata também que colaboradores da geração Y não lidam bem com hierarquia, vêem seus superiores como colegas de trabalho e não são nada flexíveis a hierarquia tradicional, além de apresentarem pouca predisposição a escuta, e isso se constitui como um desafio para as empresas.
Referências
Augusta de Oliveira Melo, Fernanda. Cristina dos Santos, Daniele. Cristiane Mendes de Souza, Cleiva. A Geração Y e as Necessidades do Mercado de Trabalho Contemporâneo: “um Olhar sobre os Novos Talentos”. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia 2013, Volta Redonda – Rio de Janeiro, vol 1, p. 6. Outubro, 2013.
COVEY, Franklin. Os principais desafios da geração Y no mercado de trabalho: Quais são os desafios da geração Y no mercado de trabalho?. In: Artigo. 01. ed. Não consta: Franklin Covey, 29 abr. 2019. 00. Disponível em: https://franklincovey.com.br/blog/geracao-y-no-mercado-de-trabalho/. Acesso em: 25 nov. 2021.
PONDÉ, Luiz Felipe. Geração Floco de Neve. Youtube, 22/04/2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=X7rdZwSA4G0&t=2128s. Acesso em 25/11/2021
TORRES, Leonardo. As redes sociais e a geração “floco de neve”. Campo Grande News, 2019. Disponível em: https://amp.campograndenews.com.br/artigos/as-redes-sociais-e-a-geracao-floco-de-neve. Acesso em:25/11/2021.
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Comportamento agressivo e os transtornos psicopatológicos em crianças e adolescentes
O comportamento agressivo pode ser expresso fisicamente por meio de luta e fuga; emocionalmente por raiva e ódio; fisiologicamente com taquicardia, face rubra; cognitivamente através da crença na conquista independentemente dos meios, também envolve manipulação; e verbalmente com o uso da palavra para controle expresso. A agressão apresenta uma função dentro do ambiente em que está sendo utilizada e a raiz do comportamento ofensivo pode ser ligada por fatores neurobiológicos, mas também pode ser fornecida e mantida pelo meio ambiente.
É comum que crianças e adolescentes apresentem comportamentos agressivos no decorrer de seu desenvolvimento, porém deve-se atentar a condutas frequentes e intensas, pois podem indicar sinais de psicopatologia. Dois aspectos importantes foram observados em relação a esses sinais de psicopatologia, a percepção que esses indivíduos têm do ambiente, se mostrando hipervigilantes e hiporresponsivos consigo mesmo e com os outros; e alteração no processo de solução de problemas, apresentando menos soluções verbais e mais respostas não-verbais.
O desenvolvimento sócio-emocional diz respeito à construção das habilidades sociais, em relação a agressividade tem-se por base o temperamento humano. O estudo de Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993) aponta as seguintes dimensões para o temperamento: busca por novidades e sensações; evitação de dano e perigo; necessidade de contato e aprovação social; persistência. Chegou-se à conclusão de que os tipos de temperamento não constitui comportamento como bom ou ruim, é necessário entender todos os temperamentos, se são adaptativos ou desadaptativos e a situação/ ambiente que se apresentam.
O Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) é caracterizado pelos sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Os sintomas de desatenção são descritos pelo DSM-IV-TR (APA, 2002) como dificuldades de prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido; dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas.
Fonte: encurtador.com.br/kqESU
Os sintomas de hiperatividade resumem-se à agitação das mãos ou dos pés; abandonar a cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; correr ou escalar em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado. O DSM-IV-TR (APA, 2002) divide o TDAH em três subtipos: predominantemente desatento, em que predominam os sintomas da desatenção (seis ou mais deles), predominantemente hiperativo/impulsivo, destacando-se os sintomas de hiperatividade e impulsividade.
Barkley (2002) afirma que TDAH não é sinônimo de conduta agressiva e que a presença desse tipo de comportamento está mais vinculada às condutas parentais do que necessariamente ao transtorno. Em um de seus estudos ele dividiu a amostra em dois grupos: crianças com TDAH (subdivididas em crianças com e sem comportamento agressivo) e crianças normais, fazendo com que cada uma delas interage com seus pais. Os resultados apontaram que as interações de crianças TDAH não agressivas com suas famílias eram bastante parecidas com as de crianças normais. Em contrapartida, no grupo TDAH agressivo, as interações eram mais negativas, com a presença de insultos e respostas impertinentes uns contra os outros.
O comportamento agressivo e as condutas anti sociais costumam estar profundamente relacionados. A definição de comportamento anti social compreende qualquer conduta que reflita a violação das regras sociais ou atos contra os outros, incluindo comportamentos como roubo, mentiras, vandalismo e fugas. Desta forma, pode-se sugerir que uma criança que apresenta comportamentos agressivos, tenderá, com maior probabilidade, a evoluir para práticas antissociais.
Os principais transtornos envolvidos com a expressão de comportamentos antissociais ou desafiadores são o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e o Transtorno de Conduta (TC). O TOD caracteriza-se especialmente pela presença de condutas de oposição, desobediência e desafio. Os comportamentos opositivos e desobedientes podem ser “passivos”, uma vez que a criança pode não responder ao pedido, mas pode apenas permanecer inativa.
Fonte: encurtador.com.br/rvyBM
O Transtorno Opositivo Desafiador em geral se manifesta antes dos oito anos de idade e tem pouca probabilidade de se iniciar depois do início da adolescência. Os sinais positivos frequentemente emergem no contexto doméstico, mas é comum estender-se a outras situações (APA, 2002). Um terceiro fator diz respeito às características de frequência, intensidade e diversidade dos comportamentos antissociais. Quanto maior o número, a gravidade e a complexidade dos atos, maior é a chance do Transtorno evoluir para a idade adulta (Robbins, Tipp & Przybeck, 1991).
Transtornos neuropsiquiátricos infanto-juvenis e comportamento agressivo geralmente ocorrem por razões muito afastadas da esfera dos transtornos psicológicos. Porém alguns comportamentos agressivos estão associados a uma série de transtornos neuropsiquiátricos. Tais problemas dessa natureza envolvem a agressividade física e/ou verbal, comportamentos opositores, desafiadores e anti-sociais, além de condutas de risco e impulsivas, podendo ser considerado como diagnósticos de Transtorno Bipolar do Humor (TBH), no Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) e nos Transtornos de Conduta (TC) na infância e adolescência.
O Transtorno Bipolar do Humor (TBH) caracteriza-se pela alternância de duas fases distintas:a maníaca (ou hipomaníaca) e a depressiva. Os critérios diagnósticos para um episódio maníaco incluem um período distinto de humor anormalmente elevado, expansivo ou irritável acompanhado de pelo menos três dos seguintes sintomas: auto-estima inflada, necessidade de sono diminuída, pressão para falar, fuga de idéias, distração, aumento de atividade dirigida ao objetivo e excessivo envolvimento em atividades prazerosas que tenham conseqüências negativas (APA, 2002).
O Transtorno de Conduta (TC) na infância e adolescência, é comportamento anti-social que compreende qualquer conduta que reflita a violação das regras sociais ou atos contra os outros, incluindo comportamentos como roubo, mentiras, vandalismo e fugas. Os principais transtornos envolvidos com a expressão de comportamentos anti-sociais ou desafiadores são o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e o Transtorno de Conduta (TC).
Fonte: encurtador.com.br/oqvyJ
TBH, TDAH e Transtornos de Conduta têm pontos comuns entre eles, presença de comportamento agressivo, e outros sintomas comuns dentre eles. Apesar de considerarem a possibilidade do diagnóstico diferencial entre tais transtornos, alguns estudos sugerem que a equação TBH + TDAH + Transtornos de Conduta pode formar uma entidade diagnóstica com fenótipo específico (Papolos & Papolos, 1999; Papolos, 2003).
O comportamento agressivo constitui-se de uma gama de atitudes sociais inábeis, a expressão agressiva frequente e intensa na infância e na adolescência apresenta inúmeras consequências desfavoráveis a curto, médio e longo prazo. Desta forma a compreensão do desenvolvimento infanto-juvenil parece conceder padrões mais amplos para o entendimento do comportamento agressivo. Devendo ser uma investigação mais criteriosa e com mais estudos, especialmente aqueles que se detenham às questões sobre classificação nosológica na infância e adolescência.
REFERÊNCIAS
American Psychiatric Association. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais . Porto Alegre: ArtMed, 2014.
Barkley, R. (2002). Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed
Cloninger, C. R.; Svrakic, D. M. & Przybeck, T. R. (1993). A psychological model of temperament and character. Archives General Psychiatry, 50 (12), 975-990
Robbins, L. N.; Tipp, J. & Przybeck, T. (1991). Antisocial personality. Em: L. N. Robins & D. A. Reegier (Orgs.). Psychiatric disorders in America (pp.51-59). Nova York: The Free Press.
Papolos, D. & Papolos, J. (1999). The bipolar child: the definitive and reassuring guide to childhood’s most misunderstood disorder. New York: Broadway Books.
Papolos, D. (2003). Bipolar disorder and comorbid disorders: the case for a dimensional nosology. Em: B. Geller& M. DelBelo (Orgs.). Bipolar Disorder in Childhood and early adolescence (pp. 76-106). New York: The Guildford Press.
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Experiência com um grupo de adolescentes: a dor que agrega
“Quando percebem que foram profundamente ouvidas, as pessoas quase sempre ficam com os olhos marejados. Acho que na verdade trata-se de chorar de alegria. É como se estivessem dizendo: “Graças a Deus, alguém me ouviu. Há alguém que sabe o que significa estar na minha própria pele”
(Carl Rogers)
Eu os ouvi atenciosamente. Mas eles me ouviram sem eu dizer ao menos, uma só palavra.
Era correria, eu precisava iniciar mais um semestre. Devido a motivos pessoais, voltar as atividades acadêmicas foi um grande desafio. Nem de longe, imaginei que esse período seria repleto de tantas mudanças. Estou cursando o quinto período de psicologia e depois de ter contato com tantas teorias, tive a oportunidade de aplicá-las e pude sentir na pele os desafios da profissão.
Matéria prática, primeiro grupo que tive oportunidade de gerir, teríamos que trabalhar com adolescentes. Éramos em três, eu, Isaura e Lorena. Tivemos o primeiro contato com o grupo e foi desesperador. 19 adolescentes e três estagiárias – já contava que iria ser difícil, de fato isso é uma coisa que qualquer acadêmico deve esperar.
Tivemos literalmente que nos desdobrar, era muita coisa a ser feita, conhecer os participantes, se apresentar, falar o motivo de estarmos ali, colher demandas… e opa, colher demandas.
Esse foi o meu primeiro choque. A primeira coisa que me fez despertar para o real sentido de estarmos ali, longe de qualquer teoria ou obrigação, eram DEZENOVE adolescentes, cada um com uma história de vida e apesar de terem “só” 12 anos já possuíam muitas aflições.
A cada encontro era perceptível como cada um deles me afetava diretamente. Então percebi, minha grande superação não estava relacionada somente ao profissional, estava interligada a minha vida pessoal!
As demandas eram diversas, mas se resumiram basicamente em comunicação não assertiva, depressão, automutilação e suicídio.
Fonte: https://goo.gl/XdDCpm
Como que em tantas possibilidades, eu fui gerir um grupo exatamente com demandas similares às minhas? Já dizia Jung:
“O que não enfrentamos em nós mesmos, encontraremos como destino”
Acho que foi isso, talvez o destino tenha me presenteado com a possibilidade de enfrentar minha dor juntamente com aqueles 19 adolescentes. Não tive a alternativa de desistir, não tive escolha. O destino, dessa vez, me acertou em cheio!
Recentemente perdi um amigo para o suicídio e isso tem me feito passar por várias transformações. Tentar ressignificar essa perda me fez sentir muitas dores. Não me sinto totalmente livre delas e durante um período significativo, reprimi qualquer tipo de sentimento que surgia em mim.
Mas agora, eu estava ali. Naquele grupo, com aquelas demandas. Eu era exposta diariamente a minha dor e a dos demais participantes.
Eu via meus medos. Eu via minha incapacidade de revolução. Eu via todas as possibilidades infinitas dos diversos fatores que levam uma pessoa a ter práticas de autolesão. Eu via minhas angústias. Eu via meu amigo em cada rostinho daquele.
Eu não podia transferir esses sentimentos para o grupo. Me resguardava na ética profissional e dava o meu melhor a cada encontro. Era libertador participar de um grupo tão bem desenvolvido. Era reconfortante perceber como um auxiliava na dor do outro e como o grupo por inteiro, se engajava. No final, era terapêutico e o grupo em si, era uma grande rede de apoio.
Mas não vou negar, após finalizar eu sempre me permitia sentir o impacto, o peso, a responsabilidade de estar ali. As lagrimas escorriam, e meu coração mesmo estando cheio de gratidão, pagava o preço. E assim como eles se tinham, eu tinha eles, e tinha principalmente, minhas colegas de estágio.
Essa experiência singular foi um grande crescimento profissional e acrescentou significativamente minha história de vida pessoal. Pra finalizar, eu quero dizer que:
“Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior” (O Teatro Mágico)
As interações sociais no início da vida são fundamentais para o desenvolvimento.
A maternidade é um aprendizado único; é uma experiência de transformação pessoal; é sentir o movimento da vida que inicia dentro do útero; é aprender a comunicar-se sem palavras. A vida inicia como uma única célula, menor que um alfinete. Nove meses depois, existimos como organismos extraordinariamente complexos, formados de bilhões de células diferentes. E esta intricada dinâmica é apresentada em pormenores através do documentário ‘O Começo da Vida’, disponível na Netflix.
Os bebês geralmente nascem minúsculos, vermelhos, enrugados e mal conseguindo aguentar a própria cabeça. As primeiras alterações bio-psico-comportamentais da criança ocorrem no momento do nascimento, na saída de dentro do útero para um ambiente quente e úmido, no qual os pulmões se inflam pela primeira vez, são fechados os canais secundários, que desviam o sangue dos pulmões para a placenta, e as artérias umbilicais. O recém-nascido tem a visão de outros seres humanos pela primeira vez e dá o início à construção de um relacionamento social e do relacionamento pai, mãe e filho(a). Os familiares têm a expectativa da aparência do bebê e expectativas sociais desse novo ser.
Fonte: http://twixar.me/md3K
Logo a criança respira por conta própria, consegue explorar o mundo usando os sentidos, se alimenta e começa a assumir seu lugar dentro do contexto familiar e na comunidade em que faz parte. Porém o bebê é totalmente indefeso e aprende uma imensidão de coisas nos primeiros anos de vida, sendo uma fase importante e que pode refletir durante o resto da vida. Os bebês nascem “míopes” e passam por processos sensoriais referentes à visão. Ele conseguirá enxergar com clareza por volta dos oito meses de idade. Contudo, o bebê já explora o ambiente com o olhar desde o nascimento, assimilando formas visuais.
Fonte: http://twixar.me/hd3K
Os bebês passam por outros processos sensoriais referentes ao olfato, paladar, tato, temperatura e posição. Aos oito e dez dias de vida os bebês já são aptos de distinguir o odor do leite materno em relação ao leite de outra mulher, podem apresentar expressões faciais diferentes para gostos diferentes, reagem a toques desde o período pré-natal e mostram sensibilidade às alterações de temperatura e estudos apresentam que reagem com movimentos distintos dos olhos ao serem girados. O documentário reforça que eles aprendem mais do que jamais imaginamos, uma vez que as vias associativas funcionam antes mesmo da criança nascer e, mesmo no útero da mãe, o feto já percebe as vibrações do som, começando pela voz e pelos batimentos cardíacos da mãe.
Conforme o documentário, a cada segundo o cérebro do bebê faz milhares de conexões entre as células nervosas, o que proporciona todos os tipos de experiências, interações físicas e sensações que permitem à criança o processamento do que está acontecendo ao seu redor. O bebê passa pela habituação que se refere ao processo em que a atenção à novidade diminui com a exposição repetida, realizando um processo de aprendizagem e a desabituação que ocorre quando o interesse é renovado após uma mudança no estímulo. Ambos os processos ocorrem automaticamente, sem qualquer esforço consciente. Portanto, o que comanda tais processos é a relativa estabilidade e a familiaridade do estímulo.
Fonte: http://twixar.me/Xd3K
Segundo Jean Piaget, psicólogo do desenvolvimento, o conhecimento dos bebês é construído através da ação (construtivismo) e através de esquema que se refere a uma estrutura mental que proporciona a um organismo um modelo de ação em circunstâncias similares ou análogas. Em cada comportamento ocorre a adaptação que proporciona a assimilação. Piaget conceitua a aquisição da aprendizagem pelo processo de adaptação, assimilação e acomodação. Os reflexos e as coordenações sensoriais e motoras presentes no recém-nascido tornam-se mais complexos, coordenados e propositais enquanto se desenvolvem no processo de adaptação, no qual o ser humano adapta-se ao meio e organiza suas experiências (WADSWORTH, 1997).
No documentário a mente da criança é totalmente aberta, não planejada e à espera de descobertas, passando pelo processo cognitivo e psicológico mediante os quais as crianças adquirem, armazenam e usam o conhecimento sobre o mundo. Piaget apresenta o desenvolvimento percepto-motor como umas das conquistas dos primeiros anos de vida da criança a qual ocorre quando a percepção e o agir da criança estão intimamente conectados e ela tem a capacidade de girar, mover, sacudir um objeto, segurar com uma mão e depois, com as duas mãos, brincar de encaixar, erguer a cabeça, rolar o corpo, sentar-se sem apoio, caminhar sozinha, levantar, subir degraus dentre outros.
Nos primeiros anos de vida, os bebês categorizam o gênero dos sons de voz, conseguindo reconhecer a voz da mãe e diferenciar das demais, categorizam os adultos como sendo confiáveis versus estranhos imprevisíveis. A memória desenvolve-se rapidamente e o desenvolvimento cerebral é tão influenciado pelo ambiente quanto pela genética. As experiências e interações que uma criança pequena tem literalmente ficam marcadas na pele e no cérebro, além de afetarem a constituição dos circuitos e da arquitetura do cérebro.
Fonte: http://twixar.me/Jd3K
O documentário apresenta casos de pessoas que foram seriamente privadas de afeto quando eram bebês, podendo manifestar na fase adulta uma dificuldade em ter afeto com crianças pequenas pois essa experiência afetiva não fez parte do seu repertório comportamental da infância.
Destarte, o documentário mostra que o contato com a família, o afeto e a demonstração de amor e carinho são melhor que brinquedos, uma vez que a interação com outros seres humanos é fundamental para o desenvolvimento da criança. Logo, a comunicação, o contato e o convívio social são inerentes ao bebê, à medida que os primeiros laços são estabelecidos nos primeiros anos de vida.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
Título Original: O Começo da Vida Direção: Estela Renner Elenco: Nenhum Ano: 2016 País: Brasil Gênero: Programa e séries, série documental
Referências:
BEE, H. O Ciclo Vital. Porto Alegre: ArtMed, 1997.
COLE, M. COLE, S. O Desenvolvimento da Criança e do Adolescente. 4.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2003.
WADSWORTH, B.J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget: fundamentos do construtivismo. 5. ed. rev. São Paulo: Pioneira, 2003