Impacto da alimentação no desempenho escolar

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Estratégias de Educação Alimentar e seu Impacto no Desempenho Escolar no Contexto Brasileiro

A interação entre alimentação e desempenho escolar é um campo de estudo significativo que abrange várias disciplinas, incluindo nutrição, psicologia educacional e saúde pública. Nutrientes essenciais como vitaminas, minerais, proteínas e carboidratos são cruciais para o desenvolvimento cerebral. Uma nutrição inadequada pode levar a deficiências cognitivas, afetando a memória, a atenção e a capacidade de resolver problemas. Segundo Benton (2008), deficiências nutricionais, especialmente durante fases críticas de desenvolvimento, estão relacionadas a atrasos no desenvolvimento da linguagem e dificuldades de aprendizagem.

O papel do café da manhã na melhoria do desempenho acadêmico também é notável. Adolphus et al. (2013) demonstraram que o consumo regular de um café da manhã nutritivo está associado a um melhor desempenho em tarefas escolares que exigem atenção e habilidades de memória. Essa refeição fornece energia e nutrientes essenciais após o jejum noturno, sendo fundamental para a manutenção da função cognitiva durante o dia.

Por outro lado, padrões alimentares não saudáveis, como o consumo excessivo de alimentos processados ricos em açúcares e gorduras, mas pobres em nutrientes, estão relacionados a um desempenho escolar inferior. De acordo com Florence et al. (2008), esses hábitos podem resultar em problemas de concentração, hiperatividade e comportamentos disruptivos, que são prejudiciais ao aprendizado e ao desempenho acadêmico.

Intervenções nutricionais nas escolas, como a oferta de refeições equilibradas e programas de educação nutricional, têm mostrado resultados positivos. Murphy et al. (1998) observaram que a disponibilização de um café da manhã balanceado nas escolas está vinculada a melhorias no desempenho acadêmico e no bem-estar psicológico dos alunos. Tais intervenções são especialmente valiosas em comunidades carentes, onde os alunos podem não ter acesso regular a alimentos nutritivos.

A relação entre alimentação e desempenho escolar tem sido amplamente estudada no Brasil, com foco na educação alimentar e nutricional como estratégia para promover hábitos alimentares saudáveis. Uma revisão de literatura realizada sobre estudos de intervenção no campo da educação alimentar e nutricional em escolares no Brasil, entre 2000 e 2011, apontou melhorias no conhecimento em nutrição e nas opções alimentares dos alunos. No entanto, a maioria dos estudos que realizaram avaliação antropométrica não encontrou mudanças significativas no estado nutricional dos estudantes. Os estudos tendem a adotar metodologias baseadas em estudos epidemiológicos de intervenção, indicando a necessidade de abordagens mais inovadoras em educação em saúde e modelos de pesquisa adaptados aos objetos de estudo​​ (Santos et. al., 2012).

                                                                                                       Fonte: Pixabay, imagem de esigie

Além disso, foi desenvolvida uma série de materiais de apoio para profissionais de educação e de saúde, visando integrar a educação alimentar e nutricional ao currículo de educação infantil e ensino fundamental. Esses materiais se baseiam em uma matriz de temáticas de alimentação e nutrição, promovendo atividades educativas que oportunizam uma abordagem ampliada sobre alimentação e nutrição, integradas de forma transversal ao currículo. Essa iniciativa fortalece as ações de educação alimentar e nutricional no âmbito escolar, contribuindo para a ampliação do repertório dos educadores sobre a temática e sua inclusão no currículo de forma cotidiana e transversal (Gubert, 2013)​​.

No contexto global, a alimentação escolar é reconhecida como uma política importante para o desenvolvimento infantil, apoiando a nutrição adequada e aprimorando as habilidades cognitivas dos estudantes, além de contribuir para a diminuição da evasão escolar. O ambiente escolar é visto como um espaço estratégico para a promoção da segurança alimentar e nutricional (SAN) entre os estudantes, possibilitando o fornecimento de refeições e a formação de hábitos alimentares saudáveis. Globalmente, 169 países fornecem alimentação escolar a cerca de 368 milhões de estudantes, com a Índia, Brasil e Estados Unidos liderando em número de beneficiados (Silva, 2012)​​.

No Brasil, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é regulamentado pela Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, e pela Resolução nº 26, de 17 de junho de 2013, do Fundo Nacional de Desenvolvimento e Educação (FNDE). O PNAE visa garantir a todos os estudantes matriculados em escolas públicas e entidades filantrópicas uma alimentação adequada e saudável, contribuindo para o crescimento, desenvolvimento biopsicossocial, aprendizagem, rendimento escolar e a formação de hábitos alimentares saudáveis, por meio de ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que atendam parte das necessidades nutricionais dos estudantes durante o período letivo​​ (Pepe, 2012).

Esses estudos e iniciativas demonstram a importância da alimentação escolar na promoção da saúde, do bem-estar e do desempenho acadêmico dos estudantes, enfatizando a necessidade de políticas públicas e práticas educacionais que integrem a nutrição ao ambiente escolar.

 

 

REFERÊNCIAS

  1. BENTON, D. (2008). The influence of dietary status on the cognitive performance of children. Molecular Nutrition & Food Research, 52(4), 457-470.
  2. TARAS, H. (2005). Nutrition and student performance at school. Journal of School Health, 75(6), 199-213.
  3. ADOLPHUS, K., Lawton, C. L., & Dye, L. (2013). The effects of breakfast on behavior and academic performance in children and adolescents. Frontiers in Human Neuroscience, 7, 425.
  4. Florence, M. D., Asbridge, M., & Veugelers, P. J. (2008). Diet quality and academic performance. Journal of School Health, 78(4), 209-215.
  5. MURPHY, J. M., Pagano, M. E., Nachmani, J., Sperling, P., Kane, S., & Kleinman, R. E. (1998). The relationship of school breakfast to psychosocial and academic functioning: Cross-sectional and longitudinal observations in an inner-city school sample. Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, 152(9), 899-907.
  6. SANTOS, L. M. P. dos; GOMES, F. S.; SOUZA, A. M. de; SANTOS, S. M. C. dos; SANTOS, L. A. dos; SANTOS, C. L. F. dos. Educação alimentar e nutricional em escolares: uma revisão de literatura. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 605-615, set. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v15n3/16.pdf. Acesso em: 5 dez. 2023.
  7. GUBERT, M. B.; SOUSA, D. A. de. Proposta de educação alimentar e nutricional integrada ao currículo de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 4, p. 1153-1162, abr. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n4/v18n4a33.pdf. Acesso em: 5 dez. 2023.
  8. SILVA, D. O. da; RECINE, E.; BRASIL, B. G. de M.; GOMES, R. C. F.; SCHMITZ, B. A. S. Alimentação na escola e autonomia: desafios e possibilidades. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 91-98, jan. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n1/12.pdf. Acesso em: 5 dez. 2023.
  9. PEPE, M. S. V. E.; ARAÚJO, M. L. G. de; O’CONNOR, T. M. Alimentação Escolar no Brasil e Estados Unidos: uma revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 5, p. 1273-1284, maio 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n5/25.pdf. Acesso em: 5 dez. 2023.
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“Muito Além do Peso” – a realidade assustadora da alimentação infantil

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Come o que vê pela frente, tudo o que seja atraente, é uma fome absorvente.

O documentário Muito Além do Peso, lançado em 2012 dirigido por Estela Renner, revela a realidade da alimentação infantil e as implicações da publicidade de alimentos. Através de uma investigação feita por diversas regiões do país, na qual foi possível mostrar o quanto os efeitos de uma má educação alimentar podem trazer prejuízos à posteridade, pois, a alimentação infantil quando não é conduzida sob os cuidados de um adulto, educando-a para uma alimentação saudável consequentemente acabam se tornando crianças que sofrem com obesidade e outras complicações.

São apresentadas crianças que já fazem uso de medicação para tratamento de doenças crônicas. Com isso, percebe-se as consequências de uma alimentação desregulada no aumento da incidência de doenças graves como quadros de hipertensão, diabetes tipo 2 e colesterol alto, além de problemas respiratórios, dificuldade para dormir, sensibilidade nas articulações, entre muitos outros.

Logo no início do documentário, a música cantada por diversas crianças transpõe o que acontece com a maioria das crianças que estão com excesso de peso, visto que, os efeitos dessa má educação alimentar é capaz de trazer malefícios às novas gerações, que sofrem precocemente.

“Gente, tô ficando impaciente, come frio, come quente, come o que vê pela frente, tudo o que seja atraente, é uma fome absorvente”

 

Para mais, é relatado que uma das grandes preocupações da população em relação às causas de mortes são as derivadas de homicídios, assassinatos e etc. Contudo, em uma tabela apresentada no documentário é possível perceber que as principais causas de mortes nos Estados Unidos são devido a problemas cardíacos, podendo ter sido evitadas se fossem tratadas. Segundo Elza et al. (2004) a prevenção da obesidade desde idades precoces pode ser uma alternativa para reverter o aumento acelerado dessa doença. Os estudos de intervenção da obesidade infantil em longo prazo, são escassos, porém necessários para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas.

Outrossim, a entrevistadora pergunta a várias crianças acerca de alimentos saudáveis como frutas e legumes para saber se elas as conhecem ou até mesmo se já experimentaram. No entanto, algumas crianças não sabem identificar os nomes desses alimentos, mas conseguem detectar o nome e os componentes de salgadinhos e biscoitos. Além disso, optam por comerem alimentos que são industrializados. De acordo com o documentário, 33,5% das crianças no Brasil sofrem sobrepeso.

Um dos fatores prejudiciais que influenciam na desinformação de uma alimentação mais saudável refere-se a linguagem publicitária, uma vez que as crianças passam grande parte do tempo conectados às telas. Posto isso, é de suma importância que os pais estejam atentos e forneçam a seus filhos informações que estimulem e forneçam alimentos que sejam mais nutritivos.

 

                                                                                                                                                     Fonte: IBGE

Em conformidade com o documentário, se os pais não intervirem o quanto antes em uma alimentação adequada, seus filhos podem viver menos devido ao ambiente alimentar que é construído. Posto isso, deve-se observar quais alimentos estão sendo distribuídos às crianças. Conforme Tenório et. al. (2011), a prevenção da obesidade desde idades precoces pode ser uma alternativa para reverter o aumento acelerado dessa doença. Os estudos de intervenção da obesidade infantil se fazem necessários para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas.

 

                                                                                                                                                    Fonte: Pixabay

Posto isso, é de suma importância este documentário, tendo em vista o alerta acerca da realidade assustadora da alimentação infantil. Uma questão muito relevante na área da saúde é a tendência culpabilizante que individualizar um comportamento pode ter. Deve-se levar em consideração a má qualidade da alimentação, a insegurança alimentar e financeira, dentre outros.

                                                                                                         Fonte: Pixabay

 

 FICHA TÉCNICA

 

Título original: Muito Além do Peso

Elenco: Nenhum

Ano: 2012

País: Brasil

Gênero: Documentário

 

 

Referências:

Mello, Elza D. de, Luft, Vivian C. e Meyer, Flavia. Obesidade infantil: como podemos ser eficazes?. Jornal de Pediatria [online]. 2004, v. 80, n. 3 [Acessado 17 Setembro 2023], pp. 173-182. Disponível em: <https://doi.org/10.2223/JPED.1180>. Epub 05 Ago 2004. ISSN 1678-4782. https://doi.org/10.2223/JPED.1180.

Tenorio, Aline e Silva e Cobayashi, Fernanda. Obesidade infantil na percepção dos pais. Revista Paulista de Pediatria [online]. 2011, v. 29, n. 4 [Acessado 17 Setembro 2023], pp. 634-639. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-05822011000400025>. Epub 17 Fev 2012. ISSN 1984-0462. https://doi.org/10.1590/S0103-05822011000400025.

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A relação entre obesidade, alimentação e transtornos neurodegenerativos

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Desde meados do século XX, passamos a conviver com o comprometimento da saúde cada vez mais cedo e a acompanhar o crescimento acentuado de transtornos neurodegenerativos

Se você perguntasse aos seus avós qual a causa da morte de familiares, amigos, vizinhos, certamente ouviria que morreram de “velhice”. Dificilmente havia conhecimento de mortes causadas por complicações do diabetes, câncer, demência e doenças cardíacas. É evidente que devemos considerar que havia limitações nos diagnósticos clínicos, inclusive no diagnóstico precoce, que viabilizassem o tratamento e prevenção.

A velhice pode ser entendida como uma deterioração provocada pelo tempo, em que o envelhecimento gradualmente se instala como uma ferrugem em um carro antigo, que vai oxidando e corroendo uma célula aqui, outra ali, declinando as funções corporais, esgotando vitaminas, minerais e organelas naturais de defesa.

Aos companheiros dos nossos antepassados, atribuímos a morte ao corpo velho, que vai ficando mais vulnerável a uma doença degenerativa ou um vírus oportunista comprometendo gravemente a saúde.

Hoje nossa realidade é outra, desde meados do século XX, passamos a conviver com o comprometimento da saúde cada vez mais cedo, não de forma única com o envelhecimento, mas acometidos por síndromes e complicações que vão se acumulando com o tempo de forma crônica e degenerativa.

                                                                                                                             Fonte: Pixabay.com

Crescem as complicações com doenças como o diabetes, câncer, doenças cardíacas e o foco do nosso texto os transtornos mentais, ou desordens cerebrais, em especial o Alzheimer.

Nesse sentido, como mencionado acima, crescem as complicações com doenças como o diabetes, câncer, doenças cardíacas e o foco do nosso texto os transtornos mentais, ou desordens cerebrais, em especial o Alzheimer. Muito temido por todos e foco de estudos na medicina, cerca de 1,2 milhões de pessoas vivem com alguma forma de demência no Brasil e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.  No mundo, o número chega a 50 milhões de pessoas.

De acordo com o ministério da saúde (MS), o Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais.  Ainda segundo o MS, o mal de Alzheimer tem causa desconhecida, de origem genética, inevitável e atribuída a idade, sendo responsável por mais da metade dos casos de demência na população idosa.

Mas será que a origem é genética e imutável?

Voltando novamente no tempo, aos nossos bisavós dessa vez, imagine-se sentado na frente da casa deles contando como a nossa vida cotidiana conta com a tecnologia, é provável que essa conversa seja regada a um morno chá, cujas ervas foram cultivadas logo ali atrás da casa. Contextualizando a eles a evolução das máquinas e da internet incluiremos nesse panorama da vida moderna os meios de transportes, forno de micro-ondas, comida congelada, os controles remotos, smartphones e junto deles as facilidades a um clique. Nesses cliques devemos incluir a entrega a domicílio de comida, sanduíches, pizzas, doces, sorvetes, batatas fritas e demais produtos alimentícios. Entenda por produto alimentício alimentos que passam por processamento e inclusão de aditivos químicos, glúten, realçadores de sabor, corante, conservantes, diferente de alimento, que não passa por processos de modificação. Ao final da nossa explanação certamente estariam boquiabertos, incrédulos e o chá esfriando na caneca.

                                                                                                                                          Fonte: Pixabay.com

As mudanças socioculturais vêm trazendo mudanças nos hábitos alimentares e impactando a forma como estamos envelhecendo.

As mudanças na nossa vida cotidiana, a participação maior das mulheres no mercado de trabalho, a sobrecarga que vivemos de responsabilidades e estresse vem trazendo mudanças nos hábitos alimentares e esses têm impactado diretamente na forma como estamos envelhecendo.

No ano de 2005, pesquisas descreveram o Alzheimer como sendo um terceiro tipo de diabetes. Recentemente novas pesquisas têm se voltado mais para a alimentação como esperança de prevenir e até mesmo tratar o Alzheimer.

Parece muito absurdo para você relacionar uma doença cerebral degenerativa com a alimentação? E mais ainda, mudanças no estilo de vida e na alimentação ser preditivo para evitar que males como Alzheimer, depressão e TDAH acometam o seu cérebro? A explicação para essa relação pode ser bem simples: a inflamação e a metabolização da glicose.

Hipócrates, o pai da medicina disse que todas as doenças começam no intestino. Nesse sentido, alto consumo de alimentos ricos em carboidratos tem um papel fundamental no gatilho de cascatas inflamatórias no nosso organismo, entenda por carboidrato uma fonte de açúcar rápida, que pode ser um pão ou um sorvete cheio de açúcar refinado. No contexto do pão um fator ainda agrava nossa saúde intestinal e mental, que é uma proteína denominada glúten. O glúten está presente em grãos como trigo, centeio, cevada, aveia e malte, e apresenta -se maléfico ao intestino e ao cérebro.

O médico e pesquisador Alessio Fasano é especialista em doença celíaca e distúrbios relacionados ao glúten, professor na Harvard Medical School autor de diversas pesquisas diz que os sintomas relacionados ao consumo de glúten e a hiperpermeabilidade intestinal, as reações cruzadas e mimetismo molecular precisam ser reconhecidos para serem manejados corretamente. Fasano afirma em seus estudos que ainda se pensa que o trigo faz mal apenas aos celíacos, mas a sensibilidade ao glúten não celíaca, o espectro de sintomas e doenças autoimunes relacionadas é uma realidade forte no impacto da saúde intestinal e distúrbios cerebrais como TDAH, autismo e Alzheimer.

Fasano descobriu em suas pesquisas que uma proteína chamada zonulina, liberada na presença do glúten, como um mecanismo de defesa, altera nossa permeabilidade intestinal. Nosso intestino que é como uma peneira bem fininha, passa a ficar esburacada, ou seja, hirperpermeável. Assim o indivíduo torna-se altamente suscetível a sensibilidades alimentares, favorecendo o surgimento de processos inflamatórios e o desenvolvimento de doenças autoimunes.

                                                                                                                                    Fonte: Pixabay.com

Já há trabalhos científicos que relacionam a sensibilidade ao glúten a sintomas como depressão, ansiedade, câncer, autismo, confusão mental, distúrbios digestivos, doenças cardíacas entre outros.

Como dissemos, os processos inflamatórios são base para muitos problemas cerebrais, com a liberação de citocinas inflamatórias e podem atacar o cérebro. Tal relação já é bem descrita em trabalhos que relacionam a sensibilidade ao glúten a sintomas como depressão, ansiedade, câncer, autismo, confusão mental, distúrbios digestivos, doenças cardíacas entre outros.

Com relação ao açúcar, vamos entender como nosso corpo metaboliza a glicose e o papel da insulina nesse metabolismo. Quando nos alimentamos, nosso corpo digere, transforma e absorve os nutrientes do que comemos, vamos chamá-los aqui de macronutrientes, os estruturais: Carboidrato, Proteína e Gordura. Cada um deles é recebido e metabolizado por nosso organismo de maneira particular, mediados por enzimas e substâncias próprias de cada reação bioquímica necessária a sua transformação e absorção.

Nosso corpo usa como principal fonte de energia a glicose, necessária ao funcionamento do cérebro, músculos, fígado e coração, por exemplo. A glicose é obtida da metabolização dos carboidratos da alimentação, porém as células dependem de um hormônio para esse aproveitamento, a insulina, que é produzida no pâncreas.

Assim, na presença de glicose na corrente sanguínea, o pâncreas libera insulina, que viabiliza o uso adequado das células pelo combustível, e nossas células quando bem “treinadas” apresentam sensibilidade a insulina, de maneira que na presença dela, prontamente a reconhecem e encaminham tudo para a metabolização da glicose. Esse é o modelo das células dos nossos bisavós, aqueles do chá citado anteriormente. Eles tinham na sua alimentação um equilíbrio na oferta de alimentos, obtendo dela os macronutrientes, além disso as suas atividades laborais, eram de modo geral com mais esforço físico e a oferta de alimentos fonte de carboidratos eram mais escassas.

Não precisamos abordar apenas gerações passadas como exemplo de equilíbrio alimentar e hábitos de vida saudáveis, mas a realidade é que estamos frente a uma epidemia de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, sobrepeso e obesidade). Segundo a Associação Brasileira para o Estudo de Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), a estimativa é que em 2025 cerca de 2,3 bilhões de pessoas estejam acima do peso e 700 milhões com obesidade (IMC>30). No Brasil, a obesidade aumentou 72% nos últimos 13 anos.                                                                            

                                                                                                                                           Fonte: Pixabay.com

O sangue açucarado torna-se pesado, tóxico para muitos órgãos, e pode provocar inúmeras doenças, dentre elas o Alzheimer.

Em comparação com o sistema metabólico dos nossos antepassados, podemos esperar de um organismo hoje, uma maior oferta de glicose na alimentação (pães, massas, salgados, doces, sorvetes, frituras, etc) e hábitos de vida sedentários, mediados por estresse, insônia e aumento de doenças crônicas não transmissíveis.

As células desse indivíduo hoje passam por diversos processos de oxidação e inflamação e o excesso de glicose gera uma resistência à insulina, ou seja, em comparação às células treinadas dos nossos bisavós, nossas células perdem parte dos receptores de insulina, fazendo com que nosso pâncreas trabalhe em dobro até que estas reconheçam a presença da insulina, e a permitam participar do metabolismo da glicose. Temos aí o pré diabetes e caminhamos para o diabetes tipo 2. O sangue açucarado torna-se pesado, tóxico para muitos órgãos, e pode provocar inúmeras doenças como cegueira, danos aos nervos, danos vasculares que levam à hipertensão arterial, doenças cardíacas e danos ao cérebro como o Alzheimer.

De acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF) a projeção é que até 2030 o número de diabéticos no Brasil esteja em 21,5 milhões. O surgimento do termo diabetes tipo 3, atribui-se a perda da capacidade dos neurônios do cérebro a reagirem à insulina, reação essencial para tarefas básicas como memorização e aprendizado. Acredita-se também que a resistência à insulina contribui para a formação das famosas placas nos cérebros em diagnóstico, e é fato que os diabéticos têm chances dobradas de desenvolver Alzheimer.

                                                                                                                                        Fonte: Pixabay.com

  1. Zheng e colaboradores em um estudo em 2018, demonstraram que quanto maior a glicemia, maior o declínio cognitivo.

Não se pode afirmar que o diabetes seja diretamente a única causa do Alzheimer, mas o diabetes e o Alzheimer começam nas mesmas origens, como demonstraram E. Zheng e colaboradores em um estudo em 2018, onde pessoas com glicemia mais alta mostraram nível de declínio cognitivo mais elevado que pessoas com glicemia normal. O estudo acompanhou mais de 5 mil pessoas durante 10 anos e quanto maior a glicemia, maior o declínio cognitivo, sendo diabéticos ou não.

Nosso cérebro é sensível àquilo que comemos, e nesse contexto explicamos com mais detalhes a sensibilidade ao glúten, a metabolização do açúcar e a elevação da glicemia no sangue, no entanto nossa alimentação está cada vez mais inundada de gorduras ruins, proteína e carboidratos em excesso, o que também contribui para a inflamação.

O caminho então seria melhorar a sensibilidade à insulina, adotar uma dieta mais equilibrada em carboidratos e evitar o consumo de glúten e ultraprocessados. É fato que a oferta de produtos ricos em açúcar e a facilidade com que acessamos esses alimentos favorece o comportamento alimentar visto hoje, mas a reflexão pode ir além de uma vida estressante ou da falta de tempo para cozinhar.

                                                                                                                                                  Fonte: Pixabay.com

As recomendações de uma vida saudável incluem também propiciar uma alimentação adequada a saúde mental.

O caminho de volta desses resultados pode parecer difícil, mas nos leva ao encontro dos nossos avós e bisavós: Praticar uma alimentação pobre em açúcar, pobre em carboidratos refinados (massas, pães, batatas, doces, guloseimas, arroz); Descascar mais e desembalar menos: usar alimentos naturais, minimamente processados na alimentação, comprados em feiras, de preferência frutos e vegetais da estação; Cozinhar com gorduras boas, que alimentam o cérebro, como por exemplo azeite de oliva extravirgem, manteiga e óleo de coco; Priorizar o consumo de frutas menos doces; Praticar atividade física ou mesmo ter uma vida ativa: caminhadas, uso de escadas, passear com seu cachorro, filhos; Ter boas noites de sono.

As recomendações de uma vida saudável incluem também propiciar uma alimentação adequada a saúde mental. O guia alimentar para a população brasileira (2014), uma atualização da versão antiga de 2006, inclui orientações básicas ao comer como: regularidade e atenção, comer em ambientes apropriados e comer em companhia.

Sabemos que comer com calma e atenção favorece uma boa mastigação, respiração e como resposta induz a uma melhor digestão; proporcionar um ambiente agradável e comer à mesa são atitudes importantes para dar a verdadeira importância ao momento de se nutrir, mas destacamos aqui o comer em companhia. Algo extremamente importante para manter a conexão entre pessoas, a troca de experiências e vivências, o senso de compartilhar e pertencer a um lugar.

Refeições compartilhadas feitas no ambiente da casa, são momentos preciosos para cultivar e fortalecer laços entre pessoas que se gostam. Preparar as refeições em casa envolve as pessoas em atividades que as antecedem e podem promovem o desenvolvimento e autonomia das crianças e adolescentes através do preparo, das compras, da escolha de receitas de família e assim criar memórias afetivas, fortalecer laços e tradições, bons hábitos de alimentação e colaborar para a valorização do compartilhamento, perpetuação de boas escolhas alimentares e promoção de saúde mental e emocional.

Biografia:

 

Josiane Buzachi é nutricionista, formada pela Universidade Federal do Tocantins. Especialista em disbiose, alergia alimentar, doença celíaca e doenças inflamatórias intestinais. Atua em consultório e online desde 2018, hoje atende presencialemente em Goiânia, onde reside desde o início de 2023.

Referências:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. 156 p. : il.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2019 : vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico : estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2019 [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2020. 137. : il.

BRASIL. Ministério da Saúde.2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/alzheimer#:~:text=A%20Doen%C3%A7a%20de%20Alzheimer%20(DA,neuropsiqui%C3%A1tricos%20e%20de%20altera%C3%A7%C3%B5es%20comportamentais.Acesso em 20 de setembro de 2023.

FASANO, A. Zonulin and its regulation of intestinal barrier function: the biological door to inflammation, autoimmunity, and cancer. American Physiological Society Bethesda, MD. 2011.

SERRANO, Amanda. Diabetes vai atingir 21,5 milhões de brasileiros até 2030. Estado de Minas, 2020. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/saude-e-bem-viver/2022/06/24/interna_bem_viver,1375768/diabetes-vai-atingir-21-5-milhoes-de-brasileiros-ate-2030.shtml. Acesso em 20 de setembro de 2023.

STEEN.E. et al.,Impaired insulin and insulin-like Growt factor Expression and Signaling Michanisms in Alzheimer’s Disease: Is This Type 3 Diabetes? Journal of Alzheimer’s Disesase,v.7 n.1,pp.63-80,2005.

ZENG,F. et al., HbA1C, Diabetes and Cognitive Decline: The English Longitudinal Study of Ageing. Diabetologia, v.61, n.4, pp.839-48,2018.

 

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Um corpo que sente e é sentido: a experiência de transitar a vida durante e depois de um transtorno alimentar

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Um relato do começo da minha adolescência com anorexia.
Atenção: esse texto contém relatos sensíveis sobre transtornos alimentares.
Autoria anônima

A adolescência é marcada por diversas mudanças fisiológicas e psicológicas, além de ser uma fase em que a influência das redes sociais é notável. Tendo isso em vista, muitas meninas adolescentes são atingidas pelas demandas da sociedade com relação ao corpo. Neste contexto, o desenvolvimento de transtornos alimentares pode ser um risco, uma vez que a cultura da magreza é posta como algo essencial para o valor feminino e isso é acentuado durante a adolescência.
Segundo Silva e Daniel (2020) os transtornos alimentares (TAs) são condições psiquiátricas determinadas por uma alteração crítica do comportamento alimentar, o que pode comprometer a saúde física e psicossocial. O transtorno que será tratado aqui é a Anorexia Nervosa (AN), que pode ser descrita como um distúrbio no qual o indivíduo faz uma restrição na ingestão calórica em relação às suas necessidades diárias, chegando até a parar de comer completamente. O temor persistente com o ganho de peso e a desordem na percepção do próprio corpo é uma característica observada em pessoas que apresentam esse transtorno.

Também existe a bulimia nervosa, que é caracterizada quando o indivíduo tem episódios regulares de compulsão alimentar, desordem na percepção do corpo e comportamentos de compensação pelo alimento ingerido durante a compulsão alimentar. Esses transtornos podem se tornar mais evidentes durante a adolescência devido às mudanças citadas.

Eu fui uma das adolescentes atingidas pela anorexia nervosa, me vi envolvida em demandas que nem sempre foram minhas e recorri ao que estava mais próximo de mim , ou seja, as redes sociais. Quando eu estava no auge dos meus 12 anos comecei a encontrar defeitos no meu corpo e não sabia o que fazer com eles, pra onde levar, como resolver? Vi no Tumblr a saída ideal: parar de comer. Claro que não consegui parar totalmente de um dia para o outro, mas fui aos poucos.

Comecei a não tomar café da manhã, algo que eu gostava tanto, para um sacrifício maior. Tudo o que eu estava fazendo fazia sentido na minha cabeça, se eu não tomar café meu corpo vai ficar com o aspecto mais magro por mais tempo, mas logo isso não foi o suficiente. Depois disso fui procurar dicas em site da internet de como poderia emagrecer mais rápido e encontrei páginas, perfis que além de dar essas dicas postavam fotos de meninas magérrimas (anoréxicas) e de como elas estavam felizes pois conseguiram atingir o objetivo maior, o único que importava, que era o de ser magra.

Parti de não tomar café da manhã para tomar somente água com gelo quando sentia fome e a almoçar sozinha, para que tivesse a cozinha somente para mim e pudesse jogar a maior parte da comida que estava no prato fora. Isso tudo trouxe consequências, me sentia fraca o tempo inteiro, estava irritada, dormia muito e me sentia terrivelmente triste, claro que eu achava que era porque eu não estava magra ainda mas era por falta de nutrientes. Isso não passou despercebido pela minha família.

Meus pais estavam preocupados comigo porque além de estar irritada o tempo inteiro eu estava engordando. Na época isso foi um dos motivos de ter continuado porque pensei como assim não está funcionando? Ficar sem comer por horas e saciar minha fome em “besteiras” parecia o caminho certo, o que mais eu precisava fazer? Recorri novamente à minha fiel plataforma social e procurei mais afundo dicas, formas, jeitos milagrosos de não sentir fome e finalmente emagrecer.

Nisso encontrei novos objetivos para mim que eram como metas, primeiro eu preciso que os ossos da minha clavícula estejam à mostra, depois que minhas pernas não encostem uma na outra, que os ossos das minhas mãos estejam mais acentuados e assim vai. Criei essa rotina de fantasiar meu corpo ideal constantemente quando estava com fome e comer muito pouco quando era obrigada. 

Para as anoréxicas, os limites do corpo quase se apagam diante das circunstâncias em que vivem, do cotidiano de seus relacionamentos, dessa rede de relações concretas e afetivas em que estão submersas. Toda condição e situação que a rigor está matizada nessa imagem disforme que a anoréxica tem de si mesma e que se expressa pela insatisfação com o tamanho do seu corpo e a perda de peso (GIORDANI, 2006).

Depois de um tempo passei a notar pequenas mudanças, meu anel que usava todos os dias não ficava mais no meu dedo, meu cabelo começou a cair, se eu me machucava a ferida demorava o dobro do tempo para cicatrizar, meus ossos da clavícula finalmente começaram a aparecer e o pior de tudo, não conseguia dormir durante a noite. Em meio a essas mudanças, eu sentia vontade constante de não estar viva e não ter que lidar com meu próprio corpo, não queria mais ter os braços que eu tinha, o rosto que eu tinha e os peitos que eu tinha.

Quando aqueles ao meu redor notaram que eu estava mais magra me elogiavam e aquilo alimentava a minha fome, eu pensava que precisava ficar mais magra ainda porque só assim eu seria feliz, eu teria notas boas, eu teria mais atenção dos amigos e vestiria roupas mais bonitas. Além de notar minha nem tão repentina magreza, minha família notou a irritação, os fios de cabelo que eu deixava para trás e a tristeza aos poucos me consumindo.

Em um dia que eu guardei comigo eu fui passear na chácara do meu tio e não tinha me sentido bem daquela forma em muito tempo, peguei sol, tomei banho no lago e fiquei longe do celular. Na volta fui olhando a natureza e sentindo o vento no rosto pensei que talvez a vida não fosse somente sobre o nosso corpo, sobre ser magra, talvez eu poderia pensar em outras coisas. Quando voltei para casa a realidade bateu no peito e senti que estava traindo tudo aquilo que “acreditava” e todas aquelas pessoas que eram da minha comunidade de anoréxicas. 

Enquanto tudo isso acontecia eu já estava mais velha, com 14/15 anos e sentia que estava entrando em um buraco sem fundo, o sentimento de não me encaixar e de ter que emagrecer diminuiu e a tristeza tomou conta. Talvez foi uma consequência do que eu fazia antes ou de onde eu navegava pela internet mas me vi nesse lugar diferente mas muito parecido com antes. 

Minha recuperação só começou porque enquanto eu estava pesquisando sobre como emagrecer ou como não existir mais de forma menos dolorosa eu também encontrava posts que diziam que eu poderia melhorar, que eu precisava de ajuda e que ser magra não é tudo. Procurei ajuda profissional quando senti que não aguentava mais, ou era isso ou não era mais nada. 

Enquanto ia melhorando com a ajuda de medicação, psicóloga e dos meus amigos foi caindo a ficha do dano que eu tinha feito no meu próprio corpo, eu não lembrava de coisas que tinha estudado, não lembrava de acontecimentos importantes e menos cabelo e mais cicatrizes. Apesar de me sentir melhor, ainda existia uma voz na minha cabeça que dizia que eu precisava emagrecer, não era o suficiente ser feliz e me sentir bem, eu precisava daquilo para a minha vida fluir melhor.

Fui crescendo, melhorando, comendo e consequentemente engordando, era uma sensação estranha estar bem e ainda assim não ser magra. Atribui meu peso novo a minha felicidade e ao estar bem com o meu corpo e cheguei a conclusão que quanto mais magra eu era mais triste eu estava e vice versa, isso ia contra tudo o que as pessoas na minha comunidade acreditavam então larguei de vez o aplicativo, exclui todas as fotos de corpos magros que tinham no meu celular e segui a vida. 

Hoje enquanto adulta vejo o real dano que tudo isso fez na minha vida, passei por coisas que ninguém deveria passar e pensei em diversas formas de destruir o meu corpo pouco a pouco, mas ao mesmo tempo me perdoei, porque eu não sabia pra onde jogar a cobrança da sociedade e era muito nova para entender completamente o que estava acontecendo.

A voz que diz que preciso ser magra ainda ecoa dentro de mim, ainda me pego com hábitos alimentares péssimos, me pergunto de onde eles vem e encontro a resposta na adolescente de 15 anos que absorveu tudo o que a cultura da magreza tinha para dar para ela. Mas encontrei pessoas que passaram pelas mesmas dificuldades, aos trancos e barrancos também se recuperaram e hoje temos o que pode ser chamado de rede de apoio para quando tudo isso voltar. 

A influência que as redes sociais tinham sobre mim era imensa, eu estava me vendo como alguém no mundo e me deparei com defeitos e erros que nem sequer existiam visto que eu estava mudando e passando por um processo natural dos seres humanos. Eu me alimentava de ódio pelo meu corpo e por todos aqueles que se pareciam comigo, sem ver o que estava perdendo do começo da adolescência e comprometendo o futuro.

Se você se identificou com esse relato, saiba que é possível se sentir melhor. Busque ajuda e se acolha junto aos seus… você não está só. Abaixo estão as informações sobre como buscar ajuda. Acesse: https://www.wannatalkaboutit.com/br/ e busque por ajuda <3 

Referências

DA-SILVA, Giulia Gomez; DANIEL, Natália Vilela Silva. Relação do uso de redes sociais com risco de transtorno alimentar e insatisfação corporal em adolescentes escolares. Artigo Original,[s. l], p. 1-9, 2020.

GIORDANI, R. C. F.. A auto-imagem corporal na anorexia nervosa: uma abordagem sociológica. Psicologia & Sociedade, v. 18, n. 2, p. 81–88, maio 2006.

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Você sabe como sua filha se enxerga?

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Entrevista para a revista Ana Maria com a psicóloga Fabíola Luciano

Transcrição de Fabíola Bocchi

Transtornos alimentares são mais comuns em meninas adolescentes. E a maneira como os pais se comportam faz toda a diferença no tratamento.

Comer exageradamente ou deixar o estômago vazio por tempo demais: se para uma mulher madura pode ser complicado estabelecer uma relação saudável com a comida, imagina então para uma adolescente.

Nessa fase de mudanças, por um lado existe a preocupação em ser aceita pelos colegas. E por outro, um bombardeio das redes sociais com fotos de atrizes, modelos e “musas” fitness da internet… Todas elas esbanjando um corpo magro e bem definido. Não à toa que estudiosos consideram que, nesta fase, o risco de desenvolver um transtorno alimentar aumenta muito. Leia mais sobre o assunto e saiba como proteger sua filha dessa cilada!

PARA COMEÇO DE CONVERSA:

“Transtornos alimentares são problemas de ordem psicológica”, esclarece Fabíola Luciano, psicóloga colaboradora do ambulatório de bulimia e transtornos alimentares da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Quem sofre com esses problemas tem uma alimentação “disfuncional”, e por isso pode acabar perdendo muito peso, engordando, ou prejudicando a saúde em função disso.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS TIPOS?

ANOREXIA:

Tem como característica a recusa alimentar (e, portanto, a perda de peso). Geralmente, a motivação é uma preocupação extrema com o corpo, um perfeccionismo com relação ao próprio peso. Muitas das pessoas que desenvolvem o distúrbio acabam sofrendo também uma distorção da própria imagem, enxergando seus corpos maiores do que eles realmente são.

BULIMIA:

Quem sofre com o problema come muito compulsivamente. Daí começa a se sentir mal, assume comportamentos compensatórios para eliminar as calorias. Isso pode se dar provocando o vômito ou usando laxantes e diuréticos.

COMPULSÃO ALIMENTAR:

Neste caso a pessoa também se alimenta de maneira exagerada durante alguns episódios. A sensação é de que se está perdendo o controle, pois o comer já não está vinculado à fome: ou seja, a ingestão de comida é muito maior do que a sua real necessidade. Em seguida, vem o sentimento de culpa e de frustração.

Para cada dez mulheres que desenvolvem um transtorno alimentar, apena um rapaz é afetado. “existem questões sociais envolvidas. Em geral são elas que sofrem mais pressão com relação ao corpo e à estética”, ressalta a psicóloga.

Fonte: Revista Ana Maria – Ed. 25

SINAIS DE ALERTA:

Se sua filha (ou seu filho) estiver apresentando comportamentos como estes, puxe uma conversa franca e procure ajuda psicológica:

  • Evita ir a restaurantes e se recusa a comer perto dos familiares;
  • Faz uso de inibidores de apetite, diuréticos ou laxantes;
  • Vai sempre ao banheiro depois de comer;
  • Toma banhos muito longos (e às vezes com música alta tocando);
  • Demonstra preocupação excessiva com o peso;
  • Come descontroladamente ou escondido dos demais.

PARTICIPAÇÃO DOS PAIS:

Quantas vezes, sem perceber, não reforçamos dentro de casa a ideia de que as mulheres devem estar sempre magras? “Fulana era tão bonita, agora está gordinha”, “Essa blusa marca demais a minha barriga…” e até com os próprios filhos dizendo: “Você precisa parar de comer besteiras se não quiser engordar”. Tudo isso impacta na relação que eles constroem com a comida, uma vez que “as crianças e jovens podem internalizar esses discursos, alerta Fabiola. Em compensação, se os responsáveis prestam atenção em como anda a autoestima dos filhos e conversam sobre esse assunto em casa, a tendência é que os adolescentes se sintam acolhidos, entendam que o seu valor não está relacionado ao peso e não apelem para as radicalidades.

Fonte: Revista Ana Maria – Ed. 25

REFERÊNCIAS:

PSICÓLOGA FABIOLA LUCIANO. Você sabe como sua filha se enxerga? Disponível em: https://psicologafabiola.com.br/participacao-da-psicologa-fabiola-na-revista-ana-maria-sobre-transtornos-alimentares/. Acesso em: 6 jun. 2022.

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Compulsão alimentar: “Overcoming Binge Eating”

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O Dr. Christopher G. Fairburn, psiquiatra e pesquisador da Universidade de Oxford, é uma das maiores autoridades do mundo em problemas alimentares. Seu livro, que ainda não possui tradução para o português, Overcoming Binge Eating (“Vencendo a Compulsão Alimentar”) apresenta os fatos sobre a compulsão alimentar e inclui um programa detalhado para a superação da compulsão alimentar na bulimia nervosa e na obesidade.

A compulsão alimentar é provavelmente o transtorno alimentar mais comum, mas seu ciclo de vergonha e sentimentos de impotência podem dificultar a busca por ajuda. Trago aqui alguns pontos principais da entrevista dele para o canal  de saúde Medicine Net para fins de informação de como proceder após identificado um problema alimentar.

No quesito quão prevalente é a compulsão alimentar, ele aponta para as definições técnicas usadas por pesquisadores clínicos, e que essas definições são usadas para definir a compulsão alimentar clinicamente significativa.

Há duas características que precisam estar presentes para que um episódio de alimentação seja classificado como “compulsão”: a quantidade ingerida deve ter sido realmente grande para as circunstâncias da época; em outras palavras, o contexto é levado em consideração, por exemplo, é preciso comer mais no Natal para que um episódio alimentar seja classificado como compulsão, porque todo mundo come mais no Natal, e deve haver uma sensação de perda de controle sobre a alimentação no momento. Em outras palavras, a pessoa deve sentir que sua alimentação está fora de seu controle.

Fonte: encurtador.com.br/jswKW

Ele salienta o quanto é importante que haja esta perda de controle durante o episódio. Pois é essa característica que distingue a compulsão alimentar dos simples excessos que todos nós praticamos às vezes.

Algumas perguntas podem ajudar a identificar:

– Seus episódios compulsivos envolvem comer grandes quantidades de comida?

– Você se sente descontrolado na hora?

– Entre esses episódios de exagero, você faz muita dieta?

– Você fica doente ou vomita depois desses momentos?

Outro ponto importante a ser observado, é se a pessoa se preocupa constantemente com o que vai comer, como vai me sentir depois de comer, tem pensamentos como: “Hoje, não vou comer muito; vou comer isso e isso no café da manhã”, etc.

Muitas vezes a pessoa sente que está prestes a cometer um grande erro e está ciente de que não quer fazê-lo, mas se sente impotente. É uma experiência muito desagradável.

Outro ponto que ele descreve é a dificuldade das pessoas em conseguir lidar com emoções desagradáveis. Como forma de lidar com sentimentos ruins, elas usam a comida para suporte emocional e para ajustar seu humor.

Outro ponto é sobre fazer dietas e como isso facilita o quadro de compulsão alimentar, visto que logicamente o paciente sente mais fome do que o normal. Depois dos excessos, chega a culpa, a vergonha e outras emoções negativas, levando ao vômito induzido. Depois de um tempo, essa liberação de emoções negativas a curto prazo predisporia a voltar à dieta e a recomeçar.

“Fazer dieta cria desejo pelos alimentos que se está evitando e é por isso que as pessoas costumam comer compulsivamente os mesmos alimentos que estão evitando”.

Trago aqui uma figura que exemplifica como funciona este ciclo de compensação, onde a pessoa pode até ter a ideia de que compensar te a deixaria mais livre para comer o que quiser, mas a compensação é uma prisão que dá início a um ciclo que muitas vezes pode ser vicioso.

  1. Comer demais: a restrição leva a comer em excesso ou compulsivamente.
  2. Sentir culpa: arrependimento por não ter conseguido seguir a dieta e ter comido muito mais do que o recomendado.
  3. Compensar excessos: tentativa de corrigir o erro cometido ao comer demais
  4. Repete.

Durante a entrevista, ele faz uma distinção entre o que leva a pessoa a começar a compulsão alimentar e o que mantém sua compulsão alimentar. Sobre encontrar a causa da compulsão alimentar de uma pessoa, ele diz que este é um problema complexo e interessante. Se o objetivo é ajudar alguém a superar seu problema de compulsão alimentar, então a questão principal é por que eles estão comendo compulsivamente agora. Em outras palavras, a questão importante é: o que está mantendo o problema alimentar deles? O que é mantê-lo? Uma questão separada é: o que começou a compulsão alimentar da pessoa em primeiro lugar?

Muitas vezes as pessoas procuram ajuda para problemas de compulsão alimentar muitos anos depois de terem começado a comer compulsivamente. Nesse caso, o que os levou a comer compulsivamente – digamos, quando tinham 15 anos – pode não ser relevante para eles agora, quando têm 25 anos. Então, do ponto de vista da superação de um problema de compulsão alimentar, a questão é o que está mantendo a pessoa comendo compulsivamente agora, e não por que ela começou a comer compulsivamente há muitos anos.

Fonte: encurtador.com.br/mBGLX

Os tipos típicos de coisas que mantêm os problemas de compulsão alimentar são os seguintes:

– Ter regras rígidas sobre o que se deve e o que não se deve comer. Isso torna algumas pessoas propensas a comer compulsivamente.

– Não comer o suficiente em geral. Isso torna um fisiologicamente propenso a comer demais às vezes.

– Ter dificuldade em lidar com estados de humor desagradáveis. Isso, como discutimos anteriormente, torna algumas pessoas propensas à compulsão sempre que se sentem mal consigo mesmas.

Também traz na entrevista quais as principais consequências da compulsão alimentar a longo prazo para a saúde. Diz que não há efeitos adversos da compulsão alimentar em si, mas se alguém comer demais regularmente, corre o risco de desenvolver obesidade. Isso tem muitas consequências adversas para a saúde, como todos sabemos. O outro problema associado é se alguém purgar – isto é, vomitar ou tomar laxantes – após a compulsão alimentar, então a purga tem efeitos adversos na saúde.

Há boas evidências pesquisadas de que certos tipos específicos de terapia têm um efeito marcante nos problemas de compulsão alimentar. Da mesma forma, há certas evidências de que certos tipos de outras terapias são menos eficazes. Portanto, é importante obter o tipo certo de terapia.

Existem duas principais terapias baseadas em evidências. A primeira é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a segunda é chamada de Terapia Interpessoal. Ambas as terapias são bem conhecidas e bem testadas.

Em relação à tratamento medicamentoso, comenta que para pacientes com bulimia nervosa os medicamentos antidepressivos podem ser benéficos. Foi demonstrado que essas drogas reduzem a frequência de compulsão alimentar (e purgação), embora muitas pessoas não parem completamente. Os efeitos benéficos das drogas antidepressivas na bulimia acontecem quer a pessoa esteja ou não deprimida no humor – em outras palavras, não é necessário se sentir deprimido para necessariamente se beneficiar.

Deve-se acrescentar que não se sabe muito sobre quanto tempo dura o efeito benéfico das drogas antidepressivas em termos de seu efeito na compulsão alimentar. Em contraste, está bem estabelecido que os efeitos das duas psicoterapias que mencionadas anteriormente são, na maioria dos casos, duradouras.

Os objetivos prioritários do tratamento são que o paciente ganhe controle sobre a sua dieta, que as cognições sobre peso, silhueta e imagem corporal sejam modificadas e que as mudanças sejam mantidas a longo prazo.

A responsabilidade pela mudança é sempre do paciente, por isso lhe é atribuído um papel ativo. O terapeuta tem o papel de motivar, apoiar e fornecer informações e orientações.

A compulsão alimentar é um grande desafio, mas não é impossível vencê-lo. O primeiro passo é reconhecer o problema e buscar o tratamento adequado.

Fonte: encurtador.com.br/jBJP5

Referências:

MEDICINE NET. Compulsão Alimentar – Um bate Papo com Dr.Christopher Fairburn. Disponível em: https://www.medicinenet.com/script/main/art.asp?articlekey=56553. Acesso em: 12/05/2022.

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Interfaces da Anorexia no filme “O Mínimo para Viver”

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Restringir a alimentação ou passar por períodos de compulsão e purgação podem ser sinais de um transtorno alimentar. Se não tratados, os distúrbios alimentares podem ter efeitos devastadores na saúde mental e física do indivíduo.

“O Mínimo para viver”, tradução do filme “To the Bone”, é um filme lançado na Netflix em 2017 que mostra a história de Ellen sobre a luta contra a anorexia e o sofrimento que surge com esse transtorno alimentar.

O filme conta que Ellen abandonou a faculdade e está lutando para concluir o tratamento hospitalar para seu diagnóstico e, como resultado, volta a morar com o pai e a madrasta. A história segue Ellen através de seu processo de tratamento, que é auxiliado por familiares próximos, amigos e terapeutas que querem ajudá-la a continuar progredindo nessa busca pela cura. Este filme captura o impacto psicológico que a anorexia pode ter na pessoa e também na sua rede de apoio. Ele fornece uma visão sob a ótica do paciente, e seus pensamentos e sentimentos experimentados durante o diagnóstico e o tratamento do transtorno.

Após diversas internações e tratamentos frustrados Ellen conhece o médico Dr. William Beckham (Keanu Reeves), famoso pelo seu método nada comum de tratar doenças como a dela. Depois de se convencer que o tipo de tratamento que ele oferece é sua melhor e talvez até sua última opção, Ellen começa a frequentar a clínica de Beckham, um lugar diferente, mais confortável e com ares de lar, onde ela divide o teto com outros seis pacientes.

A trama demonstra a complexidade da doença, e todas as nuances que a envolvem. Não se trata apenas de voltar a se alimentar normalmente. Como em uma relação de causa e efeito, outras enfermidades podem surgir em decorrência da anorexia, desde o mal funcionamento de órgãos à osteoporose.

A decepção consigo mesma é repetidamente vivida no corpo, entre comer e vomitar, controlando severamente e castigando seu corpo nos exercícios doloridos, para conseguir um pouco de alívio no seu sofrimento psíquico.

Fonte: encurtador.com.br/finLP

A Anorexia Nervosa (AN) é um transtorno alimentar (TA) caracterizado pela auto-inanição, ou seja, é a própria pessoa provocar um estado de debilidade extrema por falta de alimentação que leva o corpo a consumir os seus próprios tecidos para obter as calorias necessárias para se manter vivo, degradando órgãos, músculos e gordura corporal. Se caracteriza também pela preocupação exacerbada da forma física e um medo extremo de comida.

A Anorexia Nervosa tem sido associada a vários fatores de risco e manutenção de transtornos. Os fatores de risco são quaisquer situações que aumentem a probabilidade de ocorrência de uma doença ou agravo à saúde. Os fatores de manutenção predizem persistência de sintomas versus remissão ao longo do tempo em indivíduos já sintomáticos para um transtorno.

Em algumas cenas durante o filme, Ellen contava as calorias presentes na comida que estava em seu prato além de mostrar ela fazendo abdominais e medindo o braço para verificar se ela conseguia fechar a mão ao redor do bíceps. A menção ao uso de laxantes também aparece, além de mostrar a rotina da instituição na qual ela estava fazendo tratamento, com altos e baixos, recaídas e a real dificuldade do tratamento.

Estas cenas demonstram como a anorexia não só reflete na saúde física de alguém, como impacta muito a saúde mental do indivíduo, e tal fator é determinante no curso da doença. Como citado anteriormente, além da alteração física, há o medo de ganhar peso e alteração da imagem corporal e da consciência sobre o transtorno. Os pensamentos a respeito do problema influenciam fortemente na manutenção do transtorno, pois a pessoa se olha no espelho e enxerga alguém gorda ou que não está suficientemente magra, e não há evidências externas que façam a pessoa se convencer do contrário.

Nesses casos a tendência de o sujeito com anorexia falar que está com tudo sob controle ou de negar a doença é alta. Geralmente a busca por tratamento acontece já em um estado avançado e os prejuízos já estão muito acentuados.

O filme também enfatiza como é essencial a participação da família na prevenção e no curso do tratamento. É importante que os familiares estejam alinhados sobre o transtorno para o sucesso neste processo.

No caso da família da personagem principal, o filme mostrou as dificuldades que eles tinham de lidar com o transtorno. A mãe não suportou o quadro da filha e fez com que Ellen se mudasse para a casa do pai o qual é ausente e aparentemente irritado, tenta constantemente se manter alheio de todas as situações, encontrando pretextos para não se encontrar com a filha e não comparecer à terapia familiar.

A madrasta e a irmã são as mais presentes e as que mais encorajam o tratamento de Ellen, porém ambas (assim como a mãe também), fazem menções inadequadas que atingem ela, como por exemplo falar constantemente sobre como sua aparência está, e falas que não contribuem como  “coma Ellen” e “se você morrer eu te mato”.

Fonte: encurtador.com.br/uwDGQ

A Terapia Cognitivo Comportamental tradicionalmente se concentra em relatos baseados em sintomas, sugerindo que tanto o controle quanto a supervalorização do peso e forma física mantêm a AN. A TCC se baseia em dois princípios: o primeiro diz que nossas cognições têm influência sobre o nosso comportamento; o segundo refere-se ao fato de que o modo como agimos afeta nossas emoções e pensamentos.

Algumas características em relação à AN podem incluir: perfeccionismo clínico, baixa autoestima, intolerância ao humor e dificuldades interpessoais como focos adicionais de tratamento.

O tratamento pode conter diversas complicações, com probabilidade de recaídas, já que o fator psicológico tem muita influência, como ilustrado no filme. Utilizando técnicas cognitivas e comportamentais, a TCC busca aumentar a motivação para a mudança, aumentar diretamente o ganho de peso ao mesmo tempo em que aborda preocupações com peso e forma e se prepara para contratempos para manter os ganhos obtidos a longo prazo. A TCC também é importante para o trabalho da imagem corporal e dos padrões estéticos que são muito elevados nas pessoas com AN.

Dentre alguns objetivos, levar o paciente a desenvolver um padrão regular e flexível de alimentação é um grande passo na recuperação da saúde e bem estar deste indivíduo. E este resultado está intimamente ligado ao surgimento de um indivíduo com capacidade de tomar consciência, dar sentido, regular, aceitar, expressar e transformar a experiência emocional, usando-a de forma flexível e adaptativa para se conhecer, buscar formas saudáveis de agir consigo mesmo, nos seus relacionamentos e no mundo.

FICHA TÉCNICA

Título: O Mínimo para Viver
Dirigido por: Marti Noxon
Data de Estreia: 22 de janeiro de 2017
Duração: 107 minutos
Classificação: 14 anos
Gênero: Comédia/Drama
País de Origem: EUA

REFERÊNCIAS

NARDI, Helena Beyer; MELERE, Cristiane. O papel da terapia cognivo-comportamental na anorexia nervosa. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, v. 16, 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452014000100006. Acesso em: 31/05/2022.

VTM Neurodiagnóstico. Tratamento para anorexia e o filme “O Mínimo Para Viver”. Disponível em: https://vtmneurodiagnostico.com.br/cine_psiconeurologia/tratamento-para-anorexia-e-o-filme-o-minimo-para-viver/. Acesso em: 2/06/2022.

DESENVOLVIVER. O mínimo para viver: conscientizações e problematizações. Disponível em: https://desenvolviver.com/psicoterapia/o-minimo-para-viver-conscientizacoes-e-problematizacoes/#:~:text=%E2%80%9CO%20m%C3%ADnimo%20para%20viver%E2%80%9D%20%C3%A9,a%20realidade%20que%20este%20mostra.. Acesso em: 02/06/2022.

FRONTEIRAS PSICOLOGIA. Anorexia Nervosa e um Eu Emocional Perdido: Uma Formulação Psicológica do Desenvolvimento, Manutenção e Tratamento da Anorexia Nervosa. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2019.00219/full#F1. Acesso em: 31 mai. 2022.

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Um panorama geral sobre transtornos alimentares

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Quando a comida faz o papel de vilão na vida de uma pessoa, e ela tem uma relação disfuncional com o ato de se alimentar, algo pode estar muito errado. Não sejamos ingênuos de achar que os transtornos alimentares são somente preocupações com comida e peso.  Na maioria das vezes é um panorama muito mais amplo do que isso.

Os transtornos alimentares (TA) fazem parte da categoria dos transtornos psicológicos que são caracterizados por distúrbios graves e persistentes nos comportamentos alimentares e pensamentos e emoções angustiantes associados ao comportamento de comer. São frequentemente associados a preocupações com comida, peso ou forma, ou com ansiedade sobre comer e as consequências de comer certos alimentos. Mas além disso, são condições complexas que começam a partir de uma combinação de fatores comportamentais, emocionais, psicológicos, interpessoais e sociais de longa data.

Os tipos de transtornos alimentares incluem compulsão alimentar periódica, anorexia nervosa, bulimia nervosa, e patologias ligadas como ingestão alimentar restritiva e uso de métodos inadequados para manutenção e perda de peso, além da prática de exercícios físicos de forma compulsiva. Esses comportamentos podem ser conduzidos de maneiras que se assemelham a um vício.

Fonte: encurtador.com.br/myCHW

O comer transtornado (CT) abarca todo tipo de comportamento alimentar disfuncional ou que possa ser conceituado como não saudável, tendo grandes chances de desenvolver um TA, como por exemplo dietas restritivas, uso de medicamentos para o controle de peso, jejum prolongado, utilização de substitutos para refeições como shakes ou suplementos, ingestão muito baixa de alimentos ou outros tipos de comportamentos que têm como objetivo reduzir a quantidade de alimento consumido e o controle de peso de forma problemática. O comer transtornado (disordered eating) pode aumentar a probabilidade de desenvolvimento de TA, visto que ele apresenta particularidades parecidas dos transtornos alimentares, o que muda é a frequência e gravidade dos sintomas, que são diminuídos.

Os transtornos alimentares são condições muito graves que afetam a função física, psicológica e social, e abrangem até 5% da população, na maioria das vezes se desenvolvem na adolescência e na idade adulta jovem (de 12 a 35 anos). Normalmente estão mais relacionados às mulheres, mas todos estes comportamentos podem ocorrer em qualquer idade e afetar qualquer gênero.  Nos últimos anos, tem-se observado o aumento do número de homens acometidos, embora a proporção estimada seja de um para cada 10 casos.

Fonte: encurtador.com.br/jmJQX

Geralmente ocorrem em conjunto com outros transtornos, como transtornos de humor e ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo e problemas de abuso de álcool e drogas. As evidências sugerem que os genes e a hereditariedade desempenham um papel importante, motivo pelo qual algumas pessoas correm maior risco de apresentar em algum momento da vida um transtorno alimentar, mas esses distúrbios também podem afetar aqueles sem histórico familiar da doença. Pessoas que sofrem de uma dessas condições costumam usar a comida na tentativa de compensar sentimentos e emoções que, de outra forma, podem parecer esmagadores. Para alguns, fazer dieta, compulsão e purgação podem começar como uma maneira de lidar com emoções dolorosas e se sentir no controle de suas vidas. Mas, ao passar do tempo, esses comportamentos prejudicarão a saúde física e emocional deste indivíduo, sua autoestima e o senso de competência e controle.

A literatura traz algumas características de personalidade que podem ser percebidas nas pessoas que possuem algum TA. Estudos apontam que eles podem vir em forma de uma preocupação em excesso com a aprovação social, alterações na sua percepção corporal, tentativa de se encaixar nas expectativas dos pais, sentimento de vazio e sintomas depressivos. A hipervalorizarão da magreza na atualidade pode contribuir para sentimentos de depressão, culpa, raiva, estresse e insegurança nas pessoas menos confiantes que se percebem longe de um padrão socialmente valorizado do corpo ideal.

O DSM-5 traz como sinais e sintomas da anorexia nervosa por exemplo alguns critérios como a recusa em manter o peso corporal saudável, medo intenso do ganho de peso ou de se tornar obeso, ainda que esteja abaixo do peso, distorção na forma de perceber o corpo e o peso, ou negação da seriedade da atual perda de peso. Em mulheres, consideram-se como critério diagnóstico a ausência de menstruação e restrições alimentares com um padrão alimentar atípico e extrema perda de peso, induzida e mantida a todo custo, além de um medo intenso de engordar. Já para a Bulimia Nervosa incluem episódio de compulsão alimentar seguido de comportamentos compensatórios (episódio bulímico). Desse modo, a preocupação excessiva com relação ao controle do peso corporal conduz a uma alternância entre uma ingestão excessiva de alimentos e vômitos autoinduzidos, ou até uso de métodos purgativos, como estratégias compensatórias para o grande volume de alimentos ingeridos (Associação Americana de Psiquiatria, 2003).

Fonte: encurtador.com.br/fxIMX

Como os transtornos alimentares têm causas multifatoriais, e levando em consideração a complexidade dos transtornos, tanto no início dos sintomas como na manutenção do quadro como um todo, o tratamento dos TA deve envolver uma abordagem multidisciplinar, envolvendo nutricionista, endocrinologista, psicólogo e psiquiatra. O tratamento deve abordar complicações psicológicas, comportamentais, nutricionais e outras complicações médicas. A ambivalência em relação ao tratamento, a negação de um problema com a alimentação e o peso ou a ansiedade sobre a mudança dos padrões alimentares não são incomuns, mas com técnicas comportamentais o paciente pode começar a perceber algumas mudanças, como maior controle da ansiedade, diminuição dos sintomas, maior auto controle, diminuição do sentimento de culpa, desenvolvimento de estratégias para lidar com as crises, melhora da autoestima, equilíbrio do peso e a mudança na relação com o ato de comer e com o corpo, deixando de enxergar a alimentação como vilã e fazendo as pazes com o comportamento de comer.

O tratamento deve ter como objetivo restaurar a nutrição adequada do paciente, e a compulsão e o exagero devem ser reduzidos de forma que o hábito alimentar do paciente se torne algo prazeroso, sem culpa e, principalmente, saudável.

REFERÊNCIAS

Comer transtornado e o transtorno de compulsão alimentar e as abordagens da nutrição comportamental. Revista Interciência, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/estpsi/a/Cxfh6QpdC9cM57xLsQZjFfv/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 04/04/2022.

Aconselhamento em saúde: fatores terapêuticos em grupo de apoio psicológico para transtornos alimentares. Estudos de Psicologia, 2014. Disponível em: file:///C:/Users/Usuario/Downloads/302-Texto%20do%20artigo-1229-1-10-20210713.pdf. Acesso em 05/04/2022.

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Ter um corpo padrão para ser aceito?

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É socialmente aceito quando uma pessoa que está com sobrepeso ou não, e se recusa a comer um determinado alimento alegado que está de dieta. O uso indiscriminado de inibidores de apetite, geralmente anfetaminas, também não suscita maiores condenações. No entanto, esses tipos de comportamentos podem ser sinais de alerta de um problema global que atinge cerca de 4,7% da população do Brasil que já apresentaram sinais de transtornos alimentares, de acordo com levantamento da OMS, constando a maior incidência em mulheres jovens de 14 a 18 anos.

Os transtornos alimentares são uma verdadeira “epidemia” que assola as sociedades industrializadas e desenvolvidas, afetando principalmente adolescentes e adultos jovens. Quais são os sintomas dessa epidemia de humor? Geralmente, os pensamentos falhos e insalubres das pessoas com esses distúrbios são caracterizados por uma obsessão pela perfeição física. Na verdade, trata-se de uma “epidemia de culto ao corpo”, multiplicando-se em uma população mórbida preocupada com a estética e influenciada por mudanças psicológicas associadas a padrões corporais. É por isso que a incidência de distúrbios alimentares está aumentando perigosamente e começou a alarmar especialistas da área da saúde.

Fonte: Pixabay

Appolinário (2001) evidencia que a obsessão pela perfeição física se manifesta de muitas maneiras, algumas das quais bem diferentes. Existem distúrbios alimentares mais tradicionais, nomeados anorexia e bulimia. Porém, há outras condições que são estimuladas e desenvolvidas nas chamadas “culturas magras”. As pessoas com a condição, também ficam obcecadas com a forma do corpo e distorcem sua autoimagem a ponto de se sentirem gordas mesmo com 38 kg. O resultado é uma deterioração física e mental progressiva, desde sintomas inicialmente leves, como queda de cabelo, até complicações cardiovasculares, renais e endócrinas que podem ser graves o suficiente para resultar em morte. Excesso de cautela, medo da mudança, alergias e gosto pela ordem também podem ser umas das características de quem tem o transtorno alimentar.

IDA (2007) aponta que vários estudos epidemiológicos têm mostrado um aumento na incidência de alguns transtornos alimentares com o desenvolvimento de padrões de beleza femininos para corpos mais magros, como citado especialmente na anorexia e bulimia nervosa. Anorexia e bulimia parecem ser mais prevalentes nos países ocidentais e significativamente mais comuns entre as mulheres mais jovens, especialmente aquelas pertencentes a essas classes sociais mais altas, o que reforça sua associação com fatores socioculturais, razão pela qual alguns pesquisadores entendem os transtornos alimentares como síndromes estão culturalmente relacionadas. As síndromes relacionadas à cultura são um conjunto de sinais e sintomas limitados a determinadas culturas devido às suas características únicas os quais associada com aspectos biológicos, psicológicos e familiares geram uma preocupação exacerbada com o corpo, um temor descontrolado em engordar juntamente com uma ansiedade específica atrelada a mudança física corporal.

Appolinário (2001) aponta que a alimentação precária, aliadas a uma cultura de perda de peso, podem favorecer o aumento dos transtornos alimentares. E eles se tornaram mais comuns entre as mulheres, talvez por causa de uma cultura de emagrecimento mais forte entre elas. Sentindo uma vontade incontrolável de ser tão magra quanto as “top models” dos comerciais e da mídia presente todos os dias com glamour e sucesso. Mais importante ainda, as mensagens que são transmitidas a todo instante cultuam que ter o corpo magro é ter sucesso, e vivenciar o processo para você alcançá-lo apesar de ser por vezes uma experiência de muitas anulações, te torna uma pessoa esforçada.

Assim o impacto causado pela cultura da magreza torna-se extenso, podendo influenciar na forma que as pessoas se veem, fazendo as acreditar que o seu corpo não é ideal se não estiver dentro dos padrões, causando também um sofrimento psíquico que pode afetar diretamente a sua qualidade de vida. Desse modo, é necessário que seja normalizado o corpo real, com suas particularidades evidenciando que não existe uma perfeição corporal, e muito menos um padrão a ser seguido, até mesmo porque as pessoas são diferentes porque seria diferente com seus corpos.

Referências

OMS. Organização Mundial de Saúde. Relatório Mundial de Saúde. Brasil, 2021.

Appolinário, José Carlos e Claudino, Angélica. Transtornos alimentares. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 2000, v. 22, acessado 16 março 2022, pp. 28-31. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44462000000600008>. Epub 24 Jan 2001. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44462000000600008.

IDA, Sheila Weremchuk; SILVA, Rosane Neves da. Transtornos alimentares: uma perspectiva social. Rev. Mal-Estar Subj., Fortaleza ,  v. 7, n. 2, p. 417-432, set.  2007.Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482007000200010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 16 mar.  2022.

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