As 5 linguagens do amor é tema do Psicologia em Debate

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Nesta quarta-feira (12), a acadêmica Gabriela Gomes Miranda do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, apresentará o tema As cinco linguagens do amor, no evento Psicologia em Debate, que é promovido pelo curso em questão.
O tema é baseado no livro As Cinco Linguagens do Amor, do Terapeuta e Conselheiro Matrimonial Gary Chapman.

Para a acadêmica Gabriela: “ O amor é um dos temas centrais na vida dos indivíduos, sendo portanto necessário que os eventos sobre o mesmo aconteçam de tempos em tempos no meio acadêmico, visto que tal temática perpassa a prática profissional do Psicólogo com bastante em frequência.”

O evento ocorrerá na sala 203, prédio 2, às 17h, no Ceulp/Ulbra. Você é nosso convidado especial.

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O amor narcísico no contexto familiar

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Nossa sociedade cresceu cognitivamente de tal forma, que diferentemente dos nossos ancestrais, a família passou de uma configuração para sobrevivência a instituição geradora de desejos.

 

Precisamos falar sobre família e, sobretudo, temos de reavaliar os títulos que damos as nossas instituições enraizadas. Somos a princípio ‘pequenos sapiens’ em extrema necessidade de cuidados básicos, e nosso primeiro contato social, é o olhar da mãe juntamente com as carícias e segurança do cenário materno; claro, nos casos em que esse indivíduo é desejado. E sobre as mãos dessas pessoas que nos prestam as boas vindas, somos como reais massinhas de modelar, já que de fato, somos novatos no mundo, e tudo que nos é mostrado durante a infância poderá influenciar diretamente nas próximas fases da vida.    

 

encurtador.com.br/kN789

 

Nossa sociedade cresceu cognitivamente de tal forma, que diferentemente dos nossos ancestrais, a família passou de uma configuração para sobrevivência a instituição geradora de desejos. E como massinhas que somos, moldando-se dia pós dia, nem sempre as mãos que nos lapida são as de nossos pais ou cuidadores, logo, todo o contexto nos influencia e por vezes nos tira da projeção que nos foi dada desde o concebimento.   

Quem somos, ou quem queriam que nós fôssemos, tal qual o desejo de nossas famílias, é um processo que se inicia antes mesmo do nascimento da criança, que carrega o sexo e ‘as caixas de gênero’, assim como outras necessidades completamente particulares, que muitas vezes refletem alguma frustração dos pais que os influenciará, nas áreas como a profissão, hobbies, educação, e seus desejos exacerbados de sucesso e uma inteligência acima da média. Um ser humano de fato idealizado.   

Não seria problema o desejo, se não houvesse por vezes uma pressão sobre essa criança que cresce em sua maioria sobre olhares e comandos que os apertam de todos os lados. Parte da infância e da leveza única desta etapa é cortada ou dividida em curtos tempos, para que o pequeno prodígio possa ser construído, saciando dessa forma, o sonho que esses pais desejaram um dia para si. Aquele velho arrependimento “se eu tivesse começado mais cedo, eu poderia ser o que eu sonhava” passa ser projetado nesse filho, logo, uma segunda chance daqueles que nos concebem surte, sobre uma negligência devastadora.  

 

http://twixar.me/CWs3

 

É comum que a obsessão pelo projeto mirabolante e falho chegue a um patamar pelo qual pais (ou cuidadores), entendendo que seus filhos não atingiram o grau de rendimento esperado, os levam aos psicólogos em busca que sejam indicados urgentemente a um psiquiatra, pois constata-se por si só que se tem Déficit de atenção ou TDH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), quando na verdade esses pequenos só estão distraídos observando o novo mundo que os cerca ou agitados em suas aventuras que são de fato cruciais para seu desenvolvimento. Mas a busca incessante da perfeição e a quebra das etapas desses indivíduos leva essas mães tomarem drásticas decisões, medicando sem que haja real necessidade, já que não se tem compreensão do mal que os fazem. 

 

http://twixar.me/qWs3

 

O espelho que os pais projetam sobre os filhos, notoriamente, boa parte das vezes não condiz com a imagem que lhes veste, logo inicia-se por consequência uma vida familiar com atritos sobre a personalidade do indivíduo que se criou sobre e longe de seus olhares. A contingência desproporcional ao almejado se mostra, a frustração e o estresse juntamente com as consequências psicológicas desses indivíduos que agora crescem por si só e desejam suas vidas com objetivos diferentes, chocam e quebram toda a expectativa planejada. É como se os pais tivessem aprendido a amar seus desejos, voltando-se para si, e por consequência usando a criança como objeto de amor, que se classifica como amor narcísico. 

Quando os filhos se mostram com traços vindo de seus próprios erros, herdados pela convivência e aprendizado, assim como a expressão da personalidade individual, esse amor se quebra, e o luto inicia-se, pois, a projeção morre e tudo que resta é frustração e atrito.   

 

http://twixar.me/kWs3

 

A saída para boa parte dos problemas vem da compreensão. Os pais que aqui existem também tem suas histórias de vida. Se analisássemos profundamente cada caso veríamos que há motivos pelos quais esses são como são. Há sempre algo a se desvendar e revelar dentro de nossas ações e relações com o outro, e parte delas se justifica ou se entende levando-se em conta a trajetória anterior do sujeito. Se olharmos de forma micro para qualquer indivíduo, dificilmente entenderemos suas motivações internas que se exterioriza em ação; a busca de reavaliar e compreender faz parte das interações bem-sucedidas.   

Pertence ao crescer, o rompimento dos laços de simbiose que se inicia na amamentação, assim como é do processo que as pessoas sejam únicas dentro de seus contextos e realidades. Ser adulto é entender que de fato, não seremos agradáveis a todo instante; é preciso seguir caminhos em busca de nós mesmos. Tal momento acontece de forma muito dolorosa quando os filhos se tornam objeto de desejo. O sentimento de fracasso e de desafeto acomete os adultos que se formam, pois não podem ser por toda uma vida um projeto, afinal, são pessoas, e têm o direito de viverem sua liberdade. 

É preciso quebrar o paradigma de que família é um laço saudável necessariamente, pois nem sempre essa é a realidade. Não é justo desejar que se tenha uma relação abusiva e que esse indivíduo ali se mantenha só porque há laços consanguíneos. Mais que dar a vida, é necessário que a família dê condições psicológicas para que eles tenham uma boa vida.  

 

http://twixar.me/fZs3

 

Os pais precisam urgentemente compreender que cedo ou tarde o cordão umbilical se desfaz, e tudo que restará são os alicerces que os deram durante a infância quando ainda eram um andaime. Se essa base não for bem formada e alimentada, dificilmente será possível dizer as frases clichês sobre a importância da família, pois serão nada mais que sombras ou lembranças negativas para seus filhos, cuja tendência é o afastamento, caso não haja a compreensão das falhas de seus pais por sua parte. 

Aqueles que alimentam seus filhos com seus melhores aprendizados, respeitam o seu espaço, e entendem suas fases, terão mais segurança e verão de perto seus filhos crescerem, não se sentirão tão amedrontados com seu afastamento pois tem em si a clareza que todos seus ensinamentos estarão gravados em suas memórias e os influenciarão por toda a vida; e caso precisem, esses filhos se sentirão gratos em retornar, e os titular de família.

 

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Erich Fromm: só o amor salva o ser humano de sua angústia existencial

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Erich Fromm defendeu que a união entre os seres humanos, pelo princípio do amor, é uma resposta potente para a questão elementar da humanidade

Assim como o pai da Psicanálise (Freud), o psicanalista Erich Fromm foi de família judaica com grande tradição para os estudos da Toráh e voltada para o rabinato. Nascido na Alemanha de 1900, por pouco não se transformou, também, num rabino. De qualquer forma a origem semita o acompanhou na carreira acadêmica, uma vez que Fromm acabou se doutorando em 1922 sobre sociologia e lei judaica. Paralelo a isso, obtinha aulas de talmude – para complementar a Torá, que dispõe da lei oral, doutrina, tradições e moral judaica – com o rabino Rabinkow e, na psicanálise, iniciou também nos anos 20 os estudos junto ao Instituto de Psicanálise de Berlim, que à época era capitaneado pelo médico e jurista Hanns Cachs.

Na década de 30 Erick Fromm passou a atuar como diretor do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, que passou a ser conhecido como a Escola de Frankfurt (que ainda hoje influencia o pensamento sociológico e político do ocidente) e, de quebra, deu bases para o marxismo na Psicanálise, ao lado de intelectuais como Wilhelm Reich. Em meados dos anos 30 Fromm teve que sair da Europa devido a crescente onda antissemita e a ascensão de Hitler. A mudança contribuiu para que o psicanalista alemão fosse trabalhar na Columbia University de Nova Iorque.

Escola de Frankfurt. Fonte: https://goo.gl/mXQYEq

No início dos anos 40 se torna cidadão norte-americano e, concomitantemente, depois de uma série de desentendimentos de ordem epistemológica, deixa a Escola de Frankfurt. Fromm também chegou a lecionar na cidade do México e, em meados dos anos 70 volta para a Europa, para morar na Suíça. Casou-se primeiramente com uma imigrante alemã nos Estados Unidos em 1944 – Henny Gurland – e, após a morte desta, casa-se novamente, desta vez com a americana Annis Freeman.

Humanismo como meio e amor como fim

Erich Fromm defendia que além das necessidades básicas, relativas à sobrevivência física do ser humano, este também precisava atender a necessidades psíquicas. Neste sentido, uma dada sociedade poderia promover ou restringir os aspectos que compõem a saúde mental dos seus indivíduos, o que acabou por fortalecer as linhas de pensamento – como de quebra ocorre em toda a Sociologia da época – que não atribuem ao princípio da individualidade os marcadores para alcançar uma boa existência. Era preciso reconhecer o papel do estado e da sociedade, neste processo.

Fonte: https://goo.gl/9hPa8Y

Desta forma Erich Fromm defendeu que o ser humano é moldado pela sociedade e, assim, ao contrário de Freud, o sociólogo afirma que a autoridade e os discursos de interditos – que formarão o superego dos filhos – não parte exclusivamente da autoridade do pai mas, antes, da sociedade, uma vez que as autoridades sociais representam em grande medida as qualidades do superego. Desta forma, se o ser humano estiver de acordo com as diretivas da sociedade, a possibilidade de conflito deste com as normas gerais é mínima; por outro lado, se este mesmo ser humano aderir ao princípio da liberdade – pressuposto em ascensão, já no final da Segunda Guerra –, em algum momento irá sofrer as consequências. Isso se dá a partir do desenvolvimento de neuroses, que impele o humano a não exteriorizar-se de modo espontâneo, sob pena de ver eclodir os complexos.

Estas falhas que impossibilitam uma vida o mais autêntica possível – no sentido de resgate de uma espontaneidade perdida com o histórico de interdições – são produzidas não apenas pela família, e sim pela cultura. Desta forma, o indivíduo acaba reprimindo muitos conteúdos para não correr o risco de ser marginalizado.

Fonte: https://goo.gl/RrGNSq

Esta é a tônica do humanismo de Fromm, que de quebra ainda levanta a hipótese de que o ser humano vive achatado entre duas polaridades, num movimento que parece invencível: ao mesmo tempo em que busca reestabelecer uma harmonia rompida com a natureza (no que Von-Franz caracteriza como a busca pelo paraíso perdido), por outro lado, o princípio da razão parece ser a via mais adequada para superar as limitações humanas. Depois de satisfeitas as necessidades primárias, toda a movimentação humana seguinte é no sentido de satisfazer suas necessidades existenciais. O amor, então, entra nesta perspectiva.

Erich Fromm defendeu que a união entre os seres humanos, pelo princípio do amor, é uma resposta potente para a questão elementar da humanidade, a ansiedade de separação e a solidão/angústia existencial. Neste sentido, o amor se torna uma necessidade psíquica básica do indivíduo, e deve ser trabalhado a partir dos mesmos pressupostos da arte, ou seja, tem que ser entendido, observado, treinado e executado, num movimento que engloba não apenas os sentimentos, mas também a razão (evitando assim as polaridades).

Fonte: https://goo.gl/PNTfcB

Desta forma o amor se configura, também, como uma necessidade da alma, pois possibilita a ligação do amante com ele mesmo, com o/a amado/a e com o mundo. Amar alguém, portanto, é uma boa possibilidade de amar o mundo, colocando-se no lugar do outro e desenvolvendo um olhar amoroso e compassivo para consigo e para com terceiros. Então, por este percurso, o amor se apresenta como um antídoto contra o narcisismo secundário, em que o sujeito não conseguiu superar o narcisismo infantil e passa a identificar no outro e no ambiente apenas dispositivos para satisfação de seus desejos (ainda infantis). Narcisistas, neste aspecto, trabalham incansavelmente para imprimir uma relação de poder sobre o ambiente. Isto não poderia ocorrer no amor maduro de que fala Fromm (Jung também defendia que poder e amor são conceitos/práticas opostos/as), o que se diferencia radicalmente do princípio do amor, cuja ligação entre os indivíduos é pautada pelo princípio da cooperação mútua.

Fonte: https://goo.gl/ewTj9J

Esta talvez tenha sido uma das maiores contribuições de Erich Fromm, que morreu em 1980, aos 79 anos, na região suíça de Muralto. Fromm imortalizou sua obra ao defender que o amor é o único remédio capaz de fazer com que o ser humano cure suas feridas existenciais, sobretudo em relação aos sentimentos de isolamento e solidão para que, assim, pudesse se lançar no mundo – tanto a partir do princípio da razão, quanto pelo prisma da emoção e da alteridade.

Referências

Biografia de Erick Fromm. Disponível em: < https://www.psicologiamsn.com/2012/03/biografia-erich-fromm.html >. Acesso em: 25 Ago. 2018.

Uol Educação. Disponível em: <  https://educacao.uol.com.br/biografias/erich-fromm.htm >. Acesso em: 25 Ago. 2018.

 

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Beija-flor, codinome Cazuza

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Sou ariano. E ariano não pede licença, entra, arromba a porta. Nunca tive medo de me mostrar. Você pode ficar escondido em casa, protegido pelas paredes. Mas você está vivo. Essa vida é para se mostrar. Só quem se mostra se encontra. Por mais que se perca no caminho.” Cazuza

Comparar Cazuza a um beija-flor parece muito sensato quando se conhece o comportamento deste pássaro – e o de Cazuza. E também faz muito sentido quando se sabe que “Codinome beija-flor” foi um dos seus grandes sucessos como cantor e compositor, inspirado nas visitas que recebia de beija-flores na janela do quarto do hospital em que ficou internado. Nascido em 1958, Cazuza (também chamado de Caju por seus amigos) marcou a geração do pop-rock dos anos 80 e suas músicas são ouvidas e influenciam muitas pessoas ainda hoje.

Fonte: https://goo.gl/16STcB

Um amante da vida, usufruía dela intensamente, não se permitindo nem mesmo prender por paixões que o distraíssem desse seu propósito, além de considerar que amar é sofrer e que para o sofrimento ele não tinha o dom. Assim, da mesma forma que o beija-flor é poligâmico por natureza, Cazuza se entregava ao amor de forma plural, sem discriminar raça ou gênero e sem deixar passar as oportunidades em que podia desfrutar desses amores ao mesmo tempo e no mesmo espaço.

Momentos assim marcaram a vida do jovem Caju, que sempre ia em busca de entorpecentes da mesma forma que um beija-flor procura por néctar. Ao entrar para a banda Barão Vermelho, que começava a se formar, encontrou amigos com o mesmo gosto e que manteve a amizade durante sua vida, por mais que sua estadia na banda não tenha durado muito tempo. O Narciso dentro dele não o permitia dividir o palco, somente ele deveria ser o centro das atenções.

Formação da Banda Barão Vermelho. Fonte: https://goo.gl/x5oEym

Cazuza gostava de bagunça, o que se refletia no seu quarto, nas suas relações, nas suas práticas de lazer, talvez até em seu cabelo desgrenhado e em seu estilo solto. Entretanto, essa bagunça só era externa, pois Cazuza parecia carregar muita clareza e leveza da vida dentro de si. Talvez exatamente por isso, por entender a finitude da vida, buscou se livrar das neuroses que a emperram, que a tornam monótona e cheia de regras e necessidade de organização.

Em meio a essa bagunça bem quista, a criatividade de Cazuza parecia fazer morada. Brincava com as palavras, as rimas, a poesia e a melodia ao falar de sentimentos. Não é à toa que ficou conhecido como um dos maiores poetas do país. Mas não eram somente sentimentos que compunham a poesia de Cazuza. Músicas como “Brasil”, “Ideologia” e “O tempo não para” compostas e cantadas por ele, mostram a sua visão de mundo, além de terem contribuído para a construção de senso crítico de uma geração pós-ditadura militar.

Capas dos álbuns “Ideologia” e “O tempo não para”

A procura por desordem e por inquietação do público está para Cazuza assim como o bater de asas constante está para o beija-flor. Não tinha medo de se mostrar, de expressar suas ideias, pensamentos e sentimentos. Seus versos, eternizados no inconsciente coletivo do povo brasileiro (principalmente) através de sua voz indiscutível, carregam a exteriorização daquilo que é guardado no íntimo de qualquer pessoa. São versos que, mais do que refletidos, são sentidos.

Há quem diga que Cazuza era homossexual. Entretanto, classificar esse humano em alguma categoria não parece condizer com a sua personalidade, que em nada se importava com “o que os outros iam dizer ou pensar”. Assim, se entregava de corpo e alma para suas paixões, se importando apenas com a experiência e com o amor ali existentes.

Fonte: https://goo.gl/DBZmdy

Suas músicas, criadas há cerca de trinta anos, são muito atuais. Refletem os preconceitos e discrepâncias econômicas e políticas da sociedade, além das dores e mazelas enfrentadas por aqueles que não seguem o padrão imposto de como se comportar no trato social. Com a letra “a tua piscina cheia de ratos”, manifestou a hipocrisia que há em se manter uma fachada bonita, em aparentar ser o que hoje chamam de “cidadão de bem”, mas ser recheado de atitudes perversas contra o próximo, assim, “suas ideias não correspondem aos fatos”.

A maior ameaça para o beija-flor é a destruição do seu habitat, do seu lar. Para Cazuza não foi diferente. Infelizmente, seu corpo, que certamente era o seu lar (não importava o lugar, ele sempre estava a vontade), foi ameaçado pelo HIV (Human Immunodeficiency Virus), levando a AIDS (Acquired Immunodeficiency Syndrome). Com o seu talento em inquietar o público, não hesitou em informar sobre seu estado de saúde, o que causou grande comoção nacional. Sendo um dos primeiros a falar abertamente sobre o assunto, provavelmente tenha contribuído para a conscientização sobre a doença.

Fonte: https://goo.gl/1mBHKY

Lutou bravamente contra o vírus e não o deixou afetar a sua criatividade. Continuou criando letras e cantando, mostrando grande resiliência com a situação. Assim, conseguiu calar a morte, pois mesmo após a visita dela, a ideia Cazuza continua viva e presente na vida daqueles que o admiram através de sua poesia cantada.

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Psicologia – o amor pelo que se faz: (En)cena entrevista a psicóloga Gisélia Noleto

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Gisélia Noleto é psicóloga egressa do Ceulp/Ulbra, Possui graduação em Letras – Português e Inglês e Respectivas Literaturas e especialização em Metodologia do Ensino De Língua Portuguesa e Literatura. Tem mais de 20 anos de experiência na área da educação, onde atuou também como professora. Suas vivências em sala de aula impulsionaram o desenvolvimento de projetos voltados aos seus alunos durante sua graduação em psicologia.

(En)Cena – Quais suas áreas de atuação profissional?

Gisélia Noleto – Atualmente, trabalho em Clínica.

(En)Cena – Com qual público trabalha e qual a maior demanda?

Gisélia Noleto – Trabalho de adolescentes a casais. Dependendo do caso, atendo crianças. A maior demanda são jovens adultos.

(En)Cena – Ao sair da faculdade, você se deparou com uma realidade diferente do que imaginava?

Gisélia Noleto – Inicialmente, tive receio em como captar clientes/pacientes.  Mas logo fui recebendo  indicações de colegas de profissão, amigos e hoje já estou atendendo pessoas indicadas pelos meus próprios clientes.

(En)Cena – Você tem experiência na área da educação como professora, certo? Agora como psicóloga, como você encara as metodologias pedagógicas tradicionais?

Gisélia Noleto – Ainda há muitas metodologias tradicionais, mas também muitos profissionais tentando fazer diferente. Eu sempre gostei de inovar e com a Psicologia me tornei uma profissional de Educação muito melhor.

Fonte: https://bit.ly/2LBKvKg

(En)Cena – Você pretende atuar na Psicologia Escolar? Como você acredita que a Psicologia pode contribuir para a área?

Gisélia Noleto – Com certeza! Se tiver oportunidade e espaço, gostaria de agregar a experiência de 20 anos de Educação com adolescentes e os conhecimentos adquiridos em Psicologia.

(En)Cena – Como professora você já realizou práticas para se aproximar da realidade dos seus alunos, o que ficou conhecido como “De frente com Gisélia”. Os conhecimentos da Psicologia te ajudaram nesse sentido? Você acredita que práticas como essas podem ser implantadas nas escolas?

Gisélia Noleto – Sou apaixonada por gente, pessoas… E escolhi Psicologia por acreditar que posso fazer a diferença na vida das pessoas que estão perto de mim ou procuram minha ajuda profissional. Este projeto “De frente com Gisélia” foi apresentado em meu TCC e lá pude mostrar as várias possibilidades de criar vínculo com o aluno, por meio de uma escuta atenciosa, refletindo no processo ensino aprendizagem.

(En)Cena – Já atuou especificamente numa comunidade que é negligenciada socioculturalmente, como indígenas, quilombolas, entre outras?

Gisélia Noleto – Não tive tal oportunidade.

(En)Cena – Você tem atuação clínica, desenvolve projetos ou faz intervenções em grupos em prol de uma minoria, como comunidade LGBT, mulheres negras? Você tem um posicionamento militante quanto a isso? Faz parceria com grupos estaduais ou nacionais em defesa desses?

Gisélia Noleto – No momento não estou desenvolvendo projetos com tais grupos.

(En)Cena – Qual a sua opinião sobre o sindicato dos psicólogos que foi recém criado no Tocantins, em relação a importância desse órgão para a classe?

Gisélia Noleto – O nosso Sindicato é bastante importante para oxigenar a nossa classe, por meio de debates, grupos de estudo e trabalho. Portanto minha expectativa é que sempre tenhamos espaço para debater assuntos pertinentes a nossa profissão, sem privilegiar grupo A ou B.

(En)Cena – Por fim, além do diploma, o que te torna psicóloga?

Gisélia Noleto – Além do diploma, em qualquer profissão é preciso amar o que se faz e em nossa profissão, principalmente, amar pessoas, se importar com elas.

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Relação com o trabalho é tema de discussão

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Nessa sexta-feira (17), ocorreu nas dependências do Ceulp/Ulbra, o evento “Trabalho, uma relação de amor e ódio”. Facilitada pelo Prof. Esp. Sonielson Luciano de Sousa, a discussão buscou elucidar a relação dualista no âmbito do trabalho, que se dá principalmente pelo prisma do ódio, uma vez que o trabalho pode ser considerado uma forma de opressão. A turma de Psicologia do Trabalho, ministrada pela Prof. Me. Thaís Monteiro; e os alunos das disciplinas ministradas por Sonielson, puderam compreender o panorama histórico que influenciou a formação das relações de trabalho atuais.

Para Sonielson é possível ter uma relação de amor com o trabalho: “Nós temos que fazer uma leitura do que nós queremos ser, e construir um propósito. É a única maneira de ter uma relação de amor com o trabalho. Você tem que entender o que você quer […] então a dica que eu dou é basicamente essa, nós temos que entender a nossa natureza, quais as nossas aptidões. […] Tendo essa consciência, você muito provavelmente não vai chegar a uma situação de adoecimento, porque você já vai ganhando estruturas de contraposição, já vai entendendo suas experiências, observando também outras esferas que você tem que nutrir, você não vai entrar completamente cego no processo”, pontua.

Sonielson Luciano de Sousa é filósofo (UCB), mestrando em Comunicação e Sociedade (UFT), pós-graduado em Educação, Comunicação e Novas Tecnologias; bacharel em Comunicação Social (Publicidade – Ceulp/Ulbra); e sócio-fundador do jornal e site O GIRASSOL (desde 1999). Atualmente é professor universitário no Ceulp/Ulbra nas disciplinas de Filosofia, Antropologia, e Sociedade e Contemporaneidade.

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Poliamor: parece bagunça, mas não é!

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Os praticantes do poliamor estão em constante desconstrução e cada dia tentam mostrar para a sociedade como funciona um relacionamento para além de duas pessoas.

O polyamory surgiu nos Estados Unidos (1990), na igreja de Todos os Mundos, no Glossário de Terminologia Relacional. Era visto como o oposto da monogamia, mas não era assunto de grandes discussões. No entanto com a globalização e o advento da internet, a terminologia se espalhou pelo mundo (CARDOSO, 2010). No Brasil, em 2000, blogs sobre o assuntos foram criados, o que expandiu a discussão e se tornou presente o desejo de desenvolver pesquisas a respeito (PILÃO, 2012, 2015).

Pelo fato da possibilidade de várias pessoas estarem em um relacionamento ao mesmo tempo, o poliamor é baseado em relações íntimas. É defendido o sentimento do amor, a atração emocional e sexual independente de gênero, raça ou classe social e cada indivíduo é livre para escolher com quem e onde se relacionar. Uma pessoa pode ter um relacionamento extraconjugal, ou um relacionamento em que todas as partes estejam envolvidas, que é o exemplo do “trisal”, que é um trio de pessoas envolvidas de forma mútua em um romance. O poliamor não significa fazer sexo com todos. No trisal há um contrato entre os três, em que os mesmos se relacionam, havendo uma barreira que impede que os três se envolvam com outras pessoas, seguindo alguns preceitos da monogamia, só que agora em três.

Fonte: encurtador.com.br/bdfnX

Navarro (2017) fala sobre alguns mitos do relacionamento amoroso. O primeiro é “poliamoristas estão insatisfeitos”. A autora justifica dizendo que quando alguém, em um relacionamento monogâmico, busca outro alguém para se relacionar sexualmente é natural assumir a falta de algo, mas no poliamor não acontece necessariamente igual. Pode haver uma maior satisfação, já a maior quantidade de parceiros aumenta a probabilidade de satisfazer/suprir maior número de necessidade físicas e/ou psicológicas.

Outro mito é “poliamoristas ainda estão em um relacionamento”, mas poucas pessoas ainda sustentam a ideia de parceiro primário, a maioria que se compromete com este tipo de relação não faz distinção de parceiro primário ou secundário. O terceiro mito é “poliamor é um jeito de evitar compromisso”. Logo, com a prática do poliamor há uma ampliação da maneira de amar e sentir o amor. Tal forma de amar ainda é vista com preconceito, podendo haver uma resistência social, e mesmo dentro da psicanálise, tendo em vista que o amor como entrega às compulsões pode se configurar como uma tentativa de suprimir uma neurose de angústia ou o atroz sentimento de vazio existencial provocando desde a tenra infância, com a ansiedade de separação (NAVARRO, 2017).

Neste sentido, sob o ponto de vista social, Foucault (2007) diz que a vida é reduzida a uma constante vigilância e Bauman afirma que toda sociedade tem um critério de pureza, e aqueles que não se encaixam são vistos como a “sujeira” da sociedade, o que muitas vezes funciona como uma forma de controle de ordem social.  Logo, escolher viver o poliamor em uma sociedade em que os corpos ainda são docilizados ao modelo romântico, patriarcal, heteronormativo e de monogamia compulsória, é preciso estar ciente de que o enfrentamento e desconstrução não é uma tarefa fácil. Os praticantes do poliamor estão em constante desconstrução e cada dia tentam mostrar para a sociedade como funciona um relacionamento para além de duas pessoas. Não existe um formato definido de amor livre. O ponto chave é a liberdade para construir novas relações com normas pessoais (NAVARRO, 2017).

Fonte: encurtador.com.br/frwy7

Ao pesquisar poliamor no Google, aparece aproximadamente 1.850.000 resultados. O aumento de número de procura e adesão a este tipo de relacionamento amplia o debate em diversos âmbitos sociais e na própria clínica psicanalítica, possibilitando uma maior desconstrução, entendimento e respeito aos praticantes:

O poliamorismo ou poliamor, teoria psicológica que começa a descortinar-se para o Direito, admite a possibilidade de coexistirem duas ou mais relações afetivas paralelas, em que os seus partícipes conhecem e aceitam uns aos outros, em uma relação múltipla e aberta. (Pablo Stolze, 2008, p. 51-61)

O que se faz importante o uso do termo poliamor, visto que o homem é passível de identificação, tal nomeação causa nos adeptos sentimento de pertencimento, em que é presente uma fusão de trocas de experiências, o que facilita a construção social de novas formas de amar.  Visto que o contrato do poliamor é bem parecido com a da monogamia, já que a marca registrada da monogamia é a fidelidade, e da poligamia também, só que com mais de 2 pessoas envolvidas na relação. Mas por não haver assimetria de gênero, pode ser um equívoco comparar o poliamor com a monogamia (KLESSE, 2006; LINS, 2014; PILÃO & GOLDENBERG, 2012).

Fonte: encurtador.com.br/hmrSZ

Por fim é importante ressaltar a diferença entre poliamor e poligamia. No poliamor, todos os lados da relação podem usufruir da liberdade de ter vários parceiros, já na poligamia há uma prática unilateral, em que apenas uma pessoa da relação tem a liberdade de ter vários parceiros. Na maioria dos casos é um homem, já que esta prática ainda é enraizada no machismo religioso. Um exemplo de praticantes da poligamia são os seguidores do Alcorão, em que um homem, respaldado pela lei, pode ter 4 (quatro) esposas, e deve tratar as mesmas com igualdade e justiça.

Referências

AMORIM, Ana Nascimento de; STENGEL, Marcia. Relações customizadas e o ideário de amor na contemporaneidade. Estudos de Psicologia, [s.i], v. 3, n. 19, p.157-238, set. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v19n3/03.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2018.

ARAUJO, Maria de Fátima. Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações. Psicol. cienc. prof.,  Brasília ,  v. 22, n. 2, p. 70-77,  Junho  2002 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932002000200009&lng=en&nrm=iso>.Acesso em: 04  Nov 2018.  http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932002000200009.

COSTA, Rogério da. Sociedade de controle. São Paulo Perspec.,  São Paulo ,  v. 18, n. 1, p. 161-167,  Mar.  2004 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000100019&lng=en&nrm=iso>.  Acesso em 04  Nov.  2018.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392004000100019.

FOUCAULT, 2005. Sexo, Poder e Indivíduo: entrevistas Selecionadas. Desterro: Edições Nefelibata, 2005.

LINS, Regina Navarro. Novas Formas de Amar – Nada vai ser como antes, grandes transformações nos relacionamentos amorosos. 2017: Ed. Planeta do Brasil.

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Já passou da hora

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Ele me vê sorrindo
Insiste em matar minha alegria
Tudo o que venho construindo
Quer levar embora a minha harmonia
E consegue por incrível que pareça
Até roubar meus sonhos
Atropelando os meus planos
Como sempre fez
Ele quer que eu enlouqueça
Insisto que não é por mal
Que foi só dessa vez
Que existe uma luz no final
Não pode ser consciente
Toda essa insanidade e desamor
E eu que preciso ser paciente
Assim ele me diz em clamor
Que dessa vez a história realmente vai mudar
Que está disposto a melhorar
Eu começo a duvidar
Se realmente existe alguma chance
E talvez isso não tenha mesmo sentido
Dizer que muda e ser fingido
Fiz tudo dentro do meu alcance
Pelo menos eu sei que a dor que eu sinto vai acabar
Eu vou acordar para realizar os sonhos que estacionei
Naquele dia em que você fez questão
Que eu me sentisse menor que você
Ah, deixa eu te falar que o meu coração é imensidão
E hoje eu sei que ninguém vale mais que ninguém
Que o valor que eu tenho é imenso independente de alguém
Não preciso sentir inferioridade
Nem provar minha autenticidade
Porque é nítido o que eu sou
E por mais que pensem por aí que eu te devo muito
Eu não te devo nada
Por mais que eu saiba que você me deve tanta coisa
E não quero coisa alguma
Afinal você não vai trazer de volta a paz que eu tinha quando me conheceu
Logo você se acostuma
Quando eu for na sua vida ausência
Eu abro a gaveta agora
Tiro o caderno que eu havia deixado lá dentro
Que por sinal era o que eu mais gostava
Começo a escrever para começar a sonhar
Sinto que assim eu me reconheço
A responsabilidade emocional que você não teve a mim
Eu venho resgatando
Nem que você não queira e isso não importa
Eu vou cuidar de mim
Isso não tem preço
Já passou da hora

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O relacionar-se na monogamia, poligamia e amor livre

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O amor é construído socialmente, sendo produto de cada época vivenciada.

O relacionamento amoroso ainda é enraizado na cultura patriarcal, que é caracterizada por devoção ao comando realizado pelo “pai”, uma figura máxima de autoridade dentre de tal tipo de regime e heteronormativa, já que é característico de normas do comportamento heterossexual. De acordo com o dicionário Aurélio (2010), heterossexual é o indivíduo que manifesta interesse pelo sexo oposto. Ou seja, são homens que têm interesse sexual e afetivo por mulheres, e mulheres que têm interesse sexual e afetivo por homens, padrão social de sexualidade atual, e tem como regra, de se relacionar, o amor romântico. Também de acordo com o dicionário Aurélio, monogâmico é o indivíduo que tem um só parceiro, em uma relação que pode se estender por toda vida ou não. Este modo de se relacionar prega um conjunto de crenças, valores e expectativas de como um determinado individuo, que está envolvido no romance, deve agir em um relacionamento.

Fonte: encurtador.com.br/ajCTX

Há uma crença de que este amor é a única forma satisfatória de se relacionar. Há uma idealização seguida de uma projeção do eu na pessoa amada. No entanto, com a convivência diária, com a excessiva intimidade, a idealização não consegue ser sustentada e o inevitável acontece: tédio, sofrimento e enganação. De acordo com Freud (1996), projeção é um mecanismo de defesa do ego com o intuito de reduzir tensões psíquicas internas. Determinado indivíduo lida com sentimentos reais, mas não admite ou não percebe, de modo a identificar no outro algo referente a si próprio e não ao outro.

Parte dos sintomas, ademais, provém da defesa primária – a saber, todas as representações delirantes caracterizadas pela desconfiança e pela suspeita e relacionadas à representação de perseguição por outrem. Na neurose obsessiva, a autoacusação inicial é recalcada pela formação do sintoma primário da defesa: autodesconfiança. Com isso, a autoacusação é reconhecida como justificável; e, para contrabalançá-la, a conscienciosidade que o sujeito adquiriu durante seus intervalos sadios protege-o então de dar crédito às auto-acusações que retornam sob a forma de representações obsessivas. Na paranoia, a auto-acusação é recalcada por um processo que se pode descrever como projeção. É recalcada pela formação do sintoma defensivo de desconfiança nas outras pessoas. Dessa maneira, o sujeito deixa de reconhecer a auto-acusação; e, como que para compensar isso, fica privado de proteção contra as auto-acusações que retornam em suas representações delirantes. (FREUD, 1996, p.182)

Para Freud (1996), os conteúdos projetados são inconscientes e são sempre desconhecidos da pessoa que os projeta, de modo a evitar o desprazer de entrar em contato com tais conteúdos. O amor na sociedade ocidental era permeado de dispositivos sexuais que funcionavam como uma forma de controle. Foucault (2012) declara que o poder disciplinar controla os indivíduos por meio da vigilância de seus comportamentos, manifestando-se implicitamente, não por ação violenta, com cunho reparativo ou vingativo, como no medieval, mas com viés punitivo-educativo, com efeito amplo e invisível. Este poder ressalta a visibilidade do sujeito, aterrorizando-o e garantindo eficácia perene.

Fonte: encurtador.com.br/gACQS

Enquanto nos países árabes a poligamia é aceita e os homens costumam ter várias mulheres, no ocidente a monogamia está instalada como a única maneira aceitável de vínculo conjugal. Entretanto, o amor na sociedade ocidental acaba por ser permeado de dispositivos sexuais que funcionam como uma forma de controle.

[…] a sociedade disciplinar é aquela na qual o comando social é construído mediante uma rede difusa de dispositivos ou aparelhos que produzem e regulam os costumes, os hábitos e as práticas produtivas. [Na sociedade de controle] os mecanismos de comando [são] distribuídos por corpos e cérebros dos cidadãos. Os comportamentos de integração e de exclusão próprios do mando são, assim, cada vez mais interiorizados nos próprios súditos. O poder agora é exercido mediante máquinas que organizam diretamente o cérebro (em sistemas de bem -estar, atividades monitoradas, etc.) no objetivo de um estado de alienação independente do sentido da vida e do desejo de criatividade. (NEGRI E HARDT, 2001, p. 42 –3)

No entanto, o amor é construído socialmente, sendo produto de cada época vivenciada. Na Idade Média, era vigente o Amor Cortês, que é caracterizado por uma relação íntima entre Amor e Morte, o imbricamento entre Nobreza e Sofrimento, bem como o confronto entre o Casamento socialmente condicionado e o Verdadeiro amor, levado até as suas últimas consequências trágicas (NAVARRO, 2017). O amor cortês é ambivalente, já que ao mesmo tempo em que há paz, existe o sofrer; ao mesmo tempo em que lapida, fragiliza. O homem é sempre o mais apaixonado, agindo de maneira irracional, preso ao seu sentimento descontrolado. No entanto se faz presente uma autonomia dos sentimentos, já que a igreja ortodoxa deixa de exercer tanto poder.

Fonte: encurtador.com.br/dBQV9

Logo, o Amor Cortês representa uma revolução nos modos de pensar e de sentir, e não deixa de empreender uma velada crítica aos padrões repressores de seu tempo. No entanto se fazia presente um amor cortês e inalcançável. Com o iluminismo, o amor passou a ser associado ao ridículo, já que muitos agiam com o coração ao invés da razão. No século XIX voltou a reinar um ideal de amor romântico, sendo visto como a finalidade da vida, que ainda se permeia nos dia de hoje, mas não é a única forma de amar, se fazendo presente novas formas de uma época vigente (L´INCAO, 2013; LINS, 2012).

O amor romântico nasce sob a influência do romantismo (XVIII), na Europa, com a particularidade de continuar sendo uma das marcas registradas da cultura ocidental, resistindo como uma forte referência para as práticas amorosas nos dias de hoje (COSTA, 1998). É um amor revolucionário, já que contesta padrões culturais e religiosos de comportamento. É visada a autonomia de se expressar, de escolher com quem se relacionar. No entanto, pode ser um ideal inalcançável, já que há uma idealização do eu perfeito no outro. O amor romântico está ligado diretamente à ideia de “amor perfeito”: uma crença medieval de que o amor verdadeiro entre um homem e uma mulher deve ser uma adoração de reverência. Esse ideal amoroso leva à frustração quando o individuo percebe que a fantasia é diferente da realidade do dia-a-dia. Freud afirma que o amor é uma repetição e suas matrizes são os imagos parentais, ou seja, a pessoa está tentando reconhecer no outro as condições infantis de amar.

Fonte: encurtador.com.br/aghnH

A monogamia (“mono” = “um” e “gamia” = “casamento’) é um contrato entre duas pessoas, em que se espera fidelidade e lealdade de ambas. Por muito tempo a monogamia foi considerada o símbolo da felicidade amorosa, (COSTA, 1998), mas com as modificações sociais e os males deste tipo de relação (ciúmes, mentira, traição), o ser humano passou a encontrar novas formas de se relacionar e amar. O relacionamento, então, sai do ideal social (monogâmico e heteronormativo) e passa a debandar para o ideal pessoal e o felizes para sempre passou a ser, então, desconstruído. Isso também remete a uma derrocada do poder soberano do cristianismo, que já não exerce muita influência sobre a vida privada.

De acordo com Regina Navarro (2017), o amor romântico passou a entrar em declínio quando as pessoas começaram a observar que tal tipo de amor não era tão satisfatório o quanto se pregava. Um amor utópico, não correspondia a vida real, resultando em sofrimento – psicanaliticamente falando. Um fator importante foi a desconstrução de unidade em um relacionamento – com eventual perda de individualidade dos integrantes, ou seja, a individualidade começou a ser muito valorizada. Isto se intensificou com o surgimento das pílulas, movimentos sociais (feministas, hippie e gay), aliados com o advento da internet, nos anos 90. Com isto, o amor romântico dá lugar a uma nova forma de amar que não exija mais exclusividade total. De acordo com o site UOL, em 2013 aconteceu em Berkeley a primeira Conferência Acadêmica Internacional sobre o Poliamor. Ainda no mesmo ano, no Brasil, aconteceu o maior poliencontro reunindo 180 pessoas. No Facebook a página Poliamor Estável conta com a participação de 9.5 mil membros.

Fonte: encurtador.com.br/jzHL7

É importante destacar em pormenores as formas de amar na contemporaneidade. Tem-se, então, a monogamia, o relacionamento livre e o poliamor. No relacionamento livre há uma autonomia plena para se envolver afetiva e/ou sexualmente com várias pessoas. A pessoa pode estar casada ou estar namorando a distância, não há pré-requisitos para ser praticante. O que é preciso ser construído é uma autonomia emocional para ter diversos parceiros, ter tempo e dedicação para tais (NAVARRO, 2017). No entanto não é algo desordenado, é fundamental que existam acordo e regras mútuas entre os parceiros, nos quais são decididos os limites suportados por cada parte. Diálogo, transparência e honestidade são bases para qualquer relacionamento. Na monogamia tal comportamento é visto como traição, mas no amor livre há um acordo esclarecido entre ambos. É possível viver amor e paixões.

Referências

AMORIM, Ana Nascimento de; STENGEL, Marcia. Relações customizadas e o ideário de amor na contemporaneidade. Estudos de Psicologia, [s.i], v. 3, n. 19, p.157-238, set. 2014. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/epsic/v19n3/03.pdf >. Acesso em: 02 nov. 2018.

ARAUJO, Maria de Fátima. Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações. Psicol. cienc. prof.,  Brasília ,  v. 22, n. 2, p. 70-77,  Junho  2002 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932002000200009&lng=en&nrm=iso>.Acesso em: 04  Nov 2018.  http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932002000200009.

PINHEIRO, Raphael Fernando. A monogamia e seus reflexos no direito de família. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-monogamia-e-seus-reflexos-no-direito-de-familia,39706.html>. Acesso em: 23 out. 2018.

SOUZA, Thuany Barbosa de. Amor Romântico. 2007. 36 f. TCC (Graduação) – Curso de Comunicação Social, Centro Universitário de Brasilía, Brasília, 2007. Disponível em: <http://repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/1833/2/20366245.pdf>. Acesso em: 20 Out. 2018.

LINS, Regina Navarro. Novas Formas de Amar – Nada vai ser como antes, grandes transformações nos relacionamentos amorosos. 2017: Ed. Planeta do Brasil.

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