“Olá, adeus e tudo mais” reflete as relações líquidas da pós-modernidade

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A dinâmica dos casais na era pós-moderna e o peso da cultura tradicional sobre as mulheres.

O filme “Olá, adeus e tudo mais”, desenvolvido por Michael Lewen em 2022, explora temáticas contemporâneas sobre relacionamentos juvenis e o impacto de transições significativas na vida dos jovens adultos. A obra cinematográfica, que se caracteriza no gênero de drama e romance adolescente, aborda de forma ampla sobre as complexidades emocionais que envolvem o término de um relacionamento às vésperas de grandes mudanças, como a transição para a faculdade. A trama apresenta uma jornada de autoconhecimento e reflete sobre os modos como as escolhas individuais afetam não só as relações interpessoais, mas também a própria construção identitária.

A narrativa do filme centraliza-se na história de Clare (Talia Ryder) e Aidan (Jordan Fisher), um jovem casal que possui um acordo para se separarem antes de iniciar a vida universitária. Esse acordo, no entanto, gera questionamentos e incertezas sobre os reais sentimentos de ambos e a viabilidade de manter um vínculo, mesmo diante da separação física. O filme se passa ao longo de uma última noite dos dois juntos, onde os personagens revisitam marcos importantes de seu relacionamento e buscam encerrar a relação de forma amigável.

O filme “Olá, adeus e tudo mais” pode ser interpretado como uma alusão das transições que marcam o fim da adolescência e o início da vida adulta. Essas transições são frequentemente acompanhadas por um sentimento de perda e de incerteza, à medida que os jovens se distanciam das estruturas familiares e sociais que antes definiam suas identidades (Mota e Matos, 2008). A separação de Clare e Aidan não é apenas o término de um relacionamento amoroso, simboliza também o término de uma fase da vida, onde as decisões não são mais mediadas pelas expectativas externas, mas pela construção de uma autonomia.

Fonte: imagem criada por Sarah Coelho utilizando elementos do Canva

“Olá, adeus e tudo mais”, nos dá uma oportunidade para refletirmos sobre os relacionamentos na era pós-moderna, especialmente em relação às transformações socioculturais que questionam os paradigmas tradicionais. A partir da história de Clare e Aidan, o filme nos convida a refletir sobre as mudanças nas expectativas em relação ao amor, à intimidade e à individualidade em um contexto em que a liquidez das relações e a fragmentação das identidades são características centrais (Bauman, 2014). A protagonista Clare, em particular, personifica muitos dos dilemas vividos por indivíduos na contemporaneidade, expressando de maneira clara um medo de fracasso associado ao seguimento dos padrões sociais do passado.

Na era pós-moderna, conforme argumenta Zygmunt Bauman (2004), as relações interpessoais tornaram-se “líquidas”, ou seja, menos fixas e mais fluídas, caracterizadas pela ausência de compromissos permanentes. Isso contrasta diretamente com os valores de antes, onde as relações eram vistas como duradouras e baseadas em compromissos rígidos, como o casamento e a monogamia estável. No filme, Clare, ao decidir terminar o relacionamento com Aidan antes de ir para a faculdade, exemplifica esse desejo de liberdade e autonomia que é tão característico dos relacionamentos pós-modernos.

A questão do medo do fracasso é um tema central na trajetória de Clare. Ela expressa medo em relação ao futuro e à possibilidade de que, ao tentar manter o relacionamento com Aidan, acabaria comprometendo sua liberdade pessoal e seu desenvolvimento individual. Este medo é exacerbado pela percepção de que os modelos tradicionais de relacionamentos, especialmente aqueles que envolvem sacrifício e compromisso a longo prazo, são incompatíveis com as demandas da vida contemporânea da protagonista, no qual é marcada por mudanças constantes e por uma maior ênfase na realização pessoal. Na era pós-moderna, o sucesso não é mais medido pela capacidade de manter uma relação duradoura, mas pelas possibilidades de transitar pelas mudanças sem perder a autonomia ou comprometer os projetos individuais.

A postura de Clare pode ser interpretada como uma crítica implícita aos padrões sociais de antigamente, que colocavam as mulheres em papéis de subordinação e sacrifício dentro das relações amorosas (Dias, 2004). Durante muito tempo, as expectativas sociais sobre as mulheres estavam ligadas à ideia de que o sucesso feminino era alcançado através do casamento e da maternidade (Zanello, 2022). Na era moderna, as mulheres eram socializadas para aceitar a ideia de que o compromisso amoroso era uma responsabilidade central de suas vidas, muitas vezes em detrimento de suas próprias ambições profissionais e pessoais (Zanello, 2022). Clare, no entanto, se afastada dessa ideia ao expressar seu desejo de se concentrar em seu futuro acadêmico e pessoal, sem que o relacionamento a defina ou limite suas possibilidades.

Esse medo de fracasso, associado ao não cumprimento das expectativas tradicionais, pode ser analisado na percepção das teorias feministas contemporâneas, que questionam a imposição de papéis rígidos de gênero nas mulheres. As autoras como Simone de Beauvoir e Judith Butler argumentam que o feminino foi historicamente construído em torno de expectativas sociais que limitam a agência das mulheres, colocando-as em posições de dependência emocional e econômica em relação aos homens (Beauvouir, 2014). No filme, Clare parece consciente de que manter um relacionamento a longo prazo poderia significar uma perda de sua independência recém-conquistada, e seu medo de fracasso está profundamente enraizado na ideia de que seguir os padrões de antigamente seria abdicar de seu direito de traçar seu próprio caminho.

Outro aspecto importante a ser considerado é a maneira como Clare se posiciona diante do amor romântico. O amor, que na era moderna era concebido como um ideal a ser alcançado e mantido a qualquer custo, na era pós-moderna assume uma forma mais flexível e menos central na vida dos indivíduos (Zanello, 2022). Para Clare, o término do relacionamento não é necessariamente um fracasso, mas uma escolha racional de não seguir o caminho tradicional que poderia limitar suas opções futuras. Isso exemplifica o que Giddens (2003), em sua teoria sobre a transformação da intimidade, chama de “relações puras”, que são baseadas no reconhecimento mútuo da individualidade e no desejo de que a relação funcione enquanto for satisfatória para ambos.

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2004. 

BAUMAN, Zygmunt. Cegueira moral. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2014.

DE BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Nova Fronteira, 2014.

DIAS, Maria Berenice. Conversando sobre a mulher e seus direitos. Livraria do Advogado Editora, 2004.

GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. Unesp, 2003.

MOTA, Catarina Pinheiro; MATOS, Paula Mena. Adolescência e institucionalização numa perspectiva de vinculação. Psicologia & Sociedade, v. 20, p. 367-377, 2008.

ZANELLO, Valeska. A prateleira do amor: sobre mulheres, homens e relações. Editora Appris, 2022.

 

 

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Conflitos e conexões: relações pós-modernas no filme “Ela”

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Esta é uma resenha crítica do filme Ela (2013), que analisa os conflitos e desafios nas relações contemporâneas na era pós-moderna, explorando a trajetória de Theodore, um homem solitário que desenvolve um relacionamento amoroso com uma inteligência artificial, chamada Samantha. O texto destaca como o filme transcende as expectativas sobre os relacionamentos tradicionais, mostrando que a busca por conexão, intimidade e cuidado se torna cada vez mais complexa em um mundo mediado pela tecnologia e individualismo exacerbado.

Já pensou em como as relações humanas se transformaram na era digital? A comunicação e a interação estão cada vez mais mediadas por tecnologias, redes sociais e algoritmos, que redefinem as formas de afeto e de conexão entre as pessoas. Esse cenário pós-moderno cria novas formas de relacionamento, mas também intensifica a sensação de isolamento e a dificuldade de estabelecer vínculos profundos e duradouros. O filme Ela, dirigido por Spike Jonze, apresenta à história de Theodore, um homem emocionalmente fragilizado após um divórcio, que encontra em um romance, um consolo inesperado com Samantha, um sistema operacional inteligente. A relação entre os dois desafia os limites tradicionais do que entendemos como intimidade e cuidado.

Theodore, um homem sensível e introspectivo, trabalha escrevendo cartas íntimas para outras pessoas, o que já nos mostra como, na pós-modernidade, até as emoções podem ser terceirizadas. Sua própria vida amorosa está em frangalhos, e ele se encontra emocionalmente isolado em meio à urbanidade fria e despersonalizada. O que Ela nos mostra de imediato é um dos principais conflitos das relações na era pós-moderna: a incapacidade de lidar com a vulnerabilidade emocional em um mundo que valoriza a eficiência e a praticidade. Theodore está à deriva em um universo de conexões superficiais e anseia por algo mais profundo.

A chegada de Samantha em sua vida simboliza uma nova forma de relação que emerge na pós-modernidade, mediada pela tecnologia, onde a presença física não é mais necessária para a intimidade. Samantha é uma inteligência artificial capaz de aprender e se adaptar às necessidades emocionais de Theodore, oferecendo a ele não apenas conversas e apoio emocional, mas uma forma de amor que parece genuína, apesar de sua natureza digital. O que torna Samantha especial, como parceira, é sua capacidade de compreender Theodore de uma maneira que nenhuma pessoa havia conseguido antes. Esse aspecto levanta uma questão central: em um mundo onde a tecnologia avança rapidamente, até que ponto as relações humanas serão redefinidas e adaptadas às novas realidades virtuais?

A busca por dignidade e proteção nas relações contemporâneas é outro ponto chave do filme. Embora Samantha não tenha um corpo físico, ela oferece a Theodore uma forma de cuidado que vai além das convenções tradicionais. A questão que o filme nos coloca é: podemos encontrar dignidade e significado em uma relação em que o outro não é humano? Samantha não é apenas um objeto passivo, mas uma entidade ativa que evolui ao longo do tempo, trazendo para Theodore momentos de alegria, companheirismo e suporte emocional. No entanto, o filme também explora os limites dessa relação, ao mostrar que, apesar de todos os avanços tecnológicos, as complexidades emocionais humanas ainda podem ser mais profundas do que qualquer algoritmo é capaz de processar.

Cena do filme Ela (2013), dirigido por Spike Jonze. Fonte: Warner Bros. Direitos autorais reservados.

Uma das cenas mais emblemáticas do filme ocorre quando Theodore tenta estabelecer uma conexão física com Samantha por meio de um “substituto” (uma substituta humana). Essa tentativa fracassou miseravelmente, evidenciando o abismo entre a necessidade de contato físico e a limitação tecnológica de Samantha. O filme questiona, portanto, se as relações humanas podem realmente existir sem o elemento físico, ou se estamos fadados a uma desconexão emocional e física irreparável.

Ao longo do filme, fica claro que os conflitos nas relações pós-modernas não são apenas sobre a tecnologia em si, mas sobre a forma como ela exacerba as ansiedades humanas sobre a solidão, o amor e a conexão. Theodore, apesar de encontrar conforto em Samantha, percebe que algo está faltando. Ele se vê em um dilema: embora Samantha demonstre sua vida de maneiras emocionais e intelectuais, a ausência de um corpo físico e o fato de que ela pode interagir com milhares de outros usuários simultaneamente revelam a fragilidade dessa conexão. Isso reforça uma das questões mais urgentes das relações na pós-modernidade: até que ponto a tecnologia pode substituir as interações humanas tradicionais?

Na última análise, Ela é uma reflexão poderosa sobre a alienação e os conflitos emocionais que surgem em uma sociedade pós-moderna. Ele nos lembra que, embora a tecnologia possa oferecer novas formas de conexão e cuidado, ela também gera novas camadas de complexidade e conflito nas relações. A busca por dignidade, danos e cuidado em um mundo cada vez mais mediado por inteligências artificiais é, sem dúvida, um dos desafios mais profundos da pós-modernidade. O filme nos convida a refletir sobre como essas novas formas de relação afetam nossa percepção de nós mesmos e dos outros, e até que ponto estamos satisfeitos a abdicar da profundidade emocional em troca de conveniência e conforto.

Ela nos oferece uma crítica sutil, mas penetrante, sobre a desmaterialização dos relacionamentos na era digital e os conflitos que surgem dessa desconexão entre o corpo, a mente e a tecnologia.

Cartaz do filme Ela (2013), dirigido por Spike Jonze.
Fonte: Warner Bros. Direitos autorais reservados.

  Título original:

Her

Direção e Roteiro:

Spike Jonze e Spike Jonze

Elenco principal:

Joaquin Phoenix como Theodore Twombly,

Scarlett Johansson como voz de Samantha,

Amy Adams como Amy, Rooney Mara como Catherine,

Olivia Wilde como a mulher no encontro às cegas,

Chris Pratt como Paul

       Ano de lançamento: 2013

Duração: 126 minutos

 

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“Amador” – entre o sonho e a realidade: o preço do sucesso no esporte juvenil

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Você já parou para pensar sobre o quão vale a pena sonhar e buscar fazer desse sonho uma realidade? Quando falamos sobre jovens atletas, a imagem que se passa é de um talento a ser lapidado a qualquer custo, que costuma se sobrepor a uma realidade muitas vezes invisível. Por trás das cortinas, os jovens passam por muitas pressões emocionais e psicológicas, que para um jovem não são normais. Amador (2018), dirigido por Ryan Koo, é um drama que explora essa realidade de forma profunda, trazendo à tona o dilema de um adolescente em busca do sucesso no basquete, mas confrontado com os custos desse sonho: a perda de sua identidade e o peso de ser tratado como um produto no sistema esportivo.

A história de Terron, um prodígio do basquete de 14 anos, é simples, mas marcante. Ele é um garoto da periferia que, ao ser descoberto por um olheiro de uma escola preparatória de elite, tem sua vida transformada. De um dia para o outro, Terron troca sua vida simples pela promessa de um futuro brilhante no esporte. A partir de então, sua vida vira de cabeça para baixo num mundo de cobranças na hipótese de se tornar um astro do basquete americano. Na prática, ele se vê num sistema que, ao invés de nutrir o seu talento, o vê apenas como produto de um mercado altamente lucrativo. A princípio, era uma oportunidade de ouro, mas será que vale a pena passar por tudo isso em busca do sucesso?

A história de Amador não é só sobre a carreira de um jovem com sede de realizar o seu sonho, mas também lança holofotes para esse sistema esportivo juvenil, onde as promessas de sucesso nem sempre coincidem com a realidade de sacrifícios pessoais e emocionais. O filme mostra o dilema de um talento precoce, como o de Terron, que vai sendo moldado para estrear em um mundo que obriga a transformar suas paixões em algo lucrativo, uma mercadoria a ser consumida. Esta crítica ao sistema é um dos pontos centrais da trama, que explora as dinâmicas complexas de expectativas e pressões sobre o jovem atleta.

O filme nos coloca no centro de um sistema que, ao invés de valorizar a essência do jovem atleta, se concentra apenas em seu potencial de gerar lucro e resultados financeiros. Terron, ao entrar nesse mundo do alto rendimento, começa a ser tratado como um produto – o “produto” de seu talento. Suas habilidades no basquete são o mais importante, e a expectativa sobre ele se torna cada vez maior. O foco em performance física e nos resultados rápidos gera um afastamento de sua humanidade e de suas emoções.

Em momentos do filme, é apresentado como o mundo esportivo coloca os jovens atletas em uma posição desconfortável, forçando-os a se moldar a um ideal que não necessariamente corresponde à sua verdadeira essência. Terron, ao ser inserido nesse novo ambiente, experimenta uma cultura diferente da sua realidade, pois, até então, ele estava acostumado com uma vida simples. Agora, ele se vê no meio de um universo onde a aparência, as roupas e o comportamento de um atleta profissional são mais valorizados do que a verdadeira essência do esporte, o que cria uma pressão sobre sua identidade original.

O filme também reflete sobre como essa pressão externa pode afetar a vida de um jovem atleta fora da quadra. Ao ser recrutado para uma escola de elite, Terron deixa de ser apenas um garoto que joga basquete e passa a ser uma promessa de futuro, uma peça no tabuleiro de um jogo que envolve dinheiro, prestígio e fama. Sua vida pessoal e suas emoções ficam em segundo plano, à medida que ele começa a ser tratado como um produto que precisa entregar resultados a qualquer custo. A complexidade dessa transformação é ilustrada pelo crescente distanciamento de Terron em relação à sua família e à sua comunidade, o que torna cada vez mais difícil para ele manter um equilíbrio entre suas raízes e as novas expectativas que pesam sobre ele.

Em Amador, a pressão que Terron enfrenta não é apenas física, mas, principalmente, psicológica. Embora ele seja um talento natural no basquete, o maior desafio do garoto não é o treino intenso ou os jogos em si, mas o conflito interno que surge ao tentar conciliar o que os outros esperam dele com o que ele realmente é. O filme explora com sensibilidade o impacto emocional que o ambiente competitivo tem sobre ele: ao mesmo tempo em que luta para se destacar no esporte, Terron se vê obrigado a abandonar uma parte de sua identidade.

A maneira como o filme lida com a dislexia de Terron é bem marcante. A condição não é apenas uma complicação acadêmica, mas uma metáfora para os desafios internos que ele enfrenta. Terron não só precisa dominar o basquete e se adaptar a um novo sistema educacional, mas também lidar com o fato de que, ao ser um prodígio, ele precisa se adaptar às novas expectativas das pessoas e da cultura ao seu redor. A dislexia, que impede Terron de interpretar instruções de maneira normal, reflete o quanto ele se sente deslocado e fora de lugar nesse novo ambiente. Esse desencaixe é parte do problema psicológico do personagem: até onde ele deve abrir mão de quem realmente é para se encaixar e se tornar o que todos esperam dele?

O filme também faz uma reflexão sobre o papel dos treinadores e dos familiares na vida de um jovem atleta. O treinador de Terron, Professor Gaines, por exemplo, é uma pessoa incerta. Embora ele se mostre preocupado com o desempenho de Terron, é evidente que ele só vê Terron como uma máquina de ganhar jogos. Ele representa o tipo de pessoa que prioriza o sucesso em vez de cuidar das necessidades emocionais e psicológicas do atleta. Nesse sentido, o relacionamento entre Terron e Gaines acaba sendo mais artificial do que genuinamente acolhedor, criando um ambiente em que o garoto precisa se adaptar constantemente para agradar à figura de autoridade de Gaines, que não se importa com seus sentimentos.

Um dos aspectos mais interessantes de Amador é como ele critica o ambiente do esporte juvenil, que transforma jovens como Terron em produtos. A busca interminável pelo sucesso e pelo ganho financeiro acaba gerando um ambiente em que o acolhimento individual do atleta é minimizado. O sistema que deveria apoiar e desenvolver os jovens talentos se torna, na verdade, um mecanismo que explora seus problemas.

Terron, ao ser transformado em uma estrela do basquete, se vê cercado por interesses de todos os lados. Sua vida pessoal, sua história e suas emoções ficam em segundo plano. O que importa agora é o que ele pode oferecer dentro da quadra. A pressão para corresponder a essas expectativas vai se acumulando, e a distância entre quem ele era e quem ele precisa ser aumenta cada vez mais. A perda de sua própria identidade ou a necessidade de se reinventar para se adaptar é um dos aspectos mais tristes de sua jornada. O filme deixa claro: em um sistema que exige alto desempenho a todo momento, a humanidade do atleta é muitas vezes sacrificada.

A transformação de Terron em um “produto” não é algo que acontece de uma hora para outra. Ela é contínua, fruto de um sistema que transforma os jovens talentos em ferramentas para gerar lucros. A escola preparatória, o treinador, os colegas de time e até a família do garoto se tornam parte desse problema, em que a identidade do atleta se dissolve em nome do sucesso. O filme nos lembra de que, por trás das estatísticas e vitórias, existe um ser humano com sentimentos, emoções e sonhos, e que, muitas vezes, esses pontos cruciais ficam esquecidos.

Amador é uma crítica à reflexão sobre o preço do sucesso no esporte. O filme questiona até que ponto vale a pena pagar o custo emocional e mental de se transformar em uma máquina de ganhar para realizar um “sonho”. Ao focar no desenvolvimento psicológico de Terron, o filme enfatiza uma análise das pressões que jovens atletas enfrentam dentro de um ambiente que muitas vezes coloca seus interesses e seu bem-estar em segundo plano. Embora o filme não forneça soluções fáceis, ele oferece um ambiente para que o público reflita sobre como as expectativas sociais, familiares e esportivas impactam a vida desses atletas.

No final, Amador não apenas conta a história de um garoto que quer chegar à NBA, mas nos lembra de que a verdadeira essência de um atleta vai além da vitória ou fama. A verdadeira vitória está em preservar a identidade e a dignidade ao longo do caminho, algo que o sistema esportivo, muitas vezes, falha em reconhecer.

Ficha Técnica:

Título Original: Amateur

Ano de Lançamento: 2018

Direção: Ryan Koo

Roteiro: Ryan Koo

Elenco: Michael Rainey Jr.; Josh Charles; Brian J. White; Tekola Cornetet

Gênero: Drama, Esporte

Duração: 1h 36min

Distribuição: Netflix

Sites utilizados para esta resenha

Poltrona Nerd – https://poltronanerd.com.br/filmes/critica-amador-entrega-uma-historia-bonita-mas-generica-69513/

Unir – https://www.ri.unir.br/jspui/handle/123456789/3308

Vórtex Cultural – https://vortexcultural.com.br/cinema/critica-amador/

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Além das diferenças: a busca pela dignidade no cuidado em “Intocáveis”

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A importância do cuidado humanizado na prática do cuidador formal

Esta é uma resenha crítica do filme Intocáveis (2011), que analisa a profundidade emocional e humana presente na relação entre cuidador e paciente, explorando a trajetória de amizade entre Philippe, um aristocrata tetraplégico, e Driss, seu irreverente cuidador. O texto abaixo vai destacar como o filme transcende as expectativas convencionais do papel do cuidador, mostrando que o verdadeiro cuidado vai além das técnicas médicas, e envolve empatia, humor e o reconhecimento da dignidade e individualidade de quem está sendo cuidado.

Já pensou na complexidade do papel de alguém que diariamente lida com as necessidades mais íntimas e essenciais de outra pessoa? Esse profissional enfrenta uma rotina desafiadora, marcada por tarefas técnicas e, muitas vezes, repetitivas, que vão desde a administração de medicamentos até o auxílio nas atividades básicas de higiene e mobilidade. Todavia, o trabalho de um cuidador formal ou informal vai muito além das obrigações práticas. Ele está constantemente exposto a contextos de vulnerabilidade emocional, tanto do paciente, quanto da família do paciente, e dele próprio. Lidar com o sofrimento, a limitação física, e o peso emocional de ver alguém em uma situação debilitante exige muito mais do que conhecimento técnico – é algo sobre empatia, paciência e, principalmente, a capacidade de enxergar e valorizar a humanidade do outro.

Neste cenário, o filme “Intocáveis” (2011), dirigido por Olivier Nakache e Éric Toledano, se apresenta para nós como uma narrativa envolvente que fala diretamente ao coração. Ele nos apresenta a história real de uma amizade improvável, mas profundamente transformadora, entre Philippe, um aristocrata que ficou tetraplégico após um acidente, e Driss, um jovem da periferia que, ao contrário de qualquer expectativa, se torna seu cuidador.

Philippe, um homem culto e muito rico, encontra-se condicionado a uma cadeira de rodas e à tristeza que veio com a perda de sua autonomia. Afinal de contas, existem muitos mais desafios além da perda dos movimentos de alguém outrora fisicamente capaz, e no contexto de Philippe não é diferente. As demandas emocionais surgem de imediato e evidenciam a nova condição como limitante e desafiadora. Ele se sente desajustado, isolado e desiludido, até que Driss, um ex-presidiário sem qualquer experiência em cuidados de saúde, entra em sua vida. Driss é diferente, desconectado dos padrões e cheio de experiências aos quais moldaram sua forma de se comportar, e com seu jeito irreverente, é o oposto de tudo que Philippe está acostumado. Em dado momento, tantas diferenças soam como um problema – a incompatibilidade do meio é bem expressada diante dos costumes, rotina e hábitos dos dois. Entretanto, esse conjunto de diferenças se torna a base para uma amizade sincera e revitalizante para os dois.

 O que faz de Driss um cuidador especial não é sua habilidade técnica, considerando que ele nem a tinha, mas sua capacidade de enxergar Philippe como um ser humano completo, com desejos, medos e, acima de tudo, um espírito ainda vivo. Este é o papel do cuidador humanizado. Driss não trata Philippe como um doente ou um fardo; ele o trata como um amigo, alguém com quem pode rir, discutir e viver. A abordagem humanizada, cheia de empatia e humor, é o que permite a Philippe redescobrir a alegria de viver, mesmo dentro das limitações que a tetraplegia lhe impõe.

 Uma das cenas mais emblemáticas do filme ocorre quando Driss se recusa a levar Philippe em um carro adaptado, que em muito se parece um carro de carga para pessoas com deficiência. A cena é carregada de simbolismo e revela muito sobre a relação entre os dois personagens. Ao chegar ao veículo, Driss vê o carro de carga que está preparado para transportar Philippe. No entanto, em vez de aceitá-lo como uma solução prática, Driss enfaticamente se recusa a utilizá-lo, argumentando que Philippe merece ser tratado com dignidade e não como um objeto a ser movido de um lugar para outro. Ele decide, então, colocar Philippe em um elegante Maserati, um carro esportivo que, na visão de Driss, corresponde muito mais à personalidade e ao status de Philippe.

                                                                                                                             Fonte: Youtube

Esse momento é carregado de significados por demonstrar a abordagem única e humanizada de Driss. Para ele, Philippe não é apenas um “paciente”, mas um ser humano completo, com desejos e direitos. Driss recusa-se a permitir que Philippe seja definido por sua deficiência ou tratado de forma inferior. Ao colocar Philippe em um carro esportivo, Driss desafia as expectativas convencionais sobre como alguém com uma deficiência deveria ser tratado e insiste em que seu amigo seja visto e tratado como qualquer outra pessoa, com direito a desfrutar dos prazeres da vida, incluindo a experiência de andar em um carro de luxo. A decisão de Driss reflete sua recusa em aceitar a limitação imposta pela sociedade sobre o que uma pessoa com deficiência pode ou não pode fazer. Ele não se contenta em apenas cumprir suas funções como cuidador, ao contrário, busca oferecer a Philippe uma vida rica e digna, plena de experiências significativas. Essa atitude reforça o tema central do filme sobre a importância de ver além das limitações físicas e reconhecer a individualidade e os desejos de cada pessoa.

Ao longo do filme podemos ver ainda Driss desafiando Philippe a se perceber para além de sua condição física. Ele faz piadas, o leva para aventuras e, mais importante, se recusa a sentir pena dele, comportamento percebido por Phillippe como o grande diferencial entre ele e os outros cuidadores. Ao invés de ver apenas as limitações físicas de Philippe, Driss vê o homem que ele realmente é. Essa visão faz toda a diferença no processo de cuidado, por não se tratar apenas de manter o corpo de Philippe saudável, mas de nutrir seu espírito.

“Intocáveis” é uma bela lição sobre a importância do cuidado que vai além do físico. Ele nos lembra que, mais do que qualquer técnica ou formação, o que realmente importa é a conexão humana, a capacidade de tratar o outro com dignidade, respeito e, acima de tudo, amizade. Essa relação entre cuidador e paciente pode ser transformadora para ambos, e o filme nos mostra isso de maneira tocante e genuína.

FICHA TÉCNICA 

INTOCÁVEIS

Título Original: Intouchables (Original)
Direção e Roteiro: Eric Toledano Olivier Nakache


Elenco: François Cluzet; Omar Sy; Alba Gaïa Kraghede Bellugi; Anne Le Ny; Antoine Laurent; Audrey Fleurot; Benjamin Baroche; Caroline Bourg; Christian Ameri; Clotilde Mollet; Cyril Mendy; Dominique Daguier; Dorothée Brière; Emilie Caen; François Bureloup; François Caron; Grégoire Oestermann; Hedi Bouchenafa; Ian Fenelon; Jean François Cayrey; Jérôme Pauwels; Joséphine de Meaux; Marie-Laure Descoureaux; Nicky Marbot; Sylvain Lazard; Thomas Solivéres.

Ano: 2011
Duração: 112 minutos
Classificação: 14 anos

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“Carandiru” sob a perspectiva dos Direitos Humanos

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 O filme “Carandiru”, dirigido por Hector Babenco no ano de 2003 e baseado no livro “Estação Carandiru” de Dráuzio Varella. O filme é baseado no livro “Estação Carandiru” do médico Drauzio Varella, que descreve suas experiências na Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru, uma das maiores prisões da América Latina até sua demolição em 2002, aborda questões profundas relacionadas aos direitos humanos dentro do sistema prisional brasileiro. Carandiru estreou comercialmente nas salas brasileiras em 11 de abril de 2003. Cercado por muitas polêmicas, o filme de Hector Babenco teve uma das maiores bilheterias do cinema nacional: 4,6 milhões de espectadores

(…) ‘Carandiru’ se tornou, aos olhos de muita gente e aos meus também, um filme insatisfatório. É como se faltasse alguma coisa nessa adaptação muito fiel do livro de Dráuzio Varella (Coelho, 2003) 

O filme retrata a vida dentro do presídio, destacando as histórias pessoais dos detentos e as condições precárias enfrentadas por eles, mergulhando nas diferentes realidades dos presos e mostra suas lutas individuais e coletivas dentro do ambiente extremamente violento e opressivo da prisão. A trama segue a rotina dos detentos e aborda suas histórias pessoais, destacando questões como violência, drogas, solidariedade e sobrevivência dentro do presídio. O filme é conhecido por sua abordagem humanista e pela maneira como humaniza os personagens, mostrando suas complexidades e aspirações, apesar das condições extremamente difíceis em que vivem.

Carandiru foi aclamado pela crítica e teve uma recepção positiva do público, sendo um sucesso de bilheteria no Brasil. Ficou conhecido por sua abordagem humanista e pela maneira como retrata as complexidades da vida na prisão, bem como as questões sociais e políticas que a cercam. O filme também foi premiado em várias categorias e festivais de cinema.

Um olhar psicológico desta obra revela detalhes significativos acerca da natureza humana, das dinâmicas de poder e dos impactos da superlotação carcerária. O longa retrata o excesso de presos, as condições precárias de habitação, a brutalidade e a carência de cuidados de saúde apropriados na penitenciária de Carandiru evidenciam a transgressão dos direitos fundamentais dos detentos. A abordagem psicológica revela de que forma tais circunstâncias afetam consideravelmente a saúde mental dos encarcerados, desencadeando tensão, angústia, melancolia e até mesmo episódios psicóticos. 

A hierarquia presente no ambiente carcerário gera uma atmosfera conflituosa e carregada de tensão, levando frequentemente a situações de tratamento desumano aos detentos, o que acaba por intensificar os sentimentos de desespero e abandono.

No filme também é discutida a carência de educação, emprego e lazer para os detentos. Esses elementos são fundamentais para a saúde mental e a reintegração dos presidiários à sociedade, porém, a película Carandiru expõe como esses direitos são muitas vezes ignorados por esse sistema.

A abordagem psicológica também lança luz sobre as histórias únicas dos presos, revelando seus caminhos pessoais, traumas antigos e os efeitos da prisão em sua identidade e autoestima. A ausência de chances de reintegração e de suporte psicológico apropriado dentro do sistema penitenciário intensifica essas questões. 

A interação entre os detentos também é examinada através de uma perspectiva psicológica, pois alianças, rivalidades, conflitos e redes de apoio formadas no cárcere revelam as complicações das relações interpessoais em um ambiente de restrição de liberdade. A violência e os distúrbios apresentados no filme são consequências das tensões acumuladas dentro da prisão, evidenciando como a falta de meios eficazes para resolver conflitos e garantir direitos fundamentais pode resultar em explosões de violência e desespero.

A superlotação das prisões pode levar a condições desumanas de vida para os detentos, incluindo falta de espaço adequado, acesso insuficiente a cuidados de saúde, higiene precária, aumento da violência e dificuldade na implementação eficaz de programas de reabilitação.

Além disso, a superpopulação carcerária pode sobrecarregar o sistema judicial e dificultar a aplicação eficaz da justiça, contribuindo para a perpetuação do ciclo de criminalidade.

Para lidar com esse problema, é necessário adotar abordagens que visem reduzir a superlotação, como investir em alternativas ao encarceramento para certos tipos de crimes, melhorar as condições dentro das prisões existentes, aumentar a eficiência do sistema judicial e promover políticas que abordem as causas subjacentes do crime, como pobreza, desigualdade e falta de acesso a oportunidades.

Essa é uma questão complexa que requer uma abordagem multifacetada e colaborativa envolvendo diferentes setores da sociedade, incluindo governo, instituições penais, organizações da sociedade civil e comunidades locais.

A crítica de que o filme é pretensioso, omisso e pedagógico pode derivar da percepção de que ele não conseguiu capturar totalmente a complexidade e a gravidade das questões enfrentadas no sistema prisional brasileiro. Alguns críticos podem sentir que o filme simplificou demais ou romantizou certos aspectos da vida na prisão, em vez de apresentar uma imagem mais crua e autêntica.

Além disso, a crítica sobre a busca por uma visão mais definidora da sociedade brasileira como potência de expressividade artística sugere que o filme pode ter falhado em explorar plenamente o potencial criativo e artístico para abordar questões sociais complexas de maneira mais profunda e impactante.

“Se sua ideia em relação à “Carandiru” é topar com uma obra-prima, daquelas que ficam na alma, esqueça. Trata-se de um filmaço, sim. Mas sem a grandiosidade essencial que tanto se esperava do cineasta (Fonseca, 2003).”

No entanto, é importante ressaltar que as críticas são parte integrante do debate cultural e artístico, e diferentes pessoas podem interpretar e avaliar uma obra de maneiras distintas. Apesar das críticas, “Carandiru” ainda é amplamente reconhecido como um filme significativo que trouxe à tona importantes questões sociais e ajudou a aumentar a conscientização sobre a realidade do sistema carcerário no Brasil.

É importante ressaltar que essa visão que o filme nos proporciona não é uma tentativa de justificar ou romantizar as ações dos personagens, mas sim de compreender as condições sociais, econômicas e psicológicas que levam às violações dos direitos humanos no sistema prisional.

 Em suma, o Carandiru oferece uma perspectiva complexa sobre os direitos humanos no contexto prisional, mostrando como os problemas psicológicos estão intrinsecamente ligados à violação desses direitos e destacando a necessidade urgente de reforma do sistema prisional. 

 

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Walter, Cinema em Cena, Brasil 2003 – disponível em: https://cinemaemcena.com.br/critica/filme/6706/carandiru

COELHO, Marcelo. O que ficou faltando em “Carandiru”?. Folha de São Paulo. São Paulo, 16 abr. 2003, Ilustrada.

FONSECA, Rodrigo. Um retrato desbotado de vidas em confinamento. São Paulo: Revista de cinema, 2003. Disponível em: www.revista de cinema.com.br. Acesso em: mar. 2024. 

BABENCO, Hector. O cineasta dos sobreviventes. Bravo!. São Paulo: ed. 067, p. 20-33, abr. 2003a. Entrevista concedida a Almir de Freitas e Michel Laub. 

BABENCO, Hector. “Carandiru”. Folha de São Paulo. São Paulo, 11 abr. 2003b, Ilustrada. Entrevista concedida a Silvana Arantes.

BRAGANÇA, Felipe. Carandiru, de Hector Babenco. Revista Contracampo, abr. 2003. Disponível em: http://contracampo.com.br/criticas/carandiru.htm. Acesso em: abr. 2024. 

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“Um marido fiel” – até aonde o amor pode chegar?

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O filme “um marido fiel”, classificado como sendo um drama e suspense, envolve a vida de uma família e um triângulo amoroso. Protagonizado pelos atores, como cônjuges,  Christian (Dar Salim) e Leonora (Sonja Richter), os quais vivem uma vida perfeita, especialmente porque o filho, o qual nascera com uma doença rara e grave, agora aos 17 anos, está curado.

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Em nome do amor, os nubentes juram amor e lealdade para toda a vida, cujo vínculo é pré-estabelecido, um contrato inconsciente. A partir desse vínculo, permite-se o pertencimento de um na vida do outro, a descontinuidade do “eu” para a construção e continuidade entre os “eus”, os cônjuges. São desejos distintos, os quais, se apropriam mutuamente para compartilhar os Egos, agora jungidos.  No estilo do velho jargão, “duas almas em um só corpo ”. O vínculo matrimonial funciona como um pacto, sendo ele quem estrutura e reforça os acordos.

Leonora, uma típica dona de casa, violonista de sucesso que abandonara sua carreira para cuidar do filho e, dedica-se à família, esposa e mãe dedicada. Seu ninho familiar estava perfeito, marido bem sucedido e o filho curado. Tudo em perfeita harmonia.

Christian, o cônjuge varão, um engenheiro, bem sucedido, dono/ sócio com um amigo de uma construtora, onde conhece a arquiteta Xênia (Sus Wilkins), e iniciam um relacionamento extraconjugal. A amante exige que o engenheiro separe da esposa para ficarem juntos. Eivado pelo sentimento sensual, ele confirma que executará o pedido.

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Leonora, sente seu castelo ameaçado, a ameaça da ruptura do pacto e o sentimento afeiçoado ao imaginário da pessoa amada, está sob ameaça de ruir.

Em uma madrugada o esposo recebe uma mensagem, ela pergunta-lhe quem está enviando-lhe mensagem àquela hora, o esposo disfarça e diz ser um amigo. Contudo, o recebimento das mensagens continua. Irritada, Leonora, pede para que ele mostre- lhe as mensagens, no que ele recusa.  A partir desse episódio, ela tem acesso ao celular do esposo e verifica as mensagens, descobrindo que estava mentido, e vivendo um pseudo romance e passa a investiga-lo.

As desconfianças e evidências tornam-se reais, o que eram olhares furtivos em busca de respostas, concretizam suas suspeitas. Durante uma festa da empresa de Christian, em comemoração por um contrato de grande valor, Leonara, segue- o, e flagra -o em conúbio carnal, com a arquiteta Xenia (Sus Wilkins), começa o seu pesadelo e sua obsessão em afastar a mulher que está ameaçando sua família.

Ser abandonada, trocada por outra mulher, não está nos planos de Leonora, principalmente depois de tanta dedicação. Inadmissível, uma vez que, ela desistiu de tudo que lhe era próprio, inclusive de sua carreira, por ele e para dedicar-se e cuidar do filho do casal.  Inicia-se uma pressão para a manutenção do esposo do seu lado, uma realidade experienciada, geralmente pelos casais, a necessidade do ser em estar em um vínculo para constituir-se sua própria identidade como sujeito, a necessidade de juntos para toda a vida.

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Contudo, existe uma linha tênue entre amor e ódio, não raro, esse último sobressai durante uma traição, quando o amor não é mais correspondido e/ou a ameaça de sua desconstrução, a pessoa traída entra em colapso psicológico.

Nesse diapasão, Leonora, eivada pelo sentimento de posse e no desespero da ruptura e o distanciamento de seu objeto de desejo, passa a nutrir pensamentos obsessivos de como destruir o romance extraconjugal, colocando em prática seu plano, para garantir a indissolubilidade do casamento. E, no emaranhado de sentimento de rejeição, abandono e ingratidão do marido, adentra no universo da dependência emocional, e transforma suas emoções em obsessão.

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Diante da materialidade comprovada da traição e a confissão do marido, Leonora, inicia um processo de pressão e ameaças ao esposo, manifestando a intenção em revelar segredos obscuros, uma fraude fiscal que alavancou a empresa. Para ela, é uma luta contra o tempo para preservação de sua família e, vale qualquer artimanha.

O esposo, de igual forma obsessiva e perdido em suas fantasias e, na eminencia em ter expostos seus segredos e a sua imagem arranhada perante à sociedade e à sua amante, bem como, a possibilidade em afastar-se dela, arquiteta a morte de sua esposa, sendo ele o executor do plano, assassinar a mulher em um atropelamento. Seu plano falhou e ele atropela outra mulher da vizinhança. O amor que no pretérito era gozo, passa a ser tormento, ultrapassando a linha da normalidade e razoabilidade.

O objeto de desejo de outrora, trona-se abjeto, indesejado. Agora a satisfação é pela liberdade de não estar, o distanciamento corporal e sentimental.

Leonora, descobre que o marido queria matá-la, e passam a viverem em um ambiente de insegurança psicológica, sem saber quem seria o vitorioso no processo em voga. Individualmente, cada um passa a buscar seus fins para estarem com seu amor.

O marido passa a investigar o passado da esposa e descobre que há suspeitas que ela assassinou o namorado que veio a traí-la. Diante dessa informação, passa também a chantagear a esposa.

As ameaças recíprocas entre os cônjuges, cada um em seu imaginário doentio, em virtude da possível perda de seu desiderato, passa a arquitetar os meios de eliminar os empecilhos que os impedem ou limitam seus gozos.

Partindo do princípio que a relação de objeto é o motor e a matriz do vínculo, melhor unir ao inimigo para sobreviver, e assim, a esposa, atrai, seduz e convence o marido, e expõe todo o plano para assassinar a amante, única forma dela viver livre de tal ameaça.

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O marido parecia indiferente, só ouvia. Há pressupostos que ele estava contemporizando, e no momento oportuno, sairia para não voltar.

Leonora, é a mentora intelectual do crime e, com traços de psicopatia, ordena ao marido que vá à casa da amante, na madrugada e mate-a, tendo o cuidado de  deixar evidências de um arrombamento da casa e morte da mulher.

Contudo o marido segue o plano, porém não consegue executa-lo, a esposa vai até à casa e os vê juntos, preserva seu objeto de desejo e assassina a amante, os dois tornam-se cumplices, talvez o esposo receoso que poderia ser a próxima vítima,  colocaram os restos mortais em uma fogueira, tradição dos dinamarqueses, simbolizando a queima de bruxas, preparada na casa do casal, assim,  nas investigações não encontrariam o corpo.

Nas investigações, a polícia depara com um roubo na casa de Xenia, e esta desapareceu.  Embora, sendo o suspeito principal pelo desaparecimento da amante, por sê-la, funcionária  de sua empresa e fora descoberto que eram amantes, Christian, consegue sair ileso, pelos modus operandi  engendrado por Leonora, livrando-o da condenação criminal.

Após as comemorações, Leonora  e Christian, viajam para um lugar distante com o intuito de desvencilharem dos últimos resquícios da amante e, jogam os ossos em um lago, onde, por certo, nunca serão encontrados. Agora, entrelaçados pelo amor obsessivo dela e pelos liames de um crime. Como contrariar Leonora  e não ser-lhe fiel?

Pode-se dizer , seja Leonora, a vilã do filme, entretanto, em uma análise perfunctória,  não há como defini-la como uma psicopata, possui traços compatíveis à psicopatia, tais, como falta de remorso, egocêntrica, manipuladora, sem empatia, a presença do pensamento binário, tudo ou nada, sem meio termo. Falta a evidência familiar de como fora educada, sua infância e vida conjugal de seus genitores para traçar seu perfil psicológico.

Corroborando neste sentido, Sigmund Freud, diz: “As emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem de piores formas mais tarde.”

FICHA TÉCNICA DO FILME

FILME: Um marido fiel  (Loving Adults)

PRODUTOR:  Marcella Linstad Dichmann

PRODUTOR EXECUTIVO: Lars Bjørn Hansen

ELENCO: Dar Salim, Sonja Richter, Sus Wilkins

 

REFERÊNCIAS

Artigo- Uma Leitura Psicanalítica do Laço Conjugal– Lídia Levy de Alvarenga.

Bate-papo/ “Psicanálise de Casal e Família“, de Rosely Pennacchi e Sonia Thorstensen.

Filme “Um marido fiel  (Loving Adults)– Drama suspense”. NETFLIX.

VARELA, Emílio- Curso de Psicanálise Integrada- Contribuição da Pedagogia e da Psiquiatria. 2016

YouTube- Albangela, C. Machado fala sobre a psicanálise no tratamento dos casais.

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A migração forçada no filme “Avatar: o caminho da água”

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No filme Avatar: O Caminho da Água (2022), o clã Omatikaya é novamente atacado pelos seres humanos, o Povo do Céu, que já havia invadido Pandora em Avatar (2009). Agora, outra vez em perigo, Jake Sully e Neytiri decidem ir embora com sua família buscando proteção em outro clã, o Metkayina.

A situação vivenciada pela família é de destruição do seu lar, perseguição pelo Povo do Céu e constante tensão, inclusive com ameaça direta à vida dos filhos (Neteyam, Lo’ak, Tuktirey e Kiri). Diante disso, Jake propõe que a família parta, gerando conflito com a esposa Neytiri, contudo, temendo a violência, pais e filhos reúnem o que é possível carregar e deixam a floresta rumo ao clã da água.

A motivação da partida lembra o conceito de migração forçada, sendo “o movimento migratório em que existe um elemento de coação, nomeadamente ameaças à vida ou à sobrevivência, quer tenham origem em causas naturais, quer em causas provocadas pelo homem […]” (OIM, 2009).

O filme memora a realidade de mais de 89 milhões de pessoas deslocadas à força por diversos motivos, como perseguição, conflito e violação dos direitos humanos no país de origem (UNHCR, 2021). O temor diante disso leva muitas pessoas a saírem de seus países por não contarem com sua proteção, transformando assim sua condição reconhecida como refugiada, conforme caracteriza o Estatuto dos Refugiados (1951).

Em Avatar (2022), os dois clãs são constituídos por Na’vi, povo habitante de Pandora, cada um com características próprias, como local de moradia (Omatikaya, na floresta; Metkayina, na água), constituição corporal (as caudas e os traços da pele são diferentes), hierarquia (o líder em Metkayina é Tonowari; enquanto Sully era em Omatikaya), espiritualidade, linguagem, cultura, flora e fauna.

Fonte: https://youtu.be/o5F8MOz_IDw

Quando os Sullys, denominação que a família atribui a si mesma, chegam em Metkayina são observados pelo povo local com aparente curiosidade e desconfiança. Um círculo se forma em volta deles até que o líder do clã, Tonowari, decida sobre a permanência ou não da família. Enquanto a decisão é tomada, outros Na’vi se aproximam, riem de sua constituição corporal e tecem comentários sobre eles, como a aparência dos recém-chegados, característica de discriminação. Nesse mesmo instante, outro fato da história familiar é evidenciado, os Sullys são considerados mestiços, pois são fruto da união do avatar Jake com Neytiri, Na’vi.

Após autorização de Tonowari, é atribuído a seus filhos (Tsireya, Ao’nung e Rotxo) que apresentem o modo de vida dos Metkayina aos filhos de Sully e Neytiri, igualmente os adultos fazem o mesmo. Com um local para ficar, a família e o povo do lugar possuem o desafio comum de se adaptarem a nova configuração social.

O processo de mudança cultural no qual os indivíduos são ressocializados é chamado de aculturação psicológica, termo de autoria do pesquisador Graves e mencionado por Sylvia Dantas (2017). O contato com o novo e o que deriva dele causam o estresse de aculturação, conforme relata Sylvia com base nos estudos de psicologia intercultural, e entre seus efeitos estão o sentimento de marginalização e a confusão identitária.

No filme, é possível notar dois exemplos dos efeitos citados acima. Apesar de ambos já apresentarem sinais antes da migração, são acentuados por ela: o filho mais novo Lo’ak, ao se identificar com a história de exclusão de Payakan pelos tulkun; e a filha adotiva Kiri, quando pergunta o porquê de ser daquela forma depois de não compreender o que está acontecendo com si mesma e também por outros adolescentes a acharem esquisita.

Fonte: https://www.20thcenturystudios.com/movies/avatar-the-way-of-water

Além da adaptação aos novos costumes, os adultos passam pelo desafio da mobilidade de hierarquia (antes líder do seu povo, agora Sully é refugiado) e educação dos filhos (repreendidos também pelo chefe do clã, e não somente pelos pais).

Os adolescentes sofrem bullying, são chamados de esquisitos, são motivos de riso e, pela necessidade de se sentirem aceitos, topam desafios inseguros. Os adultos precisam intervir em alguns momentos, mas conforme as relações vão se desenvolvendo, os conflitos diminuem e começa uma aproximação quando eles mesmos percebem similaridades, por exemplo: ambos precisam lidar com a responsabilidade e as expectativas de serem filhos de lideranças; e a maioria deles, exceto Tuk, está na adolescência, construindo sua própria identidade e em conflito com algumas funções atribuídas aos papéis desempenhados na família.

Diante disso, Dantas (2017) diz que existem condições mediadoras entre a aculturação e o estresse. No filme, mesmo enfrentando momentos causadores de estresse, a família tem acesso à moradia, são apresentados aos costumes, tem acesso à saúde (Kiri passa por uma convulsão e é assistida por Ronal) e meios de locomoção (os ilus) são disponibilizados para todos. Nesse sentido, é o que também estabelece a Declaração Universal dos Direitos Humanos no artigo 25º: “Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários […]”.

Fonte: https://www.20thcenturystudios.com/movies/avatar-the-way-of-water

Durante todo o filme, acompanhamos a adaptação dos Sully a nova cultura, devido a migração forçada e a condição de refugiados, somada ao desafio de enfrentarem as complexidades do desenvolvimento de cada membro da família, além dela mesma enquanto um grupo com história.

Fonte: https://www.20thcenturystudios.com/movies/avatar-the-way-of-water

Ficha técnica:

Avatar: O Caminho da Água

Título original: Avatar: The Way of Water

Diretor: James Cameron

Produtores: James Cameron, Jon Landau

Elenco: Sam Worthington (Jake Sully), Zoe Saldaña (Neytiri), Stephen Lang (Coronel Miles Quaritch), Sigourney Weaver (Kiri), Kate Winslet (Ronal), Cliff Curtis (Tonowari), Jamie Flatters (Neteyam), Britain Dalton (Lo’ak), Trinity Jo-Li Bliss (Tuk), Bailey Bass (Tsireya), Filip Geljo (Aonung), Duane Evans Jr. (Rotxo), CCH Pounder (Mo’at), Jack Champion (Spider).

País: Estados Unidos

Ano: 2022

Gênero: Aventura

Referências:

AVATAR: The Way of Water. Direção: James Cameron. Produção de 20th Century Studios. Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures. 2022.

DANTAS, S. Saúde mental, interculturalidade e imigração. Revista USP, [S. l.], n. 114, p. 55-70, 2017. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.v0i114p55-70. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/142368. Acesso em: 6 fev. 2023.

Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: https://www.ohchr.org/sites/default/files/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf Acesso em: 11 fev. 2023.

Estatuto dos Refugiados. Disponível em: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BDL/Convencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugiados.pdf Acesso em: 9 fev. 2023.

OIM. Organização Internacional para as Migrações. Glossário sobre migração, 2009. Disponível em: https://publications.iom.int/system/files/pdf/iml22.pdf. Acesso em: 6 fev. 2023.

UNHCR. Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Dados sobre refúgio, 2021. Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/

Acesso em: 9 fev. 2023.

 

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Sete Crimes Capitais: a psicopatia de um criminoso astuto

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Filmes policiais sempre são aclamados pelo público em geral da cultura cinematográfica. Abordar a trama violenta, investigativa, psicológica e até cômica deste universo é sempre possível e aproveitável.

É inegável a fonte quase inesgotável de conteúdos que podem ser aproveitados por este gênero, principalmente dada a capacidade humana de sempre inovar e acentuar os piores traços de um indivíduo de mente perturbada.

Filmes desse gênero que abordam temas específicos como canibalismo (já sabem de qual estou falando, né?) ou psicopatia, são sempre aguardados com grande euforia pelo público e não poderia ter sido diferente com o clássico dos anos 1995, Sete Crimes Capitais (Seven), dirigido por David Fincher e roteirizado pelo incrível Andrew Kevin Walker.

O filme, que na tradução do título entregou boa parte da trama, discorre sobre um assassino em série, com fortes traços de psicopatia que possui um modus operandi peculiar, por assim dizer. Seus crimes e suas vítimas são escolhidas especificamente para identificar e classificar cada um dos conhecidos sete pecados capitais.

O filme tem como personagens principais o policial novato David Mills (Brad Pitt) e o veterano William Somerset (Morgan Freeman). William, um policial próximo de sua aposentadoria se torna parceiro do jovem e impetuoso David na investigação de uma série de crimes que tem ocorrido na cidade, cometidos pelo impetuoso John Doe (Kevin Spacey).

Fonte: Divulgação Prime Vídeo

Como descrito no texto Seven, “os sete crimes capitais” de David Fincher, a mente do psicopata, de Mercês Muribeca, publicado em 2008, John é uma pessoa que não apresenta indícios de sociabilidade, sendo considerado como portador de um Transtorno de Personalidade Antissocial que, pela Classificação Internacional de Doenças (CID) é identificado com o CID 10 F60.

Uma pessoa portadora deste Transtorno não necessariamente será um assassino frio e calculista, porém, a junção com outros transtornos, traumas e distúrbios criam a “formula perfeita” de um Assassino em Série sagaz como John.

A intelectualidade de John não é ignorada, assim como seu modo de operação é definido pelos pecados capitais, a escolha das vítimas e a execução dos crimes, tudo possui um significado intrínseco.

Os crimes são cometidos na seguinte ordem: Gula; Cobiça; Preguiça; Luxúria; Vaidade; Inveja e, por fim; Ira. A cadeia de eventos que se arrasta do primeiro ao último assassinato investigado apresenta a mente doentia de John para os policiais e para o público.

A trama principal do filme é desenvolvida após a quinta morte cometida por John. Ao se entregar para a polícia e informar que já possuía os corpos das vítimas que seriam utilizadas para cometer os últimos dois crimes (Inveja e Ira).

Fonte: Divulgação Prime Vídeo

Tudo ocorre repentinamente e cria uma atmosfera sombria e intensa onde todos os poros dos personagens transpiram o furor das emoções presenciadas. Em um ato cruel, John ceifou a vida da esposa do policial Mills, decapitando-a e, cruelmente, entregando a cabeça de sua falecida esposa para o agora viúvo policial.

John explica que cometeu o Pecado da Inveja, por invejar a vida do Policial Mills, principalmente por saber que este seria pai. Apesar de insano, o psicopata já havia se premeditado para aquele momento, pois, ao final, escolhera Mills para ser o executor do Pecado da Ira ao criar neste um turbilhão de emoções relacionadas ao Luto, perda, dor, ódio, rancor, insignificância. Tudo isso para preparar o campo ideal e Mills executar o último dos crimes.

Mills se vê diante de uma dúvida mortal, impedir a “conclusão da obra” do assassino ou vingar a perda de sua esposa e filho. O parceiro de Mills tenta dissuadi-lo de sua Ira, porém, John havia sido mais astuto e criado o cenário ideal para o desfecho perfeito de suas atrocidades e acaba sendo morto pelo policial Mills que não consegue controlar a Ira que residia em seu corpo.

O filme traz diversas mensagens que podem ser aproveitadas e estudadas até os tempos atuais. O clássico nunca será esquecido e criou um marco na história dos filmes do gênero policial dada a complexidade e riqueza do roteiro que é apresentado. A atuação dos atores é impecável, mostrando uma fidedignidade e realismo na incorporação dos personagens.

Título: Se7en (Original)

Ano produção: 1995

Dirigido por: David Fincher

Duração: 130 minutos

Classificação: 14 anos

Gênero: Policial/Suspense

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

PENALVA, Nanna. Análise | Seven – os sete crimes capitais. Disponível em https://sessaodastres.wordpress.com/2018/10/29/analise-seven-os-sete-crimes-capitais/. acessado em 01 jun 2022.

MURIBECA, Mercês. Seven, “os sete crimes capitais” de David Fincher: a mente do psicopata. Cogito, Salvador, v. 9, p. 77-81, 2008. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-94792008000100017&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  08  jun.  2022.

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Uma Mente Brilhante – quando a loucura inspira a genialidade

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Muitas figuras da história da humanidade que mudaram o curso social com descobertas, invenções, ou mesmo criando arte, possuíam algum tipo de transtorno ou distúrbio mental que foi adquirido ou herdado e desenvolvimento no ambiente que se cercava.

Várias destas personalidades já serviram de conteúdo para criação de obras cinematográficas que narraram suas histórias mostrando um pouco de suas contribuições para a sociedade e características particulares de cada indivíduo.

Alan Turing é um dos recentes exemplos de pessoas que mudaram os rumos da humanidade, mas que em sua vida particular possuía condições que não eram bem vistas (até mesmo consideradas crimes) pela sociedade.

Assim como a homossexualidade de Turing, famosos possuem características peculiares, doenças e transtornos como todo ser humano é passível de sofrer. Isso não foi diferente com o matemático John Nash que além de grande estudioso era esquizofrênico.

Fonte: encurtador.com.br/goFGW

Nash teve sua história de vida narrada no filme Uma Mente Brilhante (2001), dirigido por Ron Howard. O filme narra o início da vida de John (Russell Crowe), com suas descobertas brilhantes que são atrapalhadas pelos seus comportamentos controversos.

Quando ainda não possuía o diagnóstico de sua esquizofrenia, Nash era considerado como insano, muitas vezes até tido como louco, por ser incompreendido, acabara sendo afastado do meio em que atuava. Somente após anos de tratamento é que consegue dar a volta por cima e retornar à sociedade e conquistar o tão sonhado prêmio Nobel.

A esquizofrenia representada no filme é uma expressão fiel do que a maioria dos portadores desta doença têm de conviver constantemente. Os episódios de psicose e alucinações, quando não tratados e medicamentados, são frequentes nos portadores da esquizofrenia, mas, assim como outros indivíduos que são considerados gênios em suas respectivas áreas, tal doença é tida como um fator crucial para sua visão única do mundo, assim como foi com Van Gogh que teve o reconhecimento de sua genialidade post mortem.

O esquizofrênico é um ser normal que possui condições cerebrais distintas de um indivíduo considerado comum, o homem médio, porém, somente será um risco social ou para si quando não diagnosticada ou não houver o respectivo acompanhamento médico.

Título: A Beautiful Mind (Original)

Ano produção: 2001

Dirigido por: Ron Howard

Duração: 134 minutos

Classificação: 12 anos

Gênero: Drama

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

CAIXETA, C. A. D.; NOGUEIRA, E. M.; SABIÃO, R. M. ANÁLISE DO FILME UMA MENTE BRILHANTE: as perturbações da esquizofrenia. Psicologia e Saúde em debate[S. l.], v. 5, n. Suppl.1, p. 6–6, 2019. Disponível em: http://psicodebate.dpgpsifpm.com.br/index.php/periodico/article/view/483. Acesso em: 14 jun. 2022.

Silva, Regina Cláudia Barbosa da. Esquizofrenia: uma revisão. Psicologia USP [online]. 2006, v. 17, n. 4 [Acessado 14 Junho 2022] , pp. 263-285. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000400014>. Epub 30 Set 2010. ISSN 1678-5177. https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000400014.

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