Família Sistêmica: visão de diversos autores

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Vários autores desenvolveram teorias para compreender o contexto do sistema familiar, entre eles, vale ressaltar a terapia familiar boweniana. Bower desenvolveu a teoria a partir dos princípios e práticas psicanalíticas. Essa teoria compreende o comportamento humano de forma mais ampla, estendendo o enfoque além de outras abordagens de forma mais aprofundada. E assim moldou e continua a moldar o contexto familiar (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998).

Nichols e Schwartz (1998) apontam que Bower foi o terapeuta familiar que mais esteve comprometido não apenas como método, mas procurando focar mais na teoria do que na técnica. Nesse sentido, Bower elaborou alguns conceitos que compõem sua teoria: diferenciação do self, triângulos, processos emocionais da família nuclear, processo de projeção familiar, processo de transmissão multidirecional e posição dos irmãos, rompimento emocional e processo emocional societário (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998). O objetivo da teoria de Bower é: “reduzir a ansiedade e aumentar a diferenciação do self – nada mais persistente” (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 323).

Fonte: http://zip.net/bqtLsR

Outro fator enfatizado, na teoria Sistêmica, pelas autoras Strey e Azambuja (2004), é que toda família tem suas histórias e segredos que se repetem de geração em geração. Histórias de amor, de dor, de conflito. E muitas vezes essas histórias devem ser preservadas apenas para os membros já outras podem serem expostas para a sociedade. No entanto, é importante que as situações negativas possam ser expostas, não para dar continuidade, mas para que sejam de uma vez por todas rompidas. É o caso das violências na família.

Nesse ínterim, a violência propriamente dita realizada com meninas, geralmente acontece por parte da figura paterna, seja ela sexual, corporal e/ou psicológica. Outro fator identificado é que a mãe, nessas circunstâncias, geralmente permite tal ação, e investigando mais a fundo, percebe-se que essa mesma violência ocorrera, também, com essa mãe. E essa violência oculta da mãe, só vem à tona, após o acontecimento com a filha. E assim elas não sabem lidar com a situação que se repete. Desse modo entende-se tal ação como a: transmissão transgeracional (STREY; AZAMBUJA, 2004).

Fonte: http://zip.net/bytKXt

A terapia sistêmica se baseia em conceitos normativos da família tradicional. Sendo assim, tal teoria ignora a visão de gênero e reforça o sentido de que o homem é predominante sobre o restante do grupo familiar. A teoria feminista, por sua vez, é uma crítica sobre esse ponto de vista da teoria sistêmica, pois ela defende a ideia oposta de que homens e mulheres devem estar estereotipados em seus papéis de gênero (STREY; AZAMBUJA, 2004).

O feminismo enquanto movimento histórico e político que ressurge nas décadas de 60 e 70, nos Estados Unidos, percebe-se como filosofia que reconhece que homens e mulher tem experiências diferentes. Denuncia, no entanto, que a experiência masculina é privilegiada, enquanto a feminina é muitas vezes negligenciada. O feminismo assinala as desigualdades entre homens e mulheres, escancarando as formas de opressão e os mecanismos de ocultamento das mesmas (STREY; AZAMBUJA, 2004, p. 154).

Fonte: http://zip.net/bdtKZn

Desse modo, concluem-se alguns pontos que desvelam as violências dentro da família. É marcado pelo autoritarismo que leva a compreensão de que o homem tem direitos sobre a mulher, e ela deve se submeter a isso, e mesmo com todas as mudanças da atualidade, ainda, é possível acontecer essa situação nas famílias, principalmente naquelas de baixa renda. E é essa prevalência histórica que faz com que a dominação do homem se sobreponha sobre a passividade da mulher, e a mesma se vê na obrigatoriedade de se submeter ao autoritarismo. E essa atitude histórica, em algumas famílias podem ser passadas de geração em geração, tonando-se um círculo vicioso (STREY; AZAMBUJA, 2004).

Vale destacar que a família é acompanhada de estágios que variam de acordo com a idade cronológica de seus membros. E o estresse familiar tendem a serem maiores nos pontos de transição desses estágios e, geralmente, os sintomas aparecem quando há interrupção no ciclo de vida familiar (CARTER, 1995)

Nesse ínterim, a autora considera o ciclo de vida familiar em relação a três aspectos, tais quais:

(1) os estágios predizíveis de desenvolvimento familiar “normal” na tradicional classe média americana, conforme nos aproximamos no final do século XX, e as típicas disputas clínicas quando as famílias têm problemas para negociar essas transições; (2) os padrões do ciclo de vida familiar que estão se modificando em nossa época e as mudanças naquilo que é considerado “normal”; e (3) uma perspectiva clínica que vê a terapia como ajudando as famílias que descarrilaram no ciclo de vida familiar a voltarem à sua trilha desenvolvimental, e que convida você, terapeuta, a incluir-se, e a seu próprio estágio de ciclo de vida, nesta equação (CARTER, 1995, p. 8).

Fonte: http://zip.net/bhtKDG

Outra importante teoria utilizada, na perspectiva sistêmica, é a teoria do apego, criada por John Bowlby teve início a partir da observação de comportamento, tendo como ponto de partida a teoria das relações objetais. Bowlby (1979/1997, apud RAMIRES; SCHNEIDER, 2010) define o apego como um vínculo em que a pessoa deposita total segurança em uma figura de apego, tendo a mesma como uma base segura.

O autor aponta, ainda, que:

“Como outros sistemas básicos, o de apego é supostamente pertencente a um processo de seleção natural, pois oferece uma vantagem em termos de sobrevivência, pelas chances de proteção obtidas pela proximidade das figuras de apego” (RAMIRES; SCHNEIDER, 2010, p. 26).

Martins-Silva et. al. (2003) afirmam que a teoria “se baseia na proposição de que a evolução da espécie humana equipou o ser humano com vários sistemas de comportamentos que aumentam a possibilidade de sobrevivência e o sucesso reprodutivo” (p. 23). Em consonância a isso, Bowlby (2002 apud MARTINS-SILVA et. al., 2003), revela que o sistema de apego é de extrema importância, pois permite bom desenvolvimento em outras áreas, tendo em vista que o apego promove a ligação do bebê com o cuidador, esse que lhe proporcionará segurança e proteção.

Fonte: http://zip.net/bmtKkD

A função dessa teoria é basicamente a relação de proteção da mãe-bebê, permitindo que a criança explore seu ambiente. E essa busca física procurada na mãe pelo bebê surge a partir do seu primeiro ano de vida permanecendo durante boa parte da infância (BOWLBY, 1969/1990 apud PONTES et. al., 2007).

Bowlby (1969/1990 apud PONTES et. al., 2007) destaca dois modelos de apego: seguro e inseguro. No apego seguro, o autor aponta que, quando ele é desenvolvido, resulta em aspectos de valorização, autoestima e boas expectativas. No apego inseguro possivelmente resultará reações de insegurança e desvalorização, seguidos de alguns comportamentos como raiva e agressão.

Mantelli e Pinheiro (2011) apontam que as relações íntimas são formadas pela proximidade física, formação essa que foi criada anteriormente no apego. Ou seja, dependendo do jeito como foi formado o apego, haverá influencia no relacionamento afetivo.

Apesar da busca de proximidade no adulto ser diferente e mais complexa que na criança, ela é similar e é facilitada pelo contato físico íntimo nos dois momentos do ciclo de vida (SHAVER, et. al., 1988 apud MANTELLI; PINHEIRO 2011).

Nesse sentido, Rodrigues (2009) ressalta que quando a pessoa torna-se adulta transfere esse apego para outra pessoa, seja um amigo ou parceiro afetivo, e nessa pessoa ela encontra seu novo apego. O autor também enfatiza que há evidências de que pessoas que desenvolveram o apego seguro, tem maior facilidade em desenvolver seus talentos e reconhecer suas habilidades, ou seja, as experiências de um apego seguro na infância resultam no apego das relações adultas.

Fonte: http://zip.net/bdtKZm

Percebe-se que há um vasto modo de explicar e compreender o sistema familiar por meio da perspectiva sistêmica, pois a mesma adere a diversas teorias e suas respectivas técnicas tendo como objetivo amenizar as tensões causadas por uma série de conflitos não resolvidos no seio familiar. Tensões essas que são geradoras de patologias e/ou transtornos que impedem o indivíduo de seguir uma vida tranquila e harmoniosa.

Referências:

CARTER, Betty. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia 73 familiar. Tradução; Maria Adriana Verissimo Veronese. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 1995.

MARTINS-SILVA, Priscilla de Oliveira; TRINDADE, Zeidi Araújo and SILVA JUNIOR, Annor da. Teorias sobre o amor no campo da Psicologia Social. Psicol. cienc. prof. [online]. 2013, vol.33, n.1, pp.16-31. ISSN 1414-9893.  http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932013000100003. Acesso em: 29 de agosto 2016.

MANTELLI, Fernanda Lima; PINHEIRO, Maria Cristina Souza Mota. Apego nas relações intimas entre adultos: Uma visão Teórica. TCC (Graduação) – Curso de Psicologia, Faculdade Ruy Barbosa. Salvador, 2011.

NICHOLS, Michael P; SCHWARTZ, Richard C. Terapia familiar: Conceitos e Métodos. Porto Alegre: Artmend, 1° Ed. 1998.

PONTES, Fernando Augusto Ramos, et. al. Teoria do apego: elementos para uma concepção sistêmica da vinculação humana. Aletheia, n.26, p.67-79, jul./dez. 2007. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n26/n26a07.pdf. Acesso em: 14 de Setembro, 2016.

RAMIRES, Vera Regina Röhnelt; SCHNEIDER, Michele Scheffel. Revisitando alguns Conceitos da Teoria do Apego: Comportamento versus Representação?. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Rio Grande do Sul, Vol. 26 n. 1, pp. 25-33, jan. 2010.

STREY, Marlene Neves; AZAMBUJA, Mariana Porto; JAEGER Fernanda Pires. Violência, gênero e políticas públicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

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Moonlight: sob a luz de Narciso – Parte 1

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Com oito indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Diretor (Barry Jenkins), Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Melhor Atriz Coadjuvante (Naomie Harris), Melhor Roteiro Adaptado (Barry Jenkins), Melhor Fotografia (James Laxton), Melhor Edição ( Joi McMillon e Nat Sanders), Melhor Trilha Sonora (Nicholas Britell).

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Um garotinho calado e acuado, Chiron é o protagonista que ocupa a tela do início ao fim fazendo o silêncio falar mais que a voz. O olhar tímido denuncia sua fragilidade nos três atos do filme: 1. Little, 2. Chiron e 3. Black, onde são mostradas as fases infantil, jovem e adulta do personagem, numa evolução que o leva de um menino franzino, que sofre bullying por sua personalidade quieta e introspectiva, à um homem forte fisicamente e temido. Mesmo com a transformação de sua imagem e de seu comportamento frente ao mundo, internamente, Chiron é o mesmo do início ao fim.

Little

Little – “Ele sabe se virar”

O pai desconhecido (ausente) e a mãe usuária de crack, que se prostitui para manter o vício, ajudam a entender o pano de fundo que atua na constituição do personagem, que em sua timidez revela uma profunda falha narcísica. A solidão de Chiron fica clara desde a primeira cena, quando é perseguido por um grupo de garotos. Nessa ocasião, ele dorme fora de casa e só retorna no dia seguinte. A reação da mãe é de uma preocupação superficial, ela demonstra um certo carinho pelo filho, repreende-o por não cumprir o horário, mas ao mesmo tempo diz que, “geralmente, ele sabe se virar”.

No decorrer da história percebe-se como essa condição de “se virar” foi estabelecida na vida do pequeno. Do início ao fim, fica clara a quase invisibilidade da criança dentro de casa. A mãe se preocupa mais consigo mesma e com a manutenção de seu vício que com o filho, sua personalidade narcisista afeta Little. O senso comum nos acostumou a pensar no narcisista como alguém com autoestima elevada, até mesmo exibicionista, mas, não é assim. O próprio vício[I] denota traços narcisista à medida em que o usuário busca nesse objeto externo a sensação de onipotência (pode tudo), onipresença (é notado por todos), onisciência (sabe de tudo e por isso pode). O vício em si não está tão relacionado à substância quanto à condição psíquica do indivíduo, e nesse ponto até mesmo abordagens psicológicas divergentes encontram um ponto em comum.

Paula: uma mãe narcisista
Paula: uma mãe narcisista

Mães narcisistas podem assumir duas posições extremas, ser super protetoras porque veem os filhos como uma extensão de si mesma, alguém cuja existência é em função da realização de seus desejos; ou podem ser totalmente negligentes e, na dificuldade em assumir sua responsabilidade materna, exigem que os filhos desde cedo resolvam seus próprios conflitos, sejam independentes e saibam se virar sem elas. Tal situação fica evidente na família de Chiron, uma criança em uma relação invertida, que não encontra na mãe a segurança necessária para estabelecer um apego seguro[II]. Em consequência da ausência/rejeição dos pais, esse tipo de criança desenvolve a auto sabotagem, uma fácil desistência e a evitação de relações com crianças da mesma idade.

Na escola, Chiron tem apenas um amigo, mas não é ele quem procura o relacionamento e sim a outra criança, Kev. O que se percebe em relação a Chiron é uma indiferença aos seus iguais, a quem ele evita constantemente, afinal só servem para persegui-lo. O desinteresse de Chiron pela a vida denota a forte prevalência da pulsão de morte. Quando seus colegas competem sobre o tamanho do pênis no banheiro, ele só participa por ter chegado ocasionalmente, mas não demonstra qualquer entusiasmo com a situação, como é comum aos garotos de sua idade. O silêncio de Chiron grita, sua cabeça baixa e seu olhar evitante, a ausência de sua voz e sua inexpressividade entre o momento mais entusiasmante e o mais amedrontador denuncia sua dificuldade em lidar com as emoções. Nesse momento percebemos o reflexo do narcisismo da mãe no filho.

O narcisismo, como no próprio mito, diz respeito ao reconhecer-se, enxergar-se no espelho e perceber-se como um todo, e o primeiro reflexo de si mesmo não vem de outro lugar senão do olhar da mãe. Mendonça[III] descreve bem esse primeiro momento quando diz que é “pelo olhar do outro, especialmente este outro materno que encarna todas as nossas possibilidades de satisfação, prazer e segurança, que aprendemos a saber quem somos. Se o olhar deste Outro brilha por nós e se em algum momento pudermos nos sentir capazes de preencher este Outro de alegria, estaremos constituindo nosso amor próprio, aprendendo a ler no espelho do olhar do Outro, que nossa existência vale a pena e tem um sentido, nem que este sentido seja, num primeiro momento, preencher os anseios deste outro que significa tudo para nós, condição mesma de nossa existência.”

Moonlight: Paula
Moonlight: Paula

Se esse olhar foi indiferente, evitante, rejeitante, essa criança terá problemas em expressar outras emoções que não tenham sido apreendidas nas expressões da própria mãe. Alguém que não tenha sido suficientemente estimado também não encontrará condições para orgulhar-se de si mesmo e, consequentemente, não terá o ânimo requerido para enfrentar os desafios da vida. E por isso Little corre, foge, esconde-se, esquiva-se, de tudo e de todos.

Uma terceira pessoa, fundamental neste processo e ausente na vida desse pequeno, é aquela que exerceria a função paterna, cuja responsabilidade é a de ajudar a criança, ainda na tenra infância, a separar-se da mãe e estabelecer outros laços sociais. O pequeno, “Little”, é portante alguém que não recebeu afeto suficiente da mãe e também não conseguiu diferenciar seus desejos dela, ficando fixado em uma posição onde aguarda pelo desejo do outro, pelo amor do outro, pela iniciativa do outro para que possa sentir-se alguém. É por isso que, mesmo tendo em Kev um amigo, ele não o busca, apenas é buscado por ele vez ou outra.

Little e Kev
Little e Kev

Little não se viu capaz de satisfazer a mãe e por isso não se acha capaz de ser desejado por mais ninguém, não acredita ser capaz de completar outra pessoa, nem mesmo identifica sua própria necessidade de um outro que lhe complemente. Afinal, desde o início, ele foi alguém obrigado a “se virar” sozinho, que não encontrou em seu primeiro amor uma resposta afetiva que lhe mostrasse que ele a complementasse, que ela precisasse dele e ele dela. Little também não teve uma figura paterna para estabelecer limites entre ele e a mãe e lhe mostrar que existem outros amores e formas de amar possíveis, e que ele mesmo é capaz de conquistá-los.

Little encontra outras pessoas que se importam com ele, mesmo assim, se mantém indiferente. Encontra um pouco mais de afeto, diálogo e escuta de suas aflições. Por ser uma criança tímida ele sofre bullying dos colegas que o chamam de “boiola”, expressão que ele não sabe o que significa. Sua indiferença para com a vida é tamanha que não o permite desenvolver interesse para com a própria sexualidade, mesmo tendo a casa cheia de homens com quem sua mãe se prostitui para manter o vício. Little demonstra o tempo inteiro uma indiferença para com a própria libido, investindo-a em si mesmo em vez de buscar objetos externos.

Juan e Teresa são personagens que se aproximam do garoto e lhe fornecem afeto e uma possibilidade de segurança, mesmo assim, não conseguem curar a ferida aberta pela mãe. Juan, um traficante, e sua namorada são quem fornecem abrigo nas fugas, alimento e dinheiro. É Juan quem o leva para passear, lhe proporciona momentos de lazer e o ensina sobre os desafios da vida.  A mãe não se agrada da relação entre eles, sente ciúmes do filho, mas por outro lado não demonstra o amor do qual ele necessita, que se manifestaria com o cuidado e não apenas com palavras ou sentimento de posse.

Little e Juan
Little e Juan

Em certo momento ela confronta Juan e pergunta se ele assumiria o cuidado por Chiron, insinuando que o filho tem tendências homossexuais pelo jeito como se comporta. Mas não é ela quem orienta o filho, e sim Juan. Apesar da afirmação materna, o que fica mais evidente em Little é um total desinvestimento da sexualidade e da própria vida. Ele apenas se preocupa sobre o que é ser “boiola”, e apresenta um primeiro questionamento a cerca de si mesmo e do que ele seria, por causa do confronto dos colegas da escola.

É possível que, pelo estilo de vida da mãe, ele tenha vivenciado precocemente situações que podem ter sido traumáticas em relação ao ato sexual. Tal possibilidade aparece na cena da mãe gritando à porta do quarto: “não olhe para mim”, cena esta que se repete ao longo do filme e com a qual Chiron tem pesadelos. A eloquente frase também remete à rejeição da mãe ainda na primeira infância, quando o filho procura em seu olhar o significado de si mesmo.

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Voltando ao ato sexual, a visualização, ou mesmo a fantasia de uma criança sobre este pode implicar em diversas consequências na maneira com que uma pessoa irá significar a própria sexualidade, sobre isto vale a pena ler História de uma neurose infantil “O homem dos lobos”, caso tratado por Freud[IV] e que, apesar de ser bem diferente da situação vivenciada por Chiron, pode ser tomado como referência no que diz respeito às consequências advindas de uma possível visualização da mãe no ato sexual e o desenvolvimento de um Édipo invertido. Mas isto é apenas uma sugestão complementar, já que aqui nos propusemos a tratar mais da questão narcisista envolvendo a mãe e o filho, apesar desta não estar desconectada do Complexo de Édipo.

Leia Moonlight – Sob a Luz de Narciso – Parte 1

REFERÊNCIAS:

[I] ZIDAN, Paloma Mendes; ROCHA, Raquel Vasques da. Trauma e fragilidade narcísica nas adicções. Analytica,  São João del Rei ,  v. 3, n. 5, p. 72-100, dez.  2014 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2316-51972014000200005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  18  fev.  2017.

[II] BOWLBY, John. Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo-SP: Martins Fontes, 2001.

[III] MENDONÇA, Terezinha. Narcisismo de vida ou de morte: Amor próprio ou impróprio? Disponível em: <http://www.iecomplex.com.br/textos/Correio%20do%20Norte.htm>.

[IV] Freud, S. (1918 [1914]/2010). História de uma neurose infantil (“O homem dos lobos”). Obras completas, v. XIV. São Paulo: Companhia das Letras.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

moonlight-cartaz

MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR

Diretor: Barry Jenkins
Elenco: Alex Hibbert, Ashton Sanders, Trevante Rhodes, Naomie Harris, Mahershala Ali
País: EUA
Ano: 2016
Classificação: 14

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