Recente edição do Psicologia em Debate foi embasada no livro de Zimerman, “Manual de Técnica Psicanalítica”, mas especifico no capitulo sobre o vínculo tantalizante. Este estaria baseado em dois tipos de personagens: um dominador-sedutor e um dominado-seduzido. Com relação ao dominador-sedutor, o autor traz que ele é incapaz de estabelecer uma união estável por alegar não conseguir gostar de ninguém.
Apresenta também atitudes inconstantes em relação ao compromisso amoroso, como por exemplo, ele não se separa da pessoa, mas também não estabelece uma relação fixa/séria. Enquanto o dominado-seduzido irá aceitar ficar nessa relação incerta, aceita o papel de ficar na reserva/excluída. Não consegue ter posições definidas e assim fica em um dilema: o lado que deseja fugir daquele “romance” e o lado que está intimamente em conluio/negociação – inconsciente – com o dominador.
Fonte: http://zip.net/bhtJtH
Em uma relação nessa configuração, observar-se-ão quatro tipos de vínculos, de acordo com o autor. O primeiro é o de Domínio, onde o individuo se apropria do outro e desconsidera as suas questões internas, não aceita a liberdade do outro, pega para si os desejos do outro, abolindo suas diferenças e sua autonomia (esquecendo-se de quem se é). O segundo é o de Apoderamento, em que o dominador acredita ter poder e posse TOTAL em relação ao corpo/mente/espirito do outro, porque dessa forma, ter poder sobre o outro é a melhor forma de consegui-lo para si.
Além de que, para uma pessoa que apresenta tal tipo de comportamento, é uma forma de estar seguro contra o desamparo, para que o dominado nunca pense em abandoná-lo, visto que toda essa vivacidade e atitude “firme” do dominador é uma forma de esconder seu completo vazio interior. Tanto ele, quando o dominado, apresentam esse vazio – vazios diferentes -, e acabam por buscar no outro o que lhe falta e vice-versa.
“Ninguém jamais te amará tanto quanto eu.” Fonte: http://zip.net/bftJhs
O terceiro vínculo é o de Sedução, o dominador, aqui, busca despertar um deslumbramento no seduzido seja de ordem física, intelectual, retórica e/ou econômica. Promete ao outro uma vida completa, e só ele (sedutor) será capaz de lhe proporcionar tal completude. E o por fim, o vínculo tantalizante, que seu conceito está baseado no Mito de Tântalo, onde o dominador busca, nessa configuração de relacionamento abusivo, castigar o dominado (sofrimento eterno) – seja de forma física, ameaças, corte na comunicação. Nesse tipo de vínculo, o dominador tanto dá carinho, proteção e elogios, quanto também impunha rígidas condições.
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Relacionamentos Abusivos: uma forma patológica de amar
Recentemente, pôde-se acompanhar através das mídias e redes sociais, a polêmica envolvendo o casal Marcos e Emilly, no reality show Big Brother Brasil, edição 2017. O BBB 17, transmitiu na edição deste ano um relacionamento abusivo. Emilly era alvo de constantes ataques psicológicos, e ameaças à sua integridade física, por parte de Marcos, que se mostrava extremamente agressivo e opressor. O Brother chegou a apontar o dedo e encurralar a jovem contra a parede algumas vezes, deixando-a em posição de subordinação e humilhação. Como resultado, Marcos acabou sendo expulso do reality, na noite desta segunda-feira.
Há bastante semelhança entre a questão dos relacionamentos abusivos, e a forma patológica de amar, trazida por Davi E. Zimerman. A psicóloga Raquel Silva Barreto, em entrevista ao Repórter Unesp, disse que uma “Relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o desejo de controlar o parceiro, de tê-lo para si. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal-estar. ”
Fonte: http://zip.net/bwtG3z
Zimerman, psicanalista norte americano, traz em seu livro Manual de Técnica Psicanalítica, em específico no capítulo intitulado Uma forma patológica de amar: O vínculo tantalizante, uma temática de grande relevância, no que se refere aos vínculos constituídos em forma de relacionamentos amorosos. Ao caracterizar-se os participantes desse vínculo amoroso, identifica-se dois personagens, um é o Dominador-sedutor, e o outro é o Dominado-seduzido. Na maioria das vezes, o homem assume o primeiro papel, enquanto a mulher assume o segundo. No entanto, também existem casos em que os papéis se invertem.
Zimerman, confere uma série de características pertinentes a esses dois personagens. Características essas que conotam uma forma patológica de amar, uma vez que percebe-se os sofrimentos decorrentes de tal configuração amorosa. O indivíduo que se encontra na posição de Dominador-sedutor é aquele que detém o poder/posse sobre o outro, das mais variadas maneiras, objetivando ser a “coisa” mais importante para seu parceiro, instituindo uma dependência, provocando assim a sensação de que o outro não consegue viver sem ele. Já o sujeito que ocupa o lugar de Dominado-seduzido é o inferiorizado da relação, sempre se comportando de forma submissa, encontrando-se na maior parte do tempo rendido, curvado e suplantado, ao seu dono Dominador.
Fonte: http://zip.net/bntHxf
Nota-se que há uma complementação de um com o outro, visto que o Dominador encontra no Dominado aquilo que ele precisa, e vice-versa, o que de acordo com Zimerman torna a separação tão complicado e sofredora para ambos. O autor divide o Vínculo amoroso tantalizante em quatro partes, sendo elas: Domínio, Apoderamento, Sedução, e Tantalizante. É importante destacar que as quatro partes existem e se concretizam concomitantemente nesse tipo de relacionamento.
O Domínio acontece quando o Dominado “Exerce uma apropriação, quase indébita, através de uma desapropriação dos bens afetivos e de uma violência a liberdade do outro” (ZIMERMAN, 2003, p. 335 ). O Sedutor possui a necessidade de exercer poder sobre o Seduzido, e para isso ele usa de variados recursos que possam torná-lo grande e poderoso. A dominação pode ser de caráter intelectual, moral, econômico, político, religioso, afetivo (ZIMERMAN, 2003).
O Dominador não permite que o outro tenha autonomia e escolhas próprias e diferentes das suas, já que isso seria considerado uma perda do controle que ele exerce sobre o Dominado. Vale ressaltar que o Sedutor também usa de marcações no corpo do outro, percebidas em forma de chupões e arranhões, como forma de determinar seu poder/controle sobre seu parceiro. Quando o Seduzido curva-se a esse poder e controle, consequentemente sente-se subjugado e minimizado.
Fonte: http://zip.net/bftHsY
O Apoderamento é descrito pelo autor como sendo um “Poder e posse total em relação ao corpo, mente e espírito do outro” (ZIMERMAN, 2003, p. 335 ). De acordo com David E. Zimerman, o Dominador vê nessa atitude de posse, o único meio para conseguir o respeito e amor do outro, uma vez que na realidade ele sente medo de se encontrar desamparado em algum momento.
A Sedução consiste em uma das técnicas mais intensas usadas pelo Dominador-sedutor, com o objetivo de despertar no Seduzido uma espécie de fascinação e encantamento, fazendo com que o Dominado veja o Dominador como o “objeto” mais almejado e incrível que alguém poderia ter. Promete-se, “ (…) uma completude paradisíaca, que em pouco tempo se revelará como não mais do que ilusória e pelo contrário, se concretizará, como um emaranhado círculo vicioso de sucessivas decepções e renovadas ilusões (…)” (ZIMERMAN, 2003, p. 336 ).
A última parte que caracteriza esse vínculo adoecido, chamada de Tantalizante, pode ser explicada no seguinte excerto, “ Aquele que tantaliza, isto é, que espicaça ou atormenta com alguma coisa que, apresentada à vista, excite o desejo de possuí-la, frustrando-se este desejo continuamente por se manter o objeto fora de alcance, à maneira do suplício de tântalo. ” (ZIMERMAN, 2003, p. 337). É necessário explicitar aqui, que a escolha desse termo provém do Mito Grego de Tântalo, no qual Tântalo, por ter roubado o manjar dos deuses, foi castigado por eles, sendo acorrentado imerso nas águas de um lago, sem conseguir se alimentar e beber, uma vez que às águas do lago trazem a comida, no entanto Tântalo nunca consegue alcança-la, consistindo-se num sofrimento eterno.
Fonte: http://zip.net/bjtHtk
A relação análoga entre o mito e a forma patológica de amar, é vista quando há esse constante “dar e tirar” por parte do Dominador, que sempre se coloca em posição de impedimento em assumir um relacionamento estável, acontecendo assim periódicos términos e reaproximações, provocando um constante sofrimento, comparado ao mito de Tântalo que nunca consegue obter o que deseja. Contudo, David E. Zimerman, traz ainda em seu livro que para haver uma dissolução dessa relação adoecida e desses papéis adoecidos, é de suma importância que ambos os personagens, passem por tratamento psicológico, indicado por ele, como preferencialmente de cunho psicanalítico.
REFERÊNCIAS:
ZIMERMAN, David. Manual de Técnica Psicanalítica. Editora: Artmed, 2003