Uma Mente Brilhante – quando a loucura inspira a genialidade
16 de junho de 2022 Sandra Aparecida Lopes Ramalho
Filme
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Muitas figuras da história da humanidade que mudaram o curso social com descobertas, invenções, ou mesmo criando arte, possuíam algum tipo de transtorno ou distúrbio mental que foi adquirido ou herdado e desenvolvimento no ambiente que se cercava.
Várias destas personalidades já serviram de conteúdo para criação de obras cinematográficas que narraram suas histórias mostrando um pouco de suas contribuições para a sociedade e características particulares de cada indivíduo.
Alan Turing é um dos recentes exemplos de pessoas que mudaram os rumos da humanidade, mas que em sua vida particular possuía condições que não eram bem vistas (até mesmo consideradas crimes) pela sociedade.
Assim como a homossexualidade de Turing, famosos possuem características peculiares, doenças e transtornos como todo ser humano é passível de sofrer. Isso não foi diferente com o matemático John Nash que além de grande estudioso era esquizofrênico.
Nash teve sua história de vida narrada no filme Uma Mente Brilhante (2001), dirigido por Ron Howard. O filme narra o início da vida de John (Russell Crowe), com suas descobertas brilhantes que são atrapalhadas pelos seus comportamentos controversos.
Quando ainda não possuía o diagnóstico de sua esquizofrenia, Nash era considerado como insano, muitas vezes até tido como louco, por ser incompreendido, acabara sendo afastado do meio em que atuava. Somente após anos de tratamento é que consegue dar a volta por cima e retornar à sociedade e conquistar o tão sonhado prêmio Nobel.
A esquizofrenia representada no filme é uma expressão fiel do que a maioria dos portadores desta doença têm de conviver constantemente. Os episódios de psicose e alucinações, quando não tratados e medicamentados, são frequentes nos portadores da esquizofrenia, mas, assim como outros indivíduos que são considerados gênios em suas respectivas áreas, tal doença é tida como um fator crucial para sua visão única do mundo, assim como foi com Van Gogh que teve o reconhecimento de sua genialidade post mortem.
O esquizofrênico é um ser normal que possui condições cerebrais distintas de um indivíduo considerado comum, o homem médio, porém, somente será um risco social ou para si quando não diagnosticada ou não houver o respectivo acompanhamento médico.
Título: A Beautiful Mind (Original)
Ano produção: 2001
Dirigido por: Ron Howard
Duração: 134 minutos
Classificação: 12 anos
Gênero: Drama
País de Origem: Estados Unidos da América
REFERÊNCIAS
CAIXETA, C. A. D.; NOGUEIRA, E. M.; SABIÃO, R. M. ANÁLISE DO FILME UMA MENTE BRILHANTE: as perturbações da esquizofrenia. Psicologia e Saúde em debate, [S. l.], v. 5, n. Suppl.1, p. 6–6, 2019. Disponível em: http://psicodebate.dpgpsifpm.com.br/index.php/periodico/article/view/483. Acesso em: 14 jun. 2022.
Silva, Regina Cláudia Barbosa da. Esquizofrenia: uma revisão. Psicologia USP [online]. 2006, v. 17, n. 4 [Acessado 14 Junho 2022] , pp. 263-285. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000400014>. Epub 30 Set 2010. ISSN 1678-5177. https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000400014.
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Amnésia: uma vida sem futuro
25 de abril de 2022 Sandra Aparecida Lopes Ramalho
Filme
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Todo fã de filmes “cult” já assistiu ou ouviu falar do clássico Amnésia (Memento), lançado em 2001, uma obra cinematográfica dirigida por Christopher Nolan. O filme tem como história central a vida de Leonard Shelby (Guy Pearce), um Investigador de uma Companhia de Seguros que fora vítima de um assalto onde acabou perdendo sua esposa e sofrendo um traumatismo em seu cérebro que acabou lhe causando a chamada amnésia anterógrada, situação que lhe impede de criar novas memórias após o evento traumático.
Apesar da sua condição, Leonard desenvolve um método próprio para recordar dos eventos recentes. Ele faz anotações importantes em seu corpo, além de viver tirando fotografias com anotações para poder se recordar das coisas que sua memória não armazena.
A obra trata a história de forma bastante interessante, onde os momentos são divididos em preto e branco e outros coloridos. Os eventos em preto e branco são imediatamente após o acidente, ou seja, o passado do personagem, já os eventos coloridos começam com o desfecho da história e vão sendo retroagidos até se conectarem com o passado.
Leonard procura o algoz de sua esposa, por essa razão, dada a importância desta missão, ele tatuou em seu corpo todas as principais informações que possuía sobre o caso. Como ele próprio diz, as lembranças não são confiáveis, podem ser modificadas, os fatos são reais e imutáveis. E assim ele vai, dia após dia, buscando o máximo de informações possíveis para garantir a vingança de sua amada esposa.
A ideia de memorizar as informações se dá por conta de um caso em que Leonard trabalhou como investigador, o caso o Sr. Sammy Jankis (Stephen Tobolowsky), que sofrera um acidente e acabou se tornando incapaz de armazenar qualquer informação por um período não superior a alguns minutos.
A condição mental do Leonard, como é visível no filme, não prejudicou seu discernimento, tampouco suas capacidades de deduções e interpretações das situações que experimenta. Além disso, Leonard desenvolveu uma incrível capacidade de criar novos hábitos, repetindo sempre determinados movimentos para que assim possa se guiar com a sua nova condição física.
A trama do filme, que apesar de antigo, não será tão facilmente entregue, se dá em uma confusão de histórias que o personagem tem com a do caso Sammy, como dito memórias não são confiáveis, os fatos são.
Casos de amnésia anterógrada, apesar de incomuns, ocorrem por todo o globo, pessoas que sequer lembram-se de ter tomado banho ou escovado os dentes, mesmo tendo acabado de fazê-lo. Sammy, a pessoa que Leonard tanto falava, acabou não conseguindo o seguro que deseja da empresa de Lenny. O caso de Sammy é extremamente importante para o desfecho da história.
Leonard toda vez narrava que Sammy sofrera um acidente de carro com sua esposa e por esta razão acabara perdendo a capacidade de armazenar novas memórias, com isto, Lenny sempre dizia que submeteu Sammy a diversos testes e, pois, acreditava que com as repetições de algumas situações, Sammy começaria a mudar suas escolhas e hábitos (este ponto é evidente quando ocorre a eletrificação de objetos que Sammy devia escolher).
No final, Leonard encerra essa história dizendo que negou o pedido de Sammy em razão dos problemas sofridos por estes eram da esfera psicológica e não estaria protegido pelo seguro. O fim da vida de Sammy é de que, uma vez, sua esposa querendo testar realmente sua memória, pediu para que ele aplicasse duas doses de insulina em um único dia, o que acabou levando-a a óbito.
O filme guarda grandes reviravoltas que até hoje são incríveis de se assistir e tentar compreender a complexidade da obra, dado que o fato da amnésia ser o epicentro de tudo, isso acaba ofuscando outras condições que o personagem possa vir a carregar consigo.
O filme apresenta que, apesar de tudo, Leonard só conseguirá se lembrar das coisas que anota, ou seja, mesmo que tivesse sua vendeta, somente saberia se tivesse um registro disso. Esse fato é comprovado em dois momentos cruciais.
Em determinado momento, Leonard tem uma discussão pesada com Natalie (Carrie-Anne Moss) que esconde todas as canetas disponíveis na casa e após ofende Leonard de todas as formas possíveis, inclusive sua falecida esposa. Leonard perde o controle e acaba agredindo Natalie e ela sai do recinto por alguns momentos – tempo suficiente para a memória de Leonard ser “resetada”.
Após isto, Natalie entra novamente na casa e cria uma nova história e, dada a condição de Leonard este acaba acreditando em sua palavra.
Um ponto interessante sobre a trama é que Leonard nunca diz há quanto tempo perdera sua esposa, ou apresenta maiores fatos sobre o episódio, somente se agarra um desejo insaciável de vingança que nunca será suprida.
Outro momento em que é perceptível que Leonard não possui a capacidade de armazenar memória é no último ato do filme (que também é o primeiro). Lenny discute calorosamente com Teddy, seu amigo policial que, desde o começo do filme, é apresentado para o público como o principal suspeito da morte de sua esposa.
No momento dessa briga, Leonard havia acabado de matar um traficante de drogas, achando que este era o seu alvo, Jimmy (Larry Holden), porém, quando Teddy lhe conta a dura verdade sobre seu caso e condição e a morte de sua esposa, Leonard não acredita nele e constrói uma nova narrativa pois estava ciente que no momento seguinte não recordaria de mais nada e “poderia” confiar nos fatos que havia registrado.
Por fim, mesmo sem ter conhecimento, Leonard acaba matando Teddy, cena apresentada no primeiro ato, achando ter conseguido alcançar sua vingança. É impressionante a forma que a amnésia anterógrada é abordada, a riqueza de detalhes comportamentais de uma pessoa vítima desta condição é fidedignamente representada.
Os aspectos jurídicos da conduta de Leonard são outro assunto, mas, fica a questão, ao manipular sua própria memória, Leonard apresentou um comportamento narcisista e homicida, sedento de vingança e que nunca estaria realmente satisfeito com a verdade pura e simples como alegava estar.
Ficha Técnica
Título: Memento (Original)
Ano produção: 2001
Dirigido por: Christopher Nolan
Duração: 116 minutos
Classificação: 16 anos
Gênero: Mistério – Filmes Noir – Suspense
País de Origem: Estados Unidos da América
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Analucy Aury Vieira De. Perfil neuropisológico de uma amostra de voluntários sadios e de idosos e diagnosticados com a doença de alzheimer em Palmas-TO. 2012. Universidade de Brasilia. Disponível em <https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/11233/1/2012_AnalucyAuryVieiradeOliveira.pdf> acesso em 25 mar 2022.
OLIVEIRA, Maria Gabriela Menezes; BUENO, Orlando F. A.. Neuropsicologia da memória humana. Psicol. USP, São Paulo , v. 4, n. 1-2, p. 117-138, 1993 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51771993000100006&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 25 mar. 2022.
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O Ódio que você semeia e o Racismo Estrutural
4 de março de 2022 Josélia Martins Araújo da Silva Santos
Filme
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“Ter coragem não quer dizer que você não esteja com medo. (…) Quer dizer que você segue em frente apesar de estar com medo”. Esta é uma das frases marcantes mencionadas no decorrer do longa “O ódio que você semeia” do diretor George Tillman Jr, baseado no livro da autora Angie Thomas. O filme retrata sobre os impactos do racismo através da história de Starr (Amandla Stenberg) que vê o seu amigo khalil (Alger Smith) ser assassinado por um policial que supôs que o jovem estava com uma arma, no entanto ele estava apenas com uma escova.
Partindo desse momento crucial do filme, a trama se desenvolve no confronto interno da jovem Star entre se entregar ao sentimento do medo, ou fazer aquilo que é correto. Em uma sociedade permeada pelo racismo estrutural, e por muitas vezes velado, evidenciar um filme como este é de uma grande importância, pois expõem uma realidade que ainda é vivenciada diariamente por diversas pessoas que por sua cor experiencia situações constrangedoras e por vezes humilhante, o que pode interferir diretamente na saúde mental desse grupo específico.
As pessoas alvo do racismo experimentam diariamente vários sintomas físicos e psicológicos causados por estados permanentes de estresse emocional, angústia e ansiedade, bem como características transitórias de distúrbios comportamentais e de pensamento. Por fim, a exposição diária a situações humilhantes e constrangedoras desencadeia um processo caótico com muitos componentes psicológicos e emocionais 1.
A violência com que as autoridades policiais operam, repercute de forma direta na interrupção da vida de pessoas negras, pois em sua grande maioria a sua atuação é aliada à brutalidade direcionada em grande parte às pessoas negras pelo simples fato da pele da sua cor.
Segundo estudo da Fundação João Pinheiro em colaboração com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), pessoas negras são quatro vezes mais propensas do que brancos a sofrer violência policial durante abordagem. Os pesquisadores traçaram o perfil dos envolvidos e determinaram que quase 7 das 10 pessoas abordadas pela polícia que foram mortas ou feridas eram negras. 36% dos mortos ou feridos pela polícia estavam desarmados. Em 65% dos casos, a vítima não atirou contra os policiais, que geralmente estavam mais presentes 2.
Atualmente a forma da abordagem policiais está sendo discutida de forma intensa, em decorrência de diversos casos de atuação violenta voltada às pessoas negras, tais como em casos como o de George Floyd, Breona Taylor e seu namorado, Kenneth Walker, o adolescente Guilherme Silva Guedes entre diversos outros casos ocorridos. Esses acontecimentos trágicos reforçaram os debates sobre o fenômeno do racismo e a discriminação institucional experimentada por uma das minorias que é a população negra.
Desse modo maiores discussões acerca da temática são necessárias, pois deve haver maior conscientização e compreensão de como o racismo funciona, a diversidade de suas manifestações e seu impacto nas pessoas. É importante estudar e reconhecer esse impacto para que as consequências da agressão racial não continuem sendo ignoradas, subestimadas e invisíveis.
Ficha Técnica
Título: O ódio que você semeia, The Hate U Give (Original)
Ano produção: 2018
Dirigido por: George Tillman Jr.
Estreia: 6 de dezembro de 2018
Duração: 132 minutos
Gênero: Drama
Países de Origem: Estados Unidos da América
Referências
1 – FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Violência contra população negra. Minas Gerais: Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), 2018.Disponível em: <http://www.fjp.gov.br/index.php/servicos/81-servicos-cei/70-violenciapoluçãonegral-nobrasil>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2021.
2 – Damasceno, Marizete Gouveia e Zanello, Valeska M. Loyola Saúde Mental e Racismo Contra Negros: Produção Bibliográfica Brasileira dos Últimos Quinze Anos. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2018, v. 38, n. 3 [Acessado 20 fevereiro 2022], pp. 450-464. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1982-37030003262017>. ISSN 1982-3703. https://doi.org/10.1590/1982-37030003262017.