A construção da Identidade e a Neurodiversidade

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“os diferentes não são um mundo à parte, sim parte do mundo” (        ).

O contexto atual da sociedade reflete suas diferenças e ao mesmo tempo seus padrões como linhas de corte entre saúde e doença, iguais e diferentes dialogam com muita dificuldade, assim trago uma discussão do pensamento sobre neurodiversidade e como os neurodiversos expressam sua participação no mundo.

Judy Singer, em 1999 cunhou este termo, para trazer em questão suas percepções e estudos a acerca do tema, que a incomodava, visto que era portadora da síndrome de Asperger (autismo leve), nome já não utilizado contemporaneamente, por ser incluída como parte do espectro autista. Por que não se pode ser normal uma vez na vida, por ser diferente (SINGER, 1999). Para Singer não se trata de uma doença, sim de uma diferença de conexão neurológica (neurological wiring) atípica ou neurodivergente. Não há o que curar, há um jeito de ser, que trás resultados e uma forma diferente de se relacionar e produzir.

Pessoas com tais diferenças foram autodenominadas por Singer de neurodiversos, considerando-se neurologicamente diferentes, ou neuroatípicos, tratando-se de uma diferença que merece respeito como outras diferenças, a exemplo raças, sexo.  Muitos denominados com autismo, principalmente autismo leve defendem que se a neuroatipicidade é uma doença então a neuroticidade também é, a crítica parte do pressuposto da inclusão, da igualdade de direitos entre os diferentes. Existe uma problematização que polariza a respeito do que é aceito e do que é produzido pelos especialistas, o questionamento de como os neurotípicos se comportam não conseguindo ficar sozinho, e os neuroatípicos não gostando de se relacionarem, trazendo a crítica de que nenhum estaria errado, que seriam apenas jeitos diferentes de se organizarem, produzirem e se sentirem bem (ORTEGA, 2008).

Essa problemática questiona algumas premissas e traz à tona questões paradigmáticas, referentes a curar o autismo compara-se a tentativa de curar o negro, o homossexual, canhoto ou autista, o que seria apenas parte da identidade do sujeito e não doença. Ortega (2008) sugere conceitos sobre o indivíduo, pessoa e sujeito, com o olhar de vários pensadores, sobre não ser uma categoria universal mesmo trazendo diferentes processos de individuação e de produção do indivíduo contemporâneo, assim agrega Louis Dumont (1992), Foucault (1976, 1984ª, 1984b), Charles Taylor (1989) Norbert Elias (1995), Alan MaFarlane (1992). Assim seriam muitas as formas de ser sujeito cerebral, em sua subjetividade construída histórica e socialmente.

Desafio trazido pelo movimento da neurodiversidade, registra a fala de autistas de alto funcionamento, com leves dificuldades, a complicação surge quando se fala de indivíduos autistas com baixo funcionamento, pois estes passam por muitas dificuldades, seus familiares também, como olhar com inclusão as diferenças de cada um. Se o autismo é um espectro não deve ser olhado como uma unidade fechada (ORTEGA, 2008).

Fonte: encurtador.com.br/deJV3

Pontos a serem discutidos são os efeitos ao desenvolvimento e as formas com que cada um lida, pois se a relação e o vínculo são vistos como fator de saúde como fica de lado este fator como sendo necessário a todos e demais pesquisas que indicam que pessoas vivem mais quando se relacionam bem e morrem mais quando se sentem sozinhas e ou isoladas, independente da motivação, isolamento não é visto como saúde (ORTEGA, 2008).

Faria e Souza (2011, p. 37) indicam que “A essência da identidade constrói-se em referência aos vínculos que conectam as pessoas umas às outras e considerando-se esses vínculos estáveis”. Na sociedade atual, em virtude dos inúmeros modelos identitários disponibilizados (ou impostos) – bem como pela sua volubilidade – e preponderância de vínculos impessoais, questiona-se: como pode-se construir uma identidade sólida? E quais as consequências ao sujeito mediante tais instabilidades e a neurodiversidade?

Os avanços tecnológicos têm possibilitado a comunicação instantânea entre partes distintas do globo, melhorando a inclusão dos mais tímidos, o que favorece os neurodiversos, pelas suas características. No entanto, a despeito da velocidade e quantidade de comunicação à distância, questiona-se o caráter das relações que se constituem nesse contexto. Escritores como Zygmunt Bauman (1998 apud SMEHA; OLIVEIRA, 2013) pontuam a ausência de relacionamentos verdadeiros enquanto resultado do medo de lidar com aspectos difíceis que os tais podem oferecer, bem como na forma de se desenvolver de cada um, visto que as relações genuínas são fontes de energia para o desenvolvimento genuíno da identidade desse sujeito.

O impasse dessas novas configurações reside no impacto das tais sobre a identidade. Se a pós-modernidade favoreceu o distanciamento das relações, somado ao que se oferece no mundo virtual, não há bases para a constituição de uma identidade, diga-se “segura”, no que tange a um suporte para melhor enfrentamento de crises. Primeiro, pela ausência de vínculos pessoais reais; e, segundo, pela instabilidade dos modelos oferecidos pelas mídias. Na conceituação de Bauman (2004a apud LEITE, et. al., 2016, p. 6), trata-se de um contexto de liquidez, “[…] onde tudo é temporário, e […] como os líquidos, ela caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma. […] Quadros de referência, estilos de vida […] e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes”. Fatores estes que sugerem um cuidado em incluir os neurodiversos, mas não deixar de entender que necessitam de amparo e apoio para que não se isolem mais que o necessário e deixem seu desenvolvimento saudável comprometido.

O isolamento e a busca de conforto nas redes sociais, através das máquinas são temas de pesquisas que comprovam que o gasto excessivo de tempo nas redes sociais favorece o sentimento de solidão e baixa autoestima (PAMOUKAGHLIAN, 2011 apud PIROCCA, 2012). A insatisfação a priori em áreas da vida também pode intensificar o uso das mídias, por implicar na ausência de habilidades para enfrentar contrariedades (BREZING, et. al., 2010; YOUNG, et. al., 2010 apud PIROCCA, 2012). Percebe-se, então, uma influência mútua entre ausência de suporte social e utilização exacerbada de redes sociais. Sem relacionamentos pessoais sólidos, aliado à fluidez dos modelos com os quais se mantém maior contato – através das mídias sociais –, tem-se um ambiente propício ao surgimento de distúrbios no funcionamento social e psíquico.

Fonte: encurtador.com.br/uGIY2

Fatos extremos que podem ser desencadeados a partir do isolamento social e sentimento de inferioridade e comparação é o problema de relacionamento, mais dificuldade de inclusão e até o suicídio. No entanto, ressalta-se que tal ato não pode ser reduzido apenas aos aspectos supracitados – visto que é um fenômeno complexo –, tampouco ser entendido como consequência inevitável do isolamento e uso excessivo das redes sociais.

Ao contrário do que acontece nas redes sociais virtuais, as relações sociais presenciais inevitavelmente requerem um sólido compromisso entre as pessoas envolvidas. Sendo assim mesmo que os comportamentos neurodiversos sejam acolhidos como tipológicos pelos que lutam pela neurodiversidade, deve-se respeitar os dados de pesquisas que enfatizam a necessidade das relações para o desenvolvimento saudável. Ornish (1998) afirma a relevância dos vínculos sociais, considerando que influenciam sobremodo a saúde física e psicológica do sujeito.

Leandro Karnal expressa em vídeo (PROVOCAÇÕES FILOSÓFICAS, 2016) o caráter desatento das relações, onde “ninguém ouve ninguém”. Em meio à “correnteza” da sociedade líquida, as relações, quando aparentemente “próximas”, são apenas episódicas e superficiais, não deixando, portanto, nenhuma consequência no que tange à reciprocidade (BAUMAN, 2007). Essa fragilidade dos vínculos e até a sua ausência tem sido associada a inúmeras patologias orgânicas e, como já mencionado anteriormente, pode predispor condições que levem ao ato extremo de autoextermínio, esta reflexão traz a dificuldade que muitas famílias com tais diferenças ou deficiências a lidar com a realidade. Como olhar apenas para um grupo que não sente o alto impacto do transtorno, assim o grupo de neurodiversidade segue sem o respaldo daqueles que necessitam de atenção para reabilitação e cuidados psicossociais.

É evidente o papel protetor e acolhedor de relações interpessoais para lidar com os mais diversos problemas. Diversos estudos evidenciam que pessoas cujos relacionamentos são fortes e diversos podem lidar melhor com várias tensões como luto, estupro e doenças físicas, além de desfrutarem de saúde psicológica melhor. Assim sendo, o apoio social amortece potencialmente os efeitos de eventos negativos que poderiam resultar em suicídio, abandono ou perdas de desenvolvimento (REDUCING SUICED, 2002).

Considerando que o conceito de neurodiversidade apresentado é importante discussão para os dias atuais, vejo que incluir é primordial e cuidar para não se perder as bases comprovadas de desenvolvimento saudável da identidade do sujeito pelas relações, naturalizando as diferenças de forma a acomodar as angustias de um grupo e enfraquecer o desenvolvimento dos menos favorecidos mais agravados em suas dificuldades de comunicação, visto que os próprios familiares e pessoas portadoras das diferenças não concordam com tais ideias, pois percebem que viveriam a margem, por suas necessidades não atendidas. Muitos são os sofrimentos dos que tem diferenças cognitivas graves e a inclusão se torna desafiadora.

Considera-se que o isolamento não é tido como fator positivo para nenhum indivíduo, em nenhum momento da sua vida, a falta de diálogo e inclusão, o excesso em meios virtuais e o pensamento fragmentado do grupo de pessoas com o Transtorno do espectro autista  contribui ao enfraquecimento de políticas que possam auxiliar nas necessidades distintas de cada um, sendo que as necessidades do grupo com alto funcionamento sofrem aspectos voltados para aceitação social e neurodiversidade, enquanto outros necessitam de grande auxílio para seus cuidados e desenvolvimento acerca de vencer cada dia o transtorno.

Conclui-se que diferenças sempre chamam atenção, são em muitos momentos mau interpretadas e precisam ter seu lugar, é preciso conversar mais sobre cada necessidade, de cada grupo, falar sobre o tema para diminuir os pré-conceito e o julgamento entre os próprios diferentes, trazer mais desenvolvimento as demandas do indivíduo acerca de sua identidade, mais que isso aumentar inclusive a grau de aceitação dos próprios portadores destas diferenças, para que se importem menos com os nomes e mais com seus resultados.

Fonte: encurtador.com.br/gpNW2

Referências:

BAUMAN, Z. A vida fragmentada: ensaios sobre a moral pós-moderna. Lisboa: Relógio d’Água, 2007.

FARIA, E. de; SOUZA, V. L. T. de. Sobre o conceito de identidade: apropriações em estudos sobre formação de professores. Psicologia Escolar e Educacional. (Impr.), Maringá, v. 15, n. 1, p. 35-42, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572011000100004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 mai. 2017.

ORTEGA, Francisco. O Sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade. Rio de Janeiro, 2008.

ORTEGA, Francisco. Deficiênca, autismo e neurodiversidade. Rio de Janeiro, 2008.

OLIVEIRA, Bruno D.C., FELDMAN Clara, COUTO, Maria C.V., LIMA Rossan C. – REVISTA DE SAÚDE COLETIVA, Políticas para autismo no Brasil, entre a atenção psicossocial e a reabilitação, 2017.

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Neurodiversidade e autismo: aspectos da normalidade humana

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A neurodiversidade é um conceito que surgiu recentemente em 1996 em um livro escrito pela socióloga Judy Singer em Sydney na Austrália, sendo uma concepção bem abrangente sobre a formação cerebral e neurológica humana, que sugere uma perspectiva na qual as peculiaridades dos sujeitos autistas são variações humanas normais. Por meio dela é possível envolver uma gama de espectros que alteram o comportamento, sensações, comunicação, sociabilidade, dentre outros mais, das pessoas com o transtorno e como elas são afetadas em diferentes graus. Trazendo assim, uma perspectiva de tolerância das diferenças (CARDIERI, 2018).

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma síndrome neuropsiquiátrica que decorre em déficits de sociabilidade, comportamento e comunicação que são detectados ainda nos primeiros anos de vida da criança. Quanto mais precoce o diagnóstico, mais eficiente o tratamento e melhor a qualidade de vida do indivíduo. Acredita-se que o TEA esteja associado a fatores genéticos e neurobiológicos (GOMES et al, 2015).

Pelo viés de identidade, Foucault (2013) defende que, com base na neurodiversidade, existem as pessoas neurotípicas (molde o qual todos deveriam pertencer) e neuroatípicas (autistas), sendo que estes deveriam buscar cura e tratamento, sendo vistos como deficientes e possíveis de exclusão do convívio social. Com base nisto, pode-se afirmar que as famílias de crianças com TEA sofrem para incluir seu filho (a) no ambiente social, uma vez que, a criança já possui fatores decorrentes do transtorno que a diferencia dos “padrões de normalidade” e juntamente com a perspectiva social dificulta este convívio.

Compreender do que se trata o TEA e atuar para que a criança se sinta incluída no contexto social e familiar é um grande desafio para familiares e profissionais da equipe multiprofissional que acompanha o tratamento. Neste contexto, a neurodiversidade busca a dignidade e equidade para os autistas, uma vez que, todas as pessoas possuem concepções psíquicas distintas. Sendo isto, o que ocorre com pessoas autistas, elas possuem experiências, concepções, emoções, sensações e conhecimento individuais, elas têm uma constituição psíquica particular, isto é, “sua própria forma de ver o mundo”, assim como todas as pessoas “neurotípicas” (HENRIQUES; CARVALHO, 2018, p. 99).

As diferenças neurológicas são apontadas como diferenças naturais no genoma humano o que leva a compreensão de diversos significados na percepção da realidade dos sujeitos de síndromes e transtornos associados ao neurodesenvolvimento. O que temos de partilhar na sociedade é justamente as diferenças e não as semelhanças entre os indivíduos, pois o comportamento humano é evidenciado pelas experiências e vivências ao longo da vida (BENEDETTO, 2020).

Fonte: encurtador.com.br/fwNQ4

Assim, o autismo deveria ser visto como aspecto de normalidade humana e não o inverso. Para a neurodiversidade, respeitar e compreender as “deficiências” de cada criança autista é uma forma de enfrentar as dificuldades promovendo uma forma digna de cuidado e modelos educativos que buscam melhorar a assistência prestada.

 Para Henriques e Carvalho (2018, p. 101), a sociedade precisa estruturar um acompanhamento psicológico e psicanalítico para crianças autistas com base na “escuta das diferenças” que significa que modelos subjetivos permitem compreender melhor a necessidade de cada sujeito e assim propor a melhor forma de acompanhamento/tratamento, isto associado ao diagnóstico precoce, às classificações sintomatológicas e a trajetória do indivíduo.

Os atendimentos clínicos a sujeitos com autismo e suas famílias é de certa forma generalizado, um erro que traz dificuldades de se lidar com o transtorno e obter um diagnóstico específico.  É necessária uma ampliação de estudos e pesquisas que contribuam para a mudança no modo de aprender e lidar com o indivíduo com autismo tanto para inserção social como para vida familiar (CARDIERI, 2018).

Pois a vida familiar de indivíduos com autismo seja de sintomas, com menos ou maior severidade, em muito contribui para a formação de sujeitos que são capazes de conviver em harmonia socialmente e de se sentir parte de determinado núcleo social, bem como intervenções precoces, fortalecimento familiar e um acompanhamento profissional busca melhorar a qualidade de vida dos indivíduos. Embora, a cultura retrate o TEA como um transtorno que faz do indivíduo um ser “fora do padrão normal”, a neurodiversidade está aí para provar o contrário, que somos pessoas dotadas de características físicas e psíquicas únicas e nem por isso estaremos fora de um padrão cultural/social.

Fonte: encurtador.com.br/dkvFT

Referências

CARDIERI, Mariana Prates. Estudos culturais, neurodiversidade e psicanálise: um lugar para o autismo. 2018. Tese de Doutorado. Mestrado em Estudos Culturais Contemporâneas.

BENEDETTO, Mayne Souza. Autismo sem ismo: a neurodiversidade e a experiência interior por uma etnografia não normativa. 2020. Tese de Doutorado. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

FERREIRA, Nelcirema da Silva Pureza et al. Qualidade de vida dos familiares de pessoas com Transtorno do Espectro Autista. 2018.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I. Rio de janeiro: Graal, 2013.

GOMES, Paulyane TM et al. Autismo no Brasil, desafios familiares e estratégias de superação: revisão sistemática. Jornal de pediatria, v. 91, n. 2, p. 111-121, 2015.

HENRIQUES, Bruna; CARVALHO, D.’Alincourt. Autismo e neurodiversidade: inclusão das diferenças. ANAIS VII CONINTER, p. 95. 2018.

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Amor no espectro: reality da Netflix aborda autistas em busca do amor

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A Netflix incluiu no seu catálogo o reality show, que aborda pessoas em busca de um amor. Entretanto, Amor no espectro é um reality que aborda essa temática pelo prisma do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os participantes do programa são autistas adultos, que decidiram sair em busca de um par romântico.

O reality é composto por 5 episódios de 40min em média, que conta com depoimentos e preparações para o primeiro encontro de autistas. O programa promove os encontros entre pessoas que fazem parte do espectro. Para quem ainda não possui familiaridade com o Transtorno do Espectro Autista irei explanar algumas informações a seguir sobre o transtorno para que facilite a compreensão do que se trata o reality australiano.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais- DSM-5 (2014) como um distúrbio do neurodesenvolvimento, que gera prejuízos na interação social, na comunicação e apresenta padrões repetitivos de comportamentos. Além disso, sabe-se que os sintomas podem surgir aos 3 anos de idade, o que possibilita que o diagnóstico seja realizado ainda na infância (APA, 2013).

Vale ressaltar que alguns estudos empíricos apontam que a grande parte das crianças com autismo apresentam problemas no desenvolvimento entre 12 e 24 meses (CHAKRABARTI, 2009), e que alguns desvios de ordem qualitativa no desenvolvimento podem aparecer antes do primeiro ano de vida (MAESTRO et al, 2002).

Fonte: Netflix

Também, acredita-se que o TEA atinge mais indivíduos do sexo masculino, tendo como prevalência por volta de 1% da população, consistindo numa vasta diversidade de sintomas no âmbito cognitivo-comportamental e sem preferência relacionadas a antecedentes étnicos (CID 10, 2000).

O número crescente de indivíduos diagnosticados mundialmente com TEA não aponta necessariamente para o aumento na sua prevalência, pois esse fato pode ser explicado pela sua expansão nos critérios diagnósticos, pela ampliação dos serviços de saúde relacionados ao transtorno, pela alteração na idade do diagnóstico e outros motivos (FAMBONNE, 2009).

Assim, dentro do TEA existem variações em casos entre leve e severo, que variam com sintomas mais intensos que comprometem e acomete em deficiência intelectual, e casos clínicos que apresentam níveis de inteligência normais e capacidade de adaptação, que torna os sintomas de interação social mais leves (CID 10, 2000; APA, 2013). É possível verificar que existem várias comorbidades no TEA, tais como o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividades (TDAH), epilepsia, e variadas síndromes de ordem genética e ambiental (APA, 2013).

Dessa forma, de acordo com Rutter (2011), a aparição dos sintomas do TEA são precoces e apresentam comprometimento no desenvolvimento do indivíduo ao decorrer da sua vida, apresentando uma vasta variação na intensidade e na forma como os sintomas se manifestam nas áreas que definem o seu diagnóstico.

Fonte: Netflix

Entende-se que devido a ordem dimensional do conjunto de condições que compõem o TEA, existem controvérsias sobre o diagnóstico diferencial entre elas. Diante disso, o DSM-5 define a classificação do TEA em substituição a Transtornos Globais do Desenvolvimento, pois a última versão do manual aponta a inclusão de comprometimentos qualitativos no desenvolvimento sociocomunicativo. Além disso, tem a apresentação de estereotipias ou comportamentos estereotipados e repertório baixo e restritivo de interesses e atividades, onde os sintomas desse âmbito unidos podem limitar ou dificultar o funcionamento rotineiro e diário do indivíduo (APA, 2013).

Também, em concordância com Bárbaro (2009), ressalta-se que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) inclui o transtorno autístico, o transtorno ou síndrome de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância e o transtorno global do desenvolvimento não especificado, que é conhecido como autismo atípico.

Outro aspecto interessante é que o TEA não possui etiologia ainda completamente estudada e conhecida, porém já se sabe que existem anormalidades cromossômicas (2%), ambientais (3%), síndromes monogênicas (5%), microduplicações e microdeleções (10%), e questões multifatoriais e epigenéticas representam cerca de 80% (ZANOLLA et al, 2015).

Para Reichow (2011), a intervenção precoce pode provocar melhoras no quadro clínico do autismo, apresentando ganhos significativos e com grande durabilidade no desenvolvimento infantil, haja vista que as intervenções, quando realizadas precocemente, podem potencializar benefícios e efeitos positivos. Além disso, é apontado também que quando as intervenções são realizadas mais cedo, é possível que os gastos sejam reduzidos de forma considerável no tratamento das crianças com TEA, o que pode gerar economia para a família e dentro do sistema de saúde pública a longo prazo (NOVAK; ZUBRISTKSY, 2005).

Assim, Leo Kanner, autor da obra “Autistic disturbances of affectiv contact”, de 1942, no intento de descrever casos de crianças com curiosas características em comum, marcadas por um comportamento de auto-estimulação, tendência a um isolamento extremo, repetição mecânica de frases ouvidas anteriormente e obsessividade. Assim, seguiram-se alguns anos na busca de estudar a etiologia daquilo que ele apresentou como uma “psicose” que, por fim, não foi esclarecida através dos exames feitos com os pacientes em clínica e laboratorialmente.

Fonte: Netflix

Diante do exposto, percebe-se que o Autismo é um transtorno que interfere na comunicação e interação social. Logo, presume-se que ele pode influenciar na forma como o indivíduo expressa suas emoções e sentimentos, de modo que se torna importante compreender como são experienciadas as emoções e qual o significado delas para as pessoas com TEA e especialmente no que se refere às crianças, haja vista que é uma fase onde há curiosidade e necessidade de aprender sobre essas questões.

O reality traz uma discussão potente sobre o atraso no diagnóstico de mulheres, pois enquanto os meninos são diagnosticados ainda na infância, as meninas só recebem diagnóstico na adolescência ou na vida adulta. Isso acontece porque os critérios diagnósticos abarcam com maior profundidade os comportamentos dos homens, não possuindo um recorte de gênero eficaz que auxilie no diagnóstico precoce de meninas.

Enquanto um dado comportamento é tido como esperado ou adequado para as mulheres, ele é considerado como um sinal ou sintoma para homens. Então o reality enfatiza essa crítica a forma como o diagnóstico é tardio para as mulheres e como isso pode trazer prejuízos no tratamento.

O programa conta com o apoio de uma psicóloga especialista em encontros para autistas, ela auxilia aqueles que apresentam dificuldades de relacionamento ou falta de habilidades sociais. Esses participantes passam por treinos de habilidades sociais voltados para relacionamentos românticos.

O reality apresenta de forma real como são as dificuldades de relacionamento enfrentadas pelos autistas, exibindo preconceitos e estigmas que causam muito sofrimento. É uma ótima opção para quem quer aprender mais sobre o assunto e se divertir com tanta fofura.

Fonte: Netflix

REFERÊNCIAS

American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders(5a. ed.). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing. 2013

MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS: DSM-5. [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.]– 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.

PARKS, P. J. Self-injury Disorder. San Diego, California: Reference Point Press, 2011.

Mandell, D., Novak, M., & Zubritsky, C. (2005). Factors associated with age of diagnosis among children with autism spectrum disorders. Pediatrics, 116, 1480-1486.

ROBINSON, A. Emotion-focused therapy for autism spectrum disorder: a case conceptualization model for trauma-related experiences. Journal of congtemporary psychotherapy, v. 48, n. 3, p. 133-143, 2018. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/ pmc/articles/PMC6061099/

ANTUNES, R. Trabalho e precarização numa ordem neoliberal. In: GENTILI, P.; FRIGOTTO, G. (Org.). A Cidadania Negada: políticas de exclusão na educação e no trabalho. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2001, p. 37-50

ANTUNES, Ricardo (2015) Desenhando a Nova Morfologia do Trabalho, Revista Estudos Avançados, 28 (81), 2014, Instituto de Estudos Avançados, USP, São Paulo

ANTUNES, R e DRUCK, G. (2014). A epidemia da terceirização in Antunes, R. (org), Riqueza e Miséria do Trabalho, vol III, SP, Boitempo.

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Autistas também praticam esportes

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Será que autistas podem praticar esportes? Será que eles conseguem se sair melhor que os outros? Geralmente, os autistas são pessoas que conseguem ter grandes ganhos ou grandes conquistas naquilo que fazem por serem hiper focados e altamente interessados. Por outro lado, tem pouca assertividade ou pouca flexibilidade social, pouca empatia e não sabem lidar muitas vezes com situações que exigem automaticamente uma boa percepção social.

Normalmente, autistas não têm boa performance motora, espacial e executiva para cumprimento de atividades que envolvam esportes. Então, ele só vai ter vantagem se for fascinado, hiper focado naquele esporte.  

Os benefícios da prática esportiva são vários. O primeiro é ajudar o indivíduo a se socializar. A grande maioria dos esportes são sociais, exigem o compartilhamento, exigem estratégia que depende do outro, isso traz benefícios de estimulação de interação social e a melhora no comportamento social.  

Fonte: encurtador.com.br/gkI89

Melhor ainda, pois faz o autista se movimentar, porque normalmente eles não gostam de fazer exercícios. Preferem ambientes fechados, restritos, silenciosos e que envolvam tecnologias. Isso faz com que eles se restrinjam a atividades sedentárias e eleve o risco de, na fase adulta, desenvolver processos crônicos causados por sedentarismo, aumento do colesterol, maior risco de diabetes e hipertensão e, consequentemente, pode vir a ter problemas de maior exposição a eventos ou distúrbios que são gerados por esses problemas como AVC e infarto.    

Muitos questionam, mas eles precisam ter cuidados ao praticar esportes? Não há especificamente nenhum cuidado que o autista tem que ter. Ele só precisa entender e ser explicado que a prática de esportes requer cumprir regras e seguir uma rotina.  Ele vai ter que trabalhar determinadas atividades esportivas juntos com os outros, compartilhando jogadas, compartilhando interesses, compartilhando um espírito de equipe. Isso para o autista é muito difícil.

Os cuidados que os profissionais têm de ter com o autista é saber que ele tem dificuldades de entender linguagem de duplo sentido. Tem também dificuldade de organizar dentro dos pensamentos dele a sequência de uma jogada ou a sequência compartilhada de um processo social. Além disso, em uma jogada, eles têm menos coordenação motora. Por isso, vão precisar de um pouco mais de compreensão do educador físico para trabalhar a parte da psicomotricidade.

Fonte: encurtador.com.br/hkwG9

Uma coisa importante de dizer é que quem tem autismo tem pavio curto, na maioria das vezes são indivíduos que mudam de humor de uma hora para outra e não toleram muito passar por disparates ou situações onde eles são contrariados.  O esporte que eu sugiro para o autista é aquele que o agrada, o que traga menos estímulos indesejáveis. As recomendações de esportes são os que ajudam a melhorar a capacidade de percepção social como os esportes jogados em grupo.

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“Meu Filho, Meu Mundo” e o método Son-Rise

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Método mostra que o respeito e amor são fatores importantes para o aprendizado de uma criança.

“Son-Rise: a miracle of love” ou “Meu filho, Meu mundo” é um filme de 1979 que conta a história real de uma família que nos primeiros anos de vida do filho percebe que ele se comporta de maneira diferente das demais crianças. Sempre com um ar ausente, Raun (filho) foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, assim, os pais buscam por algum tipo de acompanhamento médico. No entanto, os métodos utilizados na época não foram do agrado da família e, dessa forma, eles foram atrás de leituras e desenvolveram seu próprio método a base de amor incondicional.

O método Son-Rise, nome original do filme, foi desenvolvido na década de 1970 nos Estados Unidos, no qual os pais conduzem o programa, auxiliados por outras pessoas que são chamadas de facilitadoras. Assim o adulto deve seguir os interesses da criança sem direcioná-la para nenhuma outra tarefa, aceitando até mesmo os comportamentos estereotipados. Quando a criança apresentar uma abertura é que são propostas novas atividades para que sejam desenvolvidas novas habilidades.

Assim como no filme, para a utilização do método existe a necessidade da adaptação de um quarto, para minimizar distrações, ter controle sobre qualquer mudança e focar na interação com a criança. Os pais de Raun adaptaram um banheiro, no filme, com uma mesa na altura ideal para o tamanho do filho, sem muitos estímulos visuais e sonoros, com os materiais próximos para que possam ser inseridos assim que houver uma abertura.

Fonte: encurtador.com.br/bdpJN

Quanto ao tempo que se dedica a criança, o Autism Treatment Center of America (ATCA) recomenda acima de 20 horas semanais, enquanto outros profissionais indicam 30 minutos diários e ir aumentando gradativamente, conforme a necessidade da criança. De acordo com Williams e Wishart (2003, apud SCHMIDT et al., 2015, p. 416-417), na maioria dos casos, os pais acabam indo além do tempo indicado, gerando o esgotamento de ambos os lados.

Os pais de Raun, no decorrer do filme, deixam esse esgotamento bem evidente, incluindo até Nancy (babá), que os auxilia em casa, nos treinamentos e inserida, posteriormente, nas atividades com o filho. E, nesse ritmo de trabalho, aos poucos os resultados foram chegando, como expressões novas e interações maiores com os pais. Assim, esse método mostra que o respeito e amor são fatores importantes para o aprendizado de uma criança e, também, que essa relação dos pais como professores/terapeutas do filho, potencializa os resultados.

Nesse sentido, uma formação adequada dos pais e de quem os auxiliará é determinante, pois, existe uma estrutura a ser seguida e adaptada a cada criança, onde as características mudam e com elas a necessidade de modificar o estimulo para que seja eficaz a intervenção. Obter informações sobre estudos do método auxiliam também para que esse tempo investido não seja desperdiçado.

Fonte: encurtador.com.br/npVZ5

O programa visa que a criança melhore sua forma de se relacionar com os outros por meio da forma como se relaciona com os pais. Permitir que ela faça suas escolhas e se expresse da sua maneira e assim resolva os problemas que surgirem. E como os pais são o centro do processo, a forma como se portam diante das situações com o filho é de grande importância, pois, são como espelho para a criança.

Portanto, a intervenção precoce, acreditar na mudança e não mostrar desânimo diante do diagnóstico, são os primeiros passos para se iniciar o programa Son-Rise, que é baseado na aceitação e amor incondicional à forma da criança se apresentar ao mundo.

FICHA TÉCNICA:

MEU FILHO, MEU MUNDO

Título original: Son-Rise: A miracle of love
Direção: Glenn Jordan
Elenco: James Farentino, Kathryn Harrold, Casey Adams, Stephen Elliott;
Ano: 1979
País: EUA
Gênero: Drama

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O Cérebro de Hugo: “Eu tinha um filho com olhos de vidro, que pareciam de mentira”

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“O Cérebro de Hugo” é uma ponte que transpassa um rio torrencial, atulhado de espirais astutas, como a insipiência e o preconceito. Todavia, aquele que é capaz de chegar à outra borda, compreenderá que eles, do mesmo modo que nós, aspiram, unicamente, serem aceitos, respeitados e amados.

Sob a direção de Sophie Révill, “O Cérebro de Hugo”, originalmente “Le Cerveau D’Hugo” é um documentário ficcional produzido na França em 2012 que traz uma série de depoimentos de pessoas autistas (com Transtorno do Espectro Autista – TEA) acerca dos múltiplos obstáculos vividos, do processo de diagnóstico e  seu convívio com familiares, bem como sobre as principais intervenções realizadas por psiquiatras pesquisadores da área, como Leo Kanner, Hans Asperger, Bruno Bettelheim, Margaret Bauman e Thomas Kemper. O longa também discorre e põe em destaque a história de um personagem fictício chamado Hugo.

Hugo era um menino que possuía a Síndrome de Asperger, também conhecida e apresentada como autismo de alto funcionamento (Nível 1). Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (APA, 2014), esse é um transtorno no qual os sinais tornam-se mais evidentes e acentuados na primeira infância, prolongando-se por toda a vida do sujeito (SILVA; GAIATO; REVELES, 2012). O TEA caracteriza-se por déficits perseverantes na comunicabilidade e interação social em numerosos cenários, como também pela existência de padrões limitados e recorrentes de comportamento, interesses ou atividades, cuja etiologia estaria ligada à fatores genéticos e biológicos, sendo assim, presente desde o nascimento e não desenvolvida ao longo da vida, conforme apresentado no filme.

Fonte: https://bit.ly/38RmJas

Muitos dos indivíduos com o Transtorno do Espectro Autista também podem apresentar algum tipo de comprometimento intelectual e/ou da linguagem, déficits motores (marcha atípica, falta de coordenação), redução ou ausência de contato visual, estereotipias ou movimentos repetitivos, assim como o uso de objetos e fala de forma repetitiva.

Segundo o DSM-5 (APA, 2014), o TEA apresenta três níveis de gravidade, que são distinguidos a partir da obtenção de dados e observação clínicos, conforme a exigência de apoio que o indivíduo necessita. São eles:

  • Nível 1 – Exigindo Apoio: dificuldade para iniciar interações sociais, bem como interesse reduzido por estas (comunicação social); dificuldade em trocar de atividades; planejamento e organização disfuncionais (comportamentos restritos e repetitivos);
  • Nível 2 – Exigindo Apoio Substancial: limitação em dar início a interações sociais, déficits graves na comunicação verbal e não verbal, apresentando prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio (comunicação social); presença de comportamentos restritos e repetitivos, inflexibilidade, sofrimento em lidar com a mudança, como também, em mudar o foco ou as ações (comportamentos restritos e repetitivos);
  • Nível 3 – Exigindo Apoio Muito Substancial: déficits e prejuízos graves nas capacidades de comunicação social verbal e não verbal, vasta limitação em dar início a interações sociais e retorno ínfimo a estas (comunicação social); inflexibilidade, extrema dificuldade em lidar com a mudança, ocorrência de grandes prejuízos no funcionamento do sujeito na sociedade em decorrência de comportamentos restritos e repetitivos, grande dificuldade para mudar o foco ou as ações (comportamentos restritos e repetitivos).
Fonte: encurtador.com.br/pHV15

Logo ao nascer, a mãe de Hugo (Elisa) percebeu que o filho apresentava certas características que o distinguia das demais crianças. Além de não interagir com seus pais e mostrar-se indiferente em relação aos cuidados de sua mãe, Hugo chorava excessivamente e nada o consolava. Quando mais velho, exibia comportamentos “estranhos”, como alinhar incansavelmente determinados objetos; correr de um lado ao outro sem parar e balançar as mãos (comportamentos repetitivos e estereotipados); comportamentos autolesivos e ataques de fúria; ausência de contato visual; rejeição ao contato físico; interesse restrito a uma atividade e assunto; desordem frente a erros e exposição; sensibilidade auditiva e dificuldades em relacionar-se com outras crianças e em comunicar-se com outrem, pronunciando as primeiras palavras após os seis anos de idade.

Devido ao seu comportamento “imaturo”, diversos profissionais acreditavam que Hugo possuía retardo mental severo, o qual, atualmente, é compreendido como Deficiência Intelectual (DI), e abarca déficits em capacidades mentais genéricas (raciocínio, planejamento, pensamento abstrato, aprendizagem, solução de problemas, entre outros) e funcionais, tanto adaptativos quanto intelectuais, nas habilidades conceituais, sociais e práticas. Estes déficits originam perdas no funcionamento adaptativo do indivíduo e limitam o desempenho esperado em atividades cotidianas, como por exemplo, a comunicação, afetando também a participação social e independência em copiosas esferas, tais como escola, trabalho, casa e sociedade (APA, 2014).

Fonte: encurtador.com.br/pHV15

Apesar de determinadas características do TEA serem semelhantes a certos aspectos da DI, como a dificuldade na área de comunicação, e a última poder ser uma comorbidade do transtorno (APA, 2014), ao longo do tempo, percebeu-se que o diagnóstico dado à Hugo poderia estar incorreto. Descobriu-se que ele tinha “um traço cognitivo raro caracterizado pela capacidade de identificar a altura de qualquer nota musical sem referência externa” (GERMANO et al., 2013, p. 1), designado ouvido absoluto, o qual lhe conferia uma grande aptidão para a música. A paixão de Hugo se tornou o piano e mesmo com inúmeras dificuldades, sua dedicação fez com que se destacasse, principalmente na idade adulta.

O documentário, muito além de retratar os critérios diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista, a trajetória de Hugo e seu progresso na vida e na música e, as histórias de outras pessoas com TEA, evidencia o percurso dos tratamentos e intervenções psicológicas, destacando os principais psiquiatras que estudaram e desenvolveram metodologias a fim de minimizar o transtorno e, dia após dia, afastar o indivíduo de sua “prisão interior”.

Ainda, traz críticas a respeito dos métodos de ensino, os quais denegavam crianças atípicas em função de sua forma singular de aprender; e sobre a importância de uma avaliação minuciosa para um diagnóstico correto, uma vez que esse processo implica consequências na vida dos familiares e envolvem questões emocionais, reajustes no orçamento para melhor cuidar dessa criança e readaptação às novas condições.

O documentário traz à tona a realidade do cotidiano de Hugo e outros autistas, os impasses em viver como crianças/adultos típicos, em relacionar-se com familiares e estranhos, viverem em sociedade, em serem admitidos em um emprego e como são menosprezados e, tantas vezes, considerados deficientes intelectuais, quando de fato, podem ser grandes prodígios. Outrossim, também enfatiza o afinco de todos àqueles que os estimam para que sejam capazes de construírem laços afetivos e perscrutarem suas competências intelectuais e artísticas.

“O Cérebro de Hugo” é uma ponte que transpassa um rio torrencial, atulhado de espirais astutas, como a insipiência e o preconceito. Todavia, aquele que é capaz de chegar à outra borda, compreenderá que eles, do mesmo modo que nós, aspiram, unicamente, serem aceitos, respeitados e amados.

FICHA TÉCNICA:

O CÉREBRO DE HUGO

Título original: Le Cerveau D’Hugo
Direção: Sophie Révill
Elenco: Thomas Coumans, Guillaume Briat, Thierry Godard, Jennifer Decker;
Ano: 2012
País: França
Gênero: Documentário ficcional.

REFERÊNCIAS:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.

GERMANO, N. D. G. et al. Categorização de ouvido absoluto em estudantes de música de nível universitário das cidades de São Paulo e Brasília. Anais do IX Simpósio de cognição e artes musicais, p. 21-32, 2013.

O CÉREBRO DE HUGO. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PKhS4WlG234> Acesso em: 02 jul. 2020.

SILVA, A. B.; GAIATO, M. B.; REVELES L. T. Mundo singular: Entenda o Autismo. Rio de Janeiro: Editora Fontana, 2012.

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“Loucos de amor” e a relação entre pessoas do espectro autista

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O filme Loucos de Amor (Mozart and the Whale) é baseado na história verídica de Jerry e Mary Newport, narrada num artigo do Los Angeles Times em 1995. O filme reconta a história a partir dos personagens Donald e Isabelle, dois adultos jovens com Síndrome de Asperger, atualmente denominada como Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) (APA,2014). Donald trabalha como taxista e é excelente com números, sendo capaz de resolver operações matemáticas complexas sem necessitar de qualquer auxílio; já Isabelle é uma cabeleireira que se destaca por sua aparência nos locais onde frequenta e ambos apresentam grande afeto por animais.

É possível observar que Donald apresenta um padrão de comportamento: ele não faz contato visual com outras pessoas e faz contas matemáticas constantemente, com números com os quais se depara ao longo do dia. Logo no início do filme Donald se envolve em um acidente, batendo o táxi no qual trabalha em outro carro. Donald então abandona o táxi e segue para o grupo de autoajuda, que ele criou, para pessoas com autismo e é neste grupo que ele conhece Isabelle, que relata que desde criança entende o que é dito por outras pessoas a sua volta de forma literal. Donald também conta a sua história e diz que cresceu em uma bela casa e que quando tinha 02 anos seus pais perceberam que ele era diferente, não sendo ele a criança normal que todos os pais desejam.

Fonte: https://bit.ly/3iYCgKn

A partir dos encontros no grupo, Donald e Isabelle se engajam em um relacionamento, que é confuso para Donald, que não sabe bem os passos que deve seguir, pois ele sempre cumpriu sua rotina específica e de certa forma solitária, não sabendo quais atitudes tomar diante de mudanças, como em um momento em que Isabelle resolve fazer uma surpresa para Donald, organizando e limpando o seu apartamento, além de redecorar algumas coisas que para ela eram consideradas lixo, mas para ele eram coisas de seu interesse específico. Aquele era o seu apartamento, seu modo de organização e, o principal, aquelas coisas eram relevantes para ele. Tudo isso faz com que Donald reaja com agressividade, pois a mudança o afeta, e ele só se acalma depois de um tempo, calculando e fazendo movimentos estereotipados com as mãos e se balançando, em pé, como se estivesse em uma gangorra. Para Isabelle o relacionamento parece uma aventura e ela sempre está muito entusiasmada, mas para os dois é um campo inexplorado.

Os protagonistas decidem ir morar juntos em uma casa alugada junto com os animais de estimação de ambos. Existe uma tentativa de compreensão, por parte dos dois, neste período em que vivem juntos. Donald deixa que Isabelle pinte as paredes de acordo com o que ela expressa em suas obras de arte, enquanto Isabelle não organiza as “bagunças” que Donald deixa pela casa. Apesar destas tentativas, ambos não conseguem ficar juntos e acabam se desentendendo, pois Donald pede para que Isabelle aja de forma “normal” durante a visita de seu chefe a casa deles e Isabelle fica ofendida com isso, discutindo com Donald, pois para ela não existe a possibilidade de pessoas autistas agirem de forma normal, pois eles não são “normais”.

Ambos sofrem muito com a falta do outro e, quando se entendem novamente, Isabelle pede para que ambos sejam apenas amigos, pois é tudo o que ela tem para oferecer. Mas Donald não consegue entender isso e acaba pedindo Isabelle em casamento, ao que ela reage mal, tentando cometer suicídio. A tentativa de suicídio não é bem sucedida e Isabelle recebe alta do hospital e sua terapeuta pede para que Donald não ligue nem a procure mais. Donald sofre muito com isso e tenta de todas as formas resistir à tentação de ligar para a amada, mas acaba encontrando-a no seu local de trabalho. Dessa forma, vai atrás dela para que possam se entender e para que possa lhe explicar o motivo pelo qual não ligou mais, após o que aconteceu.

Fonte: https://bit.ly/2CtPhe8

No final Donald e Isabelle resolvem ficar juntos, mas sem promessas de como será o futuro, pois não há como prever como se adaptarão às mudanças que a vida de casado irá exigir, porém o que se sabe é que ambos desejam permanecer um na companhia do outro como marido e mulher e o filme é encerrado com Isabelle celebrando juntamente com Donald e os demais integrantes do grupo de ajuda para autistas, a família que eles se tornaram.

A 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM- 5) (APA, 2014) expõe que a pessoa com TEA, apesar de uma aparência física que não indica déficits, se caracteriza pela inabilidade de desenvolver relacionamentos com pessoas, pelo atraso na aquisição da linguagem, no uso não comunicativo da linguagem após seu desenvolvimento, pela tendência à repetição da fala do outro, ecolalia, por uso reverso de pronomes, por movimentos repetitivos e estereotipados, na insistência obsessiva na manutenção da rotina rígida e um padrão restrito de interesses peculiares, pela falta de imaginação, pela boa memória mecânica.

Ficou notório na observação dos comportamentos dos protagonistas do filme déficits na reciprocidade socioemocional, dificuldades de estabelecer uma conversa típica, compartilhamento reduzido de interesses e dificuldades para iniciar ou responder interações sociais. Foi possível observar, ainda, déficits nos comportamentos comunicativos não-verbais usados para interação social, dificuldade no contato visual e linguagem corporal, dificuldade na compreensão e uso de gestos.

Fonte: https://bit.ly/2ZZE9xy

Desde criança, pessoas com autismo indicam menor frequência de habilidades sociais, comprometimento acentuado na interação social e comunicação, bem como um repertório restrito de comportamentos, atividades e interesses. O autismo tende a implicar sérios prejuízos na aprendizagem de habilidades sociais, influenciando outras áreas do desenvolvimento da criança (FREITAS; DEL PRETTE, 2013), desta maneira é importante que pessoas do espectro autista façam terapia e desenvolvam habilidades sociais.

De acordo com Silva, Del Prette e Del Prette (2013), as habilidades sociais são comportamentos que acontecem nas interações sociais e facilitam relacionamentos saudáveis, como por exemplo identificar emoções, expressar empatia e fazer amizades. Estas colaboram no processo de socialização, uma vez que favorecem o desenvolvimento e o ajustamento na sociedade, assim como integram recursos que facilitam a convivência.

Ainda de acordo com Freitas e Del Prette (2013), o Treinamento de Habilidades Sociais (THS) é essencial devido as associações positivas descobertas entre um repertório elaborado nessa área e diversos indicadores de funcionamento adaptativo, como por exemplo relações satisfatórias com pares e adultos, status social positivo no grupo e menor frequência de problemas de comportamentos.

Os Treinos de Habilidades Sociais devem ser realizados de acordo com a necessidade de cada pessoa, pois as intervenções com pessoas autistas devem levar em consideração as possibilidades de cada indivíduo. A pessoa autista que vai a terapia tem maior probabilidade de encontrar uma intervenção com uma etapa inicial que levante uma linha de base (descrevendo o repertório comportamental inicial), com uma avaliação funcional dos déficits e excessos comportamentais observados, sendo selecionadas metas para a intervenção e se fazendo análise de tarefas dessas habilidades específicas selecionadas, de forma a ser possível acompanhar progressos (DUARTE; SILVA; VELLOSO, 2018).

FICHA TÉCNICA: 

LOUCOS DE AMOR

Título original: Mozart and the Whale
Direção:Petter Naess
Elenco: Josh Hartnett, Radha Mitchell, Gary Cole, Sheila Kelley;
Ano: 2005
País: EUA
Gênero: Drama; Romance.

REFERÊNCIAS:

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtorno mental: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 948 p. Tradução de: Maria Inês Corrêa Nascimento et al.

DUARTE, Cintia Perez; SILVA, Luciana Coltri e; VELLOSO, Renata de Lima. Estratégias da análise do comportamento aplicada para pessoas com transtornos do espectro do autismo. São Paulo: Memnon Edições Científicas, 2018.

FREITAS, Lucas Cordeiro; DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira. Habilidades Sociais De Crianças Com Diferentes Necessidades Educacionais Especiais: Avaliações e Implicações Para Intervenção. Avances en Psicología Latinoamericana, v. 31, n. 2, p. 344–362, 2013.

SILVA, Ana Paula Casagrande; DEL PRETTE, Almir; DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira. Brincando e aprendendo habilidades sociais. [S.l: s.n.], 2013.

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Gilbert Grape, aprendiz de sonhador: análise sobre o Transtorno do Espectro Autista

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Dizem que eu sou um milagre
Arnie Grape

O filme Gilbert Grape: aprendiz de sonhador se passa na cidade de Endora, interior dos EUA e conta a história da família Grape, que passou por muitas mudanças, problemas e adaptações desde que o pai se suicidou. Essa família é formada por Bonnie Grape, a mãe, e os filhos Amy Grape, Gilbert Grape, Arnie Grape e Ellen Grape. A película inicia-se com a narrativa de Gilbert sobre cada componente da família, incluindo as características de cada um. Ele cita também um irmão mais velho que saiu de casa e nunca mais voltou (e que não aparece no filme). Conta sobre como seu pai, A. Grape, se suicidou (por enforcamento) e como esse fato repercutiu na vida de sua mãe, Bonnie, que entrou em depressão e obesidade mórbida, ficando sem sair de casa por cerca de sete anos. Gilbert evidencia o autismo de seu irmão Arnie, que tinha, na opinião dos médicos, uma expectativa de dez anos de vida, mas já estava prestes a fazer 18 anos de idade.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é apontado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2019) como sendo um transtorno do desenvolvimento de ordem neurológica, que apresenta como características o comprometimento na comunicação social e a manifestação de comportamentos e/ou interesses restritos e repetitivos. O TEA pode vir acompanhado por comorbidades, aumentando assim as dificuldades que essa pessoa enfrentará e o sofrimento inerente a tais patologias envolvidas, como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, o Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC), Transtornos de Ansiedade e possível quadro depressivo (SAVALL; DIAS, 2018).

Fonte: encurtador.com.br/quR37

Arnie é um adolescente que apresenta dificuldades em compreender regras sociais e as atividades de vida diária (AVD’s), necessitando dos cuidados de seu irmão Gilbert para tomar banho, se secar e vestir. No decorrer das cenas percebe-se também que Arnie apresenta estereotipias motoras (movimentos repetitivos com os dedos) e ecolalias (repetição de frases e palavras). No autismo são comuns alterações comportamentais relacionadas a apego excessivo a rotina, estereotipias ou movimentos repetitivos, assim como o uso de objetos e fala de forma repetitiva. (APA, 2014).

No decorrer do filme, fatos cotidianos vão sendo apresentados, como o trabalho de Gilbert em uma mercearia, os preparativos de Amy e Ellen para a festa de aniversário de Arnie, os encontros casuais de Gilbert com Betty, casada e mãe de dois meninos, e a convivência da família Grape em uma casa simples e antiga, na pequena cidade de Endora. Entretanto, um fato novo acontece na vida de Gilbert. Ele conhece Becky, que logo se torna seu porto seguro em meio a tantas dificuldades na sua vida, como a responsabilidade de prover e cuidar da família, assumindo o papel do pai. Becky chegou a Endora com sua avó, com quem viaja em um trailer, o qual estragou, obrigando-as a pararem na cidade. Assim, o relacionamento entre ela e Gilbert se fortalece em demasia, assim como o vínculo entre Becky e Arnie.

Fonte: encurtador.com.br/dtw39

No desenrolar das cenas, nota-se que as áreas em que Arnie apresenta maior comprometimento relacionam-se à formação e manutenção de vínculos, assim como a necessidade de suporte para realizar tarefas básicas de autocuidado, identificando-se assim, que este personagem poderia estar incluso no Nível 2 do TEA.

Gaiato (2018) traz que o Transtorno do Espectro Autista apresenta três níveis de gravidade:

  1. A pessoa apresenta os sintomas do TEA, porém, precisa de pouco auxílio para realizar as demandas do dia-a-dia;
  2. O indivíduo precisa de mais apoio e intervenção. Os prejuízos relacionados a interação social e comportamentos restritos e repetitivos se tornam mais evidentes;
  3. A pessoa precisa de apoio intenso. Nesse grau, a comunicação verbal e não-verbal é deficitária, assim como a interação social. Os comportamentos restritos e repetitivos prejudicam o nível de funcionamento do sujeito na sociedade.

Os dias passam e a tão esperada festa de Arnie chega, marcada por momentos de alegria e brincadeiras, mas também por dois fatos infelizes: a partida de Becky e a morte de Bonnie, que é encontrada morta por Arnie. Após se conformarem, os irmãos Grape colocam fogo na casa, com sua mãe dentro, pois não queriam que as pessoas se reunissem em torno da casa para ver o corpo de Bonnie sendo retirado por um guindaste, o que seria humilhante para ela.

A cena final recupera hábitos mostrados no início do filme: Gilbert e Arnie sentados à sombra de uma árvore, aguardando a chegada dos trailers que por ali passavam todo ano.

A vida segue…

Conclui-se enfatizando que, uma pessoa com autismo necessita de intervenções adequadas e este processo pode se estender por um longo período, dependendo do grau de comprometimento cognitivo dela (RODRIGUES; FONSECA; SILVA, 2008). Com isso, muitas famílias apresentam dificuldades para providenciar atendimentos adequados aos seus filhos.

FICHA TÉCNICA:

GILBERT GRAPE – APRENDIZ DE SONHADOR

Título original: What’s Eating Gilbert Grape
Direção: Lasse Hallstrom
Elenco:Leonardo DiCaprio, Johnny Depp, Juliette Lewis, Darlene Cates;
Ano: 1993
País: EUA
Gênero: Drama; Romance.

REFERÊNCIAS:

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

GAIATO, M. B. SOS AUTISMO: guia completo para entender o Transtorno do Espectro Autista. Versos, 2018.

RODRIGUES, L. R.; FONSECA, M. O.; SILVA, F. R. Convivendo com a criança autista: sentimentos da família. Revista mineira de enfermagem, 2008.

SAVALL, A. C.; DIAS, M. Transtorno do Espectro Autista: do conceito ao processo terapêutico. Santa Catarina, 2018.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Transtorno do Espectro do Autismo. Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento, 2019.

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Autismo, comorbidades e Covid-19

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Muitos pais ficam com dúvidas sobre como o novo coronavírus (COVID-19) pode ser perigoso ou não para quem tem o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). É importante deixar claro que pelo diagnóstico de autismo em si, essa pessoa não estaria no grupo de risco. O transtorno não aumenta as chances dela de ter problemas em relação ao Covid-19. Entretanto, a pessoa com autismo pode estar mais suscetível à doença caso tenha alguma comorbidade médica que possa representar maior exposição aos perigos da infecção. 

Quem tem TEA costuma ter mais alergias, bronquite, asma, ou seja, cerca de 30% deles têm algum tipo de condição alérgica associada. Outros têm, além do autismo, uma síndrome genética associada que pode ter correlação, dependendo do tipo de síndrome, com alguma imunodeficiência, tratamento recente de alguma neoplasia, de algum câncer, ou pode apresentar alguma malformação que envolva o sistema respiratório ou a deixe mais exposta a complicações intestinais, renais ou cardíacas. Então, com a presença de algumas dessas particularidades clínicas, ele passa naturalmente a ser do grupo de risco. 

Os autistas gostam de ter uma rotina e mantê-las. O isolamento acabou mudando a rotina das famílias e dos profissionais. Isso passou a ser difícil para a estabilidade mental e comportamental destas pessoas. Entretanto, ao se criar condições dentro de casa para manter uma rotina específica e oferecer coisas que ela gosta de fazer, pode-se ajudar a amenizar os problemas, pois ela acaba desenvolvendo um hiperfoco e motivação que aliviará as instabilidades. 

Fonte: encurtador.com.br/djNS2

Neste processo, são indicadas atividades pedagógicas, lúdicas e visuais que ela goste de fazer. É uma forma da família continuar a estimulação, não só social, mas a acadêmica dessa criança também. Aproveitar para ajeitar horários, não deixá-la dormir ou acordar muito tarde para manter a rotina de antes. Assim, quando retomarmos a volta às aulas, ela já estará com essa rotina praticamente inalterada.

O isolamento pode deixar a criança com autismo mais agressiva, com crises de ansiedade e quadros depressivos. Mas vale ressaltar que ela vai estar com a família, dentro de um ambiente em que já está habituada a ficar, com os sons e os processos visuais e auditivos de sua preferência.

Fonte: encurtador.com.br/iprFU

Os pais de autistas podem ajudá-los a se conscientizar sobre todo esse trabalho de prevenção do Covid-19, através de desenhos, figuras, vídeos e músicas, mostrando para ela como proteger a mão e o porquê de não colocar a mão na boca. Tudo o que for visual, concreto, com informações simples e sequenciais, são recursos que a criança com autismo tem mais facilidade em assimilar.

É muito importante o tratamento deles ser mantido pela família durante todo esse período. Mesmo que ela venha a ficar doente e precise tomar anti-inflamatórios, ou tomar remédio para a febre, ou até mesmo tomar antibióticos, as medicações que normalmente toma para o controle do seu comportamento devem ser mantidas e as consultas também. A tecnologia ajuda com as consultas e manejos online preservando seu tratamento. 

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