Por Arlindo Goncalves De Araújo Neto (Acadêmico de Psicologia) – arlindo.netto@rede.ulbra.br
A educação no Brasil, desde o período colonial, tem sido marcada por uma série de transformações que refletem as complexidades e os desafios de um país em constante evolução. Os jesuítas, como primeiros educadores, não apenas introduziram as práticas educativas europeias, mas também deram início a um processo de formação que se entrelaçava com a missão de evangelizar, criando assim as primeiras escolas elementares com um forte enfoque na catequização (Gomes, 2000).
Fonte: Imagem gerada por DALL·E
No entanto, é crucial reconhecer que a educação, como fenômeno social, não é estática. Ela se desenvolve e se transforma, muitas vezes, em resposta às necessidades e desafios emergentes de seu tempo. Nesse sentido, a “Pedagogia das Encruzilhadas” surge como uma abordagem que reconhece a multiplicidade de identidades e a necessidade de uma educação que vá além do eurocentrismo histórico. Lilliane Miranda Freitas, em seu trabalho sobre desvios necessários na formação inicial docente, destaca a importância de “questionar as produções discursivas que formam a identidade docente e subjetivam os indivíduos ao longo de sua formação” (Freitas, 2011, p.1).
Freitas (2011, p.13) argumenta que é “essencial para os professores em formação perceberem que existem múltiplas maneiras de ser professor e que não há uma única ou verdadeira forma de ser um bom professor”. Isso ressoa com a ideia de que a educação deve ser um espaço para “questionar e desconfiar dos discursos tradicionais que muitas vezes naturalizam diferenças e encobrem realidades sociais” (Freitas, 2011, p.5).
A “Pedagogia das Encruzilhadas” propõe, portanto, um currículo vivo, que seja co-construído e em constante diálogo com a diversidade de seus atores, reimaginado diariamente através das interações entre alunos e professores. É um convite para que a escola se torne um espaço de reconhecimento e celebração da pluralidade humana, onde a diversidade é vista como uma ponte para uma compreensão mais profunda e compartilhada da humanidade (Simões, 2022).
A escola municipal Prof. Waldir Garcia, em Manaus, exemplifica a aplicação prática dessa pedagogia. Nela, a educação transcende a mera transmissão de conhecimento para se tornar um ato de reconhecimento e celebração da pluralidade humana. A educação é vista como um direito humano fundamental, onde cada estudante é um agente ativo, trazendo para a sala de aula um universo de experiências e conhecimentos que enriquecem o coletivo.
Portanto, a “Pedagogia das Encruzilhadas” é mais do que um método de ensino; é uma forma de vida, um exercício de resistência e uma fonte de esperança para a construção de um futuro mais justo e inclusivo. Como Freitas sugere, essa abordagem pedagógica desafia as estruturas educacionais tradicionais, promovendo uma educação que é integral, holística e comprometida com a justiça social e cognitiva. É um caminho que reconhece as encruzilhadas teóricas como desvios necessários para uma formação docente que esteja alinhada com as realidades contemporâneas e as demandas de um mundo em constante mudança. (Simões, 2022).
Fonte: Imagem gerada por DALL·E
Referências:
FREITAS, Lilliane Miranda. Encruzilhadas teóricas: desvios necessários na formação inicial docente. Revista Ensaio, Belo Horizonte, v.13, n.01, p.1-42, jan-abr 2011.
GOMES, Candido Alberto. A educação em novas perspectivas sociológicas. São Paulo: EPU, 2000.
SIMÕES, Ceane Andrade. Nas diásporas e encruzilhadas do cotidiano escolar: As travessias dos currículos praticados de uma escola municipal de Manaus. Revista Teias, Rio de Janeiro, v. 23, n. 69, p. 50-59, abr./jun. 2022. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/pdf/tei/v23n69/1982-0305-teias-23-69-0050.pdf. Acesso em: 05 de novembro de 2023.
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“Anjos do Sol” – o retrato da exploração sexual infantojuvenil no Brasil
7 de janeiro de 2024 Vitória Cardoso Figueira
Filme
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Um crime contra a vida, contra pessoas e contra corpos fragilizados
O filme “Anjos do Sol” retrata a história da pobreza e miséria enfrentada por famílias que residem no sertão nordestino. Essas famílias, em condições precárias, acabam entregando suas filhas a aliciadores em troca de pagamento, sem o intuito explícito de abordar a questão do trabalho infantil. No entanto, o filme destaca a exploração sexual de crianças como uma das formas mais cruéis de trabalho infantil na sociedade contemporânea.
A obra de Lagemann em “Anjos do Sol” não se limita à realidade específica do Nordeste, mas evidencia que essa triste realidade está presente em diversos contextos sociais, desde a pobreza do sertão e garimpos até fazendas, rodovias e no coração das grandes cidades. A exploração sexual, muitas vezes erroneamente percebida pela sociedade como prostituição infantil, é destacada no filme como um problema grave, desmistificando a noção equivocada de que as crianças e adolescentes envolvidos envelhecem de forma voluntária e deliberada.
O filme “Anjos do Sol” aborda de maneira impactante a realidade de muitas famílias no interior do Brasil, que enfrentam condições de extrema pobreza e são relegadas à invisibilidade social. Essas comunidades são frequentemente esquecidas e desconhecidas pela sociedade em geral, vivendo à margem dos direitos mínimos essenciais. Diante das condições precárias de existência digna, os valores morais muitas vezes se tornam inexistentes, deixando às pessoas vulneráveis qualquer tipo de exploração que possa proporcionar algum benefício em meio à adversidade.
Nesse contexto, o filme retrata de maneira dolorosa a mercantilização de meninas, que se torna, muitas vezes, o único recurso oferecido por uma sociedade que negligencia essas comunidades. A história de “Maria”, uma menina de 12 anos, é um exemplo trágico dessa realidade. Ela é vendida por seu próprio pai a um aliciador, sendo tratada como uma mercadoria que é transportada ilegalmente em um caminhão de transporte de frutas junto com outras meninas, todas escondidas como se fossem produtos ilegais.
O início abrupto do filme destaca a triste realidade em que famílias desesperadas vendem suas filhas menores, muitas vezes para conhecidas na capital, na esperança de proporcionar a elas uma educação básica e a chance de “ser alguém na vida”, como expressa a mãe ao explicar à filha: “vai arrumar uma casa boa pra você trabalhar, minha filha”. Esse ato é motivado pela busca desesperada por uma solução em meio a um ambiente miserável e hostil, no qual qualquer possibilidade de desenvolvimento socioeconômico parece inatingível. O filme retrata vividamente a dura realidade de inúmeras famílias brasileiras, seja nas áreas ribeirinhas, nos subúrbios das grandes cidades, nas margens das estradas ou nas remotas zonas rurais do Brasil. É uma realidade marcada pela miséria, com crianças e pais analfabetos, tornando essas famílias ainda mais vulneráveis à manipulação de aliciadores e proxenetas (Da Silva, Leli, 2014).
A esperança de um emprego doméstico na capital é apresentada como uma solução para as meninas, em meio a um contexto onde a falta de oportunidades é esmagadora. A ironia é destacada quando a própria proxeneta, chamada Saraiva, comenta: “Prostituta alfabetizada é ruim para os negócios. A única que sabe ler e escrever é a que dá mais trabalho, fica inventando contas”. Isso evidencia como a perpetuação da ignorância serve aos interesses dos exploradores, revelando a triste realidade na qual as vítimas são mantidas em um ciclo de exploração, sem as ferramentas básicas para se libertarem. O filme lança luz sobre essas questões sociais complexas, destacando a urgência de abordar as raízes profundas da pobreza e a falta de acesso à educação (Da Silva, Leli, 2014).
O aliciador, conhecido como “Tadeu”, destaca a desumanização ao referir-se às vítimas como “mercadoria de primeira” ao vender-las, incluindo Maria, a uma cafetina chamada Nazaré. Esta última se posicionou como envolvida, lucrando com o cruel mercado de venda de seres humanos. Sob a fachada de ajuda, Nazaré anuncia que as meninas que recebem roupas novas e, em breve, “uns senhores” virão adotá-las, tornando-se seus “padrinhos e protetores” (Da Silva, Leli, 2014).
No entanto, a suposta ajuda de Nazaré revela-se uma farsa, pois ela está envolvida num leilão de menores virgens destinado a “poderosas” figuras políticas e fazendeiros abastados. A cafetina explora a inocência e a vulnerabilidade dessas crianças, transformando a tragédia da exploração infantil em uma transação lucrativa. No contexto perverso apresentado pelo filme, a juventude e a inexperiência das meninas tornam-se mais vantagens nesse mercado desumano.Esta narrativa expõe de maneira contundente a exploração sistemática e desumana que ocorre nesse submundo, destacando como a ganância e a falta de escrúpulos de alguns indivíduos perpetuam o sofrimento dessas vítimas (Da Silva, Leli, 2014).
O filme destaca de maneira impactante a exploração sexual como uma das formas mais cruéis do trabalho infantil. Em uma cena perturbadora, um fazendeiro chamado Lorenço adquire Maria e Inês em um leilão, planejando apresentar seu filho no aniversário de 15 anos dele, utilizando meninas como parte de uma iniciação sexual para o jovem. A brutalidade dessa situação é evidente na forma como o ato sexual é transformado em uma transação monetária, despojando completamente a intimidação humana: “Experimente seu presente. Faça o que quiser, você tem todo o direito do mundo.” Enquanto Maria enfrentava o desespero diante da violência iminente, o fazendeiro instruiu seu filho: “Bate que ela te obedece”, revelando a terrível dinâmica de poder que coloca o “senhor” acima da dignidade da “mulher”, tratando-a como um objeto de prazer (Da Silva, Leli 2014).
Fonte: https://www.omelete.com.br
A casa 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil
A crueldade infligida a Maria, uma criança vendida pelos próprios pais em busca do sustento da família, destaca a vulnerabilidade extrema das crianças nesse contexto. Isso ressalta a negação flagrante de sua dignidade diante dos interesses econômicos dos exploradores e das famílias que, de maneira desesperada, se submetem à exploração para garantir sua sobrevivência. Essa cena angustiante ilustra a complexidade desse ciclo de exploração, sublinhando as conexões entre pobreza, falta de oportunidades e a desumanização decorrente dessas práticas (Da Silva, Leli, 2014).
Após a “mercadoria ter sido usada”, isto é, depois de terem cometido diversos abusos físicos e sexuais, a dignidade veio a ser destruída e difamada. Seu “dono” decide por exportar as duas meninas para a aldeia dos Garimpeiros na Amazônia, acreditando que elas “não servem para nada”. Quando diz: “Mande elas pro Garimpo, pra ver se a Saraiva dá um jeito e serventia pra elas”. Retratando como são vistas apenas objetos e mercadorias (Da Silva, Leli, 2014).
Uma vez mais, as jovens são transportadas como se fossem mercadorias, desta vez em um avião de carga que as leva ao coração da floresta amazônica. Este cenário exuberante, repleto de beleza e riqueza natural, torna-se palco para a desumanização, evidenciando que, mesmo em meio a tanta grandiosidade, o ser humano é reduzido a uma commodity, um mero objeto de troca para o benefício ou prazer do outro. Ao chegarem ao seu novo destino, ou talvez seja mais apropriado dizer ‘inferno’, as garotas são anunciadas na rua principal como ‘carne fresca’, com um preço estabelecido em 3 gramas de ouro por programa. (Da Silva, Leli, 2014).
Em sua nova “casa”, chamada de “Casa Vermelha” no filme, as meninas são recebidas por Saraiva, “novo dono e padrinho”. O diretor com clareza expõe como os proxenetas se autodenominam como protetores das jovens, mostrando como exploradores fazem questão de ocupar um lugar de alguém especial ou salvador para as vítimas, no intuito que se compadeça com o tal e sejam compreensíveis com tudo que está acontecendo (Da Silva, Leli, 2014).
A condição de vida das crianças e mulheres, conforme retratada no filme “Anjos do Sol”, é caracterizada por uma superexploração que abrange tanto a força de trabalho em condições desumanas quanto a supressão total de direitos, visando exclusivamente à busca pela mais-valia. O filme habilmente traduz a infância roubada de meninas em todo o país, resultado de interesses econômicos e da satisfação dos desejos mais sórdidos do homem. Baseado em uma história real, a obra expõe com maestria a dura realidade que a sociedade e o Estado precisam enfrentar (Da Silva, Leli, 2014).
REFERÊNCIAS
DA SILVA, Waldimeiry Corrêa; LELI, Acácia Gardênia Santos. Casa Vermelha: A Antitese entre a pureza da infância e a exploração sexual no Filme Anjos do Sol. Derecho y Cambio Social, v. 11, n. 35, p. 42, 2014. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5472813> Acesso em: 16 de novem. 2023.
Os desafios da terceira idade estão longe de acabar. Em especial, em países em desenvolvimento, onde o idoso precisa de políticas públicas mais eficientes para ter uma qualidade de vida. Sobre o assunto, a Organização Das Nações Unidas – ONU, em Assembleia Geral, decidiu que o período de 2021 a 2030 será conhecido, como a década do Envelhecimento Saudável. O objetivo da iniciativa é fazer com que a sociedade mude sua forma de pensar e agir em relação ao idoso.
Conforme a ONU (2020), a humanidade está envelhecendo, em todos os quatro cantos do mundo, e por isso é preciso na elaboração de políticas públicas que auxiliem nessa fase, que segundo a entidade, afeta o sistema de saúde. De acordo com a resolução elaborada em Assembleia, junto aos países membros, o mundo não está preparado por contribuir e responder com eficiência aos direitos e necessidades da pessoa idosa. (ONU, 2020). Para é necessário o engajamento da sociedade civil junto, setor privado e público para a promoção de um envelhecimento saudável reiterou a organização internacional.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, confirmou que a proposta em promover uma década saudável para os idosos, a partir deste ano, 2021, é melhorar a qualidade de vida deles, bem como acrescentar anos à vida de cada um. Dados coletados pela ONU, afirmam que existem 962 milhões de pessoas espalhados pelo mundo com mais de 60 anos de idade, sendo que em 2030 serão mais de 1,4 bilhões de idosos. Nesse sentido, a ação vai ao encontro dos números que confirmam o envelhecimento da população mundial.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que houve um aumento considerável da população idosa brasileira, nas últimas décadas. A coleta foi feita, em 2020, e informa que o número da população brasileira com 60 anos de idade aumentou para 29,9 milhões e se continuar nesse ritmo deve subir para 72,4 milhões em 2100. Comparada a população idosa, da década de 50, que era 2,6 milhões, ocorreu um aumento de 8,2% nos últimos setenta anos.
Fonte: Freepik
Ainda de acordo com o IBGE (2020), o número de idosos com mais de 65 anos de idade passou para 9,2 milhões em 2020 e que a previsão para daqui a 100 anos é alcançar 61, 5 milhões de brasileiros. Já a quantidade de brasileiros idosos com mais de 80 anos passou 4,2 milhões, em 2020, sendo que em 2100 será de 28,2 milhões. Ou seja, a população brasileira envelheceu e vai continuar no processo de envelhecimento, por isso é importante o engajamento dos setores públicos e privados, bem como a população em busca de melhoria de vida para o idoso, como pontou a Assembleia Geral da ONU realizada o ano passado.
Veras (2007) comemora que, o envelhecimento populacional constitui um substancial conquista da humanidade, mas adverte que o novo cenário demográfico e epidemiológico precisa exigir novos olhares, concepções, políticas, tecnologias e modelos de atenção que possibilitem um envelhecimento saudável. Para isso, propõe a análise das desigualdades sociais entre as pessoas da terceira idade para a elaboração de políticas para o brasileiro com mais de 60 anos.
Para assegurar os direitos do idoso, no Brasil, foi elaborada a Lei 10.741, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, em 2003. Entre suas atribuições estão atendimento individualizado e especial junto aos órgãos públicos e entidades privadas, preferência na elaboração de políticas públicas, além de sua execução. No entanto, apesar dessas diretrizes, a qualidade de vida do idoso brasileiro, precisa ser revista e melhorada, em especial no mercado de trabalho, é o que em Lopes e Burgadt (2013).
Para Lopes e Burgadt (2013) o idoso que deseja voltar ao trabalho precisa competir com concorrentes mais jovens, geralmente preferidos pelo devido ao seu maior grau de qualificação. “O preconceito que existe com relação à terceira idade faz com que a sociedade naturalmente ignore o idoso, visto que uma das grandes dificuldades quanto à inclusão dessa parte da população no mercado de trabalho” Lopes e Burgadt (2013). Nesse sentido, é preciso mudar o olhar sobre a população idoso, que vem aumentando consideravelmente, por isso é importante sua reinserção no mercado de trabalho de forma digna. Isto é, se a população tende ao envelhecimento, o mercado precisa se adaptar à nova realidade. Além disso, o jovem cheio de oportunidades hoje, é o idoso de amanhã.
REFERÊNCIAS
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2020). Disponível em <https://www.ibge.gov.br/> Acesso 02, de nov, de 2021
ONU- Organizações das Nações Unidas (2020) -Assembleia Geral da ONU(2020). Disponível em < https://brasil.un.org/pt-br/about/about-the-un > Acesso. 02, de nov de 2021
Lopes APN, Burgardt VM. Idoso: um perfil de alunos na EJA e no mercado de trabalho. Estudo Interdisciplinar Envelhecer (2013).
Pesquisa da Collinson traz dados exclusivos do Brasil e mostra quais propostas de bem-estar mental serão essenciais para ajudar os passageiros a voltarem a voar
Nova pesquisa revela que os passageiros tendem a considerar o bem-estar mental tão importante quanto o físico em um cenário de viagens pós-pandemia. O estudo “Jornada de Retorno” foi realizado pela Collinson, especialista global em fidelização de clientes e experiências dos viajantes, e traz dados inéditos de dois levantamentos feitos pela empresa em 13 países, incluindo um recorte dedicado ao Brasil.
A conscientização da sociedade e a importância da saúde mental aumentaram drasticamente nos últimos anos, e não é diferente quando se trata de viagens. No âmbito global, a pesquisa mostra que, a partir de agora, 73% dos passageiros vão priorizar mais seu bem-estar mental quando viajarem do que antes da Covid-19. No Brasil, esse percentual chegou a 90%.
O estudo demonstrou que os entrevistados do Brasil foram os mais preocupados com a saúde, os tornando mais propensos do que os dos outros países a pagar por serviços adicionais para melhorar seu bem-estar no aeroporto – quase metade (44%) disseram que pagariam por espaço extra para as pernas no avião, enquanto 41% pagariam por embarque prioritário. Os serviços pelos quais os brasileiros teriam mais probabilidade de pagar, em função da Covid-19, seriam os testes no embarque e desembarque no aeroporto. Quarenta e sete por cento relataram que pagariam pelo teste no desembarque, enquanto 53% disseram que o fariam no embarque. Mais pessoas no Brasil pagariam por testes no aeroporto do que em qualquer outro país, indicando uma demanda reprimida por viagens internacionais dos consumidores brasileiros.
Fonte: encurtador.com.br/kmwDL
Para Henrique Donnabella, Diretor Geral da Collinson Brasil, os dados demonstram que os brasileiros foram os mais preocupados em ter os protocolos de saúde e distanciamento social corretos antes de se sentirem confortáveis em viajar novamente. “Esses percentuais, provavelmente, decorrem de dois importantes fatores que estão diretamente relacionados a pandemia: 1) o medo da contaminação, tendo em vista que o Brasil foi severamente impactado pelo Covid 2) o medo da não aceitação, tendo em vista que o brasileiro está sofrendo restrições importantes para entrada em outros países. Os resultados mostram o que os passageiros procuram para ter confiança neste momento, além de fornecer uma visão dos problemas que já enfrentavam em suas viagens, antes da pandemia. Ambos os conjuntos de descobertas são necessários para se obter o panorama mais completo para ajudar o setor a se recuperar”, enfatiza.
Embora já houvesse uma preocupação entre os viajantes sobre o impacto que as viagens estavam tendo sobre seu bem-estar físico, 81% disseram que a pandemia aumentou essas preocupações. Apesar de haver uma demanda reprimida por viagens em todo o mundo, mais de dois terços (67%) dos viajantes globais acham que as viagens pós-pandemia serão mais estressantes no clima atual. Quando questionados sobre o que as empresas do setor de viagens poderiam fazer para ajudar nessa situação, 42% dos passageiros disseram que valorizam propostas que demonstrem consideração por sua saúde mental em suas viagens. Metade também afirmou desejar a mesma consideração por sua saúde física.
“A importância da saúde mental ao viajar talvez seja surpreendente, mas também é uma informação bem-vinda sobre o que os viajantes procuram conforme a recuperação do setor continua a ganhar terreno com novos testes e programas de vacinação”, explica David Evans, CEO da Collinson. “Esta é uma maneira de o setor de viagens olhar para sua oferta aos consumidores, permitindo que as empresas entendam o que os consumidores desejam e onde o setor precisa agir para reconstruir a confiança do viajante.”
Fonte: encurtador.com.br/eBGNT
Medidas a serem consideradas
A pesquisa também mostra que 88% dos passageiros em todo o mundo afirmaram que medidas visíveis de saúde e higiene no aeroporto são importantes para que se sintam seguros ao viajar em meio à pandemia, como álcool em gel para as mãos em todo o aeroporto (63%) e a exigência do uso de máscara (66%). Essas iniciativas são mais importantes para os viajantes brasileiros do que para os de qualquer outro país, representando 95% do total. O Brasil também liderou o percentual do levantamento em relação aos que mais tinham probabilidade de querer garantias ligadas a medidas de distanciamento social, totalizando 95%.
Quando questionadas sobre por que poderiam hesitar em viajar devido à Covid-19, o principal motivo alegado foi o temor de precisar ficar em quarentena na chegada ou no retorno (51%). O desejo de evitar longos períodos de quarentena provavelmente é um dos motivos pelos quais os passageiros consideram a realização de um teste na chegada um ingrediente importante para sua experiência de viagem (83%). Mas, curiosamente, quase o mesmo número de pessoas (82%) disse que o teste antes da partida também era importante, o que indica que o teste de Covid-19 já deixou de ser apenas um pré-requisito governamental para viajar para certos destinos e passou a ser um elemento desejado pelas pessoas, a fim de lhes dar a confiança necessária para voltar a voar.
Em última análise, os passageiros procuram uma experiência tranquila e sem estresse, com medidas de distanciamento social em vigor desde o check-in até a chegada, juntamente com uma jornada rápida e eficiente. Nesse sentido, mais de um terço (36%) afirmou estar disposto a pagar pelofast track(não pegar fila no raio X), enquanto 38% pagariam mais por um assento livre ao seu lado no avião e 30% pagariam mais por espaço extra para as pernas.
Enquanto 87% das pessoas disseram que o distanciamento social era importante para elas ao se deslocar pelo aeroporto, a mesma proporção (87%) disse especificamente que deseja acesso a espaços socialmente mais tranquilos onde possam “desestressar” e “relaxar longe das multidões”. Na verdade, em alguns países, incluindo Reino Unido, EUA, Rússia e Austrália, mais pessoas disseram que queriam ter acesso a um lugar para relaxar do que ter um lugar para se distanciar. No entanto, a associação entre estresse e viagens não está, de modo algum, ligada exclusivamente à pandemia. Antes mesmo da COVID-19, quase metade (43%) dos viajantes relatou sentir estresse em pelo menos um momento durante a viagem, e um número semelhante (45%) admitiu telefonar ao trabalho no dia seguinte alegando doença para se recuperar de uma viagem.
Fonte: encurtador.com.br/rFQX7
Sobre a pesquisa
A pesquisa da Collinson foi realizada com 18,5 mil pessoas em 2019 e 12,6 mil em 2020. A primeira rodada buscou obter percepções sobre as atitudes dos viajantes de lazer e negócios em relação às viagens e a segunda teve o objetivo de atualizar esse levantamento à luz da pandemia. A empresa trabalha com parceiros de todo o ecossistema de viagens, incluindo companhias aéreas, aeroportos e grupos hoteleiros, bem como empresas com programas de fidelidade e cartões de crédito premium que oferecem benefícios de viagens.
Para a Collinson, é mais importante do que nunca que todas as partes do ecossistema se unam para ajudar a restaurar a confiança nas viagens. Todas as empresas que fazem parte da jornada de viagens e dependem do setor devem se unir para resolver alguns desafios críticos e criar uma experiência de viagem cada vez mais disruptiva.
“Está bem claro que o setor de viagens foi devastado pela pandemia, afetando desde o comércio e o crescimento econômico até centenas de milhares de empregos no setor em todo o mundo. Embora haja alguns sinais positivos para a recuperação do setor de viagens, a única maneira de torná-la um sucesso é compreender as necessidades e os temores existentes dos viajantes e como eles foram agravados pela pandemia”, continua David Evans. “É muito importante que o setor de viagens se recupere e é ainda mais importante que ele seja capaz de fazê-lo de forma colaborativa e bem-informada”.
“A pesquisa mostra que acalmar as preocupações das pessoas em relação ao seu bem-estar mental pode ser a chave para reconstruir a confiança do viajante. Embora, é claro, as preocupações com a saúde física estejam maiores durante este período, o mesmo ocorre com o impacto das viagens sobre a saúde mental – e é preciso responder a ambos. Trabalhando juntos nas questões salientadas neste estudo, todos aqueles que têm interesses no ramo de viagens podem ajudar a fazer mudanças agora para garantir que o setor volte a prosperar no futuro”, finaliza Evans.
Fonte: encurtador.com.br/pBH47
Sobre os dados
Em 2019, foram coletados dados de um total de 18,5 mil viajantes, sendo 17 mil deles a lazer e 9 mil a negócios (alguns entrevistados responderam em ambas as perspectivas). A pesquisa foi realizada na Austrália, Brasil, China, Índia, Japão, Rússia, Reino da Arábia Saudita, Coreia do Sul, Singapura, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e EUA. Em média, os viajantes a lazer faziam 2,24 viagens por ano e os viajantes a negócio, 2,34.
Os dados de 2020 foram coletados de um total de 12.607 viajantes, sendo 11.159 viajantes a lazer e 7.904 a negócio. A pesquisa foi realizada na Austrália, Brasil, China, Hong Kong, Índia, Japão, Rússia, Reino da Arábia Saudita, Coreia do Sul, Singapura, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e EUA.
Sobre a Collinson
A Collinson é líder global em fornecer experiências para viajantes, incluindo acesso a salas VIP de aeroportos, assistência médica e de segurança e serviços médicos em viagens. As iniciativas da Collinson neste setor incluem a gestão do maior programa de experiências e salas VIP de aeroportos do mundo, o Priority Pass, bem como soluções de seguro de viagem, assistência de identidade, atrasos de voos, saúde internacional e gestão de riscos de viagens.
A Collinson conta com mais de 2.000 funcionários atuando a partir de 20 localidades globalmente, todos trabalhando para oferecer uma ampla variedade de experiências de viagem que garantem a segurança, o bem-estar e o conforto de 55 milhões de viajantes de negócios e lazer ao redor do mundo. Sua unidade de negócios de assistência médica e de segurança em viagens tem mais de 55 anos de experiência no fornecimento de assistência médica e atendimento de emergência internacional, incluindo o manejo de pandemias como ebola, zika e coronavírus. Só no ano passado, a Collinson respondeu a mais de 95.000 chamadas de emergência, administrou mais de 40.000 casos médicos e conduziu mais de 3.000 evacuações aeromédicas nos 170 países que atende. Entre os principais clientes do Brasil, estão: Latam Airlines, Azul e Accor Hotels.
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“Essa Terra é Minha”, música de ativista indígena do Tocantins, será tocada em programa especial da Rede Globo no dia 19
Programa “Falas da Terra” vai ao ar na próxima segunda, 19 de abril, logo após o Big Brother Brasil, sendo a primeira vez que uma compositora indígena terá sua música em um programa em Rede Nacional; no mesmo dia, Narubia Werreria lançará a canção em seu canal no Youtube, Nativa.
“Essa Terra é Minha” é a mensagem de uma indígena do povo Iny, da Ilha do Bananal, no Tocantins, que se tornou música do especial “Falas da Terra”, programa especial da Rede Globo. O programa irá ao ar no dia 19 de abril, logo após o Big Brother Brasil, sendo a primeira vez que uma compositora indígena terá sua música em um programa de abrangência nacional. Narubia Werreria compôs, produziu, cantou e terá também uma participação especial no programa, ao lado dos cantores indígenas Thaline Karajá e Edvan Funi-ô.
Também no dia 19, Narubia lançará a canção em seu canal “Nativa”, no Youtube, e em breve em todas as plataformas digitais. Ela explica que, mesmo sendo compositora desde pequena, a letra da música surgiu após a participação de Thaline Karajá no The Voice Brasil.
Fonte: Arquivo Pessoal
“Como líder e ativista indígena, sinto uma angústia e indignação por todas as injustiças e mentiras que falam sobre nós, povos indígenas, e sempre pensei em fazer uma música pra cantar isso, mas não vinha. Então, na noite em que eu estava acompanhando minha amiga-irmã Thaline no The Voice, vi o momento em que ela falou que nós indígenas vamos ocupar todos os espaços porque essa terra é nossa. Fiquei muito emocionada, e infelizmente, um dos jurados tentou mudar suas palavras, mas as palavras dela tinham sido ditas em alto em bom som. Depois disso, liguei para ela e conversamos muito e passei a madrugada pensando, quando me veio a melodia e a letra juntas, eu fui cantando e gravando no celular e logo estava pronta”, afirma.
Narubia enviou a música para Thaline que mandou para os produtores do Especial Falas da Terra, uma vez que estavam em busca de uma música indígena escrita por uma pessoa indígena para compor o programa. “Logo o produtor musical da Globo entrou em contato comigo, disse que tinha gostado muito da música e perguntou se poderia usar no programa. Eu fiquei muito feliz com a proposta! Depois foi tudo muito rápido, fui ao Projac e gravei a música junto com a Thaline e Edvan, além da participação no Especial”, concluiu.
Significado
Narubia explica que a sua felicidade em ter a música tocada em Rede Nacional se dá também pela mensagem que será enviada a todo o Brasil sobre os povos indígenas. “Nós queremos respeito! Somos tratados como estranhos em nossa própria terra, os nossos direitos originários, os nossos corpos e nossas terras foram e são o alvo da ganância e da hipocrisia. Quero falar em alto e bom som, que somos filhas e filhos dessa terra e que ela é nossa. Concebidas na luta e na violação, mas nunca vamos parar de lutar, pois amamos essa terra. Em cada rio desse território temos uma história ancestral, as matas, as serras contam nossa história e vamos continuar lutando por uma vida digna, pelos rios límpidos, pela floresta em pé, pela onça pintada livre e pelo grande piracuru nos rios”, destaca a compositora.
Fonte: Arquivo Pessoal
Perfil – Narubia Werreira
Narubia Werreria, do povo Iny da Ilha do Bananal-TO, é filha de líderes indígenas, João Werreria e Lenimar Werreria Canela, filha de homens amáveis e mulheres fortes. Também é ativista indígena por mais de uma década, além de cantora, compositora, artista plástica, poeta, palestrante das águas do Berohoky (Araguaia). Ao lado de Thaline Karajá e Márcia Kambeba, forma o grupo musical “Indá Açu”, que significa Grande Canto.
Serviço
O quê: Participação da indígena Narubia Werreria e sua nova música “Essa Terra É Minha” no Especial Falas da Terra na Globo e lançamento da canção no Youtube Nativa.
Quando:Dia 19 de abril, logo após o Big Brother Brasil, na Rede Globo
Contato para entrevistas:(63) 99225-6044 – Lauane dos Santos/Assessoria
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Bravura e sobrevivência – (En)Cena entrevista a advogada Flávia Paulo
“Mesmo antes da pandemia, o Brasil já era o 5º país do mundo no índice de feminicídios [1], há anos figura entre os piores em termos de desigualdade de renda e é considerado o país que mais mata pessoas LGBTQI+ [2]. Após a pandemia esses índices irão demonstrar cenários complicados para nós mulheres”.
Flávia Paulo
Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de Campinas aponta que a população LGBTQI+ se sentem mais vulneráveis ao desemprego e à depressão por causa da pandemia. Segundo dados do Núcleo de Gênero e Diversidade – NUGEN [3], divulgados em 2020, dos dez mil brasileiros entrevistados 44% das lésbicas; 34% dos gays; 47% das pessoas bissexuais e pansexuais; e 42% das transexuais temem sofrer algum problema de saúde mental durante a pandemia do novo coronavírus.
O estudo revela ainda que 21,6% dos LGBTs entrevistados estão desempregados enquanto que o índice total no Brasil é de 12,2%, segundo o IBGE.
Neste contexto, a revista (En)Cena entrevista a advogada, militante ativista do movimento lésbico e usuária ativa das redes sociais Flávia Paulo aponta sua perspectiva sobre os desafios de ser mulher, LGBTQI+, atuar como jurista e ter sucesso profissional no Brasil da pandemia. Destaca, ainda, os impactos positivos de saber a hora de parar, desligar-se do trabalho e manter uma vida pessoal equilibrada para manter saúde mental e reinventar formas de sobrevivência no pós-pandemia.
Flávio Paulo. Foto – Arquivo pessoal
(En)Cena –Considerando o seu lugar de fala, de mulher, advogada, ativista do movimento lésbico e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID 19?
Flávia Paulo – As limitações dentro desse padrão no qual faço parte, são evidentemente sentidas no cotidiano. Para ser mulher neste contexto precisamos encarar de frente e com muita bravura todas as limitações que são impostas a nós. A pandemia gerada pelo novo Corona vírus intensificou todas as crises que já faziam parte das realidades aqui no Brasil. Um dos temas que a covid-19 trouxe à tona para a sociedade brasileira foi a dimensão da divisão sexual do trabalho em relação ao trabalho não-pago realizado no interior das famílias. No cenário brasileiro, a crise sanitária se soma à crise de governança, resultando num pandemônio que produz mais precariedades e violências contra as classes minoritárias. A voz da mulher merece ter além de espaço, força, pois nada adianta os disfarces de oitivas seguidos de engavetamento de suas ideias e pensamentos. As redes sociais estão cada vez mais sendo utilizadas para demonstrar essas realidades. Utilizo as minhas redes sociais para o fim comercial e também para a criação da minha persona, mulher, lésbica, advogada e independente para que com isso eu consiga gerar sentimentos de acolhimento para aquelas que se sentem muitas vezes desestimuladas a serem quem elas querem ser ou se sentem indiferentes e possam ter coragem de assumir uma vida livre ou pelo menos tentar.
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(En)Cena –Como a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres interfere em tomadas de decisões acertadas ou equivocadas em termos de direito?
Flávia Paulo – Acredito que seja de forma individual, pois temos mulheres técnicas nas quais nada ou quase nada interfere suas emoções e sentimentos nas tomadas de decisões, como temos também em contrapartida mulheres que se deixam levar por sentimentos e emoções que acabam influenciando em decisões que deveriam ser tomadas apenas por critérios técnicos. Mas entendo, que seja algo mais relacionado à capacidade humana do que a distinção entre gêneros. Conheço homens, advogados, juristas, extremamente emocionais e que se deixam ser influenciados a ponto de tomarem decisões técnicas baseadas em sentimentos. Já recebi decisões judiciais baseadas claramente em sentimentos pois não se enquadram no código de processo civil, no direito material e sim na mais pura opinião pessoal do magistrado.
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(En)Cena –Quais estratégias você indica para que as mulheres mantenham saúde mental no curso de um processo judicial?
Flávia Paulo – O que você faz quando desliga o seu computador é um fator que irá determinar se terá saúde mental ou não. Com o computador aberto, sofrendo as pressões tanto de clientes, como de colegas e magistrados, eu entendo ser muito improvável que a mulher consiga ter saúde mental. Me refiro a máquina (computador) pois estamos em pandemia, e a advocacia hoje acontece de forma virtual, na máquina. E desligar a máquina e tentar ter sua vida pessoal longe dela, eu vejo como primordial para uma saúde equilibrada, caso contrário você será consumida aos poucos. Mas a máquina pode ser estendida a qualquer tipo de objeto ou pessoas que te liguem ao seu trabalho. Ter sua vida pessoal é primordial.
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(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?
Flávia Paulo – Importante destacar que na história, toda crise social atingiu com mais intensidade as mulheres e isso será sentido no mundo pós-pandemia. Isto porque esse impacto é maior nas mulheres e isso está ligado ao machismo estrutural. A sobrecarga e acúmulo de funções, a carga mental invisível. Isso tudo terá uma consequência nos próximos anos que será perceptível. É preciso, ainda, contextualizar que mesmo antes da pandemia, o Brasil já era o 5º país do mundo no índice de feminicídios, há anos figura entre os piores em termos de desigualdade de renda e é considerado o país que mais mata pessoas LGBTQI+. Após a pandemia esses índices irão demonstrar cenários complicados para nós mulheres. Essa polarização de mulheres contra homens, feministas contra não feministas, isso tudo já está muito mais ativado agora no cenário epidêmico e terá graves consequências contra os direitos das mulheres e contra sua própria dignidade, o que será externamente sentido quando a pandemia não for mais o foco e a sociedade entender o que as mulheres tiveram que se submeter durante a pandemia. E como nos ensinou Angela Davis: “Precisamos nos esforçar para erguer-nos enquanto subimos”. E com isso as mulheres mais uma vez terão que reinventar formas de sobrevivência.
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Notas:
[1] Mapa da Violência de 2015, organizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).
[2]Observatório de assassinatos trans. https://exame.com/brasil/pelo-12o-ano-consecutivo-brasil-e-pais-que-mais-mata-transexuais-no-mundo/
A maioria dos genocídios ao longo da história se deu por meio de ações declaradamente violentas, sangrentas e por uso da força. Já o genocídio Bolsonarista acontece sem que os assassinos precisem sujar suas mãos ou se exporem. Basta não fazerem nada, basta deixarem que aconteça. Mesmo as ações utilizadas para acelerar o processo, são sutis e singelas. Podem até serem confundidas com um pequeno engano, uma piada, uma ignorância inocente ou uma preocupação legítima: “esquecer” do uso da máscara, compartilhar ou inventar mentiras, falar uma bobagem qualquer usando a si próprio como exemplo de validação, indicar terapêuticas aparentemente inofensivas, criticar o isolamento social em prol do direito ao trabalho e a renda.
O genocídio Bolsonarista não precisa provocar muito barulho e nem se colocar na cena das mortes; é limpo e covarde. Sua perversão e crueldade está sobretudo, na sutileza e na invisibilidade As pessoas podem ser enviadas para a morte com uma “inocente” mensagem de WhatsApp ou um vídeo na TV.
Hannah Arendt, em sua leitura sobre o julgamento de Eichmann por crimes de genocídio contra os judeus, afirmou que não foi necessário um monstro cruel e perverso para instrumentalizar as atrocidades comandadas por Hitler e o Nazismo, durante o Holocausto. Bastou um burocrata obediente, sensato e disciplinado, disposto a cumprir ordens e fazer o seu trabalho de modo eficiente. Bastou que Eichmann cumprisse seu papel e se deixasse levar pelo que Arendt chamou de “banalidade do mal”. O que não faz dele menos responsável, vale salientar.
Fonte: encurtador.com.br/uvA08
O Brasil de 2020 e 2021 está infestado de Eichmanns. São médicos e instituições médicas que não se pronunciam frontalmente contra o negacionismo e o uso indiscriminado de medicamentos e terapêuticas sem prescrição devida. São Universidades, instituições de ensino e pesquisa, cientistas e pesquisadores que silenciam diante de um governo que não respeita a ciência e a invalida. São empresários e comerciantes que fazem manifestação pelo direito de colocar seus trabalhadores e clientes em risco, ao invés de se mobilizarem pela vacinação em massa. São oportunistas de toda ordem que fecham os olhos para aceitarem cargos, privilégios e promoções dentro desse governo. É o Centrão que insiste em apoiar um governo sem condições morais, éticas, intelectuais, políticas e nem mesmo estéticas, para governar nosso país. São homens da lei que se escondem atrás da legalidade e da burocracia, para promoverem mais mortes. São os cínicos que assistem o massacre do alto de seus privilégios ricos e brancos, sem nada fazer. São os veículos de comunicação que se escondem atrás da “isenção jornalística”, a fim de sustentarem os discursos que lhes convém. São os artistas, os comunicadores e influenciadores de toda ordem que “não querem se meter em política”. São padres, pastores, guias, mestres e líderes religiosos que usam o nome de Deus para matar sem culpa. São todos que, munidos de algum privilégio, influência ou poder, decidem apenas lavar suas mãos, nesse caso, literalmente. E, finalmente, temos ainda os débeis, os deliroides e os idiotas que parecem gozar e se gabar, enquanto seguem convictos e crentes, em direção à própria morte e a dos seus.
O Brasil caminha a passos largos para 400 mil mortes, e sabemos que muitas delas poderiam e podem ainda serem evitadas. Bolsonaro não é responsável por todas essas mortes sozinho, deverão ser julgados juntos com ele, todos aqueles que, como Eichmann decidiram apenas “contribuir com sua parte para o nosso belo quadro social”.
Então, se você se percebe anestesiado pela “banalidade do mal”, mas não quer ser cumplice de todas essas mortes, desperte, se mova e grite: FORA, BOLSONARO GENOCIDA!
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Projeto mostra locais com serviços de saúde mental no Brasil
Mapa da Saúde Mental reúne serviços de atendimento em várias cidades
A pandemia de covid-19 tem gerado impactos na saúde mental de brasileiros. Um projeto auxilia pessoas que desejam ter atendimento psicológico a encontrar serviços públicos ou de organizações não governamentais.
O Mapa da Saúde Mental disponibiliza em seusiteinformações sobre iniciativas de atendimento em diversas cidades do país, com explicação sobre o serviço e contatos para acioná-lo.
Ositetraz projetos relacionados a saúde mental para público em geral, para trabalhadores da saúde e para grupos específicos, como comunidade LGBTTTQI+ (lésbicas,gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, pessoasqueerse intersex), negros, mulheres, idosos, pacientes de determinadas doenças (como câncer) e casais.
No mapa presencial, os serviços e projetos são exibidos de forma geolocalizada, em que o interessado pode colocar seu CEP e visualizar as opções mais próximas do local onde está ou quer buscar ajuda.
Além disso, ositetambém traz explicações sobre como saber quando buscar ajuda, quais são os direitos das pessoas, como ajudar, como receber ajuda e como identificar se alguém precisa de apoio psicológico.
Segundo a presidente do Instituto Vita Alere, Karen Scavacini, responsável pelo projeto, a iniciativa surgiu da demanda por informações sobre apoio psicológico. “Sentíamos falta de um local onde as pessoas poderiam facilmente encontrar a informação de onde havia ajuda. Pois na maioria das vezes falamos: ‘se não estiver bem, busque ajuda’. Mas como se faz isso, que tipo de ajuda procurar? Reunimos tudo isso no mapa”, diz.
A convite da idealizadora da série “A mulher não existe! O que significa ser mulher no Brasil na Pandemia?”, Carolina Vieira de Paula (acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra e estagiária do Portal (En)Cena), sinto uma urgência. Uma exclamação onde deveria haver um ponto me convoca a escrever sobre esse tema que tenho um verdadeiro apreço. Foi justamente esse sinal que me deu o tom de intensidade, de afeto e de ânimo para tentar me aproximar, através da escrita, do modo de sofrer singular da mulher brasileira na pandemia. Seguindo esse famoso aforisma lacaniano e, não sem o ponto de exclamação, vemos que algo excede às palavras desde o título dessa série tão importante que visa dar voz e fazer falar o sofrimento singular de cada uma.
O aforisma é conhecido, a novidade que se faz presente aqui é o ponto de exclamação que o excede, transborda e consegue dizer mais do que as palavras postas no título. De um ponto de exclamação que dá o tom de intensidade e de surpresa, ao ponto de exclamação com um tom imperativo, temos no meio disso até uma junção de um ?!, que pode expressar dúvida e surpresa, sem deixar de lado a intensidade. A intensidade que está presente na exclamação, é o que excede, é o que carrega de sentido sem muito dizer ou explicar.
A intensidade se aproxima do gozo (opaco e feminino) justo por exceder ao significante que tenta dar conta de pôr em palavras qualquer experiência ou afeto no mundo dos humanos. O tom carregado de intensidade também se faz presente nas palavras de tom imperativo, que nós da psicanalise costumamos chamá-las de superegóicas [1], como por exemplo uma noção de sofrer que está mais ou menos presente em grande parte das falas das mulheres entrevistadas nessa série, algo como “devo ser boa em todos os papéis, sem demonstrar fraqueza ou falha”. De surpresa à uma ordem de ferro imperativa, a intensidade deixa de ser aberta para o inesperado para tornar-se uma ordem, motivo de um sofrer excessivo para o sujeito submetido a ela. Será que suportar tudo, sem falhas, é o único lugar que resta para a mulher?
Fonte: encurtador.com.br/ryQ04
O título dessa série expressa o que Freud e, posteriormente Lacan, tentaram localizar de sofrimento específico e de singular no feminino, em cada mulher. Freud chamou de “enigma” para aquilo que ele não conseguia dizer sobre o feminino. Já Lacan criou o aforisma “A mulher não existe”, para tentar dizer do caráter impossível de generalizar e de definir o que é A mulher, no sentido de que é impossível definir um conjunto, um grupo ou um plural de mulheres. Vejo que ambos apostaram na ausência de uma definição universal, o que me faz pensar em um lugar vazio de definição. Dizer que A mulher não existe ao mesmo tempo em que aponta para a inexistência de uma definição universal da mulher, transmite a noção de que a mulher existe, cada uma, de forma singular.
Essa aposta de um lugar vazio contrasta com uma série de impropérios ditos sobre a natureza da mulher no decorrer da história da humanidade. Se fizermos uma pesquisa rápida não faltarão exemplos disso, como no livro Gênesis quando Deus afirma que a mulher induziu o homem a comer o fruto proibido e lança uma punição, dizendo: “Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição; com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”. Para acrescentar, podemos revisar os ditos de alguns filósofos, como por exemplo Voltaire (sec. XVIII): “Uma mulher amavelmente estúpida é uma bendição do céu”; e também Hegel (sec. XIX): “A mulher pode, naturalmente, receber educação, porém, sua mente não é adequada às ciências mais elevadas, à filosofia e a algumas artes”.
A investigação clínica do sofrer feminino foi a forma de entrada da psicanálise e, desde então, essa práxis se reinventa de acordo com as mudanças da sociedade. De Freud a Lacan e, hoje com os psicanalistas de nossa época, o percurso que se faz no tratamento clinico é sempre uma aposta de conseguir dizer sobre o sofrimento de uma forma singular, de qualquer ser falante, independentemente de sua identidade de gênero. É que a psicanálise vai além da identidade, seja ela qual for. No fim de sua obra, Lacan consegue inclusive formalizar esse ponto ao dizer que o gozo feminino é o gozo como tal e o nomeia de gozo opaco em que todo sujeito, independente de seu genital, possui um gozo (ou modo de sofrer) da ordem do indizível. Isso significa dizer que toda tentativa de apreender uma experiencia através de um conceito tem o efeito de se perder sempre uma parcela da experiencia. O conceito nunca consegue definir totalmente uma experiência, e isso é o mesmo que pensar que toda palavra não consegue dizer de forma exata como um sujeito sofre ou que o significante não consegue dar conta do gozo por completo. Portando, o gozo feminino ou gozo opaco na psicanálise é um modo ser e/ou sofrer específico, sem palavras que o definam e que atravessa qualquer ser de linguagem independente de sua identidade sexual.
Fonte: encurtador.com.br/egjoV
A realidade que a situação atual nos impõe é de uma solidão forçada com um adicional de sofrimento, causado pela ausência de uma solução coletiva por parte de nossos governantes para enfrentar a Pandemia da Covid 19 e, por isso, o Brasil hoje ocupa o segundo lugar no ranking de número de mortes e de casos confirmados no mundo (OMS). Com nossa curva ascendente e sem uma proposta de enfrentamento a Covid 19, a questão levantada nessa série sobre o sofrer da mulher na pandemia tem uma importância ímpar, e a exclamação de A mulher não existe! comporta um grito e uma urgência em fazer-se ouvir.
Dar voz ao que não tem ou ao que insiste em calar-se, é uma aposta em fazer existir um sofrimento em palavras para fazer parte do mundo simbólico do qual está excluído. Fazer um esforço da escrita que consiga questionar e delimitar certo modo de sofrer específico de cada mulher brasileira durante a pandemia é uma aposta valiosa, afinal estamos investigando o modo de sofrimento intenso de cada uma: um sofrimento que aparece nas relações que a mulher estabelece com o mundo. O que é isso que faz a mulher suportar mais coisas? A força da mulher extrapola limites. O que excede os limites é àquilo que chamamos de gozo, pois é isso que extrapola os limites da linguagem. Por um lado, temos a coragem, que é uma característica típica de sujeitos que “não tem o que perder”, por outro lado isso pode apontar para o excesso: manter relações de sofrimento, manter relações excessivas de trabalho e o resultado disso é um mal-estar constante.
Me parece que a preocupação com a excelência vem da tentativa de reconhecimento por parte do outro, o que não é comum acontecer. Na tentativa a qualquer preço de não se haver com a própria solidão e com o próprio sofrimento, a mulher faz uma aposta pela via da parceria, por pior que ela seja. Há que saber perder, há que conseguir perder, mas perder o que? Talvez a fantasia de que a solidão possa ser resolvida com alguém.
A artista Laís Freitas, em um post que fez na sua conta do Instagram (@aloisam_), consegue transmitir algo da solidão, tanto na pintura quanto na escritura, de uma maneira singular. Ela escreve: “Dia 31/jul/2020, pintei-me aos prantos em forma de preocupação e angústia de ver um coração que no futuro seria livre. Tentei me esconder em espadas de São Jorge e faces que não a minha, disfarçando o que eu sentia, para tentar consertar as coisas, com medo da minha previsão estar certa. Por estar acostumada a aguentar a fome e o excesso, me culpei por optar seguir sozinha pelo meu bem. Falei que o coração estava livre de você e que “ninguém pode pegar o que é seu”. Menti. Idealizando mais uma vez o sofrimento, vivendo uma ilusão que agora que encontrei um conforto em “cristalizou em mim a solidão” se desvinculou de mim.” A saída que cada uma encontra para lidar com a própria solidão é única e aqui estamos em um terreno que não cabe qualquer ensinamento.
Nota:
[1] “Qual é a essência do supereu? […] Qual é a precisão do supereu? Ele se origina precisamente nesse Pai original mais do que místico, nesse apelo como tal ao gozo puro, isto é, à não castração. Com efeito, que diz esse pai no declínio do Édipo? Ele diz o que o supereu diz. […] O que o supereu diz é: Goza!”. E acrescenta: “ É essa a ordem, a ordem impossível de satisfazer, e que está, como tal, na origem de tudo o que se elabora sob o termo “consciência moral”, por mais paradoxal que isso possa parecer” (Lacan, [1971] 2009. p. 166).