Capacitismo: o uso das redes sociais no combate ao preconceito e a desinformação

Compartilhe este conteúdo:

O presente relato surgiu de uma intervenção psicossocial que utilizou-se como instrumento veiculador nas redes sociais, mais precisamente o Instagram, e como problema de pesquisa o Capacitismo e suas implicações no sujeito e na sociedade. O relatório em questão, objetivou levar para as redes sociais reflexões e discussões sobre o impacto que o sujeito vítima do Capacitismo sofre, no que tange não somente o preconceito e a discriminação, mas também a exclusão em sociedade, fazendo-se necessária a ampliação da reflexão sobre a temática. A proposta foi realizada na modalidade on-line, tendo como população-alvo os usuários da rede social Instagram que possuam interesse no tema através da página “Ação Psi” (@acaopsiulbra), organizada e monitorada pelas acadêmicas de Psicologia e supervisionadas pela Thaís Monteiro da disciplina Intervenção do Psicossocial. A intervenção ocorreu no segundo semestre do ano de 2022, e esperou-se alcançar um número significativo de pessoas através das publicações. O tema foi pensado pela percepção das acadêmicas, juntamente da supervisora, por se tratar de algo pouco comentado em contextos casuais, possibilitando a abertura para que os seguidores sejam instigados a refletir sobre a temática dentro e fora de seus ciclos sociais.

Vamos ao que realmente interessa: 

O capacitismo é uma forma de preconceito e discriminação. Em nossa sociedade, a forma como esse preconceito é manifestado, envolve as crenças internalizadas de que a pessoa com deficiência seria incapaz e inapta, considerando apenas o corpo considerado “perfeito” como passível de capacidades e aptidões, e o que foge à regra, como alvo de pena e/ou incapacidade. É importante destacar que praticar a discriminação configura crime previsto em Lei. Há normas e legislações que garantem plenos direitos que asseguram condições de igualdade, liberdade, inclusão social e cidadania. Por isso a importância de se repensar algumas atitudes pessoais direcionadas às pessoas com deficiência que causam exclusão e constrangimento.

Existe uma grande dificuldade das pessoas em se perceberem e até mesmo de admitirem que são ou possuem comportamentos e falas capacitistas. Isso porque, é preciso entender o tema considerando toda a história das pessoas com deficiência, compreendendo o imaginário que sustentou ideias reproduzidas ao longo dos anos que disseminaram o discurso capacitista até os dias atuais, desde a crenças no passado que trataram a deficiência como um castigo para um pecado cometido, até mesmo ao padrão irreal de corpo perfeito dos dias atuais, que afirma que tudo o que foge disso, não funciona e não é aceito. É importante entender que atitudes capacitistas, precisam de atenção e reflexão, pois reproduzem e reforçam estereótipos que precisam ser desconstruídos e combatidos.

Algumas atitudes simples e delicadas são muito importantes para a construção de diálogos e ambientes mais inclusivos. Entenda como exercer a acessibilidade atitudinal e evitar passar por uma saia justa:

  • Primeiramente, identifique-se ao falar com uma pessoa cega.
  • Quando se aproximar cumprimente em voz alta, e se identifique.
  • Não deduza que a pessoa já te conhece pela voz. Ainda mais se tiver muito tempo que não a vê.
  • Também não seja indelicado ao deduzir o grau de relação ou parentesco entre as pessoas. Pessoas com deficiência podem desenvolver diversos tipos de relações com outras pessoas normalmente.

Partindo do pressuposto, de que a discriminação é a ação, ou seja, a manifestação do preconceito, é preciso entender que ele nem sempre será visível. Isso significa, que algumas ações e comportamentos discriminatórios podem acontecer de maneira camuflada, nas entrelinhas e não de maneira escancarada, isso é o que se denomina de Capacitismo Estrutural (STUDIO PIPOCA, 2021). Geralmente, o Capacitismo estrutural aparece no cotidiano, podendo ser propagado até mesmo de maneira inconsciente por quem o pratica, como citado anteriormente referente às crenças enraizadas frente ao corpo tido como perfeito. Para ajudar a fixar na memória e perceber como o capacitismo estrutural se manifesta no dia a dia, abaixo listamos alguns exemplos de capacitismo estrutural:

  • Não adaptar postagens em redes sociais para aumentar sua acessibilidade;
  • Realizar perguntas invasivas como “o que aconteceu?” ou que questionem a diversidade funcional, pior ainda com pessoas que não têm intimidade;
  • Optar por locais com falhas de acessibilidade para a realização de eventos;
  • Ignorar e não se importar com a inacessibilidade ao se deparar com ela;
  • Sentir pena de pessoas com deficiência, ainda que elas vivam seu dia a dia normalmente;
  • Utilizar termos ou expressões, como: “inválido, incapaz, louco, mongol, aleijado ou retardado”;
  • Falar com uma pessoa com deficiência como se essa fosse uma criança ou falar sobre ela, em vez de diretamente para ela.

Não é tão difícil encontrar palavras que não ofendam nem prejudiquem outras pessoas. Você pode começar se referindo à pessoa com deficiência com o termo correto, outras formas de se referir são erradas e, consequentemente, pejorativas. Você também pode (e deve) parar de usar a deficiência como um adjetivo e pior, como xingamentos. Por fim, pare de descrever as pessoas com deficiência com rótulos negativos que contribuem para diminuí-las e defini-las como indefesas, dignas de piedade e caridade. 

E lembre-se: não reduza as pessoas à condição funcional de seus corpos!

Nota: O texto é resultado de uma atividade da disciplina de Intervenção Psicossocial do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, ministrada pela Profª. Me. Thaís Moura Monteiro.

Compartilhe este conteúdo:

Educação Inclusiva: obstáculos e conhecimentos na modernidade

Compartilhe este conteúdo:

No Brasil, constata-se que desde a década de 1990, ocorreu um grande empenho público para o aumento do número de matrículas nas escolas públicas, entretanto, instaurar uma política de propriedade na educação que as escolas seguem exercendo. A Constituição Federal de 1988, bem como a Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, ressalta a relevância e emergência de efetuar a Inclusão Educacional como critério orientador de nacionalidade.

Conforme as pesquisas, destaca-se que existiu e existe uma briga pelos direitos das pessoas com deficiências. A Constituição de 1988 assegura que é obrigação do estado e da família: “os garotos e as garotas com deficiência não necessitariam e não precisariam estar fora do ensino infantil e fundamental das escolas regulares, convivendo na classe e ensino especiais”. E ainda estabelece que “deve ser assegurado a todos a passagem as graduações mais altas do ensino, da pesquisa e da criação artística, conforme o potencial de cada um”.

Destaca-se que esse tema surgiu através da demanda de entender e buscar responder as dúvidas, assim como aumentar os saberes sobre a educação inclusiva de maneira a resolver o problema que dominava durante as investigações sobre esse tema, que era “quais são os principais obstáculos superados por alunos e professores na educação inclusiva”?

A inclusão de pessoas com necessidades especiais possui um escopo de grandes analises, argumentações e conversas, e mesmo diante de tantas políticas públicas inclusivas ainda se deseja contestar à exclusão, tão acentuada em nossa comunidade (Borges; Paini, 2016, p. 6).

Para que a Educação suceda com êxito, a Lei de Diretrizes e Bases, em seu Art. 59, contempla como devem ser acolhidos os alunos com necessidades especiais, em que ressalta as principais diretrizes para o atendimento desses alunos.

Para tal, a educação tem como suporte quatro pilares: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver; e aprender a ser. Instituir a educação inclusiva em todos esses suportes é assegurar que a aprendizagem de crianças e jovens com deficiência ocorra através das múltiplas possibilidades de desenvolvimento que podemos encontrar na escola (Ferreira, 2018, p. 4).

A inclusão é uma norma que se aplica aos múltiplos espaços físicos e simbólicos e é uma tarefa da sociedade que se utiliza no trabalho, na arquitetura, no lazer, na educação, na cultura, mas, essencialmente, no pensar e no agir, de si e do outro. (Camargo, 2017, p. 1).

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Katiuscia C. Vargas. Exclusão e inclusão: dois lados da mesma moeda. v. 2, nº 3, jan. /jun. 2016. Disponível em: http://www.ufjf.br/facesdeclio/files/2014/09/3.Artigo-D2.Katiuscia.pdf. Acesso em: 5 maio 2019.

BORGES, Adriana Costa; OLIVEIRA, Elaine Cristina Batista Borges de; PEREIRA, Ernesto Flavio Batista Borges; OLIVEIRA, Marcio Divino de. Reflexões sobre a inclusão, a diversidade, o currículo e a formação de professores. 2013. Disponível em: http://www.uel.br/eventos/congressomultidisciplinar/pages/arquivos/anais/2013/AT01-2013/AT01-040.pdf. Acesso em: 10 maio 2019.

BORGES, Marilene Lanci; PAINI, Leonor Dias. A educação inclusiva: em busca de ressignificar a prática pedagógica. Universidade Estadual de Maringá – UEM. 2016. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2016/2016_artigo_edespecial_uem_marilenelanciborgessenra.pdf. Acesso em: 10 mai. 2019.

BRASIL. Educação inclusiva: v. 3: a escola. Brasília: MEC/Seesp, 2004. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aescola.pdf. Acesso em: 8 maio 2019.

______. A inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília: 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/deffisica.pdf. Acesso em: 4 jun. 2019.

______. Decreto nº 3.956, de 8 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Inter-Americana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3956.htm. Acesso em: 4 jun. 2019.

______. Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nº 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm. Acesso em: 4 jun. 2019.

CAMARGO, Eder Pires de. Inclusão social, educação inclusiva e educação especial: enlaces e desenlaces. Ciênc. Educ., Bauru, v. 23, nº 1, jan./mar. 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132017000100001. Acesso em: 26 fev. 2019.

CARDOSO, Silvia Helena. Diferentes deficiências e seus conceitos. Disponível em: http://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/41/docs/diferentes_deficiencias_e_seus_conceitos.pdf. Acesso em: 3 Jun. 2019.

GOMES, Claudia; CARDOSO, Cristiane dos Reis; LOZANO, Daniele; BAZON, Fernanda Vilhena Mafra; LUCCA, Josiele Giovana de. Colaboração pedagógica na ação inclusiva nas escolas regulares. Rev. Psicopedagogia, São Paulo, v. 34, nº 104, 2017. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862017000200006. Acesso em: 12 maio 2019.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva. Brasília, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso em: 11 maio 2019.

Compartilhe este conteúdo:

A sexualidade da pessoa com deficiência

Compartilhe este conteúdo:

Dentre os muitos grupos que estão à margem da sociedade, as pessoas com deficiência compõem a classe de maior vulnerabilidade, não somente pela invisibilidade das suas pautas mas também pela negação da existência de qualquer dignidade nas suas experiências de vida no setor público e no interior de movimentos sociais (LOPES, 2019).

As pessoas com deficiência já vivem rodeadas de estigmas e preconceitos, fatores que se mostram em evidência quando o assunto é sobre a sexualidade desses indivíduos. Estigmas e crenças errôneas consideram pessoas com deficiência muitas vezes incapazes e infantis, ou seja, pessoas que não poderiam exercer uma sexualidade saudável ou mesmo não apresentam sexualidade (assexuadas), também são vistas como incapazes de cuidar ou gerar filhos, manter relacionamentos saudáveis e consentir relações sexuais.

Segundo Silva (2006), o estigma a pessoas com deficiência, leva as mesmas, a serem tratadas pelo seu rótulo e não pela sua individualidade, o que pode ocasionar em generalizações sobre como esses indivíduos devem viver devido suas condições, o sujeito a quem é imposto esse estigma, incorpora e se identifica com esse rótulo, que determina o modo como deve comportar-se.

Devido aos preconceitos direcionados pela família e o meio social a que está pessoa está exposta, grande parte dessa população não tem acesso a informação ou orientação sexual, o que pode agravar os casos de abuso sexual, e doenças sexualmente transmissíveis e influenciar ainda comportamentos considerados inadequados (como a masturbação em público) que influenciam nas crenças da hipersexualidade. Ocorre ainda grande influência da esterilização compulsória, que impulsiona as pessoas com deficiência de abrirem mão da possibilidade de terem filhos.

Fonte: l1nq.com/QiNI4

Tais fatores estão amplamente ligados ao capacitismo, que pode ser interpretado com o preconceito ligado as pessoas com deficiência que podem influenciar cada vez mais nas crenças populares errôneas e preconceituosas a respeito da sexualidade da pessoa com deficiência. O que influencia na falta de acesso a informação dessas pessoas sobre o seu corpo, e sua sexualidade, métodos contraceptivos, busca e criação de políticas públicas que possam dar suporte a esses indivíduos, e ainda a criação de novas leis que façam acontecer a inclusão desses indivíduos na sociedade não apenas em meios sociais, mas também levando em conta suas necessidade e desejos biológicos e psicológicos. O empoderamento dessas pessoas então surge como um meio de agir diante os preconceitos.

O empoderamento é um processo coletivo e individual, que propicia o desenvolvimento de potencialidades, tornando o sujeito capaz de tomar decisões sobre sua vida levando em conta suas vontades. Esse conceito dá início a uma compreensão sobre promoção da democracia e atenuação da vulnerabilidade das pessoas com deficiência, pois proporciona seu fortalecimento, e sua crença de valor em si mesmo, como um indivíduo capaz de tomar decisões e fazer escolhas (DANTAS; SILVA; CARVALHO, 2014). A solidificação dos estudos sobre a deficiência, na década de 1960 aumentou à ação pela reivindicação de direitos e a luta das pessoas com deficiência para tornarem-se protagonistas de suas vidas (DINIZ et al., 2009).

Apesar de toda a luta pela inserção educacional, social e ao acesso à saúde para pessoas com deficiência, não ocorrem muitas discussões sobre a inclusão afetiva e sexual desses indivíduos. Quando uma pessoa com deficiência é conceituada como um sujeito que não exerce ou não é favorecido de sua sexualidade, negligencia-se o acesso à informação sobre orientação e educação sexual e cuidados referentes a situações de abuso (MAIA; RIBEIRO, 2010).

De acordo com Ramalho e Souza (2005) em diversos aspectos a vida do portador de deficiência, é bem parecida dos demais, dispõem momentos de alegria e conquistas, em outras palavras, bons e maus instantes como qualquer ser humano, se divergem em uma especificidade, são vítimas do preconceito de discriminação.

REFERÊNCIAS

DANTAS, Taísa Caldas; SILVA, Jackeline Susann Souza; CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de. Entrelace entre gênero, sexualidade e deficiência: uma história feminina de rupturas e empoderamento. Rev. bras. educ. espec.,  Marília ,  v. 20, n. 4, p. 555-568,  Dec.  2014 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382014000400007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:   15  set  2020.

DINIZ, D.; BARBOSA, L.; SANTOS, W. R. Deficiência, direitos humanos e justiça. São Paulo.2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-64452009000200004>. Acesso em: 15  set  2020.

LOPES, L, S. A luta das pessoas com deficiência pelo direito de estar no mundo. Justificando Mentes Inquietas  Pensam Direito. 4 de julho de 2019. Disponível em: <https://www.justificando.com/2019/07/04/a-luta-das-pessoas-com-deficiencia-pelo-direito-de-estar-no-mundo/>. Acesso em: 15  set  2020.

MAIA, Ana Cláudia Bortolozzi; RIBEIRO, Paulo Rennes Marçal. Desfazendo mitos para minimizar o preconceito sobre a sexualidade de pessoas com deficiências. Rev. bras. educ. espec.,  Marília ,  v. 16, n. 2, p. 159-176,  Aug.  2010 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382010000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:  15  set  2020.

RAMALHO C, E; SOUZA J, B, R. Dificuldades da inclusão do deficiente físico no mercado de trabalho. Revista Científica Eletônica de Administração. 2005. São Paulo. Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/msnp3KrdnoUlhbw_2013-4-26-12-19-25.pdf>. Acesso em: 15  set  2020.

SILVA, Luciene. O estranhamento causado pela deficiência: preconceito e experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v.11, n.33, p. 424-561, 2006.   Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v11n33/a04v1133.pdf>. Acesso em: 15  set  2020.

Compartilhe este conteúdo:

O exíguo espaço da pessoa com deficiência na vivência da sexualidade na Sociedade Capacitista

Compartilhe este conteúdo:

O normal ou anormal é encarado, portanto, como uma variação do modelo médico, colocando a deficiência como um desvio de normalidade, ao qual se faz necessária correção, para ser considerado humano, havendo assim a aproximação do padrão […] Compreende-se, na necessidade de se fazer uma sociedade para os deficientes para além da responsabilidade do modelo médico, e focar nas formas de conceber o incabível na vivência capitalista.

No dia 14/11/2020, houve o encontro com a Psicóloga Clínica Laureane Marília, abarcando sobre o tema “Sexualidade da pessoa com Deficiência”, como parte da disciplina de Psicologia da Sexualidade Humana, do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA de Palmas-TO, mediada pela professora da instituição de ensino, Ruth Cabral, ao qual a convidada, trouxe através da narrativa de sua experiência clinicando sobre a importância de se criar contextos de proteção ao suicídio, refletindo sobre a sociedade homofóbia e transfóbica como fomentadora do sofrimento emocional; trouxe em suma, a importância de ater-se para questões sociais, que atravessam a atuação clínica, com enfoque sobre as vivências da pessoa com deficiência na sexualidade, e seus entraves. A conversa abriu espaço para a reflexão dos alunos presentes, assim como abertura para dúvidas e considerações. Laureane pôde trazer através da sua vivência enquanto pessoa com deficiência, e psicóloga um diálogo engrandecedor para os estudantes, com seu lugar de fala, e com sua bagagem enquanto profissional.

Arquivo Pessoal

Problematizando a vivência da pessoa deficiente, Laureane na presente aula revisou sobre “O termo “Capacitismo”, que está para as pessoas com deficiência assim como o machismo está para a mulheres, o racismo para pessoas negras, a homofobia para as pessoas homossexuais, e a transfobia para a pessoa trans […] É um conjunto de regras que estabelecem qual é o corpo típico da espécie […] qual é anatomia, qual a fisiologia para ser, humano” então, aquelas pessoas que fogem dessa aliciação dos corpos, é dispensável, hierarquizando-as em níveis de capacidade, enquanto socialmente, estabelece-se possibilidades para o desenvolvimento de habilidade de algumas pessoas enquanto que para outras não, marginalizando a pessoa com deficiência, a mercê da sociedade capacitista.

encurtador.com.br/kpGHP

Durante a trajetória nazista, existiram os assassinatos em massa das pessoas com deficiência, nos campos de concentração, por serem desperdício de investimento, em uma tentativa de um futuro próspero, e sem deficiência, além disso, existiu em paralelo a esterilização involuntária, principalmente nas mulheres cuja as causas da deficiência é genética. Hoje tal prática é proibida, entretanto, ainda existem casos em que mulheres com deficiência foram esterilizadas via SUS, ao qual, tais profissionais violaram um direito humano; profissionais de psicologia também aturam em incentivo de tais ações, por exemplo, em uma mulher com deficiência intelectual. Então, qual seria o papel de psicologia nestes recortes?

encurtador.com.br/hknx6

É necessária a compreensão dos motivadores que fazem os familiares acreditarem que a esterilização é mais viável. Enquanto compromisso ético, cabe agir de forma a auxiliar o diálogo da mulher com deficiência e sua família, ajudando em conjunto na quebra dos estigmas relacionados as pessoas com deficiência intelectual, enquanto irresponsáveis em relação ao casamento e constituição familiar, sendo esta uma inverdade, pois, através de uma educação sexual, e explicação dos papéis dos pais, a compreensão desta pessoa se assemelha a de um outro, sem deficiência de mesma idade. É importante compreender também os recortes de classe, e as diferentes dificuldades de enfrentamento, dá-se devida importância a um governo que priorize as necessidades desse indivíduo para ter uma vida digna, dando assistências suficientes para tais fins; o que difere de um modelo neoliberal, que não dá meios para a conquista emancipatória de direitos, como única alternativa a competitividade, e meritocracia.

encurtador.com.br/fsIMY

Cabe ao psicólogo, orientações, mapeamento das possibilidades com a pessoa com deficiência e sua família quando inseridos em um recorte de linha da pobreza, como a procura da defensoria pública, investigação dos mecanismos legais na convenção da ONU, quais as leis brasileiras de inclusão, e se apesar de tudo, não houver respaldo, abrir liminar na justiça de recursos que não foram disponibilizados voluntariamente. Pontuando a necessidade de fazer psicologia não elitista, voltado ao sujeito de acordo com a realidade social vivenciada. Lembrando que: Deficiência não deve ser sinônimo de doença, principalmente quando saúde é entendido como questão biopsicossocial.

encurtador.com.br/hjJKU

Pontuou-se sobre a diferença das vivências da mulher com deficiência e do homem com deficiência, ao qual os estereótipos do gênero feminino se entrelaçam com os entendimentos de pessoas frágeis, passíveis, enquanto os homens, são vistos como fortes proativos, colocando então essa mulher no lugar de passividade/submissão ainda maior, dificultando sua autonomia, enquanto o homem deficiente, é posto em um lugar de incompatibilidade de gênero, ao qual se encontra em desajuste ao entendimento do homem, viril e forte. Mostrando o quão essas relações de gênero também afetam o sujeito, produzindo sofrimento, desajustamentos, e mais vulnerabilidades.

Entende-se, dessa forma, a importância das universidades enquanto espaços de reflexão sobre os aspectos culturais que nos atravessam e constituem nossa subjetividade, a fim de conhecer intimamente as limitações pessoais, assim como nos pondo a disposição de sermos passíveis a mudança. Lembrando sobre a falácia da neutralidade, pois uma vez inseridos no mundo, somos influenciados e influenciadores, então é cabível o entendimento das coisas que atravessam, e nos constitui enquanto sujeito.

Foi discutido sobre as questões de normalidade e anormalidade, a problematização das parafilias, e dos conceitos gerados no DSM como uma cartilha de construção do que se inscreve como “normal”, em uma realidade que está em constante desdobramento e mudanças. Nesta perspectiva foi mencionado a questão do prazer ou desejos voltados aos corpos com deficiência, pessoas denominadas – devotee – que por vezes sofrem retaliações à mercê deste desejo, socialmente falando.

encurtador.com.br/fiqtK

Por conta dos estigmas para esse recorte da fantasia, os devottes por vezes aproximam-se de pessoas deficientes pela internet, causando prejuízo pois pode haver um envolvimento sentimental por parte desse homem/mulher, entretanto, essa relação não será assumida. Então percebe-se uma vivência de retaliação do que deveria ser naturalizado, pois assim como os homossexuais, transexuais, já estiveram nesse lugar de patologização do desejo, o mesmo têm ocorrido com os devottes, que extravasam de forma nociva, em decorrência de uma supressão, medo do julgamento social. Apesar de tudo, são nesses contextos, em que muitas mulheres com deficiência, descobrem que seu corpo é feito para prazer sexual próprio, e que ela é desejável por outro.

Mulheres devotees, por sua vez, são mais facilmente aceitas, uma vez que existe a naturalização da mulher como cuidadora, então se torna mais passível de uma vivência que não a rotule, enquanto existe a concretude desse prazer específico pelas pessoas com deficiência. Enquanto a mulher com deficiência é colocada por vezes como um ser puro, assexual, na perspectiva de que o desejo sexual seria o desvio, o pecado, então o homem devotee é visto como alguém perverso, pois não considera essa mulher deficiente como portadora de desejos.

encurtador.com.br/xLN08

O normal ou anormal é encarado, portanto, como uma variação do modelo médico, colocando a deficiência como um desvio de normalidade, ao qual se faz necessária correção, para ser considerado humano, havendo assim a aproximação do padrão. Em contrapartida, existem pessoas que tem desejo de ter deficiência, o que se torna inconcebível um procedimento cirúrgico de transdeficiencia, e uma vez que se recebe essa recusa esse sujeito por vezes se lesiona, a fim de ter prejuízo em alguma parte do corpo, em que por fim possa ser concedido a amputação, ou outro procedimento de supressão. O que pode ser encarado como inadmissível pois se perde força de trabalho, dando a essa pessoa alguma deficiência. Em contrapartida, procedimentos que colocam em risco a vida de mulheres em cirurgias estéticas são facilmente acolhidos, por se aproximar dos padrões normativos, enquanto transdeficiencia, seria compreendido como “loucura”, por parte de quem têm tal desejo.

Durante a participação com a psicóloga, também foi apontado como as pessoas idosas impreterivelmente terão algum tipo de deficiência, portanto um futuro sem deficiência é uma grande ilusão. A aposentaria por invalidez, mostra um pouco sobre como se vê a pessoa com deficiência, ela é inválida, improdutiva, inoperante. Se a mesma comercializar algo, por exemplo, estaria cometendo um crime, tirando dela o direito da aposentadoria por invalidez. Então esse ato, sugere total desvinculação do ser com alguma incapacidade, por conseguir fazer algo. Sendo mais fácil também, estabelecer menos políticas públicas, pois interditar e rotular uma pessoa enquanto inválida é mais fácil e causa menos gastos que investir para que ela supra suas necessidades de forma plena.

encurtador.com.br/kpGHP

A contraposição do modelo médico vem com ascensão do modelo social (a partir da década de 60) com a luta por direitos civis, abertura política, e no final dos anos 70 veio o movimento pelo fim da ditadura. E a luta pelo direito das pessoas com deficiência esteve neste meio. No Reino Unido homens com deficiência denunciaram situação de vulnerabilidade e condições desumanas, um pontapé para o início de uma trajetória de conscientização e lutas.

Compreende-se, portanto, na necessidade de se fazer uma sociedade para os deficientes para além da responsabilidade do modelo médico, e focar nas formas de conceber o incabível na vivência capitalista, onde essa pessoa com deficiência poderia trabalhar menos de 08 horas por dia, onde houvesse respeito pelas limitações e exaltação de potencialidades, na existência de políticas públicas suficientes e eficazes. E construir a subjetividade de maneira menos evasiva, ao qual você é um sujeito dotado, fugindo do contexto da produtividade, onde há necessidade de uma constância para provar valor, que por vezes não respeita as limitações de pessoas não deficientes, muito menos, dá espaço para novas formas de se inserir como sujeito no mundo.

encurtador.com.br/jstBP

A deficiência, assim como tudo existente, é uma construção histórica. E é nítido que o mundo foi construído para privilegiar alguns tipos de corpos em específico. Uma escada é uma construção histórica, e no lugar dela poderiam existir rampas, assim como os assentos são produções culturais, pois poderiam ser maiores para caber pessoas gordas. Nos fazendo refletir na necessidade de ser fazer um mundo onde a diversidade possa existir de forma integra e natural.

Compartilhe este conteúdo: