Nomofobia: você tem medo de ficar longe do celular?

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Uma pesquisa recente publicada pela Digital Turbine mostra que 20% dos brasileiros não ficam mais de 30 minutos longe do celular. Esses dados servem como um sinal de alerta para o vício em aparelhos eletrônicos. Nesse contexto, vale citar também que pode virar um caso de nomofobia, uma fobia que tem crescido em todo mundo.

A nomofobia é uma palavra constituída pela abreviação da palavra ‘no mobile’, que significa sem celular, e fobia que é um medo irracional, exagerado. Logo, a nomofobia é o medo exagerado de ficar sem o celular ou aparelho eletrônico.

O nomofóbico desenvolve ansiedade quando percebe que está sem o aparelho nas mãos e isto pode evoluir para uma ansiedade generalizada. Em uma forma mais aguda, pode interferir no sono. Inclusive, há pessoas que acordam no meio da noite para verificar o aparelho, a ponto de desenvolver a “chamada fantasma”, ou seja, mesmo quando o aparelho não está fazendo nenhum som ou vibrando, o indivíduo tem essa percepção por conta da ansiedade e expectativa do aparelho sinalizar uma notificação.

O ideal para evitar que essa necessidade de estar mexendo no celular não vire um hábito é que se tenha um controle de acessos. Excluindo casos em que o trabalho com o celular se faz necessário, crie horários e normas para verificar o aparelho. Em casos de urgência, é voltar ao velho hábito da ligação. A mensagem entrou tanto no nosso dia a dia que as pessoas não querem mais falar ao telefone, somente mandam mensagens. Com isso, cria-se na pessoa a constante expectativa de receber uma mensagem, o que gera essa compulsão de todo o tempo verificar se recebeu algo.

Fonte: encurtador.com.br/ciyD2

Geralmente, os jovens são os mais atingidos, porque já nasceram em meio a essa tecnologia, então para eles é algo natural. Uma forma de prevenir seria evitar usar o aparelho no tempo ocioso. Ao perceber, busque fazer algo em que possa produzir, por exemplo, faça um curso, use esse tempo para estudar, ler, ou até mesmo fazer atividade física.

É importante estar atento para quando essa vontade vira um hábito e quando estar longe do celular atrapalha suas atividades cotidianas. É necessário também perceber se o aparelho está atrapalhando atividades como trabalho e estudos. Caso a resposta seja sim, é o sinal de alerta para buscar um profissional da área de saúde mental.

É importante fazer o nomofóbico perceber que ele precisa buscar ajuda para a dependência. Há vários sinais. Por exemplo, a pessoa não tem conversas olhando nos olhos com outros, está o tempo todo se afastando e cada vez mais vivendo entorno do celular. A nomofobia tem cura e podemos aprender a lidar com ela, fazendo uma reprogramação nesses hábitos colocando marcos e metas a serem atingidos.

Entender que está dependente do aparelho é fundamental para que o tratamento seja satisfatório. O mais indicado é fazer sessões de psicoterapia com um psicólogo ou terapeuta. Assim a pessoa vai entender seus sentimentos e a forma de se comportar diante da possibilidade de ficar sem o aparelho. Em casos mais extremos e que existe necessidade de medicação, busque um psiquiatra. Cuide-se: Nomofobia tem cura e é possível voltar a ter qualidade de vida e vida social após ela.

Fonte: encurtador.com.br/ovBD4
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Como fugir da barbárie sem celulares e tablets em “À Espera dos Bárbaros”

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Filme do cineasta francês Eugène Green coloca em perspectiva essa crítica do “Media Life” de Mark Deuze sobre as nossas vidas cada vez mais mediadas por dispositivos tecnológicos.

Um grupo de seis pessoas está com medo: souberam através das redes sociais que os bárbaros estão chegando. Eles batem à porta da casa de um casal de magos, pedindo para se esconder do perigo iminente. Mas os magos impõem uma condição: deixar seus celulares e tablets num cesto na entrada, para iniciarem uma viagem iniciática e mística no presente e para o passado. Sem wi-fi e Internet, o grupo sente-se nas trevas – como saberão do avanço dos bárbaros sem Internet? Esse é o filme francês “À Espera dos Bárbaros” (“En Attendant Les Barbares”, 2017), de Eugène Green, uma experiência ao mesmo tempo documental e ficcional sobre nossa condição em um mundo tecnológico: a mídia está para nós assim como o peixe está para a água. Sem nossos dispositivos tecnológicos nos sentimos fora d’água. Mas esta não seria a oportunidade de nos religar com o outro e com a realidade? Filme sugerido pelo nosso leitor Fernando Câmara.

A mídia está para nós assim como o peixe está para a água. Mas a questão é: será que temos uma boa vida com as mídias, assim como os peixes na água? Essa é a pergunta feita pelo pesquisador Mark Deuze em seu livro “Media Life” (Polity Press, 2012) a partir de uma prosaica constatação: não vivemos mais com as mídias, mas vivemos nas mídia – nossas relação com as mídias se tornaram onipresentes, universais, quase que codificando os nossos genes. “Gostemos ou não, todos os aspectos de nossas vidas têm lugar nos meios de comunicação”, afirma Deuze.

Há muito as mídias deixaram de ser apenas conteúdo: tornaram-se num ambiente, um mundo em permanente construção, um novo mundo que aparentemente nos dá liberdade, mas é uma liberdade contida no horizonte de eventos midiáticos.

Fonte: encurtador.com.br/hHIQS

A certa altura em “Media Life”, Deuze alerta para um “Apocalipse Zumbi” no qual perdemos as fronteiras entre o público e o privado, entre o individual e o coletivo.

À Espera dos Bárbaros (En Attendant Les Barbares, 2017) do cineasta francês Eugène Green coloca em perspectiva essa crítica do “Media Life” de Mark Deuze sobre as nossas vidas cada vez mais mediadas por dispositivos tecnológicos. A tal ponto que os dispositivos se tornam a realidade, nossas próprias vidas. E, ao invés de extrairmos deles informações, tudo o que obtemos é medo, persecução e desorientação.

Paradoxalmente, Eugène Green vai discutir esse tema não através de uma linguagem contemporânea sci-fy, cyber alguma coisa, como um thriller contendo narrativas de ação com máquinas ou inteligências artificiais nos perseguindo e roubando nossas identidades.

Fonte: encurtador.com.br/IQSU9

Um mundo cheio de História

O filme vai abordar o tema da maneira mais tradicional, conservadora e histórica possível: primeiro, a narrativa nos transporta para Toulouse e seu magnífico patrimônio histórico, com imagens estáticas de lugares, obras de arte e arquitetura sacra. Um mundo cheio de História.

E segundo, parte do filme é falado em língua occitana (língua românica falada no sul da França surgida na Baixa Idade Média), num estilo teatral, quase sem cenografia, filmado em ambientes mal iluminados, e com muitos olhares dirigidos diretamente para a câmera, com atores recitando versos occitano-silábicos.

Inicialmente, Eugène Green foi convidado para filmar um workshop de atores. Mas ao invés de fazer um simples documentário, Green criou um projeto de filme. Selecionou doze de 35 candidatos presentes no workshop e escreveu o roteiro com uma pequena equipe composta por um diretor de fotografia, um engenheiro de som e um assistente.

Fonte: encurtador.com.br/oBDIX

O resultado foram 75 minutos de uma estória que, em muitos aspectos, lembra Esperando Godot, peça do teatro do absurdo de Samuel Beckett – homens e mulheres estão ali para se esconder da chegada dos “bárbaros”, uma ameaça indeterminada, vaga. Quem são eles? Os godos? Visigodos? Os hunos? Ou serão os norte-americanos? Eles podem vir de qualquer parte. E aquele grupo de homens e mulheres pedem ajuda para um casal de magos que iniciará o grupo em uma viagem iniciática.

O Filme

Uma noite, seis pessoas batem na porta da casa de um casal de magos. Estão preocupados com a “invasão dos bárbaros”, cuja chegada foi anunciada pelas redes sociais.

Os magos aceitam acolher aquele grupo, mas com uma condição: que depositem seus celulares, tablets e fones de ouvido numa cesta de vime na entrada. Mas como eles saberão dos avanços das hordas bárbaras sem um wi-fi e Internet?

Fonte: encurtador.com.br/hlmwQ

Há um pequeno momento de dúvida e tensão naquele grupo. Mas acabam aceitando as condições diante da necessidade urgente de um refúgio.

Os magos conduzirão aquele grupo em uma espécie de viagem iniciática, dividida entre uma reflexão sobre o presente (quem é cada um deles, suas identidades e problemas) e depois sobre o passado. Percebemos que cada um daqueles personagens representam tipos-ideais da sociedade moderna: um típico casal de classe média (os “bobos”, como se referem) que tentam engravidar sem sucesso; um jovem que vive nas ruas, egresso de bairros periférico; um empresário que pensa em entrar na política; um jovem poeta celibatário às voltas em diálogos com um fantasma feminino com quem trava longos diálogos sobre vida e morte – na verdade o fantasma é a filha dos magos, morta aos 20 anos.

E uma artista plástica que se recusa a pincelar uma tela por considerar um ato violento que profana a pureza de uma superfície branca…

A casa é escura. Mas os magos prometem que o grupo encontrará a luz a partir das trevas. E o que são essas trevas? A ausência de qualquer mediação tecnológica entre eles. Para começar, o casal de “bobos” indaga: o que faremos para passar o tempo sem Internet? Ora, discutirão os temas delicados de relacionamento que jamais discutiram por causa dos dispositivos tecnológicos.

Fonte: encurtador.com.br/wMUVW

Enquanto isso, o empresário sentará lado a lado com o jovem das ruas, discutindo temas sobre desemprego, representação política etc.

Mas a segunda parte da viagem iniciática é a mais densa – é sobre o passado, a História, que parecem terem sido esquecidas num mundo de mediações tecnológicas.

Então, os magos convocam “aparições” que declamarão um excerto do “Romance de Jaufré”, um texto do século XIII do ciclo arthuriano, em occitana, cujo protagonista é um cavaleiro da Távola Redonda – suas traduções foram bem populares na Península Ibérica.

Após a primeira parte das discussões em que os fugitivos dos bárbaros se conheceram uns aos outros, agora sentam-se no chão para acompanhar a declamação daquele romance de cavalaria medieval.

Fonte: encurtador.com.br/cxP37

Apocalipse Zumbi

“Os bárbaros só vêm se nós os esperamos”. Essa afirmação feita pelo fantasma da jovem morta prematuramente é a chave da compreensão do filme e de toda a reflexão que Eugène Green faz sobre o papel dos dispositivos tecnológicos em nossas vidas.

Tal como em Esperando Godot, os bárbaros nunca aparecem. A ameaça bárbara só existe na e através das redes sociais. E após aquela viagem iniciática do grupo, os magos deram o melhor presente para todos irem além das mediações tecnológicas: a memória e a realidade do presente.

À Espera dos Bárbaros mostra que os verdadeiros bárbaros estavam o tempo todo naquela casa, na escuridão da ausência de wi-fi e Internet. O grupo teve um tratamento de choque de realidade. No final, a divisão apenas estava entre eles, porque um não conhecia a realidade do outro – isolados no solipsismo tecnológico dos dispositivos móveis, simplesmente ignoramos o presente, e muitos mais o passado.

Mas Eugène Green não é um ludita que deseja apenas que quebremos as máquinas, como fez um movimento de trabalhadores do século XIX contra as máquinas no ramo da fiação e tecelagem. O problema é que os dispositivos móveis deixaram de ser apenas um meio de transmissão de conteúdos. Acabaram moldando nossa percepção, criaram um horizonte de eventos, marcado pelo solipsismo, isolamento, criação de bolhas virtuais e incomunicabilidade.

Talvez, os verdadeiros bárbaros sejam aqueles que se aproveitam dessa condição atual de barbárie para incitar a cizânia, polarizações, intolerância e ódio – que, no contexto descrito pelo filme, é como jogar um fósforo num tanque de gasolina.

Daí nos encontramos com o “Apocalipse Zumbi” descrito no “Media Life” de Mark Deuze.

FICHA TÉCNICA DO FILME

Título original: En attendant les barbares

Direção: Eugène Green

Elenco: Fitzgerald Berthon, Hélène Gralet, Arnaud Vrech, Ugo Broussot, Anne-Sophie Bailly

País: França

Ano: 2017

Gênero: Drama

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