Livro retrata histórias divertidas e sensíveis que vão do ódio ao amor na fase da menopausa

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Autora Leila Rodrigues compartilha com o leitor sobre como reagiu aos inúmeros sintomas dessa etapa que é pouco difundida.

A menopausa é a soma de duas palavras gregas que significam mês e fim. Depois de passar por um período de altos e baixos, a autora nascida no interior de Minas Gerais, Leila Rodrigues, decidiu compartilhar sobre este assunto pouco difundido: a menopausa e o climatério. Assim, por meio de crônicas, nasceu o livro Hormônios, me ouçam!, publicado pela Literare Books International.

O caso de amor e ódio que viveu durante oito anos com sintomas de enxaqueca, insônia, ganho de peso, calorão, “chororô”, e mau-humor, entre outros, fez Leila perceber que ninguém nos prepara para essa surpresa da vida, e que teve por si só entrar nesse mundo desconhecido e silencioso.

Na obra, aponta-se que 35% das mulheres têm vergonha de falar que estão na menopausa. Esse foi um dos fatores que fizeram com que a autora não só vivesse essa metamorfose, mas mergulhasse no mundo das palavras. Leila também explica a diferença entre dois termos: o climatério significa período crítico e abrange a partir do começo dos sintomas ao término definitivo. Enquanto a menopausa é classificada 12 meses após o cessar permanente da menstruação.

Fonte: encurtador.com.br/fCV27

Com essa bagagem de experiência de quem viveu na pele, a autora conta de maneira bem-humorada tudo o que sentiu, são crônicas para o leitor rir e se identificar, além de se informar sobre um universo que não deveria ser confidencial.

Em um dos capítulos, ressalta-se a importância de ter uma rede de apoio para esses momentos, que vão desde a família a amigas verdadeiras. Para Leila, “envelhecer não é uma escolha, ser feliz, sim”. Por isso, a autora abraçou a causa e ajuda mulheres a pensarem que a menopausa pode, sim, ser vivida com mais autoestima e qualidade de vida.

Sobre a autora

Leila Rodrigues é palestrante, escritora e desenvolveu sua carreira como empresária no segmento de tecnologia. Partindo da sua experiência pessoal com a menopausa precoce, Leila Rodrigues se tornou uma estudiosa do assunto e fez desse tema a sua causa. Colabora, por meio de palestras e orientações nas redes sociais, para que as mulheres passem pela menopausa com mais dignidade, qualidade de vida e alegria de viver! Atua também como cronista em jornais e revistas na sua região. Nascida no interior de Minas Gerais e criada junto aos três irmãos, Leila Rodrigues carrega nas suas crônicas a simplicidade de suas raízes e a força da sua própria trajetória. É casada, mãe de dois filhos e hoje vive em Divinópolis/MG com a família.

Fonte: Arquivo Pessoal

Mais informações:
Livro: Hormônios, me ouçam!
Autora: Leila Rodrigues
Disponível na versão física e digital pelo link. 

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Vygostky e a medicalização na educação básica

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Vygotsky ocupou-se das demandas políticas de seu tempo, e mergulhou na vida acadêmica para produzir uma psicologia de base marxista, que atendesse a criação de um novo homem

Lev Semenovich Vygotsky nascido na cidade de Orsha (1896), Rússia, morreu com apenas 38 anos em Moscou (1934). Formado em Direito, História e Filosofia nas Universidades de Moscou e A. L. Shanyavskii. Com essas informações de sua história percebe-se o que possivelmente induziu a sua produção e exercício: a Revolução Russa de 1917 e o percurso de solidez que se sucede. Vygotsky é um marxista e procura instrumentar uma Psicologia com essas qualidades (OLIVEIRA, 1993).

Para ele, o indivíduo é algo que se transforma no contato com o sociocultural, entendendo a necessidade desse contato com outro indivíduo. Acreditava que essa construção se dava na interação entre o indivíduo com os outros em sua volta. Desse modo, a pessoa se molda a partir do contato com o seu meio e vice-versa. Assim, esse interagir de cada indivíduo com o seu meio, essa vivência única de cada um, é primordial a ele. E com isso, a metodologia de aprendizagem de Vygotsky teve a nomenclatura socioconstrutivismo com eixos de foco na aprendizagem e ciclo vital. Assim seu trabalho pesou na desconstrução de paradigmas anteriores em metodologias pedagógicas existentes.

Esse olhar social é capaz de determinar o desenvolvimento cognitivo e o especialista deve traçar respostas favoráveis impostas pela subjetividade do ensino na sala, no qual o profissional utiliza essa ciência na construção do ensino-aprendizagem, sendo perceptível a visualização, no trajeto do ciclo infantil, o progresso na mostra do pensar e de se expressar desse indivíduo podendo ser verbal ou não (MOREIRA, 1995).

Fonte: encurtador.com.br/uzLS1

Os fundamentos de Vygotsky trabalham com as primícias do homem no mais substancial, a criatividade, a autonomia, o estar desse indivíduo nesse processo e não enxergando só como algo aleatório, mas como um ser pensante. A educação faz parte de todos os aspectos gerais na construção de alguém e de uma sociedade. Desta forma, esse trabalho pretende trazer a visão da abordagem de Vygotsky e a medicalização infantil dentro do contexto da educação básica e das práticas educacionais brasileiras, para o trabalho do psicólogo na Psicologia da Aprendizagem.

Vygotsky

Vygotsky ocupou-se das demandas políticas de seu tempo, e mergulhou na vida acadêmica para produzir uma psicologia de base marxista, que atendesse a criação de um novo homem, de uma nova sociedade e de uma nova educação. Foi assim que nasceu o que hoje conhecemos como teoria histórico-cultural (BORTOLANZA; RINGEL, 2016). A escola de Vygotsky formada por Luria, Leontiev e Vygotsky, apresenta o contexto histórico-cultural na constituição do ser humano como ser social.

Décadas antes de se tornar conhecido como o homem que ao unir marxismo e psicologia criou a teoria histórico-cultural, o menino Lev Semenovich nasceu a 17 de novembro de 1896, em uma pequena cidade provinciana, conhecida por Orsha, ainda bebê, mudou com a família para a cidade de Gomel, onde viveu por um longo período, na companhia de seus pais e de seus sete irmãos (REGO, 1995).

Vygotsky, de origem judaica, cresceu com sua família com situação econômica estável no que diz respeito ao aspecto econômico, o que possibilitou a valorização da educação, propiciando-lhe um ambiente desafiador em termos intelectuais (BORTOLANZA; RINGEL, 2016). Seu pai trabalhava em um banco e em uma companhia de seguros. Sua mãe professora formada, falava vários idiomas, dedicou grande parte da sua vida à criação dos filhos (BORTOLANZA; RINGEL, 2016).

Fonte: encurtador.com.br/cuIM7

Vygotsky passou a frequentar aulas de História e de Filosofia na Universidade Popular de Shaniavski, onde embora não tenha recebido nenhum título acadêmico, aprofundou seus estudos em psicologia, filosofia e literatura, o que foi de grande importância em sua vida profissional posterior (OLIVEIRA, 1993). Concomitantemente aos seus estudos na Universidade Popular Shaniavski, Vygotsky seguiu o curso de Direito na Universidade de Moscou, e formou-se no ano de 1917.

No fim de 1917, Vygotsky retorna a Gomel, “onde assumiu vários trabalhos, como: lecionando Literatura Russa em escolas, Psicologia Geral, Infantil e Pedagógica nos cursos técnicos de pedagogia e, também, se dedicando às atividades culturais” (PUENTES; LONGAREZI, 2013, p. 54). Em Gomel, Vygotsky entra em contato com uma nova realidade. Com seu trabalho na escola de formação de professores, lhe colocou em contato com os problemas de crianças com defeitos congênitos – cegueira, surdez, retardamento mental – o que estimulou a descobrir maneiras de ajudar tais crianças a desenvolver suas potencialidades individuais. Foi ao procurar respostas para estes problemas que se interessou pelo trabalho dos psicólogos acadêmicos (LURIA, 1988).

A teoria histórico-cultural, popularmente conhecida como escola de Vygotsky, constitui-se como uma vertente da psicologia que se desenvolvia na União Soviética, no início do século XX. Essa corrente de pensamento foi denominada histórico-cultural, por seus autores, ao partir do pressuposto de que o homem é um ser de natureza social. Admitia a origem animal do homem, sendo que cada um com suas especificidades frente aos outros animais (MELLO, 2008).

A aprendizagem é uma vivência do meio que os cerca, sendo conectada pelo uso de instrumentos e signos. Entendendo os aspectos socioculturais de cada indivíduo, onde acontece a junção da fala e do comportamento. Um signo então, diz ser um significado de alguma coisa para a pessoa, como o dialeto falado e escrito. Esse intermédio entre pessoas, disponibiliza a construção de novos repertórios e de saberes (MOREIRA, 1995).

Fonte: encurtador.com.br/cjzQ7

Para Vygotsky, esse progresso cognitivo do aluno acontece pelas vivências sociais, assim sendo, pela relação com outras pessoas e com o ambiente em sua volta. De tal modos que, para a substancialidade acontecer precise pelo menos o envolvimento de duas pessoas fazendo trocas de vivências e saberes (MOREIRA, 1995).

Para que a aprendizagem ocorra, a relação social tem que ser dentro da zona de desenvolvimento proximal (ZDP), sendo ao trajeto a percorrer daquilo que existe para o que se sabe, seu saber de fato, e o que se tem disponibilidade interna para aprender, sua potencialidade de inteligência. Desse modo, a aprendizagem ocorre na pausa da ZDP, onde a inteligência real é a que o indivíduo consegue fazer só, e a potencialidade é aquela que ele precise de ajuda de outros para fazer (MOREIRA, 1995).

O papel do professor é de fazer a mediação da aprendizagem e traçando conteúdos que sejam capazes de levar o aluno a potencialidades de saberes de maneira independente dos outros e o estimule nessa construção de saberes, assim criando uma nova ZDP a todo instante. O professor por sua vez, estimula através de trabalhos em grupos e fazendo a junção com técnicas motivacionais, intermediando a aprendizagem e diminuindo sensações de exclusão do aluno (MOREIRA, 1955).

Mas este professor deve sempre estar em observações constantes, para entender melhor a cada aluno, com estratégias que sejam capazes de construir mais vivências e saberes em grupo com interação ativa e cooperativa desse grupo. Essa estratégia de metodologia possibilita novos meios de atuação, parceria e imutáveis estímulos (MOREIRA, 1995).

Fonte: encurtador.com.br/bhrMQ

Educação Básica

A educação básica é um nível de ensino que corresponde aos primeiros anos da educação escolar. De acordo com a Classificação Internacional Normalizada da Educação (ISCED), a educação básica inclui no primeiro estágio ou educação primária a aprendizagem básica da leitura, da escrita e das operações matemáticas simples; e no segundo estágio ou ensino secundário inferior corresponde à consolidação da leitura e da escrita e às aprendizagens básicas na área da língua materna, história e compreensão do meio social. Já no ensino secundário superior são lecionados conteúdos associados às áreas vocacionais e de preparo para o mercado de trabalho e o ensino superior (ALVAREZ, 2015).

A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada pela UNICEF e a Assembleia Geral das Nações Unidas em 1989, estabelece a educação básica como um dos direitos das crianças, estabelecendo os padrões mínimos de educação. A oferta da educação básica universal é considerada como uma das principais prioridades para iniciar o processo de mudança social e de desenvolvimento sustentado dos países em vias de desenvolvimento, sendo por isso o objetivo do programa Educação para Todos (Education For All) patrocinado pela UNESCO.

A Constituição Federal Brasileira de 1988 traz a ideia de educação como direito de todos e dever do Estado e da família. Mas, é com a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que se define a grade curricular, a divisão dos níveis escolares, a formação dos profissionais da educação e a distribuição de recursos financeiros educacionais. A constituição federal garante o direito à educação a todos através do ensino público, obrigatório e gratuito.

Outras leis importantes para a Educação brasileira que podemos citar são: Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069/90; Lei nº 10.098/94 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências; Lei nº 10.436 de 2002 que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais, Lei nº 7.853 de 1989 sobre apoio às pessoas portadoras de deficiência, Lei 10.172 de 2001, conhecida como Plano Nacional de Educação, consoante art. 9º inciso I da LDB e Lei 9131 de 1995 que criou o Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão responsável por auxiliar o Ministério da Educação na formulação e avaliação da política nacional de educação;(SERENNA, 2019)

Fonte: encurtador.com.br/bjKZ5

A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional também estabelece a coordenação do Ministério da Educação, sobre a educação básica brasileira, colaborando com a união, os estados e os municípios. É competência da união elaborar o plano nacional de educação e a elaboração de diretrizes para educação básica. Pela lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional as escolas possuem autonomia e são responsáveis por criar o projeto pedagógico, bem como administrar equipe de colaboradores e recursos financeiros. Garantindo assim a autonomia em métodos a cada instituição escolar. É importante ressaltar que a responsabilidade pela Educação não é somente do Estado, mas também da família e da sociedade.

Educação Básica No Brasil

No Brasil, a educação básica compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, e tem duração ideal de dezoito anos. É durante este período de vida escolar que se toma posse dos conhecimentos mínimos necessários para uma cidadania e serve também para tomada de consciência sobre o futuro profissional e área do conhecimento que melhor se adapte.

Primeiro estágio é destinado a crianças de cinco a onze anos, caracteriza-se por proporcionar destrezas básicas em leitura, escrita e matemática, além de formar uma base para a compreensão das áreas essenciais do conhecimento, incluindo o desenvolvimento pessoal e social dos estudantes. O segundo estágio normalmente destinado a adolescentes de doze a quinze anos, caracteriza-se por aplicar um modelo mais orientado por disciplinas, como física, química, biologia, história, geografia, com a finalidade de introduzir conceitos teóricos sobre uma ampla gama de temas.

Alguns sistemas educativos oferecem também programas vocacionais orientados a desenvolver habilidades pessoais para o acesso ao mercado de trabalho. Como exemplo destes temos as escolas de ensino médio que oferecem curso técnico profissional integrado. A segunda parte do ensino secundário é destinado a adolescentes de quinze a dezoito anos. Caracteriza-se por consolidar a educação secundária com instrução mais diversificada, avançada e especialista, visando à preparação para Educação Superior, ou proporcionando destrezas para a formação profissional de nível médio.

Fonte: encurtador.com.br/eHT24

Medicalização Na Educação

O termo “medicalização” refere-se ao processo de converter questões não médicas, eminentemente de origem social e política, em questões médicas, isto é, tentar encontrar no campo médico as causas e soluções para problemas dessa natureza (COLLARES e MOYSÉS, 1994).Na atualidade, a medicalização das manifestações humanas tem se expandido no Brasil e em outros países em diferentes áreas, saúde, estética, educação, administração, esporte, direito, etc. Em consonância com essa expansão, tal fenômeno tem sido pautado em diversos âmbitos, como na ciência, pesquisa, política, mídia (impressa, eletrônica, televisiva), enfim na sociedade em geral (RIBEIRO, 2014)

Atualmente, verifica-se um aumento do número de diagnósticos médicos e de subsequente ingestão de medicamentos por crianças e jovens em idade escolar, o que reflete uma crescente medicalização em particular, da educação. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno desafiador opositivo, transtorno obsessivo compulsivo e mesmo obesidade e dislexia constituem uma parte substan­cial das patologias ou distúrbios que ocupam as salas de aula das escolas (PAIS, MENEZES e NUNES. 2016).

Queixas a partir das quais ocorrem encaminhamentos de alunos a clínicas de saúde estão, em geral, relacionadas a questões comportamentais, de atenção e de aprendizagem. Prioritariamente formuladas por professores, tais queixas referem-se a alunos que: “não conseguem permanecer sentados por muito tempo”; “pedem para sair da sala constantemente”; “mostram-se distraídos”; “não se engajam nas atividades”; “não copiam do quadro”; “têm inscritas em que faltam letras”; “cujos textos não têm sentido”; “têm dificuldades para aprender”; “não conseguem ler”; “são agressivos”, “não aceitam regras” etc. Esses relatos acabam sustentando diagnósticos, indicação de tratamentos, e, muitas vezes, prescrição de medicamentos para o controle dos sinais que se manifestam em sala de aula (SIGNOR, 2013).

Fonte: https://www.pensarcontemporaneo.com/1641-2/

O Brasil é citado como o segundo maior consumidor mundial de metilfenidato (IBUM,2012). Medicamento que tem por finalidade controlar a atenção e o comportamento. E mesmo consumindo esse medicamento de forma expressiva, o índice de dificuldade de aprendizagem é absurdo. O que leva o questionamento sobre não somente a parte biológica comprometida, mas o contexto social, a qual essa criança está inserida.

No contexto escolar essa ideia contribui com o pensamento equivocado de que crianças são geradoras do seu próprio fracasso escolar, pois carregam algum tipo de distúrbio ou problema que atrapalha o processo de aprendizagem. Esse discurso de que problemas de saúde são as causas de grande parte do fracasso escolar faz com que problemas maiores sejam encobertos, tornando mais fácil culpar a criança, parte mais vulnerável, do que criar novas práticas e estratégicas pedagógicas para melhorar o ensino (NEGREIROS  et al., 2016).

O TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é um diagnóstico exemplo destas problematizações que vem sendo bastante discutido. Descrito pela grande maioria das pesquisas atuais como um dos transtornos neuropsiquiátricos mais comuns à infância, com hipóteses de que afetaria cerca de 7% da população mundial, teria como tratamento, muitas vezes único e exclusivo, a prescrição de psicofármacos. Suas características, seriam marcadas pela tríade desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade, aspectos que supostamente assumiram formas combinadas ou separadas. No entanto, a popularização do termo “criança hiperativa” passou a preocupar muitos estudiosos que questionam suas bases biológicas e seu tratamento medicamentoso e denunciam a banalização deste diagnóstico para a infância contemporânea (CRUZ  et al., 2016).

Fonte: encurtador.com.br/duxyI

O fato é que os problemas de comportamento, aprendizagem e de atenção nem sempre são sintomas de algum distúrbio e podem estar relacionadas ao método de ensino. Conforme Vygotsky (2004), a cognição se constitui na interação, é por meio do olhar do outro (o professor) que a criança se torna “atenta” ou “desatenta”, “ativa” ou “hiperativa”, “boa” ou “má” aprendiz. Assim, o sintoma pode (ou não) ser produzido a depender do contexto interacional. Há de se entender, nessa direção, a relevância da afetividade para o desenvolvimento da criança na escola. O sujeito responde às interações nas quais está inserido; responde de forma favorável às interações que propiciam o desenvolvimento e a aprendizagem e de forma opositiva às interações desfavoráveis.

De acordo com Vygotsky (2010), “toda a aprendizagem só é possível na medida em que se baseia no próprio interesse da criança. Outra aprendizagem não existe”. Ainda segundo o autor, a atenção infantil é orientada e dirigida quase exclusivamente pelo interesse, e por isso a causa natural da distração da criança é sempre a falta de coincidência de duas linhas na questão pedagógica: do interesse propriamente dito e daquelas ocupações que são propostas como obrigatórias.

Para Vygotsky (2010), se na criança foram criadas formas antissociais de comportamento, a regra para a reversão do problema é justamente o contrário daquela aplicada aos infratores das leis na sociedade, onde a medida é a exclusão do meio social: “Ali, é ínfima a preocupação com a personalidade do próprio infrator, e tudo se volta para neutralizá-lo e proteger o meio de sua influência”. Na escola, assegura o autor, a regra é distinta; isto é, a regra é o contato social mais estreito, pois é na convivência mediada que as crianças desenvolvem capacidades ligadas à criação e manutenção de laços afetivos.

Fonte: encurtador.com.br/fqvGR

A contradição de Vygotsky a esses pensamentos medicalistas, evidencia então a existência de diferentes formas de interpretação da realidade e mostra que há a necessidade de uma profunda reflexão sobre os problemas que se apresentam em relação à escola brasileira. Tal reflexão possibilitaria uma revisão crítica de nossas representações sobre o homem, a sociedade que queremos construir, o papel do Estado e da escola, o processo de produção de conhecimentos, a relação família-escola, os valores que a escola não pode se eximir de trabalhar com seus alunos, enfim, seria um processo que possibilitaria uma ampla ressignificação de nossos referenciais políticos e ideológicos (SIGNOR  et al., 2017).

CONCLUSÃO

As questões aqui expostas apontam para as contribuições de Vygotsky na educação básica, tendo como enfoque sua teoria histórico cultural e as reflexões da medicalização infantil. O autor da teoria apresenta o sujeito como um ser de natureza social, ora produtor da sua cultura, ora produto de suas internalizações. De maneira que o contato do ser humano com o outro produz transformação no mesmo. Cabe acrescentar nesse meio que, os acontecimentos básicos que fundamentaram o surgimento da educação básica hoje asseguram o indivíduo do direito de receber um ensino justo e gratuito. O que possibilita novas interações dentro de um contexto escolar, e conforme tais relações forem estabelecidas propiciará ou não a aprendizagem.

 Essa interação no âmbito escolar tem exposto alguns conflitos entre professores e alunos, no que diz respeito aos comportamentos apresentados, visto como “comportamentos problemas”. Graças à busca por soluções milagrosas que possam sanar as dificuldades da vida é que inúmeras crianças são medicalizadas nas instituições de educação. Professores depositam essa incumbência na ciência médica, mas o problema, na maioria das vezes, tem outro caráter. A educação sofre influência de déficits não orgânicos, mas econômicos e sociais, como o baixo incentivo, salas lotadas, desvalorização da atuação profissional, além de cursos despreparados para formação de profissionais qualificados, entre inúmeros outros.

Fonte: encurtador.com.br/fqxHO

A partir desses levantamentos há de se entender de acordo com a teoria socioconstrutivista, a relevância da afetividade para o desenvolvimento da criança na escola. De modo que a atenção é orientada pelo interesse, e culpar, diagnosticar, medicalizar a criança é caminho mais curto e fácil para “solucionar” os possíveis problemas dentro da educação. Vale conscientizar e refletir sobre as consequências advindas de tais condutas.

REFERÊNCIAS

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VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Teoria e método

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O começo da vida: O maravilhoso mundo dos bebês

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As interações sociais no início da vida são fundamentais para o desenvolvimento.

A maternidade é um aprendizado único; é uma experiência de transformação pessoal; é sentir o movimento da vida que inicia dentro do útero; é aprender a comunicar-se sem palavras. A vida inicia como uma única célula, menor que um alfinete. Nove meses depois, existimos como organismos extraordinariamente complexos, formados de bilhões de células diferentes. E esta intricada dinâmica é apresentada em pormenores através do documentário ‘O Começo da Vida’, disponível na Netflix.

Os bebês geralmente nascem minúsculos, vermelhos, enrugados e mal conseguindo aguentar a própria cabeça. As primeiras alterações bio-psico-comportamentais da criança ocorrem no momento do nascimento, na saída de dentro do útero para um ambiente quente e úmido, no qual os pulmões se inflam pela primeira vez, são fechados os canais secundários, que desviam o sangue dos pulmões para a placenta, e as artérias umbilicais. O recém-nascido tem a visão de outros seres humanos pela primeira vez e dá o início à construção de um relacionamento social e do relacionamento pai, mãe e filho(a). Os familiares têm a expectativa da aparência do bebê e expectativas sociais desse novo ser.

Fonte: http://twixar.me/md3K

Logo a criança respira por conta própria, consegue explorar o mundo usando os sentidos, se alimenta e começa a assumir seu lugar dentro do contexto familiar e na comunidade em que faz parte. Porém o bebê é totalmente indefeso e aprende uma imensidão de coisas nos primeiros anos de vida, sendo uma fase importante e que pode refletir durante o resto da vida. Os bebês nascem “míopes” e passam por processos sensoriais referentes à visão. Ele conseguirá enxergar com clareza por volta dos oito meses de idade. Contudo, o bebê já explora o ambiente com o olhar desde o nascimento, assimilando formas visuais.

Fonte: http://twixar.me/hd3K

Os bebês passam por outros processos sensoriais referentes ao olfato, paladar, tato, temperatura e posição. Aos oito e dez dias de vida os bebês já são aptos de distinguir o odor do leite materno em relação ao leite de outra mulher, podem apresentar expressões faciais diferentes para gostos diferentes, reagem a toques desde o período pré-natal e mostram sensibilidade às alterações de temperatura e estudos apresentam que reagem com movimentos distintos dos olhos ao serem girados. O documentário reforça que eles aprendem mais do que jamais imaginamos, uma vez que as vias associativas funcionam antes mesmo da criança nascer e, mesmo no útero da mãe, o feto já percebe as vibrações do som, começando pela voz e pelos batimentos cardíacos da mãe.

Conforme o documentário, a cada segundo o cérebro do bebê faz milhares de conexões entre as células nervosas, o que proporciona todos os tipos de experiências, interações físicas e sensações que permitem à criança o processamento do que está acontecendo ao seu redor. O bebê passa pela habituação que se refere ao processo em que a atenção à novidade diminui com a exposição repetida, realizando um processo de aprendizagem e a desabituação que ocorre quando o interesse é renovado após uma mudança no estímulo. Ambos os processos ocorrem automaticamente, sem qualquer esforço consciente. Portanto, o que comanda tais processos é a relativa estabilidade e a familiaridade do estímulo.

Fonte: http://twixar.me/Xd3K

Segundo Jean Piaget, psicólogo do desenvolvimento, o conhecimento dos bebês é construído através da ação (construtivismo) e através de esquema que se refere a uma estrutura mental que proporciona a um organismo um modelo de ação em circunstâncias similares ou análogas. Em cada comportamento ocorre a adaptação que proporciona a assimilação. Piaget conceitua a aquisição da aprendizagem pelo processo de adaptação, assimilação e acomodação. Os reflexos e as coordenações sensoriais e motoras presentes no recém-nascido tornam-se mais complexos, coordenados e propositais enquanto se desenvolvem no processo de adaptação, no qual o ser humano adapta-se ao meio e organiza suas experiências (WADSWORTH, 1997).

No documentário a mente da criança é totalmente aberta, não planejada e à espera de descobertas, passando pelo processo cognitivo e psicológico mediante os quais as crianças adquirem, armazenam e usam o conhecimento sobre o mundo. Piaget apresenta o desenvolvimento percepto-motor como umas das conquistas dos primeiros anos de vida da criança a qual ocorre quando a percepção e o agir da criança estão intimamente conectados e ela tem a capacidade de girar, mover, sacudir um objeto, segurar com uma mão e depois, com as duas mãos, brincar de encaixar, erguer a cabeça, rolar o corpo, sentar-se sem apoio, caminhar sozinha, levantar, subir degraus dentre outros.

Nos primeiros anos de vida, os bebês categorizam o gênero dos sons de voz, conseguindo reconhecer a voz da mãe e diferenciar das demais, categorizam os adultos como sendo confiáveis versus estranhos imprevisíveis. A memória desenvolve-se rapidamente  e o desenvolvimento cerebral é tão influenciado pelo ambiente quanto pela genética. As experiências e interações que uma criança pequena tem literalmente ficam marcadas na pele e no cérebro, além de afetarem a constituição dos circuitos e da arquitetura do cérebro.

Fonte: http://twixar.me/Jd3K

O documentário apresenta casos de pessoas que foram seriamente privadas de afeto quando eram bebês, podendo manifestar na fase adulta uma dificuldade em ter afeto com crianças pequenas pois essa experiência afetiva não fez parte do seu repertório comportamental da infância.

Destarte, o documentário mostra que o contato com a família, o afeto e a demonstração de amor e carinho são melhor que brinquedos, uma vez que a interação com outros seres humanos é fundamental para o desenvolvimento da criança. Logo, a comunicação, o contato e o convívio social são inerentes ao bebê, à medida que os primeiros laços são estabelecidos nos primeiros anos de vida.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Título Original: O Começo da Vida
Direção: Estela Renner
Elenco: Nenhum
Ano: 2016
País: Brasil
Gênero: Programa e séries, série documental

Referências:

BEE, H. O Ciclo Vital. Porto Alegre: ArtMed, 1997.

COLE, M. COLE, S. O Desenvolvimento da Criança e do Adolescente. 4.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2003.

WADSWORTH, B.J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget: fundamentos do construtivismo. 5. ed. rev. São Paulo: Pioneira, 2003

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Cosmética pós-moderna: Velhice ou Terceira Idade?

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A velhice é um assunto que demanda delicadeza ao ser tratado atualmente, pois pensar no que tange a ser velho não é algo tão simples quanto se imagina.  Um ser humano é considerado idoso, de forma geral, ao atingir seus 60 anos de idade, independentemente de seu estado biológico, psicológico e social (SCHNEIDER, 2008). Desse modo fica nítido que, para a maior parte das pessoas, existe um momento para envelhecer, o momento em que se adquire uma idade determinada, como uma espécie de prazo a ser atingido.

No mundo, a quantidade de pessoas com a faixa etária superior a 60 anos vem crescendo rápido, e estatísticas do final do século XX ao início dos anos 2000 provam isso. O contingente de idosos, pessoas com 60 anos ou mais, cresceu 7,3 milhões entre 1980 e 2000, gerando um total de mais de 14,5 milhões em 2000 (World Health Organization – WHO, 2005). Os motivos para tais aumentos são vastos, entre eles: aumentos no custo de vida nas cidades, êxodo rural e políticas de controle de natalidade, que permeiam as grandes nações e começaram a ser cada vez mais comuns – por exemplo, o governo chinês que adotou a chamada política do filho único entre 1970 e 2015.

Para uma parcela considerável da sociedade, o sujeito que se encontra em estado de velhice é associado a uma sucessão de características negativas, como invalidez e a fragilidade, além das doenças que supostamente sucedem esse período da vida (SCHNEIDER, 2008). E dependendo do país, toda uma aura de respeito ainda se mantém sob os idosos, o conhecimento daquilo considerado antigo e a experiência deles tem seu lugar ao sol. Isso reflete diretamente na maneira como a sociedade os trata, sendo respeito a palavra chave para entender como se dá essa relação; as pessoas respeitam a vivência do idoso, ouvem seus conselhos, mas os mesmos ocupam um papel secundário, pois seriam obsoletos às dinâmicas contemporâneas.

Mas será isso mesmo? Seriam os idosos tão obsoletos e excluídos assim? A mídia parece ter vindo com força para provar que não. Analisando o aumento da população idosa, surgiu-se um novo público de mercado, e consequentemente um novo jeito de se ver a velhice. Agora sendo chamada de Terceira Idade, os que pertencem a ela não estariam condenados a cadeiras de rodas ou camas, mas sim buscar a tão sonhada qualidade de vida e saúde. Com isso, toda uma sucessão de acontecimentos para esse período da vida se estabeleceu; agora idosos também se exercitam, cuidam da pele e saem para se divertir.

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Fonte: http://migre.me/vmMNi

Velhice x Terceira Idade

O vocábulo velhice vem gradualmente sendo substituído pela expressão terceira idade, e isso é devido a uma série de fatores. Palacios (2004) analisou e verificou essa relação conflitante dos dois termos em uma pesquisa com 247 anúncios publicitários de cosméticos, que circularam na década de 1990. Percebeu que os anúncios gradualmente amenizavam o tratamento para com os idosos; antes usando termos como velhice, que remetem a algo desgastado e decrépito, e ao longo do tempo, sendo atingidos pelas mudanças de valores e de atitudes relacionadas a pós-modernidade, os anúncios ficam mais amenos, tratando como terceira idade esse período mais avançado da vida. Tudo isso acarretando mudanças nas práticas de consumo também.

As transformações e mudanças nessas práticas de consumo ocorridas na sociedade não são invisíveis à publicidade, pois a mesma é responsável por influenciar e muitas vezes moldar tais práticas. Para entender o mundo que nos cerca, temos que o olhar para a forma que as mercadorias são consumidas, pois muitas vezes os sentidos são conferidos a vida via consumo onde o indivíduo vai construindo seu estilo de vida. Com os idosos desse estudo não foi diferente: o jeito como eles consumiam havia mudado. Novas necessidades surgiam naquele meio social (dos indivíduos mais velhos, próximos a velhice) e os publicitários enxergaram ali uma oportunidade.

Com os anúncios podemos dizer que foi estabelecido um novo marco biológico preconizando os cuidados com o corpo, trazendo essa preocupação para pessoas mais jovens, entre 20 a 30 anos de idade, sendo que tal cuidado teria o início somente décadas no futuro. A publicidade vem mudando aos poucos a sociedade, influenciando o indivíduo na maneira de ser e ver o mundo a sua volta; as identidades sociais são estabelecidas pelos discursos publicitários mesmo que muitas vezes isso vá contra o real significado do ser e se denominar algo, ou em algum estágio do ciclo vital.

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Fonte: http://migre.me/vmN5d

O termo terceira idade se mostra mais ameno no trato dessas pessoas, trazendo mais conforto ao ouvinte e participante. Ele também é mais abrangente e permite uma análise mais profunda do indivíduo inserido nele.

Atualmente, os especialistas no estudo do envelhecimento referem-se a três grupos de pessoas mais velhas: os idosos jovens, os idosos velhos e os idosos mais velhos. O termo idosos jovens geralmente se refere a pessoas de 65 a 74 anos, que costumam estar ativas, cheias de vida e vigorosas. Os idosos velhos, de 75 a 84 anos, e os idosos mais velhos, de 85 anos ou mais, são aqueles que têm maior tendência para a fraqueza e para a enfermidade, e podem ter dificuldade para desempenhar algumas atividades da vida diária. (SCHNEIDER, 2008)

Essa divisão mais ampla é para os indivíduos, uma fonte de ânimo e autoestima, e dá mais ênfase no caráter heterogêneo do fator envelhecimento; se analisar profundamente, não é a idade – o tempo decorrido do nascimento até o ponto atual na vida – que determina se o ser humano está ou não velho, mas sim todo o contexto de vida dele e como ele está aplicado nesse contexto. Seu corpo como fator biológico também é determinante, levando em conta que cada um evolui e envelhece de modo único, a seu próprio ritmo.

Ao descrever sobre o termo velhice e a palavra terceira idade, Palacios (2004) enfatizou a relação que há entre tais conceitos e ao mesmo tempo discorreu sobre a ideia de mudança discursiva observada em anúncios publicitários. Com esta pesquisa, Palácios observou a existência de duas percepções opostas de velhice. A primeira, mais tradicional, entende o processo de envelhecimento como um período sombrio, no qual predomina o medo da morte, o desencadeamento de doenças, tendo como consequência o isolamento social.

Fonte: http://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/fragilidade-aumenta-risco-de-morte-em-idosos/

A segunda visão retrata a existência de uma terceira idade, a qual faz-nos pensar na possibilidade de outras fases anteriores, como a primeira e a segunda, ou seja, infância e a maturidade, “a terceira idade é postulada como o ponto culminante de uma linha abstrata, convencionalmente instituída como condutora da vida. Estaria posicionada subsequentemente a uma segunda idade, que compreende a maturidade, e uma primeira idade, que compreende a infância.”(PALACIOS, 2004, p. 4).

Na esteira de seus argumentos, Palacios também afirma que os anúncios publicitários permitiram identificar a presença de dois pensamentos divergentes. Por um lado, a velhice é vista como algo que deve ser combatida. Por outro lado, a juventude emerge como o ideal a ser percorrido, mesmo na velhice. Desta forma, “[…] a busca pela juventude resulta em um comportamento ativo de combate à velhice e/ou que o estado de ser velho deve ser sempre acompanhado da busca pela conservação da juventude.” (PALACIOS, 2004, p. 20).

Entretanto, é importante ressaltar o apontamento que Amaral (2015) faz, no artigo sobre as “representações sociais”. A autora deixa claro que envelhecer torna-se algo cada vez mais difícil numa sociedade que prega e valoriza o visual, na qual se ocultam as rugas e os cabelos brancos. Amaral (2015) destaca que, nas sociedades atuais, a idade cronológica se apresenta como marcador para dividir o ciclo de vida das pessoas em três momentos, sendo que o primeiro se refere a preparação para o trabalho; o segundo momento diz respeito a atividade profissional e o último tempo relaciona-se com a reforma.

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Fonte: http://migre.me/vmO9K

A autora apresenta que há um consenso em afirmar a existência de preconceito e discriminação envolvendo as faixas etárias, incluindo a velhice e a juventude.  Para Amaral,

O termo ageism, idadismo em português, refere-se tanto à discriminação etária que os jovens como os mais velhos podem ser objeto. Quantas vezes ouviram jovens a verbalizar que são atendidos de forma diferente dos seus congéneres de idades mais avançadas nos locais de comércio? Quantas vezes presenciaram atitudes de incompreensão relativas a congéneres com gestos lentificados em filas do comércio?. (AMARAL, 2015, p. 294)

Na Contemporaneidade

O atual grupo da terceira idade representa uma “velhice” muito distinta da que era predominante até a década de 30. Ao falar sobre as visões conflitantes que se tem dessa fase, Annamaria Palacios coloca que “o processo de envelhecimento representa uma época sombria, decrépita, repleta de temores da morte, de acontecimentos de doenças, que culmina no isolamento do indivíduo dos processos de socialização em sua fase final da vida.” (PALACIOS, 2004, p. 90).

Diante disso, as formas de representação desse idoso na mídia estavam ligados a produtos farmacêuticos e prevenção de doenças, tendo esse grupo sempre papel secundário. O ato de associar o idoso a tais produtos de embelezamento, traz o estigma negativo que gira em torno desse pensamento pessimista sobre eles à tona, como se algo estivesse errado em se conformar com as mudanças que o tempo acarreta e que se o indivíduo não lutar contra isso, está agindo de maneira errada.

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Fonte: http://migre.me/vmPyq

É perceptível que essa imagem negativa foi substituída por outra muito mais ativa e saudável. Isso se dá pelas mudanças políticas e culturais advindas da pós-modernidade, como o direito a aposentadoria e a oferta de oportunidades para o autodesenvolvimento, aliado aos dados demográficas que apontam o crescente número de idosos desde o final do século XX. Todo esse contexto social foi acompanhado pela mídia, uma forte influenciadora de opiniões e comportamentos. Assim, ela se tornou uma grande colaboradora, não só na construção da nova imagem da terceira idade, mas também na maneira como a convivência de diferentes gerações.

Quando falamos de produtos e serviços destinados a esse grupo, assunto de grande destaque no artigo Velhice, palavra quase proibida; Terceira idade, expressão quase hegemônica, a mídia possui papel fundamental na disseminação da ideia e no despertar do interesse de consumo. Ada Bezerra pontua:

No espaço midiático então, o velho é incitado a adquirir novos hábitos para manterem o corpo saudável e um espírito jovem, com participação social e valores modernos. Para isso, um arsenal de produtos e serviços de rejuvenescimento, cosméticos, eletrodomésticos modernos, centros de lazer, agências específicas de turismo, serviços bancários, e outros produtos são criados e direcionados ao consumo desse gênero. (BEZERRA, 2006, p. 6)

Nessa perspectiva, torna-se claro que a imagem do idoso de espírito jovem não representa a realidade da terceira geração do século XXI, e existe apenas para atender a lógica de mercado vigente que supervaloriza a juventude e a torna uma conquista possível em qualquer momento da vida através de produtos e estilos de vida adequados.

REFERÊNCIAS:

BEZERRA, Ada Kesea Guedes. A construção e reconstrução da imagem do idoso pela mídia televisiva. Biblioteca on-line de Ciências da Comunicação. Campina Grande, jan. 2006.

DANIEL, Fernanda; ANTUNES, Anna; AMARAL, Inês. Representações Sociais da Velhice. Análise Psicológica, [s.l.], v. 33, n. 3, p.294-294, 23 set. 2015. ISPA – Instituto Universitário. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.14417/ap.972>.

PALACIOS, A. R. J. P. Velhice, palavra quase proibida; terceira idade, expressão quase hegemônica: apontamentos sobre o conceito de mudança discursiva na publicidade contemporânea. Comunicação apresentada no XX Encontro da Associação Portuguesa de Linguística (APL). Lisboa, 2004.

PALACIOS, A. R. J. As múltiplas idades e os múltiplos usos: cultura, consumo e segmentação de público em anúncios de cosméticos. Comunicação, Mídia e Consumo/Escola Superior de Propaganda e Marketing. v. 3, n. 6, São Paulo, 2006.

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