A Pedagogia da Circularidade na Psicologia e na Educação

Compartilhe este conteúdo:

Tendo como base a obra “Pedagogia da Circularidade Afrocênica: diretrizes metodológicas inspiradas nas ensinagens da tradição do Candomblé Congo-Angola” de Ferreira (2019) abordaremos neste texto sobre a Pedagogia da Circularidade e a sua aplicabilidade.  Para o autor, a concepção de circularidade permeia a experiência humana ao considerarmos o desenvolvimento por meio de ciclos de aprendizagem. Esses ciclos não se fecham em si mesmos; ao contrário, mantêm-se em constante movimento, persistindo mesmo após a morte, sem encontrar um ponto final definitivo. Se traduzindo em algo que está atrás de nós, e não pode ser visto pelos nossos olhos, é facilmente decifrado pelos nossos corpos, os quais detém a faculdade de ver, ouvir, sentir e falar, sem mesmo que eu precise usar os meus órgãos do sentido.

Quando citamos a Pedagogia da Circularidade devemos lembrar que ela tem consigo a inspiração na cultura Bantu e no cotidiano do Unzó ia Kisimbi ria Maza Nzambi. Para eles, a filosofia seguida é a Ubuntu, na qual parte do princípio da horizontalizações das interações sociais, políticas e culturais; acesso universal a essas esferas. Assim, a existência individual torna-se viável apenas ao reconhecermos a diversidade e a presença do outro. No qual se crê que “Tudo está e é movimento. Nada é estável, nem fechado. As conexões gerais são possíveis, desde que horizontalize e permita o acesso de todos”.

Ao pensar na Pedagogia da Circularidade é evidente ter em mente que ela sirva como base para reflexão sobre as práticas de ensino em todos os níveis, abrangendo desde a educação infantil até o ensino superior. Em resumo, a Pedagogia da Circularidade busca estruturar orientações metodológicas que ponderam sobre as ensinagens afrodiaspóricas. Essas, compreendidas aqui como processos de ensino-aprendizagem inspirados em contextos como o terreiro de candomblé, bem como em práticas tradicionais como a capoeira, o Congado, o Samba de Roda, entre outros, se diferenciam das práticas convencionais da educação oficial brasileira. Educação esta que considera o indivíduo como produtor de conhecimento, ativando 229 sua ancestralidade por vezes oprimida pela colonialidade, estimulando-o a integralizar o mundo em todas as suas esferas, costurando.

Desse modo, ele integra o entendimento de alguns pontos no processo de ensino-aprendizagem, estando contido na imagem abaixo:

Conforme exposto, Ferreira (2019) traz que estes cinco caminhos se configuram como fundamentos de ensino que subsidiam a prática de ensino na esfera da Pedagogia da Circularidade, com seu repertório conteudístico atemporal. Em que recuperando os caminhos de aprendizagem na Pedagogia da Circularidade, temos aqui a cognição substanciada através de ciclos que se atravessam e este conjunto reuniu estrutura filosoficamente os fundamentos de ensino colididos nesta pesquisa.

Sendo dessa maneira a Pedagogia da Circularidade, assim como outras abordagens pedagógicas afrodiaspóricas mencionadas aqui, não busca estabelecer um binarismo entre o horizonte eurocêntrico e africano; pelo contrário. De tal modo a cultura negra, posicionada na encruzilhada, permite que seu discurso seja enriquecido por três vozes que contribuem para a formação do discurso afrodiaspórico: a expressão autêntica da pessoa negra em sua essência, a manifestação proveniente de sua ancestralidade e a expressão moldada pela influência do colonizador no processo de construção identitária. Portanto, o discurso jamais pode ser redutivo, pois essa abordagem não está alinhada com a visão de mundo africana, como será explicado mais detalhadamente adiante.

Conforme breve exposição dos diálogos trazidos na obra de Ferreira (2019) acerca da Pedagogia da Circularidade, é notável que a Pedagogia da Circularidade considere como partida para todo e qualquer disparador cognitivo o lugar de origem, o muntu, o ser integralizado com toda a sua história.

Referência:

Ferreira, Tássio. Pedagogia da Circularidade Afrocênica: diretrizes metodológicas inspiradas nas ensinagens da tradição do Candomblé Congo-Angola / Tássio Ferreira. — Salvador, 2019. 271 f. : il.

Compartilhe este conteúdo:

A Pedagogia da Circularidade: tecendo redes de conhecimento entre educadores

Compartilhe este conteúdo:

Em um mundo onde a educação é frequentemente vista através de uma lente de resultados e métricas, a pedagogia da circularidade surge como um sopro de inovação e humanidade. Esta abordagem, profundamente enraizada nas teorias de educadores visionários como Paulo Freire, desafia as estruturas tradicionais e propõe um modelo de aprendizado colaborativo e dinâmico, onde o conhecimento é compartilhado e a sabedoria coletiva é valorizada. Ao invés de perpetuar a dinâmica de poder desigual entre professor e aluno, a circularidade promove um ambiente de aprendizado recíproco e respeito mútuo, onde todos são vistos como contribuintes valiosos no processo educativo. Neste contexto, os educadores são convidados a reimaginar o ensino como um diálogo contínuo, uma jornada compartilhada de descoberta e crescimento. A pedagogia da circularidade não é apenas uma metodologia; é um manifesto para uma educação mais equitativa, empática e eficaz, que reconhece e celebra a interconexão e a interdependência de todos os envolvidos no ato de aprender.

Essa pedagogia embasada na filosofia de Paulo Freire, é uma resposta ao modelo educacional hierárquico e unidirecional que historicamente tem caracterizado as instituições de ensino. Freire (1970) argumenta que a educação deve ser libertadora, um processo dialógico onde o educador e o educando aprendem em conjunto, desafiando o tradicional “modelo bancário” de educação, onde o conhecimento é depositado nos alunos. A circularidade, portanto, é uma prática pedagógica que encoraja a troca de saberes em um espaço democrático e participativo, promovendo uma aprendizagem significativa e transformadora.

Este conceito é reforçado pelas teorias de LAVE e WENGER (1991), que introduziram a noção de “comunidades de prática”. Nestas comunidades, a aprendizagem ocorre em um contexto social, onde os membros compartilham um ofício ou uma profissão. A circularidade dos saberes docentes é uma manifestação deste fenômeno, onde os professores, como membros de uma comunidade educacional, engajam-se em um processo contínuo de aprendizado colaborativo. Eles não apenas compartilham conhecimentos e experiências, mas também constroem novos entendimentos através da interação e do engajamento mútuo.

WENGER (1998) expande essa visão ao enfatizar a importância da identidade na prática de aprendizagem. Na circularidade, os professores constroem suas identidades profissionais não isoladamente, mas em relação uns aos outros e ao coletivo do qual fazem parte. Isso é particularmente relevante na educação pública, onde os desafios são muitos e os recursos, muitas vezes, limitados. DARLING-HAMMOND (1997) destaca que o desenvolvimento profissional dos professores é crucial para a eficácia do ensino e, consequentemente, para o sucesso dos alunos. A circularidade dos saberes docentes, portanto, não é apenas uma questão de eficiência pedagógica, mas também de justiça social e equidade educacional.

A circularidade também se alinha com a ética do cuidado proposta por NODDINGS (2005), que argumenta que a educação deve ser fundamentada no relacionamento de cuidado entre professores e alunos. Este cuidado se estende aos colegas de profissão, criando uma cultura de suporte e empatia. A circularidade dos saberes docentes, neste contexto, é uma expressão de cuidado profissional, onde os educadores se apoiam mutuamente em sua jornada de ensino.

No entanto, a implementação da pedagogia da circularidade enfrenta obstáculos. As estruturas educacionais rígidas e a falta de tempo e recursos podem inibir a colaboração e a reflexão crítica. Além disso, a valorização da competição em detrimento da colaboração pode desencorajar a partilha de saberes. Apesar desses desafios, a circularidade oferece um caminho promissor para a renovação da prática educativa. Ela convida os educadores a repensarem seus papéis, a se abrirem para novas possibilidades de aprendizagem e a se comprometerem com a transformação contínua da educação.

Em suma, a pedagogia da circularidade é mais do que uma metodologia; é uma postura ética e uma visão de mundo que coloca a colaboração, o diálogo e a reflexão crítica no centro do processo educativo. Ao adotar essa abordagem, os educadores podem não apenas enriquecer suas práticas individuais, mas também contribuir para a construção de um sistema educacional mais justo, eficaz e humano.

Referências:

DARLING-HAMMOND, L. The Right to Learn: A Blueprint for Creating Schools That Work. San Francisco: Jossey-Bass, 1997.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.

LAVE, J.; WENGER, E. Situated Learning: Legitimate Peripheral Participation. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.

MEIRIEU, P. Frankenstein Educador. Rio de Janeiro: Desiderata, 1998.

NODDINGS, N. The Challenge to Care in Schools: An Alternative Approach to Education. New York: Teachers College Press, 2005.

POUBEL, V. R. Pedagogia da circularidade: uma conversa com professoras da educação pública. Alfabetização em Foco, [S.l.], 25 mar. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gmPsXteyn9M. Acesso em: 05 nov. 2023.

SENGE, P. Schools That Learn: A Fifth Discipline Fieldbook for Educators, Parents, and Everyone Who Cares About Education. New York: Doubleday, 2000.

WENGER, E. Communities of Practice: Learning, Meaning, and Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

Compartilhe este conteúdo: