Livro inédito de Jules Verne é lançado no Brasil pela Editora Aleph

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Fora dos Eixos traz uma história que reflete sobre mudanças climáticas, territorialismo e limites éticos da ciência

Considerado o pai da ficção científica, Jules Verne é certamente um nome que marca a literatura mundial. O escritor francês, que viveu no século XIX, “previu” alguns avanços tecnológicos e outros acontecimentos que marcariam a história da humanidade, como a chegada do homem à lua. Em Fora dos eixos, livro que acaba de ser publicado pela primeira vez no Brasil pela Editora Aleph, Verne combina crítica social, ficção científica e uma fina ironia para abordar temas como a ambição humana, o imperialismo e a confiança cega no progresso técnico. A história gira em torno da fictícia North Polar Practical Association, uma sociedade americana que planeja mover o eixo da Terra. 

Ao longo da narrativa, Verne ironiza a megalomania dos Estados Unidos e dos países europeus que disputam a posse de uma região inóspita como se estivessem em um leilão. O autor satiriza tanto a fé exagerada na ciência quanto os delírios de grandeza que moldaram o século XIX e que, de certa forma, continuam ecoando no século XXI.

Além do enredo provocativo, Fora dos Eixos encanta pela atualidade. Em tempos de debates sobre mudanças climáticas, territorialismo e limites éticos da ciência, o livro convida o leitor a refletir: até onde estamos dispostos a ir em nome da inovação? E quais são as consequências de brincarmos com as engrenagens do planeta?

Com pouco mais de 220 páginas, esta edição especial conta ainda com mais de 30 ilustrações originais assinadas pelo artista francês George Roux e integra um box comemorativo de clássicos do autor.

Capa do Box Jules Verne
Foto: Divulgação

As obras de Jules Verne atravessa gerações e cruza realidade com ficção em diferentes tempos. Neil Armstrong, comandante da Apollo 11, o primeiro homem a chegar à lua, citou o autor ao relembrar da ficção criada por ele. Outras “coincidências” marcam as obras dele, como o valor gasto na missão Apollo 8, que custou mais de 14 bilhões, algo bem próximo dos 12 bilhões de dólares previstos por Verne, entre outros acontecimentos.

O box, que já está disponível na Amazon por R$ 114,37, vem com outras obras em capa dura do autor, como Da Terra à Lua e Ao Redor da Lua, além de brindes exclusivos. Todas traduzidas diretamente do francês por Sofia Soter, mantendo o estilo irreverente do escritor.

Sobre o autor:  Jules Verne nasceu em Nantes, na França, em 1828. Foi para Paris para estudar Direito, mesma profissão do pai, e lá se apaixonou por literatura e teatro. Em 1862, Verne teve o primeiro livro publicado, Cinco semanas em um balão, que rapidamente virou um best-seller. Depois do acontecimento, o francês passou a dedicar-se apenas a literatura e escreveu mais de sessenta livros ao longo de quarenta anos. Entre suas obras mais conhecidas estão Viagem ao centro da Terra (1863), Da Terra à Lua (1865), Vinte mil léguas submarinas (1870) e Volta ao mundo em 80 dias (1873).

O escritor francês Jules Verne
Foto: Félix Nadar/Divulgação

Sobre a Editora Aleph: Completando 40 anos no mercado, a Aleph é uma das poucas editoras brasileiras com foco em cultura pop e ficção científica – seja clássica ou contemporânea. Com sua abordagem inovadora, tornou-se referência nacional e uma das responsáveis pelo retorno do gênero às livrarias e ao grande público. Entre os principais nomes de seu catálogo estão autores clássicos como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, William Gibson, Ursula K. Le Guin e Philip K. Dick, além de contemporâneos como John Scalzi, Brandon Sanderson e Ann Leckie.

Saiba mais em www.editoraaleph.com.br

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La La Land – Cantando Estações: uma ode ao sonhador

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Com quatorze indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Diretor (Demien Chazelle), Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Ator (Ryan Gosling), Melhor Roteiro Original (Demien Chazelle), Melhor Fotografia (Linus Sandgren), Melhor Direção de Arte, Melhor Montagem, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som, Melhor Figurino, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original (“Audition” e “City of Stars”). 

Banner Série Oscar 2017

“Essa vida é uma mistura de algo puramente fantástico, calidamente ideal e, ao mesmo tempo, palidamente prosaico e comum, para não dizer vulgar até o inverossímil. […]
…nesses recantos vivem pessoas estranhas: os sonhadores. ”
(Noites Brancas, Dostoiévski) [1]

Em uma época que filmes de heróis com máscaras, força colossal ou indumentárias de ferro se reproduzem na velocidade da luz, é bom ir ao cinema para simplesmente assistir a um tipo de filme que parecia existir apenas no passado: um filme sobre (e para) sonhadores.

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Damien Chazelle, diretor e roteirista, fez de La La Land uma inesquecível homenagem aos antigos musicais da era de ouro de Hollywood. A fotografia do filme já é, por si só, uma ode a esses musicais, com longas tomadas líricas, uma câmera fluida e uma paleta de cores vibrante. Chazelle e Linus Sandgren (Diretor de Fotografia) falaram que “a decisão de usar o formato analógico foi amplamente motivada pelo fato de que as câmeras digitais capturam a realidade tão bem que torna-se difícil fazer um filme com um olhar ‘mágico’ durante a edição” [2]. E trazer a magia, especificamente essa que tem relação com a realidade que existe apenas em nossos sonhos, não é uma tarefa simples, considerando os filmes que lotam as sessões de cinema atualmente.

Segundo Bruner, crítica de cinema da Time [3], antes de La La Land ser um sucesso nos vários festivais em que foi apresentado, era apenas uma fantasia que o diretor Chazelle e o compositor Justin Hurwitz tinham quando tocavam em uma banda em Harvard. “Existe uma maneira de fazer um grande filme no estilo dos clássicos musicais da MGM em um ambiente completamente moderno, em um contexto realista, ou isso é um paradoxo intransponível?” Chazelle se perguntava.

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É ousado, em muitos aspectos, ter como cena de abertura de um filme atual um grupo de pessoas cantando e dançando em uma Los Angeles ensolarada em meio a um trânsito infernal. A quantidade de nãos que Chazelle levou da maioria dos estúdios mostra o quanto foi difícil para alguém acreditar que a ingenuidade de um filme musical poderia fazer sucesso junto ao público moderno. Um público aparentemente avesso a mundos em que a canção pode vir de forma espontânea e normal e a vida pode ser uma busca incessante de um sonho.

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La La Land acompanha a história de Mia (Emma Stone), uma talentosa aspirante a atriz que trabalha em uma cafeteria nos estúdios da Warner Bros, e Sebastian (Ryan Gosling), um apaixonado pianista de jazz. É o terceiro filme que os dois atores atuam como par romântico e a química entre eles é evidente na tela. Mia e Sebastian são a personificação do sonhador e estão em Los Angeles, a terra do cinema, a procura de uma oportunidade para tornar real aquilo que imaginaram. E essa oportunidade parece nascer desse encontro. Mas, por detrás das músicas alegres do início, do encontro poético no cinema e no planetário e da leveza que esse encontro parece trazer aos dois a ponto de metaforicamente flutuarem em uma das cenas, há um romance complexo e bem delineado sendo construído, que atinge toda a sua plenitude na segunda metade do filme.

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City of stars
Are you shining just for me?
City of stars
There’s so much that I can’t see
Who knows?
I felt it from the first embrace I shared with you
That now our dreams
They’ve finally come true

Não há em La La Land um número de dança com o refinamento técnico e artístico dos grandes musicais antigos, estrelados por Fred Astaire e Ginger Rogers, nem há músicas cantadas com vozes tecnicamente perfeitas. Mas segundo Chazelle, era esse naturalismo que ele estava procurando, logo Emma e Ryan se encaixaram plenamente em seus papeis. Segundo Bruner [2], dois dos números mais emocionantes do filme, a cena da audição da Mia, “Audition” cantada por Emma e o dueto de “City of Stars”, no apartamento do casal, cantada por Ryan e Emma, foram gravadas ao vivo, e as falhas se tornaram parte da magia.

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A voice that says (uma voz que diz)
I’ll be here, and you’ll be alright (Eu estarei aqui, e você ficará bem)

Na música que Mia canta na audição mais decisiva da sua vida, ao contar uma história de sua tia que morou em Paris, ela diz “um viva aos sonhadores, tolos irremediáveis, um viva aos corações que sofrem, um viva ao caos que causamos”. Seja em um romance de Dostoiévski do século XIX, seja em um filme musical do século XXI, o sonhador parece estar destinado a extremos: uma alegria contagiante nascida da esperança nas pessoas e no amor, e uma melancolia e solidão profundas, originadas dos mesmos motivos.

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Nem sempre a voz estará lá para lhe dizer que você ficará bem, ainda que em meio a desilusões, mesmo aquelas autoprovocadas, o sonhador ouse acreditar mais uma vez no mundo que cria para si a cada manhã…  e só quem sonha sabe o quanto é preciso acreditar.

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Não há nada melhor do que imaginar outros mundos para esquecer o quanto é doloroso este que vivemos. Pelo menos eu pensava assim naquele momento. Ainda não compreendera que imaginando outros mundos, acabamos por mudar também este nosso.” (Baudolino, Umberto Eco) [4]

La La Land, ao final, termina com uma das sequências mais lindas de um filme nos últimos anos. A sequência do E se…, que ao invés de nos deixar com um sentimento de tristeza pelo que não é, nos fornece uma contagiante sensação de esperança por aquilo que podemos construir dentro de nós, pelos mundos que imaginamos, que nos faz ser quem nós somos e que modifica também quem o outro é.

Acima de tudo, La La Land é uma grande declaração de amor ao cinema. Novamente temos aquela sensação, ao final de um filme, de que podemos ser felizes, mesmo que por um breve momento, de que músicas podem tocar o coração e que, ao levantarmos os pés do chão por alguns segundos, podemos dançar.

REFERÊNCIAS:

[1] Dostoiévski, F. Noites Brancas [1848]. Tradução Nivaldo dos Santos. Editora 24, 2011.

[2] http://zip.net/bqtGm9

[3] http://time.com/4587682/la-la-land-review/

[4] Eco, Umberto. Baudolino. Editora Record, 2001.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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LA LA LAND – CANTANDO ESTAÇÕES

Direção e Roteiro: Damien Chazelle
Elenco:Emma Stone e Ryan Gosling
País: EUA
Ano:2016
Classificação: Livre

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Oz – Mágico e Poderoso

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Oz: Mágico e Poderoso é prelúdio do livro do escritor americano L. Frank Baum, publicado em 1900 e que foi adaptado para o cinema em 2013. O filme começa com um circo itinerante onde trabalha o fracassado mágico Oscar “Oz” Diggs.

Oscar é um sujeito arrogante, com mania de grandiosidade. Vive flertando com as mulheres sem estabelecer laço com nenhuma delas – nem mesmo com a mulher que ele gosta – e trata seu fiel assistente com desdém.

Pode-se observar nas atitudes de Oscar traços de um intuitivo. Como o fato de viver no mundo das possibilidades e de não se comprometer com a realidade. Oscar vive com seu pensamento no futuro (intuitivo) e pouco valoriza os relacionamentos. Mostrando que a função sentimento também é pouco trabalhada em sua personalidade.

As atitudes de Oscar criam vários problemas para ele. E um dia quando arranja confusão com um grandalhão, que o persegue por ter flertado com sua mulher, foge em um balão de ar quente. Porém é sugado por um tornado que o leva para a mágica terra de Oz.

Se analisarmos o filme de forma literal podemos dizer que o mágico morreu e foi para o mundo dos mortos. Entretanto, o filme é uma fantasia por isso tomo a liberdade de analisá-lo de forma simbólica. Além disso, a análise dos personagens será feita em relação ao mágico, uma vez que ele é o herói da saga.

O tornado é uma força da natureza que simboliza que Oscar foi alçado aos céus em uma inflação destrutiva.

O mundo de Oz pode ser considerado como símbolo do inconsciente coletivo e seus arquétipos. O ego do mágico foi derrotado, ele perdeu o controle naquele balão e agora terá que lidar com algo desconhecido e trabalhar aspectos de sua personalidade antes ignorado.

Nesse novo mundo ele conhece a bela e ingênua bruxa Theodora, que acredita que ele é o mágico da profecia que irá destruir a bruxa má que matou o rei de Oz. Seguindo em direção a cidade das Esmeraldas, Theodora se apaixona por Oscar, mas sem ser correspondida (o que trará sérias conseqüências para o herói).

No caminho eles encontram o macaco voador Finley, que promete uma dívida de vida a Oscar quando ele o salva de um leão.

O macaco como animal simboliza os instintos. Nas sociedades orientais simboliza a agilidade, a inteligência e o desprendimento. Vide que na Mitologia Hindu há um deus com cabeça de macaco Hanumam, que simboliza a devoção, a dedicação e a força.

Já na sociedade ocidental o macaco é visto de forma negativa sendo considerado símbolo do homem degradado pelos vícios da malícia e da luxúria. Essa discrepância ocorre devido à cristianização que passou a considerar os instintos como algo sujo e demoníaco.

Portanto, vemos no macaco dois aspectos: o da inteligência e o dos instintos. No caso do filme, ele possui asas e uma extrema dedicação ao seu mestre. As asas demonstram que os instintos estão sendo espiritualizados e alcançando um nível mais elevado.

Oscar possui a característica de querer levar vantagem em tudo, com uma boa dose de astucia, o que representa o lado sombrio do macaco. Entretanto, com o macaco Finley ele irá aprender a lição da gratidão e da dedicação a alguém.

Na cidade das Esmeraldas, Oscar conhece irmã de Theodora; Evanora, que lhe diz que a bruxa má, Glinda, reside na floresta negra e pode ser morta, destruindo sua varinha, a fonte de seus poderes. Mas na verdade é Evanora que é a bruxa má e matou o rei, pai de Glinda.

Theodora, Evanora e Glinda formam uma tríade feminina, sendo respectivamente: A Bruxa Malvada do Oeste, A Bruxa Malvada do Leste e A Bruxa Boa do Sul.

Sobre Theodora é importante falar que inicialmente ela é boa, entretanto devido à manipulação de Evanora ela descobre que não é correspondida em seu amor por Oscar. Com isso ela se transforma em uma bruxa má com a pele verde.

Esse aspecto da mulher rejeitada que busca a vingança é um tema conhecido dos contos de fadas e dos mitos. Vemos esse tema na Bela Adormecida, onde a fada rejeitada busca vingança contra a princesa recém nascida. Deusas da mitologia grega como Hera, Afrodite e Artemistambém se vingavam quando eram traídas ou esquecidas em suas reverencias.

Nesse caso, percebemos uma predominância do elemento feminino no mundo de Oz e a ausência do elemento masculino que foi eliminado, mas que será compensado com a chegada de Oscar, o quarto elemento.

Mas antes disso, o mágico tem uma jornada onde deverá se transformar, principalmente em relação à função sentimento e o respeito pela força do feminino.

Oscar e Finley, então são unidos no caminho para a floresta a China Girl, uma pequena boneca de porcelana, cuja aldeia e família foram destruídas por Evanora.

A boneca é um brinquedo tipicamente feminino que geralmente recebe as projeções dos fantasmas da maternidade da menina, onde ela imita em suas brincadeiras sua relação com a mãe.

Mas no filme é o herói que terá que se envolver com essa figura. Nesse caso podemos, de forma criteriosa, dizer que a boneca de porcelana mostra a anima ainda em estado primitivo e frágil de Oscar. Porém, é por meio do relacionamento com ela que o mágico irá desenvolver seu sentimento e o cuidado que não havia nele antes.

A bruxa boa Glinda, então leva o grupo para o seu castelo onde ela confessa que sabe que Oscar não é um verdadeiro mago. Entretanto, a força da profecia pode fazer com que o povo lute ao lado dele, o que o força a superar sua ética duvidosa para convencer o povo de que ele é o herói necessário para libertar Oz.

Dessa forma, ele usa todo o seu conhecimento em ilusionismo para derrotar as duas bruxas.

É importante atentar que ele não mata nenhuma das duas, elas apenas são banidas, mostrando que o aspecto sombrio do feminino é necessário para o desenvolvimento da psique e não deve ser negligenciado. Sua força impulsiona o indivíduo para o processo de individuação, pois é nesse aspecto que o indivíduo é expulso do paraíso materno.

Para finalizar, Oscar após desenvolver uma ética interna e seu sentimento se torna rei, trazendo a renovação ao reino de Oz e o equilíbrio com o feminino por meio de sua união com Glinda.

O filme então nos mostra que cada um de nós tem um destino a cumprir e que ninguém deve seguir o de outro, mesmo com o medo e a insegurança advindo daquilo que nos é designado pelo inconsciente.

 

 

FICHA TÉCNICA

OZ: MÁGICO E PODEROSO

DireçãoSam Raimi
Música composta porDanny Elfman
ContinuaçãoThe Wizard of Oz
RoteiroMitchell Kapner, David Lindsay-Abaire
País de Origem: EUA
Ano: 2014

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