Psicologia Comunitária e Política de Assistência Social: diálogos

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Introdução

Os artigos Participação Social em Saúde: Contribuições da Psicologia Comunitária e Psicologia Comunitária (NEPOMUNECO et al, 2013) e, Política de Assistência Social: Diálogos Sobre Atuações em Comunidades (XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009) trazem suas discussões e participações relacionando contribuições teóricas e práticas da Psicologia Comunitária. No caso das políticas públicas de saúde, a participação está associada ao controle social que a população deve exercer enquanto sujeitos de direitos a partir da implantação do SUS e é nessa problematização que incorporamos conceitos e práticas da Psicologia Comunitária.

A Psicologia Comunitária é uma área da Psicologia Social da Libertação (GÓIS, 2005) que facilita os processos de desenvolvimento pessoal e coletivo em moradores/moradoras das comunidades. Bem como traça diálogos teórico-metodológicos entre a práxis de Psicologia Comunitária e a área da Assistência Social, especificamente em torno da proposta da Proteção Social Básica de fortalecimento da convivência social e comunitária no território onde vivem as famílias assistidas e assim, são apresentados os contornos da atual política pública de assistência social, situando elementos centrais da Proteção Social Básica.

Fonte: encurtador.com.br/hV157

Em meio a questões que envolvem a Proteção Social Básica e também a pluralidade da Psicologia, que tem como objetivo traçar diálogos teórico-metodológicos entre a práxis de Psicologia Comunitária e a proposta de Proteção Social Básica, no território onde vivem as famílias assistidas. A presença do psicólogo nas ações de Proteção Social Básica pode contribuir para ampliar as possibilidades destas, na medida em que permite uma compreensão mais subjetiva da realidade local, isto é, ver que as localidades são realidades profundamente humanas e simbólicas, sendo por isso um erro pensá-las somente em termos sociológicos e econômicos.

Desenvolvimento

A Participação Social é um tema presente em várias áreas das ciências. Na área da Saúde, esse conceito favorece a apropriação, por parte das pessoas, de processos que facilitem uma vida mais saudável e, também, contribui para o exercício da cidadania. A palavra participação faz parte do cotidiano das pessoas e é empregada com diversos sentidos. No caso das políticas públicas de saúde, está associada ao controle social que a população pode exercer enquanto sujeitos de direitos, a partir da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). Tomando como referência o contexto brasileiro, o próprio SUS fora gestado e construído historicamente mediante processos participativos e reivindicatórios.

A participação social em saúde, podemos inferir que as ocasiões de aproximação com a comunidade favorecem o exercício da cidadania junto aos envolvidos nesses processos. Na discussão da saúde como um direito social, Badziak e Moura (2010) apontam a participação popular como um elemento fundamental na definição e implementação das políticas públicas de saúde e na compreensão da saúde não somente no seu aspecto biológico como também nos aspectos políticos e sociais (XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009).

Fonte: encurtador.com.br/rFMX6

O psicólogo comunitário atua muito como transmissor de habilidades, treinando e supervisionando permanentemente as auxiliares de saúde, médicos, professores e membros da comunidade para atuarem como agentes de saúde mental. É claro que isso significa uma mudança profunda na formação atual dos psicólogos, preparando os para uma essa atuação comunitária (VASCONCELOS , 1987).

Psicologia Comunitária é, conforme Góis (1994, p. 43 apud XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009, p. 691):

Uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade… Visa ao desenvolvimento da consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários, através de um esforço interdisciplinar que perpassa a organização e o desenvolvimento dos grupos e da comunidade.

No contexto da participação social nas áreas da saúde, é imprescindível a importância da comunidade para o exercício de cidadania de sujeitos inseridos ao processo (PANDE; AMARANTE, 2011 apud NEPOMUNECO et al, 2013). A atuação do corpo social, em meio às políticas públicas de saúde resulta no desenvolvimento dos sujeitos e a potencialização destes no lugar onde vivem.

Tem como ênfase integrar recursos preventivos e promover a saúde mental de indivíduos de uma comunidade. Segundo Vasconcelos (1987) a relevância esta nas pessoas como seres sociais, no qual o conteúdo psicológico possui implicações, políticas, sociais, culturais e institucionais. O psicólogo comunitário atua na maior parte em áreas institucionais, “busca conhecer criticamente as instituições, permitindo identificar suas contradições, sua estrutura concreta e simbólica, no sentido de visualizar propostas de trabalho alternativas e realistas” (VASCONCELOS, 1987, p. 46).

Para Vasconcelos (1987) a atuação do psicólogo tem como principal a função de assessor, transmissor de habilidades e treinador de agentes da saúde mental. Cujo intuito é a desmonopolização gradual do saber, com a inserção da saúde mental na vida cotidiana e na cultura popular. O poder e intermitente e distribuído entre a população participante da comunidade.

Atividade Comunitária

A atividade comunitária, concepções sistematizados a partir da teoria da atividade, assume lugar de destaque nas práxis de Psicologia e é considerada referência para esse debate, por propiciar o desenvolvimento dos seus participantes e a potencialização da relação destes com o lugar onde vivem. Tal como conceitua a atividade comunitária realiza-se “por meio da cooperação e do diálogo em uma comunidade, sendo orientada por ela mesma e pelo significado, sentido coletivo e sentido significado pessoal que a própria atividade e a vida comunitária têm para os moradores da comunidade”.

Fonte: encurtador.com.br/mAN58

Agentes de uma comunidade realizam a favor em ações de rede cujo objetivo é a melhoria da qualidade de vida coletiva, considerando a pertinência da diversidade nesse processo. A importância de conhecer as atividades comunitárias já desenvolvidas no contexto onde se realiza a práxis do psicólogo se justifica porque analisando e vivenciando a atividade, chegaremos a conhecer não só o processo social e econômico de um lugar como também (e para o psicólogo é o principal) o que pensam os moradores, o que sentem e o que fazem no dia a dia em relação a si mesmos e aos outros (GÓIS, 2005, p. 90 apud XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009).

Por meio dessa perspectiva, é levando em consideração a importância dessas atividades, o psicólogo pode contribuir, para o fortalecimento das atividades já existentes na comunidade quanto promover a criação de novos projetos comunitários. A participação comunitária se dá com o aprofundamento da consciência, a prática cooperativa e o exercício do diálogo sobre as questões sociais referentes à vida na comunidade.

Se pensarmos a participação comunitária no contexto da saúde, devemos vislumbrar a construção de um sujeito morador sujeito morador (usuário do SUS) ativo, produtor de sua história, protagonista na construção da saúde pessoal e comunitária. Nesse sentido, o que se deve buscar é a construção de processos de trabalho capazes de fomentar e fortalecer uma atuação com a população, em que haja co-responsabilização e compromisso compartilhados entre a comunidade e a equipe de saúde (XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009).

SUS: (Sistema Único de Saúde), PNAS: (Política Nacional de Assistência Social), SUAS (Sistema Único da Assistência Social) e CRAS(Centros de Referência da Assistência Social)

O estabelecimento da participação da comunidade, como diretriz do SUS, e a institucionalização das Conferências Federal, Estaduais e Municipais e dos Conselhos de Saúde perpassam normas legais regulamentadoras da gestão e controle social do SUS. Diante do avanço de instâncias de controle social desse sistema, incluindo diferentes atores sociais no cenário das políticas de saúde e fomentando o desenvolvimento de práticas sociais democráticas, podemos concordar no entendimento de que avançamos na construção histórica de um sistema de saúde mais participativo.

Contudo se faz necessário problematizar as diversas formas de se efetivar essa participação, considerando os vários entendimentos desta e a dissonância, muitas vezes presente, entre os documentos oficiais e as práticas desenvolvidas.

Fonte: encurtador.com.br/egqr9

A PNAS/2004 organiza as ações da assistência social em dois níveis de proteção: Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE). A primeira caracteriza-se pelo atendimento a pessoas e grupos que estejam “em situação de vulnerabilidade social e destina-se ao desenvolvimento de ações que visam ao fortalecimento de vínculos sociais e ao desenvolvimento de potencialidades”. Já a segunda é responsável pelo atendimento a pessoas que estão “em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus-tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras” (BRASIL, 2005a, p. 37).

Os programas, projetos e serviços da Proteção Social Básica devem ser desenvolvidos, sobretudo, nos Centros de . Referência da Assistência Social (CRAS), cuja equipe mínima sugerida pelo Guia de Orientação Técnica – SUAS (Brasil, 2005b) compõe-se, basicamente, de psicólogos e assistentes sociais, além de apoios administrativos. Apesar de tal guia sugerir diretrizes metodológicas para o trabalho nos CRAS, não há uma orientação específica para cada categoria profissional (XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009).

As instituições e programas governamentais da área social constituem um segundo campo de atuação do psicólogo comunitário […] assim cada vez mais apelo a programas “participativos’’ visando ao desenvolvimento da comunidade. São programas vinculados a área da saúde (VASCONCELOS, 1987, p. 50)

Considerações finais

A pesquisa foi realizada com a leitura dos artigos, com a finalidade de desenvolver conceitos e ideias e conceitos sobre a prática de participação das atuações do psicólogo social e comunitário com as suas práticas voltadas para a saúde, e saúde mental, e seus sistemas relacionados às condutas comunitárias. Pode-se notar mediante os artigos estudados uma grande barreiras de interesses políticos e econômicos, já avaliados no setor da saúde, junto com a resistência social, cultural e moral, presente na sociedade em relação aos enfermos mentais, ou os considerados “anormais’’.

A grande crítica está em volta da ausência de profissionais capacitados nesses ambientes, e na ausência de profissionais ao trabalho multiprofissional. Percebendo-se porém uma grande insuficiência de conceitos teóricos e técnicos para a atuação em saúde mental e comunitária que seja conciliável com a realidade cultural e social de cada região ou município.

REFERÊNCIAS:

NEPOMUCENO, Léo Barbosa et al. Participação Social em Saúde: contribuições da psicologia comunitária. PSICO, Porto Alegre ,v.44, n.1,pp.45-44, 2013.

XIMENES, Verônica; PAULA, Luana; BARROS, João. Psicologia Comunitária e Política de Assistência Social: diálogos sobre atuações em comunidades. PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, Universidade Federal do Ceará, v.4, n.29, pp.686-699, 2009.

Nota: trabalho elaborado como requisito parcial de nota de Grau II da disciplina de Psicologia Comunitária do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA) sob orientação da prof.ª: Me. Lauriane Moreira.

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Transições nos papéis dos indivíduos em comunidades ao longo do desenvolvimento

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O texto do qual estamos comentando – A Natureza Cultural Do Desenvolvimento Humano, de Rogoff – tem por objetivo nos orientar como se refere às transições de papéis dos indivíduos em suas comunidades ao longo do desenvolvimento. Uma questão central na psicologia do desenvolvimento tem sido identificar a natureza e o ritmo das pessoas, de uma etapa de desenvolvimento para a próxima, da primeira infância até a idade adulta.

As transições no desenvolvimento costumam ser retratadas pelos pesquisadores como algo que pertence aos indivíduos, como nos estágios de desenvolvimento cognitivo descritos por Piaget.  Muitas vezes as etapas do desenvolvimento são identificadas em termos de desenvolvimento de papéis comunitários por parte da pessoa. Assim pode se ver como exemplo, o desenvolvimento até a maturidade no modelo navajo é um processo de aquisição de conhecimento para ser capaz de assumir responsabilidade por si e por outros.

Muitas comunidades marcam as transições no desenvolvimento com cerimônias. Algumas cerimônias de transição marcam eventos e realizações valorizados, tais como o primeiro sorriso, a primeira comunhão, a formatura ou inicio da menstruação. Já outros reconhecem essas passagens baseadas na idade. Essa pratica cultural explicitam muitas vezes o desenvolvimento individual em relação a expectativas sociais e culturais, marcando as transições, não apenas para os indivíduos, mas para gerações.

Fonte: http://googleshortener.com/W7UuGhIQ

Com tudo percebe-se que no desenvolvimento em algumas comunidades, as etapas não se baseiam em idade cronológica ou em mudanças físicas. Em lugar disso, são centradas em eventos socialmente reconhecíveis, tais como a identificação das coisas pelo nome. Assim como dar nome a uma criança marca o começo de sua condição de pessoa. As crianças cumprem uma função espiritual, estabelecendo ligação com ancestrais que deixaram o mundo dos vivos, mas não foram muito longe. É interessante como podemos analisar esse texto de forma ampla, pois dentro de cada cultura que é mostrada pode se observar como é visualizado o desenvolvimento de um individuo de maneiras distintas.

Em todo o mundo, as distinções nas etapas do desenvolvimento costumam ser definidas segundo o começo da participação da criança, de uma nova forma, na família ou na comunidade. Então são citadas como exemplo as famílias euro-americano de classe média, muitas vezes distinguem quando um bebê dá um sorriso social pela primeira vez, ou começa a falar, condições importantes em suas relações com seus cuida dores. Isso levando á uma grade percepção de que a interação da criança com o meio é muito importante onde às etapas do desenvolvimento também fazem referencia ás relações das crianças com outras pessoas e com a comunidade.

Atribuindo um status social único aos bebês

Em algumas comunidades, os bebês e as crianças pequenas tem atribuído a si um status social único, no qual seus atos e suas responsabilidades são considerados como sendo de um tipo diferente daqueles das crianças mais velhas e dos adultos. Assim fazendo com que vejamos a importância de cada individuo. O desenvolvimento de bebês e crianças pequenas é apoiado dirigindo-os ao comportamento adequado, de forma que entendam, pois a transição envolve descontinuidade nas normas especificas de compartilhamento, da primeira infância á infância, em contraste com a coerência da aplicação das regras a crianças pequenas e mais velhas que se encontra em comunidades euro-americano de classe média. “Supõe-se que as regras sociais não possam ser aplicadas a menos que a criança subjetivamente pronta para entendê-las e aceita- lãs, ou segui-las voluntariamente”.

Essa transição envolve descontinuidade nas normas específicas de compartilhamento, da primeira infância á infância, que é de onde se estabelece o desenvolvimento e em contraste a coerência da aplicação das regras desde então. Papéis responsáveis na infância vêm demonstrar qual a contribuição de cada criança em seu patrão de idade, em muitas partes do mundo entre os cinco e sete anos de idade é uma época importante de transição nas responsabilidades das crianças e em seus status na comunidade.

Fonte: http://googleshortener.com/V1449phb

Assim este texto vem também com o intuito de nos mostrar como outras culturas visam de forma diferente o desenvolvimento, como por exemplo, a sociedade ocidental burocrática muda seu tratamento das crianças nessa idade considerando as capazes de distinguir o certo e o errado, de participar de trabalhos e de começar uma educação seria em instituição fora de casa. A pesquisa sobre o desenvolvimento muitas vezes observa uma descontinuidade nas habilidades e no conhecimento em torno dos cinco e sete anos. Muito interessante percebermos como é a etnografias de 50 comunidades em todo o mundo onde indicam uma mudança muito difundida em torno dos cinco e sete anos, nas responsabilidades e expectativas com relação às crianças.

É importante que compreendamos assim como o texto mostra as diversidades da cultura no mundo com relação ao desenvolvimento e ainda mais com relação às crianças, pois as expectativas com relação às crianças de cinco e sete anos ou de qualquer outra idade tem alguma base geral, mas é importante não atribuir especificidade exagerada a expectativas de idade para atividades determinadas, pois ampla variação ocorre com relação à idade em que se espera que as crianças desenvolvam complexas e valorizadas.

Papeis de gênero

As amplas diferenças de crianças no mundo estão intimamente relacionadas aos papéis de gênero dos adultos em suas comunidades. Então vejamos que geralmente, à medida que os seres humanos continuam a transformar suas práticas culturais, os papéis de gênero mudam ao mesmo tempo em que se mantêm longas tradições. Então nota-se que os papéis de meninos e meninas são estabelecidos paralelamente aos de mulheres e homens em suas comunidades à medida que começam a seguir os padrões dos mais velhos.

Compreender as mudanças biológicas e culturais dos papeis de gênero ao longo de gerações pode nos ajudar a ir além das limitações das dicotomias, possibilitando-nos que determinamos nosso rumo. Não é de surpreender que as diferenças de gênero entre crianças sejam coerentes com os papéis. Muitos autores caracterizam as práticas culturais euro-americanas a partir de uma ênfase no individualismo e na independência. Entretanto, há amplas diferenças culturais na visão da maturidade como algo que leve á independência da família de origem ou vínculo e responsabilidade renovados com relação a essa família.

Fonte: http://googleshortener.com/0PSb

Na vida cotidiana, assim como na pesquisa cultural, as questões das relações sociais trazem a nossa atenção como às pessoas consideram que os interesses próprios coletivos operam. No processo, cada geração pode questionar e revisar as pratica de seus predecessores, especialmente quando praticas diferenciada de comunidade distinta.

Independência versus interdependência com autonomia

As práticas de educação de criança em muitos grupos culturais contrastam com a formação voltada à individualidade separada, privilegiada pela classe euro-americano. Em muitas comunidades, as crianças são socializadas para serem interdependentes. Assim são estimuladas a interagir de forma multidirecional com grupos de pessoas. Então o que podemos observar é que em algumas comunidades nos quais a interdependência é enfatizada, o contato físico próximo é necessariamente parte de envolvimento com o grupo com isso mostrando como é interessante como esse processo de interdependência ocorre de maneira natural em que o contato físico próximo, a interdependência implica estar voltado ao grupo.

Onde esse envolvimento, todavia, pode simultaneamente dar ênfase a autonomia individual, podendo ser baseada em escolha individual e voluntária. Em algumas comunidades, a provocação por parte de adultos ou pares é uma maneira de informar indiretamente as pessoas esta fora dos limites, ou indicar a elas a forma adequadas de agir, essa é uma forma de controle social que não exige forçar as pessoas a se adaptar a hábitos culturalmente adequados, especialmente em pequenas comunidades inter-relacionadas. Em algumas comunidades, o constrangimento é tanto um método para ajudar as crianças a aprender preceitos morais quanto uma virtude a ser desenvolvida.

Assim pode se ver que a pesquisa sobre o desenvolvimento moral em diferentes comunidades envolveu, muitas vezes testes de raciocínio moral. As respostas aos dilemas morais em diferentes comunidades se enquadram em várias posições nessa escala, com um desempenho “inferior” nas comunidades em que não aquelas em que a escala foi elaborada.

 Alguns preceitos obrigatórios no código moral de qualquer sociedade, entre os quais a ideia de que obrigação de ordem mais elevada tem precedência à preferência individual ou o arranjo de grupo principia de se evitar danos e o principio da justiça, segundo o qual os casos devem ser tratados de forma semelhante. Ao mesmo tempo, certas características facultativas são afirmadas por algumas sociedades.

Fonte: http://googleshortener.com/B8TYi

Podemos ver que em muitas comunidades os pressupostos culturais com relação às prioridades individuais ou de comunidade, ou seu caráter mutua, são levados aos relacionamentos habituais da vida cotidiana. Então podemos concluir em nosso entendimento que as realizações individuais podem ser buscadas e reconhecidas de modo a priorizar a competição, ou podem ser apreciadas como contribuições ao funcionamento da comunidade. Por meio dessas questões nas relações sociais dos seres humanos, a autonomia e a interdependência são negociadas segundo tradições culturais e renegociadas á medida que novas gerações avaliam posturas alternativas.

REFERÊNCIAS: 

ROGOFF, B. A Natureza Cultural Do Desenvolvimento Humano. 1 ed. Brasil: Artmed, 2005.

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Visita técnica à COOPERAN de Palmas-TO

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1. Introdução

A Psicologia Comunitária pode ser considerada uma ramificação da Psicologia Social, porém, está mais voltada para a prática do psicólogo, que, em sua práxis profissional, utiliza-se de conceitos para aplicá-los em campo, unindo teoria e prática. “Entendo que é o olhar do psicólogo que diferencia sua prática dos seus pares das ciências sociais. Dado um contexto social complexo, cada pesquisador lançará seu olhar específico, colocará os ‘óculos’ de seu referencial teórico” (ARENDT, 1997).

O psicólogo comunitário atua, também, como pesquisador. É   necessário que o profissional adote o método da pesquisa-ação, inserindo-se no contexto em que pretende atuar, de modo que suas práticas interventivas vão ao encontro das reais necessidades da comunidade observada. Dessa maneira, o profissional, embasado nas metodologias que a Psicologia Comunitária traz, torna-se mediador e participante ativo no processo de transformação que passa a ocorrer com a união dos indivíduos em comunidade e dotados de responsabilidades para que tais mudanças aconteçam.

Fonte: http://zip.net/bvtJJJ

 

A comunidade torna-se, então, objeto transformado e ao mesmo tempo transformador. O psicólogo comunitário, inserido na mencionada, tem a função de mediar intervenções, reuniões, diálogos e outras práticas, apenas para dar início ao processo de transformação, tornando clara a importância da participação ativa dos sujeitos nesse.

1.1 Objetivo

A visita técnica, relatada no presente, objetivou a busca pelo contato direto com a realidade vigente no contexto da COOPERAN de Palmas/TO, de modo a observar, na prática, o que é estudado em sala de aula, na matéria de Psicologia Comunitária.

2. Metodologia

A metodologia usada no presente estudo se deu por meio de pesquisa aplicada, qualitativa e descritiva, haja visto que foi realizada visita a campo, na comunidade (cooperativa) COOPERAN e, através de diálogo/entrevista, obteve-se informações acerca da convivência e do trabalho executado na cooperativa.

3. Conhecendo a COOPERAN

COOPERAN designa a associação, no modo de cooperativa, entre pessoas com o objetivo em comum de unir forças para trazer melhorias ao meio ambiente, através da coleta de materiais recicláveis. Iniciou-se há cerca de 12 (doze) anos e hoje conta com 15 (quinze) cooperantes e o presidente da cooperativa. Para a entrevista, realizada na visita técnica, disponibilizou-se a dona Maria, cooperante e pioneira na COOPERAN. De início, apresentou-se um pouco retraída, mas logo que iniciou sua fala, apresentou relatos importantes sobre a cooperativa.

Fonte: http://zip.net/bmtH73

Sobre as expectativas das visitantes em relação ao local, admite-se que não foram atendidas. Esperava-se um local bem estruturado e organizado, porém, chegando lá, deparou-se com um galpão, uma pequena área e um lote sem cobertura, sem piso e sem muro, com os materiais espalhados pelo chão, conferindo-lhe um triste aspecto de “lixão”. Dona Maria relatou sobre as várias necessidades que a cooperativa apresenta. Entre elas, a estrutura, que precisa ser melhorada, acrescentando a cobertura, o piso e o muro, como foi citado acima. Necessita também de um galpão maior, com mais maquinários (prensador e balança), com baias (separadores de materiais) e outro caminhão para a coleta.

A coleta apresenta-se com grande dificuldade também, pois a cidade carece de coleta seletiva, pelo menos, nos comércios, sendo essa uma das causas pelas quais a cooperativa vem lutando para conseguir do governo. Outro aspecto, apontado por dona Maria, diz respeito ao descaso dos órgãos de saúde para com a cooperativa. Quando lhe foi perguntado se eles recebiam visitas de psicólogos e agentes de saúde, ela responde negativamente, afirmando que são esquecidos por esses. Em relação à convivência e a execução do trabalho entre os cooperantes, dona Maria relata que é boa, havendo respeito e distribuição das funções. Porém, ela atenta para a necessidade deles se unirem mais, praticarem o diálogo e se conhecerem melhor.

4. Considerações Finais

A visita feita a COOPERAN foi de grande proveito, pois tivemos contato direto com a realidade dos indivíduos que trabalham ali. Pudemos ver de perto as dificuldades de realizar um trabalho tão lindo, mas que ainda carece de apoio da comunidade, ONG´s e do Governo. A convivência é boa, mas percebe-se que pode melhorar, e logo melhorando também a qualidade de trabalho. Está faltando mais união e empoderamento da equipe. Para ajudar nesse processo, precisaria de uma equipe profissional multidisciplinar. Um profissional de grande importância e que está em falta é o psicólogo. A senhora que foi entrevista relata que sente mesmo a necessidade de um apoio psicológico, já que as dificuldades são muitas, e estas afetam também o emocional.

Fonte: http://zip.net/bstJBq

 

O papel do psicólogo nesta entidade serviria como forma de aprimoramento de um trabalho maravilhoso que eles já fazem, sendo de muita importância, pois os ajudaria a encontrar uma maior cognição social, maior união, maior autoestima e maior autonomia dos sujeitos para buscarem melhores condições básicas para continuarem efetuando seus trabalhos.

Nós enquanto alunas percebemos nessa visita que ser psicólogo comunitário é muito difícil, pouco reconhecido, mas de muita necessidade em entidades como essa. Cabe a nós mudar esse quadro e buscar sempre a melhoria e autonomia de equipes tão raras e importantes como essa que tivemos o prazer de conhecer um pouco mais sobre sua realidade.

Fonte: http://zip.net/bctJb9

 

REFERÊNCIAS:

ARENDT, Ronald J. J. Psicologia comunitária: teoria e metodologia, Scielo Brasil, Rio de Janeiro, vol.10 n.1, mar. 1997. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721997000100003>. Acesso em: 28 mai. 2016.

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Educação de crianças em famílias e comunidades

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Os bebês humanos são totalmente dependentes na garantia da sua própria sobrevivência. É através da aprendizagem dentro do seu grupo que se tornam, com o tempo, pessoas independentes. O processo de desenvolvimento humano varia de acordo com a dinâmica de cada cultura a qual o sujeito esteja inserido. Sendo que, em relação à educação, em todo o mundo há participação da família, do bairro e de suas comunidades. E este processo é passado de geração para geração, porém com aplicações que serão renovadas de acordo com o tempo presente, onde estarão ligadas intrinsecamente com as políticas nacionais e internacionais.

As metas políticas e econômicas influenciam na escolha da composição familiar, como controle para queda de mortalidade, controle de natalidade e planejamento familiar, visando um melhor padrão de vida da população e melhor educação que ocorreram de forma bem explícita na China e México. E toda esta transformação está totalmente ligada às práticas culturais de cuidado e desenvolvimento humano. O alto controle de natalidade implantado na década de 70, na China e México, resultou em uma menor rede social familiar, com isso, diminuindo a possibilidade de cuidados às crianças e idosos da família.

O número de mortalidade infantil era muito alto nos séculos 18, 19 e 20, assolados principalmente por doenças. Com a implantação do saneamento básico e melhorias na nutrição esse número foi reduzindo. Mas, até então, o índice de mortalidade era até a idade de cinco anos e a garantia de sobrevivência do “clã” familiar era ter o maior número possível de filhos, para que estes cuidassem das outras crianças e posteriormente dos idosos da família. À partir de 1900, a grande preocupação estava em torno das comunidades menos favorecidas economicamente, os guetos, que se tornaram ambiente de risco para jovens até 21 anos.

Morro da Providência. Fonte: http://zip.net/bctHMw

Robert LeVine (1980) apud Rogoff, (2005) propôs algumas metas de prioridades na conduta parental de acordo com a necessidade existentes em cada grupo ou país: 1- Há locais onde a maior atenção deverá ser dirigida aos bebês, concentrando maior cuidado a sua saúde física; 2- As prioridades parentais visam a educação dos filhos envolvendo que eles sejam preparados para se manterem economicamente na maturidade; 3- Se as duas primeiras metas estão superadas, os pais podem gastar maior tempo em outros valores culturais (realizações culturais, compaixão religiosa, auto realização, etc.). Claro que estas estratégias serão usadas de forma hierárquica e diferente, dependo de cada país, pois envolve aspectos históricos culturais e locais. Como por exemplo, a prioridade de estratégia na África será completamente diferente a aplicada nos Estados Unidos.

Embora a literatura psicológica frequentemente relacione o vínculo afetivo mãe-bebê como algo natural – inerente em todas as relações –, ao verificar informações históricas de uma comunidade, percebe-se que a relação mãe-bebê reflete a realidade cultural onde ambos estão inseridos. Nesse sentido, questiona-se a ligação afetiva entre a mãe e sua prole como algo natural, enquanto um processo a-histórico.

Fonte: http://zip.net/bhtH4F

Na Grécia antiga, era permitido matar e abandonar crianças pequenas, uma vez que estas não eram saudáveis, ou mesmo em razão das dificuldades enfrentadas pela mãe na criação do filho. Na realidade brasileira, mães que vivem em extrema pobreza nas favelas distanciam-se afetivamente dos filhos quando estes dispõem de mínimas chances de sobrevivência, seja por falta de nutrientes ou assistência médica. Se o bebê consegue sobreviver, a mãe percebe-o com orgulho, pois sua sobrevivência é reflexo de uma força vital de lutar pela vida.

Nesta perspectiva, Sheper Hugles questiona a concepção biologicista da maternidade e propõe uma reflexão crítica acerca desse vínculo, considerando o ambiente socioeconômico em que a família está inscrita. Assim, ele critica a super-estimulação do vínculo afetivo entre mãe-bebê na maternidade concomitante a ausência de assistência social na realidade comunitária dessa família. Dessa forma, “as interpretações sobre o tratamento que as mães dão aos bebês exigem consideração das estratégias culturais de uma comunidade para tratar de desafios locais, e um exame das circunstâncias que se dá a paternidade/maternidade” (ROGOFF, 2005, p. 100).

O vínculo entre o bebê e seu cuidador divide-se em três tipos de padrão: a) seguro: o bebê sente-se confortável na ausência de seu cuidador e explora o ambiente de maneira tranquila e confortável; b) ansioso/resistente: o bebê sente-se desconfortável ante a ausência do cuidador e quando este retorna, ele não se acalma facilmente; c) ansioso/esquivo: o nível de desconforto do bebê ante a ausência de seu cuidador é baixo, e quando está na presença do cuidador, o bebê apresenta comportamento de evitação para com este. O tipo de vínculo estabelecido reflete os valores e práticas culturais de uma comunidade.

Fonte: http://zip.net/bgtHWP

Outra dimensão influenciada pelos aspectos culturais de uma comunidade refere-se à configuração da família e a dinâmica das relações entre os membros. As famílias norte-americanas, por exemplo, estimulam a individualidade e competitividade enquanto valores desde a tenra infância, o que reflete o jeito americano de viver. Paralelamente, nas famílias ampliadas, a criação dos filhos é compartilhada no sentido de que diferentes membros da família e até mesmo da comunidade, participam do cuidado e entretenimento das crianças, como acontece no Havaí.

Somado a essa realidade, Rogoff (2005) levanta a variação cultural da participação versus segregação das crianças no conjunto de atividades desenvolvidas pela comunidade adulta. Comunidades como Kokwet (África Oriental), áreas urbanas da cidade do Cairo, República Democrática do Congo, as crianças são incluídas em quase todos os eventos familiares e comunitários desde a primeira infância. Em contrapartidas, em algumas comunidades, as crianças observam e participam muito pouco das atividades comunitárias dos pais, como exemplo tem-se as famílias de classe média dos Estados Unidos.

Fonte: http://zip.net/bktHXr

Essa diferença cultural reflete na inserção da criança no mundo do trabalho, uma vez que, em função das observações laborais dos adultos elas adquirem algumas competências por meio da aprendizagem. Em algumas comunidades, crianças entre 3 e 5 anos já aprendem habilidades domésticas simples como juntar folhas, ir ao mercado fazer pequenas compras, aumentando suas atribuições com o acréscimo da idade (ROGOFF, 2005).

Na África Ocidental, as crianças já começam a realizar pequenas atividades perto de casa, desenvolvendo funções importantes no trabalho da região e um auxílio na renda familiar. Desse modo, Rogoff (2005) apresenta que as crianças conseguem aprender acerca dos papeis desenvolvidos pelos adultos com maior facilidade quando estão inseridas no cotidiano e no trabalho das suas famílias e comunidades, isso aumenta a probabilidade de trabalhar conjuntamente em grupo futuramente.

Atualmente, em alguns países, como os Estados Unidos, a participação das crianças encontra-se separadas das atividades dos adultos e cada vez menos habilidades têm sido desenvolvidas que possibilitem o preparo das crianças para a idade adulta. Desse modo, o autor destaca que as iniciativas para proteger as crianças das explorações econômicas, perigos físicos, ampliação da formação escolar e a concorrência econômicas com os adultos, restringiram as possibilidades de aprendizagem direta das crianças sobre o trabalho e demais atividades do adulto.

Fonte: http://zip.net/bjtHS2

Uma alternativa possível para a construção de habilidades adultas na infância consiste na inserção das crianças em ambientes especializados que preparam as crianças para assumirem os papeis dos adultos. Um exemplo desse ambiente especializado refere-se às escolas, locais em que são desenvolvidas brincadeiras e atividades que aproximam gradativamente das atividades posteriores na vida adulta. Em relação a inserção das crianças em grupos, Rogoff (2005) afirma que a relação mãe e filho, muitas vezes é menos importante do que a grupal, ou seja, o envolvimento delas com outras crianças possibilita a apreensão de novas posturas, e se compara ao envolvimento do adulto a sua comunidade.

Fazendo um paralelo, observa-se que mães euro-americanas, interagem mais diadicamente com seu filho, ou seja, relação olho no olho, diferentemente das mães japonesas de classe média. No entanto, há uma diferenciação das mães da Polinésia, que desde muito cedo, estimulam os recém-nascidos ao contato com o outro, isso pode ser observado até mesmo pelo modo com que elas os posicionam, de forma a perceber tudo que está ao seu redor.

Fonte: http://zip.net/bltHqx

Em se tratando dessas relações, observa-se influências culturais nos comportamentos, visto que na américa, as relações, mesmo que grupais baseavam-se em um parceiro por vez, em lugar de um “conjunto múltiplo integrado” (CHAVAJAY, 1993 apud ROGOFF, 2005). No entanto, na Guatemala é comum a organização envolver várias pessoas interagindo em um grupo, compartilhado e multidirecionado.

Na escola o cenário é o mesmo, onde mesmo dispostos de forma a interagirem, as crianças americanas preferem uma relação diádica, ou seja, conversar com o colega ao lado, além de falar com o professor um de cada vez, ou em um uníssono. Nesse sentido, a opção pelos recursos cooperativos em sala tem sido um desafio para os professores, pelo fato de as crianças estarem muito acostumadas ao estilo diádico, e com isso não se adaptarem ao trabalho em grupos. Os professores por vezes, necessitam utilizar-se de novos repertórios para ajudar as crianças a aprenderem modos de estudar em grupo.

Nota-se que os sistemas de convivência em comunidade possuem importância trivial para as crianças assimilarem hábitos e conhecimentos dos adultos, a partir da observação e interação com os mais velhos. Caso as crianças não possam participar das atividades que ocorrem dentro da comunidade, os adultos criam ambientes propícios para essa apreensão, como escola, e momentos de interação adulto-criança, mãe-filho, com a finalidade de prepará-los posteriormente, para os desafios da vida adulta.

REFERÊNCIA:

ROGOFF, Bárbara. Educação de crianças em famílias e comunidades. In: A Natureza Cultural do Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed, 2005. cap. 4, p. 91-127.

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Experiências Culturais: os instrumentos e instituições da cultura

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Em relação ao texto “Pensando com os instrumentos e com as instituições da cultura” de Barbara Rogoff (2005), reflete-se a respeito da constituição do pensamento, ressaltando que o pensar é um processo interpessoal no qual envolve muito mais do que ações privadas e individuais, pois de acordo com a pesquisa voltada para o desenvolvimento cognitivo, as pessoas constroem seus pensamentos e entende seu mundo a partir da interação com o meio participando de atividades socioculturais (ROGOFF, 2005, p.196).

Pesquisadores debruçaram-se em aportes teóricos, para compreender a relação existente entre a formação do pensamento das pessoas decorrentes das suas experiências culturais. Assim, muitos deles consideraram os estudos de Vygotsky, pois este considera que as habilidades cognitivas individuais são constituídas diante do auxílio de outras pessoas, ou seja, “o desenvolvimento cognitivo ocorre à medida que as pessoas aprendem a usar instrumentos culturais do pensamento (como alfabetização e a matemática) com a ajuda de outras, mais experientes com tais instrumentos e instituições” (ROGOFF, 2005, p.196).

Fonte: http://zip.net/bvtHDX

O ponto de vista sócio histórico contribui para um novo entendimento da cognição, sendo visto agora como processo ativo das pessoas e não mais individual e passivo. Jean Piaget, na sua teoria, também estudou aspectos cognitivos, porém ele analisava o processo de desenvolvimento intelectual da criança a partir dos estágios, desconsiderando as variâncias culturais. Pesquisadores, então, realizaram estudos aplicando as técnicas de Piaget em diferentes contextos culturais, e com isso, observaram que de acordo com a comunidade e cultura em que se vivem as pessoas apresentaram desempenho diferente na realização da atividade.

Diante desta situação, estudiosos começaram a perceber algumas questões, como a conceituação do objetivo e a familiaridade com o mesmo, conforme a localidade pode influenciar no resultado do teste, assim, os pesquisadores estudavam os tipos de atividades realizadas na comunidade e com isso adaptava-se as atividades para que avaliassem o desempenho da pessoa. Rogoff (2005) traz um exemplo de estudos realizado com crianças que demonstra essa experiência:

As crianças zambienses tiveram bom desempenho quando modelaram com pedaços de arame, uma atividade conhecida em sua comunidade, mas um desempenho ruim com os desconhecidos lápis e papel. Em comparação, crianças inglesas se saíam bem com lápis e papel, um meio conhecido para reproduzir padrões em sua comunidade, mas não com pedaços de arame (p.197).

A partir desses estudos, Piaget revisou seus conceitos, percebendo que os estágios de desenvolvimento cognitivo (principalmente o operatório-formal) dependiam da experiência pessoal de cada sujeito, conforme o seu contexto, e domínio.

Fonte: http://zip.net/bstHv0

Outro aspecto observado pelos pesquisadores em relação ao processo do pensamento era os testes cognitivos em similaridade com a formação escolar, percebendo a influência dos valores culturais na definição de inteligência considerando a situação em que este era analisado. Antigamente os testes eram usados para medir a cognição de forma muito crua, não havia um olhar humano que levasse em conta a experiência de vida da pessoa. Os pesquisadores então começaram a ver por outro ângulo e afirmaram que a testagem poderia ser vinculada aos valores e a experiência cotidiana. Os valores que se vinculam com os relacionamentos sociais, têm grandes influências nas respostas das pessoas quando submetidas a perguntas cognitivas (ROGOFF, 2005).

É importante ressaltar a relação entre o testador e a pessoa que será testada, “os modelos culturais de relações sociais, que fornecem, implícita ou explicitamente, a base para os comportamentos apropriados e formas de se relacionar de adultos e crianças não são suspensos em testes cognitivos” (SUPER e HARKNESS, 1977, apud ROGOFF, 2005, p.205). Isso está totalmente relacionado com o significado de maturidade e inteligência de cada cultura/comunidade. Cada cultura tem uma definição diferente do que seja inteligência e maturidade, enquanto que, para uma cultura inteligência seja definida como lento, cuidadoso e ativo, para outra cultura tem outro sentido e valor.

Fonte: http://zip.net/bytHD2

Em se tratando de generalização, a autora Rogoff (2005) retrata que nem sempre será uma coisa boa, e que executar no automático a mesma ação pode ou não ser apropriado a uma nova situação, o objetivo seria uma generalização adequada e para que este conhecimento (desenvolvido em uma situação quando se enfrenta uma nova) seja adequado Hatano (1988) apud Rogoff (2005) diz que tem de haver o entendimento conceitual, e, para que as pessoas e grupos façam uma generalização adequada entre as experiências/situações é importante o que foi chamado por alguns autores de capacidade adaptativa.

O desenvolvimento da capacidade adaptativa é apoiado pelo grau no qual as pessoas entendem os princípios e objetivos das atividades relevantes e ganham experiência ao variar os meios para atingi-los. As práticas culturais e a interação social sustentam a aprendizagem de quais circunstâncias estão relacionadas entre si e quais posturas são adequadas a diferentes circunstâncias. (ROGOFF, 2005, p.209).

No que diz respeito à visão da cognição, “vai muito além da ideia de que o desenvolvimento consiste em adquirir conhecimento e habilidades” (Rogoff, 2005, p.208), a pessoa cresce por intermédio da participação em uma atividade que traz transformação para assim ele se envolver em outras mais. Rogoff (2005) argumenta que o desenvolvimento cognitivo dos indivíduos acontece no espaço de comunidades com o interesse de que as pessoas trabalhem em determinados lugares, como seres civilizados. Nós não somos donos do nosso próprio pensamento a respeito do mundo, mas é assim que acontece o início das habilidades nas parcerias desses diálogos. A partir disso percebe-se a importância dos aspectos históricos e culturais dessa conversação para cada pensador, influenciando outras pessoas a começarem novas linhas de pensamentos.

Fonte: http://zip.net/bwtGJ6

Em seus estudos com marinheiros, Ed Hutchins (1991) apud Rogoff (2005), o autor percebeu que eles trabalham em conjunto nos cálculos e nos planejamentos necessários para orientar a navegação de grandes navios. Diante disso é importante ressaltar que a cognição é distribuída na medida em que as pessoas colaboram e ajudam umas as outras, não apenas pensando em si próprio, mas, no que o outro pode está acrescentando com os instrumentos projetados para auxiliar no trabalho cognitivo. O processo coletivo mostra para o indivíduo que produzir em conjunto proporciona uma qualidade na produção tornando as informações claras e trazendo um conhecimento mais rico.

Arievitch (1995) et al. apud Rogoff (2005) enfatiza que o foco está na transformação ativa do conhecimento por parte das pessoas e em seu relacionamento com atividades que dinamizam. Levando-se em consideração esses aspectos, aprender e adequar com flexibilidade as posturas às circunstâncias é um fator importante para o desenvolvimento cognitivo que é imprescindível para tomada de decisão em várias áreas da inteligência. Muitas famílias ensinam suas crianças formas mais abertas de agirem e falarem, formas essas que se adequam a papéis e diversas situações. Percebe se em outras culturas que os adultos dão maior ênfase neste aspecto. Se as crianças souberem distinguir as posturas adequadas para cada ambiente evitarão problemas de comunicação.

Aprender a diferenciar as formas adequadas de agir em diferentes situações é uma conquista importante em todas as comunidades, seja para crianças, seja para adultos. Saber qual postura adotar na escola e em casa, junto com a determinação de qual estratégia usar em testes cognitivos e em outras situações de solução de problemas, equivale a aprender a fazer generalizações adequadas de uma situação para outra (ROGOFF, 2005, p. 211).

De acordo com Rogoff (2005), a teoria de Vygotsky redirecionou os estudos científicos sobre a cognição, visto que as funções mentais estão associadas à maneira como utilizam os instrumentos cognitivos na própria comunidade. Diante disso, percebe-se a extrema importância da empregabilidade de certas ferramentas culturais para o pensamento, tais como, a alfabetização, a matemática e a linguagem. A alfabetização está interligada às competências cognitivas por intermédio de aplicações peculiares comprometidas em seu uso. O aprendizado da leitura oferece várias habilidades dos processos mentais distintos de tal forma que, essas diversidades nos objetivos e nas aplicações da alfabetização parecem estar intrinsecamente interligadas as habilidades que as pessoas utilizam (ROGOFF, 2005).

Fonte: http://zip.net/bgtG9R

Ainda em concordância com a autora Rogoff (2005), no que consiste à alfabetização utilizada como instrumento, esta colabora com certos tipos de pensamentos, seja no contexto social, local, seja no contexto histórico. Como exemplo, no século XVIII nos Estados Unidos, a alfabetização era entendida como a habilidade de escrever o seu próprio nome em documentos legais. Já, no século XIX, a alfabetização estava relacionada com a capacidade de ler; mas sem a compreensão de leitura. Já, durante o século XX, a leitura estava associada com a funcionalidade dela, ou seja, a importância dela para eficiência da indústria.

Diante deste contexto, é notório que a utilização de instrumentos culturais como a matemática está profundamente associada às diversas características e aos princípios das comunidades. O manuseamento dessas ferramentas na matemática está interligado nas especificidades dos próprios utensílios, às atitudes das comunidades referentes à utilização desse instrumento e como este pode ser compreendido nas interações sociais. Esse instrumento também serve para o fortalecimento das relações sociais.

No que diz respeito à linguagem, este serve como instrumento cultural para o pensamento, uma vez que a língua conduz o modo de atuar e de pensar da comunidade, como por exemplo: ideias que são manifestadas no campo da linguagem de uma comunidade, de maneira que o sistema linguístico contribui com os pensamentos, como também, a utilização desses instrumentos pelos indivíduos e pelas gerações. Enfim colaboram com a organização narrativa, estruturas de cálculos matemáticos, isso de tal forma que os pensamentos interagem com os processos interpessoais e de comunidade.

Fonte: http://zip.net/bftG7Y

A alfabetização e a matemática são importantes instrumentos culturais do pensamento, logo, estudos sobre a matemática identificam como estas ferramentas são essenciais, como exemplo, o ábaco, as formas de cálculo ensinadas na escola, à formação dos preços de vendas dos utensílios. Os indivíduos utilizam esses dispositivos para facilitar o trabalho e a diminuição do esforço mental como uma maneira de se adequarem no contexto cotidiano.

Perante o exposto, foi possível perceber que as teorias socioculturais crescem constantemente por terem a compreensão de que o pensar está diretamente entrelaçada a situações específicas, essa relação não é automática, bem como a autora demonstrou, “em lugar disso, os indivíduos determinam suas posturas diante de certas situações com referência nas práticas culturais de que participaram anteriormente”. (ROGOFF, 2005. p.211). Cada ser humano tem uma visão diferente das coisas, esse processo faz com que tenhamos atividades socioculturais. Em concordância com o raciocínio de Rogoff (2005), entende se que, no momento que existem limites obrigatórios entre o indivíduo e o todo, se faz surgir complicações para melhor compreender, tanto os processos individuais, interpessoais e da comunidade.

REFERÊNCIAS:

ROGOFF, Barbara. A natureza cultural do desenvolvimento humano. Ed.1.Tradução de Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2005.

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2º bate-papo sobre o Edital PET-Saúde/GraduaSUS

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Perdeu o 1º bate-papo interativo sobre o PET-Saúde/GraduaSUS? Na próxima terça-feira (03/11/2015), a partir das 10h (horário de Brasília), a equipe do Ministério da Saúde abrirá mais um momento de diálogo online e ao vivo para responder as dúvidas dos participantes sobre o Edital.

Para participar deste bate-papo interativo basta acessar a Comunidade de Práticas, clique aqui. Você será direcionado para uma página com o passo-a-passo explicando como enviar mensagens.

Participe e compartilhe com a sua rede!

Para mais informações sobre o edital, visite o site oficial do Ministério da Saúde, clique aqui.

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A arte sustentável como ferramenta de integração da comunidade

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Os resíduos sólidos, desprovidos de sua função original após o consumo e descarte, em mãos artísticas tornam-se brinquedos, utensílios, bancos, papel, etc. com múltiplas formas de significação.

Após entrevista com a artista plástica Sandra Oliveira, formada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás, responsável pelo curso de Reciclagem da Casa da Cultura Professora Maria dos Reis, em Taquaruçu, nos remetemos à reciclagem dos resíduos sólidos produzidos na própria localidade e transformação da matéria-prima em algo inovador. Conforme elucidado pela artista, a proposta do curso é transformar o que seria “lixo” em obras de arte contribuindo, ainda, para a preservação do meio ambiente.

Ao ser questionada sobre a articulação da sustentabilidade ambiental com o trabalho realizado, Sandra afirma: “vejo nesta proposta uma forma de conscientização na mudança de atitudes nas pessoas, em preservar o meio em que vivem e a natureza que os sustenta. Falamos também da multiplicação dessa consciência, dessa atitude, que é através do que construímos, da arte que fazemos, a interação dos alunos com a sua família, escola e comunidade em geral que promovemos uma mudança substancial, dia a dia. Lidar com o meio que convivemos traz uma resposta altamente gratificante.”

No que tange ao envolvimento da comunidade no curso de Reciclagem, é notório a forma como realizam a coleta dos materiais recicláveis a serem utilizados na oficina, convidando pais e responsáveis a praticarem a coleta seletiva em casa, juntando garrafas de plástico para confecção de bonecas, acumulando papéis que seriam descartados no lixo comum para fabricação do papel machê, dentre outros materiais que podem vir a tornar-se o brinquedo de seus filhos.

Foto: Ana Carolina Peixoto

Ademais, é realizada uma espécie de “aula” nas escolas do distrito para sensibilizar os funcionários, alunos e professores a acumularem os resíduos sólidos consumidos ali para, posteriormente, serem destinados a Casa de Cultura. Tal como é exposto pela artista: “Os materiais que utilizamos no curso são coletados através dos próprios alunos, em seu lixo caseiro, como também de doações da comunidade já sensibilizada com o projeto”.

Além da sensibilização por meio da interação da professora com seus alunos, e destes com seus familiares, a oficina proporciona ao final de cada semestre uma mostra didática onde são expostos os trabalhos confeccionados pelos alunos e o reconhecimento decorrente serve de combustível para a energia criativa deles, pois trata-se de uma oportunidade de mostrarem sua capacidade criativa e o resultado de sua arte. Também são utilizadas técnicas de dinâmicas de grupo focando no desenvolvimento de técnicas artísticas e é disponibilizado também um banco de imagens e trabalhos realizados anteriormente para estimular a transformação da capacidade inata em arte genuinamente criativa.

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Importância e desafios da extensão na universidade – (En)Cena entrevista Luiz Gustavo Santana

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Os trabalhos de pesquisa e extensão são alguns dos mais importantes desenvolvidos dentro das universidades, pois aproximam o estudante da realidade e dos problemas sociais, propicia o crescimento acadêmico e profissional, além de ser extrema importância para a construção do conhecimento científico.

O Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra) é pioneiro na pesquisa acadêmica e projetos de extensão na região Norte do País e busca cada vez mais o aprimoramento. Recém-nomeado no cargo de coordenador de Extensão e Assuntos Comunitários do Ceulp, o Prof. Msc. Luiz Gustavo Santana conversou com o (En)Cena e falou sobre os projetos que são realizados pela Instituição e os desafios que estão surgindo.

(En)Cena: Primeiramente, como funciona o projeto de extensão do Ceulp/Ulbra?

Luiz Gustavo Santana: A Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) e todas as demais unidades vinculadas à AELBRA, entre elas o Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp), no que diz respeito à extensão universitária materializam as diretrizes da Política Nacional de Extensão Universitária e são diretamente norteados por um Regulamento de Extensão e Assuntos Comunitários.

Na prática, a extensão universitária é entendida pela Instituição como um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade, sob o princípio constitucional da indissociabilidade e articulação com a pesquisa e o ensino; desenvolvido solidariamente articulado entre Pró-reitoria de Extensão e a Coordenação de Assuntos Comunitários. Neste espaço são desenvolvidas as atividades, eventos, programas e projetos de extensão universitária que vão contribuir com estes objetivos indicados. Lembrando que todas as atividades de extensão, no âmbito do Ceulp são regidas pela Coordenação de Extensão.

(En)Cena: Quais as modalidades de extensão desenvolvidas no Ceulp atualmente?

Luiz Gustavo Santana: Os projetos de extensão do Ceulp são desenvolvidos, atualmente, em quatro modalidades. a) Programa – Conjunto de ações de caráter orgânico-institucional, de médio a longo prazo, com clareza de diretrizes e orientadas a um objetivo comum; b) Projeto – Conjunto de ações processuais e contínuas de caráter educativo, social, cultural, científico ou tecnológico para alcançar um objetivo bem definido. Estes podem ser projetos comunitários, projetos de prestação de serviço, projetos de prática profissional, projetos voluntários e projetos da pastoral; c) Curso de Extensão – Esta atividade pressupõe um conjunto articulado de ações pedagógicas, de caráter teórico ou prático, planejadas e organizadas de modo sistemático; d) Evento de Extensão – ação que implica na apresentação e exibição pública e livre, ou, também, com clientela específica do conhecimento ou produto cultural, científico e tecnológico, desenvolvido, conservado ou reconhecido pela Universidade: congresso; fórum; seminário; semana; exposição; espetáculo; evento esportivo; festival ou equivalentes.

Algumas modalidades atendem a oferta via edital e outros são e/ou podem ser ofertados durante o ano todo, mediante cadastro na Coordenação de Extensão do Ceulp.

(En)Cena: Qual a importância do programa de extensão para a universidade, para o aluno e para a sociedade?

Luiz Gustavo Santana: A extensão universitária enquanto forma de estabelecer uma relação entre ensino superior e sociedade é imprescindível para formar cidadãos comprometidos com a realidade social. Nesse sentido, a extensão merece por parte das universidades particulares e públicas, assim como dos gestores, atenção e apreço. A extensão possibilita a formação do profissional cidadão e se credencia, cada vez mais, junto à sociedade como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades sociais existentes, como prática acadêmica que interliga a Universidade nas suas atividades de ensino e de pesquisa, com as demandas da maioria da população.

Atualmente, o Ceulp, por meio da Coordenação de Extensão e Assuntos Comunitários, vem desenvolvendo mais de 20 projetos na modalidade de Projetos Comunitários, mais de seis Projetos de Prestação de Serviços e inúmeros eventos e cursos de extensão.

(En)Cena: Quais os desafios dos projetos de extensão no nosso Estado.

Luiz Gustavo Santana: O grande desafio delegado à Extensão Universitária no Ceulp e na realidade da Universidade no país é transpor à condição de mera promotora e gestora de eventos para assumir a figura partícipe na estrutura de uma universidade, ao lado do ensino e da pesquisa. A extensão pode e deve se aproximar e atender demandas da realidade local e do país.

As experiências e discussões em torno da extensão universitária demonstram historicamente o seu relativo distanciamento da realidade social do país. Se  Se cairmos nas armadilhas contemporâneas que assolam a extensão estaremos impedindo que ela possa assumir um papel transformador, sobretudo da dura realidade de parcelas ainda majoritárias de jovens brasileiros que não têm acesso ao ensino superior e tampouco têm garantidos seus direitos mais essenciais.

(En)Cena: Professor Luiz Gustavo, você assumiu a coordenação a pouco tempo. Qual missão foi dada a você quando assumiu o cargo?

Luiz Gustavo Santana: A gestão das ações inerentes à extensão universitária representa uma tarefa de grande importância e complexidade na dinâmica institucional, por estar associada às ações de pesquisa e ensino. Assumi a Coordenação em janeiro de 2015 e entre muitas atividades me foram delegadas as tarefas de coordenar a aplicação das políticas e diretrizes extensionistas oriundas da Pró- Reitoria Adjunta de Extensão e Assuntos Comunitários; assessorar a Comissão Permanente de Avaliação Institucional (CPA-ULBRA) nos quesitos pertinentes ao cumprimento das ações extensionistas previstas na legislação, nos processos de avaliação institucional, de cursos e de atualização do Plano de Desenvolvimento Institucional- PDI; promover reuniões periódicas com os seus colaboradores, a fim de manter a atualização da gestão em relação às atividades de extensão, promovendo a união e coesão da equipe em torno da missão e dos objetivos das ações extensionistas; emitir parecer e avaliação sobre o que lhe for solicitado em assuntos de extensão; estimular e incentivar professores para o desenvolvimento de ações extensionistas, criando mecanismos para a implementação e difusão desse trabalho, entre várias outras atribuições.

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Publicitária investe em projeto social no Jardim Taquari

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Iniciativa idealizada por  Neyla Rodrigues ganhou nome de “Meninas de Deus” – Foto: Divulgação

Neyla Rodrigues não acredita em preconceito racial, e sim, em preconceito com pessoas menos favorecidas economicamente. Diante de injustiças e até do abandono deste grupo social, por parte dos governos e da própria sociedade, a publicitária decidiu dedicar grande parte do tempo para atender necessidades de crianças carentes que passam por abuso sexual e, em alguns casos, a indiferença da própria família.

 O En(Cena) entrevistou a publicitária Neyla Rodrigues, 35, empresária e idealizadora do Projeto Social “Meninas de Deus”, no setor Taquari, bairro da cidade de Palmas-TO. A iniciativa nasceu de um apelo social, mas também de uma visão prática de que é possível fazer mais, cobrando ação:  “Se puder ajudar uma criança hoje, não terá que restaurar um adulto amanhã”, alerta o slogan do projeto.

Há mais de 10 anos o trabalho voluntário entrou na agenda de Neyla Rodrigues. Mas um episódio, em 2013, fez uma reviravolta na vida dela. O caso de estupro ocorrido no setor Taquari, envolvendo uma adolescente, lhe deixou comovida e a fez tomar decisão de se dedicar ainda mais, para ajudar famílias e, principalmente, crianças e adolescentes em situação de risco social. Neyla estava na sala de espera de um consultório médico quando ficou sabendo da história de uma menina de 12 anos que foi estuprada, esfaqueada e deixada como morta no local do crime. “Quando fiquei sabendo dessa história, imediatamente procurei informações e descobri que, até mesmo a equipe médica do Hospital Geral de Palmas, chorou quando recebeu a adolescente para atendimento de urgência”. A publicitária relembra que, a menina chegou a ficar 90 dias em coma.  “Atualmente, mesmo com as marcas de agressões no rosto, ela já está estudando e fico orgulhosa, pois, ela busca referências minhas para o futuro”, diz.

Com visitas de rotina ao setor Taquari, a publicitária conheceu de perto a realidade de cerca de 400 famílias no bairro.  “Eu uso método individual para cada caso, não tenho uma formula mágica, minha fórmula não é dar cesta básica”.  Neyla acredita que cesta básica é apenas uma tentativa para distrair a pessoa da situação em que ela vive. “Confronto as meninas para tentarem mudar a situação de suas vidas, ensino a não dependerem de ninguém e a terem o controle de suas ações”, explica.

Neyla Rodrigues – Foto: Arquivo Pessoal

Para tornar de conhecimento público, sensibilizar e conscientizar sociedade, a publicitária criou uma página na rede social Facebook, para as postagens diárias. O conteúdo publicado conta com vídeos, imagens e textos contando um pouco da realidade e histórias que acontecem no Taquari. Neyla dá detalhes do projeto na entrevista para o En(Cena).

En(Cena) – O que a motivou começar o projeto “Meninas de Deus”, no Taquari?

Neyla Rodrigues – O caso de uma menina de 12 anos que foi estuprada e deixada como morta. Por já desenvolver um projeto social há dez anos, os piores casos sempre chegam até mim. Os moradores de Taquari já estavam há algum tempo pedindo que eu começasse o meu trabalho lá com as crianças e adolescentes, principalmente porque é grande o uso de crack em Taquari.

En(Cena) – Quais os principais problemas que você atende no Taquari?

Neyla Rodrigues – O meu foco são as crianças e adolescentes, não trabalho muito com adultos (risos…), eu gosto da espontaneidade e verdade das crianças. São casos de miséria, drogas, violência e prostituição, tento resolver qualquer coisa, não posso me prender a uma fórmula.As pessoas confundem muito, pedem pra visitar achando que é um abrigo, mas se fosse, eu estaria presa a resolver apenas um tipo de problema. Em certos casos, para ajudar uma criança eu procuro a fundo pesquisar todo o problema familiar, até que, tudo esteja resolvido e essa família tenha condições de ter uma vida digna sem precisar de ajuda. Eles confiam em mim e não gostam de receber visitas como se eles fossem atração de um circo, e eu respeito isso. Enfim, busco evitar que as crianças se envolvam com as drogas ou a criminalidade, temos encontros semanais em praças, quadras, casas emprestadas. Além disso, buscamos internações para usuários e empregos para os pais, todo mundo tem um talento para fazer algo bem feito, buscamos isso nas pessoas, capacitamos, fazemos “vaquinhas”, enfrentamos a burocracia. Não é tudo lindo como nas redes sociais, (página do facebook criada para buscar apoio voluntário), tem todo um desgaste burocrático e que toma muito tempo. Por exemplo, temos casos de meninas com tendências a prostituição, devido a mãe ser prostituta e influenciar a elas que também fossem. Diante disso tudo,não sou a favor de enviar alguém para abrigo, pois, penso eu, gera uma situação de abandono.


Crianças atendidas pelo Projeto Meninas de Deus. Foto: Divulgação

En(Cena) – Você teve que abandonar projetos da sua vida para se dedicar a outras pessoas?

Neyla Rodrigues – Sim. Os piores problemas chegam até mim 24h, tenho que acordar de madrugada todos os dias, ou trabalhar até tarde pra conseguir conciliar tudo. Mas, estou acostumada, sempre trabalhei sem horário de almoço, sem final de semana ou férias. Fico infeliz se não estou ajudando, é mais forte do que eu.

En(Cena)  –  Amigos e familiares, qual a opinião sobre sua dedicação com o Projeto?

Neyla Rodrigues – A minha filha entende bem, ela sabe que na verdade é a vontade de Deus e então ela me apoia. O resto da família tem medo porque envolve estupro, pedofilia, drogas, criminosos.

En(Cena)  – O contato com usuários de drogas, você teme pela sua segurança?

Neyla Rodrigues – Não temo pelo contato com os usuários em si, eles me veem como a última esperança deles, eles temem por mim mais do que eu mesma, eles se preocupam comigo. Mas, já recebi muitas ameaças. Trabalhar com projetos voluntários requer cuidados e critérios de segurança pessoal. Já estive em situações que me ofereceram riscos de morte. Eu enfrento problemas com pedofilia, pessoas usuárias de crack, tento tirar essas pessoas dessa vida e já aconteceu de eu ser ameaçada.

Crianças atendidas pelo Projeto Meninas de Deus. Foto: Divulgação

En(Cena) – No seu pensamento, qual seria a formula para melhorar a qualidade de vida dos menos favorecidos?

Neyla Rodrigues – Eu costumo dizer que se você puder ajudar uma criança hoje você não terá que restaurar um adulto amanhã. Tudo começa na infância, ensinar a criança a seguir princípios, ser correta, ensinar a sonhar, porque se você pode sonhar você pode realizar. A maioria cresce sem a companhia das mães, os pais têm que trabalhar e não têm tempo pra educar, esses pais, estão sempre preocupados com a fome, então, não sabem nem o que ensinar. Eles precisam conhecer Deus, saber que são amados e que podem ser quem eles quiserem ser. Trabalho! Trabalho bem remunerado melhora a vida das pessoas. Sempre que damos presentes pra crianças pobres acreditamos que pode ser qualquer coisa. Mas, quando o presente é para pessoas de classe rica, sempre procuramos o melhor, sendo que, os ricos já tem contato com o que é de melhor, devemos mudar essa forma de pensar na sociedade.

En(Cena) – Conta com parcerias e ajuda de classes sociais e do governo?

Neyla Rodrigues – Não tenho ajuda do governo, algumas pessoas tem nos ajudado com doações de roupas, alimentos e brinquedos. Pouquíssimas pessoas ajudam financeiramente. Temos muitas crianças com problemas graves de saúde, que precisam viajar para tratamento, uma delas morreu semana passada de leucemia, pois, necessitava de atendimento em Goiânia. As pessoas, em certos casos, querem doar amor, mas, entendemos que, amor sem obras, não chega a solucionar o problema. Enfim, casos como esses dependem de investimentos, até mesmo para as internações dos usuários de drogas. Enfim, recebo mais ajuda das pessoas que quase nada tem e que moram em Taquari, do que pessoas que possuem recursos para investimentos voluntários.

Neyla Rodrigues em atividade do Projeto Meninas de Deus. Foto: Divulgação

En(Cena) – O que pretende fazer para o Natal dessas famílias nesse final de ano?

Neyla Rodrigues – Vou fazer só para uma parte deles, cerca de 1.000 crianças. São mais de 4.000. Haverá entrega de brinquedos e lanches, pretendo conseguir chocotone, pois eles comentam muito e sonham com isso, mas acho que esse ano não vai dar.

En(Cena) – Como você resumiria sua historia de vida?

Neyla Rodrigues – É parecida com a deles! Claro, em contextos diferentes. Eu já me vi assim desamparada, sem ter com quem contar, e eu sou uma pessoa dedicada e perfeccionista, não tenho preguiça de trabalhar, mas qualquer pessoa pode passar por momentos assim onde tudo pode dar errado. Deus sempre realizou muitos milagres na minha vida, e por incrível que pareça Ele (Deus), sempre usou desconhecidos para me oferecer oportunidades, e eu aproveitei todas elas. Eu tento repetir isso com as pessoas que estão em contato comigo, e funciona, já são vários os casos “perdidos” que agora são casos de sucesso.

Crianças atendidas pelo Projeto Meninas de Deus. Foto: Divulgação

Tenho testemunho de muitas meninas fazendo faculdade, ou trabalhando e ajudando os pais. Eu não suporto ver ninguém sofrendo, porque eu já sofri demais, ver a alegria das pessoas me faz feliz. Saber que as crianças estão seguras, alimentadas, brincando, que não será um futuro marginal.. Ver usuários de drogas restabelecidos, trabalhando, me ajudando a ensinar contra o uso de drogas… isso me realiza!

Quem tiver interesse em ajudar, podem entrar em contato pela página do facebook –https://www.facebook.com/meninasdedeus12?ref=ts&fref=ts

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