#vaitercopa

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Pois é, vai ter Copa. Isso é algo mais do que óbvio desde que, no dia 30 de outubro de 2007, a FIFA ratificou o Brasil como o país-sede da Copa do Mundo de 2014. Sim, sempre sabíamos disso e, mesmo assim, já não conseguimos torcer pela seleção canarinho como antigamente. Algo estragou nosso sentimento por aquela que era pra ser a nossa copa.

Naquele passado não tão distante ninguém vislumbrava a mínima possibilidade de o Brasil não cumprir com todas as suas obrigações para que a copa acontecesse em 2014, como planejado, aqui.

Bom, até se imaginou que nem tudo sairia como estava sendo prometido, muito se apontou sobre o previsível estouro de orçamentos, algumas ideias megalomaníacas até foram ridicularizadas, mas, em momento algum, levantou-se a possibilidade de não se ter copa não pelo despreparo do Brasil e sim pelo desejo popular. Naquele momento, apesar de toda a presumível trapalhada que viria pela frente com o dinheiro do povo, não nos sentíamos devidamente indignados para ir à rua e dizer não à copa. Ao contrário, guardávamos uma esperança de que, quem sabe dessa vez, tudo daria certo.

Sim, tínhamos esperança. Quem sabe dessa vez teríamos melhorias de mobilidade urbana, afinal, a copa era um bom pretexto para isso, já que a extrema dificuldade de grande parte da população de se locomover no trajeto casa-trabalho ou casa-escola nunca pareceu comover os gestores públicos. Quem sabe dessa vez teríamos aeroportos, até portos, com padrão internacional, ou pelo menos com o mínimo necessário para se demonstrar respeito pelos seus usuários. E, até, quem sabe ainda poderíamos reformar alguns de nossos estádios para torná-los modernos e adequados para receber turistas de todo o mundo. No final, ainda poderíamos aproveitar e mostrar a todos o grande potencial de nosso país em inúmeras áreas, além do futebol, a tão propalada paixão nacional.

Por que então iríamos para as ruas protestar contra a copa que estava tão distante? Afinal, nosso país estava se preparando para mostrar ao mundo a sua capacidade de organização. Era o momento de sermos respeitados como nação. Prova disso teríamos muito em breve, em 2009, quando o presidente dos EUA teve que reconhecer que nosso presidente, Lula, ele sim era “o cara”. Eike Batista caminhava para se tornar o 7º homem mais rico do mundo em 2012. O BNDES financiava a junção de empresas para criarmos aquelas que se apresentavam como as futuras grandes multinacionais brasileiras – AmBev, JBS Friboi, Marfrig, Oi, Brasil Foods, Fibria estão aí para não nos deixar mentir.E Olimpíada ainda seria no Rio de Janeiro em 2016.

A esperança no futuro do Brasil era tamanha que não se limitava a somente uma visão ufano-nacionalista. Até o povo “lá de fora” fazia suas apostas. A afamada revista “The Economist” trouxe, em 2009, uma reportagem de capa intitulada “Brazil Takes Off” (O Brazil Decola) em que mostrava o Cristo Redentor como um jato levantando voo. Muitas eram as promessas e, reconheçamos, nem todas vinham do governo. Mas a maior parte originava-se dali, com toda certeza. Afinal, os juros até caíram a níveis nunca antes vistos.

Enquanto vivia-se um mundo de esperança algumas coisas já começavam a mostrar que aqueles pessimistas de plantão lá de 2007 poderiam estar certos.

E assim, as coisas no Brasil, e na copa, começaram a degringolar, a ponto da mesma revista “The Economist”, em outubro de 2013, perguntar, de novo em matéria de capa, se “O Brasil estragou tudo”. As obras, especialmente das arenas (não eram Estádios?), tiveram, como previsto, seus custos aumentados na mesma medida em que obras essenciais para a população, e que seriam o tal legado da copa, começaram a ser deixadas de lado ou reduzidas de seu planejamento inicial. Enquanto isso nossa economia já não parecia mais tão espetacular como outrora. Medidas erradas nos mais variados graus acabaram por deixar nossa economia convalescente. E o reflexo se deu no bolso e nas condições de vida daqueles que mais tinham esperança de que algo de bom poderia sobrar pra eles após a competição, além do sonhado prazer de ver a seleção jogando no próprio país.

Inflação aumentando (lembra do tomate?), juros também (mas, pera, os juros não sobrem para a inflação cair?), denúncias de corrupção aumentando em todas as esferas e em todos os partidos, tudo contribuindo para o brasileiro entender que a copa não fora pensada pra ele e sim para uma tal FIFA (e seu padrão) e um grupo de políticos e empreiteiros poderem tirar proveito. Daí para passar a exigir hospitais, segurança, rodovias, educação no padrão FIFA foi um pulo. As manifestações de 2013, durante a Copa das Confederações (um “ensaio” para a copa que viria) estão aí para deixar registrada essa insatisfação.

E chegamos a 12 de junho de 2013. A copa vai começar. Sim, #vaitercopa. O brasileiro até quer torcer pela sua seleção (não foi assim em 2010, 2006, 2002, 1998…?). Mas está triste, envergonhado e com medo.

Está triste porque as promessas não foram cumpridas – é, o brasileiro realmente não desiste nunca e continua a acreditar no que os políticos oferecem. Está triste porque não existirá o tal legado tão prometido. Está triste por saber que o dinheiro pago além da conta para as obras poderiam ter sido muito melhor aproveitado em outros aspectos da vida da população.

Está envergonhado porque os sete anos não foram suficientes para superar todo o nível de desorganização, corrupção e má administração da coisa pública e, com isso, o que mostraremos ao mundo não é a nossa sonhada capacidade de organização mas sim um conjunto de obras pela metade, mal acabadas, longe do que se espera de um país que se diz pronto a organizar a copa das copas.

E está com medo. Medo de torcer pela sua seleção e, depois, ver qualquer resultado, vitória ou derrota, ser utilizado pelos políticos de carteirinha para interesse próprio. Medo de ser ridicularizado por torcer pela seleção em uma copa que não lhe pertence, e sim a uma organização internacional que com mandos e desmandos conseguiu tudo o que queria das autoridades brasileiras sem oferecer nada em troca (além da honra de sediar a copa – que honra!). Medo de sofrer as patrulhas daqueles que hoje se orgulham de ser contra a copa, mas que, lá em 2007, ficaram bem quietos e ordeiros enquanto o presidente em questão se ufanava.

De qualquer forma, #vaitercopa. Que possamos nos vestir de verde e amarelo, que possamos torcer pela nossa seleção, que possamos sentir orgulho de ser brasileiros. Não por causa da copa e sim apesar disso. Até porque, acima de tudo o que aconteceu (e de muito mais que ainda vamos descobrir pela frente), sempre poderemos nos orgulhar de sermos um povo alegre e ordeiro e que, a isso, acrescentou uma boa dose de aprendizado que, quiçá, poderá ser útil em momentos futuros de decisões muito importantes. Afinal, esse ano #vaitereleição.

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futebol

As Necessidades históricas do povo brasileiro e a Copa do mundo 2014

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“O povo brasileiro tem uma longa experiência no combate permanente que trava com as classes dominantes, visando obter o triunfo da democracia (não a democracia burguesa formal, mas aquela que
mais de perto diz respeito à realidade econômico-social) e,
simultaneamente, objetivamente chegando ao aniquilamento
do imperialismo e do latifúndio”

(Carlos Marighella)

Mas afinal o que a Copa do Brasil 2014 tem a ver com ditadura empresarial/militar e com a democracia brasileira? Acreditamos que essa deve ser a primeira pergunta que aparece quando lemos ou ouvimos alguém relacionar temas, tempos e espaços tão diferentes e distantes a primeira vista.

Desde Outubro de 2007 quando foi oficializado que a copa do mundo de 2014 seria realizada no Brasil, povo brasileiro teve a promessa por parte do então presidente da república Luis Inácio Lula da silva da não utilização de verbas públicas para sediar a copa do mundo, mas não é isso que está acontecendo, vide Dossiê da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (S/D).

Quando foi mesmo que o povo brasileiro foi consultado sobre o investimento de verbas públicas para construção de estádios e rodovias ao invés de hospitais, creches, escolas, universidades, transporte públicos de baixo custo e de boa qualidade, reforma urbana, reforma agrária, sistema público de saúde de qualidade boa?

Segundo consta no Portal Popular da Copa e das Olimpíadas, só o governo municipal do Rio de Janeiro gastou 1,6 bilhões com a rodovia “Transcarioca”.

[…] Maracanã é emblemático. De 1999 a 2006, cerca de R$ 400 milhões foram gastos pelo governo do Rio de Janeiro em reformas que prometiam deixar o estádio pronto para o chamado “padrão FIFA” e para a Copa de 2014. Em meados de 2010, no entanto, o Maracanã foi novamente fechado para “reformas” para o mundial. Na realidade, o estádio foi praticamente implodido, permanecendo apenas sua estrutura, tombada pelo patrimônio histórico nacional. A reconstrução sairá a um custo total estimado em R$ 1 bilhão, mas que será provavelmente superado. (DOSSIÊ DA ARTICULAÇÃO NACIONAL DOS COMITÊS POPULARES DA COPA, S/D, p. 12).

Gawryszewski e Penna (S/D) fazem uma análise do que tem representado os megaeventos esportivos e concluem que seu caráter mercadológico, aceleram a circulação e expansão do capital, constroem grandes estruturas que se convertem em desocupação e muita miséria no cotidiano das populações atingidas pela obras “[…] a ampliação fetichizada do consumo capitalista totalmente descolada das necessidades humanas […] (p.01).

“Não existe” nada de boas intenções no deslocamento dos megaeventos esportivos dos países capitalistas desenvolvidos como Estados Unidos da América do Norte (Copa de 1994), França (Copa de 1998), Correia do Sul e Japão (Copa de 2002), Alemanha (Copa de 2006). Precisamos ficar muito atentos para as mudanças na “escolha” de países sedes para estes megaeventos a partir de 2008 – ano que marca uma nova crise cíclica estrutural do capitalismo, pois a intenção é taxativa, lucro sobre lucro.

Houve um direcionamento para os países ditos “em desenvolvimento”, essa expansão geográfica faz parte da estratégia do capitalismo de “se livrar” do excedente de capital produzido o quanto antes para que este não se desvalorize, fazendo assim, com que as taxas de lucros diminuam consideravelmente, Gawryszewski e Penna (S/D).

Sendo assim, a lógica capitalista – incontrolável e incorrigível – não permite a humanização dos megaeventos esportivos e do esporte de rendimento, pois os mesmos como vimos, não são produzidos para atender as necessidades da classe trabalhadora. Sem a superação do próprio modo de produção, reprodução e organização capitalista não “endireitaremos” nem o esporte muito menos os megaeventos esportivos. (RAMOS e LUDUVICE, 2013, p. 05).

Mas falar de megaevento esportivo no Brasil e não falar do papel que a Federação Internacional de Futebol Associado – FIFA– a Confederação Brasileira de Futebol[1] – CBF, o Comitê Olímpico Internacional – COI e o Comitê Olímpico Brasileiro vêm cumprindo é negar que sabemos que os mesmo são agentes tenazes do capital internacional[2].

Essas entidades segundo Vainer (2013) recebem do governo Federal, Estaduais e Municipais isenções de impostos, monopólios de espaços públicos, monopólio de equipamentos esportivos construídos com verbas públicas, os mesmo se dizem neoliberais, mas adoram um estado intervencionista para suas necessidades.

Todavia para nós o que existe de pior nestas concessões dos governos brasileiro é a Lei Geral da Copa, pois a mesma é uma “ultra-mega-violação” aos diretos do povo brasileiro, como por exemplo, violação explícita ao estatuto do torcedor que ferem o direito do consumidor, remoções forçadas, usurpação do direito de ir e vir, implementação de uma política implícita de “limpeza étnico-social”, Vainer (2013).

Essas são algumas das milhares infrações que o governos municipais, estaduais e federal tem cometido a mando das entidades citadas anteriormente e seus megaeventos esportivos, o rasgar da constituição pelos militares em 64 tem sido algo comumente feito pelos governos posteriores e o governo PT/Lula/Dilma infelizmente não foge a regra.

Por tudo que expomos até aqui é que entendemos que o sistema político brasileiro é a “caixa preta” do poder no Brasil, pois é a partir das instituições como o poder executivo, legislativo e judiciário que o poder se materializa contra o povo. Como esses três poderes parecem “pairar” sobre as nossas cabeças como entidades sobrenaturais sem possibilidade de controle por parte do povo, todas as nossas necessidades históricas continuo sem ser saciadas.

A questão mais importante, a fundamental, é a questão do poder. Os revolucionários no Brasil não podem propor a uma outra coisa senão a tomada do poder, juntamente com as massas. Não porque lutar para entregar o poder à burguesia, para que seja construído um governo sob a hegemonia da burguesia. Foi o que se pretendeu com o governo nacionalista e democrático. E o que se pretende agora, propondo-se a conquista de um ‘mais ou menos avançado’, eufemismo que traduz a esperança num governo sob hegemonia burguesa, fadado a não resolver os problemas do povo. (MARIGHELLA, 2013, 227).

Tanto quanto em todos os outros momentos da história da sociedade civil e do Estado brasileiro a burguesia nacional – latifundiários, empresários, banqueiros – além de não ter interesse em mudanças estruturais não tem um projeto que supere a atual situação do povo brasileiro “[…] as classes dominantes nada tem a oferecer — ou dominação ou caos. O que fazer diante da miséria? O que fazer com o desemprego crescente? O que fazer com o papel das forças armadas? O que fazer com a propriedade, a iniciativa privada e o Estado?” (FERNANDES, 1989, p. 05).

Precisamos apontar para algum lugar, pois entendemos que o lugar que ocupamos atualmente não é nem mesmo de longe o lugar mais avançado para o povo brasileiro.

Retornar ao trabalho de base que faça avançar a consciência política do povo brasileiro nos subsidiando na construção do reacenso das lutas de massa. Mas não podemos nos furtar a disputa do poder, por isso entendemos que precisamos ter uma pauta política e neste momento essa pauta baliza-se pelo Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político proposto pelos Movimentos Sociais brasileiros desde Setembro de 2013[3].

A cada dia fica mais evidente para o povo brasileiro que as mudanças almejadas não virão pela via eleitoral, pois a mesma é sustentada por um sistema político arcaico, e que como vimos, foi construído para ser o que está sendo.

A campanha eleitoral teve esse alvo: difundir a ideologia dos estratos dominantes das classes burguesas. Assim, ampliam e aprofundam sua coisificação, iniciada nas fábricas, prolongada nas escolas e nas igrejas, completada nos sindicatos e nos partidos comprometidos com o melhorismo, o obreirismo pacífico, a alienação refinada e aguçada graças ao consumismo de massa e à indústria da comunicação cultural.” (FERNANDES, 1988, p. 86).

Se verdadeiramente queremos alcançar a democracia direta participativa que nos proporcione tomar em nossas mãos o poder de decidir sobre a utilização de nossas riquezas estratégicas e assim fazer acontecer as reformas estruturais que historicamente foram negadas como a reforma agrária, a reforma urbana, reforma tributaria, a democratização dos meios de comunicação, a qualificação da educação e da saúde pública, um transporte público gratuito e de qualidade, precisamos lutar por uma Assembléia Constituinte Exclusiva e Soberana para mudar o sistema político Brasileiro.

Como nos diz Saviani (2012), uma sociedade verdadeiramente democrática requer necessariamente o acesso ao que a humanidade produziu e acumulou de mais avançado durante toda a história civilização, o domínio da cultura constitui-se como instrumento indispensável para a participação política do povo brasileiro, sendo assim, nossa compreensão é que esse acesso só será possível se o poder estiver nas mãos do povo brasileiro.

Todo fundamento da lei deve estar remetido à produção e reprodução da vida humana concreta em comunidade (DUSSEL, 2000), e é esse o fundamento de toda comunidade política para considerar justa ou injusta uma lei, legítima ou ilegítima uma instituição política. Esse foi o fundamento dos protestos da juventude brasileira, e a reforma política, feita por um poder instituinte legítimo (daí a necessidade de uma Assembléia Constituinte exclusiva e soberana), deverá criar mecanismos políticos para viabilizar uma democracia participativa, que permita ao povo fiscalizar o poder instituído, e ter meios de participação democrática para externalizar demandas que deverão ser atendidas por seus representantes, a partir do exercício do poder obediencial. (DIEHL, 2014, p. 85).

Portanto entendemos e defendemos que nem de longe vivemos um período como o do regime empresarial-militar ditatorial[4], que existe sim um aproveitamento por parte do governo neodesenvolvimentista do PT da Copa do Mundo – dos megaeventos esportivos – como forma de dinamizar a economia, mas que nem de longe supera as misérias da vida do povo brasileiro.

Mas isso nos faz lembrar Harnecker (2004) Saviani (2012) quando falam sobre os cuidados de não confundir o primário/central com o secundário. Pensemos juntos, se o “programa máximo” do “não vai ter copa” fosse materializado e a Copa do Mundo 2014 fosse cancelada, os jogos não acontecessem os turistas não conseguissem chegar ao Brasil, o que mudaria na vida do povo brasileiro? Passaríamos a ter uma correlação de forças favorável? Teríamos mais participação popular no congresso? A consciência política do povo brasileiro daria um salto qualitativo? Qual seria o projeto político a ser seguido?

Entendemos também que se repete como dantes a “anulação” dos direitos Constitucionais, mas que as “jornadas de junho” impulsionadas pelas contradições do Governo PT nos permitiram adentrarmos num novo período nas lutas massa no Brasil que não podemos chamar ainda de acenso, mas que nos tirou do descenso.

Sendo assim está colocada a oportunidade de explorarmos as contradições do atual período rumo a construção de um projeto Popular para o Brasil, pois como nos diz Florestan Fernandes “A emancipação dos oprimidos e das classes trabalhadoras precisa começar dentro da sociedade civil e do Estado existentes […] […] O que se coloca em questão não é o ponto de chegada; é o ponto de partida”.  (1989, p. 04).

Referências:

DIEHL, Diego Augusto. A constituição inacabada e a reforma política: aportes desde a política de libertação. In Constituinte exclusiva: um outro sistema político é possível. 2014. Disponível em<http://www.plebiscitoconstituinte.org.br/> Acesso em 20/05/2014.

DOSSIÊ DA ARTICULAÇÃO NACIONAL DOS COMITÊS POPULARES DA COPA: megaeventos e violação dos direitos humanos no Brasil. S/D.

FERNANDES, Florestan. A Constituição como projeto político. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 1(1): 47-56, 1.sem 1989.

____. A percepção popular da Assembléia Nacional Constituinte. 1988 Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141988000200010> Acesso em 01/10/2013.

GAWRYSZEWSKI, Bruno; PENNA, Adriana Machado. O esporte na sua expressão contemporânea: vias de expansão do capitalismo monopolista. (S/D, a). Disponível em
<http://www.ifch.unicamp.br/cemarx/coloquio/Docs/gt4/Mesa2/guerra-ou-paz-o-esporte-como-producao-destrutiva.pdf> acessado em: 15/01/2011.

HARNECKER, Marta. Estratégia e Tática. 1° ed. Expressão Popular, São Paulo, 2004.

MARIGHELLA, Carlos. Carta à comissão executiva do partido comunista brasileiro. In. PINHEIRO, Milton; Ferreira, Muniz (org). Escritos de Marighella no PCB. São Paulo: ICP; Rio de Janeiro: FDR, 2013.

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. – Campinas, SP. Autores Associados, 2012.

SILVA, Jeffirson Ramos da; LUDUVICE, Paulo Vinicius Santos Sulli. Educação física:reafirmando posições no campo da cultura corporal em época de megaeventos esportivos. Anais Eletrônico do V Encontro de Educação Marxismo e Emancipação Humana – EEMEH, 2013.

VAINER, Carlos. Quando a cidade vai às ruas. In MIRICATO, Ermínia [et al.]. Cidades rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 1° ed. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013.

[1]Para não dizer que não falamos em capacho dos militares temos no atual presidente de Confederação Brasileira de Futebol – CBF a representação personificada em José Maria Marin, o mesmo foi governador biônico de São Paulo, cúmplice no assassinato de Vladimir Herzog. Se diz fã declarado do torturador e assassino Fleury delegado Dops, Vide mais na crônica “Os bastiões do atraso” de Luiz Ricardo Leitão no Jornal Brasil de Fato, Ano 11 número 566 de 02 a 08 Janeiro de 2014.

[4]Para aquele/aquela que duvidam destas diferenças vide  “A esquerda e o golpe de 64” de Dênis de Morais Expressão Popular.

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bola dinheiro

Futebol e Copa – quando a paixão vira negócio o povo não entra no jogo

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Desde o ano de 2007, o Brasil entrou no circuito de sede e realização de grandes/mega eventos esportivos. Neste mesmo ano foi realizado, na cidade do Rio de Janeiro, o Pan-americano. Junto a isso, o nosso país foi escolhido para ser sede da Copa do mundo de futebol de 2014, e a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida para ser sede dos Jogos Olímpicos de verão no ano de 2016.

Neste texto vamos no ater à Copa do mundo de futebol de 2014, que vem recebendo diversas críticas, desde as mobilizações de Junho do ano passado. Assim, tentaremos responder o que de fato a copa de 2014 significa para um país de terceiro mundo, com uma economia emergente, e qual o verdadeiro legado e quais as verdadeiras lições que este mega evento poderá deixar para o povo desta nação.

Bem, o que se pode observar é que, o país do futebol não é, necessariamente, contra a copa do mundo, visto que de quatro em quatro anos, milhares de brasileiros e brasileiras torcem por mais uma vitória da nossa seleção nos jogos mundiais, e torce para que os convocados possam representar bem o Brasil, frente as outras seleções de países de primeiro mundo.

Mas, o que se pode analisar, diante das manifestações que vem ocorrendo contra os gastos com a copa do mundo, é que parte do povo brasileiro, de forma “inconsciente”, tomou “consciência” do quanto os interesses sociais e essenciais – saúde, transporte, educação, cultura… – historicamente são deixados de lado, em troca de interesses da iniciativa privada.

Todas as iniciativas buscam favorecer o mercado, e ocorre com a anuência do Estado. E de que forma isso se concretiza? Na flexibilização da legislação urbanística; na parceria público-privada; na desregulamentação dos direitos sociais; na criminalização dos movimentos sociais ONGs (…) e em nome dos grandes projetos e volumosos investimentos, são definidas as obras que redesenham o modelo de cidade em nome dos interesses do capital, e de um planejamento urbano excludente. (ALVES, 2012, p.01)

A Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) conseguiu o que o povo brasileiro sempre lutou para ter em suas mãos, o PODER. Foi a FIFA que desde o inicio determinou quais seriam as modificações que precisariam ocorrer, inclusive alterando leis e legislações, para que os jogos pudessem acontecer, o que demonstra um total abuso da soberania do Brasil.

As consequências dessas mudanças, e das intransigências da FIFA, diante da situação social da saúde, educação, transporte, moradia, entre outros, caíram no imaginário brasileiro como uma bomba prestes a explodir, onde se demonstrou uma situação insustentável. Enquanto se exigia um “padrão FIFA” nas obras da Copa, hospitais e escolas, por exemplo, não tinham e não têm o mínimo de “padrão humano” para atender ao povo.

Mas, afinal, o que justifica de fato esse enorme gasto, que segundo os diversos Comitês Populares da Copa, vai fica na ordem de R$ 65 bilhões? Bom, além de se esperar que o país anfitrião seja o vencedor do evento, espera-se também, que, com todo investimento, a economia do país possa dar-nos resultados a curto prazo, e que possa trazer “benefícios” a sua população.

Porém, no ano de 2007, vários autores já faziam o prognóstico do que seria e para quem seria a copa de 2014 no Brasil,

Estão de voltas as promessas de melhorias na infraestrutura das cidades-sede e do país; estão de volta as garantias de que quem vai financiar as reformas e construção de estádios será a iniciativa privada (mas, claro, com financiamentos camaradas do BNDES); estão de volta as certezas quanto aos valores a serem agregados ao turismo e à economia do país; está de volta, enfim, um estranho sentimento de que quem é contra é anti-patriota e que o povo brasileiro deve se sentir agradecido à FIFA e aos envolvidos na proposta nacional (CBF, Governo Lula, governos de estados e municípios), pela oportunidade de realizarmos e “participarmos”. (SILVA e PIRES, 2007, p. 12-13)

Os megaeventos esportivos, nas últimas décadas, têm representado um importante aliado do capitalismo mundial, no que diz respeito a investimentos bilionários e lucros exorbitantes. Desde 2003, o “Relatório da Força Tarefa entre Agências das Nações Unidas sobre o Esporte para o Desenvolvimento e a Paz: Em Direção à Realização das Metas de Desenvolvimento do Milênio”, já previa o uso do esporte, agora de forma sistematizada e orientada dentro dos moldes norte-americanos, enquanto política pública de estado para atender às suas metas de desenvolvimento dentro das nações.

No quesito “Esporte e desenvolvimento econômico”, o relatório chama a atenção para o fato de que o esporte é tão importante para o desenvolvimento humano, quanto o é para o desenvolvimento da economia. Explica que as atividades econômicas relativas ao esporte envolvem, entre outros aspectos, o estímulo à fabricação de produtos esportivos, à promoção de eventos de grande porte, à ampliação do setor de serviços, além do grande interesse que desperta nas corporações midiáticas. Nesta perspectiva, defende que os programas de esportes oferecem oportunidades de emprego, assim como “estimulam a demanda de produtos e serviços”, sendo também uma “fonte importante de gastos públicos e privados”, tais como os gastos em “infraestrutura (sic) durante grandes eventos e em consumo”. (PENNA, 2012, p.18)

Dessa forma, observa-se no Brasil, que os maiores interessados em fazer com que a Copa de 2014 aconteça, que os investimentos urbanos em infraestrutura aconteçam e que a Copa e o Brasil saiam “bem na foto” perante o mundo, são os grandes investidores, representados na figura das grandes empreiteiras, das grandes multinacionais de consumo, nos grupos de comunicação e o setor imobiliário, que através do evento estão tendo a chance de enriquecerem ainda mais.

Neste momento, chamo a atenção para uma coisa de extrema importância: toda a melhoria urbana-estrutural e social que é consequência dos jogos, e dos investimentos do setor privado e público, e que poderão vir a beneficiar o povo deve ser levada em consideração, visto que são poucas as oportunidades que temos de ver ganhos reais que afetem diretamente as nossas vidas. Porém, não devemos cair no engano de que estas melhorias foram pensadas para diminuir os problemas urbanos existentes nas grandes capitais. Não se deve cair também, na fantasia de que as obras da Copa foram pensadas para atender a população e muito menos que essas melhorias mínimas vão sanar os problemas estruturais que temos.

Em um relatório do Tribunal de Contas da União em 2011, podemos verificar como estavam até então sendo tratadas pelo Ministério do Esporte as obras para a copa,

A partir da inspeção realizada no âmbito deste processo, verificou-se a insuficiência das análises técnicas e de custos das obras de estádios e mobilidade urbana relacionadas à Copa do Mundo de 2014. Observou-se então a necessidade de maior participação desta Corte nessas análises, apesar de essa atribuição não constar do rol de competências do TCU, uma vez que se trata de financiamentos concedidos pela Caixa e BNDES (…) Além disso, foram verificadas falhas no processo de acompanhamento das diversas ações relacionadas ao evento pelo Ministério do Esporte. (BRASIL, 2011).

As consequências da falta de planejamento e da falta de participação do povo já podem ser sentidas, visto que os diversos comitês populares da Copa existentes nas cidades sedes do evento, já relatam os prejuízos e os abusos cometidos contra a população. Estima-se que 170 mil pessoas serão removidas de suas casas, por causa do reordenamento urbano, principalmente no entorno dos estádios. E adivinha para onde estas pessoas estão sendo encaminhadas? Cada vez mais para as periferias, longe dos centros e da visibilidade dos turistas.

Nos países onde ocorreram megaeventos semelhantes, como china (Pequim) e África do Sul, as intervenções urbanísticas buscaram eliminar a pobreza do entorno dos estádios e a tendência com essas experiências é que a população pobre foi banida de vivencia e convivência nos centros urbanos. (ALVES, 2012, p.01)

Todos os despejos servem somente para causar boa impressão a determinadas áreas, e com isso valorizar determinadas regiões, fazendo com que a especulação imobiliária garanta lucros altos a custo do despejo de milhares de famílias.

Outro fato que merece o devido destaque é que a terceirização das obras e a urgência para cumprir os prazos de entrega, colaboraram até agora para a morte de 09 trabalhadores, tragédias que já vinham sendo anunciadas pelas greves que ocorreram durantes as construções dos estádios e que mostravam a falta de fiscalização nas condições de trabalho.

Outro problema é o superfaturamento nas obras, o que demonstrou mais uma vez a total falta de planejamento e transparência dos recursos envolvidos. Entre vários exemplos, podemos cita o caso da cidade de São Paulo, onde o Comitê Popular da Copa do estado denunciou que no final do ano de 2010 o custo do estádio do Itaquerão era estimado em R$ 530 milhões, porém, em maio de 2011 esse custo já era de R$ 1, 07 bilhões.

O que fica de legado com a Copa?

Diante de tudo o que foi colocado, a Copa, além de estar sendo um espaço para os ricos ficarem mais ricos, pode ser considerada uma aula de onde podemos tirar 02 lições para a geração de jovens, que se colocam nas ruas para criticar o sistema político do nosso país.

A primeira lição que devemos nos atentar é para o fato de que, não podemos mais cair na ilusão de que a forma político-econômica em que vivemos, pode algum dia resolver os problemas do povo. Portanto, os problemas de moradia causados pela especulação imobiliária, os problemas de transporte urbano causado pela falta de planejamento das cidades e pela falta de investimento em transporte coletivo público, os problemas na saúde causados pela falta de uma reforma no SUS, os problemas na educação causados pela falta de investimentos em escolas e universidades públicas, entre outros, sempre serão problemas atuais, se os ricos continuarem a dizer de que forma o dinheiro público dos nossos impostos deve ser gasto.

Da forma como nossa economia está organizada, os interesses da iniciativa privada sempre serão mais vantajosos financeiramente, frente aos interesses da população. Assim, fazer estádio novo vai continuar sendo prioridade frente à garantia de moradia digna para o povo.

E para não cairmos no erro de somente culpar partido político “A” ou “B” pelas mazelas históricas de nossa nação, a segunda lição que devemos nos apoiar, e que completa a primeira, é para o fato de que nosso sistema político não dá mais conta de representar o povo. As pessoas e os movimentos sociais saíram às ruas em junho do ano passado, e mostraram que precisam ter vez e voz na política, por isso a necessidade e a urgência de uma ampla reforma do nosso sistema político, devemos sair da democracia representativa e avançarmos para a democracia participativa.

O povo deve ter condições reais de eleger ao congresso pessoas que representem os negros, as mulheres, as juventudes, LGBT, trabalhadores… O povo deve ter condições de dizer de que forma quer que seja gasto o dinheiro público e quais as prioridades que temos, o povo precisa ter o poder de decidir, por exemplo, quais megaeventos querem sediar.

Atentando-se para este fato, dezenas de movimentos sociais e sindicais reunidos em uma plenária em São Paulo, em novembro do ano passado, tiraram como proposta realizar um Plebiscito Popular, durante a semana da pátria – 1 a 7 de setembro – para perguntar ao povo se o Brasil é a favor de uma nova Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político, pois só a partir dessa nova constituinte, construída com representações dos diversos setores da sociedade, sem a interferência do congresso, é que poderemos mudar as regras do jogo, e só assim o povo vai poder entrar em campo, só que agora para ganhar.

Referências:

ALVES, Mércia. Copa do mundo – de qual legado se está falando?Endereço:http://www.portalpopulardacopa.org.br/ Acessado em: <20/05/2014>

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