A importância das lendas para a formação sociocultural

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A história é a verdade que se deforma, a lenda é a falsidade que se encarna – Jean Cocteau

Curupira, o grande protetor das florestas; Fonte: Imagem de Alieide por Pixabay.

Desde que o mundo é mundo compartilhamos inúmeras histórias, advindas de vários povos cada um em seu canto, e essas histórias perpassam as pessoas, fazendo delas o que são; a história de cada povo, sua cor, sua linguagem, suas crenças e valores, o que comem, suas vestimentas, suas preferências musicais, suas expressões artísticas, como se manifestam no amor, na guerra ou na dor. Isto tudo nos faze únicos e diversos em nossas culturas e o que comumente chamamos de diversidade cultural. Além destes elementos que são inúmeros, é esta dita diversidade que nos denomina. Ela pode dizer das diferenças, da pluralidade e da multiplicidade, ou seja, é a diferenciação dos indivíduos e de suas várias formas de ser no mundo.

Dentre os tipos mais importantes de diversidade, podemos destacar as étnicas, socioeconômicas, biológicas, cultural, religiosa e social. O Brasil é tido como destaque em diversidade étnica, somos uma grande explosão de indivíduos que fazem de nós uma variedade de povos, variedade esta pouco encontrada em outros lugares. Acompanhando nossas inúmeras diferenças de crenças, culturas e costumes, temos também um arcabouço enorme de folclore do nosso povo e que são de uma riqueza sem igual, são manifestadas através de histórias narradas (lendas), danças típicas, linguagens, superstições, catira, crenças, culinária, dentre outras.

E é sobre estas lendas que o texto tem intenção de dissertar, procurando levar ao leitor a importância que elas carregam, bem como a relevância de passarmos às gerações futuras o conhecimento das mesmas, pois esquecê-las, seria perder nossas memórias, nossas tradições e nossa identidade. Além disso, é uma forma rica de as crianças e ou/adultos, fazerem descobertas através da imaginação e ir construindo o seu nicho de realidade dentro das histórias. Estarmos inteirados do mundo que nos cerca de uma forma lúdica, também nos aproxima da construção do mundo real. O ato de imaginar nos possibilita criar formas onde no mais recôndito do nosso ser, floresça o melhor que há em nós.

Saci, o rei das travessuras; Fonte: Imagem de dinhochiz por Commons.wikimedia

Nossas lendas são histórias narradas que tem como propósito explicar eventos místicos e de onde eles surgiram, elas expressam nossos valores históricos, nos transportando para além da narrativa, causando em nossa imaginação o poder de estar naquele momento do acontecido. Os povos mudam, o tempo passa, mas nossas lendas permanecem (ou deveriam permanecer), e são passadas de pais para filhos, numa eterna e prazerosa reedição, passando assim como um telefone sem fio, com algumas mudanças aqui e ali, mas sem jamais perder a sua essência primeira, se tornando parte do enriquecimento de nossa cultura.

Clarice Lispector em sua riqueza literária faz os seguintes questionamentos:

Uma lenda é verossímil? Sim, porque assim o povo quer que seja. De pai para filho, de mãe para crianças, é transmitida uma fabulação de maravilhas que estão atrás da História. Como ao redor de uma fogueira em noite escura, conta-se em voz sussurrante um ao outro o que, se não aconteceu, poderia muito bem ter acontecido nesse imaginoso mundo de Deus. E assim oralmente se escreve uma literatura plena e suculenta, em que o espírito secreto de todo um povo vira criança e brinca e “faz de conta”. Brinca? Não, é muito a sério. Pois o que é que pode mais do que um sonho? (…) […]. As lendas são uma potência. Elas procuram nos transmitir alguma coisa importante que se passa na zona penumbrosa e criativa popular. E o que não existe passa a existir por força mesmo de seu encantatório enredo. Nos grandes centros culturais brasileiros, as lendas infelizmente se perdem, menosprezadas por uma civilização que luta pela vida real. (LISPECTOR, 2015, p. 3-4)

Sim, Clarice está certa, o povo quer que suas histórias tenham um total cunho de verdade, e tem. Quem nunca viu um redemoinho que surge do nada, arrastando papeis, terra e poeira em seu movimento em espiral, e pensou: Olha o Saci com suas brincadeiras; se nossa imaginação for fértil, podemos até vislumbrá-lo em meio ao espiral de poeira.

Para os que não têm conhecimento, o Saci Pererê é uma lenda que surgiu no Sul do Brasil, entre os índios Tupi-Guarani por volta do século XVIII. Trata-se de um menino negro de uma perna só, que faz arruaça por onde passa e não era um só, existiam mais versões do moleque, sendo elas: Saci-Cererê, Matimpererê, Matita Perê, Saci-Saçurá e Saci-Trique, todas as versões usavam um short vermelho e um gorro da mesma cor. Após sua morte, ele virava um cogumelo venenoso.

O Saci ganhou grande fama ao ser agraciado pela escrita de Monteiro Lobato, dando-lhe visibilidade no mundo inteiro. Além de tudo isto ele tem seu próprio dia, 31 de outubro. A data é fruto do Projeto de Lei Federal n.º 2.479, que foi elaborado pela Comissão de Educação e Cultura, em novembro de 2013, pelo deputado federal Chico Alencar e pela vereadora Ângela Guadagnin. A intenção é a valorização de nossa cultura e se justifica da seguinte forma,

Entendemos que a comemoração anual do “Dia do Saci” permitirá um contato sistemático com a variedade e a beleza das tradições do País, de modo a fortalecer o processo de consolidação da identidade nacional bem como a autoestima do povo brasileiro. (Projeto de Lei Federal n.º 2.479, 2013.).

Podemos através deste projeto de lei vislumbrar a importância que nossas raízes tem para todos nós, e o quanto precisamos, todos, resgatar essa fonte inesgotável de criatividade, do fazer refletir acerca de nossos valores e tradições. Repassar essas tradições é uma forma de perpetuar nossa cultura. É isso que continuaremos a fazer por este mágico passeio pelas lendas e entendê-las um pouco mais.

Em algum momento vocês já vislumbraram um moço bonito saindo de um rio a noite (pois sim, o Boto tem hábitos noturnos), e pensaram, que quem sabe aquele maroto garoto, poderia ser um boto disfarçado de moço, que saiu para encantar alguma bela donzela? O Boto é tido na lenda como um vilão, pois sua magia encanta as jovens que se entregam a ele, e ele as abandona. Dizem as más línguas, que as mães solteiras foram visitadas pelo Boto. Esta lenda tem origem no Norte do Brasil.

Boto em forma humana seduzindo uma bela donzela; Fonte: Imagem de Gordon Johnson por Pixabay

Há um canto sereno e profundo que encanta os pescadores, quem conhece sabe que é de Iara, a linda moça das águas que seduz e leva os homens para o fundo do rio. Esta moça é de rara beleza, metade mulher e metade peixe, é rica, linda e dona de uma voz encantadora. Por ser muito bonita, seus irmãos tinham inveja dela e a tentaram matar, mas ao contrário disso, ela que matou seus irmãos; como castigo seu pai a jogou no rio negro, e os peixes a salvaram e ela se transformou em sereia. Apesar de ser grandemente propagada por todos nós, esta lenda tem origem europeia, e foi espalhada entre nós através dos índios, que a tem como a mãe d’água.

Iara atraindo os navegantes com seu canto; Fonte: Sergei Tokmakov, Esq. https://Terms.Law

E para não perdermos o fio da meada, que moça não teria medo de encantar-se por um lindo padre (Hoje em dia temos uns belíssimos) e virar uma mula sem cabeça, em alguns casos será que valeria o risco? Na lenda reza que a moça que se encantava por um padre e acabava cedendo aos desejos carnais, fatalmente virava uma mula sem cabeça e saía louca e desvairada agredindo a quem passasse. O padre? Não, ele não era castigado, diziam que o castigo deles seria no plano divino. Acredita-se que esta lenda era contada como um sossega leão para as moçoilas mais afoitas, tipo um reforço para a prevalência dos “costumes morais”.

Invariavelmente as mães cantam para seus bebês dormirem, apesar do carinho na voz, soa como uma ameaça: Dorme neném que a Cuca vem pegar. Quase todas as crianças têm certa intimidade com a Cuca, com o boi da cara preta, o bicho-papão, o Tutu marambá. Deste jeito de carinho em forma de monstros imaginários as crianças foram cristalizando em si, as histórias de nosso povo. São tantas as manifestações culturais em forma de lendas que elas se tornam primordiais no resgate de nossas raízes a fim de tornar robusta nossa identidade. É necessário e urgente falar, contar, incentivar nossas crianças no contato com este acervo riquíssimo, para não incorrermos no risco de perdermos nossa origem cultural, como salienta Clarice no final de sua citação, seria um prejuízo enorme, seria o fim do diálogo com nossa ancestralidade. Segundo Roque Laraia (2001), antropólogo, “A cultura é uma lente através da qual a gente vê o mundo”.

Seria interessante que o folclore fosse uma matéria obrigatória para nossas crianças, com o intuito do desenvolvimento de espírito de nacionalidade, de pertencimento, uma maneira de descobrir-se como alguém dentro do universo, mais que isso, um cidadão do mundo, um conhecedor de suas raízes, identificando-se dentro de seu grupo, dentro de sua comunidade. Além do respeito às diversidades, o que indubitavelmente o faria um cidadão cônscio de seus direitos e deveres, um cidadão empático, tolerante e acima de tudo, respeitando a si mesmo e as pessoas que o cerca. Convido-os a saber mais sobre os personagens que não me aprofundei em suas histórias. Vale a pena passear por este mundo místico e encantado, sempre é tempo de libertarmos esta criança que existe dentro de todos nós. Permita-se.

Podemos começar assim: Era uma vez…Quanta imaginação cabe nesta simples frase, através dela podemos criar o que quisermos, deixar fluir nossa criatividade e revisitar todas estas histórias; e replicá-las aos nossos pequenos, para que eles não percam a magia e dentro dela se faça tão repleto de beleza, que sinta a necessidade de replicar e replicar, sem que nunca se perca essa linda forma de perpetuar nossos contos.

Era uma vez um gato xadrez que pelo simples fato de ler, de uma só vez levou cultura para mais de três. Seja como o gato Xadrez, replique de forma que as histórias se instalem de vez, porque alguns autores assim como Clarice, vê as lendas se extinguindo e junto a elas lá se vão nossas raízes, e nosso imaginário ficando mais pobre dia a dia. Replique.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Andréa. 2019. Personagem folclórico que vive na floresta. Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/artes/saci-perere. Acesso em10/02/2023

BEZERRA, Juliana. 2011. Cantigas de ninar – Folclore. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/cantigas-de-ninar/. Acesso em 10/02/2023

SILVA, Santos Dias Filipe.2021. MANIFESTAÇÕES CULTURAIS POPULARES. Disponível em: https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/602304/2/eBook_Manifestacoes_Culturais_Populares.pdf. Acesso em 10/02/2023

SILVA, N. Daniel. Boto-cor-de-rosa. (s.d.) Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/folclore/boto-corderosa.htm#:~:text=Trata%2Dse%20de%20um%20cet%C3%A1ceo,%C3%A0s%20festas%20para%20seduzir%20mulheres.. Acesso em 15/02/2023

WANDERLEY, Araújo Naelza. 2021. “Os adultos como eu, também criam lendas”: Clarice Lispector. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/NauLiteraria/article/view/116725. https://doi.org/10.22456/1981-4526.116725. Acesso em 08/02/2023

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O processo de criação a partir da convergência entre a Arte, Cultura e Tecnologia

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A partir da segunda metade do século XX, os meios de comunicação (a imprensa, a fotografia, o rádio, a música, o cinema, a televisão…) se infiltraram verdadeiramente no cotidiano da sociedade. Dessa forma, já não se podia mais conceber os meios de comunicação desarticulados das novas tecnologias. E surgia então, um universo de convergência entre a arte, cultura e tecnologia que redefiniram critérios de alocação de conhecimentos e do processo de criação.

O processo de criação, seja na arte ou na ciência, não é, necessariamente, um processo contínuo. Renova-se sempre e admite feedbacks alimentados pela atividade experimentadora e pelas ideias criadoras (PLAZA & TAVARES, 1998).

A arte representa o modo de expressão da essência do homem. Ela tem sido um dos primeiros meios de comunicação usados pelo homem desde o início da civilização, por meio de suas crenças, dogmas e formas de transmitir suas mensagens, ocultas em algumas de suas obras artísticas. Entretanto, as inovações tecnológicas têm exercido uma enorme influência no processo de criação e mundo das artes.

O desafio aqui é discutir a convergência entre a arte, cultura, e tecnologia como um novo ambiente para o processo de criação.

O PROCESSO DE CRIAÇÃO

O processo de criação deve ser retratado diretamente ao contexto cultural, pois a criatividade e maneira que certas imagens se organizam em nossa mente indica a interferência direta de nossa cultura e de nossas experiências com o passar do tempo.

Segundo Plaza (2201), a história da criação explicita um processo que vai da concepção divina à humana.  Entende-se a criação artística como um “fazer”, um “trabalho”, uma “atividade artesanal” que se desenvolve segundo determinadas regras que podem ser aprendidas (PLAZA, 2001). Ou seja, as obras resultam do produto da imaginação criativa orientada para o fazer.

Nesse contexto, pode-se entender o ato de criar como uma construção em movimento: um processo dinâmico, na condição de sempre poder vir a ser, não se configurando, portanto, como algo previamente acabado (MILLET, 1990). Assim sendo, essa construção-criação dar-se-ia, então, a partir de um suporte (causa material), combinada com uma ideia-modelo imaginativa (causa formal) que operados por uma ação instrumental, física, técnica e eficiente (causa motriz) tem por finalidade gerar um produto dirigido a um fim (causa final).

Ainda de acordo com Plaza (2001), o produto criado pode ser pensado a partir de três categorias ou três pontos de vista: a) o ponto de vista da pessoa que cria (em termos de fisiologia, temperamentos, hábitos, valores, emoções, processos mentais, motivações, percepções, pensamentos, comunicações etc.); b) o ponto de vista do ambiente e da cultura em que a obra se insere (condicionamentos culturais, sociais, educativos, influenciados pela demanda exterior, pela encomenda social, ou, até mesmo, pelas perspectivas que o público tem sobre a arte); c) o ponto de vista relativo aos processos mentais que o ato de criar mobiliza (teorias, técnicas, métodos, poéticas, estéticas etc.).

Seja na arte ou na ciência, o ato criativo não é, necessariamente, um processo contínuo. Renova-se sempre e admite feedbacks alimentados pela atividade experimentadora e pelas ideias criadoras.

O processo criativo faz parte da essência do ser humano. Ao exercer o seu potencial criador, trabalhando, criando em todos os âmbitos do seu fazer, o homem configura a sua vida e lhe dá um sentido, pois criar é necessário (OSTROWER, 2002). Como necessidade existencial, a criatividade é um potencial inerente a todo ser humano, e diferentemente do que muitos imaginam, não é um atributo exclusivo de algumas poucas pessoas privilegiadas. A capacidade de trabalhar criativamente só é possível porque o homem é dotado da potencialidade da sensibilidade, é um ser criativo por natureza e o processo de criação artística significa a possibilidade de uma ampliação da consciência e um processo de crescimento contínuo (SILVA & BITTENCOURT, 2015).

Em cada período da história no mundo existe fatores marcantes no processo criativo da arte. De acordo com Santaella (2003), a arte de cada época corresponde à técnica do seu tempo. Para a autora, uma das ideias mais persistentes do século XX foi a da absorção de novas tecnologias pela criação artística. Que se deu, principalmente, através do fascínio dos futuristas pelas tecnologias e as tentativas de convergir a arte na vida através de novas formas imaginativas. Essa nova tendência será abordada no capítulo a seguir.

Fonte: encurtador.com.br/koMW9

CONVERGÊNCIA ENTRE A ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA

O processo de criação está intimamente ligado ao contexto cultural, pois a maneira que certas imagens se organizam em nossa mente indica a interferência direta de nossa cultura e de nossas vivências. No entanto, temos que admitir que na contemporaneidade, estamos vivenciando um processo de convergência entre a arte, cultura e tecnologia, que influencia o processo criativo.

Segundo Silva e Bittencourt (2015) o que se percebe é que, a partir desse momento, passamos a viver e conviver com uma sociedade totalmente conduzida pelas novas tecnologias. Essas tecnologias interferem nos processos criativos e nas relações de consumo na sociedade contemporânea.

Um dos mais importantes pesquisadores sobre o tema abordado é Jenkins, que segundo ele, a convergência pode ser vista como uma mudança cultural, em que os consumidores migram de um comportamento de espectadores, mais passivos, para uma cultura mais participativa (JENKINS, 2006).

Para Jenkins (2006), se a convergência é um processo cultural e social, é também tecnológico, onde há uma mudança de paradigma onde se cria um movimento de conteúdos específicos que fluem atra­vés de múltiplos meios, com um crescente aumento da interdependência dos sistemas de comunicação. Nesse contexto, a convergência pode ser compreendida como o fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, a cooperação de múltiplos mercados midiáticos e o comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam.

Jenkins (2006) relaciona esse panorama aos fenômenos da convergência dos meios de comunicação, cultura participativa e inteligência coletiva (partilha de funções cognitivas, como a memória, a percepção e o aprendizado). Segundo Araújo (2005) a convergência entre a arte e cultura pode ser entendida como o mesmo conteúdo por vários meios de distribuição/dispositivos que resultam em melhores serviços a partir do uso das tecnologias.

De acordo com Mesquita (1999) essa convergência é a interação e interconexão entre a cultura, a rádio, a televisão, os telefones, os computadores e as tecnologias de modo geral. Ela prevê que todo produto gerado a partir do processo de criação esteja disponível, para grande parte da sociedade, em todas as horas, em todos os lugares, com o propósito de criar interação por meio do suporte tecnológico.

Posto isso, a convergência entre a arte, cultura e tecnologia tem o propósito de facilitar o acesso aos produtos artísticos culturais, de criar formas de participação e comunicação, de consumo e produção que permitam a criação de espaços mais livres aptos para aproveitar a inteligência coletiva e a liberdade de expressão.

Além disso, entram em foco outros pontos como a disseminação de conhecimentos, a partilha de experiências nas áreas cultural e educativa que explorem o potencial dos elementos da cultura local e o apoio às culturas tradicionais, no sentido de incentivar as produções locais e regionais. Afinal, trata-se da cadeia produtiva que coloca a geração de criatividade, de idéias e de cultura como matéria-prima de seu processo de produção e trabalho (Winck, 2007).

Para Guerra (2002) apud Winck (2007) a valorização da atividade criativa pode ser considerada como um fator de geração de riqueza que por meio da identificação de tendências, estratégias e medidas explorem as potencialidades dos agentes produtivos, visando a acumular efetivos industrializados.

Já a interatividade surge no contexto da chamada sociedade da informação através das possibilidades que os novos meios de comunicação apresentam. São essas possibilidades que fazem destes novos meios a grande sensação do desenvolvimento tecnológico do homem moderno ou contemporâneo (OLIVEIRA, 2007).

Ao lado dessa nova tendência de distribuição na função de promoção e difusão dos conhecimentos, outra tendência que se destaca é a convergência cultural, com instituições educacionais, empresas, mídias, bibliotecas etc. agrupando-se em torno de uma mesma tarefa: oferecer conhecimento legitimado para a sociedade (BUFREM e SORRIBAS, 2008).

Fonte: encurtador.com.br/rvCO2

ESTUDO DE CASO: OI FUTURO E MUSEU DE TELECOMUNICAÇÕES

Posto isso pode-se verificar alguns desafios aos centros culturais dentro do contexto de convergências que seria compreender de que forma esses centros promovem o acesso as TIC; dissemina o conhecimento; promove interatividade entre as pessoas; partilha experiências nas áreas cultural e educativa; e, por fim, a convergência cultural com instituições educacionais, empresas, mídias, bibliotecas etc. Esses atributos são responsáveis pela comunicação e geração de conhecimentos dentro dos chamados espaços de convergência.

Um exemplo bem-sucedido e que vem acontecendo no Rio de Janeiro é o caso do Oi Futuro e do Museu de Telecomunicações. O Centro Cultural Oi Futuro tem a missão de desenvolver, apoiar e reconhecer ações educacionais e culturais que promovam o desenvolvimento humano, utilizando tecnologias da comunicação e informação.

Esse centro cultural é um espaço de convergência, dedicado a arte, a tecnologia, ao conhecimento e a cidadania. Igualmente sintonizado com a contemporaneidade, voltado para levar o público a viver experiências sensoriais em seus espaços de visitação, que incluem galerias de arte, teatro, biblio_tec e cyber restaurante.

Dentro do Centro Cultural ainda existe o Museu das Telecomunicações, que possui um grande acervo de novas tecnologias onde os visitantes recebem um aparelho portátil para interagir com as instalações, além de ter chance de encontrar numa lista telefônica multimídia, o endereço de grandes personagens da história. Uma verdadeira aventura que une história, ciência e entretenimento. Também é considerado um espaço de convergência de pessoas, idéias, tecnologias, pensamentos e tempos.

Essas são algumas mudanças que se encontram em estágio avançado nos países industrializados, e constituem uma tendência dominante mesmo para economias menos industrializadas que o caso do Brasil e definem um novo paradigma, o processo de criação a partir da convergência entre a arte, cultura e tecnologia, que expressa essência da presente transformação tecnológica em suas relações com a economia e a sociedade (WERTHEIN, 2000).

Fonte: encurtador.com.br/ilwJM

CONSIDERAÇÕES

Pode se concluir, que a atual sociedade contemporânea vive um processo revolucionário das novas tecnologias e nas artes, entramos em uma fase mais avançada, que traz como potencial a aceleração da integração entre usuários e fontes de informação, reforçando o desenvolvimento de cidadãos e a produção de produtos artísticos inovadores. Entretanto, para ingressar nessa fase, é preciso ter uma sólida base educacional e cultural. Caso contrário, estaremos desperdiçando a capacidade e o potencial dessas tecnologias, que nos permitem não só ter acesso ao conhecimento, mas também construir o conhecimento que nos é necessário.

A informação tecnológica e o uso de novos conhecimentos podem fortalecer o processo democrático social e cultura, além de possibilitar à sociedade encontrar novas formas de convivência e de superação dos desníveis existentes, por meio da construção da chamada “inteligência coletiva” (LÉVY, 2000).

Portanto, o processo de criação a partir da convergência entre a arte, cultura e tecnologia tem uma influência cada vez maior nas organizações do futuro e na vida das pessoas. Esse novo processo tem modificado de forma significativa as relações entre tempo e espaço. Como enfatiza Giddens (1991), as distâncias temporais e espaciais cobertas pelas novas tecnologias tornam o passo de vida cada vez mais rápido. É como se o mundo encolhesse ou fosse uma “vila global”.

Posto isso, um artista contemporâneo, deve estar atento as questões de seu tempo, antenado com as novas tecnologias, que podem ser consideradas as ferramentas mais representativas da contemporaneidade e, talvez, as mais ricas a serem exploradas. O que tem resultado em produtos artísticos culturais com mais qualidades e conceitos totalmente inovadores.

Fonte: encurtador.com.br/uyIKQ

REFERÊNCIAS:

ARAUJO, M. C. P. Convergência tecnológica dos meios de comunicação. In: Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional. Brasília, 12 de setembro de 2005. (http://www.senado.gov.br)

BUFREM, L. S. & SORRIBAS, T. V. Mediation and convergence in an academic libraries. Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., Florianópolis, n. 25, 1º sem.2008.

GIDDENS, A. Modernity and selfidentity: self and society in the late modern age. Stanford: Stanford Univ., 1991. 256p.

JENKINS, Henry. Convergence culture: where the old and new media collide. University Press. New York. 2006, 308 p.

LÉVY, Pierre. Entrevista. Correio Braziliense, 4 jun. 2000.

MESQUITA, J. A convergência dos media. In: CITI-Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas. Universidade Nova de Lisboa, 1999. (http://www.citi.pt/estudos_multi/)

MILLET, Louis.  Aristóteles. São Paulo, Martins Fontes, 1990.

OLIVEIRA, R. R. Regionalization, mediatical convergence and interactivity on the web portal Temmais.com. Acervo On-line de Mídia Regional, ano 11, vol. 6, n. 7, p. 61-74, set/dez 2007.

OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 2002.

PLAZA, Julio; TAVARES, Monica. Processos criativos com os meios eletrônicos: poéticas digitais. São Paulo: Hucitec, 1998.

PLAZA, Julio. Processo criativo e metodologia. São Paulo: 2001. Apostila de curso.

SANTAELLA, L., Cultura e artes do pós-moderno: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo, Paulus Editora, 2003.

SILVA, A. T. T.; BITTENCOURT, C. A. C. Indústria cultural e o trabalho docente: caminhos para compreender os processos de criação em arte na educação Infantil. Comunicações. Piracicaba. Ano 22  n. 3. 2015.

WERTHEIN, Jorge. A sociedade da informação e seus desafios. In: Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 2, p. 71-77, maio/ago.2000.

WINCK, J. B. The promise of interactive audiovisual. TransInformação, Campinas, 19(3): 279-288, set./dez., 2007.

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Estudantes participam de Roda de Conversa sobre psicologia, política e arte

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Roda de conversa se prolongou com uma roda de Samba, proporcionando um momento de lazer, cultura e divertimento, de forma livre, gratuita e interativa para os que desejaram participar desse momento único.

No último dia 24/08 aconteceu, na praça dos Povos Indígenas de Palmas- TO, um encontro proporcionado pela clínica de psicologia Allegórica, a partir de uma roda de conversa com o tema: psicologia, política e arte. O evento contou com a presença de estudantes de Psicologia, além de palmenses e tocantinenses de diferentes cidades interessados no tema. 

Arquivo Pessoal

O momento propunha sentimento de livre acesso, cuja principal objetivo era tornar a ação descontraída, permeada pela espontaneidade dos participantes, que trouxeram a partir da fala diversos conteúdos, que apesar de não estarem em uma lógica acadêmica, vislumbrava assuntos de muita relevância e potência. 

Arquivo Pessoal

A partir dos questionamentos trazidos pela psicóloga Larissa, organizadora e proprietária da clínica Allegórica, indagações como “Pelo o que você luta?” fizeram com que realidades e argumentos viessem a emergir da roda de conversa. 

Demandas como insatisfação, tristeza e dificuldade foram trazidas, assim como conclusões advindas da reflexão de suas próprias realidades, trazendo a ideia de que os ambientes, condições, e as oportunidades, fazem ser possível ver a vida de novos ângulos. Saindo de condições que anteriormente era um “fardo”, ou vista como imutável. Os presentes trouxeram, a partir de relatos, que sair de suas “cavernas”, fez de suas limitações, possibilidades. Assumiram que talvez viessem a ser pessoas diferentes, se escolhessem viver na sombra de imposições, costumes, e crenças anteriores.

A luta por direitos, e a resistência para que não se perca os já conquistados, foram um dos assuntos marcantes da roda de conversa. A insatisfação vivida pelas pessoas da comunidade LGBTQ+ no atual cenário político foi posta à prova, com a fala de uma das participantes: “Nos mate com uma  arma, mas não mate nossa alegria”. A mesma vê que a criação de espaços como esses, propostos pela Allegórica, são de suma importância, para mobilizar e para manter viva a voz das pessoas que lutam há séculos para sair da situação de subalternos perante a sociedade, mantendo uma rede de proteção, de fala, liberdade de expressão, vivência, e pertencimento. 

Como previsto, a roda de conversa se prolongou com uma roda de Samba, proporcionando um momento de lazer, cultura e divertimento, de forma livre, gratuita e interativa para os que desejaram participar desse momento único.

Arquivo Pessoal

 

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