Ninguém deve se sentir envergonhado por sentir desejo, fazemos escolhas e este é o nosso poder, não pertencemos a ninguém, pertencemos às nossas convicções.
Uma modalidade, cruel e violenta, se transforma, infelizmente, no modismo insensato e sufocante do universo complexo da internet. O revenge porn, a pornografia da vingança, acontece quando alguém posta na rede fotos íntimas de uma outra pessoa na qual se relacionou anteriormente. É a divulgação, geralmente feita por homens, de vídeos ou imagens íntimas de mulheres fazendo sexo, muitas vezes com o próprio divulgador, e tem como objetivo humilhá-las publicamente e fazer chantagem.
Conduzidos pela vaidade, por não aceitarem o término do relacionamento, dificuldade em lidar com a rejeição, ou por sadismo, a pessoa expõe todo seu lado sombrio e obscuro, além do desejo em violentar o outro.
Fonte: https://goo.gl/DVfz3j
Não existe um perfil certo para que casais se filmem tendo relações sexuais. O que se observa é um número grande de adolescentes que aderem a essa prática. Uma geração já imersa no acesso a tudo, do imediatismo, da supervalorização da imagem e das ‘selfies’, da necessidade de se autoafirmar, se filma em situações íntimas.
Para combater o revenge porn, um grupo de seis meninas, de 16 anos, criou um aplicativo para enfrentar o slut shaming. A ideia do aplicativo é acolher as vítimas desse tipo de crime em um espaço que permite que elas conversem com outras vítimas, aprendam sobre como estão protegidas pela legislação e sejam convidadas a participar de grupos presenciais para combater o cyberbullying e a perseguição dos stalkers.
Fonte: https://goo.gl/zoeD6S
Slut shaming é o termo que surgiu da polêmica quando o radialista Rush Limbaugh criticou a estudante de Direito Sandra Fluke, da Universidade de Georgetown, depois de ela ter defendido, em uma audiência pública no Congresso, que os planos de saúde cubram os custos com anticoncepcionais. Limbaugh, uma das vozes mais conhecidas nos EUA, disse que Sandra Fluke quer que os contribuintes a paguem para que ela faça sexo.
O ato de induzir uma mulher a se sentir culpada quanto à concretização de seus desejos sexuais e mantenha as expectativas tradicionais de seu gênero é um preconceito alicerçado pela misoginia. A arcaica concepção machista é baseada em que a mulher deve ser subserviente, concordata, submissa, obediente ao homem e, principalmente, conter a expressão de sua sexualidade reprimida, o desejo ignorado e o prazer cerceado.
Fonte: https://goo.gl/J65uY5
E ainda falamos de uma mentalidade deturpada e antiquada, enraizada na sociedade, onde homens medrosos tentam aniquilar a mulher autônoma, aquela que possui opinião, é livre de estereótipos, sabe comandar, possui iniciativa, opinião própria e que rompe paradigmas. Usam a roupa que quiserem sem se apequenar quanto ao julgamento dos outros. Mulheres questionadoras e que não são subservientes, sensualizam, se insinuam, provocam e nem por isso querem bajulação ou cavalheirismo. Não se acovardam e enfrentam o mundo com determinação, dão vazão a seus desejos, soltam seu grito de prazer sem sentir vergonha ou culpa por isso. Não são peça de adoração, muito menos objetos sexuais, elas autorizam se querem ou não ser tocadas. Limite-se a admirar sua inteligência, desenvoltura e sutileza.
Mas no que se baseia essas violências como o revenge porn e o slut shaming? O poder sobre a feminilidade e o aprisionamento das mulheres num sistema patriarcal e autoritário. Tenha outros parâmetros para contextualizar esse argumento.
Fonte: https://goo.gl/MfBLSg
Você sabia que é muito comum a prática da circuncisão feminina em comunidades de países no Norte da África e no Oriente Médio. Objetivo? Condicionar a liberdade sexual das mulheres até o casamento. O assunto é grave, de acordo com a ONU, em estatísticas divulgadas em 6 de fevereiro, no Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, até 2030 serão 86 milhões mutiladas.
Ninguém deve se sentir envergonhado por sentir desejo, fazemos escolhas e este é o nosso poder, não pertencemos a ninguém, pertencemos às nossas convicções. Se relacionar com alguém não é condição para viverem eternamente juntos, tampouco, manter contato íntimo com uma pessoa não confere a ela poder e posse sob o outro, portanto, não existe razão para se vingar ou sentir ódio.
O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons. Martin Luther King
A série “13 Reasons Why” produto da Netflix, chegou recentemente ao Brasil e tem sido foco de muitas opiniões controversas. Trata-se da história de Hannah Backer, adolescente norte-americana, que comete suicídio após sofrer uma série de intimidações na escola que passa a frequentar, após sua família mudar de cidade em função dos negócios do pai.
Ao se matar, deixa com Tony, colega de escola, um conjunto de 13 (treze) fitas-cassete, cada uma dedicada a um dos responsáveis, segundo ela, pela sua decisão de se matar. O que representa essa atitude de Hannah? Crueldade? Morbidez? O que ela realmente está querendo dizer? Vingança, simplesmente? Chamar a atenção, como acreditam alguns dos envolvidos?
Fonte: http://zip.net/bctJhq
Quando não me sinto pertencente
Antes de tentar responder a todos esses questionamentos, vamos analisar aqui o que a história de Hannah nos conta. Em primeiro lugar, fala das dificuldades que muitos adolescentes encontram de pertencer em suas escolas – sejam eles novatos ou não. Por pertencer, queremos dizer ser aceitos e respeitados em suas particularidades, em suas diferenças e se sentirem valor em seu espaço de convivência, a escola.
Fonte: http://zip.net/bbtJfP
Em paralelo à história da protagonista, correm as de Jessica e Alex, novatos como ela, que se submetem – mesmo em desacordo, na maioria das vezes – aos populares da escola e por isso acabam se afastando de Hannah e a de Courtney, a garota com fama de boazinha, reprimida na expressão de sua opção sexual, entre outras razões, por ser filha de um casal homossexual. Ainda há a história de Clay, o amigo mais próximo da protagonista, o espectador, que já havia vivido os seus dias de alvo anteriormente.
O Bullying e Cyberbullying
O segundo ponto abordado pelo seriado é sem dúvida o Bullying/Cyberbullying, contato da perspectiva de quem o sofre, o alvo. Seu sofrimento relatado nas treze fitas provoca diferentes repercussões em quem o pratica – os autores – bem como em quem assiste, os espectadores. Evidencia aqui que, numa situação de bullying, todos sofrem – alvos, autores e espectadores.
Além disso, chama a atenção para dois outros pontos presentes sempre que situações de intimidação sistemática acontecem: o fato de ocorrer longe dos olhos das autoridades e a importância do olhar atento aos sinais de quem educam – a família e a escola.
Assim, o seriado define claramente o que entendemos por bullying, as características dos personagens envolvidos em tal fenômeno, bem como a sua inter-relação. Comecemos pela definição, e aqui optaremos pela de Dan Olweus, da Universidade de Bergem (Noruega), por ter sido ele o primeiro pesquisador a chegar a uma definição precisa deste tipo de violência, diferenciando-a das brincadeiras comuns entre pares e incidentes pessoais.
Diz o autor que um aluno torna-se alvo de bullying quando sofre ações agressivas, repetidas e intencionais ao longo do tempo, praticada por um ou mais alunos, causando um sofrimento constante, caracterizado por angústia e dor. Aponta ainda para a existência de uma relação desigual de poder, já que “[…] o (a) aluno (a) exposto (a) às ações negativas tem dificuldades para defender-se” (OLWEUS, 1993, p.139).
Fonte: http://zip.net/bptJ2H
Certamente identificamos Hannah (Alex, Jessica, Courtney, Clay e tantos outros da ficção ou reais) nesta definição, não? A tais características somam-se a presença das testemunhas, notórias na ficção aqui descrita, e o fato de que essa violência ocorre entre pares, ou seja, neste caso, entre alunos.
Passemos agora aos personagens envolvidos em uma situação de bullying e aqui, Hannah será nosso foco inicial. Começaremos então a falar do alvo de bullying, que caracterizado como frágil, se vê com tão pouco valor, a ponto de acreditar que mereça ser provocado, diminuído, não tendo força para reagir (TOGNETTA, 2013). Fala-se ainda de indefensibilidade própria e pessoal (AVILES, 2006) na medida em que não dispõe de ferramentas psicológicas de defesa para afrontar o maltrato.
No episódio 6, uma reflexão de Hannah traduz o que foi dito anteriormente: “Não pude me mover, não pude levantar ou ir embora ou gritar. Qualquer coisa teria sido melhor que sentar lá, pensando que de algum modo tinha sido minha culpa. Pensando que ficaria sozinha para sempre.” O alvo nem sempre é tímido, calado e sensível e acaba reagindo de forma a irritar ou a provocar ainda mais os seus algozes, caracterizando um perfil que vem sendo denominado de vítima provocadora (TOGNETTA, 2013; AVILES, 2013).
Seria Hannah uma vítima provocadora? Acreditamos que não era o seu perfil. Ela era uma garota frágil, que foi aceitando todas as provocações que foram lhe sendo feitas, como se não se importasse com elas – e como se as merecesse – muito mais por não saber o que fazer e ver fracassar todos os seus pedidos de socorro, vendo no suicídio a única saída para o seu sofrimento.
Fonte: http://zip.net/brtJmQ
O que ela faz ao gravar as fitas além de buscar responsabilizar cada um dos envolvidos em sua história, é uma tentativa de sensibilizá-los com a sua dor, para que talvez eles mesmos pudessem enfrentar as suas próprias, já que todos, de uma forma ou de outra também as tinham e buscavam, na intimidação, uma forma de lidar consigo mesmos.
Falemos então do autor – ou dos autores – de bullying. No seriado, representado por Alex, Jessica, Justin e principalmente por Bryce. Unidos na intimidação que fazem a Hannah, a protagonista, muitos deles já foram alvos de violência daqueles com os quais se associaram, como forma de se protegerem de suas próprias fragilidades e da exposição delas pelos demais.
Assim, a caracterização dos autores de bullying apontados pelas pesquisas (TOGNETTA, 2010; TOGNETTA & VINHA, 2013; TOGNETTA & ROSÁRIO, 2012) fica claramente retratada no seriado, ou seja, o autor de bullying tem uma hierarquia de valor invertida, prevalecendo os valores individuais (valentia, intimidação, etc.) sobre os morais (humildade, justiça, etc.). Além disso, carecem de sensibilidade moral, ou seja, a capacidade de se sensibilizar com a dor do outro.
Certamente, o próprio funcionamento do “High School” americano favoreceria a prevalência dos valores não morais – força, beleza, rendimento esportivo… Clay, um dos expectadores, no episódio 13 (treze) aponta: “Acho que em nossa sociedade os valores estão invertidos”, quando Bryce é ovacionado ao chegar a escola, após seu desempenho em uma partida e todos sabiam o quanto ele era responsável pelas intimidações e outras formas de violência que ocorreram na escola.
Para completar a tríade envolvida nas situações de bullying, não podíamos deixar de falar dos expectadores, representados aqui por Clay, mas também pelos demais personagens envolvidos na trama quando não estavam à frente das intimidações. Como se viu no último episódio, nenhum dos envolvidos estava indiferente ao que acontecia com Hannah, ou seja, todos haviam presenciado – e executado – algum tipo de constrangimento sofrido pela protagonista.
A teoria mostra que grande parte dos que contemplam seus colegas sendo maltratados acredita que o que está acontecendo não lhes diz respeito, que é um assunto entre o autor e o alvo, e que eles devem resolvê-lo. Estes são os chamados espectadores indiferentes (AVILÉS, 2013). Entretanto, muitos deles acreditam que deveriam fazer algo, mas não o fazem porque não sabem exatamente como ajudar, ou ainda temem ser os próximos alvos – aqui podemos encaixar principalmente Clay, que ao longo dos 13 (treze) episódios vai tomando consciência de que a máxima “Não fazer nada já é fazer alguma coisa” se aplica a situações de bullying.
Fonte: http://zip.net/bvtJPj
Salmivalli et al (1996) realizaram estudos em que nomearam os espectadores de acordo com o seu posicionamento na situação de bullying que presenciam. Desta forma, nomeou-se assistentes e reforçadores aqueles que se juntam aos autores (idealizadores dos maus tratos) e fornecem um feedback positivo para as intimidações (por exemplo, rindo, aplaudindo, ou apenas dando audiência) – no seriado, todos os demais autores quando não estavam envolvidos diretamente na agressão.
Podem ser também espectadores propriamente ditos, os que ficam afastados das situações de bullying, como no caso da participação de Clay, na maioria das situações. Finalmente, os defensores, aqueles que tomam partido das vítimas, consolando e apoiando-as.
O papel da educação – a família
Além de caracterizar a situação de bullying, o seriado traz pelo menos mais um ponto extremamente importante de reflexão: o papel daqueles responsáveis pela educação, nas figuras da família de cada um dos envolvidos e da escola, representados pelos professores, o diretor e mais especificamente, o orientador.
Comecemos pelo papel da família e depois da escola, ambas envolvidas e complementares na tarefa de educar. É sabido que a família tem papel importante no fortalecimento de meninos e meninas para não serem vítimas e/ou agressores de bullying. Para tanto, a educação que recebem deve direcionar crianças e jovens a admirar valores morais tão desejáveis como o respeito, a tolerância e a justiça e não o poder sobre o outro, ou a não aceitação da diferença.
Fonte: http://zip.net/bftJjP
Além disso, é primordial que a relação dentro da família seja pautada na confiança e desenvolvida através do diálogo. Agrega-se a esses fatores o olhar atento dos pais às mudanças de comportamento de seus filhos, tais como isolamento, irritação, agressividade, resistência a ir à escola, poucos amigos, entre outros.
No desenrolar dos episódios é possível observar diferentes estilos de educação parental, do negligente – notadamente a família de Bryce, sempre viajando, completamente ausente da vida do filho; passando pelo permissivo – em que o afeto é valorizado, mas pouquíssimas regras são colocadas (aqui podemos pensar em Courtney e porque não em Hannah e Clay); alguns exemplos do estilo mais autoritário, como Alex e Jessica e finalmente, a busca por uma modelo autoritativo, [1]especialmente pelos pais de Clay que vão alterando a forma de relacionamento com o filho. Contudo, seria a família a única responsável por essa formação do sujeito?
O papel da educação – a escola
A resposta à pergunta anterior de que a família seria a única responsável pela formação humana de crianças e jovens ainda parece ecoar em nossos ouvidos – não é possível mais acreditar que seja verdadeira essa resposta. Savater (2005), filósofo espanhol contemporâneo, afirma que a família e a escola têm papéis complementares na formação do indivíduo, ressaltando ainda que se houver falha na primeira – no âmbito da família – não significa que a segunda – de responsabilidade da escola – não terá êxito.
Passemos então a tratar da escola: o que cabe a ela? Além dos conteúdos das diferentes disciplinas descritas no currículo da escola, à essa instituição de educação cabe também o cuidado com as relações interpessoais, para além das campanhas puramente informativas.
Fonte: http://zip.net/bbtJfS
Na série, o posicionamento da escola, em relação à formação mais global dos alunos, acontecia sempre após um incidente em que esses estivessem envolvidos. Foi assim após a morte de Jeff, que a escola avaliou ser por embriaguez e no dia seguinte espalhou cartazes orientando a não beber e dirigir e após a morte de Hannah, quando a escola ateve-se à questão do suicídio, orientando, novamente através de cartazes, os jovens a procurar ajuda, além de promover uma palestra aos pais sobre o tema.
Nessa, quando o tema bullying é levantado por alguns dos presentes, ele é negado pelo diretor, até que a mãe de Hannah Baker entra na reunião e evidencia um problema até então não visto pela escola: o desrespeito que permeava a relação entre os alunos da instituição, pelos registros ofensivos nas paredes do banheiro.
Certamente, a escola é um espaço público, é a instituição em que o indivíduo irá aprender a viver em sociedade, o que possibilitará ao sujeito “o reconhecimento do outro e a busca por coordenar perspectivas distintas, administrar conflitos de uma maneira dialógica e justa, estabelecer relações e perceber a necessidade das regras para se viver bem” (VINHA & TOGNETTA, 2013, p. 4).
Fonte: http://zip.net/bltHSy
As cenas marcadas pelo desrespeito que foram o foco da trama revelaram que as relações entre os alunos eram pautadas no individualismo e na competitividade. O outro, que não fosse considerado amigo, era visto, na melhor das hipóteses, com indiferença e, na pior delas, com inimigo e por isso passível de ofensas, intimidações e outras tantas formas de desrespeito. A forma com a escola lidava com os conflitos interpessoais só reforçava esse panorama.
Indubitavelmente já sabemos muito a esse respeito: a perspectiva construtivista, que tem em Piaget uma das suas mais fortes referências teóricas, considera os conflitos interpessoais como uma possibilidade de aprendizagem e fundamentais para o trabalho com valores e regras. Assim, as intervenções pautadas no diálogo têm como finalidade maior, auxiliar os envolvidos a reconhecer os pontos de vista dos outros e a resolver seus problemas de forma mais assertiva (YOON et al., 2011).
Ao falarmos tomamos consciência de nossos atos e os elaboramos. Aquilo que vira palavra é passível de intervenção, de mudança. Nada disso ocorria na escola de Hannah. Os alunos não eram ouvidos – e quando o eram, de forma superficial – e os conflitos resolvidos de forma punitiva, sem reflexão. É evidente que em um contexto em que falta a intervenção ou o olhar cuidadoso daqueles que educam a intensidade das agressões tende a aumentar (YOON et al., 2011).
Fonte: http://zip.net/bbtJfX
Numa escola em que a convivência ética fosse um valor (COWIE, 2005), certamente o sofrimento de Hannah não passaria despercebido, fosse ele produto das relações estabelecidas, fosse ele fruto de um estado depressivo, ou uma combinação dos dois. Sabemos que o suicídio destacado na série evidencia também uma espécie de eufemismo moderno que torna o suicida, um herói. Desvencilhar –se dessa ideia seria então possível no mundo adolescente de hoje?
É possível quando se tem um clima de “pertencimento” na família e na escola cujos espaços de diálogo assegurem a certeza de que o jovem que tanto deseja ser valor, realmente o seja podendo dizer o que pensa, tendo espaços para expressar o que sente. Isso posto, há evidências deste feito na literatura: quando os relatos são desacreditados ou minimizados pelos adultos que não intervêm, há um aumento da sensação de desamparo nas vítimas (CRAIG et al., 2011).
Em resposta às primeiras perguntas
O que representa essa atitude de Hannah? Crueldade? Morbidez? O que ela realmente está querendo dizer? Vingança, simplesmente? Chamar a atenção, como acreditam alguns dos envolvidos?
As respostas a esse conjunto de perguntas devem ter sido percebidas pelo leitor ao longo do texto quando caracterizamos os pontos envolvidos na trama pós-moderna que confunde pais e professores se devem ou não permitir que seus filhos ou alunos a assistam.
Em outras palavras: a série gera uma crise. E a cada crise, um desequilíbrio cuja volta ao equilíbrio é um desejo. Equilibrar-se novamente, nesse sentido, é fazer valer a ideia de que os alertas estão dados; resta-nos a esperança de que pais e professores possam, pelo estudo e pelo diálogo, se inteirar sobre as novas perspectivas que existem. E a questão da convivência e como fazer com que ela seja ética na escola e fora dela, de uma vez por todas, ser repensada também em nossos cursos de licenciaturas.
Fonte: http://zip.net/bttJ4b
REFERÊNCIAS:
AVILÉS, J. M. (2013) Bullying: Guia para educadores. Campinas (SP): Mercado das Letras.
COWIE, H. “El problema de la violencia escolar: trabajando las relaciones”. In: Sanmartín, J. (Coord.) Violencia y escuela.. Valencia: Centro Reina Sofía para el estudio de la violencia. pp. 183-187, 2005.
CRAIG, K., BELL, D., & LESCHIED, A. (2011). Pre-service teachers’ knowledge and attitudes regarding school-based bullying. Canadian Journal of Education, 34(2), 21-33.
OLWEUS, D. Bullying at school: what we know and what we can do. Blackwell: Oxford, 1993.
SAVATER, F. O valor de educar. São Paulo: Planeta do Brasil, 2005.
TOGNETTA, L. R. P. (2010) Bullying e intervenção no Brasil: um problema ainda sem solução In: Actas do 8º. Congresso Nacional de Psicologia da Saúde: Saúde, Sexualidade e gênero. ISPA – Instituto Universitário. Lisboa, Portugal. Anais eletrônicos. ISBN 978-972-8400-97-2
TOGNETTA, L.R.P.; VINHA, T. Reconhecimento de situações de bullying por gestores brasileiros e as intervenções proporcionadas. In: LINARES, J. J. G. et al. Investigación en el ámbito escolar: un acercamiento multidimensional a las variables psicológicas y educacionales. Almeria/Espanha: Editorial GEU, p. 227-232, 2013.
TOGNETTA, L.R.P.; ROSÁRIO, P. Bullying: dimensões psicológicas no desenvolvimento moral. Revista Estudos em Avaliação Educacional, 24(56), 106-137, 2013.
YOON, J., BAUMAN, S., CHOI, T., & HUTCHINSON, A. S. (2011). How South Korean teachers handle an incident of school bullying. School Psychology International, 32(3), 312-329. doi: 10.1177/0143034311402311
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Má indole na juventude: a formação do ego e as consequências
A Associação Brasileira de Psicopedagogia defende a importância das brincadeiras para um melhor desenvolvimento social e psicológico da criança. Porém mentir, roubar e matar são ações cada vez mais presentes na infância. Deve-se a isso o excesso de exposição a situações que podem comprometer a formação da índole do ser humano. É o que diz o psicopedagogo Augusto César Baratta – psicólogo, especialista em Terapia de Grupos: Drogas / Bullying, Sexualidade e transtornos.
Dr. Augusto César Baratta (Foto: Walter Riedlinger)
(En)Cena – Como é composta a índole infantil?
Dr. Augusto César – A índole infantil é a formação do ego mais as experiências dela. É claro que uma criança que nasce num assentamento, sendo subjulgada, ela não vai ter a mesma formação do caráter, o lado social. A índole dela já é reflexo do medo, da rejeição familiar, da primeira infância, a falta do afeto do grupo familiar. Isso vai levando-a a viver com a má indole, socialmente. Para si, ela não é má. É um instinto de defesa.
(En)Cena –Com que idade isso começa a se manifestar?
Dr. Augusto César – Aos 3 anos de idade, podemos ver o instinto da criança. Ela já começa a querer dominar o espaço dela. Você dá o brinquedo e ela brinca até quebrar. Ela não sabe responder, apenas rejeita coisas que não são agradáveis. A socialização vai ajudá-la a controlar esse instinto. Essa agressividade pode ser temporaria ou não. Se a família começar a ter o amor, ensinando a se socializar, ela consegue controlar o instinto.
(En)Cena – Esta fase pode, de alguma forma, definir o comportamento da criança no futuro?
Dr. Augusto César – Estará sempre presente, acompanhá-la durante a vida toda. Mas a socialização pode controlar isso. Com autocontrole, ela consegue viver normalmente, porém pode ser agressiva de repente. E isso tem tudo a ver com aquela rejeição e desafeto da infância.
(En)Cena – Qual a responsabilidade dos pais neste processo?
Dr. Augusto César – Os pais, muitas vezes, zelam demais. O excesso de afeto cria a facilidade da criança ter o que quer. Se zelar demais, no dia em que tiver alguma barreira, ela não vai aceitar, porque não está preparada para o “não”. Há pessoas que me perguntam: Os pais são maravilhosos, a vida é maravilhosa, então porque aquela criança não se tornou uma boa pessoa? Porque nunca teve dificuldade na vida, não teve noção de mundo, nem viu os limites do querer.
(En)Cena – Sabendo que o jovem pode ter momentos de descontrole, como podemos definir ações como bullying, muito presente nas escolas e outros círculos sociais?
Dr. Augusto César – O bullying é a índole de agressividade. Os amigos que estão assistindo o rapaz praticar o bullying até acha o máximo, mas depois vai ver que aquilo é horrível. O bullying se divide entre agressor, vítima e ouvinte. O agressor é aquele que comete o ato, a vítima é o que acometido pela agressor e o ouvinte são os cúmplices do ato, aqueles que apoiam o agressor. Os ouvintes apoiam até para não se tornarem vítimas. O bullying foi potencializado pelas redes sociais, o qual chamamos de cyberbullying, porque na internet o jovem perdeu a noção de espaço, não sente o mesmo pudor.
(En)Cena – Como explicar, clinicamente, a má formação da índole?
Dr. Augusto César – A má índole se desenvolve como uma fobia de não conseguir o que quero, não ser reconhecido como espero. O traficante quer o que? Demonstrar o poder dele para e na comunidade, até para se sentir protegido. Ter o reconhecimento que não teve na infância.
(En)Cena – A má índole pode ser camuflada de alguma forma pelo indivíduo?
Dr. Augusto César – A criança pode passar a vida inteira sem demonstrar o transtorno de conduta. O que é transtorno de conduta? É a falta de noção de limite entre os seres. Na ficção vemos muito isso. Inclusive, os filmes de ficção podem, sim, influenciar nas decisões do ser humano afetado pelo transtorno.
(En)Cena – Pode citar um exemplo?
Dr. Augusto César – O caso de Realengo, no Rio de Janeiro, é bem forte. Parece-me que ele se se baseou em um filme sobre terrorismo (“Nova Iorque sitiada”). O assassino se dizia mulçulmano, que era de uma seita, ou seja, se passou por um personagem, porque ficou provado que não era. Aí já temos um certo desvio de conduta.
Wellington Menezes de Oliveira, o assassino de Realengo (Divulgação: Polícia Civil – RJ)