Como envenenar psiquicamente um povo no filme “Os Demônios”

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“Caça às bruxas”, às “apostasias” e “exorcismos” eram meros álibis para ocultar perante o povo os interesses políticos da Igreja que direcionavam o xadrez político das monarquias absolutistas.

Fonte: encurtador.com.br/vzAQ2

“Os Demônios” (“The Devils”), de Ken Russel, é um filme tão blasfemo, obsceno e relevante hoje quanto foi em 1971. Um terror religioso épico e uma contundente crítica do abuso do poder político. Um filme sobre fatos históricos ocorrido no século XVII (um padre condenado à fogueira acusado de bruxaria), filmado no século XX, mas que continua atual no século XXI: os tribunais eclesiásticos da Inquisição foram muito mais do que produtos do fanatismo religioso. Foram instrumentos de “lawfare” para a dominação política da Igreja. Em “Os Demônios” a Inquisição é um instrumento de uma estratégia mais ampla que hoje chamamos de “Guerra Híbrida”: como envenenar psiquicamente uma cidade através da sua maior vulnerabilidade: um Convento de freiras dominadas pela histeria de massa é o pretexto para derrubar a liderança do padre Urbain Grandier, opositor à monarquia absolutista de Luís XIII e do Cardeal Richelieu.

Concebemos a Inquisição e a caça às bruxas na Idade Média como um fruto da ignorância e do fanatismo religioso. Até onde o obscurantismo religioso pode levar o homem à intolerância, guerras e violência.

Mas pouco se fala de como os tribunais eclesiásticos instituídos pela Igreja Católica a partir do século XIII foram deliberados instrumentos de lawfare– manobras jurídico-legais como substituto da guerra convencional visando objetivos políticos. O objetivo era combater a heresia religiosa – movimentos que na verdade foram reações à crescente corrupção moral do clero e a posse de riqueza extrema.

“Caça às bruxas”, às “apostasias” e “exorcismos” eram meros álibis para ocultar perante o povo os interesses políticos da Igreja que direcionavam o xadrez político das monarquias absolutistas. “Cuspir na cruz”, “blasfêmia”, “ações homossexuais”, “beijo indecente” entre outras figuras acusatórias nada mais eram do que instrumentos de lawfare: sob tortura, fazer o acusado confessar todas as acusações para justificar ações militares.

“Os Demônios” nos anos 1970

Baseado na história verídica de Urbain Grandier, padre católico que foi executado em 1634, sob acusações de bruxaria, o diretor Ken Russel produziu Os Demônios adaptado de uma peça de teatro de 1960 de John Whiting e do livro de Aldoux Huxley, “Os Demônios de Loudun”.

Com uma forte marca da revolução sexual dos anos 1970, o filme mistura iconografia religiosa com suntuosas imagens de orgias e profanação ultrajante de símbolos católicos, o que despertou a ira de grupos religiosos na época e a proibição da exibição em diversos países. Mesmo com a imposição da Warner Bros. de uma série de cortes como, por exemplo, na sequência do “estupro” de uma estátua de Jesus Cristo.

Para finalmente o filme ser esquecido com o sucesso do lançamento no mesmo ano de Laranja Mecânica, de Kubrick, pelo mesmo estúdio da Warner Bros.

Os Demônios foi promovido na época como um “terror religioso” (cuja violência gráfica e iconografia influenciaram filmes como O Exorcista), mas é um filme que dá a exata dimensão política dos atos de inquisição da Igreja: como o Cardeal Richelieu, primeiro ministro de Luis XIII, utilizou-se dos tribunais eclesiásticos para arquitetar o absolutismo na França e da liderança do país na Europa. E o seu alvo era a cidade progressista de Loudun, onde protestantes e católicos viviam em harmonia. Bem diferentes dos planos de Richelieu, que liderava uma sanguinária perseguição de protestantes como bode expiatório para a consolidação de um governo absolutista baseado a na aliança da Igreja e do Estado.

Fonte: encurtador.com.br/epvzS

Sob um discurso nacionalista, o cardeal pretendia botar abaixo o muro que cercava a cidade, cuja força era a liderança política e espiritual do padre Grandier. Por isso, ao invés de armas e soldados, Richelieu optou por aquilo que hoje chamaríamos de “guerra híbrida” – aproveitar-se dos pontos fracos daquela província (intrigas, luxúria, avareza, sacrilégios, medo e ganância) para envenenar psiquicamente o povo. E, finalmente, conseguir impor um tribunal da Inquisição na cidade para executar seu principal líder: Urbain Grandier.

Ao lado do massacre dos gnósticos Cátaros, no século XII no sul da França, a morte de Grandier na fogueira foi uma das ações políticas mais infames da História.

O Filme

O filme é estrelado por Oliver Reed como o padre Grandier, com o típico sex appeal dos anos 1970 – espessa cabeleira e um farto bigode. Sua beleza e eloquência nos discursos inspira admiração em todas as jovens da cidade. Mas principalmente as jovens freira no claustro do Convento Ursuline e, em particular, a líder: a corcunda irmã Jeanne (Vanessa Redgrave). Ela alimenta eróticas fantasias com o padre, enquanto se masturba secretamente pelos cantos. Corroída pelo complexo da sua deformação física, culpa e luxúria.

Porém, essa mistura de poder e sedução inebria Grandier que peca principalmente pela falta de cautela: engravida a filha de um administrador da cidade, enquanto expulsa dois “médicos” com seus métodos primitivos para combater a peste negra que assola a região – além de hemorragias controladas, também picadas de vespas nas feridas dos doentes agonizantes.

Fonte: encurtador.com.br/puQVX

Logo nas cenas iniciais, Os Demônios dá uma amostra o tom de loucura que Ken Russel dará à narrativa: o rei Luís XIII (Graham Armitage) entra em um palco como uma Vênus de Milo travesti, enquanto o Cardeal Richelieu (Christopher Logue) boceja entediado na plateia. Para mais tarde, o mesmo Luís XIII, desta vez com um enorme e cômico chapéu cowboy branco, fazer tiro ao alvo, no jardim do Palácio, com hereges protestantes fantasiados de pássaros negros – “bye, bye blackbird!”, gargalha o rei enquanto acerta mortalmente mais um “herege” …

A loucura se estende ao Convento de Ursuline, decorado inteiramente em um branco modernista que lembra tanto a estética dos filmes de Kubrick, quanto a atmosfera de um hospital psiquiátrico.

Irmã Jeanne é possuída por ciúme raivoso ao descobrir que Grandier está apaixonado e se casa com a jovem Madeleine (Gemma Jones), uma das candidatas a se tornar mais uma freira do Convento.

Esse será o ponto fraco que será explorado pelo Barão De Laubardemont (Dudley Sutton), enviado pelo Cardeal para dar o golpe político em Grandier: a cada vez mais explícita lascívia e ciúmes de Irmã Jeanne será a evidência de possessão demoníaca – ela acusará Padre Grandier de bruxaria. Não demorará muito para uma histeria coletiva dominar o Convento e todas as freiras acusarem o padre, enquanto (atiçado pelo Barão) o Convento torna-se uma imensa orgia de profanação de estátuas, crucifixos e velas.

Fonte: encurtador.com.br/BILMV

O veneno e o golpe

Aliada à peste negra, o medo da bruxaria envenena psiquicamente toda a cidade. Para finalmente justificar a instauração de um tribunal eclesiástico, cuja missão de exorcismo (liderado por Padre Barre – Michael Gothard -, que mais parece um ator perdido do elenco do filme hippie Hair) é apenas o pretexto para finalmente derrubar os muros da cidade.

Em desespero, Padre Grandier alerta que será o fim da liberdade e da convivência pacífica entre protestantes e católicos. Enlouquecida pela atmosfera de caça às bruxas, o povo pouco se importa: quer apenas a justiça e a fogueira.

Fonte: encurtador.com.br/jKLPV

É assustadora a atualidade do golpe político vivido pela cidade de Loudun no século XVII. A Igreja já tinha inovado a propaganda política ao explorar as imagens, tanto nas catedrais (afrescos, estátuas e vitrais) como na arte (o Barroco) como forma de dominação das massas – que a Publicidade no século XX sofisticaria com os meios de comunicação eletrônicos.

Mas a Inquisição foi mais uma estratégia visionária de dominação política da Igreja. Sem exércitos ou guerras, criar uma sofisticada máquina de lawfarepara criar uma rede de confissões e delações alimentada pelo medo de hereges, demônios e bruxos.

Hoje, lawfare é mais uma etapa do que se define como “Guerra Híbrida”: como envenenar psiquicamente uma nação até leva-la à autodestruição.

FICHA TÉCNICA

Os Demônios

Título original: Les Démons
Direção: Ken Russel
Elenco: Vanessa Redgrave, Oliver Reed, Dudley Sutton, Michael Ghotard, Gemma Jones, Graham Armitage
Ano: 1971
País: Drama
Gênero: Drama/Thriller
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Uma anatomia da cura

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Conselhos de qualquer forma são uma espécie de nostalgia para tentar resgatar o passado. Não digo que deverá seguir de maneira completa os métodos que eu cultivei para me ajudar, ainda não estou curado, porém mantenho a esperança de um dia poder ser como outra pessoa qualquer. A grande chave para iniciar é a paciência e mantenha em mente que esperança é realmente a única coisa que o fará respirar a noite.

Minha vida, após os acontecimentos se acalmou. Fiz de tudo para reduzir o estresse do dia a dia, me afastei por um pequeno período do trabalho e foquei em artes, hoje levo uma vida basicamente normal. Saio com meus amigos nos finais de semana, jogo, me divirto, mas sempre respeitando meus limites e nunca exagerando.

Cortei quase toda a medicação,

ainda tomo os antidepressivos e frequento meu médico

periodicamente para uma nova análise.

Consigo respirar, consigo produzir.

As coisas ainda permanecem em maior parte do tempo confusas. Então veja bem, releia meus textos, me escreva… Sempre haverá uma saída, sempre haverá alguém que passa o que você passa. Não estamos sós. E nunca estaremos.

É difícil entender isso quando se está em crise, e quando ela acaba parece que foi há milhões de anos, isso difere a mania do estado depressivo.

Não consegui resgatar a minha frustração e obviamente

aceitei os novos caminhos que frutificaram em minha frente.

Estava vivendo como uma pessoa aparentemente normal.

E no final temos todos um demônio em fuga.

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Uma anatomia da depressão

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A minha terapia cognitiva comportamental não deu os frutos que eu esperava. Novamente me abasteci de raiva de todas as terapias, e decidi que sozinho iria encontrar um modo me livrar, ou no mínimo acalmar, aquela doença.

De fato não havia um modo de se livrar, eu teria que aprender a viver com isso. A depressão é uma doença como outra qualquer, deve ser tratada e controlada. Eu teria que aprender a respeitar meus limites, respeitar meu corpo e mais do que qualquer um, eu teria que ter paciência comigo mesmo. No estado depressivo encontramos uma angustia grande, seguida da ansiedade por não conseguirmos melhorar logo, fazendo uma hora em crise depressiva parecer durar por anos.

Minha vida foi se estabelecendo devagar novamente, eu aprendi a me socializar mais e logo quando há uma melhora a sensação é tão boa e agradável que faz parecer que o estado depressivo havia acabado há muito tempo que você já nem se lembra mais.

Foram tantas horas sentado no chuveiro a noite, sentido dores imaginarias e agora, tudo estava bem. Para atingir essa ponderação, a primeira coisa é aprender a se equilibrar, admitir a doença e como já disse, seu limite.

Comecei a me exercitar a princípio, diferente das outras pessoas, a satisfação do exercício aeróbico não era constante em mim, mas felizmente a autoestima sempre ganha pontos com exercícios.

Reparei que sensação de prazer é mais comum é pessoas com depressão leve e nenhuma depressão, não entendi o porquê em pessoas com depressão severa os resultados permaneciam insatisfatórios.

Mas nada que o outro efeito da autoestima não possa dar uma ajudada, ver sua barriga judiada pelos sais de lítio que reteve água por anos desaparecendo aos poucos, ajuda qualquer um.

O primeiro método prático que me aliviou sem sombra de dúvidas foi este citado acima, não da maneira como eu achei que fosse, mas com seus outros efeitos. Posteriormente a alimentação saudável.

Substitui todo alimento cheio de condimentos, carnes pesadas, massas e refrigerantes por uma alimentação mais saudável e de resposta rápida, como castanhas-do-pará que são ricas em selênio, iogurte desnatado que é uma ótima fonte de cálcio que combate a tensão, abacate que reduz a ansiedade, além de ser fonte de vitamina B6.

Obviamente, a minha nova dieta não se baseia só nisso, são apenas exemplos que em 15 dias se mostraram bem mais promissores.

Reduzi o uso de bebida alcoólica, não por completo, mas o suficiente para não obter o famoso “dia azul”, que vem de maneira esperada após o uso excessivo de álcool, onde o sistema nervoso central é gravemente abalado deixando o indivíduo em estado depressivo.

Em alguns meses, eu já conseguia sair de casa ao ponto que não me sentia mais aflito e fosse atacado por uma onda de sudorese proporcionada pelo pânico. Isso antes já havia me prejudicado de maneira indescritível, ao ponto que dar uma volta no centro da minha pequena cidade, se transformasse em uma tarefa árdua e aterradora.

Sempre mantendo em mente que eu deveria “respeitar meus limites”.

Fonte: Google Imagens

Passei a evitar situações onde haviam muita tensão, parei de advogar e fui trabalhar com minha mãe, era bem mais calmo e ela sempre respeitava minha indisposição não pressionando para que eu realizasse algo contra minha vontade, porém eu temia que isso virasse vício, o que ainda bem, não ocorreu.

Sair da cama é uma tarefa gigante na depressão, voltar ao trabalho é digno de troféu, eu estava criando satisfação em coisas pequenas.

O próximo método impulsionador veio de noites de reflexão e consiste em três coisas, três exercícios que desenvolvi para me controlar (não por completo): meditação, aceitação e o exercício da terceira pessoa.

A meditação se demonstra muito promissora na depressão, quando digo meditar não me refiro ao significado literal que remete a monges budistas, mas sim a simples orações, podendo ser de maneira religiosa ou não, falar com si mesmo é um trabalho espetacular. Quem melhor do que nós mesmos para nos entender? Eu particularmente não conheço ninguém que tenha algum problema e não precise conversar, mas quando o fazemos, jogamos para a outra pessoa avaliar ou julgar nossos obstáculos, gerando um vínculo vicioso de pressão. Então fale com você mesmo, sente-se, pense no que você gostaria de estar fazendo, pense na sua vida, pense no mundo ao seu redor se movimentando e em como nossos problemas são realmente tão pequenos para dedicarmos tanto tempo a eles.

Encontrei em pequenas orações um certo alivio que não consigo de maneira clara ainda descrever.

A aceitação, é sem sombra de dúvida um passo complicado, a maior parte das infelicidades vem das frustrações, sejam elas corriqueira sou não. Não conseguimos atingir nossos objetivos e passamos a nos culpar por isso, as vezes nem tentamos novamente. Deixamos a mercê do destino nossa raiva. A frustração devora pessoas e caminhos. Se não conseguimos, nos julgamos, nos enterramos e pronto.

Arte: Kyle Thompson

Não digo que devemos aceitar as coisas ruins que nos acontecem, mas devemos nos aceitar, aceitar aquilo que somos e entender como funcionamos. O passo principal é aceitar mesmo a doença e a ajuda. Reconheça que você não é como as outras pessoas, e isso não é ruim, quase todas as grandes mentes brilhantes, artistas e cientistas, eram depressivos. Então aceite o que você é e utilize isso a seu favor.

O exercício da terceira pessoa foi de longe o que mais barrou meus impulsos ansiosos. Sempre vivi em estágios de ansiedade tão amplos que era impossível dormir à noite bem, sempre ficava imaginando o que aconteceria amanhã e sempre na expectativa de acontecer algo ruim. A mente ansiosa é dotada de uma imaginação fértil, especificamente se for para pensamentos inúteis e malévolos. Saber controlar é um desafio complicado.

Quando eu estava muito ansioso, não tolerava conversas inacabadas, por exemplo: você não podia chegar e dizer “Pablo, tenho algo para te dizer, te digo depois”.

Isso era sinônimo de “você não dormirá esta noite”.

Aposto que muita gente ao ler isso vai simpatizar por já ter passado por isso, e aposto também que esperavam algo ruim. Bem, isso é o lado imaginativo inútil e malévolo da mente ansiosa.

O exercício da terceira pessoa foi uma experiência onde eu me colocava sob a visão do mais próximo e tentava ver como a mesma pessoa me via. Se eu estava perto de algum amigo, e fosse tomado por um súbito anseio, eu imaginava como meu amigo viria tal situação se fosse com ele e como ele veria se realmente estivesse acontecendo comigo. Quando fazemos isso vemos que nossos problemas são pequenos e que são completamente coisas da nossa cabeça.

A maior parte das pessoas não ansiosas não levam para frente coisas pequenas assim, ver todos os seus problemas como uma terceira pessoa ajuda muito na ponderação e avaliação da realidade, o maior bem por trás disso é que isso é uma avaliação realizada por você mesmo, que anteriormente era incapaz de fazê-la.

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Demônio em Fuga: a luta continua

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Esse foi o texto mais demorado da minha vida. Protelado. Aquilo que deveria ter sido o grande final, não foi. Não há final. Não enquanto eu lutar.

No meu último texto, que francamente ficou horrível, eu estava sob o domínio da mania. Eu desdenhei e não fui humilde em relação a doença. Além disso, quis dar a impressão de vitória, talvez uma ideia de esperança. Não estou aqui para tirar toda fé. Pelo contrário, quero que você entenda, a simples frase que já citei acima e que citarei no final.

Foto: Brooke Shaden

Tive dois longos anos desde a última vez que escrevi para o Encena. Escrevi algo vergonhoso que não foi digno de ser publicado e mesmo assim foi.

Tive novos psiquiatras, novos diagnósticos e novas descobertas.

Minha vida saltou, deu pulos altos e mergulhos profundos e contraditórios. Bem, eu desisti de encontrar uma maneira de sair desse labirinto que a genética e a filosofia me colocaram. O que eu poderia dizer é que devemos resistir.

Hoje não tenho mais tantas crises como antes, levo uma vida saudável e aprendi muito com a doença. Aprendi a evitar gatilhos como álcool, emoções, impulsos e desespero.

Foto: Brooke Shaden

Hoje vivo apenas como o escitalopram que é um antidepressivo mais fraco e o aripiprazol, que é um excelente estabilizador de humor. Não bebo mais, mas ainda fumo muito – isso me ajuda a controlar a ansiedade.

Não tenho a vida que gostaria de ter e provavelmente nunca a terei. A depressão é um demônio em fuga, que devemos policiar sem questionar. Mantenho-me longe de tudo que seja estressor e qualquer ambiente que possa engatilhar uma crise. E sugiro que você, meu leitor, faça o mesmo.

                                  O que me salvou?

                                                            Como consegui lidar com isso?

                                                                                                Como aprendi a viver com isso?

Bem, aceitando a doença.

E aprendendo com ela. Aprendi que endorfina é um dos bens mais preciosos que nosso corpo pode produzir através de exercícios aeróbicos e por isso sugiro a todos pacientes depressivos que façam uma forcinha, mesmo que seja praticamente impossível sair da cama… Saia!

Vá dar uma corrida, caminhe 15 minutos e prossiga até que isso se torne horas de caminhada. Seu corpo irá agradecer muito.

Eu sou muito grato por tudo, sou grato pelo tempo que tenho vivido atualmente, mesmo com nossa medicina psiquiátrica estando tão longe de solucionar problemas, talvez eu tenha nascido 50 anos antes de poder ver algum progresso significativo para nossa doença química e filosófica ao passo que sou grato por não ter nascido 50 anos atrás, onde os tratamentos eram brutais e desleais.

Faça exercícios, nossos medicamentos atuais são cheios de efeitos colaterais e o mais temido deles é engordar e possivelmente você irá passar por isso ou no último caso emagrecer demais.

Mas faça-os!

Foto: Brooke Shaden

Os benefícios são incalculáveis. A endorfina liberada fará você se sentir pelo menos 80% melhor, falo por experiência própria.

Quando comecei a praticar exercícios era uma lamúria, sair de casa parecia um tormento, mas depois de mais ou menos 3 dias eu estava me encaixando e me sentia bem melhor com minha aparência e comigo mesmo.

Não desista de você. Hoje vivo bem e você também poderá viver, não se deixe aprisionar pelo ciclo vicioso da indústria farmacêutica, faça algo por você mesmo.

                                                          Resista! 

                                                                               Lute! 

                                                                                        E depois, lute com mais força!

Há uma saída para tudo. Pratico hoje muay thai, jiu jitsu, defesa pessoal e academia convencional. Viciei-me em mim mesmo e acredite, nada melhor que isso, nada melhor do que começar a sentir um amor incondicional por si mesmo.

Não se prenda.

Não seja devorado.

E acredite, todo meu relato foi verídico e minha luta continuará. Na depressão não há cura, apenas remissão e lembro todos que temos problemas de serotonina, noradrenalina e endorfina, precisaremos sempre de acompanhamento e tratamento, seja ele exótico como a eletroconvulsoterapia ou não.

Foto: Brooke Shaden

E acredite, todo meu relato foi verídico e minha luta continuará. Na depressão não há cura, apenas remissão e lembro todos que temos problemas de serotonina, noradrenalina e endorfina, precisaremos sempre de acompanhamento e tratamento, seja ele exótico como a eletroconvulsoterapia ou não.

Aceite bem sua doença e a trate com o devido respeito. Lembre-se que você é doente como qualquer outra pessoa – como um diabético que tomará insulina para o resto da vida -, você terá que se medicar e procurar ajuda de profissionais para terapia. Não há outra forma. Ou se há outras formas, ainda não as descobri. Sei que daríamos tudo para sermos normais, mas lembre-se de seus atributos que foram dados só a você e a mais ninguém. Você é capaz de resistir a coisas que ninguém imagina que exista. Você luta contra fantasmas que ninguém vê. Sente dores que ninguém pode curar.

E vê o mundo com magnifica beleza – digna de um escritor ultrarromântico -, quando melhora. O mundo é sua tela, seu livro, sua arte. Você é mais sensível que os demais e nem por isso, isto lhe torna mais fraco, lhe torna um sobrevivente, um ser forte capaz de suportar pesos que nenhum outro suportaria.

                                                                Acredite na remissão.

                                                                                                Acredite em si mesmo.

Sei que demorei para completar essa saga e não terminei ainda. Em um dia claro e menos confuso eu volto para contar sobre meus novos tratamentos, minhas novas experiências. Vocês terão mais notícias.

Aqui me despeço de todos e obrigado por terem acompanhado minha trajetória dolorida.

                                                                                                                                                                                        Abraços.

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