Pulmão de aço: superação e vontade de viver

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Vivendo em uma cama de hospital e com a necessidade de juntar suas memórias, Eliana começou a escrever e a fazer anotações em um diário através da boca.

Pulmão de aço, publicado em 2012 por Eliana Zaqui, configura uma trajetória real de vida no maior hospital do Brasil. O título do livro “Pulmão de Aço” faz menção à máquina em que Eliana foi colocada na madrugada em que chegou ao Hospital das Clínicas de São Paulo, quando tinha apenas 1 ano e 9 meses. O aparelho permite à pessoa respirar depois de ter perdido o controle muscular ou diafragmático através da exceção de pressão negativa sobre o corpo, expandindo a caixa torácica e forçando a entrada de ar. Vítima da poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, Eliana não obteve resultado no pulmão de aço, restando a ela ser ligada, através da traqueostomia, a um respirador artificial, aparelho que utiliza até os dias atuais.

Vivendo em uma cama de hospital e com a necessidade de juntar suas memórias, Eliana começou a escrever e a fazer anotações em um diário através da boca. Temos aqui resiliência, conquistas, perdas, momentos de dor, sofrimento, bondade, perseverança, coragem, determinação, fé e tantos sentimentos que permeiam a experiência de quem sobreviveu para contar. O primeiro momento do livro relata a chegada da família de Eliana ao Hospital das Clínicas de São Paulo, os pais assinam os documentos da internação e os médicos percebem a gravidade do caso.

Fonte: https://bit.ly/2RUVK4f

A partir desse momento, somos apresentados a este novo mundo. Nele, Eliana começa a descrever suas vivências. Seus pais se despedem levando a lembrança daquela menininha deitada em uma maca, de vestidinho e sapatos, sem esperança de que a menina que eles conheciam continuasse a existir. Sozinha, Eliana conhece a máquina pulmão de aço, uma criação de Philip Drinker, professor da Harvard University, nos Estados Unidos. É uma máquina que possibilita à pessoa respirar depois de ter perdido o controle muscular ou diafragmático. O paciente é posicionado no aparelho, que é parecido a um forno, ficando somente com a cabeça para fora. O pulmão de aço era considerado muito eficiente por reverter o quadro de insuficiência respiratória em quase 90% dos casos, mas não foi capaz de solucionar o caso de Eliana.

A pólio é uma doença infectocontagiosa aguda, causada por vírus e transmitida por meio do contato direto com secreções. O diagnóstico é feito a partir de um exame de fezes, mas em alguns casos, muitos raros, é necessário fazer outro tipo de exame para detectar. O invasor alcança a corrente sanguínea, podendo chegar até ao cérebro. Esse foi o caso da autora, destruindo os neurônios motores e provocando a paralisia. Com o avanço tecnológico, Paulo consegue vencer o isolamento e faz com que o mundo que ele tanto admirava viesse até ele, entrando em contato, virtualmente, com pessoas, como Ayrton Senna, que ele admirava, e até recebendo visitas.

O segundo momento do livro relata suas amizades e conquistas dentro do hospital e a integração de sete crianças vivenciando as mesmas dificuldades, desconforto, exclusão social e um olhar único entre eles que não se sentiam sozinhos pois tinham uns aos outros. Era a corrente de amor fraterno nascendo da dor. Tânia e Paulo eram os veteranos da UTI. Em meio ao caos explicavam as regras, apresentavam os doentes e funcionários para quem estavam chegando e gritavam por socorro quando algo estava errado com os outros pacientes.

Fonte: https://bit.ly/2Fukkrh

Tânia, era vaidosa e a única que recebia visitas regulares de familiares, mas mesmo com essas visitas ela se sentia excluída. Pedro Donizete, Pedrinho, Luciana e Anderson, unidos e padecendo juntos pelas graves deficiências, vivenciaram e presenciaram juntos diversos sentimentos e comportamentos. Com exceção de Anderson, que tinha o apoio e afeto dos familiares, os outros seis eram carentes de carinho e gostariam de ter uma figura adulta que lutasse em prol deles, e por esse sentimento não se concretizar eles sonhavam em fazer coisas sem depender de ninguém; sentiam vontade de andar, cuidar de si mesmos e não viver no leito do hospital. Na ausência do afeto familiar alguns funcionários foram o consolo no momento do choro, da solidão, da tristeza, sendo que os momentos de solidão e o sentimento de abandono incomodavam mais que a própria doença e seus desdobramentos.

Os moradores temporários recebiam alta, o que aumentava ainda mais o sentimento de angústia e de abandono para os moradores permanentes. Isso se tornava visível e cada separação ajudou os sete amigos a amadurecer rapidamente. A vida imobilizada pode ser difícil mas não impossível, e por trás da aparência frágil Eliana se tornou muito forte por dentro. Ao passar do tempo ela foi deixando de ser aquela menina e tornou- se mulher, com emoções acentuadas, necessidades afetivas etc.

Como todo desenvolvimento, ela começou a sentir necessidade de um feedback aos sentimentos que carregava. Mas, aos poucos foi perdendo as pessoas que amava e a maneira de lidar com as perdas foi aprendendo a escrever e, como ela mesmo diz, a chorar menos, a sentir menos pena de si mesma.

Fonte: https://s03.video.glbimg.com/x720/2028058.jpg

A moradia em um hospital era o seu lar; lá aprendeu e mesmo com o corpo paralisado, sua mente não se acomodou e em uma das suas falas Eliana relata que “se fisicamente não posso andar, em minha mente sou capaz de voar sem limites”. Mesmo com o corpo imóvel, ela desenvolveu habilidades cognitivas, aprendeu inglês, italiano, fez curso de história da arte e virou pintora. Pinta seus quadros com a boca, mostrando força de vontade e a possibilidade de desenvolvimento de repertórios que possibilitaram a felicidade no meio da dor e do sofrimento. Ela tinha tudo para desistir, mas decidiu viver tornando o livro motivacional e inspirador.

Em pulmão de aço, prevalece uma história de superação de vida. Apesar da presença de uma doença que ausentou membros importantes para seu desenvolvimento, Eliana sentiu a necessidade de aprender repertórios para lidar com situações árduas, crendo que na vida, não há limites nem barreiras para ser feliz.

FICHA TÉCNICA

Nome do livro: PULMÃO DE AÇO

Editora: Belaletra Editora

Gênero: Autoajuda

Autor:  Eliana Zagui

Ano de lançamento: 2009

Idioma: Português

Ano: 2012

Páginas: 240

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HACKATHON: “SCRIBO” quer melhorar a vida de jovens estudantes

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O resultado da maratona será divulgado nesta sexta, dia 25/05, durante o encerramento do CAOS e do ENCOINFO, a partir das 19h, no auditório central do Ceulp/Ulbra.

O SCRIBO é uma plataforma que busca o desenvolvimento da elaboração de sentimentos com foco na relação do aluno para com a escola e para si próprio. Pensando no aumento das queixas relacionadas à automutilação, Bullying, depressão e ideação suicida envolvendo adolescentes, que passam grande parte do dia no âmbito escolar, o aplicativo busca fomentar o desenvolvimento do principal mecanismo para distanciar os jovens dessas situações de sofrimento psíquico: a comunicação. Foi desenvolvida por uma equipe composta por acadêmicos de Psicologia e dos cursos da área de Computação, participou do 1º Hackathon Tech for Life, cujo tema é “Tecnologia e Saúde Mental”.

Com a iniciativa da instituição escolar em se cadastrar no site, os alunos podem baixar o aplicativo e fazer login vinculados a sua escola. A partir de então, o usuário pode exercitar livremente suas habilidades de comunicação, enquanto a escola recebe gráficos sobre os sentimentos e relatos pessoais através da conta no site.

Os jovens terão acesso a: Opção de fornecer feedbacks anônimos para a instituição na qual está inserido de maneira irrestrita; Diário de Emoções com calendário emocional, no qual emoções básicas podem ser registradas, gerando gráficos para a instituição escolar, bem como um diário cursivo com opções para fotos; Incentivos para interação com pares; Dicas sobre saúde mental em uma linguagem jovem e simples; Instrumentalização sobre como agir em casos de emergência envolvendo crises.

O resultado da maratona será divulgado nesta sexta, dia 25/05, durante o encerramento o encerramento do CAOS e do ENCOINFO, a partir das 19h, no auditório central do Ceulp/Ulbra.

1º Hackathon Tech for Life – Em parceria com os cursos de Sistemas de Informação, Ciência da Computação e Engenharia de Software, o curso de Psicologia participa do 1º Hackathon Tech for Life – que é uma maratona de programação – nos dias 19 e 20 de maio. A temática do 1º Hackathon é “Tecnologia e Saúde Mental” (o tema específico, no entanto, será anunciado na abertura do evento), com o propósito de trabalhar a inovação no desenvolvimento de protótipos, softwares aplicativos, dentre outros projetos de temática tecnológica que possam ser aplicados ou desenvolvidos com este objetivo. A ação é uma prévia do CAOS (Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia) e do ENCOINFO (Congresso de Computação e Tecnologias da Informação).

Integrantes da equipe

Alessandra Soares Araújo, 20 anos, acadêmica de Psicologia do Ceulp, 5° período, Voluntária no Portal (En)Cena.

Antônio Carlos Pereira Mota Milhomens Jr, 22 anos, acadêmico de Ciências da Computação do Ceulp, 8° período, Estagiário no Tribunal de Contas do Tocantins.

Arthur Ribeiro de Araújo Conceição, 20 anos, acadêmico de Sistema de Informação da FACTO, 7° período, Estagiário na CRP Tecnologia.

Isaura de Bortoli Rossatto, 20 anos, acadêmica de Psicologia do Ceulp, 5° período, Estagiária no Portal (En)Cena.

 

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Diário de Campo: Território Desconhecido

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Querido diário acabei de chegar da ASCAMPA…

Entrando na Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis da Região Centro-Norte de Palmas/TO – ASCAMPA a visão era de um vasto território repleto de material reciclável, porém que necessita da coleta seletiva, grande parte do material que ali estava, ainda não tinha sido selecionado. O material chega ali por meio de pessoas que não realizam a seleção, dessa forma os catadores que ali trabalham tem que separar manualmente todo este material – que por sinal, já poderia vir separado por quem o produz (mas eu acho que as pessoas ainda não sabem disso).

Fui no horário de almoço, encontrei duas senhoras almoçando, a presidente da associação e outra senhora. Expliquei a elas o projeto que faço parte e me ofereci como trabalhador voluntário por alguns dias, irei quarta-feira e quinta-feira. Elas me contaram as dificuldades da obtenção do material e o grande desperdício, o dinheiro sendo jogado fora, literalmente, no lixo. Elas me explicaram que cada tonelada de lixo que vai para o aterro é cobrada uma taxa de R$ 80,00 reais. Para o aterro de Palmas/TO, só no mês de julho de 2013 foram coletados em média 223 toneladas/dia de lixo, fazendo uma conta rápida, só no mês de julho de 2013 foi jogado no lixo R$17.840,00 por dia. No mês foram pagos R$ 553.040,00 (meio milhão de reais em um mês) em taxas. Para mim e para muita gente isso é muito dinheiro. Tudo isso ainda poderia ser revertido, e esse dinheiro poderia ser utilizado para muita coisa, se houvesse uma simples coleta seletiva. Poxa vida, tanto dinheiro indo embora, vou continuar esperando alguma reação do governo? Bom, eu tenho 19 anos, acho que é um tempo suficiente de espera, então, querido diário, acho que tenho que começar a fazer algo.

A senhora que me atendeu na ASCAMPA, me explicava que posso fazer isso na minha casa, separar a “lata de leite do menino”, as garrafas de refrigerante, os papeis que jogo fora, tantos panfletos que ganho, tudo isso é dinheiro. Dinheiro que, como nós não sabemos utilizar, jogamos no lixo. A ASCAMPA sabe e tem o material necessário para revender esse material reciclado, “recuperando” assim todo esse dinheiro. Isso tudo sem contar nos danos ambientais que são amenizados.

Depois de toda essa conversa, fomos ao ponto do meu trabalho voluntário, irei dois dias, trabalharei na própria seleção do material na ASCAMPA. A senhora me pediu uma ajuda para escrever uma placa, dizendo que ali recicla material RECICLÁVEL, material que não é reciclável, não tem o que fazer. E muita gente deixa coisas inúteis ali, como se fosse um lixão, coisa que não é. Então, na quarta-feira, irei levar tinta e ajudarei a confeccionar essa placa junto com eles.

Querido diário, acho que um mundo novo me espera, só nesta pequena passagem por lá conheci um mundo que não me tinha sido apresentado.

Boa noite querido diário…

Terminei agora meu expediente voluntário na ASCAMPA. Tentarei te explicar o que vivenciei e como estão meus pensamentos. Adianto desde já te digo que não é uma tarefa fácil!
Minha manhã começou as 08:00 na ASCAMPA, ao entrar a visão era um caos, muito material, que até então para mim, era considerado lixo, ou melhor, era confundido com lixo, e pelo visto, não é sou o único que faz essa confusão. Ali, esse material que chamamos de lixo, se torna o sustento de várias famílias. Isso sem nem mesmo mencionar que todo esse resíduo – que antes iria ser prejudicial à natureza – agora vai ser reutilizado, seguindo todo um processo. Em média 30 pessoas trabalham ali, cada um com sua função.

Fui muito bem recebido por todos. Eram cinco senhoras e dois rapazes, ao início tomamos o café da manhã – que empresa dá café da manhã para os funcionários? Essa é uma das poucas que conheço – ali conversamos um pouco, cada um se apresentou para mim, e elas me deram roupa apropriada para vestir, bem como luvas, botas e algumas instruções. Ficou claro também que muita gente vai até a Associação com grandes promessas, e que por fim, não existe muito o retorno, ou melhor, as promessas nem sempre se cumprem. Eu não quero ser simplesmente mais uma promessa.

Passando o momento, começamos o trabalho, minha primeira tarefa era “limpar uma área”, é a expressão utilizada para dizer da coleta seletiva de uma área delimitada. Fomos à área que iriamos “limpar” e começamos a seleção do material. Ali tinha plástico, vidro, metal, papel, e outros materiais misturados e em desordem. Muita gente leva material para reciclagem mas não o separa. Apesar de todo esse material ser separado pelos catadores, seria bem mais prático, menos trabalhoso e mais lucrativo se o material já fosse separado por quem o produz. Enfim, separamos o material, um trabalho pesado, realizado por senhoras de 30 a 50 e tantos anos de idade, e eu.

A ASCAMPA, infelizmente não consegue reciclar todos os materiais. Funciona assim: os catadores que andam pela cidade e sócios levam até a ASCAMPA o material, os catadores fixos da ASCAMPA selecionam e separam o material. Outra pessoa prensa todo o material selecionado com uma prensa elétrica. Em seguida, esse resíduo é pesado e vendido a uma pessoa que o revende para as indústrias. A ASCAMPA ainda não pode vender seu material direto para as indústrias, pois elas indústrias só compram em média 100 toneladas, ou mais. A ASCAMPA produz atualmente uma média entre 5 a 15 toneladas de cada material. A pessoa que compra da ASCAMPA compra também de outras associações e cooperativas para revender.

Continuando meu trabalho… Como a ASCAMPA, por falta de maquinário não recicla todos os materiais, e por falta de quantidade mínima de material, separávamos ali os materiais que seriam prensados: papeis, plásticos e metais. Os outros materiais separávamos para vender a pequenos comerciantes. Conversando com as senhoras, me diverti, aprendi a usar o facão para cortar para-choques. Tanta coisa que eu jogo no lixo, e que ali reutilizam, não é que eles usam lixo, mas sim que eu jogo no lixo, coisas que não são descartáveis, coisas que iram afetar a natureza.

Depois de duas horas de trabalho, havíamos “limpado a área” e agora o que fazer? – pensei – a resposta veio antes de terminar o pensamento:

– Próxima área de limpar! (Disse uma senhora)

Não me restava escolhas senão segui-la. Minha tarefa desta vez era menos complexa, porque a outra foi difícil, eu não reconhecia bem cada material. Existe uma quantidade muito grande e diferente de plásticos. A tarefa consistia em colocar todos os papelões da área diante da prensadora para prensar, foi nesta tarefa que passei o restante do dia e da tarde. Muitas idas, vindas, agachadas, apanhadas e levadas. Às 12:00 horas, se escuta: “hora do almoço!”. E assim nos direcionamos para o nosso refeitório, um belo barracão. O cheiro de frango assado não escondia a surpresa. Fiz meu prato, acompanhado de um suco de abacaxi, me sentei à sombra de uma árvore. Naquele círculo de amizades que se formou voltamos à conversa, dessa vez foi mais íntima, muitas histórias da vida pessoal, de superação, de luta, batalha, de alegrias, de tristeza, mais que tudo: de perseverança. Por trás vinha algumas frases a respeito da comida, como: “essa comida nem cachorro come, porque não sobra pra ele comer”. Um momento de descontração para todos, é o almoço, além claro, da reabastecida para o trabalho, pois como bem dizia Dona Terezinha “saco vazio não para em pé”.

Na ASCAMPA muitas pessoas levam e deixam ali material que não é possível mais ser reciclável, deixam lixo. As vezes no portão e no muro, então já se tinha a ideia de fazer um cartaz informativo. Eu tinha levado tinta, pensamos algo para escrever. Por fim a frase escolhida foi “Aqui não é lixão; por favor, somente material reciclável!”, pronto, depois de escolhida a frase, nos faltava o pintor, neste caso, sobrou para mim. E já que existe uma primeira vez pra tudo, pedi ajuda e me pus a escrever e pintar. Depois de feita nossa obra prima, deixamos secar e voltamos ao verdadeiro trabalho, o que alimentava cada um ali. A prensadora não parava de trabalhar, os catadores levando papelão e eu me cansando, até que tive uma ideia. Peguei um carrinho de um catador emprestado e começamos todos a encher o carrinho de papelão para depois levar para a máquina, agora podíamos trabalhar melhor, com o nosso querido amigo sol que resolveu não se esconder.

Findado o trabalho me despedi e voltei a minha casa, tomei um banho, e agora aqui estou, escrevendo. Por meio de muita batalha, hoje a ASCAMPA tem um espaço de dois mil metros quadrados, e uma pequena estrutura. Atualmente, a Associação consegue se manter, mas para crescer é necessário a participação de toda a população. É tão fácil separar o material, sempre usamos papel, e sempre deixamos de usá-lo, tomamos sempre algo enlatado, todo esse material para eles são ouro, podemos começar a enxergar isso e tentar amenizar os estragos que temos cometido com a natureza, com o nosso mundo.

Estou feliz, amanhã voltarei a ASCAMPA para o meu segundo turno, ansioso estou para minhas novas tarefas, e aprendizados. Talvez eu não tenha conseguido expressar minha vivência e meus pensamentos por inteiro, entretanto, querido diário, ACONTECEU!

Querido diário, o dia iniciou de uma maneira diferente…

Cheguei às 8:00 horas e muitos já estavam trabalhando. Mesmo assim, meu café da manhã estava lá, pronto a espera. Como de costume, me alimentei, pois “saco vazio não para em pé”, e em seguida fui ao trabalho, tínhamos que “limpar” outra área. Agora a tarefa havia se complicado um pouco mais, já que eu deveria fazer a coleta seletiva de diferentes materiais. Só plástico eram mais de quatro materiais diferentes, havia o plástico branco, o plástico “colorido”, o plástico “bacia”, o plástico “pet”, o plástico “seco” e o plástico “chiado”, esses dois últimos eram dispensados no momento da seleção, e outros quatros eram separados em diferentes “bags” (grandes sacolas plásticas).

Além da separação dos plásticos tínhamos também que separar o papelão, que este era de dois tipos diferentes: o papelão normal e a caixa térmica (caixa de leite e suco de fruta). No meio desse material havia também diferentes metais – como alumínio e ferro –  e papeis, entre eles o papel branco e o papel de revista.

Tenho uma dica para você diário, se quiser aprender a seleção de material reciclável, trabalhe com os catadores, em uma hora, já saberá tudo, pois eles não têm vergonha de ensinar. Eles explicam e repetem o que sabem quantas vezes for preciso. Incrível a generosidade a humildade, é algo espetacular.

Aqueles catadores tinham um olhar experiente para cada material, tentando ao máximo não desperdiçar, pois era dinheiro que iria para o lixo. O que não se aceita na seleção se transforma em lixo. Essa realidade foi um pouco dura para mim, pois entre os materiais que eram descartados havia materiais que com os instrumentos e a capacitação adequada ainda poderiam ser reciclados, como exemplo o isopor, altamente poluente, e que é descartado aos montes. Por falta de instrumentos para a reciclagem, e a capacitação dos catadores – deve haver outros motivos, estes dois creio que são os primeiros.

Difícil de aceitar também foi perceber que o incentivo para a continuação da reciclagem não nasce do cuidado com a natureza, e sim da necessidade de dinheiro. Digo isso pois, o material que é não é considerado reciclável, vai para o aterro, e segue o mesmo destino que seguiria antes da reciclagem, e além do isopor, vai materiais como: pilhas, baterias, produtos químicos, entre outros.

Enquanto eu trabalhava e jogava, via o desprezo com este material prejudicial à natureza. Nascia um pouco de revolta, mas, eu não podia culpá-los por aquele ato, pois eles não tem onde guardar este material, não tem os instrumentos nem a capacitação para reciclá-los, e talvez nem fazem ideia do mal que este material faz indo para aterros.

Os catadores, estão ali, porque precisam estar, ou ainda porque é a melhor oportunidade que têm para manterem suas famílias. Cabe ressaltar que o sentimento de proteção à natureza não é inexistente, pois uma vez que começam a reciclar, percebem a quantidade de coisa que tiram do “lixo”, que deixa de ser “lixo”, são toneladas e toneladas diárias, ali na ASCAMPA não são menos de 5 toneladas diárias prensadas. Com este trabalho, nasce um novo olhar à necessidade da reciclagem para o bem da natureza.

Enquanto separávamos o material, que por sua vez estavam todos misturados em pilhas, chegou um caminhão cheio de papelão, plástico e isopor. Para todos foi uma alegria, pra mim por dois motivos: menos papelão no aterro e mais dinheiro para essas famílias e para a continuação do projeto. Este caminhão era a primeira vez que vinha, era o dono de uma empresa de móveis que disse que “descobriu” a ASCAMPA, antes ele queimava todas aquelas caixas, isopor e plástico, pois não tinha o que fazer. Eu nem tentei imaginar a tamanha agressão feita à natureza todos os dias por tantas pessoas, empresas e instituições que ainda não “descobriram” a ASCAMPA, ou qualquer outra associação ou cooperativa.

Eu subi nesse caminhão e comecei a jogar com alegria todo aquele material para fora, me diverti, não tive reclamações, muito menos atitudes crítica a respeito do meu comportamento (coisa que não estou muito acostumado, por causa do meio que vivo). Ao término deste trabalho, voltamos à seleção, foi mais duas horas até que começou a ficar muito quente, estávamos queimando, então resolvemos parar e seguir com outra atividade na sombra.

Fomos à separação do papel, em baixo de tendas. Livros, cadernos, documentos, pastas, tudo era separado pelo seu material, as capas dos livros eram arrancadas, se separavam as folhas comuns das folhas lisas (de revista), e se tinha espiral tinha um destino diferente. Sentados ali em latas, na sombra, eu me animei mais, comecei a fazer um rápido trabalho, em poucos minutos tinha enchido um saco bem grande, então gritei, “terminei”, as senhoras me olharam espantadas pela rapidez, e começaram a rir, pois eu tinha feito tudo errado, como eu não tinha organizado as folhas estavam todas jogas no saco, ocupando assim muito espaço, dando a impressão que estava cheio, resumindo, eu tive que desfazer e recomeçar todo o processo – foi mais demorado, porém coube muito mais material no mesmo saco.

Enquanto separávamos os papeis, conversamos muito, sobre mitos, que para aquelas senhoras eram a mais pura verdade, o boto, sereias, lobisomen, água Maria, Iara, escutei muitas histórias de cada uma com um desses personagens diferentes, agora me pergunto, “será que isso realmente não existe?”, elas estavam muito certas do que viram, “será que a experiência ainda luta contra a teoria?”. Isso é tema para outra sessão, agora, continuando a separação de papel, opa, “hora do almoço”, que bom, minha barriga já estava gritando de ansiedade a este momento. Que alegria, todos juntos, uma família, que é claro, não deixa de ter seus problemas, a prosa seguiu, a comida acabou, e meu horário fechou.

Referências:

PALMAS. WÉDILA JÁCOME. Aterro Sanitário de Palmas Opera com Segurança e dentro das Normas Ambientais. 2013. Disponível em: <http://www.palmas.to.gov.br/blog_noticias/meio-ambiente/aterro-sanitario-de-palmas-opera-com-seguranca-e-dentro-das-normas-ambientais/10266/>. Acesso em: 17 mar. 2014.

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