“Como estrelas na terra” – toda criança é especial

Compartilhe este conteúdo:

Como Estrelas na Terra é um drama que retrata a exclusão social em face do que é diferente. Tal temática ainda é presente e traz sofrimento em todas as dimensões da vida, o que torna a referida obra cinematográfica comovente e atual, muito embora tenha sido lançada em 2007.

A falta de sensibilidade humana, o desconhecimento em relação à saúde mental e o desenvolvimento humano, a rigidez de determinadas personalidades, a surdez de algumas pessoas (profissionais) resvalam, por vezes, em intenso sofrimento, potencializado quando o tratamento de determinados transtornos é retardado, destruindo a autoestima daqueles que “gritam” por socorro.

 A narrativa central acontece no interior de uma escola de ensino fundamental, especialmente nas brincadeiras de futebol com o protagonista, Ishaan Awasth, de dez anos idade, que sofre de dislexia.

O desconhecimento daqueles que o cercam quanto aos verdadeiros motivos do déficit de aprendizagem levam o personagem a apresentar reações que potencializam as suas dificuldades, como a rebeldia no comportamento, a tristeza e o isolamento, sem olvidar de todo o sofrimento psicológico, emocional, neurológico e social de Ishaan.

A dislexia se configura em um distúrbio genético que embaralha o aprendizado, dificultando a realização da leitura e da escrita. O cérebro, por razões ainda não totalmente esclarecidas, apresenta dificuldade para encadear as letras e formar as palavras, e não relaciona direito os sons às sílabas formadas. Ishaan Awasth sentia angústia porque não conseguia aprender a escrever e nem a ler, quando comparado aos demais alunos.

 O cérebro do menino não diferenciava algumas letras do alfabeto. Ele trocava o “B” pelo “D”; o “R” pelo “S”; e o “H” pelo “T”. Fazia confusão na ordem de certas letras. Essa condição disléxica pode ser identificada durante a leitura, observada na escrita e no processo de soletração das palavras, considerando que é essencial, na aprendizagem, relacionar sons com os símbolos (objetos) e saber o significado deles. Ishaan Awasth padecia dessa habilidade básica que facilita o desenvolvimento do aprendizado.

                                                                                     Fonte: https://www.jornaldafranca.com.br/

Ishaan Awasth vivencia o sentimento de humilhação, de vergonha, de constrangimento, de Billings, quando posto de castigo e tudo isso é vivido com frequência e sentido por ele com intensidade.

Tais fatos ocorriam na escola, no seio familiar e nas brincadeiras de criança, fazendo com que, em decorrência das dificuldades mencionadas, suplantavam situações em que o coloca em desigualdade em relação aos cérebros das crianças da mesma idade que não tinham tal condição neurológica.

 Houve uma situação na qual a professora solicitou ao estudante Ishaan que realizasse uma leitura em sala de aula em tom de voz que todos os presentes pudessem ouvi-lo. O garoto tentou explicar à professora que “as letras estavam dançando”. Em razão disso, as risadas tomaram contam da turma e a professora se irritava e ordenava para Ishaan que “lesse as letras dançarinas”. Devido ao transtorno neurológico, Ishaan não conseguiu fazer a leitura e foi tachado pejorativamente de “burro”, “retardado”, “preguiçoso” e, logo após, expulso da sala de aula.

A direção da escola, sem a expertise necessária para entender o real problema de Ishaan, que não se tratava de indisciplina, mas sim, de um transtorno neurológico (dislexia), chamou os pais do garoto para uma reunião. Entre as falas, disse aos genitores que “algumas crianças têm menos sorte e para elas existem escolas especiais”. E informou, ainda, que Ishaan vê os livros como inimigos e que o ato de ler e escrever se assemelha, para ele, a uma punição. Justificou, ainda, aos responsáveis, que a criança pede licença o tempo todo para ir ao banheiro e que as atividades dela, tanto escolar quanto as tarefas de casa, não melhoravam, indicando-o a transferência.

A família anunciou a Ishaan sobre a mudança de escola. E como era “rebelde”, iria para um internato, causando-o angústia, pesadelos e sofrimento. Suplicava-os para deixar em casa! Fazia promessa de melhorar, mas sem o seu consentimento, seus pais o levaram, sob o argumento de que era o “melhor” a ser feito. Foi para o colégio interno cujo lema é “Disciplinar Cavalos Selvagens”. Chegando lá, sentiu falta da mãe, do irmão, da casa, da rotina familiar, de tudo. Acometeu-se de uma imensa tristeza, de uma falta de ânimo, de um isolamento social, de um desinteresse generalizado.

Durante aula de artes, o professor da disciplina se apresentou aos alunos de forma criativa, sensível, observador e atento, dançando e cantando. Em determinado momento, ele solicitou que os alunos iniciassem uma pintura. Todos começaram, mas Ishaan não se animou. O educador logo percebeu o desinteresse e a falta de ânimo do garoto e ficou preocupado. E a partir de então, iniciou uma investigação e percebeu um padrão de escrita incomum, o que o levou a concluir que se tratava de um transtorno neurológico – dislexia.

                                                                                                           Fonte: https://www.netflix.com/br

 Ishaan estava com a sua autoconfiança destruída e sem vontade de fazer suas atividades. O educador ampliou várias possibilidades criativas para desenvolver a aprendizagem do menino e, por consequência, a sua autoestima. Os sinais de melhora logo começaram a aparecer, como uma rosa murcha que recebe água.

É interessante ressaltar que a melhora do garoto não se deu devido ao fato da descoberta do transtorno, mas em decorrência da metodologia usada, da paciência, da sensibilidade, da criatividade, do respeito e de muita vontade de ajudá-lo, de erguê-lo e dar vida ao menino, valorizando a habilidade de pintura de Ishaan – algo em comum entre o professor e aluno.

Pertinente ressaltar que o educador, para trabalhar a autoestima do menino, apresentou grandes referências mundiais de personagens históricos, que apesar do transtorno, obtiveram sucesso, como: Albert Einstein, Agatha Christie, Pablo Picasso e Leonardo da Vinci. Para o processo de aprendizagem, em relação à escrita, utilizou-se dos sentidos – a própria pele, audição, tato, olfato. Usava o meio ambiente, a arte, associava o símbolo ao objeto, tudo para que Ishaan absorvesse e aprendesse de forma a suprir exatamente a sua necessidade de aprender, de forma leve, criativa e dinâmica. Um verdadeiro exemplo de empatia e amor.

De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (2016), o transtorno é considerado específico de aprendizagem e é de origem neurobiológica, caracteriza-se por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração.

Há pouco tempo criou-se a Lei nº 14.254/2021, que dispõe sobre o acompanhamento integral para educandos com dislexia ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outro transtorno de aprendizagem.

No artigo 3º da referida Lei, subscreve-se que os educandos com dislexia, TDAH ou outro transtorno de aprendizagem que apresentam alterações no desenvolvimento da leitura e da escrita, ou instabilidade na atenção, que repercutam na aprendizagem, devem ter assegurado o acompanhamento específico direcionado à sua dificuldade, da forma mais precoce possível, pelos seus educadores no âmbito da escola em que estão matriculados e podem contar com o apoio e orientação da área de saúde, de assistência social e de outras políticas públicas existentes no território.

Percebe-se que a elaboração da Lei foi um passo importante para iniciar a mudança, mas ainda precisa de outras ações para que ocorra a alteração de paradigma para que de fato a inclusão social aconteça na prática. Exige-se esforço, empenho, dedicação, pesquisa, estudo e os recursos em todos os níveis, além da adequação da estrutura física e da adaptação à realidade.

 

Os possíveis sinais — Alguns sinais na pré-escola

  • Dispersão;
  • Fraco desenvolvimento da atenção;
  • Atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem;
  • Dificuldade de aprender rimas e canções;
  • Fraco desenvolvimento da coordenação motora;
  • Dificuldade com quebra-cabeças;
  • Falta de interesse por livros impressos

Alguns sinais na idade escolar

  • Dificuldade na aquisição e automação da leitura e da escrita;
  • Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras);
  • Desatenção e dispersão;
  • Dificuldade em copiar de livros e da lousa;
  • Dificuldade na coordenação motora fina (letras, desenhos, pinturas etc.) e/ou grossa (ginástica, dança etc.);
  • Desorganização geral, constantes atrasos na entrega de trabalho escolares e perda de seus pertences;
  • Confusão para nomear entre esquerda e direita;
  • Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas etc.;
  • Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou longas e vagas;

O psiquiatra Carl Jung cunhou a frase: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. Essa sabedoria é convidativa para que haja o pensamento crítico acerca da praxe profissional. Será que só a teoria basta para que o profissional exerça o ofício? Uma profissão que lida com o ser humano condiz com uma personalidade rígida? O que é necessário para escolher uma profissão coerente à personalidade e ao desejo?

A escola deve ser um ambiente de compreensão, acolhimento, amor e respeito – um ambiente seguro, com uma metodologia criativa, sensível e um ensino inclusivo e adaptado, repleto de profissionais competentes e com uma escuta acurada e atenta.

A sociedade precisa se engajar mais, respeitar mais e denunciar qualquer tipo de violência, além de se atentar mais quanto aos governantes que são colocados, em ambientes públicos e decisórios, como nas câmaras de vereadores, nas prefeituras, no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto.

 

Referências:

ASSOCIÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA. Disponível em: https://www.dislexia.org.br/o-que-e-dislexia/ . Acessado em 04 de setembro de 2023.

LEI Nº 14.254, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2021Dispõe sobre o acompanhamento integral para educandos com dislexia ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outro transtorno de aprendizagem. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14254.htm. Acessado em 05 de setembro de 2023.

PAPALIA, D. E. e FELDMAN, R. D. (2013). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, Artmed, 12ª ed.

Compartilhe este conteúdo:

A Dislexia nunca me parou!

Compartilhe este conteúdo:

O relato de uma pessoa que mesmo com os desafios de um distúrbio crônico, está concluindo a 2° graduação.

Fonte: pixabay; Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, a dislexia é um distúrbio comum e afeta 5% e 17% da população mundial.

Desde criança, sempre tive dificuldades com a leitura e escrita. Lembro-me de ter que me esforçar muito, mais do que meus colegas de classe para entender o que estava escrito em um livro ou para escrever uma redação. Eu sempre fui uma boa aluna, mas muitas vezes me sentia desanimada e desmotivada por causa das minhas dificuldades com a linguagem.  No DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a dislexia é um distúrbio neurobiológico que afeta a capacidade de leitura e escrita do indivíduo. É um problema de processamento de linguagem que pode afetar a fluência de leitura, a compreensão de leitura e a ortografia. Estima-se que é um distúrbio comum e afeta entre 5% e 10% da população mundial. A causa exata da dislexia ainda não é totalmente compreendida, mas estudos sugerem que fatores genéticos e ambientais podem desempenhar um papel relevante.

Simplificando, a dislexia é uma maneira diferente de o cérebro funcionar. Não é um indicador de inteligência. O cérebro disléxico tem dificuldade em reconhecer como sons, palavras e letras são foneticamente colocados juntos. Essa é outra maneira de pensar. Como aluna, não foi fácil ajustar-se a um sistema educacional que não era preparado para alunos com necessidades especiais. Hoje vejo como os testes de ortografia, técnicas de memória baseadas na repetição, leitura em voz alta na sala de aula e testes de avaliação tradicionais poderia ter me auxiliado e lidar a dislexia como vemos hoje, o quanto essas ferramentas são eficazes e contribuem de maneira significativa no ambiente escolar e acadêmico. No entanto, mesmos com todas as falhas e suporte do sistema de ensino, muitos disléxicos ainda prosperam fora da sala de aula tradicional.

Embora as pessoas com dislexia processem informações de maneira diferente, isso também significa que cantamos músicas diferentes quando se trata de alfabetização, memória e concentração. Eu tive que me virar para aprender e passar de ano na escola. Eu sempre tive muita dificuldade em ler palavras em voz alta, entender o que foi lido, soletrar palavras corretamente, escrever com clareza e precisão, dificuldade em aprender rimas e canções, dificuldade em manusear mapas, dicionários e devido todos esses desafios, fui aprender escrever meu nome com uns oito anos de idade, bem mais tarde do que minhas coleguinhas de sala de aula, razões pelo qual me levou a ter sentimentos de inferioridade e baixa autoestima na infância.

Meus primeiros anos na escola foram de constantes desafios, como para qualquer disléxico. Eu era tão má a escrever que na 3ª série, minha professora de língua portuguesa perdia a paciência várias vezes comigo por não conseguir repedir corretamente as letras do caderno de caligrafia.  Outra professora ficou tão frustrada com minha falta de progresso em um problema de matemática que em uma aula jogou o livro em mim e disse: “engole esse livro pra ver se assim aprende”. A dislexia pode afetar a autoestima e a confiança de um indivíduo, bem como o desempenho acadêmico e a capacidade de se comunicar efetivamente, pois essas situações por um tempo me deixaram muito cabisbaixa.

Quando fui diagnosticada com dislexia aos 10 anos de idade pela minha professora no ensino fundamental, finalmente comecei a entender que minhas dificuldades não eram culpa minha. Eu não tive a oportunidade de ser acompanhada por terapeutas, fonoaudiólogos e professores especializados que me ajudaram a desenvolver habilidades de leitura e escrita. Na época meus pais não deram muita importância a esse diagnóstico e acredito que no fundo eles até compreenderam os motivos das minhas dificuldades, mas devido não terem condições financeiras para pagar o tratamento e acompanhamento necessário, eu cresci tendo que me virar e como não tinha noção na época do que de fato era dislexia, toquei minha infância, adolescência, juventude sem levar a sério e aceitar meu transtorno crônico.

O fato dos meus pais não terem se sensibilizado com minhas dificuldades e a escola (minha professora) por mais que tenha mencionado que eu preenchia características de uma criança com dislexia, ambos não tinham informações suficientes, estrutura e estratégias necessários para poder me ajudar a tratar esse um distúrbio comum. Acredito que, meus pais pensaram apenas que “eu não era muito inteligente” e por isso não tentaram encontrar um ambiente de aprendizagem no qual eu me encaixasse. Com isso, as minhas dificuldades foram identificadas, porém negligenciadas e eu acabei concluindo o ensino médio junto com meus amigos do ensino fundamental.

Fonte: pixabay; A dislexia é um distúrbio neurobiológico que afeta a capacidade de leitura e escrita do indivíduo.

Hoje, adulta com dislexia, ainda tenho dificuldades, mas aprendi a lidar com elas. Uso tecnologia assistiva, como um software de leitura de texto, para ajudar com a leitura e tento me comunicar de outras formas quando a escrita é difícil. Considero-me uma boa aluna, trabalhadora e estou orgulhosa das minhas realizações apesar da dislexia. Mas ser disléxico é uma luta constante, e um dos maiores desafios é a dificuldade em ler e escrever. Para mim, ler um livro técnico de psicologia é como decodificar uma mensagem criptografada, e leva muito tempo e esforço para chegar ao fim. A escrita também é um desafio, com problemas de ortografia e de colocação de palavras em ordem e por isso uso muito o dicionário e pesquisa de sinônimos das palavras para me auxiliar nas escritas.

Além disso, vale ressaltar que a dislexia afetou outras áreas da minha vida, não somente a escolar e acadêmica. Às vezes, tenho dificuldade em entender instruções verbais ou em lembrar nomes e datas importantes. Pode ser frustrante sentir como se estivesse sempre um passo atrás das outras pessoas. Outro desafio é o estigma e a falta de compreensão em torno da dislexia. Muitas pessoas assumem que ser disléxico é uma questão de preguiça ou falta de habilidade, o que pode levar a sentimentos de vergonha e inadequação. É importante lembrar que a dislexia é um distúrbio de processamento de linguagem real e que muitas pessoas com dislexia têm habilidades excepcionais em outras áreas.

Apesar desses desafios, a dislexia também pode ter aspectos positivos. Muitas pessoas com dislexia têm uma forma única de pensar e uma habilidade para pensar fora da caixa e encontrar soluções criativas para problemas. É importante lembrar que a dislexia não define quem somos e que podemos superar esses desafios e alcançar nossos objetivos. Todos nós podemos escolher uma carreira diferente, e inclusive se você pesquisar na internet, há muitos exemplos de pessoas com dislexia que teve e tem sucesso profissional. Além disso, o conhecimento sobre o distúrbio ajuda a entender as vantagens de pensar de maneira diferente e passar a se aceitar.

Apesar dos inúmeros desafios de ter dislexia, vale enfatizar que geralmente temos uma imaginação fértil, altos níveis de criatividade, excelentes habilidades de resolução de problemas e habilidades de comunicação inatas, qualidades inclusivas importantes para os empregadores em todos os campos. No entanto, acho que ainda há um estigma em torno da dislexia e outras diferenças de aprendizado. Muitas vezes, as pessoas assumem que é preguiça ou falta de habilidade quando, na verdade, é um problema real de processamento de linguagem. Espero que um dia haja mais compreensão e apoio para as pessoas com dislexia e outras diferenças de aprendizado, para que elas possam alcançar todo o seu potencial.

Morais J.A (1997), menciona que embora a dislexia não tenha cura, é possível levar uma vida normal se você receber apoio especializado desde cedo. O tratamento com fonoaudiólogo e psicólogo pode ajudá-lo a desenvolver estratégias para superar as dificuldades de fala e outros possíveis obstáculos em sua vida diária. A terapia também é importante para tratar possíveis problemas de autoestima, inclusive foi o que me ajudou nessa jornada.

Felizmente no ano de 2020, me tornei estudante de psicologia e em uma das matérias da faculdade, estudamos sobre os transtornos do neurodesenvolvimento, e um deles foi sobre a dislexia, foi aí que a minha ficha caiu. Eu realmente preenchia os critérios de uma pessoa com dislexia, passei a estudar sobre, aprendi estratégias que me auxilia e atualmente apesar dos desafios diários, eu não desisto de lutar.

E finalizo deixando um conselho para os pais: “Se o seu filho está constantemente sendo orientado a esforçar-se mais, a escrever melhor ou a deixar de ser preguiçoso, então talvez seja necessário levá-lo a fazer os testes para o distúrbio de aprendizagem mais comum do mundo.”

Referências

American Psychiatric Association. DSMIV: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais.  Lisboa: Climepsi Editores; 1996

PAULA, Teles. Os efeitos psicológicos da covid-19. Palmas-TO. Disponível em <: https://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10097/9834 >. Acessado em 22 fev. 2023.

MORAIS J. A arte de ler, psicologia cognitiva da leitura. O ensino da leitura. Lisboa: Edições Cosmos; 1997. p. 241-72.

Compartilhe este conteúdo:

Um olhar crítico acerca da não inclusão de um indivíduo com dislexia

Compartilhe este conteúdo:

Eu não sou discriminada porque eu sou diferente, eu me torno diferente através da discriminação – Grada Kilomba

Esta obra prima do cinema de Bollywood, a maior indústria de cinema indiana, nos traz à tona um assunto que deve ser insistentemente debatido, que é a efetividade do aprendizado e seus modelos arcaicos e a intolerância dos pais em relação às dificuldades de aprendizagem dos filhos. Podemos, através do filme, sentir e chorar junto à realidade que nos é mostrada com tanta primazia, o quão excludente estas práticas podem se tornar.

Com grande frequência as crianças que se apresentam com dislexia são denominadas de “Ineptos, tolos, lesos”.  Os rótulos são diversos: “Isso é só preguiça, vive com a cabeça nas nuvens, isso é pirraça não faz porque não quer”. Isso gera na criança um grande desestímulo e uma grande vontade de desistir de tudo.

E é sobre esta exclusão e a solidão que recai sobre o sujeito, que vamos tratar neste presente texto, é sobre este processo em que o indivíduo vai se afastando do mundo e das pessoas e fazendo rupturas com as mesmas e consigo mesmo, trazendo grandes prejuízos para a autoestima e de socialização. Junto a estes sentimentos, são característicos também a ansiedade e o medo, que são reações  fisiológicas que acompanham os indivíduos frente a situações adversas, situações as quais eles não sabem compreender, e consequentemente eles se isolam. O pior é que estes sentimentos podem acompanhar os indivíduos ao longo de suas vidas, trazendo enormes sequelas tanto em sua vida pessoal quanto social.

No caso do jovem Ishaan (Darsheel Safary), protagonista do filme, ele tem grande dificuldade em absorver os conteúdos ofertados no núcleo escolar, não consegue escrever e tampouco compreender o alfabeto. Após várias reclamações dos professores, o pai tem a crença de que Ishaan não faz as tarefas por falta de vontade e por falta de compromisso. Decide levá-lo a um internato, o que faz o menino a entrar em um estado letárgico de depressão. Ele se sente excluído, abandonado e tem indícios de ideações suicidas, deixados implícitos durante a trama.

Fonte: https://sites.usp.br/grepel/dislexia-2/

O quanto de exclusão e solidão um sujeito pode aguentar, qual o limite de não compreender o que ocorre ao seu redor uma pessoa pode suportar, quantos socorros são gritados sem eco?

Segundo estudiosos, as características mais comuns em famílias com pessoas que encontram obstáculos para empreender suas aprendizagens, está no fato de que não sabem ou não tem o manejo de lidar com o que é diferente do usual, e passam a ver o filho (a) como um empecilho na harmonização diária, uma ameaça ao sossego.

As escolas, por sua vez, se isentam da responsabilidade. Sem profissionais capacitados, se apresentam mais como um prejuízo ao indivíduo, do que uma mão estendida; logo, acionam os pais despreparados para uma possível tomada de caminhos, um diagnóstico neste sentido, acalmaria os ânimos e deixaria ambas as partes eximidas de culpa, responsabilidade e agravos. Assim, os consultórios e clínicas escolas somam longas filas de espera, e os laboratórios lucram com a ignorância sobre o assunto.

É um problema complexo e que necessita ter um olhar mais atento, dizer que pais sem recursos e que lutam de sol a sol para garantir o mínimo para sobreviver, teriam como manejar esta situação, seria um “viver num mundo de Alice”, mas as escolas sim, tem como ofertar um ensino inclusivo de qualidade e uma conscientização maior a estes pais, com palestras educativas, panfletos, reuniões, isso não é um mundo irreal, é uma necessidade urgente.

Fonte: https://sites.usp.br/grepel/dislexia-2/

Nosso sistema educacional é muito falho para se conscientizar que cada aluno é um caso, que os sujeitos têm em si particularidades diferentes. Temos que despertar, enquanto sujeitos sociais, se cada um fizer sua parte, assim como uma lição de casa, podemos falar sobre isso, trazer estes assuntos à tona, e através desses pequenos movimentos levar as pessoas (pais, educadores ou não) a ter um olhar mais terno e de acolhimento em direção as nossas crianças que se encontram em dificuldades.

Somos educados para enaltecer as qualidades e rechaçar quem se encontra com problemas, não paramos e olhamos para trás para observar os agravos que causamos com esta prática. Vamos ser mais solidários com as dificuldades, um olhar mais atento ao outro, para que a partir daí possamos observar transformações. Mestres como Papalia e Feldman (2013) nos conscientizam de que a aprendizagem é o resultado das interações entre crianças e adultos. “Este tipo de aprendizagem ajuda crianças a cruzarem a zona de desenvolvimento proximal, ou seja, a capacidade de interação entre aquilo que já são capazes de fazer e aquilo que ainda não estão aptas a realizarem sozinhas”.

Ainda segundo Davis:

O disléxico processa o pensamento e a consciência fonológica de forma desorientada ele reitera que “ele deve ser visto como uma criança com limitações, mas não impossibilidades, e que com as adaptações e modificações necessárias ele poderá ser tão genial quanto alguém não disléxico”.  (DAVIS 2004, P. 43).

Sobre ser genial, vamos acompanhar a citação de Davis e rememorar nossos ícones, não podemos deixar de lembrar em nossa história homens notáveis que sofreram com a dislexia e que se mostraram verdadeiros vencedores em sua adultez. Foram eles:

Leonardo Da Vinci (1452-1519); Vincent Van Gogh (1853-1890); Albert Einstein (1879-1955); Pablo Picasso (1881-1973); Whoopi Goldberg (n. 1955); Steven Spielberg (n. 1946); Agatha Christie (1890-1976), Charles Darwin (1809-1882), entre tantos outros. Com certeza estes indivíduos antes de superarem e se mostrarem além de um diagnóstico, sofreram dos males que advém desta dificuldade e sentiram-se também não inclusas em seus meios familiares e sociais.

Segundo Sartre (1943/2011, “l. 2”), o fenômeno de ser visto pelo outro assume importância capital na constituição de uma pessoa, pois sem o olhar do outro ela não se sentiria objetivada e situada em um determinado espaço, existindo concretamente como corpo físico e com possibilidade de refletir sobre quem se é.

Enfim, no filme o jovem Ishaan encontra em seu professor o apoio e a mão que ele necessitava para ser finalmente compreendido, e nossos Ishaans pelo mundo afora, podem contar com quem?

FICHA TÉCNICA

Como Estrelas Na Terra (Taare Zameen Par) – Índia, 2007Direção: Aamir Khan
Roteiro: Amole Gupte
Elenco: Darsheel Safary, Aamir Khan, Vipin Sharma, Tisca Chopra, Sachet Engineer, Tanay Chheda, Girija Oak, Meghna Malik, Sonali Sachdev, Rajgopal Iyer, M.K. Raina
Duração: 165 Minutos

REFERÊNCIAS

Associação Portuguesa de dislexia.. Famosos com dislexia. Disponívem em: https://www.dislex.co.pt/famosos-com-dislexia.html. Acesso em 08/08

CARDOSO, Marcélia Amorim; FREITAS, Ana Carolina Abi-Chacra de Campos. Dislexia: apontamentos e reflexões. Revista Educação Pública, v. 19, nº 29, 12 de novembro de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/29/dislexia-apontamentos-e-reflexoes. Acesso em 08/08/2022

NAUFEL, Georgia Denani et al .  PERCEPÇÃO DA FAMÍLIA FRENTE AO DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM. Revista Educação Inclusiva – REIN, Campina Grande, PB, v.5, n.01, jan/dez. – 2021, PUBLICAÇÃO CONTÍNUA – 2021

GARCIA, Wallisten Passos; Pereira Ana Paula Almeida. A pessoa com deficiência intelectual e a compreensão de sua existência. Rev. abordagem gestalt. vol.27 no.2 Goiânia maio/ago. 2021.http://dx.doi.org/10.18065/2021v27n2.5.

Compartilhe este conteúdo:

Dislexia dificulta identificação de palavras

Compartilhe este conteúdo:

Psicopedagoga explica que o distúrbio se manifesta na fase de alfabetização

A Dislexia é um distúrbio de aprendizagem que se manifesta normalmente na fase da alfabetização, período em que os pequenos têm contato com tarefas escolares que incentivam a leitura e formação de vocábulos. Uma de suas características principais é a dificuldade em identificar palavras ou símbolos

Segundo a psicopedagoga do Instituto NeuroSaber Luciana Brites, muitos pais confundem a dislexia com preguiça ou um simples problema na aprendizagem, o que é bem diferente de um distúrbio.

– Os distúrbios de aprendizagem afetam a capacidade da criança de receber, processar, analisar ou armazenar informações. Trata-se de uma disfunção neurológica, que é uma questão de neurônios, de conexão. Os portadores do distúrbio demonstram dificuldade em adquirir o conhecimento da teoria de determinadas matérias – explica.

Luciana diz que a dislexia é algo que está presente em um número considerável de crianças. Pesquisas apontam que a taxa de incidência esteja entre 0,5% e 17% em todo o mundo. Ela comenta que todo profissional da educação, provavelmente, já teve algum aluno que demonstrou uma dificuldade acima do normal para sua idade. “Porém, é necessário saber o que se trata para não haver equívocos.”

Fonte: encurtador.com.br/goyDF

As crianças com dislexia podem manifestar características como, por exemplo, dificuldades para ler, compreender, escrever, expressar-se, realizar operações matemáticas e cálculos. “Estes dois últimos se relacionam mais para a discalculia – o que também é distúrbio de aprendizagem. Outros sintomas são alteração brusca de humor e um ligeiro desinteresse por alguma tarefa”.

– Há diferentes graus do distúrbio. Em casos severos, o pequeno necessita de uma ajuda maior de seus pais e professores. Já quando vem mais brando, a pessoa apresenta certa autonomia para as tarefas pedagógicas – comenta.

Luciana ainda explica que os educadores costumam ser os primeiros profissionais a terem contato com as dificuldades originadas pela dislexia. Por isso, é importante que o educador chame os pais para uma reunião na escola ao notar a dificuldade. “O próximo passo é a procura por especialistas que podem oferecer tratamentos específicos aos pequenos.”

– O diagnóstico e tratamento são feitos por meio de uma análise realizada por uma equipe que pode variar entre psicopedagogos, psicólogos, neuropsicólogos, psiquiatras e oftalmologistas. É importante ter esse acompanhamento com a proposta de proporcionar à criança uma intervenção eficaz para a sua vida pedagógica e social. Nos casos que forem necessários o uso de medicamentos, os profissionais da saúde irão auxiliar os pais – conclui.

Fonte: encurtador.com.br/knqEW

Sobre a especialista

Uma das fundadoras do Instituto NeuroSaber, Luciana Brites é Pedagoga especializada em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Unifil Londrina. Também é especialista em Psicomotricidade pelo Instituto Superior de Educação Ispe – Gae São Paulo, além de coordenadora do Núcleo Abenepi em Londrina.

NeuroSaber 

O projeto nasceu da necessidade de auxiliar familiares, professores, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, médicos e demais interessados na compreensão sobre transtornos de aprendizagem e comportamento. A iniciativa tem como objetivo compartilhar informações valiosas para impactar as áreas da saúde e educação, além de unir especialistas do Brasil e do exterior.

Compartilhe este conteúdo:

Dislexia dificulta identificação de palavras

Compartilhe este conteúdo:

Psicopedagoga explica que o distúrbio se manifesta na fase de alfabetização.

A Dislexia é um distúrbio de aprendizagem que se manifesta normalmente na fase da alfabetização, período em que os pequenos têm contato com tarefas escolares que incentivam a leitura e formação de vocábulos. Uma de suas características principais é a dificuldade em identificar palavras ou símbolos

Segundo a psicopedagoga do Instituto NeuroSaber Luciana Brites, muitos pais confundem a dislexia com preguiça ou um simples problema na aprendizagem, o que é bem diferente de um distúrbio.

 – Os distúrbios de aprendizagem afetam a capacidade da criança de receber, processar, analisar ou armazenar informações. Trata-se de uma disfunção neurológica, que é uma questão de neurônios, de conexão. Os portadores do distúrbio demonstram dificuldade em adquirir o conhecimento da teoria de determinadas matérias – explica.

Fonte: https://images.app.goo.gl/XkbLxeoSToCBT3Be8

 Luciana diz que a dislexia é algo que está presente em um número considerável de crianças. Pesquisas apontam que a taxa de incidência esteja entre 0,5% e 17% em todo o mundo. Ela comenta que todo profissional da educação, provavelmente, já teve algum aluno que demonstrou uma dificuldade acima do normal para sua idade. “Porém, é necessário saber o que se trata para não haver equívocos.”

 As crianças com dislexia podem manifestar características como, por exemplo, dificuldades para ler, compreender, escrever, expressar-se, realizar operações matemáticas e cálculos. “Estes dois últimos se relacionam mais para a discalculia – o que também é distúrbio de aprendizagem. Outros sintomas são alteração brusca de humor e um ligeiro desinteresse por alguma tarefa”.

 – Há diferentes graus do distúrbio. Em casos severos, o pequeno necessita de uma ajuda maior de seus pais e professores. Já quando vem mais brando, a pessoa apresenta certa autonomia para as tarefas pedagógicas – comenta.

 Luciana ainda explica que os educadores costumam ser os primeiros profissionais a terem contato com as dificuldades originadas pela dislexia. Por isso, é importante que o educador chame os pais para uma reunião na escola ao notar a dificuldade. “O próximo passo é a procura por especialistas que podem oferecer tratamentos específicos aos pequenos.”

Fonte: encurtador.com.br/mAHN0

 – O diagnóstico e tratamento são feitos por meio de uma análise realizada por uma equipe que pode variar entre psicopedagogos, psicólogos, neuropsicólogos, psiquiatras e oftalmologistas. É importante ter esse acompanhamento com a proposta de proporcionar à criança uma intervenção eficaz para a sua vida pedagógica e social. Nos casos que forem necessários o uso de medicamentos, os profissionais da saúde irão auxiliar os pais – conclui.

Sobre a especialista

Uma das fundadoras do Instituto NeuroSaber, Luciana Brites é Pedagoga especializada em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Unifil Londrina. Também é especialista em Psicomotricidade pelo Instituto Superior de Educação Ispe – Gae São Paulo, além de coordenadora do Núcleo Abenepi em Londrina.

NeuroSaber

O projeto nasceu da necessidade de auxiliar familiares, professores, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, médicos e demais interessados na compreensão sobre transtornos de aprendizagem e comportamento. A iniciativa tem como objetivo compartilhar informações valiosas para impactar as áreas da saúde e educação, além de unir especialistas do Brasil e do exterior.

Compartilhe este conteúdo:

Como Estrelas na Terra – vivenciando a Dislexia

Compartilhe este conteúdo:

Já correm aproximadamente 130 anos de pesquisas relacionadas ao aprendizado. Entender como aprendemos e o porquê de muitas pessoas inteligentes (e até mesmo aquelas que atingem níveis acima da média de inteligência) experimentarem dificuldades paralelas em seu caminho de aprendizado, são desafios que a ciência vem deslindando diariamente afim de obter resultados que possam suprir essas dúvidas. Nos últimos dez anos, com todo o avanço tecnológico e, principalmente, com o apoio da técnica de ressonância magnética funcional, as conquistas relacionadas ao que é Dislexia, estão finalmente obtendo resultados satisfatórios e concretos.

Toda a complexidade que rodeia o entendimento do que é Dislexia está diretamente ligado ao entendimento do ser humano; o que somos, o que é Memória, Pensamento e Linguagem, como adquirimos aprendizado e porquê algumas pessoas encontram dificuldades enquanto outras têm facilidades em aprender o mesmo conceito ou como as pessoas consideradas geniais também encontram facilidades mescladas de dificuldades durante seu aprendizado.

É difícil conceituar e definir Dislexia, pois foi criado um mundo diversificado de informações, que hora informa, hora confunde. A mídia brasileira peca nas abordagens de temas tão graves e importantes, como este, informando parcialmente sobre o problema, usando explicações fora do contexto global das descobertas atuais da Ciência.

Dislexia é causa ainda ignorada de evasão escolar em nosso país, e uma das causas do chamado “analfabetismo funcional” que, por permanecer envolta no desconhecimento, na desinformação ou na informação imprecisa, não é considerada como desencadeante de insucessos no aprendizado (Dislexia, s/p, s/d).

Há inúmeras classificações em torno da Dislexia, que derivam de diferentes focos e ângulos pessoais e profissionais de visão. De modo geral, a Dislexia é uma específica dificuldade de aprendizado da Linguagem; expressão do pensamento por meio de palavras. É um processo mental de caráter essencialmente consciente, significativo e orientado para o social. Neste caso, a dificuldade relacionada ao aprendizado da linguagem estaria associada a leitura, soletração, escrita em linguagem expressiva ou receptiva, cálculos matemáticos, linguagem corporal, social e razão. É interpretado erroneamente como motivado pela falta de interesse, vontade ou esforço, pois não há ligação com acuidade visual ou auditiva. 80% dos disléxicos possuem dificuldades no aprendizado da leitura e escrita.

Segundo a literatura a dislexia tem sido relacionada a fatores genéticos, porém, a não estimulação das crianças também agrava o problema, uma vez que, por terem mais dificuldades que as demais crianças, os disléxicos necessitam de uma atenção maior, focada em seus problemas. O apoio da família e dos amigos também é essencial nesse desenvolvimento.

Antes de tudo dislexia é um jeito diferente de ser e de aprender; é o aprendizado individual de uma mente brilhante, que aprende em compasso diferente dos demais.

“As letras estão dançando” diz Ishaan Awasthi, o personagem central de Como Estrelas na Terra. Dirigido por Aamir Khan, que também dá vida ao professor Nikumbh, personagem que faz a diferença ao longo da história.

Ishaan Awasthi é um garoto de 9 anos, que vive com os pais e o irmão mais velho em uma pequena comunidade da Índia. Ishaan é uma criança normal, brinca, desafia os pais e faz artes como qualquer garoto da sua idade, no entanto está passando por dificuldades na escola e corre o risco de reprovar mais uma vez. É motivo de constantes punições por conta de sua “desobediência” na escola.

Durante as aulas, Ishaan é disperso e vive num mundo que somente ele vê. Sua mente criativa é ignorada e repreendida pelos professores. Na sala de aula os números da prova de matemática criam vida e travam uma verdadeira guerra intergaláctica com Ishaan, o garoto, por sua vez,ignora os códigos, para ele o seu mundo é totalmente diferente, seja na cor ou no ritmo, do que aquele em que seus colegas de classe vivem. Ishaan é capaz de alçar voo junto com os pássaros que vê, admira por hora os voo das borboletas, se encanta com os pássaros alimentando seus filhos, com os pingos da chuva e a imagem que forma quando estes vão de encontro a um poça d’água.  As nuvens se tornam o seu chão, é um verdadeiro sonhador. Mas na escola sonhos não fazem parte do currículo escolar. Para os professores Ishaan não passa de uma criança irresponsável e preguiçosa.

O mesmo pensamento tem o pai do garoto, que o ameaça diversas vezes, acusando-o de preguiça, burrice e até mesmo de nomes piores. Por conta das diversas advertências da escola, o pai de Ishaan cumpre com as promessas e o manda para um colégio interno, acreditando ser essa a única solução para a falta de educação do filho.

Mas é nesse novo colégio que a situação de Ishaan agrava, pois os alunos e os professores também criticam a criança todo o tempo, fazendo com que ela se sinta sozinha, humilhada e se excluindo dos grupos sociais. Ishaan perde a vontade de progredir, de aprender e de ser criança, tornando-se “invisível” para os demais. O lema do colégio é “Disciplinar Cavalos Selvagens”, os professores repudiam a hipótese de que as crianças comportem-se como crianças, pois ali estão sendo preparadas para a vida, para o mercado competidor.

Toda essa rigidez e educação arcaica muda com a chegada do professor substituto Nikumbh, que traz em sua personalidade a fé de que toda criança é especial. O professor possui uma metodologia própria e não se curva diantedas regras rigorosas da escola e isso faz com que todos os alunos se apaixonem por ele.

Quando Nikumbh conhece Ishaan, percebe que há algo errado, pois trata-se de uma criança saudável mas que carrega dor nos olhos, é sempre calado e reservado.“Seus olhos berram por ajuda”, afirma Nikumbh. Um dos amigos de Ishaan conta que o menino nunca aprende, por mais que se esforce, todos os cadernos tem correções vermelhas. Ao saber disso o professor decide investigar o que acontece com seu aluno. É então que Ishaan recebe o diagnóstico de dislexia, um problema bastante conhecido por Nikumbh que decide, então, tirar o garoto do abismo no qual se encontrava.

“Quando irão aprender que cada criança tem seu tempo? Que cedo ou tarde irão aprender”Indaga Nikumbh, decepcionado com a atitude do pai de Ishaan ao descobrir que seu filho tem Dislexia.  “Para alguém conseguir ler e escrever é essencial relacionar sons com símbolos, saber o significado das palavras, e Ishann não consegue isso”. O pai não acredita nas afirmações do professor, sendo agressivo e resistente as orientações que Nikumbh quer passá-los.

Num trabalho excepcional, o professor consegue mostrar caminhos que facilitam o jovem Ishaan aprender. Assim, com a ajuda de Nikumbh, o garoto aprende a ler e a escrever, supera dia após dia cada uma de suas limitações, começando pela opressão do pai e o preconceito das outras pessoas.

Trata-se de uma história repleta de ensinamentos. Não é somente a educação que está em jogo, é a saúde de uma criança, é a nova forma de encarar a vida, é a importância do apoio familiar.“Importar-se. Isso é essencial. Tem o poder de curar feridas, é um bálsamo para dor”. Diz o professor ao pai de Ishaan, quando este faz uma visita a escola. Nikumbh, em muitos dos seus diálogos, deixa isso claro, a importância de se observar os detalhes sem rotular, sem que isso impeça que o outro cresça.

Cada dia que passa o progresso de Ishaan é melhor, provando que a única coisa que ele precisava era de estímulo, confiança e principalmente: Amor. Como bem destaca o professor, cada criança tem seu talento, uma facilidade em desenvolver mais em uma determinada área do que em outra. No caso Ishaan, apesar de sua dificuldade na escrita e leitura, ele possuía um incrível talento para criar, imaginar e transformar tudo isso em arte; através de suas pinturas.

Todo o enredo é de uma maestria tão perfeita que é quase impossível não chorar junto com os personagens, principalmente por saber que é um assunto real. Não é uma criação cinematográfica, mas a realidade transformada em imagens. Apesar de ser um filme longo, não é cansativo, trata-se de uma história convidativa, que nos retira de um universo individual e nos faz enxergar além das aparências.

É, além de tudo, um filme que nos instiga a pensar; quantos garotos como Ishaan passaram por nós, foram incompreendidos e encaminhados – equivocadamente- à instituições especiais, indicados a tratamentos farmacológicos ou ignorados devido as suas condições especiais e magnificas? Foram, por isso, excluídos e rotulados, por uma sociedade que não enxerga o essencial? Trata-se de um convite a novas reflexões, sobre a educação das nossas crianças e sobre como elas esperam aprender. O que é importante ter em seus currículos? A genialidade natural, adquirida e estimulada, ou uma educação “programada”, que segue padrões de anos atrás e que não provocam o interesse real dessas crianças?

Chama atenção, também, para as interpretações errôneas; o que seria “errado”, “falta de atenção”, “erros”, “falta de esforço”, “incapacidade de ler, escrever ou realizar cálculos”, qual o significado real de cada uma dessas expressões, será que estamos usando-as corretamente? Ou todas estão passando batidas diante dos nossos olhos para mascarar a verdade? Crianças aprendem a seu tempo, então não é aconselhável afirmar, com tanta convicção, que é uma incapacidade no aprendizado, se olharmos em outros ângulos, outras áreas, essas crianças nos provam, a cada dia, que conseguem se desenvolver de forma magnifica em diversos outros campos da vida.

Como diz Nikumbh “todos os grandes artistas sofreram oposição, mas venceram, e o mundo ficou maravilhado. Somos todos especiais”.

 

Saiba mais sobre Dislexia.

 

FICHA TÉCNICA DO FILME

COMO ESTRELAS NA TERRA: TODA CRIANÇA É ESPECIAL

Direção: Aamir Khan
Elenco: Aamir Khan (Ram Shankar Nikumbh),  Darsheel Safary(Ishaan Awasthi), Tanay Chheda(Rajan Damodaran), Alorika Chatterjee(Science Teacher), Aniket Engineer(Young Yohan Awasthi)
Gênero: Drama
Nacionalidade: Índia
Duração: 165 minutos
Tipo: Longa-metragem
Ano: 2007

Compartilhe este conteúdo: