A valorização da diversidade na pós-modernidade e as relações contemporâneas

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A era pós-moderna, segundo o filósofo Jean-François, foi caracterizada pela desconstrução de alguns conceitos enraizados na sociedade e pela valorização da diversidade. Nas relações atuais, essa apreciação se reflete no aumento da inclusão e respeito por diferentes identidades de gênero, orientações sexuais, etnias, culturas e estilos de vida. No entanto, essa transformação vem acompanhada por desafios expressivos que evidenciam as tensões presentes em um mundo cada vez mais globalizado e interligado (Lyotard, 1979).

A valorização da diversidade está diretamente ligada à inclusão, que na pós-modernidade é entendida como mais do que a simples aceitação das diferenças, obviamente ainda há uma grande luta pelos direitos. A inclusão, nesse contexto, significa criar espaços onde as “diferenças” possam ser expressas e celebradas, contribuindo para uma sociedade mais rica e dinâmica. Judith Butler, em “Problemas de Gênero” 1990, desafia o que é dito tradicionais de gênero e sexualidade, argumentando que o gênero é uma performance e que as identidades de gênero são socialmente construídas. Esse entendimento desestabiliza as categorias rígidas de gênero e abre espaço para a inclusão de uma ampla gama de expressões de gênero (Butler, 1990).

Fonte: Storyset

Movimentos sociais contemporâneos, como o feminismo e o movimento LGBTQIAPN+, têm desempenhado um papel importantíssimo na promoção da diversidade e inclusão. Esses movimentos não apenas lutam por igualdade, mas também por um reconhecimento mais profundo das complexidades das identidades individuais e coletivas. Questionam as normas sociais estabelecidas e promovem a ideia de que todas as identidades, independentemente de sua conformidade com as normas tradicionais, merecem respeito e reconhecimento.

A pós-modernidade é marcada pela crise das metanarrativas, como descrito pelo filósofo Jean-François Lyotard. Essas grandes narrativas, que tentavam explicar a história e a sociedade de forma unificada, começaram a ser questionadas, dando espaço para uma multiplicidade de pequenas narrativas. Essas novas narrativas valorizam as experiências individuais e coletivas de grupos que antes eram marginalizados, como as minorias étnicas, sexuais e culturais. Essa valorização da diversidade é, portanto, uma resposta à inadequação das abordagens universalistas que ignoravam as diferenças.

O movimento pós-colonial trouxe à tona as vozes e experiências das culturas não ocidentais, que foram sistematicamente oprimidas e marginalizadas durante o período colonial. Autores como Edward Said, em Orientalismo, criticam a construção ocidental do “Outro” como uma forma de dominar e controlar as culturas não ocidentais (Said, 2007, p. 41). Na pós-modernidade, essa crítica abriu caminho para a valorização das identidades culturais híbridas e para a compreensão da identidade como algo fluido e em constante construção.

Embora a pós-modernidade tenha promovido a valorização da diversidade, ela também trouxe novos desafios. Zygmunt Bauman, em Modernidade Líquida, argumenta que a sociedade contemporânea é caracterizada pela fluidez e pela incerteza. Essa volatilidade nas relações sociais pode levar a novas formas de exclusão e marginalização, mesmo em contextos onde a diversidade é oficialmente reconhecida (Bauman, 2001).

Fonte: Storyset

Por exemplo, a globalização tem aumentado a diversidade cultural nas sociedades, mas também gerou tensões relacionadas à identidade nacional e ao multiculturalismo. Em alguns casos, o aumento da diversidade tem sido visto como uma ameaça às identidades nacionais e ao tradicionalismo, resultando em movimentos xenófobos exclusão sociais. Homi Bhabha, em “O Local da Cultura”, explora como a hibridização cultural pode gerar tanto criatividade quanto conflito, destacando a complexidade das interações culturais na pós-modernidade.

Nas relações contemporâneas, a valorização da diversidade se reflete em práticas sociais, políticas e organizacionais. Empresas e instituições têm adotado recursos de diversidade e inclusão, como propagandas que geram identificação, reconhecendo que a pluralidade de perspectivas pode ser uma fonte de inovação e dinamismo. No entanto, a implementação dessas políticas não é isenta de dificuldades. A eficácia das políticas de inclusão muitas vezes depende da capacidade das organizações de lidar com as resistências internas e com as tensões entre a diversidade e a coesão social.

A valorização da diversidade também tem implicações nas relações pessoais. As identidades na pós-modernidade são menos fixas e mais flexíveis, o que pode levar a uma maior aceitação das diferenças nas interações interpessoais. No entanto, essa mesma flexibilidade pode gerar incertezas e ansiedades, como apontado por Richard Sennett em A Corrosão do Caráter. As relações contemporâneas, portanto, são um campo de tensão entre a celebração da diversidade e a busca por estabilidade e continuidade (Sennett, 1999).

Embora a pós-modernidade tenha promovido a inclusão e o reconhecimento das diferenças, ela também trouxe à tona novas formas de exclusão e novas tensões sociais. Nas relações contemporâneas, a diversidade é uma fonte de riqueza e dinamismo, mas também exige um constante esforço para equilibrar a pluralidade com a coesão social. A busca por uma sociedade mais inclusiva e diversa continua sendo um dos principais desafios da era pós-moderna.

Referências:

BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. 1. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1994.

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

FEMINISMO. Página principal. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 set. 2024.

LYOTARD, Jean-François. A Condição Pós-Moderna. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.

MOVIMENTO LGBTQIA+. Página principal. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 set. 2024.

PLUMMER, Ken. Contando Histórias Sexuais: Poder, Mudança e Mundos Sociais. 1. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 1995.

SAID, Edward W. Orientalismo: O Oriente como Invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter: Consequências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999.

 

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Diversidade de gênero nas empresas favorece inovação e melhor desempenho de funcionários, diz pesquisa

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Análise da Willis Towers Watson mostra que mulheres em cargos de liderança proporcionam maior engajamento dos empregados.

As empresas com maior número de mulheres em cargos executivos oferecem experiências mais positivas aos empregados em termos de carreira, equiparação salarial, desenvolvimento de habilidades, confiança na liderança e apoio gerencial. É o que afirma uma pesquisa realizada pela consultoria e corretora Willis Towers Watson em parceria com a Bloomberg (GEI).

Torna-se cada vez mais necessário estabelecer uma força de trabalho verdadeiramente diversificada em todos os níveis organizacionais. Segundo a líder de Employee Insights da Willis Towers Watson, Erika Graciotto, as empresas estão descobrindo que, ao apoiar e promover um ambiente de trabalho diverso, estão obtendo benefícios que vão além da ótica de imagem da empresa no mercado. “O argumento moral tem peso suficiente, mas também há o impacto financeiro, já que a diversidade demonstrou impactar positivamente nos níveis de engajamento e de experiência dos funcionários em geral, levando a empresa a ter um desempenho melhor”, afirma.

Fonte: Erika Graciotto

A pesquisa mostra que empresas que possuem mais mulheres entre os colaboradores mais bem remunerados, acabam tendo mais empregados que sentem pertencer a uma organização inovadora e líder de mercado. As companhias com pelo menos um quinto das mulheres entre seus executivos apresentam 12 pontos percentuais a mais do que as demais na percepção sobre crescimento de carreira (73% contra 61%), 10 pontos percentuais a mais no sentimento de remuneração justa (62% contra 52%), além de apresentarem melhores índices de intenção de permanecer na empresa (71% contra 61%).

As empresas com um líder em diversidade (CDO), ou executivo equivalente, têm uma vantagem de 11 pontos percentuais nas questões sobre inclusão (84% favorável contra 73% favorável) em comparação com empresas sem essa função. “Empresas com executivos focados na diversidade, e com planos de ação voltados à liderança para mulheres, são vistas pelos empregados como mais eficazes em proporcionar um ambiente de trabalho inclusivo, com maior clareza sobre propósito e objetivos”, afirma Erika.

Fonte: encurtador.com.br/bijoK

Sobre a pesquisa

A análise vincula as práticas de diversidade com a opinião de 1,3 milhão de empregados entrevistados pela Willis Towers Watson, e 39 empresas participantes do Índice de Igualdade de Gênero Bloomberg 2020 (GEI). Este é o segundo ano em que a Willis Towers Watson conduz esta análise com referência cruzada de dados GEI. Os dados sobre o comportamento dos empregados são integrados aos da Bloomberg sobre programas e práticas relacionadas a gênero, que examinam as conexões entre políticas de diversidade de gênero e opinião dos empregados.

Sobre a Willis Towers Watson

A Willis Towers Watson (NASDAQ: WLTW) é uma empresa global líder em consultoria, corretagem e soluções, que auxilia os clientes ao redor do mundo a transformar risco em oportunidade para crescimento. Com origem em 1828, a Willis Towers Watson tem 45.000 colaboradores apoiando nossos clientes em mais de 140 países e mercados. Desenhamos e entregamos soluções que gerenciam riscos, otimizam benefícios, desenvolvem talentos, e expandem o poder do capital para proteger e fortalecer instituições e indivíduos. Nossa perspectiva única nos permite enxergar as conexões críticas entre talentos, ativos e ideias – a fórmula dinâmica que impulsiona o desempenho do negócio. Juntos, desbloqueamos potencial. Saiba mais em willistowerswatson.com.

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