A Vida de Brian: a incomunicabilidade produzindo a religião e a política

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“A Vida de Brian” (1979) do grupo inglês de humor Monty Python é um filme que não só se tornou atemporal como, depois de 38 anos, ganhou novas leituras. Paradoxalmente, com a expansão das novas tecnologias de comunicação como Internet e redes sociais. Por que? Porque o filme explora a incomunicabilidade humana: Religião e a Política como subprodutos da mentira, ilusão e ideologias que sempre tentam justificar algum mal entendido resultante da radical incomunicabilidade da espécie: o fato de que cada um vê o que quer ver e ouve o que quer ouvir.

Brian é confundido com o Messias e passa a ser perseguido não só pelos romanos como também por uma multidão de seguidores que veem nele apenas aquilo querem ver. Pedem de Brian um “sinal” da sua suposta divindade. Não importa o quanto Brian se esforce para tentar desfazer o mal entendido. Involuntariamente criou uma nova religião. E o que é pior: a multidão está ávida por um mártir que morra por ela na cruz…

Certamente Jesus de Nazaré gostaria do filme Vida de Brian (1979) da trupe de humor inglês Monty Python. Afinal, Jesus tinha senso de humor, manifestado em trocadilhos ocasionais na Bíblia como, por exemplo, “É mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino do Céu”. Ao contrário dos seus seguidores: na época do lançamento do filme, muitos representantes de religiões, sejam protestantes ou católicos, acusaram o filme de blasfemo e o grupo inglês de herege.

O filme chegou a ser banido em muitas cidades dos EUA. Apesar disso, A Vida de Brian não zomba da vida de Cristo, mas de um certo “Brian de Nazaré” que nasceu no mesmo dia e num estábulo vizinho ao recém-nascido famoso e aureolado. Aliás, no filme, Cristo aparece apenas duas vezes, sempre de passagem: na cena inicial como o vizinho famoso de Brian e na sequência do Sermão da Montanha. Diante de uma enorme multidão reunida, alguém se queixa: “Não consigo ouvi-lo! O quê ele disse?”. “Parece que ele disse que os gregos herdarão a Terra… e bem aventurados os produtores de queijo…”, alguém responde.

Depois de décadas, esse humilde blogueiro teve a oportunidade de voltar a assistir A Vida de Brian, o segundo longa do grupo depois do Em Busca do Cálice Sagrado (1975). O que me surpreendeu é que, 38 anos depois, o filme comprovou não só ser atemporal como também parece ter se renovado com o tempo ganhando novas leituras dentro do contexto cultural atual. Ao contrário de humoristas da mesma época que acabaram ficando datados como, por exemplo, as paródias de Mel Brooks (O Jovem Frankenstein, SOS Tem Um Louco no Espaço ou História do Mundo Parte 1).

Bem diferente, A Vida de Brian parece ter ganho ainda mais força paradoxalmente devido a posterior expansão das tecnologias de comunicação: TV digital, Internet, redes sociais etc. Apesar de toda banda larga tecnológica, o grande problema humano ainda é a incomunicabilidade. Algo parecido com o “ruído” do “telefone sem fio” da sequência do Sermão da Montanha no filme.

Como não poderia deixar de ser, tudo se passa sob o domínio e arbitrariedades do Império Romano que oprime o povo judeu. O filme acompanha a vida de um zé-ninguém chamado Brian Cohen (Graham Chapman) e a sua mãe Mandy Cohen (Terry Jones): ranzinza, autoritária e materialista, que o trata como fosse ainda uma criança. Toda a narrativa é como se fosse um acúmulo de mal entendidos, ruídos e enganos que vão se amontoando até chegar ao caos final. Já na primeira sequência o filme já dá o tom: os três reis magos entram no estábulo errado e acham que o recém-nascido Brian é o Messias. Sua mãe os trata como fossem bêbados pedófilos até que descobre que querem presenteá-lo com ouro, incenso e mirra. Ela fica com os presentes enquanto os magos rezam para o messias errado.

Claro que depois os reis magos descobrem o engano, empurram a mãe de Brian e retomam a força os presentes, enquanto o pobre bebê é esbofeteado pela mãe frustrada por não aguentar mais ouvir tantos choros, além de ter perdido os valiosos presentes. A Vida de Brian nos mostra como essa série de enganos (produzidos pela incomunicabilidade humana) se espalha não só pela infeliz vida de Brian, mas também se alastra na Política, na Religião e no Poder. É o ápice do senso de humor do grupo Monty Python: non sense, cinismo e humor negro – a capacidade de através do humor abordar temas muito sérios. De como o riso cínico pode desconstruir uma realidade aparentemente sólida e racional.

Após a impagável sequência inicial do engano dos três reis magos, acompanhamos Brian aos 33 anos, preocupado com sexo, em dúvidas se é realmente atraente para as mulheres e complexado pelo seu nariz grande. Chateado de ser ainda um filhinho da mamãe trintão, Brian vê a chance de ser alguém e se livrar da possessão materna: juntar-se à Frente Popular da Judéia, uma célula terrorista que pretende minar a dominação dos romanos sobre o povo judeu. O grupo planeja a ação mais ousada: sequestrar a esposa de Pôncio Pilatos. Mas na ação no subsolo do palácio de Pilatos, dão de frente com outro grupo terrorista que teve a mesma ideia.

Resultado: todos começam a brigar entre si enquanto, incrédulos, os soldados romanos observam esperando todos lutarem até cair para depois levar todo mundo preso. Brian é capturado e levado na presença de um impagável Pôncio Pilatos (Michael Palin) com língua presa (troca constantemente o “r” pelo “l”) e inseguro por perceber que os soldados o ridicularizam pelas costas. Enquanto Pilatos ameaça punir os soldados que o ridicularizam, Brian escapa e pula de uma janela, para cair em um beco onde estão diversos candidatos a “messias” fazendo discursos. Cada um com seus seguidores, todos tolerados pelos soldados romanos.

O Messias involuntário

Brian então finge ser mais um candidato a messias para passar desapercebido pelos romanos. Inventa um discurso qualquer e… pronto! Um pequeno grupo se forma para ouvi-lo. Brian fala de forma desconexa, preocupado com os soldados que o procuram e sai correndo, deixando incompleta uma frase. O pequeno grupo, que vira uma multidão, vai atrás de Brian, pedindo que complete a frase. Todos acreditam em algum desfecho de frase místico ou profético. Pronto!

A contragosto, Brian virou um novo messias, seguido por diferentes grupos que têm uma interpretação diferente para as palavras desconexas que ouviram. Não precisa de muito tempo para sabermos que ironicamente sua vida, que sempre correu paralela a de Jesus Cristo, poderá ter o mesmo desfecho trágico do filho de Deus. O cinismo em relação ao Poder, às burocracias e aos prestadores de serviço (seja dos pedintes aos comerciantes) são temas que perpassam o humor do Monty Python desde os tempos da série de TV Flying Circus (1969-1974) na BBC.

Em A Vida de Brian é ainda mais explícito: o ex-leproso revoltado porque Jesus o curou e ele perdeu seu ganha-pão de pedir esmolas; a Frente de Libertação propositalmente burocrática e inerte para evitar derrotar os romanos e chegar ao Poder porque não saberia o que fazer quando chegasse lá; comerciantes que precisam pechinchar não pela racionalidade econômica, mas por um obrigação moral; os seguidores de Brian que não aceitam os desmentidos do seu “messias”, não porque acreditam que ele seja um profeta mas porque sem ele não teriam outra coisa melhor para fazer; os romanos tão desorganizados que só conseguem dominar a Judéia porque os judeus parecem mais interessados em cuidar das suas vidas e fazer troça dos romanos, e assim por diante.

O cinismo do helenismo grego

Embora o humor do grupo a princípio trabalhe com estereótipos (o judeu materialista e covarde, um Pilatos gay enrustido etc.), vai muito mais além disso: explora uma forma especial de cinismo que remonta a tradição filosófica do período helenístico da Grécia antiga de Diógenes e Pirro – o cinismo (ou “kynismo” para os gregos da antiguidade) como forma crítica contra as três formas de falsidades que sustentam os poderes e a sociedade: a mentira (a má fé), a ilusão (a falsidade ontológica do mundo) e a ideologia (a ilusão mobilizada para finalidades políticas) – sobre isso clique aqui.

O cinismo do grupo inglês é cético: vê uma espécie de reversão irônica em cada ação humana – a fala de Jesus no Sermão da Montanha vira um “telefone sem fio”; a Frente política de oposição aos romanos vira um fim em si mesmo; tudo que Brian fala é filtrado por aquilo que seus seguidores querem ouvir. Por mais que Brian negue e insista que tudo foi um mal entendido, seus seguidores interpretam como algum tipo de mensagem mística cifrada. Por isso A Vida de Brian vê a Religião, a Política e o Poder de forma cínica – tudo é um conjunto de mal entendidos e incomunicabilidade na qual cada um entende o que quer entender, ouve o que quer ouvir.

Religião e política como racionalizações

Toda a mentira, a ilusão e as ideologias produzidas por elas seriam nada mais que racionalizações para justificar esse mal entendido radical. Assim como na emblemática sequência em que Brian foge desesperado não só dos romanos mas também de uma multidão de seguidores que pedem dele um “sinal” de sua divindade. Na fuga, Brian deixa derrubar uma cabaça (vaso de barro com gargalo estreito e comprido) e uma sandália acaba saindo do seu pé, ficando para trás.

O grupo que pegou a cabaça, ergue o objeto dizendo que é “a cabaça sagrada de Jerusalém” e passam a se autodenominar “cabacenos”. Enquanto outro grupo rival levanta a sandália para o céu e grita que aquilo é o verdadeiro “sinal”. Pronto! Acabou de ser criado o primeiro cisma religioso da história do Cristianismo. E sabemos que mais tarde o Império Romano adotou o Cristianismo como a religião oficial. Será que foi mais uma estratégia maquiavélica de “dividir para reinar” entre tantos outros exemplos que a História nos conta?

FICHA TÉCNICA DO FILME:

A VIDA DE BRIAN

Diretor: Terry Jones

Elenco: Graham Chapman, John Cleese, Terry Jones, Eric Idle, Michael Palin, Terry Gillliam

País: Reino Unido

 Ano: 1979

Classificação: Livre

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Oxum e o arquétipo da feminilidade

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capa face 2

Oxum é a Deusa das águas doces e frescas, divindade do rio Oxum, na Nigéria. É o orixá do ouro, do mel, da beleza, do amor e da gestação.

Exú é o orixá responsável pela fecundação. Quando ocorre a fecundação, a regência passa a Oxum, que protege o feto durante esse processo. Após o nascimento a regência passa aIemanjá.

A ela pertence o ventre da mulher (lembrando que o feto se desenvolve dentro de uma bolsa d’água). Regente também da menstruação, da gravidez e do parto. E desempenhando, assim importante função nos ritos de iniciação, que são a gestação e o nascimento. As mulheres que desejam ter filhos costumam se dirigir a ela.

Uma lenda interessante:

“Quando todos os orixás chegaram a terra, organizaram reuniões onde as mulheres não eram admitidas. Oxum ficou aborrecida por ser posta de lado e não poder participar de todas as deliberações. Para se vingar, tornou as mulheres estéreis e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a resultados favoráveis. Desesperados, os orixás dirigiram-se a Olodumaré e explicaram-lhe que as coisas iam mal sobre a terra, apesar das decisões que tomavam em suas assembléias. Olodumaré perguntou se Oxum participava das reuniões e os orixás responderam que não. Olodumaré explicou-lhes então que, sem a presença de Oxum e do seu poder sobre a fecundidade, nenhum de seus empreendimentos poderia dar certo. De volta a terra, os orixás convidaram Oxum para participar de seus trabalhos, o que ela acabou por aceitar depois de muito lhe rogarem. Em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os projetos obtiveram felizes resultados”.

Sendo a senhora do ouro, é uma deusa da riqueza, da fartura. Oxum domina os rios e as cachoeiras, mostrando que atrás de uma superfície aparentemente calma podem existir fortes correntes e cavernas profundas.

As lendas costumam representá-la com ricas vestes, perfumes e com colares e jóias, ou seja, tudo relacionado à vaidade. Ela é também representada com uma feminilidade elegante e coquete.

Antigamente, Oxum era associada ao cobre, pois esse era o metal mais valioso do país ioruba nos tempos mais antigos. Depois sua associação passou ao ouro. Mas o que importa é que ela rege os metais preciosos.

No Brasil, o dia da semana consagrado a ela é o sábado e sua saudação é como na África, feita pela expressão “Ore Yèyé o!!!” (“Chamemos a benevolência da Mãe!!!”).

Conforme Pierre Verger

Mas Oxum também tem seu lado sombrio. E esse lado se manifesta em sua vaidade extrema, levando a competição desenfreada com outras. Em uma de suas lendas, Oxum matou Iansã, devido à inveja de sua beleza. Outra lenda muito famosa de Oxum e que mostra sua sombra é aquela em que ela manipula Obá, levando-a a cortar sua própria orelha e servir no jantar paraXangô. Oxum também podia ser vingativa, competitiva e dissimulada.

Pode-se afirmar, então que Oxum representa um arquétipo predominantemente feminino. Ela remete aos mistérios da feminilidade. É o símbolo do poder feminino da fecundação e da continuidade da vida. Sem esse arquétipo, é impossível, como descrito no mito acima, levar a cabo qualquer empreendimento. Sem ele não há fertilidade, não há prosperidade. Pois não há gestação.

Oxum é, então, a “mãe das mães”. Nos arcanos maiores do Tarot encontramos esse arquétipo no trunfo número 3, A Imperatriz. Que simboliza criatividade, sucesso, gestação, encanto, amabilidade e cortesia. Outro paralelo, enquanto deusa da fertilidade e da maternidade, pode ser feito com Demeter, a deusa grega da fecundidade da terra.

Sua sensualidade, intuição, demonstra toda sabedoria feminina, toda manifestação criativa. A ela pertencem todas as manifestações criativas, sensuais e alegres. A dança, a música, toda forma de arte, a culinária e também a cura.

Como deusa do amor, tem paralelos com Afrodite, Vênus, Ishtar, Astarte. Sendo também uma deusa alquímica, transformadora (ver post sobre Afrodite).

Como senhora do ouro, simboliza o que é incorruptível. Os nossos valores, não apenas materiais, mas valores espirituais também.

Quando esse arquétipo se torna presente na vida do indivíduo, seja homem ou mulher, traz criatividade, imaginação fecunda, alegria de viver e desfrutar os prazeres da vida. Proporciona também graça, leveza, amabilidade, diplomacia e paciência para com os dissabores da vida, trazendo a doçura do mel e frescor de suas águas.

 

Referências:

BARCELLOS, M. C. Os orixás e a personalidade humana. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.

JUNG, C. Os Arquétipos e o inconsciente coletivo. 2 ed. Petrópolis, RJ, Vozes 2002.

VERGER, P. F. Orixás. Círculo do Livro.

ZACHARIAS, J. J. M. Oriaxé – A dimensão arquetípica dos Orixás. São Paulo: Vetor, 1998.

ZACHARIAS, J. J. M. Compadre – uma análise psicológica possível de Exu. São Paulo: Vetor, 2010.

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Omulú e o arquétipo do curador ferido

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Omulú ou Obaluaê, assim como Nanã Buruku é uma das divindades mais antigas do panteão iorubá.

Pierre Verger diz que a antiguidade dos cultos de Obaluaê e Nanã Buruku, frequentemente confundidos em certas partes da África, é indicada por um detalhe do ritual dos sacrifícios de animais que lhe são feitos. Esse ritual é realizado sem o emprego de instrumentos de ferro, indicando que essas duas divindades faziam parte de uma civilização anterior a Idade do Ferro e à chegada de Ogum (que veio com Odùduà).

Obaluaê (“Rei Dono da Terra”) ou Omulú (“Filho do Senhor”) são os nomes geralmente dados a Xapanan, cujo nome é perigoso pronunciar.

Omulí é a divindade da varíola e das doenças contagiosas. Ele pode tanto enviar a doença como curá-la. Sendo então, um Orixá das doenças e da saúde, e conseqüentemente da vida e da morte.

É tido como um Orixá sombrio, severo e terrível, caso não seja devidamente cultuado, porém pode ser um pai bondoso e fraternal para aqueles que se tornam merecedores, através de gestos humildes, honestos e leais.

Omulú seria, então, aquele que pune os malfeitores e insolentes enviando-lhes a varíola. Porém, mesmo com um caráter extremamente severo e punitivo é, por vezes capaz de completa abstração de seus próprios interesses e necessidades vitais em prol dos necessitados.

Em algumas lendas, é apresentado com o rosto e o corpo cobertos de palha para esconder as marcas da varíola, em outras, é também assim representado, mas já está curado, a palha seria apenas um artifício para impedir de ser olhado de frente por ser o próprio brilho do sol.

Seu símbolo é o Xaxará – um feixe de ramos de palmeira enfeitado com búzios.

É sincretizado com São Roque, na Bahia e em Cuba, e com São Sebastião no Recife e no Rio de Janeiro. Também se aproxima de São Lázaro na mitologia católica, pois como deus da varíola comumente é representado com o corpo cheio de feridas e abscessos, assim como o santo católico. Outra aproximação que pode ser feita é com o centauro grego Quiron. E sobre ele vale a pena falarmos um pouco mais.

Quíron era um centauro, considerado superior por seus próprios semelhantes. Pois ao contrário dos centauros que, como os sátiros, eram notórios por serem bebedores contumazes e indisciplinados, delinqüentes sem cultura e propensos à violência quando ébrios, Quíron era inteligente, civilizado, bondoso, e célebre por seu conhecimento e habilidade com a medicina.

Quiron é filho de Cronos e da ninfa Filira. Foi abandonado pela mãe quando nasceu que não suportou a figura de um ser metade homem, metade cavalo. Sendo posteriormente, encontrado e criado por Apolo, que como pai adotivo lhe ensinou todos os seus conhecimentos: artes, música, poesia, ética, filosofia, artes divinatóriase profecias, terapias curativase ciência.

Ele foi ferido na coxa por uma flecha lançada por Hércules. A flecha havia sido banhada no sangue da Hidra e era, portanto venenosa. Quíron não podia morrer, pois era imortal, e ficou com uma ferida incurável, se tornando impotente para curar seu próprio ferimento. Sofrendo intensamente, recolheu-se a uma gruta no monte Pélion onde, porém, continuou transmitindo seus conhecimentos aos discípulos. Teve como pupilos diversos heróis, como Asclépio, Aristeu, Ajax, Enéas, Actéon, Ceneu, Teseu, Aquiles, Jasão, Peleu, Télamon, Héracles, Oileu, Fênix, e em algumas versões do mito, Dionisio.

Quiron, assim como Omul, apresentam semelhanças em suas mitologias, como o fato de haverem sido abandonados no nascimento por suas mães, devido as suas características físicas (Omulú foi abandonado por Nanã devido às chagas que trazia em se corpo). Entretanto, Omulú foi criado por Iemanjá, diferente de Quiron que teve um pai adotivo, Apolo.

Com isso, podemos afirmar que ambos representam o mesmo arquétipo, o do curador ferido. Esse arquétipo representa aquele que mesmo ferido cura o outro. Isso porque entende o sofrimento humano.

Bons terapeutas apresentam esse arquétipo constelado, pois sem ter vivido a dor não poderá ajudar o outro em seu sofrimento. Mas há que se compreender essa dor. A dor não está tanto em suas chagas, mas sim no abandono. O fato de possuir as chagas ou a deficiência é que gera o abandono, mas é no abandono que o curador encontra a força e a compreensão que leva ao amadurecimento.

Zacharias (1998) aponta um aspecto interessante no mito de Omulú. Nanã representa outro aspecto da mãe terrível, o aspecto da mãe que abandona diferentemente de Iami Oxorongá que devora. O aspecto positivo do dinamismo materno está representado em Iemanjá, sendo aquela que cura as feridas físicas e emocionais, uma vez que ela leva Omulú novamente para Nanã para que se perdoem mutuamente. Portanto o mito aponta a solução que leva a cura. A cura está na compreensão e no perdão.

Nanã é a mãe terra que expulsa o filho de seu ventre. Se assim não o faz não há a possibilidade de amadurecimento. Querer permanecer no ventre materno, sendo aceito o tempo todo, em um paraíso utópico é um caráter regressivo, que irá nos manter refém.

Entender e compreender que no processo de individuação é necessário ser abandonado, para o desenvolvimento de nossa personalidade enquanto heróis de nossas vidas é o caminho para a cura. E em Iemanjá, que falaremos logo mais, encontra-se essa compreensão. Lembrando que estaremos novamente nos braços e ventre de Nanã em nossa morte. Seremos recebidos por ela novamente. Omulú compreendeu essa dinâmica, e isso o tornou um sábio professor da vida. Sua dor não desapareceu, mas a compreensão dela o faz transcende-la transformando o sofrimento em compaixão.

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Ewá e o arquétipo da castidade

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Ewá ou Iyewa é uma divindade feminina reverenciada como a dona dos horizontes, da névoa e do cemitério. Filha de Nanã, seu nome significa mãezinha do caráter.

Ela também é um Orixá das águas, mais especificamente do rio Yewá, em lagos da Nigéria. Aparece em algumas lendas vivendo no cemitério com Iansã e Omulu, em outras na névoa e em outras com Oxumaré no arco-iris.

É representada por uma bela virgem. O próprio Xangô se apaixonou por ela, mas não conseguiu conquistá-la. Representa a castidade. Tudo o que é virgem e inexplorado contam com a proteção dela: a mata virgem, as moças virgens, rios e lagos onde não se pode nadar ou navegar. Entretanto, em algumas lendas é retratada como a esposa de Oxumaré, pertencendo a ela a faixa branca do arco-íris, em outras aparece como esposa de Obaluaiê.

Na verdade ela mantém fundamentos em comum com Oxumaré, inclusive dançam juntos, mas não fica claro em suas lendas se ela é a sua porção feminina, sua esposa ou filha. Mas juntos eles conduzem o arco íris e o ciclo da água.

Por se tratar de um Orixá pouco cultuado no país é muitas vezes identificada como uma Oxum guerreira, ou como Oxumaré fêmea, devido ao fato de também portar uma cobra.

Ewá também tem o poder da vidência, atributo que Orunmilá (com quem também já apareceu casada) lhe concedeu. É também a rainha do céu estrelado e dos cosmos, ou seja, do lugar onde o homem não alcança. Sua saudação é “Riró”!

 

Seus símbolos são o Ejô (cobra) a espada e o Ofá (lança ou arpão).Sua origem é um tanto controvertida. Alguns afirmam que tal como Oxumaré, Nanã, Omulúe Iroko, Ewá era cultuada inicialmente entre os Mahi, sendo assimilada pelos Iorubas e inserida em seu panteão.  Havia um Orixá feminino oriundo das correntes do Daomé chamado Dan. A força desse Orixá estava concentrada numa cobra que engolia a própria cauda, o que denota um sentido de perpétua continuidade da vida, pois o círculo nunca termina. Ewá teria o mesmo significado de Dan ou uma das suas metades – A outra seria Oxumaré.

Ewá enquanto deusa virgem e das florestas inexploradas pode ser comparada à grega Artemis e à romana Diana. Artemis, assim como Ewá também tinha uma intensa ligação com seu irmãoApolo. A ponto de ser a sua única relação significativa com um homem.

É importante, a partir desse ponto, analisar esse aspecto virgem da deusa.  Na Alquimia a prima-mater, a matéria prima é virgem, ou seja, é pura, mas que deve ser transformada pela Opus.

Em seu livro As deusas e a mulher, Jean Shinoda Bolen nos traz uma reflexão profunda sobre esse aspecto da virgindade. Ele é muito mais que não ser inviolada por um homem. É o aspecto de não pertencer ou ser “impenetrável” ao homem. É a mulher que não é afetada pela necessidade de um homem ou pela necessidade de ser aprovada por ele, que existe completamente separada dele, em seu próprio direito. Portanto, quando a mulher está vivendo um arquétipo de virgem, isso significa que um aspecto significativo seu é psicologicamente virginal, e não que ela seja fisicamente ou literalmente virgem.

Toda mulher carrega em si um aspecto de virgindade, mesmo que já seja casada e mãe. É o aspecto da prima mater que deseja ser fecundado para que possa gerar nova vida. É o aspecto onde a mulher é uma em si mesmo, onde não leva rótulos de esposa e mãe. O lado de sua personalidade que não foi afetado pelas expectativas coletivas sociais e culturais. É o seu trabalho criativo que deve ser fecundado por seu animus.

Mas esse aspecto, quando levado de uma forma muito radical, pode ser muito perigoso. A mulher pode se tornar alheia a relacionamentos, não se permitindo viver emoções e experiências transformadoras. Outro aspecto importante desse arquétipo, a ser explorado, e que também se liga ao tema da virgindade é o fato de Ewá ser o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o estado gasoso, gerando nuvens e chuvas.  Transformar a água do seu estado liquido para o gasoso remete a operação alquímica sublimatio.

A sublimação é um processo onde uma substância inferior se transforma em uma superior. Tudo o que se refere ao movimento para cima, como escadas, aviões, elevadores, etc, está diretamente ligado à sublimatio. Ou seja, o arco-íris inatingível, o céu, a névoa, campos de atuação de Ewá correspondem a essa operação alquímica.

 

Em Anatomia da Psique, Edinger, descreve essa operação alquímica como um se colocar a uma distância das emoções.

“A sublimatio é uma ascensão que nos eleva acima do emaranhado confinador da existência terrestre, imediata, e de suas particularidades concretas, pessoais. Quanto mais alto nos elevamos, tanto maior e mais ampla nossa perspectiva, mas, ao mesmo tempo, tanto mais distantes ficamos da vida real e tanto menor a nossa capacidade de agir sobre aquilo que percebemos.Tornam-nos expectadores magníficos, mas impotentes.”

Se colocar acima dos problemas, tomar distância nos ajuda a ter uma nova perspectiva sobre problema, mas também pode nos alienar dessas mesmas emoções. Esse arquétipo, representado por Ewá, não se altera por suas experiências com os outros. Nunca é dominada por suas emoções, nem por outros. É invulnerável ao sofrimento, intocáveis nos relacionamentos, sendo, portanto, inacessíveis a transformações.

Outro aspecto importante desse arquétipo é narrado em uma de suas lendas. Na qual Ewá era filha de Obatalá, e o amor de seu pai por ela era muito estranho, fazendo-a viver em seu castelo como se estivesse em uma clausura. A fama da beleza e da castidade da princesa chegou a todas as partes, inclusive ao reino de Xangô. Mulherengo, Xangô planejou seduzir Ewá, empregando-se como jardineiro no palácio de Obatalá. Um dia Ewá apareceu na janela e admirou a beleza de Xangô. Não se tem notícia de como Ewá se entregou a Xangô, no entanto, arrependida de seu ato, pediu ao pai que lhe enviasse a um lugar onde nenhum homem lhe enxergasse. Obatalá deu-lhe o reino dos mortos. Desde então é Ewá quem, no cemitério, entrega a Oyá os cadáveres que Obaluaiê conduz para que Orisá-Okô os coma.

Algumas versões desse mesmo mito, narram que Ewá se decepcionou com Xangô indo viver no cemitério. Indo morar no cemitério, Ewá se torna morta para qualquer atividade afetiva. Essa é uma das características da mulher dominada pelo animus. A possessão pelo animus, ao contrario da anima, leva a mulher à morte. A morte de sua criatividade, de sua capacidade de se relacionar e amar.

Diferentemente de Oyá, que mesmo sendo a senhora dos mortos mantinha relacionamentos e era sexualmente ativa. Para finalizar, esse arquétipo, quando constelado, pode nos ajudar a nos distanciar dos problemas e das emoções intensas, de forma a garantir que possamos ver a situação como um todo e tomarmos uma decisão mais acetada.

Ele também representa nosso aspecto virginal, puro, nossa prima-mater, que guardamos em nosso íntimo e que não deve se submeter às convenções sociais. Mas para nosso desenvolvimento pessoal, nosso processo de individuação deve se abrir para a Opus, deve se abrir à fecundação, para que possa gerar novos frutos e nos transformar.

REFERÊNCIAS

BARCELLOS, M. C. Os orixás e a personalidade humana. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.

JUNG, C. Os Arquétipos e o inconsciente coletivo. 2 ed. Petrópolis, RJ, Vozes 2002.

VERGER, P. F. Orixás. Círculo do Livro.

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Obá – deusa do amor e da paixão incontrolável

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Obá é uma divindade do rio de mesmo nome, foi a terceira mulher de Xangô, junto com Oxum e Oyá, e também mulher de Ogum segundo uma lenda de Ifá.

Orixá feminino muito forte e enérgico. É extremamente temida, sendo considerada mais forte que muitos Orixás masculinos como, Oxalá, Xangô e Orumilá, os quais venceram em lutas.

Sua lenda mais famosa é a da disputa entre ela e Oxum pelo amor de Xangô.

Oxum era jovem e elegante; Obá era mais velha e usava roupas fora de moda, fato que nem chegava a se dar conta. Obá pretendia monopolizar o amor de Xangô e sabendo o quanto ele era guloso, procurava sempre surpreender os segredos das receitas de cozinha utilizadas por Oxum, a fim de preparar as comidas de Xangô. Oxum, irritada, decidiu pregar-lhe uma peça e, um belo dia, pediu-lhe que viesse assistir, um pouco mais tarde, à preparação de terminado prato que, segundo lhe disse Oxum maliciosamente, realizava maravilhas junto a Xangô. Obá apareceu na hora indicada.

Oxum, tendo a cabeça atada por um pano que lhe escondia as orelhas, cozinhava uma sopa na qual boiavam dois cogumelos. Oxum mostrou-os à sua rival, dizendo-lhe que havia cortado as próprias orelhas, colocando-as para ferver na panela, a fim de preparar o prato predileto de Xangô. Este, chegando logo, tomou a sopa com apetite e deleite e retirou-se, gentil e apressando, em companhia de Oxum, Na semana seguinte, era a vez de Obá cuidar de Xangô. Ela decidiu pôr em pratica a receita maravilhosa: cortou uma de suas orelhas e cozinhou-a numa sopa destinada a seu marido. Este não demonstrou nenhum prazer em vê-la com a orelha decepada e achou repugnante o prato que ela lhe serviu.

Oxum apareceu, neste momento, retirou seu lenço e mostrou que suas que suas orelhas jamais haviam sido cortadas nem devoradas por Xangô. Começou, então, a caçoar da pobre Obá, que furiosa, precipitou-se sobre sua rival. Segui-se uma luta corporal entre elas. Xangô, irritado, fez explodir o seu furor. Oxum e Obá, apavoradas, fugiram e se transformaram nos rios que levam seus nomes. No local de confluência dos dois cursos de água, as ondas tornam-se muito agitado em conseqüência da disputa entre as duas divindades.

Por isso quando se manifesta em seus filhos, esconde seu defeito na orelha com a mão. Seus símbolos são uma espada e um escudo. Sua cor é o vermelho, seu dia é a quarta-feira e sua saudação é Obá Xirê.

Obá é o Orixá do vigor e da coragem, e se distingue das outras Iabás pela falta de charme e feminilidade. Entretanto ela não teme nada nem ninguém no mundo. Seu maior prazer está na luta. Obá venceu todas as disputas que foram organizadas entre ela entre diversos orixás, com exceção de Ogum, que aconselhado por um babalaô, preparou uma oferenda de espigas de milho e quiabo, amassando-os em um pilão, obtendo uma pasta escorregadia, a qual espalhou pelo chão, no lugar onde aconteceria a luta. Chegado o momento, Obá, que fora atraída até o lugar previsto, escorregou sobre a mistura, aproveitando-se Ogum para derrubá-la e possuí-la no ato. Assim tornou-se esposa de Ogum.

Ela também é um orixá das águas, entretanto representa as águas revoltas e fortes dos rios, assim como as pororocas. O lugar das quedas também são considerados domínios de Obá. Ela representa também a transformação dos alimentos de crus em cozidos. Obá, enquanto orixá do elemento água, representa as emoções. Mas emoções fortes e avassaladoras, como o amargor de não ser amado, o ciúmes e a vingança.

Nesse aspecto vingativo e ciumento Obá se assemelha a grega Hera ou Juno para os romanos. Deusa do casamento e da fidelidade conjugal era constantemente traída Zeus e se vingava de todas as investidas românticas dele.

Obá é orixá do amor não correspondido, das dores de amor, assim como a vingança e o rancor decorrentes disso. Ela é capaz de sacrifícios extremos pelo ser amado, a ponto de se mutilar. De perder uma parte de si mesmo.

Representa o aquele que foi enganado e rejeitado, e que por isso tornou-se amargo, passando assim a rejeitar uma nova experiência afetiva e a se voltar à realização profissional. Mesmo sendo extremamente forte fisicamente perde a sua personalidade em função do outro.

Obá pode representar a mulher masculinizada, onde a força bruta e a disputa com os homens imperam no lugar da sedução e vaidade (Oxum), e da alegria e sensualidade (Oyá). Entretanto, ela é mais que isso. Ela é uma mulher muito forte e que foi ferida, abandonada. Ela é considerada a representante suprema da ancestralidade feminina.

Obá é saudada como o Orixá do ciúme, mas não se pode esquecer que o ciúme é o coronário inevitável do amor. Portanto, Obá é a deusa do Amor e da Paixão incontrolável, com todos os dissabores e sofrimentos que o sentimento pode acarretar.

Referências:

BARCELLOS, M. C. Os orixás e a personalidade humana. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.

JUNG, C. Os Arquétipos e o inconsciente coletivo. 2 ed. Petrópolis, RJ, Vozes 2002.

VERGER, P. F. Orixás. Círculo do Livro.

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Ossain e a transformação da realidade

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Ossain, conhecido também por Ossonhe, Ossãe e Ossanha é o orixá das plantas e ervas tanto medicinais como litúrgicas.

É um orixá originário da região de Iraó, na Nigéria, muito próxima com a fronteira com o antigo Daomé. Não faz parte, como muitos pensam, do panteão Jeje assimilado pelos Nagô, como Nana, Omolú, Oxumaré e Ewá. Ossain é um deus originário da etnia Ioruba. Contudo, é evidente que entre os Jeje havia um deus responsável pelas folhas, e Ágüe é o seu nome, por isso Ossain dança bravun e sató, a exemplo dos deuses do antigo Daomé.

Orixá de extrema importância, uma vez que as plantas e a folhas são imprescindíveis nos rituais e obrigações de cabeça e assentamento de todos os Orixás através dos banhos feitos de ervas. O nome das plantas, a sua utilização e as palavras mágicas (ofó), cuja força desperta seus poderes, são os elementos mais secretos e importantes do ritual de culto aos deuses iorubás.

Ossain é uma divindade que juntamente com Oxossi rege as florestas.

Seus conhecimentos sobre os mistérios das folhas se estendem sob o âmbito da utilização mágica e do uso medicinal, tornando-o um orixá da cura e da medicina, formando assim um par de oposto com Omulu, orixá das doenças.

Suas cores são o verde e o branco. Seu dia da semana é a quinta feira. Sua saudação é: Ewé ó! Seu símbolo é uma haste de ferro, tendo, na extremidade superior, um pássaro em ferro forjado; esta mesma haste é cercada por seis outras dirigidas em leque para o alto.

Conforme uma lenda de Ifá “o pássaro é a representação do poder de Ossain. É o seu mensageiro que vai a toda parte, volta e se empoleira sobre a cabeça de Ossain para lhe fazer o seu relato”. O simbolismo do pássaro é bem conhecido das feiticeiras, por esse motivo Ossain é considerado o grande feiticeiro. Aquele que por meio das folhas pode realizar curas e milagres, e trazer progresso e riqueza.

Orixá do sexo masculino, que como feiticeiro e estudioso das plantas, não possuía tempo para relacionamentos amorosos. Sabe-se que foi parceiro de Iansã, mas o controvertido relacionamento com Oxóssi, que ninguém pode afirmar se foi ou não amoroso, é o mais comentado.

Na verdade, Ossaim e Oxóssi possuem inúmeras afinidades: ambos são orixás do, da floresta, do mato, das folhas, são grandes feiticeiros e possuem ligação com as Iami Oxorongá.

Devido a sua relação com a medicina, Ossain se aproxima do grego Asclépio (ou Esculápio). Deus da Medicina. Enquanto feiticeiro, Ossain também pode ser associado ao trunfo do Tarot, O Mago. O Mago é aquele que conhece a manipulação dos elementos. É aquele que transforma um elemento em algo útil e curativo.

Em termos arquetípicos, O Mago é aquele que tem a capacidade de transformar a realidade, ele é capaz de fazer uma modificação da consciência. Ossain, pode ser considerado o representante do arquétipo do xamã, um misto de mago e  curandeiro.

 

 

Em nossa vida prática, quando o xamã é constelado, podemos ter acesso a uma transformação psíquica, uma cura mágica de uma neurose ou de um conflito. Uma vez que o xamã tem a capacidade de entrar em um estado alterado de consciência. Ele vive em um limiar entre o ego e o inconsciente coletivo, sendo uma ponte entre o consciente e o inconsciente

Além disso, começam acontecer uma série de acontecimentos sincrônicos. A vida está seguindo seu fluxo corretamente. Mas nem tudo são flores nesse arquétipo. E como todos os outros ele possui uma sombra, que deve ser reconhecida, reverenciada e compreendida.

 

 

O mago-curandeiro tem um poder maior que o rei, apesar de sua atuação ser discreta e menos evidente. Entretanto, ele é imprescindível, pois sem ele haveria muitas mortes. E esse poder gera um desejo de controlar e manipular os outros. A sua sombra, então, é justamente querer mudar o outro e manipulá-lo.

Quando aprendemos algo, ou temos uma experiência que muda as nossas vidas queremos que os outros nos sigam. E isso é um erro! Cada um tem a sua forma de viver que não está certa nem errada.

 

 

E a maior lição que Ossain nos deixa é que nosso mago, curandeiro interno deve ajudar cada um a descobrir seu próprio caminho e a entender a hora em que algo deve morrer ou ser curado. E isso só se aprende com muita sabedoria e paciência.

 

BARCELLOS, M. C. Os orixás e a personalidade humana. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.

JUNG, C. Os Arquétipos e o inconsciente coletivo. 2 ed. Petrópolis, RJ, Vozes 2002.

VERGER, P. F. Orixás. Círculo do Livro.

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