Agência de modelos celebra o Dia Internacional do Albinismo

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Data é comemorada neste domingo (13) e chama atenção para esta causa 

No próximo domingo (13) é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Albinismo. Instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, a data tem como objetivo chamar a atenção para que sejam eliminadas todas as formas de violência e preconceito enfrentadas por pessoas com albinismo em todo o mundo, apoiar sua causa – desde suas realizações e práticas positivas até a promoção e a proteção de seus direitos. Pensando nisso, a agência Max Fama fez este editorial com alguns dos seus modelos.

“Queremos chamar atenção para esta causa mostrando que quem tem albinismo é capaz de fazer tudo”, relata a produtora de moda da agência de modelos Max Fama, Carolina Souza. “Sabemos que ainda existe muito preconceito, mas é pura falta de informação. Isso só vai diminuir ou acabar se a gente falar sobre o tema e alertar sobre a causa. Por isso fizemos este material cheio de amor”, finaliza.

Fonte: Jorge Luiz Garcia

Vale lembrar que o albinismo é uma desordem genética na qual ocorre um defeito na produção da melanina, pigmento que dá cor à pele, cabelos e olhos. A alteração genética também leva a modificações da estrutura e do funcionamento ocular, desencadeando problemas visuais.

Não existe, atualmente, nenhum tratamento específico e efetivo, pois o albinismo é decorrente de uma mutação geneticamente determinada. Pessoas com albinismo devem iniciar o acompanhamento por profissionais de saúde assim que o problema for detectado.

Fonte: Jorge Luiz Garcia

O albinismo não é contagioso, não compromete o desenvolvimento físico e mental nem a inteligência de seus portadores. Infelizmente, muitos são cercados de mitos e preconceitos que têm impacto negativo sobre sua autoestima e sociabilidade.

Vamos celebrar este dia com amor e informação, são as únicas maneiras de combater o preconceito!

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AME: a doença com o tratamento mais caro do mundo

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A atrofia muscular cerebral, mais conhecida como AME, é uma doença genética rara e sem cura. Ela leva a uma intensa fraqueza muscular em todo o corpo da criança desde o momento do nascimento, principalmente abaixo do pescoço. É considerada rara pois afeta 1 a cada 10 mil bebês. A efeito de comparação, a Síndrome de Down afeta 1 a cada 800. 

As características da doença estão na degeneração dos neurônios motores da medula espinhal, que podem evoluir para uma insuficiência respiratória, não permitindo a autonomia na hora da locomoção e dificultando qualquer tipo de movimento. Além disso, também pode gerar pneumonias de repetição, necessidade de suporte respiratório por fraqueza muscular intensa e atrofia muscular. 

Os sintomas da AME aparecem, geralmente, nos primeiros meses após o nascimento. Observa-se fraqueza intensa da musculatura global, especialmente abaixo do pescoço, de modo simétrico, levando a enorme hipotonia que é diminuição do tônus muscular e da força causando moleza e flacidez, além da atrofia muscular e contrações de língua e músculos em geral. 

Fonte: encurtador.com.br/cltC4

As consequências do AME ao longo da vida são que o bebê não vai conseguir adquirir autonomia para se locomover, poderá ter pneumonias de repetição, além de poder precisar de suporte respiratório por fraqueza muscular intensa e atrofia muscular. O diagnostico pode ser feito por meio de exames de sangue, eletroneuromiografia, biópsia muscular e testes genéticos, que traz um resultado específico e definitivo.

Mas a dificuldade na detecção é um dos fatores que prejudica o tratamento precoce. Isto porque existem diferenças no aparecimento dos sintomas em cada criança, que é definido em graus pela idade, podendo ser mais ou menos intensa. Os graus são definidos em tipo 1, quando manifestado até os 6 meses de vida; tipo 2, manifestado entre 6 meses e 18 meses; e tipo 3, que aparece após esse período.

Apesar de não ter cura, há tratamento e até a recente aprovação de um medicamento nos Estados Unidos – o Zolgensma. Basicamente, o tratamento consiste em cuidados paliativos e envolve fisioterapia, além de medidas preventivas para infecções. Já o remédio, apesar de revolucionário, não é de fácil aquisição, pois é um medicamento milionário, em resumo, o mais caro do mundo. Além disso, só pode ser administrado até os 2 anos de idade.

Fonte: encurtador.com.br/pxPVZ

Até então, o medicamento que pode ser um alívio para a vida de várias famílias, possui apenas o registro de uso da Anvisa, o que, apesar de ser um passo a mais, ainda não trouxe grandes expectativas. Isso, porque o Zolgensma não é produzido nem comercializado no Brasil, o que impossibilita a incorporação ao SUS e faz com que bebês do país inteiro percam a oportunidade de um tratamento.

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O novo coronavírus e a ansiedade por doença

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Com o surgimento de epidemias como a do novo coronavírus, proveniente da China, e alguns casos suspeitos do vírus no Brasil, os brasileiros ficam em alerta constante. Essa situação de alerta, porém, muitas vezes, pode vir acompanhada de um medo desproporcional de ficar doente, ou até mesmo, de um medo da morte. 

O medo é um sentimento natural do ser humano, o qual é extremamente importante, pois nos protege em várias situações de perigo iminente. Contudo, existe o que chamamos de medo “normal” e o que seria considerado um medo patológico. O medo normal considera as probabilidades estatísticas, não traz grandes prejuízos à vida dos indivíduos e serve como proteção a perigos reais. 

O medo patológico é um medo que passa a determinar nossas ações, ou seja, para tomarmos qualquer atitude, o medo é “consultado”. O que ocorre, então, é que, na maior parte das vezes, passamos a evitar diversas situações ou a buscar aconselhamento a todo momento. 

Fonte: encurtador.com.br/nGL46

Especificamente, em relação ao medo ou ansiedade por doença, o indivíduo está sempre preocupado de ter ou adquirir alguma doença. A partir disto, a pessoa fica com a sua atenção mental concentrada em reconhecer os possíveis sintomas de determinada doença, torna-se hipervigilante, fica mais ansiosa e, então, apresenta sensações autossugestionáveis em razão da ansiedade, na realidade.

Nesses casos de ansiedade por doença, o indicado é que esses indivíduos enfrentem os seus medos, seja buscando conhecimento sobre a doença e suas probabilidades reais, seja levando em conta dos exames realizados que não deram nenhum diagnóstico, seja cuidando da sua saúde ao fazer exercícios físicos e ter uma alimentação saudável.

Desta forma, o foco torna-se a saúde e não a doença. No caso do coronavírus novo, os indivíduos devem estar ligados nas estatísticas atuais que não trazem nenhum caso confirmado no Brasil e, assim, devem tomar as precauções que estão no seu controle como lavar as mãos, evitar contato próximo com pessoas resfriadas, entre outras. Preocupações funcionais, com foco na saúde e não na doença.

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São as nossas doenças que nos curam?

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Diante da dor, o indivíduo pode se rebelar e finalmente “acordar” para a vida. A dor faz o homem sentir-se vivo.

Quem quer ficar doente? Eu acredito que ninguém. É comum em nossa cultura sempre felicitarmos o outro com saúde em abundância. Mas qual o significado de saúde e qual o significado de doença? É melhor viver uma vida monótona de 100 anos ou viver uma vida de emoção de 50 anos? Quais vantagens pode-se tirar ao ser acometido por uma doença?

Um dos primeiros benefícios da doença pode ser a ruptura, seja de hábitos, crenças, cultura, quotidiano ou modo de pensar. Nietzsche (2008), em seu livro Ecce homo, relata que a doença o libertou lentamente. Pois através da doença o filósofo declara que passou por uma transformação, já que mudou todos os seus hábitos, pois lhe ordenou o esquecimento, lhe presenteou com a obrigação de sossego, lazer, espera e paciência.

Definitivamente a doença muda a realidade do homem, pois tudo é visto com mais objetividade, precisão e clareza. A partir disto, muda-se então as prioridades, já que o homem analisa o que funcionava, o que funciona e o que pode funcionar. Um exemplo é Nietzsche (2008) que, devido a doença, se mudou de local, para respirar novos ares e apreciar novas paisagens, com o objetivo de ter uma melhor qualidade de vida (THOMASS, 2010).

Fonte: encurtador.com.br/bems2

Diante da dor, o indivíduo pode se rebelar e finalmente “acordar” para a vida. A dor faz o homem sentir-se vivo. Com a correria do cotidiano não paramos para apreciar as coisas simples. Às vezes o respirar passa despercebido, mas o indivíduo acometido por uma asma encontra felicidade e gratidão em cada movimento de inspirar e expirar. Thomas (2010, p. 21) declara que “somos forçados a provar os mínimos detalhes para não sucumbir ao fatalismo”.

A doença também pode ser a cura contra o pessimismo. Nietzsche (2008) declara que por meio da sua doença pôde experimentar coisas boas, e com facilidade conseguiu formular sua filosofia de vida através da sua vontade de viver e ter saúde. O filósofo afirma: não é porque sofremos que temos direito ao pessimismo.

Um homem que já passou pelo pior, tem maior chance de aprender a apreciar o melhor. É como um regenerar-se, com sensibilidade na alegria, cuidado nas palavras e leveza nos atos. Thomass (2010, p. 22) afirma que “somente quando adoecemos descobrimos nossa saúde”. Pois, de acordo com sua linha de pensamento, somente através do adoecimento temos razão para mobilizar nossos instintos de defesa e de cura.

Fonte: encurtador.com.br/fikns

Ainda de acordo com o autor, a saúde não é um estado estático e universal. Não há diferença de natureza entre saúde e doença, mas há diferença de grau. A saúde não é a ausência da doença, mas sim a capacidade de defesa instintiva contra a doença.  Logo, há diversos tipos de saúde, e é desafio de cada um descobrir a sua “própria saúde”.

É importante frisar que o indivíduo é subjetivo. Diante disto, Nietzsche formulou o conceito “grande saúde”, que se refere a particularidade de cada pessoa diante de iguais ou diferentes tipos de doenças.

Desse modo a apresenta, pois entende ser a maior mobilização de impulsos na luta, o ensaio de diferentes perspectivas, o que fomenta a exploração e a descoberta de diferentes ópticas e pontos de vista. A seu ver, é esse dinamismo, assemelhado a uma dança de impulsos, o que promove a experimentação de pensamentos e valores, sentimentos e quereres outros. Por esse viés, mesmo a doença, como mobilização do corpo, pode dar oportunidade para experimentações de muitos e opostos modos de pensar (MOREIRA, 2016, P. 44).

A doença gera autoconhecimento, pois temos a oportunidade entender o funcionamento do nosso corpo e capacidade de se reciclar, de modo biopsicossocial. Na literatura existe casos conhecidos de grandes mentes pensantes que fizeram uso de sua doença para potencializar suas habilidades. Francisco Goya, após adoecer, passou a deixar suas obras mais escuras e sombrias. Ludwig van Beethoven sofria de depressão e transtorno bipolar, o que pode ter dado intensidade as suas notas musicais. Machado de Assis sofreu de depressão, e passou a abordar o assunto em suas obras. Edvard Munch  sofria de depressão e agorafobia, e a partir de seus delírios supõe que ele criou a obra  “O Grito”, em 1893.

No entanto, Nietzsche frisa: “A doença é um poderoso estimulante. Mas é preciso ser suficientemente saudável para este estimulante”. E para isto precisamos estar dispostos a sair da zona de conforto do adoecimento. Como você tem lidado com a sua doença? Como forma de se potencializar para florescer ou como forma de se exaurir?

Referências

DENCK, D. 9 gênios que sofreram com doenças mentais. Acessado em https://www.megacurioso.com.br/medicina-e-psicologia/75260-9-genios-que-sofreram-com-doencas-mentais.htm > no dia 06/07/9.

MOREIRA, A. Nietzsche e a grande saúde: O uso do diagnóstico tipológico contra a metafísica. Estudos Nietzsche, Espírito Santo, v. 7, n. 1, p. 31-55, jan./jun. 2016.

NIETZSCHE, Friedrich. Ecce homo: como alguém se torna o que é. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

THOMASS. B. Afirmar-se com Nietzsche. Vozes Nobilis; Edição: 1 (22 de julho de 2019)

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Com que critério definimos o que é a loucura?

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Quem nunca teve medo da loucura que atire a primeira pedra. Mas, afinal, o que é loucura? Eu sempre me questionei, desde pequena, e a cada questionamento mais medo eu tinha. Logo, cresci com um receio exagerado de ficar louca. Hoje como estagiária de psicologia em uma unidade de saúde mental contarei um pouco da minha experiência. Mas você deve estar se questionando ‘como uma pessoa que diz ter tanto medo da loucura escolhe logo tal área de atuação?! Esta pessoa deve ser louca!’. E na verdade talvez eu seja.

No meu primeiro contato com um paciente em crise e totalmente embotado eu senti todos os sintomas de ansiedade. Tive taquicardia, falta de ar, dormência no corpo, ânsia de vômito e tontura. Isto por que eu fiquei em contato por no máximo 5 minutos com a pessoa, mas pareceram 5 horas. Durante este ocorrido eu pensava a todo momento ‘O que eu estou fazendo aqui, eu só posso ser louca, vou surtar e logo eu que estarei internada neste local’. Caro leitor, a minha vontade era de sair correndo, e o ditado ‘se ficar o bicho pega e se correr o bicho come’ nunca me fez tanto sentido. Isto por que se eu ficasse em contato com o paciente eu poderia surtar, mas se eu saísse correndo eu já não estaria surtada?!

Fonte: encurtador.com.br/qwFP5

As minhas 3 primeiras semanas foram as mais difíceis, pois eu internalizava alguns sintomas dos pacientes. E a cada dia o medo aumentava e até então eu já estava a me ‘diagnosticar’ com TAB – Transtorno Afetivo Bipolar, esquizofrenia etc. Pesadelos eram constantes, o medo de enlouquecer parecia me controlar, eu já não tinha mais vontade de estar no meu ambiente de estágio, era masoquismo. Até que, depois de muitos questionamentos e estudo, eu parei de negar tanto a loucura, e hoje tenho prazer em ir ao meu ambiente de estágio e a cada paciente que atendo eu percebo o quão estreito é o limiar entre a loucura e a sanidade mental, e deve ser por isto que ela amedronta tantos. Afinal, qualquer um pode surtar a qualquer momento.

A loucura seria alguém adoecido? Mas o que é saúde? Canguilhem (1943) diz que estabelecer uma norma para o que se é doença e o que se é saúde é uma utopia do ideal, isto por que o ideal levaria a perspectiva do perfeccionismo, e a perfeição não existe. Ou seja, é um ideal inalcançável. O autor complementa que se existe a doença, é por que primeiro existiu um doente, e este mesmo se queixou de algo que o incomodava.

Levando para um olhar psicanalítico, Freud (1976) diz que um sujeito saudável é aquele que tem a capacidade de se ajustar ao meio. Diante disto, um sujeito acometido por algum sintoma considerado doença pode se ajustar a mesma e viver tranquilamente. Poderia então um esquizofrênico e paranoico se ajustar aos seus sintomas e viver de acordo com os critérios de pureza da sociedade em que vive? Um exemplo é o matemático John Forbes Nash que ganhou o Nobel de matemática. O gênio afirmou que acreditava em aliens e que estes lhe deram uma missão de salvar o mundo. Forbes declarou: “As minhas ideias sobrenaturais vieram da mesma maneira que as matemáticas. Por isso, decidi levar as duas igualmente a sério”.

John-Forbes-Nash
Fonte: encurtador.com.br/pIW02

Mas o que é normal e o que é anormal? Canguilhem (1943) afirma que normalizar seria impor uma exigência a uma existência. O anormal, do ponto de vista lógico, deve ser posterior à definição do normal, designando a negação deste. E complementa que a ausência de normalidade não constitui o anormal. Isto por que o patológico também seria normal, já que a doença está inclusa na experiência do ser vivo.

Isto me gerou outro questionamento: ‘A bíblia foi escrita por quem?’. Pelo próprio Jesus e por apóstolos usados por Deus, e estes mesmos declararam que Jesus os havia enviado para cumprir uma missão. Atualmente existem religiões em que se pode falar com mortos e que se tem diversas práticas sobrenaturais. E lhes pergunto: De acordo com o CID 20, não seriam estas pessoas esquizofrênicas? Por que multidões acreditam e respeitam os ditos apóstolos que nem mesmo conheceram e os toma como enviados de Deus, e atualmente a população zomba de pessoas que dizem terem recebido uma missão do próprio Jesus Cristo?

Em 2017 o jovem Bruno Borges, de 24 anos escreveu 14 livros escritos à mão. O jovem tinha em seu quarto um quadro em que era tocado por um extraterrestre e o mesmo falava para a mãe que estava escrevendo 14 livros que iriam mudar a humanidade de forma positiva. Nas redes sociais alguns hipotetizavam que ele seria a reencarnação do filósofo Giordano Bruno, já outros acreditavam que ele seria louco. E você, o que acha? Qual a diferença dos enviados com missões sobrenaturais de época em relação aos atuais?

Fonte: encurtador.com.br/fswy6

Canguilhem (1943) afirma que o estado patológico também é uma forma de viver. E assim como Freud, o sociólogo acredita que saúde é a capacidade de adaptar-se ao meio. O que seria o normal então? Para Canguilhem “o normal é viver num meio onde flutuações e novos acontecimentos são possíveis” (p.188). Logo, conceituar um ´´ideal normal“ acontece por meio da estatística. Sendo assim, o conceito de normal é singular e depende da concepção, ressignificação e tolerância de cada um, pois o todo faz parte da estatística, mas a maioria de cada pesquisa é vista como a ideal.

Bauman (1998) diz que aquele que não se adequa ao critério de pureza, o ideal social, é impuro. Logo a sociedade, na maioria das vezes, julga que a impureza corrompe o ideal social. O que ajuda a explicar o porquê da existência de manicômios. É uma maneira, aceita socialmente, de elimina-los como sinônimos da desordem. O sociólogo afirma:

A pureza é um ideal, uma visão da condição que ainda precisa ser criada, ou da que precisa ser diligentemente protegida contra as disparidades genuínas ou imaginadas. Sem essa visão, tampouco o conceito de pureza faz sentido, nem a distinção entre pureza pode ser sensivelmente delineada. (BAUMAN ,1998, pp.13-14)

Desta forma, o que desvia da linha da ideal causa medo, assim como o desconhecido. Você já se questionou que o porquê dos vestibulares de Medicina, Direito e Psicologia são tão disputados? Eu me atrevo a dizer que é por que o médico detém de certa forma o poder da vida, o advogado o poder da persuasão, o psicólogo o poder sobre a mente. São formas de ter o saber para ter o controle sobre o outro, mas tudo em nome da ciência. Ao meu ver o homem sempre gostou de ter o controle, tenta formular uma teoria para tudo, pois o inexplicável é angustiante, logo não é controlável, medido e explicado. É como se tivesse um estranho no meio. Para Bauman (1999, p.64), “o estranho é um membro… da família dos indefiníveis…”.

Fonte: encurtador.com.br/oUWX5

Como já foi supracitado, para afirmar a existência de determinada doença, primeiro precisou existir o doente. Ou seja, cada doença existente foi estranha um dia. Segundo Bauman (1998, p.27):

[…] cada espécie de sociedade produz sua própria espécie de estranhos e os produz de sua própria maneira, inimitável. Se os estranhos são as pessoas que não se encaixam no mapa cognitivo, moral ou estético do mundo – num desses mapas, em dois ou em todos três; se eles, portanto, por sua simples presença, deixam turvo o que deve ser transparente, confuso o que deve ser uma coerente receita para a ação, e impedem a satisfação de ser totalmente satisfatória; se eles poluem a alegria com a angústia (…) se, em outras palavras, eles obscurecem e tornam tênues as linhas de fronteira que devem ser claramente vistas; se, tendo feito tudo isso, geram a incerteza, que por sua vez dá origem ao mal-estar de se sentir perdido – então cada sociedade produz esses estranhos.

Seria então a loucura plástica, em que muda com o tempo e depende das necessidades de cada comunidade, sociedade ou país? Antes a depressão era vista como loucura, era um tabu. Hoje em dia a visão tem mudado, isto por que muitas pessoas são acometidas pela mesma. Desta forma o social uniu forças e  técnicas de se ajustar ao meio são formalizadas. É até comum se ouvir: ´´quem nunca teve depressão?“. Há 13 anos  eu ouvia frequentemente que psicólogos eram para loucos, e hoje já ouço que psicólogos são justamente para quem não quer enlouquecer. 

Diante do que foi exposto, não quero anular a existência das doenças, muito pelo contrário, quero abrir um leque de reflexões sobre ´´nossas certezas“ em julgar que uma pessoa acometida por alguma psicopatologia deva ou não viver em sociedade. E sigo a me questionar o que é loucura, e se algum dia a esquizofrenia e o TAB acometerão tantas pessoas quanto a depressão, e dessa forma será aceita socialmente. Afinal, quem é estranho, a maioria ou a minoria? Sendo assim, seguimos ´´descobrindo novas loucuras“ e normalizando outras? Eis a questão. 

Fonte: encurtador.com.br/gmDN8

Referências

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pósmodernidade. – Rio de Janeiro, RJ:Jorge Zahar Editor, 1998.

F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes. Encontrado em < http?//www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f20_f29.htm > acessado em 01/05/2019

FULGÊNCIO, C., G1 AC — Rio Branco. Jovem deixou 14 livros escritos à mão e criptografados antes de sumir, diz mãe. Encontrado em < https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/jovem-deixou-14-livros-escritos-a-mao-e-criptografados-antes-de-sumir-diz-mae.ghtml > acessado em 01/05/2019.

FREUD, S. O ego e o id. Rio de Janeiro: Imago; 1976. 

JULIO, R.A. A linha entre loucura e genialidade é mais tênue do que se imaginava. Encontrado em < https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2014/10/linha-entre-loucura-e-genialidade-e-mais-tenue-do-que-se-imaginava.html > acessado em 01/05/2019.

SERPA, O. (2003). Indivíduo, organismo e doença: a atualidade de “o normal e o patológico” de Georges Canguilhem. Psicologia Clínica, 15(1),121-135.

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O Desafio da Equidade nas Relações Sociais de Saúde na Perspectiva de Rita Barata

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A resenha desenvolvida a seguir, tem como objetivo principal descrever alguns pontos demarcados como preponderantes, bem como trazer reflexão e ao final fazer um apanhado geral, com base no livro, dentre outros artifícios que foram utilizados para melhor compreensão, a partir da visão das acadêmicas da disciplina de Antropologia e cujo tema central é a obra de Rita Barradas Barata: “Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde”Saúde e produção de doenças têm estrita relação com desigualdades sociais em saúde. Alguns Grupos ficam em desvantagem com relação às oportunidades de ser e se manter sadio. Na Constituição Brasileira de 1988, ficou estabelecido que a saúde é um direito de todos e que deve ser garantido mediante ações de políticas públicas.

Muitas teorias verificam essas desigualdades e que estas não desaparecem naqueles países em que existem sistemas nacionais de saúde com garantia de acesso universal para todos os grupos sociais. Nos indagamos o por quê as desigualdades vêm aumentando ao invés de diminuírem com o passar do tempo. Na teoria estruturalista, a falta ou insuficiência de recursos materiais, para enfrentar de modo adequado os estressores ao longo da vida, acaba produzindo a doença e diminuindo a saúde. Neste modelo, o montante de renda ou riqueza dos países, grupos sociais ou indivíduos, é o principal determinante do estado de saúde do indivíduo. No entanto, nem sempre a riqueza de um país vem acompanhada de melhor nível de saúde, principalmente nos países cujas populações têm as suas necessidades básicas atendidas.

Fonte: https://goo.gl/L1ChLT

Na teoria psicossocial a percepção da desvantagem social é tida como desencadeador de estresse e de doenças. Em grupos sociais com necessidades básicas atendidas, as diferenças relativas na posse de bens e nas posições de prestígio e poder, passam a ser mais relevantes para a produção e distribuição das doenças do que simplesmente o nível de riqueza material. Essas duas teorias não se contradizem, o que as diferencia é o enfoque baseado na idéia de privação absoluta e relativa e seus determinantes. Já a teoria da determinação social do processo saúde-doença, os impactos da estrutura social sobre a saúde, são pensados nos processos de participação ou exclusão, associados às diferentes posições sociais e sujeitos a transformações em função de processos históricos. Com ênfase no modo de vida, estão englobados aspectos materiais e simbólicos que refletem características de produção, distribuição e consumo e relacionadas ao modo de vida.

A teoria ecossocial, considera impossível separar os meios biológico, social e psíquico. Soma aspectos sociais e psíquicos predominantes nas situações que os indivíduos vivem e trabalham. Portanto, as relações econômicas, sociais e políticas afetam a maneira como as pessoas vivem e seu contexto ecológico e acabam por moldar padrões de distribuição de doença. Todos devem utilizar suas demandas específicas de saúde, com provisão de serviços prioritários para grupos com maiores necessidades, a fim de minimizar ou anular as desigualdades.As explicações sobre as desigualdades em saúde têm como base a ideia de que a saúde é um produto da sociedade, e então algumas organizações são mais saudáveis do que outras. O capítulo dois desse livro trata sobre como as posições sociais influenciam na saúde de cada sujeito.

Fonte: https://goo.gl/WdrHy3

Para a autora, o foco central das abordagens sócio-históricas sobre as desigualdades em saúde são os processos de reprodução social que resultam na propagação de diferentes domínios da vida. O primeiro domínio é a reprodução biológica do indivíduo, que certifica suas características como espécie que é marcada pela interação genética e o meio social. Vivemos em um ambiente sócio-interacional, onde compartilhamos tempo e espaço, tal reprodução social resulta na produção do segundo domínio: o das relações ecológicas dos grupos, ou seja, sua relação com o social constituído por comunidades que é onde estamos inseridos. Essas comunidades compartilham interações que nos leva ao terceiro e último processo de reprodução segundo Rita: o cultural.

Todos esses processos e reproduções causam impactos sobre a saúde e a doença dos indivíduos. Desigualdades nas condições de vida decorrem das diferenças nos processos de reprodução social que então ira refletir na saúde das pessoas. As vantagens de alguns grupos sobre outros, causa a exclusão, o que os afeta em todos os âmbitos da vida social. Desigualdades sociais em saúde podem estar associadas ao estado de saúde e ao acesso e uso inadequado de serviços de saúde para ações preventivas ou assistências da população. Existem várias investigações do meio científico que expõe a existência das desigualdades sociais em saúde, essas mesmas investigações buscam compreender os processos sociais e os mediadores entre as condições concretas de vida e a saúde no âmbito populacional.

       Fonte: https://goo.gl/AY2em5

No terceiro capitulo, intitulado “Ser rico faz bem à saúde?”, a autora Rita Barradas Barata, promove uma análise acerca das relações entre riqueza e saúde, demonstrando que nem sempre o nível de riqueza está intrinsecamente ligado a melhores condições de vida, tais como saúde de qualidade, maior expectativa de vida e, por conseguinte baixa mortalidade. Entre o século XIX e o XXI no mundo, houve um déficit na distribuição de riquezas bem como, um aumento nas desigualdades sociais. Segundo Barata (2009), quanto mais rico um país mais saudável é a sua população não é uma observação simples, visto que pesquisas evidenciam que a ligação entre a esperança de vida e o PIB (Produto Interno Bruto) per capita tem a representação gráfica de uma parábola, e por isso a partir de um certo ponto o aumento da riqueza não resulta em mais saúde. Um exemplo claro dessa realidade, é que não são os países mais ricos que apresentam maior longevidade.

Nesse sentido, a má distribuição de riquezas, eleva as desigualdades, o que afeta diretamente a saúde. Dessa forma, a adoção de sistemas universais de saúde que promovam o acesso similar desses serviços pode reduzir as diferenças nas condições de vida da população, uma vez que sociedades mais equânimes possuem melhores índices de saúde e uma maior coesão social. Outra justificativa para situações de menores divergências apresentarem melhor nível de saúde se dá aos hábitos saudáveis adotados por parte da população. Estudos ingleses, sobre o risco de morrer por Doença Isquêmica do Coração (DIC) constatam que os tradicionais comportamentos de riscos são menos importantes que as relações de trabalho relacionadas a uma maior/ menor autonomia sobre o controle dos processos laborais.

Fonte: https://goo.gl/5Nzgzu

Segundo a autora, a noção que se tem de raça é construída socialmente e não biologicamente. A perspectiva de que há etnias superiores a outras foi reforçada pelas teorias evolutivas, sendo que povos que eram considerados mais aptos exerciam um domínio sobre aqueles considerados inferiores, visando manter privilégios para esses grupos. Os grupos étnicos devido à bagagem de desvalorização cultural por parte daqueles que se consideram superiores, também sofrem com dificuldades de inserção no mercado de trabalho, escolarização e várias outras áreas que levam à econômica. Área essa que, em países capitalistas dificultam ainda mais a vida dessa população, afetando significativamente a saúde dos mesmos. Tal exposição à discriminação e racismo trazem junto problemas de saúde como: transtornos mentais, hipertensão, baixo peso, prematuridade e várias outras. Junto com esses problemas ainda moram em lugares com condições mínimas de uma vida saudável, e com acesso a saúde precário, causando um stress maior. Neste cenário, pessoas que passam por esse tipo de situação têm uma maior dificuldade em confiar nas outras pessoas e instituições.

Em relação à saúde e o gênero, os homens em grande parte possuem uma maior taxa de mortalidade, pois ao longo da vida é exposta a situações insalubres de risco, tanto com acidentes e violências, quanto a maior propensão em ingerir exageradamente álcool e cigarros. Isso de deve também a construção social e cultural de gênero. As mulheres por sua vez apresentam uma maior taxa de morbidade, que também pode ser atribuída à dupla jornada de trabalho que é a doméstica e a fora de casa. Excesso de trabalho e remuneração menor que a dos homens, mesmo ocupando os mesmo cargos, sendo expostas a assédios psicológicos e emocionais e funções sem muita autonomia geram stress que acabam levando ao adoecimento tanto físico quanto psíquico.

             Fonte: https://goo.gl/N4etxM

A obra de Barata nos mostra as diferenças culturais e raciais que enfrentamos e os riscos causados pelas mesmas. Nos apresenta de forma clara conceitos bastante relevantes e significativos na nossa sociedade atual, como raça, grupos étnicos diferentes, a desvalorização cultural, discriminação, entre outros. Também nos traz dados importantes que vem acontecendo com o hiper agendamento do tempo, onde nos tornamos mais suscetíveis ao adoecimento, podendo causar a morte, principalmente em mulheres. É importante ressaltar que, segundo a obra, vivemos em constante desigualdade, seja racial, cultural, socioeconômica, de gênero, etc. Se uma classe é mais favorecida financeiramente que a outra, não significa que a mesma viva mais, seja mais feliz. Portanto, não devemos ser etnocêntricos, não temos o direito de julgar alguém como sendo menor nós pelo fato de que eu tenho mais dinheiro ou mais saúde. Diante disso, essa obra é de muita relevância para entendermos aspectos sociais e culturais em que estamos vivendo.

FICHA TÉCNICA

Como e por que as Desigualdades Sociais Fazem mal à Saúde

Fonte: https://goo.gl/HtgbSP

Autora: Rita Barradas Barata

Editora: FIOCRUZ

Páginas: 118

Ano: 2009

REFERÊNCIA:

BARATA, Rita Barradas. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009.

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Galveston: a vida após o diagnóstico do câncer

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Galveston foi o primeiro romance de Nic Pizzolatto publicado pela editora Intrínseca em 2015. A história gira em torno de um matador de aluguel com câncer terminal e nas implicações em sua vida após o diagnóstico e no encontro com uma garota no local em que foi enviado para morrer.

Roy Cady recebe a notícia sobre seus pulmões de forma paralisante; mal termina de ouvir o médico e se retira do consultório. Este é um momento de reavaliação de sua vida, mas só o que consegue pensar no momento é nos seus relacionamentos fracassados e em vista disso fumar um cigarro ali mesmo, afinal de contas, não tinha mais nada a perder. Seu chefe, Stan, o envia para uma missão e orienta ele e o seu colega a não levarem armas. Stan namora Carmen, que já havia se relacionado com Roy e com seu parceiro, isto é, Roy encara a situação como um problema pessoal de Stan.

Roy é um homem escrupuloso, mas preso à situações do passado pelas quais teve de abrir mão de pessoas importantes em sua vida. Um pai morto, mãe suicida, vida num orfanato. Tais lembranças o permeiam constantemente, como um lembrete da pessoa que é e porque faz o que faz. Parado fora do escritório, Roy ruminava sobre tais questões e começa a orientar seus pensamentos de forma diferente daqueles que tinha antes de saber da doença. Segundo Helman (2003), citado por Silva (2005, p. 141), temos que:

(…) a revelação do diagnóstico de câncer gera reformulações e mudanças nesta nova fase de sua vida. Essas mudanças (…) são tentativas de enfrentar as novas circunstâncias e de tentar se adaptar a elas. Nestas mudanças, os pressupostos básicos das pessoas sobre o seu mundo são quebrados mediante a interferência do diagnóstico de câncer, assim deixam de contar com um mundo certo e se redirecionam dentro desta nova perspectiva de vida. (grifo nosso)

Em vista da mudança de alguns hábitos para uma vida mais saudável após o diagnóstico da doença, Roy toma o caminho oposto e começa a abusar do álcool e do cigarro. Não tem família nem amigos que forneçam apoio nesse momento e isso o leva à um estado de resignação. Por outro lado, mesmo negando a vida, ele passa a olhar o outro de forma diferente.

É sob a imagem desse “outro” que Rocky surge: enviado para missão, Roy e seu parceiro são surpreendidos numa emboscada onde matadores altamente treinados o aguardam, e naquela cena, como um plano de fundo, uma garota no canto da sala assiste tudo, Rocky. Mesmo sabendo que iria morrer pela doença, Roy utiliza de todas as suas forças e experiência para sair vivo e todos aqueles que o queriam morto, morreram. Roy não sabe muito bem o que fazer com aquela garota, mas sabe que não pode deixá-la ali; ela vira seu rosto. E então, sem estabelecer um plano concreto, eles vão para fora da cidade, percorrendo no caminho bares soturnos e discretos, em direção à Galveston.

Rocky é uma prostituta de 18 anos que estava naquela casa fornecendo serviços quando foi surpreendida. Seu histórico de vida é perturbador e ela vive na constante insegurança sobre se Roy a abandonará, ainda mais naquele momento, em que tirou sua irmã mais nova da casa de seu padrasto sórdido. Do outro lado, Roy pondera se ficará com as meninas, tentando lidar com o dualismo de se sentir atraído por Rocky e pela vontade de ir embora.

Algumas mudanças se configuram na vida de um paciente oncológico, uma delas é a mudança corporal. Sob esse aspecto, temos que, “o câncer produz a modificação da imagem e ameaça a identidade corporal e  a  própria  existência  do  indivíduo.” (SILVA, 2005, p. 137). Roy começa a emagrecer, seu cabelo começa a cair. Para muitos, o cabelo é um sinal de virilidade, e nos homens os efeitos são mais específicos no que tange ao medo de serem estigmatizados (GRAY et al,. 2000; HELMAN, 2003). A respeito disso, Roy refletia: “Confrontei meu rosto. Meu reflexo sempre fora o que eu sabia que seria e nunca exatamente o que eu esperava, mas desta vez foi brutal (…) parecia que meu verdadeiro rosto sempre permanecera oculto, que havia dentro de mim outro rosto, com características mais puras e elegantes (…)” (p. 91, com modificações).

“Você está aqui porque isto aqui é um lugar. Cães ficam ofegantes nas ruas. A cerveja não continua gelada por muito tempo. A última música nova que você gostou saiu há muito, muito tempo, e o rádio nunca mais a tocou.” (p.93).

Roy tem de lidar com sua imagem que se modifica continuamente, ainda mais por não recorrer ao tratamento e por abusar de substâncias químicas. Nesse aspecto, parece se desenvolver uma clareza sobre a efemeridade da vida. Ele vai para Galveston no entendimento de que precisa eliminar todos os seus rastros e de alguma forma dar um rumo à vida daquelas meninas, mas sente o peso de estar fora da vida que vivia, de não ter laços com alguém e da ironia de ainda estar vivo.

Inicialmente, ele evita conversar com Rocky sobre sua doença e lhe persegue a sensação de falta de algo, “alguma coisa difícil de definir, mas notável pela sua ausência” (p.99). É possível que esse sentimento seja dado pela falta de vínculos afetivos, tão importantes nesse momento para o processo de enfrentamento da doença. Quando finalmente ele conta sobre sua vida à Rocky, sente que traiu a si mesmo, isto é, estava tão habituado a não compartilhar suas experiências pessoais com outra pessoa que quando o faz sente tamanho estranhamento.

Com o tempo, a sua aparente resignação toma outra forma. É descoberto no estar vivo e poder fazer os outros bem um prazer que desconhecia. A percepção sobre sua personalidade agora lhe parece uma mentira que sustentara por anos, mas que não tinha mais motivos para manter.

“O que acontece de fato é que o passado coagula como uma catarata ou uma casca, uma casca de lembranças sobre seus olhos. E, um dia, a luz a atravessa” (p. 228).

O livro é intercalado entre presente e futuro, geralmente pela visão de Roy, numa escrita em primeira pessoa. A respeito da percepção de outros leitores sobre o ar carregado e sombrio da história, experimentei a sensação de liberdade e contentamento naquelas descrições sobre os campos de algodão que Roy tinha de ir todas as manhãs, sobre o céu negro, as trilhas pantanosas, as lutas, a vida e a morte. A escrita de Nic Pizzolatto é poética, envolvente, muito bem estruturada e detalhista, de tal forma que nos inserimos completamente nos traumas e vivências dos personagens. Por fim, uma obra apurada e um tanto perturbadora.

FICHA TÉCNICA:

GALVESTON

Título Original: Galveston
Autor: Nic Pizzolatto
Tradução: Alexandre Raposo
Editora: Intrínseca
Páginas: 240
Ano: 2015

REFERÊNCIAS:

GRAY, R. E. et al. To tell or not to tell: patterns of disclosure among men with prostate cancer. Psycho-Oncology, Chichester, v. 9, n. 4, p. 273-282, aug. 2000.

SILVA, V. C. E. O impacto da revelação do diagnóstico de câncer na percepção dos pacientes. 2005. 218 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2005. Acesso em: 10 de fev. 2017. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-11052005-112949/pt-br.php>.

 

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Atendimento psicológico a pacientes com doenças infectocontagiosas

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A 1ª Semana Acadêmica de Psicologia foi uma experiência marcante em minha vida acadêmica. Aproveitei ao máximo tudo que estava sendo oferecido. Participei de oficinas, de palestras, conheci pessoas interessantes, fiz amizades, troquei experiências, enfim, foram momentos de grande aprendizado. Na oficina ministrada pela enfermeira e aluna de psicologia Renata Bandeira, no dia 24/08 às 14hs, que traz por título: Precaução no Atendimento Psicológico à Pacientes com Doenças Infectocontagiosas foi pra mim a que mais marcou. O conteúdo proposto foi extremamente importante, referiu-se aos cuidados básicos de limpeza, como também os mais extremos, referentes às contaminações graves em um ambiente hospitalar. Essa oficina estava voltada ao psicólogo hospitalar, sua práxis nesse contexto de doenças infectocontagiosas.

A compreensão desse ambiente é extremamente relevante, visto que se trata de um contexto de doença que por vezes são desconhecidas e exigem cuidados. Fiquei atenta a tudo que era explicado, tendo o cuidado de não deixar passar nada, é um tema muito interessante. O que mais me intrigou foi quando a Renata relatou que alguns psicólogos rejeitaram a atender pacientes com doenças infectocontagiosas. Entender a etiologia da doença é crucial, conhecer o ambiente o qual trabalha é um dos pré-requisitos básicos para que sua prática não se resuma a um modelo ultrapassado, e quando se depara com o desconhecido, recua em vez de buscar conhecer o processo dinâmico da doença, deixando o paciente que já está fragilizado fisicamente, sem atendimento psicológico.

acompanhamento_hospitalar

Fonte: http://www.biotipopsicologia.com.br/novosite/index.php/psicologia/acompanhamento-hospitalar

O desconhecido traz preconceito, medo, indiferença, sentimentos estes que nos faz retroceder em vez de avançar.  Na atualidade, penso que essa atitude esteja ultrapassada, existem tantos meios de informação que uma simples busca no Google responde todas as dúvidas ou parte delas, um exemplo de uma doença grave e contagiosa é a meningite; se em 24 horas houver medicação, não contamina. Cada pessoa responde de um jeito diante das situações, e respeito isso, o que ressalto aqui é que antes de negar um atendimento, se dá a oportunidade de saber do que se trata ai sim terá base fundamentada pra rejeitar ou não. Entendendo de forma correta esse cenário, as recusas ao atendimento de pacientes podem ser evitadas.

Aprendi como lavar as mãos corretamente, achei que sabia a maneira correta, ledo engano, o processo demanda tempo e passos a seguir. Tinha uma caixa que sugeria se as mãos estavam higienizadas ou não, simulamos lavá-las com líquido fluorescente, e depois colocamos na caixa. Pra susto de muitos foi unânime a não higienização correta (motivo de muitas risadas). Em resumo, foi muito bom participar dessa oficina em especial, porque esse cuidado não se resume só a mim, o que faço vai ou não beneficiar a vida de outras pessoas, é como uma bola de neve, à medida que anda, vai crescendo, ficando enorme, o mesmo ocorre com as contaminações, se não for interrompida com os cuidados devidos crescem de forma gigantesca.

woman washing hand under running

Fonte: https://vivamelhoronline.com/tag/lavar-as-maos/

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Os males ocultos da tireoide

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É cada vez mais comum encontrar pessoas que diagnosticaram alterações na tireoide, ou conhecem alguém que tem o hipo ou hipertireoidismo. De uma forma mais direta, o hipotireoidismo é um problema no qual a glândula da tireoide não produz hormônios suficientes para a necessidade do organismo, já o hiper é exatamente o contrário, ou seja, a glândula da tireoide produz hormônios em excesso.

 

 

Cerca de 15% da população sofre com problemas na tireoide, colocando essas doenças entre as que mais atingem os brasileiros, principalmente do sexo feminino, de acordo com o censo do IBGE. A Instituição também afirma que cinco milhões de mulheres desconhecem qualquer problema relacionado à própria tireoide, por falta de conhecimento dos sintomas.

O endocrinologista da Unifesp, Pedro Saddi, explica que o tratamento é simples, o problema é chegar ao diagnóstico. “Os maus que mais acometem a tireoide são o hipotireoidismo, o hipertireoidismo e a aparição de nódulos benignos nessa glândula. Todas essas alterações podem ser tratadas sem maiores problemas se diagnosticadas rapidamente. Contudo, como os sintomas são difíceis de detectar, uma grande parte das pessoas que sofre com problemas na tireoide não consegue identificar o problema”, enfatiza Saddi, destacando ainda que os sintomas do hipotireoidismo e do hipertireoidismo podem ser comparados com sintomas comuns de outras doenças, o endocrinologista, costuma após a primeira consulta, solicitar exames específicos para um diagnóstico mais preciso, já que a tireoide necessita de um teor maior ou menor relacionado à produção de hormônios.

 

 

Mesmo o tratamento sendo simples, muitas pessoas não fazem uso do medicamento indicado com a dosagem ideal, da forma correta, o que traz malefícios para o tratamento que deve ser rotineiro e quase sempre eterno. Com o tratamento interrompido ou feito de forma irregular, os sintomas podem se agravar chegando a levar em estados de depressão, fora problemas físicos que aparecem com o decorrer dos dias, como a queda de cabelo, ressecamento da pele, alterações no humor falta ou excesso de sono, dentre outros sintomas.

 

Sintomas do Hipotireoidismo

  • Fadiga
  • Sensibilidade ao frio
  • Prisão de ventre
  • Pele ressacada
  • Ganho inexplicável de peso
  • Inchaço no rosto
  • Rouquidão
  • Fraqueza muscular
  • Colesterol alto
  • Dores, sensibilidade e rigidez musculares
  • Queda de cabelo
  • Ritmo cardíaco mais lento
  • Depressão
  • Problemas de memória.

 

Sintomas do Hipertireoidismo

  • Perda de peso repentina, mesmo alimentandose da mesma forma de sempre
  • Taquicardia (mais de 100 batimentos cardíacos por minuto), arritmia e palpitações
  • Aumento no apetite
  • Ansiedade, irritabilidade e nervosismo
  • Tremor nas mãos e nos dedos
  • Suor excessivo (sudorese)
  • Mudanças na menstruação
  • Intolerância ao calor
  • Mudanças no funcionamento do intestino, com evacuações frequentes
  • Bócio (glândula tireoide visivelmente aumentada) ou nódulos na tireoide
  • Fadiga e fraqueza muscular
  • Dificuldade para dormir
  • Afilamento da pele
  • Cabelo quebradiço (perda de cabelo)
  • Inquietação

O tratamento durante a gestação

Como algumas mulheres podem desenvolver hipotireoidismo durante ou após a gestação, porque, muitas vezes, elas produzem anticorpos voltados para a sua própria tireoide. É de total relevância que a gestante procure saber se tem ou não problemas na tireoide durante o pré-natal, com exames específicos, assim ela poderá saber a dose correta do medicamento durante a gestação.

Vale ressaltar que sem o tratamento correto, hipotireoidismo aumenta o risco de parto prematuro. O Hipotireoidismo também pode afetar o desenvolvimento do bebê, pois o cérebro em formação do bebê precisa receber os hormônios da tireoide para poder crescer adequadamente.

 

Fonte: Minha Vida

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