Depois do fim: narrativas entre perdas e permanências

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Inicio minha escrita dizendo que esse é um texto em duas mãos e, por conveniência nossa no que concerne à fluidez, preferimos não fazer diferenciações de autoria, sendo esta perceptível apenas no relato autoral escrito por uma de nós. Isso faz dele ainda mais especial: uma mistura de duas experiências subjetivas construindo narrativas sobre a vida, a morte e o luto.

Assistir ao curso “Depois do fim: vidas transformadas pelo luto”, ministrado pela médica Ana Claudia Quintana Arantes e pelo psicanalista Christian Dunker tinha um objetivo: colecionar informações teóricas a respeito do luto de modo que fosse possível mesclar com a experiência singular vivida pela Monique. O desagrado de não ter encontrado esse objetivo veio, justamente, como resposta: apesar das tentativas de estruturação sobre o processo de luto, ele configura-se como uma experiência completamente individual, única e intransferível. É impossível dizer qualquer coisa diante de tanto sofrimento, não há o que se afirmar. São tempos em que as palavras não chegam, e é no indizível que entramos em contato com o que há de mais profundo em nós mesmos, buscando respostas, sentido, verdade.

O mais curioso é como essa não estruturação é percebida por aqueles que passam pelo processo. E, mais ainda, como é possível escrever experiências totalmente significativas, que a teoria vem a postular depois, mesmo sem nunca ter entrado em contato com elas. Como se torna quase tangível o vazio do processo, a importância de vivenciar o sofrimento, de distinguir a ruptura que houve, da integração das memórias e do tecer novos caminhos a partir daí.

Nenhuma teoria, nada explica o luto.
Cada um tem uma experiência única. Sendo assim, nenhuma palavra tem o efeito de consolar, não existem palavras.
O luto te obriga a rever valores, eu digo como uma prova de autoconhecimento. Você pode se reinventar!
Precisa ser vivido, precisa ser sentido para toda sua evolução acontecer, mas o luto não segue fases.
Se você não vive seu luto, pode se manifestar em outras áreas do corpo.
O não deixar ir eu entendi como apego, e não podemos ter esse sentimento.
Eu te deixo ir e nossos momentos vivem em mim. Você vive em mim.
Monique, julho de 2014.

Em seu livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, Ana Claudia discorre sobre o conceito de mundo presumido. Nesse sentido, esse mundo, que fornece a ideia de segurança, é baseado nas relações interpessoais que organizam o “eu” para lidar com o desconhecido, com o que seria o “mundo real”. Queremos nos reconhecer nos olhos das pessoas, porque nesse olhar reencontramos nossa história e nossa importância no mundo. Perder alguém importante tira de nós a percepção que cultivamos sobre a estabilidade, sobre a segurança do nosso mundo “presumido” e nossa ilusão de controle.

Trata-se de perder alguém que representou um parâmetro de nós mesmos, dando a impressão de que fomos privados de nos reconhecer, e é esse olhar da pessoa sobre nós que mais fará falta a partir de então. Como suportar uma dor que não cabe? Se a pessoa que eu amo não existe mais, como posso ser quem sou? Se preciso do outro para pensar sobre o mundo, como será o mundo sem ele?

Meu nome é Monique. Tenho 26 anos e carrego cicatrizes que o tempo não cura nem apaga, não por falta de tentativa, mas porque algumas dores se tornam parte de quem somos. Elas nos moldam.
Perdi minha mãe quando tinha 13 anos. Um ataque cardíaco fulminante.
Não houve despedida, não houve o último abraço, só o eco de um “eu te amo” dito por telefone, sem sabermos que seria o último. Ela estava feliz naquele dia. E eu também, por ela. É estranho como a vida parece tranquila antes da tempestade, e de repente tudo se parte em silêncio. Tudo muda.
Naquele momento, minha infância terminou. Minha irmã estava grávida de seis meses, depois de ter enfrentado dois abortos. Meu pai, já idoso. E eu, com apenas 13 anos, tentando ser forte para que o mundo deles não desmoronasse ainda mais. Foi quando aprendi a disfarçar a dor, a engolir o choro para não preocupar ninguém, e a ser forte quando tudo em mim gritava por colo.

Por isso, viver a perda de uma pessoa querida é entrar em uma caverna em que é impossível sair pelo mesmo lugar de entrada: cabe ao enlutado revirar ruínas e encontrar pistas para construir novos mundos presumidos e essa, até então, é uma viagem sem destino. Assim, a reconstrução da nossa vida e o reencontro com o sentido dela se dá ao longo do processo de luto, e uma das tarefas mais sensíveis é restabelecer a conexão com a pessoa que morreu por meio da experiência compartilhada com ela.

Mas o luto não tem pressa. Ele mora no tempo. No silêncio dos dias seguintes, dos meses seguintes, dos anos seguintes… ele estava crescendo em mim, devagar, mas implacável.
Enquanto o mundo me via crescendo, por dentro eu me sentia encolhendo. Tentando entender tudo sozinha, com uma dor que eu não sabia nomear. O vazio da perda virou morada de sentimentos que eu não conseguia colocar pra fora. Tudo ficou entalado: a saudade, a revolta, o medo, a culpa, o cansaço. E quando esses sentimentos não acham um lugar pra sair, eles transbordam em outros formatos.
Me tornei uma adolescente rebelde, tentando gritar por dentro o que ninguém via por fora. Ansiosa, deprimida, desconectada de mim mesma, tentando sobreviver em silêncio. Não era revolta pelo mundo. Era só o eco de uma dor não compreendida, de uma ausência que ninguém conseguia preencher.
O luto me acompanhava como uma sombra. Não falava, não gritava, mas me guiava sem que eu percebesse. Ele estava nas escolhas que fiz, nos erros que cometi, na forma como me afastei de mim mesma. Eu não sabia que sentir dor também era um processo de crescimento. Só sabia que doía.
Com 22 anos, vivi o mesmo vazio. Meu pai, meu companheiro, meu refúgio, foi mais uma vítima da pandemia. O hospital levou meu último pilar. E, quando ele partiu, a casa ficou cheia de ausências. Não havia mais ninguém para me lembrar como era o amor sem cobranças. Dessa vez, eu me senti totalmente sozinha.
Tranquei a faculdade. Comecei a trabalhar e a me sustentar, sem saber como o mundo poderia ser cruel. E, mais uma vez, me foi exigido coragem quando tudo o que eu queria era tempo para chorar.
A solidão não foi a única visitante. Vieram as perguntas também: “Por que comigo?”, “O que fiz de errado para merecer tudo isso?” ,“Será que sou uma péssima pessoa?”. E mesmo tendo ouvido tantas vezes que sou forte, corajosa, por dentro, eu me sentia pequena. Perdida.

Há um momento, ainda, do reconhecimento: “aqui aconteceu uma mudança”, permitimos o outro nos deixar. É preciso que haja esse momento do “se dar conta”, pois é a partir daí que o sofrimento pode ser transformado em algo que faz sentido. Chegamos ao muro e não dá para pular ou dar a volta: é preciso olhar e reconhecer que existe essa morte.

Mas o tempo também nos ensina. A dor educa, mesmo quando não queremos. O luto não é inimigo. Ele é um mestre duro. Ele nos obriga a olhar para dentro, a rever prioridades, a encontrar em nós aquilo que pensávamos ter perdido com quem partiu.
Não há regras para o luto. Ele não segue fases. Ele se move em espirais. Um dia melhora, no outro parece começar de novo.
Eu aprendi que não é fraqueza sentir. Que não é covardia parar. Que não é egoísmo cuidar da própria dor. E, acima de tudo, aprendi que deixar ir não é esquecer, é libertar.
A morte nos ensina sobre a vida.
Nos ensina que tudo é agora.
E que, apesar de tudo, nós podemos e devemos seguir.
Estarei sempre em constante aprendizado com a minha dor.

É a entrega total a essa experiência que permite o desapego, é o trânsito livre dos sentimentos dolorosos, como um gás, que permite sua dissipação. Não há nada a ser feito, entregar-se a essa dor é o melhor jeito de deixá-la ir embora. O luto não se supera, se atravessa: e ninguém precisa atravessar sozinho. Ana Claudia diz que é mágico como a dor passa quando aceitamos a sua presença e olhamos para ela de frente, pois ela tem nome e sobrenome. Quando reconhecemos esse sofrimento, ele quase sempre se encolhe. Quando o negamos, ele se apodera da nossa vida inteira.

Para ela, o mundo interior não tem grande potencial de transformação. O que tem esse potencial é o encontro verdadeiro com o outro, porque de outro ser humano talvez recebamos as chaves de algumas portas fechadas dentro de nós. É por meio do afeto que a transformação realmente se dá. É a partir do encontro com o outro que construímos novas realidades. É a partir da linguagem, que propicia o recontar de histórias (tão diferentes em cada repetição), que talvez possamos encontrar formas de viver com elas.

Mais do que receber as chaves de algumas portas fechadas dentro de nós, talvez sejam justamente esses encontros que possibilitem a criação de novos caminhos, narrativas e possibilidades. Talvez, mais do que abertas, essas portas sejam mesmo criadas, pois é no estar perdido que a gente encontra lugares que, se a gente soubesse onde estavam, jamais teria encontrado. Que possamos, também, aproveitar o tempo em que nos perdemos.
Entre memórias, silêncios e aprendizados, compreendemos que não há resposta definitiva sobre como lidar com a perda — há apenas o convite para atravessá-la com coragem, acolhendo o que ela nos traz. Que essa travessia, por mais árdua que seja, possa continuar gerando sentido, vínculo e humanidade. Porque, no fim, é no amor — e não na ausência — que os que partiram continuam vivos em nós.

Assim sendo, é no encontro com o outro e no (re)contar de histórias que abre-se espaço para que a dor respire, para que o amor se manifeste sem a presença física, para que o indizível encontre formas de existir. Transformamos a dor em palavra, o vazio em narrativa, a ausência em presença simbólica. Porque o luto não é uma estrada com fim, é um território que se aprende a habitar. E, nesse processo, descobrimos que não somos os mesmos de antes — e nem deveríamos ser. Talvez seja isso o que restou: um mundo em ruínas, sim — mas com mãos que insistem em reconstruí-lo, uma memória que pulsa e, sobretudo, uma vida que segue. Não apesar da dor. Mas com ela. Porque o luto não se supera. O luto nos refaz.

REFERÊNCIAS
ARANTES, Ana Claudia Quintana. A morte é um dia que vale a pena viver. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2019.

ARANTES, Ana Claudia Quintana; DUNKER, Christian. Depois do fim: vidas transformadas pelo luto. São Paulo: Casa do Saber, 2025. Curso online, 1h42min. Disponível em: https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/533/depois-do-fim-vidas-transformadas-pelo-luto. Acesso em: 16 de abril de 2025.

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O desafio de cuidar e a dor da incerteza

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Quando pensamos em tristeza, catástrofes, urgências e emergências, quase nunca acreditamos que algo assim vai acontecer conosco. Este ano de 2024 está sendo extremamente difícil para mim, pois vivi e estou vivendo uma situação inesperada e a pior da minha vida, tanto como indivíduo quanto como parte de uma família.

No dia 9 de abril de 2024, precisamente às 21h, meu pai, um senhor de 60 anos, sofreu um AVC isquêmico que lesionou aproximadamente 48% do seu cérebro. Lidar com isso tem sido o maior desafio que já enfrentei. É urgente, necessário e desesperador, porque olhar para aquela figura paterna — o meu herói, o forte, o incrível — e vê-lo hoje como está, me machuca profundamente. O próprio AVC, com as sequelas que deixou, lesionou uma parte do tronco encefálico, responsável pelo ciclo de sono e vigília. Desde o dia 10 de abril de 2024, ele não acorda.

Escrevo este texto hoje, no dia 8 de novembro de 2024, sentindo uma saudade imensa dele. Sinto falta de ouvir sua voz, seu riso, de ter a certeza de que ele está consciente — uma certeza que perdi há sete meses. Como eu disse, embora meu pai ainda esteja vivo, ele não acorda. Ele não fala, não sorri, não se comunica de forma alguma. Ele apenas dorme o tempo todo e é muito doloroso vê-lo assim. É difícil saber que, se não estivermos lá — nós, cuidadores formais e informais — para dar-lhe água e comida, ele morreria de sede ou fome, pois não tem nenhuma autonomia para absolutamente nada. Um homem outrora tão vívido, ativo e lúcido, com apenas 60 anos recém-completados, agora depende completamente de nós.

Estar na posição de filha, de cuidadora, de companheira da família neste momento é muito doloroso, principalmente porque muitas vezes não sabemos o que fazer, como reagir, o que dizer ou não dizer. Há momentos em que nem sabemos o que sentir. O cansaço que envolve esse processo de espera, de cura e de esperança por uma possível melhora é imenso. Cuidar de um corpo que precisa de você para tudo e saber que esse corpo é seu pai é devastador.

Nestes sete meses, passamos por muitos momentos em que a vida dele esteve em risco, por várias complicações. Como se o AVC não bastasse, ele já tinha outras comorbidades, inclusive respiratórias. Já tivemos a esperança renovada em alguns momentos, mas o AVC que ele sofreu foi muito extenso, causando lesões graves e edema cerebral. O processo de desinchar o cérebro é lento; os médicos estimam de oito meses a um ano para que o edema seja reduzido e o cérebro retorne ao tamanho normal. Ainda assim, não há garantias de que ele vá recuperar as funções como antes ou que chegue perto disso. Sabemos a área afetada, mas não a intensidade das lesões. Ele pode nunca mais acordar, ou pode acordar sem falar, sem se comunicar, ou sem recobrar a consciência. Existe uma lista de “pode ser” que é quase interminável, e isso dói, porque não estamos falando de um desconhecido, mas do meu pai, meu herói, a pessoa que, junto com minha mãe, fez tudo por mim e que era sinônimo de proteção e segurança.

Hoje, vejo-o naquela cama, tão indefeso, pequeno, frágil. Sinto que o que posso fazer é cuidar, e apenas isso, mas parece tão pouco, porque não há garantias de nada nesse processo. A incerteza é tão dolorosa quanto o próprio processo. Muito em breve, vou me formar, e esse foi um sonho sonhado por todos nós, inclusive por ele. Por muitas vezes conversamos sobre a ideia de eu me formar, até porque a mãe dele era uma psicóloga — uma das primeiras no Brasil, inclusive — e nós falávamos com muita empolgação sobre esse momento. Daqui a poucos meses, dois ou três meses, é a minha colação de grau, e ele vai estar lá. Eu creio nisso e espero que sim. Mas como ele estará, isso eu já não sei. De toda forma, é um novo início, um novo começo, uma nova realidade, uma nova vida. E, estando ele como está, voltando a ser o que era ou recriando-se de outra forma, eu estarei aqui para ele.

Assim, tenho percebido que podemos sofrer tanto pelo processo em si quanto pelo medo que ele gera. Todos os dias, acordo me perguntando se algo diferente vai acontecer hoje: “será que teremos um novo reflexo, uma nova interação? Será que hoje ele vai apertar nossa mão? Será… será… será…” Às vezes acontece algo sim, o que é muito bom; mas na maioria dos dias, nada acontece, porque o processo é o processo, e nem eu nem ninguém tem controle sobre ele.

Neste momento, a psicoterapia tem sido fundamental para mim e para minha família. Cada um de nós está lidando com essa dor de uma maneira diferente, e quando falo da dor, falo da perda, mas não me refiro necessariamente à morte, e sim a saudade de quem ele era e de tudo o que ele representava. Falta-nos a segurança, o apoio, a voz, as ideias, o sorriso, os conselhos. Falta ele, entende? É uma soma de muitas perdas, e todos sentimos isso de formas distintas. A terapia tem sido essencial para nos ajudar a entender que o processo é o que é, com dias bons e dias ruins, e para que possamos manter o equilíbrio e não perder a esperança de que as coisas ficarão bem, seja lá o que “bem” signifique. Espero que o que venha seja bom para todos nós e que nos ajude a seguir em frente com a vida.

E se você, assim como eu ou minha família, está passando por uma situação semelhante ou por uma dor intensa, eu te desejo sorte e paz para lidar com o seu processo. Desejo que tenha a sorte de um final feliz dentro do que for possível e a paciência para vivenciar tudo isso sem desespero, sem se perder de si mesmo e dos seus. Que você possa se lembrar de que tudo o que tem que acontecer, no tempo certo acontece.

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A dor é minha

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Passei por um processo depressivo que foi difícil de superar e longo de acabar. O que digo de minha experiência é que quando se está ali afundado numa inércia de tristeza consigo mesmo é muito difícil que se tenha força e energia para ir atrás das pessoas que sempre estiveram presentes em sua vida.

Dessa forma, é esperado – e isso não é um julgamento de valor, porque cada um sabe a dor e as questões suas próprias que já têm de carregar – que haja, naturalmente, uma percepção da depressão e uma consequente ajuda do amigo, do parente ou de quem estiver mais próximo.

No meu caso, eu tive pessoas que me ajudaram muito nesse processo que digo, meus caros, é algo de tirar você do seu próprio eixo. Mas outras pessoas, algumas próximas, deixaram de ser presentes, e pode ser por várias razões. Como disse, se sua própria dor já é difícil de carregar, que dirá a de uma outra pessoa que precisa de ajuda.

Quando tudo passou, me separei, mudei de casa, de hábitos e não me chateei com essas pessoas. Talvez me decepcionei um pouco. Mas isso não me torna, e não os torna melhores ou piores. Nós passamos a vida conhecendo as pessoas em todas as situações que vão aparecendo. Sendo assim não há como adivinhar a reação de todos diante de uma situação difícil como a depressão de uma pessoa próxima.

Eu fui muito bem assistido, tanto pelos profissionais que me guiaram como por outras pessoas.
E esse texto não se trata de uma cobrança. É um relato sobre a condição humana diante da dor do outro. As relações, elas acabam, recomeçam, ressignificam e esse é o ciclo tão difícil de compreender de nossas vidas.

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Setembro Amarelo: acolhimento da indecifrável dor de quem fica

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O processo de luto se inicia depois de uma perda. Aquilo que perdemos e como perdemos, pode impactar na intensidade da nossa trajetória, nos impulsionando a vivenciar experiências únicas, que devem ser respeitadas e validadas. Em casos extremos, ao se perder uma pessoa fisicamente, inicia-se um processo repleto de emoções e reações intensas. É um processo difícil que pode ser passível de mais complexidade caso a morte aconteça por suicídio.

No que diz respeito ao suicídio concreto, este não pode ser entendido de maneira simplista, pois é algo profundo e multifatorial. Da mesma maneira devemos enxergar o sofrimento dos sujeitos abalados e enternecidos decorrentes de uma morte por suicídio: é preciso ver, de fato, sua total profundidade, para que desse modo a ação de acolher aconteça devidamente.

Levando em consideração que há uma alta taxa de incidência de morte consumada por suicídio, transportando-o à um patamar entendido como uma questão de saúde pública, isso implica paralelamente em um número elevado de pessoas impactadas por mortes de tal natureza. Para cada pessoa que se vai, ficam indivíduos extremamente abalados – conhecidos como os sobreviventes.

Fonte: Imagem de Arek Socha por Pixabay

Por essa razão, muitos estudos se debruça sobre a temática de enlutados que perderam pessoas por suicídio Trata-se de uma vivência repleta de sentimentos e sensações penosas, que podem oscilar e co-existir; como a raiva, tristeza, abandono, isolamento, solidão e culpa. Também é possível surgir a vergonha de se falar sobre o fato ocorrido, então muitas das pessoas ocultam como sucedeu a morte. Isso comprova a  estigmatização ainda existente no meio social frente a um tema que requer atenção e cuidado, e que não deve ser tachado e julgado.

O mês de setembro já é reconhecido como um período de conscientização acerca da temática, é um convite para se falar e refletir sofre, em busca de mitigar os índices. Nas redes sociais, o movimento se dá ativamente através de publicações que abordam o assunto. É uma época onde profissionais se empenham em oferecer palestras que abordam o tema. Porém, essa reflexão deve ser levantada sempre, de forma constante, em todos os meses do ano e deve ir além, visto que é importante abraçar aqueles que perderam alguém de forma abrupta.

Torna-se imperativo que haja ações de prevenção e, igualmente, de posvenção – termo que significa o cuidado com aqueles que ficam submergidos na dor após a perda. Se constituem como um grupo de risco, podendo implicar em novos casos, em uma trajetória de luto complicado, caso não sejam amparados adequadamente.

Fonte: Imagem por Freepik

Como Irvin Yalom e Marily Yalom bem dizem: “O luto é o preço que pagamos por ter coragem de amar os outros”, então é inegável que a dor após a partida de um ente querido está inteiramente interligada com a relação que se tinha com a pessoa que se foi. Questionamentos aparecem, é normal que seja difícil encontrar um sentido dentro da nova realidade que reflete a ausência. Trilhar o caminho da vida sem a pessoa que se foi pode ser penoso, porém, possível.

O singelo ato de falar é uma maneira terapêutica de trazer à consciência e ordenar todas as emoções que fazem parte do luto. Desse modo, é essencial encontrar uma rede de apoio para lidar com a singularidade de cada caso, para que haja uma restauração adequada e um redescobrimento de razões para seguir em frente. O falar – abertamente, sem receio, sem julgamento –, pode amenizar a dor, auxiliar na cura de uma ferida que se abriu, pode impedir que transtornos mentais surjam e que novos casos se repitam. Evitar o isolamento, reconhecer o fenômeno do luto e suas particularidades, respeitando sempre o próprio tempo e limites, são pontos necessários para reaprender a viver na nova realidade.

Fontes que podem auxiliar os sobreviventes enlutados por suicídio:

  • CVV GASS – Centro de Valorização à vida / Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio
  • https://posvencaodosuicidio.com.br/
  • https://vitaalere.com.br/
  • Podcast Finitude
  • Cartilhas sobre o tema, filmes, séries etc.

Referências

FUKUMITSU, K. O.; KOVACS, M. J. Especificidades sobre processo de luto frente ao suicídio. Psico. Porto Alegre, 2016. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psico/v47n1/02.pdf>. Acesso em: 13 de set. de 2022.

RUCKERT, M. L. T.; FRIZZO, R. P.; RIGOLI, M. M. Suicídio: a importância de novos estudos de posvenção no Brasil. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 2019. Disponível em: <https://cdn.publisher.gn1.link/rbtc.org.br/pdf/v15n2a02.pdf>. Acesso em: 13 de set. de 2022.

SCAVACINI, K; et al. Posvenção: orientações para o cuidado ao luto por suicídio. São Paulo: Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, 2020.

YALOM, I. D.; YALOM, M. Uma questão de vida e morte. São Paulo: Planeta, 2021.

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O psiquiatra, o psicólogo e o psicoterapeuta como barqueiros do inferno

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No filme “Amor além da vida”, de 1998, Chris (Robin Willliams) e sua esposa Annie (Annabella Sciorra) perdem os dois filhos em um acidente de carro. Annie, então, é internada em depressão grave. Chris passa a visitá-la regularmente, como se tentasse resgatá-la de um buraco sem fundo, de onde ela própria não tinha forças nem esperança para sair. O golpe final para Annie, quando já se recuperava, é a morte do marido num acidente quatro anos após a morte de seus filhos. Daí em diante o filme passa a ser contextualizado num universo extrafísico, apresentado como uma manifestação externa do ambiente intrapsíquico.

Portanto, o cenário em que Chris é recebido por um antigo amigo e mestre, Albert, parece pintado à tinta, como se estivessem dentro de um dos quadros que Annie pintava e Chris amava. “Este é o seu céu”, explica Albert. Quando descobre que Annie cometeu suicídio, Chris quer ir até ela de qualquer jeito e não há como impedi-lo. Albert leva-o à presença de um guia, alguém experiente e capaz de conduzi-lo ao estado de “inferno” psíquico em que Annie se encontrava, juntamente com outros de estado semelhante. Chris será guiado através de uma espécie de inferno de Dante pelo mundo que seria resultado de uma construção psíquica conjunta de seus “habitantes”. O velho e sinistro guia lhe diz: “Você teme o que? Perigo físico?” e adverte que todo perigo ali é – e obviamente só poderia ser – psíquico.

Fonte: encurtador.com.br/bfuG5

A viagem é norteada pela ligação mental entre Chris e Annie, mas é momentaneamente perturbada por uma lembrança de quando, ainda em vida, ele disse ao filho o quanto o admirava, “se eu tivesse que ir ao inferno, não ia querer outra companhia que não a sua”. Percebe então que Albert é na verdade seu filho, que diz ter escolhido aparecer como Albert para ele porque pensou que só assim seria ouvido. Os três atravessam grandiosos cenários de dor e aflição, onde corpos, rostos, seres pálidos se despencam, se amontoam soterrados ou afundam no chão ou na água. Chris pergunta ao guia o que ele fazia na sua vida. Ele responde: “Na última? Eu tinha um trabalho parecido com esse”. “Era psiquiatra” – conclui Chris.

Mostrando grande familiaridade com aqueles caminhos, o guia demonstra tensão e bom humor, como se conhecesse algum belo sentido secreto de tudo que se manifestava ali. Quando se aproximam no local em que estava Annie, uma versão retorcida e sombria da casa deles, espaço mental onde ela havia se sepultado em total alienação, o guia diz a Chris que ele só teria cerca de três minutos com ela antes de enlouquecer. Como enlouqueceria? “Quando a realidade dela se tornar a sua” (compreensão fundamental para todo aquele que comparece diante do sofrimento do outro). Segue-se o esforço se Chris de salvar Annie de seu inferno psíquico, como o fez em vida quando ela estava internada. E a resistência dela ao retorno a si e à consciência da dor.

Fonte: encurtador.com.br/nGJT0

Guia do ambiente psíquico em seus vários níveis subterrâneos, o profissional “da mente”, é navegante experimentado porque tem intimidade com sua própria escuridão, a ponto de perceber que essa não é outra que não a escuridão da humanidade. O mitologema do psicopompo faz referência a esse arquétipo que move o psicoterapeuta em geral, como aquele que transita entre os mundos, constituindo, portanto, seu elemento de ligação. Um representante mais explicito é o deus grego Hermes, responsável pela “condução das almas, uma atividade que se estende até mesmo além da vida”.

Fonte: encurtador.com.br/htuU6

Hermes é o próprio devir, “o espírito de uma configuração da existência que sempre retorna nas mais diversas condições”, neste mundo e no outro, pois não transita nos caminhos prontos marcados no chão, mas sim em caminhos outros, por onde passa pairando, volátil, pelos abismos de amores incríveis, ilhas e cavernas. Seu estado “é o de estar sempre em suspenso”. “Tudo ao redor se torna fantasmagórico-improvável para ele”, livre que está para percorrer todos os caminhos levando clareza e alinhavando os mundos. Assim Karl Kerényi (Arquétipos da religião grega) descreve esse mitologema, a quem Bolen (Os deuses e o homem), citando Murray Stein, chama “o deus das passagens significativas”, para evocar o mesmo papel para os psicoterapeutas, em seu caminho fora dos caminhos, além dos mundos, para guiar almas em liberdade de ir e vir entendendo em si próprio o jogo de luz e escuridão como o próprio e natural devir da existência.

FICHA TÉCNICA

AMOR ALÉM DA VIDA

Título Original: What Dreams May Come
Origem: EUA
Ano de produção: 1998
Gênero: Romance/Fantasia
Direção: Vincent Ward
Elenco: Robin Williams, Max von Sydow, Cuba Gooding Jr.

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Dor de reviver e otimismo para vencer o câncer

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Recentemente famosas como a apresentadora Ana Maria Braga e a jornalista Susana Naspolini comentaram que enfrentam novamente o câncer e que se submeterão ao tratamento. Apesar de ser um momento difícil, é extremamente importante, que elas e quem recebe esse diagnóstico a primeira vez ou em reincidência, que se mantenham positivos para que fique tudo bem e o tratamento funcione da melhor maneira possível.

Após o diagnóstico, o câncer traz uma pressão muito grande, tanto para o paciente quanto para a família, pois sabemos que o tratamento geralmente é muito agressivo e ataca o sistema imunológico, além de muita gente já associar diretamente com a possibilidade de morte. Então, é muito comum que o paciente desenvolva quadros depressivos ou de crises de ansiedade. Alguns ainda passam pela fase da negação da doença.

Nesse momento, a família precisa se unir, para que possa prestar o suporte emocional e suporte presencial, levando o paciente aos tratamentos e acompanhando em consultas médicas.

Em relação à parte psicológica, tanto o paciente como a família precisam ter acompanhamento, levando em consideração a gravidade da doença. Quanto mais grave for, mais agressivo o câncer é, como também o tratamento. Tudo isso reflete na família. O tratamento mexe com o humor, com toda a dinâmica familiar e com o emocional de todos. Geralmente, os grandes centros que tratam câncer têm psicólogos de plantão que prestam suporte tanto para o paciente, quanto para o familiar. 

Fonte: Arquivo Pessoal

Há alguns estudos que afirmam que muitos pacientes começam a definhar ao receber o diagnóstico do câncer. E isso não é pelo câncer em si, e, sim, pelo diagnóstico e o pessimismo. As pessoas o associam à morte, então o diagnóstico às vezes soa como uma sentença, mesmo quando sabemos que muitos têm tratamentos, podem ser curados – alguns não, mas outros, sim. Por isso, é extremamente importante que se mantenham positivos para que fique tudo bem e o tratamento funcione da melhor maneira possível. 

Sobre a recuperação, salvo em casos que é um tipo de câncer incurável, em que os médicos deixam tudo bem claro aos pacientes, as pessoas devem acreditar que podem se recuperar mais de uma vez. Elas devem acreditar na cura. Tanto a Ana Maria Braga como a Susana Naspolini já se curaram de outros. Então, quando um câncer é tratável, as pessoas devem acreditar na cura, não importa quantas vezes haja reincidência da doença. 

Em casos como da apresentadora e da repórter, por serem pessoas públicas, era importante para a imagem profissional que elas explicassem sobre isso para o público que as acompanham. Dessa forma, elas passam positividade para outros ao contar par ao grande público. Isso pode motivar pessoas que estão passando por quadro semelhante a ficarem mais otimistas e acreditarem que é possível vencer a doença.

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Qual será a tragédia de hoje?

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É PRECISO SE REBELAR contra essa avalanche de negatividade que insiste em querer permanecer entre nós! Eu preciso escrever sobre isso…

Há pouco mais de 40 dias, festejávamos o NOVO ANO que se iniciava “ANO NOVO, VIDA NOVA”. Mas, incrivelmente, o Luto insiste em permanecer no Brasil neste 2019.

Que início de ano é esse, meus amigos?
Diante de tantas tragédias consecutivas, por mais positivos que sejamos, muitos de nós desenvolveu um receio pelo porvir.

Já ouvi muita gente questionando “Qual será a tragédia de hoje?”

Então, diante dessa situação, um cosmos de energias negativas vai se instalando entre nós.
Passamos à passividade da aceitação destes TEMPOS SOMBRIOS. Começamos a nos acostumar com o sofrimento causado pelos crimes ou fatalidades dessa vida.

Leilaine Silva resgata motorista de caminhão no acidente que fatalizou o jornalista Ricardo Boechat e o piloto de helicóptero Ronaldo Quattrucci. Fonte: https://bit.ly/2BH3UYj

Na primeira tragédia, imperam em nós muita dor e a comoção.
Na segunda, dor e comoção se aproximam como “velhas conhecidas”. Tudo parece doer menos.
Na terceira, a comoção e a dor se comportam com uma intimidade assustadora. A dor se “apequena” cada vez mais.
Na quarta, comoção e dor parecem temidas, mas rotineiras companheiras. Já não há rebeldia contra elas. Contudo, aceitação. Se esses são nossos sentimentos, É PRECISO SE REBELAR.

Acredito que o universo é regido por várias leis, dentre elas, A LEI DO RETORNO.
Então, se concentrarmos nossos pensamentos no BEM, ele retornará.
Se nos atermos no AMOR ao próximo, apesar das diferenças, O AMOR permanecerá.
Caso nos unamos para semear PAZ, ela reinará entre nós!

Se compartilharmos energias positivas e bons sentimentos, o universo lhe retribuirá com equilíbrio e bem estar. Então, concentremo-nos no BEM. Isso não significa que nos tornaremos “alienados cósmicos”. Reivindicar direitos e ser cidadãos participativos e conscientes É FUNDAMENTAL.

Todavia, cuidemos das nossas almas, equilibremos nossas energias, emanemos correntes de pensamentos positivos, fortaleçamos nossa fé em Deus e na vida. Acreditemos e lutemos para que A VIDA NÃO SEJA ACEITA COMO UMA TRAGÉDIA!

Rebelemo-nos contra uma das piores formas de sofrimento “acostumarmo-nos com a dor e o sofrimento”. Atravessamos tempos difíceis que VÃO PASSAR.

Rezemos pelas vítimas destas catástrofes, mas não esqueçamos de pedir a Deus por todos nós que ainda estamos aqui.

Fonte: https://bit.ly/2SYfpo1

E jamais esqueçamos que “a dor do outro sempre será, de alguma forma, nossa dor”.
Impossível não estar triste. Porém, faz-se necessário resgatar e alimentar a Esperança de que “dias melhores virão”…

Sim, eles virão!

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Clichê dos corações partidos

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Não te irrites, por mais que te fizerem
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio.

– Mario Quintana

O que você espera de um amor? Tenho certeza que sua primeira resposta não foi dividir um pão duro numa segunda feira. Talvez seu pensamento foi recheado de pétalas vermelhas pelo chão, olho à olho, declarações e um fondue de queijo sexta à noite. Querido leitor você não está errado (não disse também que estava certo, vamos com calma)! Afinal que sentimento é esse que faz poesias mais bem trabalhadas, o som do violino que faz serenata à Torre Eiffel, ou todas as cores de Van Gogh ganharem sentido?

O que você espera de um amor? Pessoalmente acho mais fácil dizer que está apaixonado do que dizer que não está. As pessoas te olham tipo: “Mas e agora? Vai andar sem destino? Há quem irá contar seus segredos ou dedicar músicas do Jorge & Mateus?” Infelizmente passei pelo processo popular de ficar desiludida com o amor e as pessoas. Mas queridos leitores não sigam meu exemplo!

Tenho certeza de que, assim como eu, você também já passou por isso, a questão é o que você faz após ter seu coração partido (junta os pedaços, é obvio). Atenção: Esse clichê tem a intenção de deixar de ser discurso e virar prática!

Fonte: encurtador.com.br/empBT

Certa vez vi o rapaz que eu gostava em um banco perto de umas arvores, ele não estava fazendo nada especial mas parecia uma daquelas pinturas que depois de muito tempo guardada é encontrada e exposta em galerias e todos os artistas iniciantes querem fazer uma igual. Poderia facilmente dizer que ali ele estava em seu habitat natural. Ah querido leitor, coitada de mim! Mal sabia eu que aquele rapaz cercado de natureza e vida era tão frio como um cubo de gelo dentro de um iglu no Alaska.

Mas que culpa eu tive? Porque ele deveria suprir as expectativas que eu mesma coloquei e ainda ficar chateada por isso não acontecer? E de que adiantaria condenar as outras pessoas que entrariam em minha vida, ou pior, à mim mesma ao desamor? Aí de nós se isso acontecesse, não existiria os poemas de Mario Quintana, nem Clarice Lispector, nem Nando Reis com seu all star preto de cano alto. Os sentimentos ruins são pistas para o autoconhecimento porque nos dão perguntas, de que outra forma eu chegaria à elas?

Fonte: encurtador.com.br/empBT

Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

– Vinicius de Morais

Eu te conto porque alguém deveria ter me contado, que nada adiantaria subir degraus cada vez mais altos rumo a racionalidade, com um leve vislumbre do que seria se não tivesse negligenciado os desejos do meu coração. E que apesar de tanto esforço não chegaria a lugar algum porque somos seres incompletos, dependentes de relacionamentos. E que sorte a nossa!

Passamos toda a vida tentando desvendar o enigma do amor. Essa é a vida como ela realmente é, um eterno equilíbrio em cordas bambas: amor e revolução, fantasia e realidade, paz e caos, inícios e fins. Apesar dos apesares aguente firme, se amarre em um mundo cor de arco íris, contos de fadas, fadas madrinhas e sapatinhos de cristal.

O tempo passa tão rápido que quando vê, nem se viu. Temos inúmeras possibilidades. Você pode se apaixonar amanhã (ou não). Você pode se desapaixonar depois de amanhã (ou não). E está tudo bem assim. O amor é frágil e nós não somos os seres mais delicados da terra, só resta esperar que essa coisa frágil sobreviva.

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Ainda viverei

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Ainda nua do banho me enrolei na toalha e sentei no chão do quarto no espacinho que fica entre minha cama e o criado mudo, minhas juntas duras como pedra, precisava chorar mas não descia uma lágrima sequer.

Eu só travei.

Travei de novo.

O meu corpo gelado e o cabelo preso num rabo de cavalo minúsculo.

Depois do novo corte me sentia pesada como se carregasse um peso gigantesco em minhas costas curvadas para frente e doía tanto… doía demais.

Fiquei ali me perguntando quanto tempo demora para se curar um coração partido? Não obtive nenhuma resposta agradável. A verdade é que nunca curamos um coração partido, nada que se parte é de fato consertado. Fica tudo ali.

Se você quebra um jarro de flores e ainda assim insiste em tentar cola-lo, pode até ser que ele aguente novamente o peso da água limpa e das flores, mas a marca trincada continuará lá intacta, permanente, eterna.

O mesmo acontece com o para-brisa do seu carro que foi trincado por uma pedrinha numa estrada de chão, com um copo que bateu na ponta da pia enquanto você lavava a louça do almoço, com o corte da Gilette que você passou na perna…

Meus medos voltaram e estão me cobrindo de novo, cheia de incertezas, de dúvidas e perguntas sem respostas.

Sou colecionadora de cortes mal cicatrizados.

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