Importância do trabalho multiprofissional em Psicologia da Saúde
20 de fevereiro de 2022 Josélia Martins Araújo da Silva Santos
Insight
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No âmbito da psicologia da saúde, deve haver um trabalho integrado, contínuo e compartilhado com toda equipe que faz parte do setor de saúde, seja nas áreas primárias de saúde como unidades básicas, Estratégia de Saúde da Família -ESF e Centro de Atenção Psicossocial-CAPS, ou em setores secundários (ambulatório e outras áreas), e em níveis terciários, como instituições hospitalares, centros de hemodiálise, UTIs etc.1
Mesmo que no contexto clínico a presença de uma equipe multidisciplinar não seja uma realidade tão vista, a presença dessa modalidade é fundamental na prática da psicologia da saúde, visto que pode ser uma das necessidades dos pacientes, pela requisição de um acompanhamento concomitante com outras especialidades, seja na área da psiquiatra, da nutrição ou quaisquer outras áreas. 1
Todo local de trabalho tem suas equipes e suas especificações na forma de atuação, um exemplo se refere a um hospital, que geralmente existe uma equipe com vários profissionais das mais diversas áreas, com cada setor com suas particularidades e forma de atuação. No entanto, quando se trabalha de forma multidisciplinar, o modelo de atuação deve ser realizado de forma coletiva, em prol de gerar benefícios para os pacientes, entendendo que o conceito de saúde é ampliado e dessa forma se transfere para o contexto da equipe multidisciplinar. ²
Quando se trata da atuação do profissional psicólogo(a) no contexto multidisciplinar, pode haver uma maior dificuldade em se tratando da interação desse profissional com as das demais áreas, resultante de uma carência na formação, que muitas vezes é de forma individualizada, baseada no modelo clínico em que a sua atuação ocorre apenas entre o (a) psicólogo(a) e o seu paciente. Em contrapartida entende-se que é necessário o trabalho de forma conjunta com todos os membros de uma equipe, através da discussão de casos bem como o planejamento na forma como se dará o tratamento dos usuários dos serviços de saúde. ²
A participação da psicologia nas equipes multiprofissionais vem ganhando destaque pela forma como o profissional atua nas diversas áreas da saúde, no entanto é necessário reafirmar a importância deste profissional nesse contexto, através de práticas e evidências que reforcem a importância desse profissional em quaisquer áreas de atuação da saúde, como parte fundamental da equipe multiprofissional. 1
REFERÊNCIAS
1- ALMEIDA, Raquel Ayres de; MALAGRIS, Lucia Emmanoel Novaes. A prática da psicologia da saúde. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 183-202, dez. 2011.Disponívelem<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582011000200012&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 12 fev. 2022.
2- Carvalho, Liliane Brandão, Bosi, Maria Lúcia M. e Freire, José Célio A prática do psicólogo em saúde coletiva: um estudo no município de Fortaleza (CE), Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2009, v. 29, n. 1 [Acessado 12 fevereiro 2022], pp. 60-73. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1414-98932009000100006>. Epub 19 Jun 2012. ISSN 1982-3703. https://doi.org/10.1590/S1414-98932009000100006.
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Médicos Sem Fronteiras e a ajuda humanitária ao redor do mundo
O projeto de atuação internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização com ações de auxílio direcionado à populações vítimas de crises humanitárias.
Tudo começou na França em 1971, quando um grupo de médicos e jornalistas se voluntariaram sem serviços nos anos anteriores em Biafra- Nigéria. A assistência profissional para vítimas da guerra civil naquela região fez com que eles percebessem a necessidade de maiores cuidados e acompanhamento dessa causa. Após 29 anos da criação deste grupo, recebe a premiação do Nobel da paz pela contribuição à população e a visibilidade de inúmeras causas que ajudam de prevenção a pessoas com baixos auxílios.
Além de ações médicas assistenciais às populações vulneráveis, como na maioria da atuação do projeto em diversos países, quando há necessidade a ajuda do MSF se dá através de fornecimento de alimentação, abrigos temporários, água e saneamento básico. Isso costuma acontecer em locais que estão no auge da crise econômica, política e conflitos civis, onde as pessoas correm, constantemente, risco de vida ou agravamento da saúde por falta de assistência e socorro.
Fonte: www.msf.org.br/
O projeto Médicos Sem Fronteiras é gerenciado de forma não governamental sem fins lucrativos. A política interna direciona cerca de 80% de toda a arrecadação para atividades humanitárias de campo, os outros 20% são revertidos para despesas administrativas e na aplicação de captação de recursos. Anualmente disponibiliza relatórios auditados da prestação de contas à população e para acesso de todos, sendo detalhada informações de seus 21 escritórios.
A equipe profissional é constituída de oncologistas, enfermeiros neonatal, enfermeiro chefe, cirurgiões plásticos, anestesistas, ginecologistas, médicos, pediatras, epidemiologistas, obstetras, enfermeiro obstetra, farmacêuticos, psicólogos, psiquiatras, administrador financeiro, fisioterapeutas, administradores, especialistas em água e saneamento, logística de suprimentos, logística, promoção a saúde, coordenador de projetos, coordenador financeiro, coordenador de recursos humanos.
Os princípios básicos da organização devem ser cumpridos por toda a equipe profissional vinculada ao Médicos Sem Fronteiras, são eles:
“Independência, não está atrelada a poderes políticos, militares, econômicos ou religiosos e tem liberdade de ação, decidindo onde, como e quando atuar com base em sua própria avaliação do contexto e das necessidades. Essa independência de ação é garantida por sua independência financeira, já que, de todo o financiamento de MSF, 96% é proveniente de doações de indivíduos e da iniciativa privada.
Imparcialidade, Médicos Sem Fronteiras oferece ajuda humanitária e cuidados de saúde àqueles que mais precisam, sem discriminação de raça, religião, nacionalidade ou convicção política […] A possibilidade de aliviar o sofrimento de indivíduos por meio da ação médica é o que determina a norteia as atividades de Médicos Sem Fronteiras.
Fonte: www.msf.org.br/
Neutralidade, a neutralidade é crucial para as equipes conseguirem chegar a qualquer pessoa afetada, independentemente do lado do conflito em que esteja. A neutralidade de MSF é possibilitada pela sua total independência financeira de governos ou partes envolvidas em conflitos.
Transparência, MSF avalia constantemente os projetos que implementa e presta contas à sociedade e aos doadores sobre a gestão dos recursos captados e resultados de suas ações […] Para reforçar esse compromisso, os relatórios financeiros são auditados por empresas independentes e redigidos em conformidade com os padrões da International Financial Reporting Standards (IFRS). São também publicados relatórios anuais, que trazem o resumo das atividades desenvolvidas em campo e análise crítica dos progressos, obstáculos e aprendizados. MSF também preza pela transparência na relação com seus pacientes e, coerente com essa transparência, informa-os sobre as escolhas que faz e sobre as decisões que toma no que se refere à sua atuação médica.
Ética médica, o trabalho da organização é norteado pelas regras da ética médica universal. Em primeiro lugar, vem o dever de prestar assistência a quem precisa, sem prejudicar indivíduos ou grupos. A ética médica fala de respeito à autonomia e à confidencialidade dos pacientes, e também de seu direito a acessar todas as informações necessárias para que possam consentir procedimentos e tomar decisões com respaldo. Cada indivíduo é tratado com dignidade e respeito e recebe cuidados médicos de qualidade”.
Fonte: www.msf.org.br/
A psicologia é uma área de extrema importância na ajuda humanitária às pessoas em situação de vulnerabilidade extrema. A atuação dos (as) psicólogos (as) está relacionada ao auxílio emergencial à população, redução e controle de danos, resolução e formulação de estratégias de acordo com a realidade do local onde é prestado seus serviços. Sua realidade, na maioria das vezes, está ligada a conflitos armados, guerras civis, surtos de doenças, precariedade, catástrofes naturais, e diversas situações que não estão sendo esperadas.
E o principal cuidado que os profissionais de psicologia têm a partir desse cenário é cuidado com a saúde mental de cada paciente. A fragilidade psicológica diante de tantas experiências traumáticas, muitas vezes potencializam fatores de adoecimento, não só psíquico mas também físico. Aliados a uma vasta equipe multiprofissional, buscam então, a melhoria da qualidade de vida e recursos práticos para a manutenção da saúde física, psicológica e emocional onde quer que vão prestar seus serviços.
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Psicologia e Odontologia podem e devem caminhar juntas: (En)Cena entrevista Eva Spangenberg
Para além das questões estéticas, a Odontologia, como prática de saúde, promove a prevenção de doenças que possam ocorrer por não cuidar da saúde do sorriso. É importante ressaltar que um profissional de odontologia bem preparado, deve demonstrar confiança aos pacientes. Pois muitas vezes, alguns nunca passaram por procedimentos odontológicos o que faz com que sintam-se receosos e inseguros, portanto ter o profissional ali, que possa acalmar, conformar e trazer informações necessárias ao paciente se faz essencial.
Além disso, sabemos que a saúde mental é muito importante e que promove qualidade de vida tanto aos pacientes, quanto aos profissionais. Que por sua vez, enfrentam jornadas de trabalho intensas, onde se exige uma atenção maior durante os procedimentos realizados e os cuidados da saúde mental devem ser realmente levados em consideração.
Na presente entrevista, conversamos com Eva Spangenberg, formada em Odontologia e que está concluindo sua segunda graduação em Psicologia pelo CEULP ULBRA. Eva oferece uma visão muito interessante, que envolve sua trajetória profissional e sua relação com ambas as áreas de conhecimento.
Fonte: Acervo da entrevistada
En(Cena) – Você poderia nos contar um pouco acerca da sua trajetória profissional? E, se possível, da sua motivação para aliar Odontologia e Psicologia.
Eva Spangenberg – Quando prestei meu primeiro vestibular aos 19 anos, prestei para odontologia e psicologia. Na época havia passado somente em psicologia, naquele momento não era o que eu realmente queria fazer. Estava decidida que queria cursar odontologia, e fiz um ano de cursinho para um novo vestibular, desta vez prestei somente para odontologia. Fiz essa graduação em princípio na USC de Bauru, sendo que 2/3 do curso concluí nessa instituição, depois me mudei para Londrina e finalizei minha graduação na Unopar de lá, foi uma experiência muito enriquecedora de aprender com visões institucionais diferentes, mas que se complementavam.
En(Cena) – Ao longo da sua formação, como se deu essa relação entre a Odontologia e a Psicologia?
Eva Spangenberg – A Odontologia trabalha todo tempo com o emocional do paciente e do cirurgião, o contato é bastante próximo, tanto no atendimento, quanto na anamnese e na evolução dos casos. Cada vez mais pude perceber a necessidade vinda do paciente de uma escuta atenta e diferenciada, procuro sempre me manter atualizada em diversos segmentos, para que possa oferecer uma consulta e um tratamento de qualidade para meus pacientes. Sendo assim, e com o gosto por aprender e adquirir novos conhecimentos, que senti a necessidade e a vontade de ingressar no curso de Psicologia. Para aperfeiçoar antigos conhecimentos, para aprender tantos outros e me socializar mais num ambiente acadêmico que aprecio muito, pois na odontologia, passamos muitas horas sozinhos em ambientes fechados, voltar a estudar foi como refrigerar a alma.
En(Cena) – Existe um discurso que ouvimos muito acerca do “Medo de ir ao Dentista”, algumas pessoas inclusive demonstram pavor. Quanto a isso tem alguma técnica ou forma de acalmar esse paciente, para realização dos procedimentos e perder esse medo?
Eva Spangenberg – Acredito que muito do medo é pela insegurança e falta de informação, por parte do profissional, dos passos seguintes que serão dados. O paciente também, na maioria das vezes, já vem sensibilizado por tratamentos anteriores mal sucedidos, por vezes também, confunde pressão com dor. Procuro estabelecer uma relação de compromisso e confiança desde o primeiro encontro, com o compromisso firmado de ambas as partes, a minha como profissional e a do paciente, durante o atendimento. Antes do procedimento ser realizado, faço uma explicação de como será cada passo, diferencio para o paciente a diferença de pressão e dor, com toques nas mãos, o paciente informado se sente seguro e se mostra bastante colaborativo durante os atendimentos, isso já o acalma também.
En(Cena) – Na sua opinião é mais fácil lidar com pacientes adultos ou com as crianças? Por quê? Isso vale também para os que sofrem dessa fobia mencionado na pergunta anterior?
Eva Spangenberg – Fiz 11anos de Odontopediatria, é uma área bastante cansativa, mas de muitas satisfações pessoais. Normalmente, alguns dos pais se mostram negligentes nos cuidados com as crianças ou excessivamente zelosos e dão mais trabalho do que as próprias crianças, sendo assim é necessária uma postura de pulso e doçura ao mesmo tempo. Os movimentos precisam ser firmes e rápidos, porque um erro, pode ferir a criança. O tempo de atendimento infantil é reduzido também, pois elas se cansam mais rapidamente e passam a não colaborar, por vezes, medidas de contenção conforme técnicas específicas, podem ser utilizadas em casos complexos para o manejo da dor e execução segura do trabalho. Tudo deve ser muito bem conversado com a criança e não devemos subestimar sua capacidade de entendimento e participação durante os atendimentos, ao final dos atendimentos é sempre interessante usar um reforço positivo, que reforça o vínculo com o profissional e a autoconfiança da criança.
En(Cena) – Já houve alguma situação no consultório na qual o paciente tenha tido alguma crise ou entrado em pânico? Se houve, como foi o desfecho?
Eva Spangenberg – Por duas vezes tive pacientes em situação de pânico, uma delas foi durante a cirurgia de um adolescente e um colega médico de um consultório ao lado me ajudou no manejo da situação com sucesso. Em uma outra, o paciente tinha verdadeiro pânico de consultórios odontológicos, gritava e escorregava pela cadeira de atendimento sem sequer ser tocado. Nesse caso, para o conforto do paciente e segurança do profissional, ele foi encaminhado para atendimento hospitalar com sedação completa para execução dos procedimentos.
En(Cena) – Estudos recentes sugerem que pacientes que sofrem de Bruxismo costumam sofrer de ansiedade, depressão e raiva. Em sua experiência, já lidou com pacientes que apresentavam bruxismo? Se sim, você teve essa percepção?
Eva Spangenberg – O bruxismo tem se mostrado a cada dia mais presente. Inclusive, em crianças de tenra idade. Os estímulos sensoriais exacerbados e por tempo excessivo, o excesso de tarefas e afazeres diários e a falta de um tempo de qualidade e com tranquilidade para si mesmo, tem aumentado a frequência e a intensidade dos casos. Além do acompanhamento odontológico, por vezes se faz necessário o acompanhamento psicológico. O profissional deve estar atento aos primeiros sinais a fim de evitar maiores danos e proporcionar informações e qualidade de vida para esse paciente.
En(Cena) – Dra., sabemos que o contexto atual, por conta da pandemia, tem atingido as diversas áreas de nossas vidas. Como tem sido para você e para a Odontologia lidar com essas adversidades?
Eva Spangenberg – A pandemia expôs a nossa fragilidade como profissionais que lidam com sangue e saliva, com aerossóis altamente contaminantes. Particularmente, não necessitei fazer nenhuma mudança na execução dos atendimentos, pois sempre procurei ser bastante rigorosa no quesito biossegurança, no entanto, dobramos o cuidado com a desinfecção e espaçamos as consultas para melhor atender. Os pacientes se mostraram bastante assustados com a mídia, e os profissionais bastante fragilizados emocionalmente e financeiramente. Isso nos fez refletir muito sobre a necessidade de termos fontes de renda alternativas, que não demandem necessariamente de nossa presença física para que tenhamos retornos financeiros.
En(Cena) – Atualmente você é formada em Odontologia e acadêmica de Psicologia. O que você acredita que mudou?
Eva Spangenberg – Mudou minha forma de olhar, que antes era mais embrutecida, hoje tenho mais paciência, mais diretividade, um olhar mais atento e uma capacidade resolutiva em processo de melhoramento. Procuro refinar mais as conversas com os pacientes e permitir que se sintam acolhidos, validados e comprometidos com o tratamento, minha maior satisfação é quando retornam para outras manutenções.
En(Cena) –Dra. Eva, qual a sua opinião acerca da parceria, ou até mesmo da prática integrada entre Psicologia e Odontologia? Na sua visão, quais os benefícios futuros que essa parceria poderia proporcionar aos pacientes?
Eva Spangenberg – O cirurgião dentista não é formado até os dias atuais, para o estabelecimento de parcerias, perde enormemente com isso e nesse caso, tem muito a aprender com os colegas médicos. São parcerias em materiais, em equipamentos, que apesar do grande investimento, em pouco tempo se tornam obsoletos e quando esses conhecimentos, esses materiais e equipamentos são partilhados, eles se pagam e abrem caminho para o novo. Tem um conto, bem divulgado na odontologia, em que você entra no curso e se acha o máximo, porque agora tem uma bancada para aprender a trabalhar, de 1.50m, e um manequim de borracha. Passado um ano, você tem um paciente e chama o professor para atender não o paciente “fulano de tal “, mas o dente 46 com fratura, então, se não estivermos atentos a nós mesmos e ao nosso redor, nosso mundo se encolhe e perde significância. Vejo que a psicologia apura o olhar e a forma de atendimento do cirurgião dentista, inclusive para questões pessoais do paciente, presente durante os tratamentos. Um cirurgião dentista atento pode indicar um tratamento psicológico de qualidade aos seus pacientes, mostrando que não se trata de fraqueza, mas de coragem por parte do paciente de lidar com aspectos tão necessários na vida cotidiana. O mesmo vale para o profissional psicólogo, que deve também estar atento aos cuidados pessoais, à estética satisfatória por parte das demandas do cliente, à questões como halitose, por vezes despercebidas pelos portadores da mesma e ao autocuidado da saúde bucal, negligenciado principalmente em casos de viuvez, separações ou pacientes que vivem sozinhos. A boca faz parte na melhoria e consagração da autoestima com qualidade de vida, caso o profissional tenha a oportunidade e o interesse em aliar aos atendimentos a odontologia e a psicologia, o resultado será ainda melhor.
En(Cena) – Vale destacar aqui também o cuidado com a saúde mental dos profissionais da Odontologia, que muitas vezes se mostram com uma jornada de trabalho extensa, podendo chegar a ultrapassar o limite das 60 horas semanais permitidas por lei, quando estes trabalham como autônomos. Em sua opinião, quais riscos isso poderia trazer à saúde e quais mudanças podem ser possíveis nesse contexto entre a Psicologia e a Odontologia?
Eva Spangenberg – A abertura indiscriminada de faculdades de odontologia, que não necessariamente primam por excelência na sua formação, aliadas a políticas públicas de negligência e abandono nas áreas de saúde, a procedimentos mal remunerados e às dificuldades de progressão de carreira, têm em muito contribuído para o adoecimento, afastamento, mudança de carreira ou péssimas condições de vida e de trabalho de muitos profissionais, inclusive com imensas dificuldades para se aposentarem. Um profissional atento deve se informar sobre as diversas formas de contornar e ressignificar essas dificuldades, caso queira continuar atuando ou mesmo se aposentando com manutenção da qualidade de vida posterior, é preciso estar atento à necessidade de cuidados com sua psique, com seu corpo físico, com a qualidade de suas relações de trabalho e pessoais, pois além de trabalhar com a técnica, trabalha também com a arte e com a inspiração!
Fonte: Acervo da entrevistada
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O papel social da Casa de Apoio Vera Lúcia Pagani: (En)Cena entrevista Elisangela Cardoso
Considerando a necessidade em hospedar pacientes e seus acompanhantes que passam pelos hospitais públicos de Palmas/TO, houve a criação da Casa de Apoio Vera Lúcia Pagani. A casa recebe pessoas de todos os municípios de Tocantins, assim como de alguns estados vizinhos. Essas pessoas são encaminhadas pelos hospitais para a casa, que as acolhe, de forma gratuita, apoiando-as em um momento difícil, que envolve a própria saúde ou a saúde de alguém que ama.
Fonte: https://bit.ly/2xrq7Yk
Tendo em vista a importância da Casa de Apoio Vera Lúcia Pagani, o (En)Cena entrevistou Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso, gerente da casa, que fala do papel social e dos desafios desta.
(En)Cena –Como é formada a equipe aqui na casa de apoio?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – O administrativo, que são as pessoas que acolhem. Fazem a acolhida com os documentos que vem de fora, dos três hospitais públicos de Palmas. Nós só podemos receber o público do HGP, Dona Regina e do Infantil. Lá a assistência social faz uma triagem, dessa triagem eles veem todo o parecer social da família, se não tem alguém aqui dentro de Palmas, porque a casa é para os 139 munícipios e outros estados também que são atendidos pela casa de apoio. Então o administrativo são pessoas que vão fazer essa acolhida, vão olhar os documentos, vão ver a respeito dos leitos, das camas. Nós temos esse cuidado, o administrativo pega o documento e o encaminhamento (eles ligam antes para ver se tem vaga). Aqui nós temos 126 camas, então tem que ligar antes para ver se está superlotado. Tem vezes que temos que ligar para o HGP avisando que não tem mais vaga, para não encaminhar mais, porque pode ser uma pessoa que vem hoje e amanhã já vai embora ou pode ser uma pessoa que fica 3, 4 anos, como é o caso de mães que estão com o bebê no Cristo Rei, que é conveniado com o HGP. Então esse administrativo acolhe e tem que ser muito bem direcionado no trabalho de acolhimento com essas famílias, porque recebemos um pouco de cada coisa, como pessoas que recebem um diagnóstico de câncer e estão fazendo radioterapia, ou chega desesperado porque o filho está em uma UTI entre a vida e a morte. O administrativo então é a porta de entrada daqui da casa de apoio, por isso ele fica de plantão. A gente fala plantão porque tem a turma da manhã, a turma da tarde e o vigia que fica a noite.
(En)Cena – O vigia então também faz esse acolhimento?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Faz. A gente prepara todos que vem para cá. Tem uma preparação para fazer pelo menos uma acolhida, tratando as pessoas bem, então eles têm que ser qualificados. Hoje mesmo estamos com um momento de palestra multidisciplinar com fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, porque nós temos que estar bem para atender esse povo. Agora há pouco mesmo, nos deparamos com um senhor que está em estado terminal, vazando sangue pela boca, então temos que chamar logo o SAMU. Se eu não estivesse aqui, o administrativo já está experiente com isso, em fazer esse atendimento. Não só de fazer o acolhimento, de levar até os quartos, mas de explicar as normas. Nós temos uma normativa para eles conviverem bem dentro da casa, pois são pessoas de vários tipos que aqui entram. O administrativo, junto com a gerência e todos aqui, ficam de olho para que tudo ande bem, porque a casa não dorme. Tem pessoas aqui que a casa já virou moradia, devido a situação do familiar que está na UTI em estado permanente. Tem o assistente de serviços gerais também, que ele tem que olhar a casa, ter cuidado com as coisas dentro dos banheiros. A equipe tem que estar de olho e tudo o que acontece é relatado, para a segurança e o bom tratamento dessas famílias que aqui estão. A casa de apoio não foi feita para paciente. Ela é ligada a assistência social da Secretaria de Trabalho do Estado. Ela foi visada para os acompanhantes, pois eles precisam estar saudáveis para acompanhar quem está no hospital. Essa é a visão da casa de apoio. Entretanto, como o quadro oncológico está muito grande no HGP, que infelizmente essa doença, o câncer, está muito aglomerada, abriu-se quartos masculinos e femininos para esses pacientes. Crianças, jovens, idosos, precisam muito da casa de apoio. Uns vem fazer radioterapia e quimioterapia e leva um certo tempo e aqui ficam como se fosse da casa mesmo. Temos que prestar esse atendimento com qualidade.
(En)Cena –Então é um trabalho em equipe mesmo, de forma multidisciplinar?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Isso mesmo. Tem a gerência que cuida do que a casa necessita, questões dos servidores, que são do Estado. Então eu tenho mesmo que gerenciar a casa e levar toda a demanda para a assistência social. Tem o assistente de serviços gerais, que uma cadeira que fica ali jogada no banheiro e deveria estar no quarto, ele limpa, descontamina e coloca no lugar certo, questões de limpeza geral, também fica de olho para o caso de alguém passar mal e ele já pedir ajuda. Acaba que tem bem distribuída a função de cada um, mas todos temos que nos envolver em prol do atendimento geral. É uma equipe, temos que andar juntos pensando na proposta de fazer um bom atendimento para essas pessoas.
(En)Cena – A casa depende de donativos?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – O Estado entra com o prédio e a manutenção dele. E como a demanda é tão grande, precisa de apoio da comunidade. Tem a equipe, água, luz, necessidades como móveis, que são pagos pelo Estado. Agora, tem uma questão que é o café da manhã e o café da tarde, que não recebemos pelo Estado, dependemos de doações de parceiros e também o que chamamos de apoio extra, que é o apoio da comunidade. Às vezes tem situações em que as pessoas não têm nem mesmo os produtos de higiene, porque sai com o familiar em situação crítica e não lembra ou não tem tempo para isso. Às vezes vem só com a roupa do corpo, então chega aqui e nós temos que fazer esse papel social. Aí a gente passa para a comunidade, para pessoas que já conhecem o nosso trabalho. A casa em si tem o que precisa para a manutenção dela, mas o extra, os produtos para as pessoas aqui, a gente sempre conta com os parceiros e com os donativos.
(En)Cena –E recebe bem esses donativos?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Nós recebemos, é coisa de Deus. O social, na questão do donativo, tem muito que vem do bem, da humanidade, de Deus. Às vezes nós estamos precisando então a gente liga para algum parceiro, para algum grupo, que já estão acostumados, que sabem do nosso trabalho, que já fizeram algum trabalho na casa também, sabe que a gente tem transparência. Então eles podem fazer essa ajuda também, a gente recebe. A própria comunidade aqui da cidade de Palmas já sabe do trabalho da casa de apoio. Claro que tem períodos que passamos por situações complicadas, mas quando tem a necessidade, nós temos que pedir, ainda mais para as pessoas que nós recebemos, na questão de produtos extras, de higiene principalmente, porque às vezes eles não conhecem nada aqui ou não tem dinheiro para comprar o que precisa. Cerca de 120 pessoas passam por aqui.
(En)Cena – Por semana?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Nós estamos terminando o relatório das entradas e saídas desse ano, estamos com praticamente 13 mil pessoas que passaram pela casa de apoio desde dezembro até agora. Até junho tinha 9 mil. Nós temos tudo isso controlado, os encaminhamentos, entradas, o mapa de alimentação, que são muitas refeições diárias, sem contar com as doações para o café da manhã.
(En)Cena –Então é inquestionável a importância da casa para essas pessoas, na questão física, de ter um lugar para dormir e se alimentar. Na questão emocional dessas pessoas, tem alguma ação voltada para isso?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Temos segmentos religiosos, temos segmentos sociais, com dinâmicas. Estamos com o Projeto Ariana, de uma senhora que é funcionária pública e o grupo de pessoas é voltado para ajudar na questão social, temos o padre que vem dar um apoio espiritual, tem alguns grupos evangélicos que vem, mas eu sempre deixo aberto para quem queira fazer algo, alguma dinâmica. Temos também Canção Nova, que atua tanto no social quanto no espiritual. Então a gente tem um público bem voltado para a área social e também para a área espiritual.
(En)Cena –Tem algo que você sente que poderia melhorar ou acrescentar?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Estamos precisando muito de apoio na questão de artesanato, para as mulheres e para os homens terem alguma coisa para fazer, porque às vezes eles ficam muito ansiosos e às vezes ficam muito tempo aqui. Eu tenho pessoas que querem ser voluntárias, mas aí precisa de material para alguém vir fazer esses cursos, atender essa demanda.
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Desafios da atuação ética do profissional de Psicologia Hospitalar
O psicólogo presente nas instituições de saúde muitas vezes se depara com situações que exigem habilidade para lidar com dilemas éticos que se estabelecem na relação dele com a pessoa atendida
Apsicologia hospitalarse propõe a ser uma área de conhecimento que visa fornecer suporte ao sujeito em adoecimento, a fim de que este possa atravessar essa fase com maior resiliência. O psicólogo auxilia o paciente em seu processo de adoecimento, visando à minimização do sofrimento provocado pela hospitalização. Esse profissional deve prestar assistência ao paciente, bem como seus familiares e a equipe de serviço, sendo que este deve levar em consideração um leque amplo de atuações, tendo em vista a pluralidade das demandas. Nesse sentido, é um campo de entendimento e tratamento dos aspectos biológicos em torno do adoecimento, não somente doenças psicossomáticas, mas todo e qualquer tipo de enfermidade.
Fonte: encurtador.com.br/dgrXZ
Pensar na atuação do psicólogo nas unidades hospitalares, ou seja, nas instituições públicas que são destinadas a priorizar a saúde, não é uma tarefa muito fácil. O tempo de inserção desse profissional nesse campo é relativamente pequeno, há um contingente reduzido de profissionais atuando na área, apesar de vir aumentando gradativamente, inexistem pesquisas mais sistemáticas, tanto nacionais quanto locais, sobre a atuação do psicólogo nesse campo específico de trabalho. Apesar disso, é possível observar uma série de problemas e insucessos em termos das práticas dos psicólogos, devido à falta de apoio como um todo e na valorização desse profissional, como um agente capaz de contribuir na promoção de saúde.
Dimenstein (2000) afirma, ainda, que muito dos problemas dos quais o psicólogo passou a deparar-se escapam do domínio da clínica, pois se referem às condições de vida da população. Tais dificuldades passaram a ser um entrave para as atividades de assistência pública à saúde tendo em vista a falta de preparo nessa área. Levando em conta a realidade de nosso país e de nossa profissão, devemos priorizar uma formação adequada para inserir o psicólogo e abrir novas frentes de mercado de trabalho de acordo com as necessidades da população. Um dos primeiros passos seria a inserção do psicólogo em equipes de saúde interdisciplinares. A interlocução entre os diversos saberes seria a maneira de oferecer um cuidado mais completo, eficaz e de acordo com as necessidades da população.
O psicólogo presente nas instituições de saúde muitas vezes se depara com situações que exigem habilidade para lidar com dilemas éticos que se estabelecem na relação dele com a pessoa atendida e os familiares da mesma, ou na relação com a equipe de trabalho. Este profissional se vê diante de questões como: até onde preservar o sigilo profissional? De que forma se deve agir diante de atitudes antiéticas de colegas de trabalho? Que informações podem constar no prontuário do paciente?
Fonte: encurtador.com.br/cwEV0
Sua atuação é dirigida para os problemas psicoafetivos oriundos da doença e/ou da hospitalização compreendendo a natureza do sujeito doente, seus desejos, esperanças, medos, aptidões, dificuldades e limitações, seja através da observação ou da linguagem verbal e não verbal. A prática hospitalar impõe-nos alguns cuidados que são fundamentais para um bom atendimento sendo importante que não confundamos a psicologia hospitalar com a psicologia clínica. Na psicologia hospitalar estaremos lidando com o tempo de internação do paciente, bem como com sua patologia orgânica e seus efeitos iatrogênicos, com questões de ordem pratica, como dificuldades do paciente e da família.
Para que nós, psicólogos, possamos adotar uma postura considerada ética é preciso pautar-se no Código de Ética Profissional do Psicólogo, agir dentro dos princípios éticos que valem a todos, que não priorizam crenças ou valores pessoais, agirem de acordo com os conceitos morais que permeiam a sociedade na qual está atuando. Devemos atender o paciente de forma a fazer-lhe bem e evitar qualquer prejuízo que possa ocorrer em virtude de sua intervenção.
A área da saúde necessita de um suporte na área de Saúde Mental, pois muitas vezes os profissionais que compõem a equipe não têm conhecimento do processo de um sofrimento que passa o paciente que procura ajuda, há uma dificuldade muito grande de empatia e trabalho continuado e focalizado no sujeito como um ser biopsicossocial que demandam atendimento nas mais diversas áreas, e a Saúde Mental é uma delas. O trabalho do psicólogo na área hospitalar deve acontecer de forma conjunta com a equipe: médicos, enfermeiros, agentes, técnicos e familiares dos usuários, para que possamos atender e acolher bem aquele que procura ajuda. O trabalho deve ser humanizado e se pautar sempre na ética e no compromisso com aqueles que confiam a nós profissionais da saúde a sua vida.
REFERÊNCIAS
ALAMY, Suzana.Ensaios de Psicologia Hospitalar– a ausculta da alma. Belo Horizonte: 2003. P. 18.
Barbosa S B, Alex. A Psicologia Hospitalar. Disponível em: <https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/a-psicologia-hospitalar> Acessado em: 22 fev 2019.
DIMENSTEIN, M.A Cultura profissional do psicólogo e o ideário individualista: implicações para a prática no campo da assistência pública à saúde. Estudos de Psicologia, (2000).
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A relação entre psicologia da saúde, hospitalar e pediátrica
O psicólogo trabalha em cima da prevenção da saúde mental de seus pacientes, acompanha casos onde haja necessidade de intervenção quanto a tratamentos, atende grupos de familiares, até mesmo funcionários do hospital.
A presença dos psicólogos na saúde pública foi influenciada em suma pela reforma sanitária e psiquiátrica que ocorreu na década de 1980. Foi um movimento que buscou mudanças essenciais no sistema de saúde a fim de melhores condições de vida para a população. Dentre essas mudanças, almejava-se o não isolamento de indivíduos com algum distúrbio mental em manicômios, onde eram separados de suas famílias e excluídos da sociedade.
Como resultado dessa luta nasceu o Sistema Único de Saúde (SUS), com o objetivo de garantir o direito ao acesso à saúde de qualidade á toda a população, oficializado na Constituição de 1988, ao qual diz o seguinte: “Art. 196. A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (in: CONASEMS, 1990, p. 04).
O SUS trouxe uma ideologia do ser humano como um todo, um ser biopsicossocial não fragmentado, que necessita de saúde integral: física, psíquica, emocional; com práticas que vão desde a prevenção até o tratamento. Seu princípio é ser descentralizado, ou seja, as atitudes a serem tomadas devem ser baseadas nas necessidades de cada localidade ou região, visando suprir as demandas dessa população.
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A partir disto, surge como modelo de assistência à saúde o Programa Saúde da Família (PSF), com seus objetivos a serem descritos a seguir: “O programa Saúde da Família é um modelo de assistência à saúde que vai desenvolver ações de promoção à saúde do indivíduo, da família e da comunidade, através de equipes de saúde que farão o atendimento na unidade local de saúde e na comunidade, no nível primário […]” (Brasil, 1994, p. 02).
Com a visão do ser humano como um todo, a promoção da saúde no PSF deve ser feita por uma equipe multidisciplinar, descentralizando o trabalho médico e dando ênfase na pluralidade das diversas demandas direcionadas a outras áreas profissionais. Essa equipe deve trabalhar integrada entre si, unindo seus conhecimentos para uma melhor qualidade de vida da população local.
Para a Organização Mundial de Saúde, a qualidade de vida apresenta uma natureza multifatorial, enfocando cinco dimensões: a psicológica, a física, as relações sociais, o meio ambiente e o nível de independência, que, nesse caso, corresponde aos aspectos de morbidade, dependência de cuidados médicos e de medicações, capacidade laboral e atividades diárias (Souza e Carvalho, 2003).
É aí que entra o papel do psicólogo. Não há como falar em saúde desassociando-a da saúde mental, uma é complementar à outra. A psicologia se mostra extremamente necessária dentro do PSF, pois ficam a cargo do profissional os princípios de prevenção e promoção da saúde mental e o tratamento de transtornos psíquicos de forma humanitária e digna junto à família e a comunidade, isso visando promover aspectos e práticas de uma vida saudável à população local, dando a cada indivíduo a consciência de agente da sua própria saúde. Ele deve estar atento também a questões que implicam ao meio social e às suas relações, tais como o uso de drogas, criminalidade, abusos sexuais, relações familiares e etc.
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Segundo Ana Carol Pontes de França e Bartyra Amorim Viana, “há contribuições relevantes quanto à atuação do psicólogo no PSF de acordo com sua realidade, são elas: Assessoria na elaboração, implementação e avaliação permanente de ações em saúde pública junto à equipe multidisciplinar; Assessoria na elaboração de programas e atividades complementares, em áreas pertinentes à consecução do projeto em saúde, tais como: desenvolvimento emocional e relações interpessoais, orientação sexual, prevenção em relação ao uso de substâncias psicoativas, orientação vocacional e preparação para o trabalho, preparação para a aposentadoria, reorientação profissional, lazer, criatividade, etc; Elaboração e condução de programas de trabalho com grupos que contemplem a prevenção e a promoção da saúde mental da comunidade, objetivando a melhoria na qualidade de vida, a promoção da resiliência psicológica.” (PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2006).
A presença do psicólogo no PSF é essencial e mostra bons resultados quanto à promoção de qualidade de vida das comunidades. Com isso, vê-se a necessidade da continuidade dos trabalhos para superar os desafios presentes, em vista que o profissional deve estar atento à realidade da comunidade, às suas possibilidades e os seus limites, disposto sempre a oferecer um serviço de qualidade para a população.
Psicologia hospitalar
Alfredo Simonetti em seu livro, define a Psicologia Hospitalar como um campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento. Que se dá quando o sujeito humano carregado de subjetividade se embarra com uma realidade antes não conhecida de natureza patológica denominada “doença”, presente em seu próprio corpo, produzindo uma infinidade de aspectos psicológicos que podem evidenciar no paciente na família ou na equipe de profissionais. Assim não se trata apenas de doenças psíquicas os chamados “problemas mentais” mas aspectos psicológicos de qualquer doença mesmo que seja física, pois existe certa subjetividade por trás de cada uma.
Segundo o autor, o foco da psicologia hospitalar são os aspectos psicológicos em torno do adoecimento e estão encarnados nas pessoas, pessoa do paciente, pessoa da família e pessoa da equipe de profissionais. Portanto, não esta ligado somente a dor e ao sofrimento daquele paciente, mas comportamentos notados de cada parte envolvida. Pois cada um deles tem um objetivo diante da doença, que varia entre (sintoma, como interesse do paciente em se livrar da doença; prognostico, como interesse da família em saber a gravidade dela; e diagnóstico, interesse do medico para iniciar o tratamento). E esses desencontros de objetivos precisam ser bem manejados pelo psicólogo hospitalar.
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A psicologia está interessada mesmo em dar voz a subjetividade do paciente, restituindo-lhe o lugar de sujeito que a medicina lhe afasta (Moretto, 2001). Ou seja enquanto que para a medicina as emoções, as fantasias e os sentimentos não tem nenhum sentido, pois olha somente para doença em si e quer esvaziar o paciente de toda essa subjetividade. Para a psicologia acontece o contrario, pois acredita que isso é fundamental no tratamento, uma vez que o corpo não funciona sozinho, precisa do sujeito, com suas ações.
Quando um paciente chega para internação, cada profissional sabe o seu papel o médico preocupa com a doença e seus sintomas, a enfermeira com o corpo e dá a medicação necessária, e o psicólogo somente com o “corpo simbólico” consegue fazer seu trabalho. Ou seja, usa aquilo que está além do corpo físico, em oculto e que poucos veem, mas que na maioria já até manifestou, através da doença. Porém, o único que percebe isso é o psicólogo, que vai usar seu maior instrumento de trabalho, fala e a escuta principalmente para resolver certas situações que só ele consegue.
Existem também aqueles pacientes que estão sedados, inconscientes, impossibilitados de falar, ou mesmo resistem ao atendimento. Ainda assim as palavras são eficientes, através dos códigos não verbais, gestos, olhares até mesmo o silêncio é valido e usado pelo profissional como uma espécie de interação entre eles e uma forma de descobrir a relação de tudo com os sintomas e a doença já instalada.
De acordo com a definição do órgão que rege o exercício profissional do psicólogo no Brasil, o CFP (2003a), o psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde e realizando atividades como: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsultoria.
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Além disso, o psicólogo dá apoio a equipe multidisciplinar. Casos em que médicos e enfermeiros não conseguem resolver. Por exemplo, a relação com o paciente quando ele recebe uma noticia inesperada, ou um diagnóstico, e se desespera diante de uma medida radical que precisa ser tomada pelo enfermo, como parte necessária do tratamento e, contudo pode escolher por não aceitar. É o caso da amputação de membros do corpo, cirurgias arriscadas, remédios fortes, casos de dependentes químicos que não conseguem largar o vicio. Assim mais uma vez entre em cena o psicólogo hospitalar com sua especialidade no campo das palavras com a orientação necessária e na maioria das vezes bem sucedida.
Há controvérsias e criticas em relação a área, Yamamoto e Cunha (1998) argumentam que o hospital é um local, e não um campo de atuação, o que torna pouco defensável sua classificação como área de atuação. No segundo, Yamamoto, Trindade e Oliveira descartam a denominação Psicologia hospitalar por duas razões: a primeira, a inadequação do uso de um local de trabalho para designar uma área de atuação, e a segunda é que a identificação por local tende a pulverizar e a fragmentar o campo profissional da Psicologia, tornando muito difícil a construção de uma identidade de profissional de saúde para o psicólogo que atua no contexto hospitalar.
Psicologia Hospitalar x Psicologia da Saúde
Chiattone (2000), que diz que a Psicologia Hospitalar é apenas uma estratégia de atuação em Psicologia da Saúde, e que, portanto, deveria ser denominada psicologia no contexto hospitalar. Segundo a definição de Kern e Bornholdt (2004) e também de Chiattone (2000)[1] , a atuação do psicólogo da saúde é principalmente na área hospitalar, mas também pode ser feita em campanhas de “promoção da saúde“, educação em saúde mental, em pesquisas e aulas nas universidades por exemplo. Logo, todo psicólogo hospitalar é psicólogo da saúde mas nem todo psicólogo da saúde é hospitalar.
Logo a psicologia hospitalar é responsável por recolocar o indivíduo diante da doença que já está instalada, e acompanha-lo durante o tratamento externo fazendo as orientações e o acolhimento necessário.
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Psicologia Pediátrica
Dentro da psicologia da saúde existe a psicologia pediátrica que é uma área específica a ser trabalhada com crianças e adolescentes, com aplicabilidade clínica. Ambas foram reconhecidas no mesmo ano, 1978. Em seu âmbito profissional ele pode lidar tanto com a criança como com os pais da criança e outros técnicos da saúde.
“Fazem parte do âmbito do trabalho do Psicólogo Pediátrico:
– Perturbações do desenvolvimento associadas a fases específicas, ou simplesmente situações reativas, como as perturbações alimentares, sono, separação/individuação, dificuldades de socialização à entrada para a infantaria ou escola, etc.;
– Problemas neonatais (incluindo a prematuridade, malformações congénitas, morte neonatal, etc.);
– Situações de não progressão ponderal; anorexia; suicídio, maus tratos;
– Situações traumáticas (queimaduras, traumatismos cranianos e vertebro-medulares);
– O desenvolver e implementar campanhas de prevenção e promoção para a saúde de todo o tipo como as de acidentes de viação, consumo de tabaco, etc.”
Existem três formas de atuação deste profissional. A primeira delas é a consulta indireta, onde ele aplica uma ação auxiliar ao trabalho do médico apenas quando é solicitado, sem muitas intervenções, apenas pareceres e recomendações.
A segunda forma é a consulta com colaboração onde ele aplica ações interventivas, são estas ações que facilitam e complementas as ações do médico, como por exemplo em casos que o paciente não quer aderir ao tratamento. E por último o terceiro modelo que não é muito descrito em livros de psicologia pediátrica, pois não é muito usual, é quando o psicólogo atua por própria conta, sem precisar de solicitação da equipe multidisciplinar.
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Um aspecto interessante da psicologia pediátrica é que é necessária uma especialização da parte do profissional para atuar nesta área. Os psicólogos especialistas em área clina, por exemplo, não apresentam muita aproveitabilidade nesta área, pois eles costumam agir de forma isolada, o que prejudica a integração com a equipe e a colaboração interdisciplinar.
Um dos maiores papeis do psicólogo pediátrico talvez seja a de ensinar aos pais seu papel de prevenção da saúde mental da criança, os efeitos da doença física para ela, entre outros aspectos importante do desenvolvimento infantil de cada etapa da infância.
A chegada dos psicólogos para o âmbito da saúde facilitou muito o trabalho das pessoas desta área, pois “uma significativa percentagem dos pacientes que recorrem a serviços de pediatria tem apenas problemas psicológicos ou uma mistura de problemas físicos e psicológicos (Duff, Rowe, & Anderson, 1973; McCleland, Staples, Weisberg, & Bergen, 1978; Wright, 1979).
Nota-se a grande diversidade de área de atuação mesmo dentro de uma área da psicologia. Um dos maiores desafios do psicólogo na atualidade é identificar estas “brechas” onde sua atuação é necessária e conquistar seu espaço no mercado de trabalho.
No âmbito da psicologia da saúde percebe-se que o psicólogo não atua apenas para “dar notícias ruins”, o psicólogo trabalha em cima da prevenção da saúde mental de seus pacientes, acompanha casos onde haja necessidade de intervenção quanto a tratamentos, atende grupos de familiares, até mesmo funcionários do hospital.
Outro aspecto importantíssimo é ressaltar o trabalho interdisciplinar para os demais profissionais que atuam em conjunto com o psicólogo para reestabelecer a saúde de seus pacientes. Esse trabalho em conjunto é de extrema importância quando se está trabalhando em prol do bem de outras pessoas.
REFERÊNCIAS:
Belar, C., & Deardorff, W. (1995). Clinical health psychology in medical settings: Practitioner’s guidebook. American Psychological Association. DeLeon, P., Pallak, M., & Hefferman, J. A. (1982). Hospital health care delivery. American Psychologist, 37, 1340-1341.
Dorken, H., Webb, J., & Zaro, J. (1982). Hospital practice of psychology resurveyed: 1980. Professional Psychologist, 13, 814-829.
Drotar, D. (1993). Psychological perspectives in chronic childhood ilness. In M. C. Roberts, G. P. Koocher, D. K. Routh, & D. J. Willis (Eds.), Readings in
pediatric psychology. New York: Plenum Press. Duff, R., Rowe, D., & Anderson, F. (1973). Patient care and student learning in a pediatric clinic. Pediatrics, 50, 839-846.
SIMONETTI ( 2004) Manual de Psicologia Hospitalar. São Paulo: Casa do Psicólogo. p. 09-25
Moreto, M. L. T. A problemática da inserção do psicólogo na instituição hospitalar. Revista de Psicologia Hospitalar, v. 9, n. 2, 1999. p.19-23
CFP – Conselho Federal de Psicologia . Página oficial da Instituição, 2003.
Yamamoto, O., & Cunha, I. (1998). O psicólogo em hospitais de Natal: uma caracterização preliminar. Psicologia: Reflexão & Crítica, 11(2), 345-362.
KERN, E. C.; BORNHOLDT E. Psicologia da saúde x Psicologia Hospitalar: definições e possibilidades de inserção profissional. Disponível em: [1] (23/01/2010)
CHIATTONE, H. B. C. A Significação da Psicologia no Contexto Hospitalar. In Angerami-Camon, V. A. (org.). Psicologia da Saúde – um Novo Significado Para a Prática Clínica. São Paulo: Pioneira Psicologia, 2000, pp. 73-165.
CONASEMS, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde 1990, p. 04.
SANTILLO, Ministro da Saúde Henrique. Em despacho, Brasil, 1994, p. 02.
SOUZA, Rafaela Assis de & CARVALHO, Alysson Massote. Programa de Saúde da Família e Qualidade de Vida: um Olhar da Psicologia. Natal : Estud. Psicol., vol. 08, n. 03, pp. 515 – 523, dez. 2003, ISSN 1413 – 294X.
FRANÇA, Ana Carol Pontes de & VIANA, Bartyra Amorim. Interface psicologia e programa saúde da família – PSF: reflexões teóricas. Psicol. cienc. prof. vol.26 no.2, Brasília, Junho de 2006.