Depressão: perspectiva biológica e psicológica

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Ainda desconhecida e em determinados aspectos controversa, a etiologia da depressão tem, para efeito de estudos, seus fatores divididos em: causas biológicas e psicossociais. Áreas estas que interagem intensamente entre si na expressão patoplástica da doença (BAHIS, 1999).

Bahls (1999) expõe possíveis causas biológicas da depressão, sendo uma destas a deficiência de neurotransmissores, tendo as monoaminas como principais responsáveis, entretanto, estudos com algumas substâncias que provocam o aumento ou a diminuição imediata destes neurotransmissores não produzem os efeitos esperados, o que coloca em cheque esta hipótese. Alguns estudos também mostraram um aumento no número de receptores destes mesmos neurotransmissores em autópsia de suicidas, o que levou a crer que teriam alguma influência na depressão, embora o aumento de tais receptores se dê como medida compensatória dado a redução da substância nas sinapses.

Fonte: http://zip.net/bctGRJ

Outro fator que vem sendo observado diz respeito à morfofisiologia do cérebro. Notou-se que, em pessoas depressivas, algumas áreas cerebrais encontravam-se alteradas tanto em sua forma como em seu funcionamento. Soma se a isto, o fator hormonal que, também, age sobre os neurotransmissores de diferentes formas resultando em influências diversas em homens e mulheres quanto à tendência depressiva e à fases biológicas mais propícias para ocorrência da depressão.

Entretanto, há controvérsias sobre as causas biológicas. Caponi (2011) faz uma crítica no sentido de que as explicações para as enfermidades psiquiátricas não podem ser determinadas da mesma forma que outras patologias que contam com um marcador biológico a partir do qual se desenvolve a explicação dos sintomas e se define a terapêutica mais eficaz. Na depressão, ao contrário,

é a partir do antidepressivo que se inicia a busca de causas biológicas. Ele permite identificar quais são os mecanismos biológicos, os receptores neuronais afetados, e então se poderá postular a causa orgânica, cerebral, dos padecimentos (CAPONI, 2011).

Sabendo que o humano é considerado um ser biopsicossocial e espiritual [1], é preciso considerar esta complexidade no estabelecimento de causas para as patologias psiquiátricas, esquivando-se dos possíveis reducionismos biológicos que, apesar de esclarecer alguns aspectos do adoecimento não podem ser tomados como explicações satisfatórias para a depressão.

Fonte: http://zip.net/brtGXp

O modelo cognitivo pressupõe que a cognição é fator determinante da doença, e o primeiro sintoma que se segue a isto são as construções negativistas do pensamento. A depressão é, portanto, oriunda do modo como a pessoa vê e interpreta o mundo e como se posiciona frente a ele. Uma característica dos depressivos é a alta expectativa sobre si mesmo, que geralmente gera frustração e leva a um ciclo vicioso, pois a não aceitação de si leva ao pessimismo e afasta os outros, que por sua vez reforçam a experiência de rejeição e aumentam o sofrimento da pessoa.

Com base na análise do comportamento, “Muitos teóricos (por ex., Hersen, Eisler, Alford, & Agras, 1973) argumentaram que uma falta de reforço social é particularmente importante para o surgimento e a manutenção da depressão” (DOUGHER e HACKBERT, 2003), junte-se a isto um repertório social inadequado e possivelmente a pessoa estará se comportando de maneira aversiva e provocando reações de evitação nos outros. Os autores destacam diversos fatores de influência como histórias de punição prolongadas, reforço de comportamento de angústia, comportamentos verbais negativos, influências culturais, dentre outros provocadores e mantenedores de estados depressivos.

Fonte: http://zip.net/bttHCC

Por parte da psicanálise temos ainda toda uma construção da subjetividade baseada em uma organização psíquica que considera o inconsciente, as pulsões, o ego, o superego, falhas na integridade narcísica, dentre outros aspectos que influenciam sobre a personalidade e o adoecimento. Não obstante, seja em que abordagem for, há que se considerar os fatores sócio culturais e as exigências da sociedade de consumo, que atuam como um peso sobre as concepções de ser e sobre a própria identidade da pessoa. Considerando essas perspectivas os fatores psicológicos podem desencadear alterações químicas e físicas sobre o corpo humano provocando a depressão orgânica.

REFERÊNCIAS:

[1] Parte da psicologia considera a dimensão da espiritualidade humana como aquilo que transcende e é constituinte de sua totalidade.

BAHLS, Saint-Clair. Depressão: uma breve revisão dos fundamentos biológicos e cognitivos. Interação em Psicologia, v. 3, n. 1, 1999.

CAPONI, Sandra. Uma análise epistemológica do diagnóstico de depressão.Cadernos Brasileiros de Saúde Mental/Brazilian Journal of Mental Health, v. 1, n. 1, p. 100-108, 2011.

DANIEL, Cristiane; SOUZA, Mériti de. Modos de subjetivar e de configurar o sofrimento: depressão e modernidade. Psicologia em revista, v. 12, n. 20, p. 117-130, 2006.

DOUGHER, Michael J.; HACKBERT, Lucianne. Uma explicação analítico-comportamental da depressão e o relato de um caso utilizando procedimentos baseados na aceitação. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 5, n. 2, p. 167-184, 2003.

JUSTO, Luís Pereira; CALIL, Helena Maria. Depressão: o mesmo acometimento para homens e mulheres. Rev Psiq Clín, v. 33, n. 2, p. 74-9, 2006.

 

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Projeto “Prontos Para Voar” – O despertar na adolescência

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Despertar na juventude o protagonismo, respeitando suas individualidades, escolhas e vivências, além de sua educação em contexto familiar, é a missão do Projeto: “Prontos para Voar”. O projeto foi idealizado pela odontóloga Yette Soares, que trabalha com a comunidade da Unidade de Saúde da Família na quadra 307 Norte, em Palmas-TO. A iniciativa social tem em sua filosofia uma metáfora que compara o voo da águia e da galinha como condição humana de vida.

Herica Ramos, Anny Karolainy, Yette Soares (idealizadora do projeto), Fernanda e Wilson
Foto – Walquerley Ribeiro

 

O “Prontos para Voar”, trabalha a fase prematura da adolescência, com a tentativa de desenvolver o protagonismo juvenil através de palestras, cultura e esportes. Segundo a odontóloga Yette Soares, o projeto foi criado em 2009, em parceria com a equipe de saúde da família e hoje conta com cerca de 50 participantes entre 10 a 19 anos. “Esses jovens participam ativamente de temas sobre saúde, meio ambiente e até mesmo a parte espiritual que, trabalhamos com eles sobre o amor de Deus”, explica a odontóloga relatando ainda sobre os conselhos, dicas de vida e trocas de ideias que acontecem em interação com o grupo. “Procuramos trabalhar nos jovens e adolescentes, suas ansiedades, necessidades, expectativas, dúvidas e incertezas”, diz.

O projeto tem encontros aos sábados e durante todo o ano é dividido em três eventos: “Prontos para amar”, um jantar entre os pais e filhos; Gincana “Meio Ambiente e você”; e o Festival de Artes – Decolartes, que trabalha as temáticas que foram ditadas o ano inteiro em forma de teatro e música. “Percebo que esses adolescentes se transformam em protagonistas de fato, criam um desejo de trabalhar pelo social, pelo próximo, começam entender seu papel como cidadão diante das dinâmicas que eles aprendem no projeto. Já recebi meninos e meninas que me procuram para pedir conselhos sobre namoro, crise com os pais…” relata Yette Soares.

A estudante Anny Karolainy Alves Holanda, 17 anos, foi uma das primeiras participantes do projeto. Ela conta que tem percebido uma mudança de pensamento em sua vida. “Esse projeto entrou na minha vida e me mostrou o caminho para fazer as escolhas certas”, confessa Anny Karolainy, testemunhando ainda o auxilio que os pais recebem na educação para com os filhos.  “As vezes os pais não tem aquele pulso firme de conversar com os filhos e prepará-los para o mundo, o projeto auxilia os pais a mudar a visão dos filhos, ou seja, escolher os caminhos certos e mostrar os prejuízos futuros com os problemas complexos como: sexo com responsabilidade para não pegar doenças , gravidez na adolescência, uso de drogas, álcool e cigarro”, finaliza.

Anny Karolainy, adolescente do projeto Prontos para Voar
Foto – Walquerley Ribeiro

Com a finalidade de arrecadar recursos financeiros, foi feito um bazar solidário, ocorrido no ultimo dia 31 de maio, na USF 307 Norte. O bazar foi uma estratégia em parceria com a comunidade e que tem como finalidade a realização de um baile debutantes para as meninas do grupo. De acordo com Yette Soares, a intenção é alegrar e elevar a alta estima das adolescentes. “O baile é um evento promocional, através dessa dinâmica, estamos buscando tratar nossos adolescentes com um pensamento resolutivo e preventivo, diz.

Prontos para Voar, Bazar Solidário na USF da quadra 307 em Palmas – TO
Foto – Walquerley Ribeiro

Filosofia

A filosofia do projeto, “Prontos para Voar”, é associada ao voo da águia e da galinha. A águia sempre voa alto, já o voo da galinha, é limitado e conformado. Eles se chamam voadores, quero que eles voem alto para o sucesso, vão voar como águias e como águias vão bem longe”, explica Yette Soares.

A águia e a galinha é uma metáfora da condição humana citada no livro de Leonardo Boff, “O despertar da águia”. De acordo com o escritor, se uma galinha for criada como uma águia, ela levantará voo e alcançará lugares distantes, mas se uma águia for criada como uma galinha, ela viverá como galinha, sem longos voos e com uma vida limitada.

Yette Soares promovendo Bazar Solidário na USF da quadra 307 em Palmas – TO
Foto – Walquerley Ribeiro

Boff trata a dimensão galinha, como o sistema social imperante, a nossa vida cotidiana, os hábitos estabelecidos e o horizonte de nossas preocupações. São também as limitações e formações histórico-sociais que, transformam descaminhos, falta de perspectivas e desesperança para as pessoas e para a coletividade.

Por outro lado, a dimensão águia são os sonhos, os projetos, os ideais que, mesmo frustrados, nunca morrem e sempre ressuscitam. Essa ideia representa a águia no ser humano, que ergue continuamente para o alto, para descobrir novos caminhos e novas direções.

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