“Som da Liberdade” – a face violenta e adoecida da sexualidade

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O filme Som da Liberdade é um grito de socorro de todas as crianças escravizadas sexualmente no mundo

“Sound of Freedom” ou “Som da Liberdade” em português, é uma produção independente, na qual o diretor mexicano Alejandro Monteverde lança um alerta ao mundo sobre a exploração e o tráfico sexual infantil através de uma história baseada em fatos reais, vividos pelo ex-agente especial do Governo Americano Tim Ballard interpretado por Jim Caviezel.

O longa-metragem começou a ser escrito em 2015 e filmado em 2018 com produção da 21st Century Fox. Em 2019, a The Walt Disney Company comprou a 21st Century Fox e o filme foi engavetado por 5 anos, até que a pequena Angel Studios, responsável também por produzir a série bíblica de sucesso “The Chosen” (‘Os Escolhidos’) recomprou o filme e adquiriu os direitos da obra cinematográfica para lançá-lo comercialmente.

O filme tem a seguinte sinopse: Tim Ballard (Jim Caviezel) é um agente federal dos Estados Unidos que atua para desmantelar redes de pedofilia na internet e prender os envolvidos. Ao final de uma operação, o policial se encontra frustrado e incomodado com os resultados das operações e decide ingressar em uma missão de vida: abandonar a sua carreira de policial para fundar a sua própria ONG com o objetivo de ir atrás de criminosos responsáveis por formar uma ampla e complexa rede internacional de tráfico infantil na Colômbia. O objetivo de cada operação é encontrar e resgatar o maior número possível de crianças sequestradas.

Devido ao conteúdo forte e por vezes indigesto, é preciso dar os parabéns ao diretor, pois fez um bom trabalho ao não mostrar cenas de sexo, mas dar asas à imaginação do telespectador ao presenciar os rostos indignados e nauseados dos policiais diante do que seriam os abusos causados às crianças. O filme é forte e nos causa uma tensão e indignação diante do que existe quando o assunto é tráfico de crianças para abuso sexual. Durante todo o filme senti meu corpo tensionar os músculos, olhos lacrimejarem e um nó na garganta que durou por muitas horas mesmo depois que o filme terminou.

                                                                                                                                      Fonte: Pixabay

O processo de ajudar sobreviventes de abuso sexual é longo e complicado, mas sempre possível

Psicologicamente falando sabemos que o processo de ajudar sobreviventes do tráfico é longo e complicado, pois os que sobrevivem e são resgatados exalam vulnerabilidade e desesperança. Entre os danos psicológicos causados pelos abusos, independentemente da faixa etária, estão: TEPT – transtorno de estresse pós-traumático, dissociação, medo, ansiedade, rejeição, depressão, redução da qualidade de vida.

Em muitos casos pode surgir o transtorno de despersonalização que ocorre quando um indivíduo tem a percepção sobre si mesmo alterada. Segundo o DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, este transtorno caracteriza-se por sensações de irrealidade, apatia, amnésia, impressão de que está separado do corpo, perda do controle, ataques de pânico, depressão, ansiedade, sono, estresse, cansaço e outros. A pessoa pode dizer que se sente irreal ou como se fosse um autômato, sem controle sobre o que faz ou diz. Ela pode se sentir física ou emocionalmente entorpecida. Essas pessoas podem descrever a si mesmas como um observador de sua própria vida ou como um “zumbi”, tamanho o sofrimento e trauma pelo qual passou. O efeito que o abuso sexual tem em suas vítimas vai para além dos danos físicos, afetando, principalmente, a saúde mental delas.

Deb O’Hara-Rusckowski é uma enfermeira de cuidados intensivos que cofundou a organização Global Strategic Operatives for the Eradication of Human Trafficking (Agentes Estratégicos Globais para a Erradicação do Tráfico Humano). Também é Delegada da Ordem de Malta nas Nações Unidas, e está abrindo uma casa segura em Massachusetts para mulheres e meninas que foram vítimas de tráfico. Conforme informações dela em entrevista dada a sites de notícias e com base em pesquisas baseadas em evidências, as meninas e mulheres traficadas, frequentemente precisam de cuidados médicos. Segundo ela, é comum que mulheres cheguem com um osso quebrado devido a uma agressão, ou uma menina apresente uma infecção devido ao trabalho sexual em que estava envolvida. Em muitos outros casos as meninas estão grávidas e necessitam de acolhimento e apoio para esta fase. Com relação aos meninos abusados, ela enfatiza que também são necessárias casas seguras para eles, pois “sentem uma vergonha particular, e precisam de cura depois de escapar ou serem resgatados”.

Um alerta assustador de ‘Sound of Freedom’ é mostrar que o abusador pode ser qualquer pessoa, por vezes, as mais improváveis. Pessoas “comuns” podem se envolver nisso e começar a agir como um viciado que não consegue parar, e que escravizado pelo vício não mede esforços e nem pensa se está machucando ou promovendo o terror físico e psicológico de crianças.

                                                                                                                                                Fonte: Pixabay

A cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil

Segundo a Organização Mundial da Saúde, dos 204 milhões de crianças com menos de 18 anos, 9,6% sofrem exploração sexual, 22,9% são vítimas de abuso físico e 29,1% têm danos emocionais. Os dados mostram que, a cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil, no entanto, esse número pode ser ainda maior, já que apenas 7 em cada 100 casos são denunciados. O estudo ainda esclarece que 75% das vítimas são meninas e, em sua maioria, negras.

No Brasil sabemos que conforme dados do Ministério dos direitos humanos e cidadania, o Disque 100 (Disque Direitos Humanos) registrou mais de 17 mil violações sexuais contra crianças e adolescentes de janeiro a abril deste ano. Nos quatro primeiros meses de 2023 foram registradas, ao todo, 69,3 mil denúncias e 397 mil violações de direitos humanos de crianças e adolescentes, das quais 9,5 mil denúncias e 17,5 mil violações envolvem violências sexuais físicas como abuso, estupro e exploração sexual e psíquicas. E aqui entra a parte da realidade mais difícil de encarar, pois segundo os dados do Ministério: “A casa da vítima, do suspeito ou de familiares está entre os piores cenários, com quase 14 mil violações”. Vale lembrar que não estamos falando de números e sim de crianças.

Os fatores que contribuem para esta prática de exploração sexual são muitos e faz-se necessário romper o silêncio e dar voz às vítimas e àqueles que nesta causa se empenham para que haja mais discussão e informação a respeito do assunto nos mais diversos âmbitos.

Uma das partes emocionantes do filme, fala de um personagem que ao finalizar o ato sexual viu que abusava de uma menina muito mais jovem que ele e fala da tristeza que viu nos olhos dela e de como percebeu que ele era a causa da sua dor. O agressor só queria se divertir, não estava pensando na outra pessoa, ou que aquela outra pessoa poderia ser uma criança que havia sido vítima de tráfico sexual desde os seis anos de idade. Após ter esse entendimento, ele colabora para libertar crianças do tráfico. Aqui cabe uma reflexão de que o abusador necessita de ajuda e tratamento. Os transtornos parafílicos podem ser tratados e sempre é possível buscar ajuda. Conforme o DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, os transtornos parafílicos são fantasias, impulsos ou comportamentos recorrentes, intensos e excitantes sexualmente que causam sofrimento ou incapacitação e que envolvem objetos inanimados, crianças ou outros adultos não consentidores, causando o sofrimento ou humilhação de si mesmo ou do parceiro com potencial para causar dano.

Por fim, vale dizer que o filme causou muita controvérsia e uma polarização entre direitistas e esquerdistas, conservadores e progressistas e sobre a qual optei por não abordar, tendo em vista que “Sound of Freedom” é uma oportunidade de falar sobre o que está acontecendo no mundo e que o tráfico sexual de crianças não se trata de uma teoria conspiratória, é algo real, latente e atinge a todos independente de classe social, partido político ou cor da pele. Crianças estão sendo sequestradas, escravizadas e sexualizadas e os danos psicológicos e consequências em suas vidas incluem graves danos.

Certo é que não devemos ignorar este alerta. Em dada parte do filme o protagonista diz a um potencial apoiador financeiro da ação policial: “Você se importaria se fosse o seu filho? Se não dermos atenção, poderá acontecer com você, com um filho seu.” E é verdade! Sei que não conseguiremos acabar com o tráfico sexual de crianças e nem conseguiremos bons resultados sozinhos, mas sei que ao nos unir e ampliar o olhar político e social, bem como os cuidados de saúde pública para esses transtornos podemos independentemente de partido, política, religião ou qualquer outra coisa, recuperar pessoas e ressignificar vidas. Quem sabe até devolver os sonhos de outrora. Lutemos para que o som da liberdade chegue aos cativos e por pessoas que visem proteger as crianças e sua inocência.

                                                                                                    Fonte: Ministério dos Direitos Humanos

                  Denuncie pelo Disque 100, pelo app Direitos Humanos ou ligue 180.

No nosso dia a dia, o filme nos leva a lembrar que a denúncia é a melhor forma de prevenir a violência sexual contra crianças e adolescentes. Havendo qualquer suspeita ou confirmação de algum caso, denuncie pelo Disque 100, pelo app Direitos Humanos ou ligue 180. A denúncia é anônima!

Referências:

COMBATE AO ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTIL: O que nós podemos fazer?. Unicef. Org, 2023. Disponível em:  https://www.unicef.org/brazil/blog/combate-ao-abuso-e-a-exploracao-sexual-infantil. Acesso em 11 de outubro de 2023.

DISQUE 100 REGISTRA MAIS DE 17,5 MIL VIOLAÇÕES SEXUAIS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS QUATRO PRIMEIROS MESES DE 2023. Gov.br, 2023. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2023/maio/disque-100-registra-mais-de-17-5-mil-violacoes-sexuais-contra-criancas-e-adolescentes-nos-quatro-primeiros-meses-de-2023 >. Acesso em 11 de outubro de 2023.

 

MANUAL MSD. Versão saúde para profissionais da saúde, 2023. Disponível em: https://www.google.com/search?q=trsnatorno+parafilico+dsm&oq=trsnatorno+parafilico+dsm&gs_lcrp=EgZjaHJvbWUyBggAEEUYOTIICAEQABgWGB7SAQkxMzY3MmowajeoAgCwAgA&sourceid=chrome&ie=UTF-8. Acesso em 11 de outubro de 2023.

MANUAL MSD. Versão saúde para a família, 2023. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transtornos-dissociativos/transtorno-de-despersonaliza%C3%A7%C3%A3o-desrealiza%C3%A7%C3%A3o#:~:text=A%20pessoa%20tamb%C3%A9m%20pode%20dizer,ou%20como%20um%20%E2%80%9Czumbi%E2%80%9D. Acesso em 11 de outubro de 2023.

O TRÁFICO SEXUAL DE CRIANÇAS NÃO É UMA CONSPIRAÇÃO DA EXTREMA DIREITA. Gazeta do povo, 2023. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/cultura/o-trafico-sexual-de-criancas-nao-e-uma-conspiracao-da-extrema-direita/?ref=veja-tambem. Acesso em 11 de outubro de 2023.

RESENHA DO FILME SOM DA LIBERDADE (2023) COM JIM CAVIEZEL. Leia e assista, 2023. Disponível em:  https://www.leiaeassista.com.br/resenha-do-filme-som-da-liberdade-2023-com-jim-caviezel/. Acesso em 11 de outubro de 2023.

SAÚDE MENTAL: OS IMPACTOS DO ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA. Childhood.org.br, 2023. Disponível em: https://www.childhood.org.br/saude-mental-os-impactos-do-abuso-sexual-na-infancia-eadolescencia/#:~:text=Ansiedade%2C%20depress%C3%A3o%2C%20s%C3%ADndrome%20do%20p%C3%A2nico,em%20adolescentes%20v%C3%ADtimas%20de%20abuso. Acesso em 11 de outubro de 2023.

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18 de maio: Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual

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O dia 18 de maio nos traz inúmeros aspectos positivos acerca da sua efetivação em âmbito nacional mediante a temática do abuso e exploração sexual na infância e adolescência, efetivamente possibilitando ocasionar uma maior discussão sobre a questão, promovendo maior enfoque quanto à participação profissional e social, peças que se fazem fundamentais na área social ao se falar na garantia dos direitos e promoção de melhorias à vida humana.

O dia alusivo desencadeia expressamente contextuar os perigos e dificuldades enfrentadas no cotidiano de crianças e adolescentes abusadas sexualmente, intencionando alertar tanto a sociedade, quanto os demais atores sociais, para a gravidade da questão e as diversas formas de violência que se faz presente na vida de crianças e adolescentes, atentando-se para o importante trabalho de prevenção que o psicólogo desenvolve neste contexto.

Fonte: encurtador.com.br/fEGK9

Torna-se plausível destacar ainda a possibilidade de evidenciar o fato de que, o abuso sexual de crianças e adolescentes se caracterizam uma importante expressão da questão social da qual necessita ser tratada primeiramente em sua base familiar, local onde ocorre a maior parte desses abusos, tendo este como um motivo fundamental para elevar a importância da atuação profissional e social dentro desta esfera, mostrando este fator como uma grande barreira que necessita com urgência e cautela ser rompida.

Abuso sexual infantil é o envolvimento de uma criança em atividade sexual que ele ou ela não compreende completamente, é incapaz de consentir, ou para a qual, em função de seu desenvolvimento, a criança não está preparada e não pode consentir, ou que viole as leis ou tabus da sociedade. O abuso sexual infantil é evidenciado por estas atividades entre uma criança e um adulto ou outra criança, que, em razão da idade ou do desenvolvimento, está em uma relação de responsabilidade, confiança ou poder (World Health Organization – WHO -, 1999, p. 7).

A discussão gerada mostra-se como uma ferramenta a mais no intuito de promover e divulgar a temática, sendo o contexto enriquecido com a participação de outros autores, os quais também abordam discursões envolvendo a problemática, imprescindivelmente fazer notar o quanto se faz fundamental e necessário à divulgação e o debate de questões como da atuação social no combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes, na intenção de se ocasionar melhorarias no contexto familiar e consequentemente social, e possivelmente reduzir esse tipo de problema social que acomete crianças e adolescentes.

Referência:

World Health Organization (WHO). (1999). WHO Consultation on Child Abuse Prevention. Geneva: WHO.

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18 de maio: Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

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A data é um marco na luta contra crimes sexuais cometidos contra crianças e adolescentes

Com foco no combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes, a Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça (Seciju) está participando da Campanha Faça Bonito por meio das gerências da Primeira Infância e da Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente. E neste dia 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, irá explicar a diferença entre abuso e exploração sexual infantil, expressões por vezes não compreendidas por toda a sociedade.

Segundo a gerente de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente da Seciju, Rejane Pereira, a Secretaria vem realizando ações de mobilização com a Rede de Proteção em relação ao combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes, inclusive para esclarecer a população quanto aos termos. “É importante lembrar que há uma diferença entre os termos, sendo o abuso referente à utilização do corpo de uma criança e/ou adolescente por um adulto, ou até mesmo outro adolescente para a prática de qualquer ato sexual tendo ou não contato físico; já a exploração sexual caracteriza-se pela utilização de uma criança e/ou adolescente com a intenção de lucro ou troca, seja financeira ou de qualquer espécie”, explica.

Já a gerente da Primeira Infância da Seciju, Andreia Seles, informou que a violência sexual ainda é uma pratica que existe no país e que se deve proteger as crianças. “Torna-se mais necessário ainda a luta contra essas violências quando se trata de crianças pequenas que ainda não sabem se defender. Os pais e os cuidadores devem incentivar o autocuidado para que as crianças mesmo na primeira infância sejam capazes de dizer ‘não’, evitando assim possíveis abusos, e estimular o relato de violências ocorridas. E nós como adultos temos que ficar atentos a estes crimes, sempre denunciando”, concluiu.

Gerente Andreia Seles explica a importância de a população entender sobre o tema e formas de denunciar/Lauane dos Santos – Governo do Tocantins

A data

O dia 18 de maio, foi escolhido o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes” (instituído pela Lei Federal 9.970/00), porque nesta data no ano de 1973, na cidade de Vitória (ES), um crime bárbaro chocou todo o país e ficou conhecido como o “Caso Araceli”. Trata-se de uma menina de apenas oito anos de idade que foi raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta. Apesar de sua natureza hedionda, até hoje este crime está impune.

Faça Bonito

A proposta anual da campanha, que neste ano comemora o 20º ano de mobilização, é destacar a data para mobilizar, sensibilizar, informar e convocar toda a sociedade a participar da luta em defesa dos direitos de crianças e adolescentes. É preciso garantir a toda criança e adolescente o direito ao seu desenvolvimento de forma segura e protegida, livres do abuso e da exploração sexual.

O superintendente de Administração do Sistema de Proteção dos Direitos da Criança e do Adolescente da Seciju, Gilberto da Costa Silva, explica sobre as adequações feitas para a realização da campanha no contexto da pandemia. “A Campanha Faça Bonito, com ações de conscientização junto a Rede e sociedade em prol das nossas crianças e adolescentes, têm acontecido em ambiente on-line, não sendo incentivadas atividades presenciais de abordagem direta, a fim de evitar aglomeração de pessoas”, esclarece.

Gerente Rejane Pereira lembra que há diferenças entre abuso e exploração sexual, ainda que as duas envolvam práticas de ato sexuais, com ou sem contato físico, com crianças ou adolescentes/Lauane dos Santos/Governo do Tocantins

Onde denunciar

Caso você suspeite ou tenha conhecimento de alguma criança ou adolescente que esteja sofrendo violência sexual, denuncie. As denúncias podem ser feitas a qualquer uma dessas instituições e de forma anônimas:

  • Conselho Tutelar da sua cidade;
  • Disque 100 ou disque denúncia local;
  • Delegacias especializadas ou comuns;
  • Polícia Militar, Polícia Federal ou Polícia Rodoviária Federal;
  • Número 190;
  • Crimes na web
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Movimento Antipornografia alerta para o combate à indústria obscura da exploração sexual

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20O portal (En)Cena entrevista Gabrielle Gonçalves, que é acadêmica de letras da Universidade de São Paulo (USP) e se sensibiliza com a ação que a página Recuse a Clicar promove. O movimento Antipornografia tem como principal pauta o não acesso a sites pornográficos, que possuem uma indústria obscura que objetificam a mulher em vários aspectos, banalizam a violência e suscitam outros crimes como a pornografia infantil, alusão a estupro e outros. Confira a entrevista a seguir:

(En)Cena – Me conta um pouco sobre o seu conhecimento desse movimento anti pornografia? Como ele funciona?

Gabrielle Gonçalves – Eu tive contato muito cedo com a pornografia. Ela foi parte da minha vida por vários anos e, durante muito tempo, normalizei bastante os vídeos que  assistia. Por vezes eu esbarrava em algum explicitamente violento e/ou problemático, mas só pulava ele e achava que estava tudo bem. Só que, conforme eu fui saindo da adolescência, fui tendo mais e mais contato com o movimento feminista. Numa dessas, conheci o movimento do Recuse a Clicar, e eles tinha várias matérias que basicamente diziam que aqueles vídeos que eu ignorava eram regra, não exceção. A partir deles, busquei mais informação e descobri diversos outros grupos anti-pornografia.

Fonte: encurtador.com.br/ewTU1

(En)Cena – Qual a relação do feminismo com esse movimento?

Gabrielle Gonçalves – A pornografia é especialmente violenta com as mulheres (cis ou trans) que nela atuam. Não é raro encontrar vídeos que mostram cenas de mulheres sendo sufocadas ou com expressões de dor. Inclusive, em uma entrevista feita pela Medium com uma ex-atriz pornô, ela afirma que “Quanto mais real era a minha dor,(…) mais visualizações os vídeos tinham”. (link para a entrevista)

Para além disso, existe a problemática do consentimento dentro da pornografia. Há quem diga que o pornô é aceitável pois todos os atores consentiram em estar ali. Porém, há um grande debate sobre se é possível comprar consentimento. Especialmente de mulheres em situação financeiramente vulnerável.

O movimento feminista busca ouvir essas mulheres que estão diretamente envolvidas com pornografia e acolhê-las, além de tentar garantir que nenhuma outra mulher tenha que passar por essa violência desnecessária.

Fonte: encurtador.com.br/cI134

(En)Cena – Quais são os principais males que assistir pornografia pode trazer para a saúde da pessoa, considerando que saúde envolve uma gama de fatores?

Gabrielle Gonçalves – Um dos problemas mais básicos, e que sempre surgem quando se fala dos malefícios à saúde causados pelo pornô é a disfunção erétil. Mas, pessoalmente, considero que os problemas mais sérios desencadeados pela exposição à pornografia são psicológicos. Veja, o consumo de pornografia desencadeia uma produção de dopamina. À medida que esse consumo vai aumentando, o corpo vai se acostumando com ele e a produção de dopamina diminui. Assim, para obter os mesmos resultados de antes, os usuários partem para outros vídeos, mais estimulantes e, eventualmente, mais violentos. Além disso, esse mesmo processo pode levar à depressão, visto que os picos de dopamina do usuário estão “desequilibrados”, por assim dizer. As coisas que antes causavam prazer, mesmo coisas inocentes, como ir ao cinema, de repente não têm o mesmo efeito.

Atrelado a isso, temos também a dessensibilização à violência. Como o usuário vai tendo contato com vídeos cada vez mais pesados, o que antes parecia inaceitável para ele, aos poucos vai se tornando rotina. Nas palavras de Carolina Dias, em seu artigo, a pornografia “cria uma realidade prejudicial, estabelecendo uma conexão entre a excitação e o estupro, humilhação, tortura, etc. causados às mulheres.”. (link do artigo)

(En)Cena – Você considera que a pornografia te afeta negativamente como mulher? De que modo?

Gabrielle Gonçalves – Sim. A pornografia afeta bastante o modo como eu me vejo. As mulheres retratadas normalmente passam por diversas cirurgias e procedimentos estéticos, ao ponto de, na maioria das vezes, não terem um pelo sequer no corpo. Isso acaba se tornando um padrão que, inconscientemente, eu e muitas outras mulheres buscamos seguir. Quando eu percebo que não consigo, sinto uma insatisfação muito forte. E esse sentimento tem origem já no início da minha adolescência, quando me percebi mulher. E isso não acontece só comigo. O simples fato de uma cirurgia estética como a Ninfoplastia, cujo objetivo é diminuir os pequenos lábios, existir e ser altamente procurada (de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, o Brasil é líder em intervenções íntimas femininas no mundo!) já demonstra como esse é um problema enfrentado por muitas mulheres.

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Polícia Rodoviária Federal faz mapeamento de Exploração Sexual de Crianças e Adolescente

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O estudo aponta queda de 14% dos pontos considerados críticos, que possuem a maior possibilidade de ocorrência, na comparação do biênio 2013/2014 com o biênio 2017/2018

A Polícia Rodoviária Federal (PRF), em parceria com a Childhood Brasil, apresentou nesta segunda-feira (14) a mais nova edição do MAPEAR. O estudo é um mapeamento nacional dos pontos vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (ESCA) nas rodovias federais feito pelo efetivo da PRF entre os anos de 2017 e 2018. Essa edição do MAPEAR identificou 2.487 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes, um acréscimo de 20% em relação ao anterior.

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O estudo, no entanto, aponta queda significativa dos pontos considerados críticos, onde é maior a possibilidade de ocorrência de exploração sexual de crianças e adolescentes. Do biênio 2013/2014 para o biênio 2017/2018 houve uma redução de 77 pontos, aproximadamente 14%. E observando comparativamente o biênio 2009/2010 em relação ao biênio 2017/2018, a redução é ainda maior, totalizando uma diferença de 435 pontos, aproximadamente 47%.
O trabalho de mapeamento dos pontos vulneráveis pela PRF começou em 2004. Um ano antes, o Governo Federal definiu como prioridade o enfrentamento desse tipo de crime. E, a parLr de 2009, passou a classificar os pontos vulneráveis em quatro níveis: desde os de baixo risco, passando pelos de médio, alto, e, finalmente, o crítico. De 2005 até hoje, a PRF retirou de locais de risco em rodovias e estradas federais um total de 4.766 crianças e adolescentes vulneráveis. As ações policiais são planejadas e executadas de acordo com o grau de vulnerabilidade, que acaba determinando a forma e a urgência das respostas.
Desde 2009, a PRF conta com uma grande parceira no trabalho de enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas rodovias federais, a Childhood Brasil. Criada em 1999 pela Rainha Sílvia da Suécia, a Childhood Brasil, através do Programa Na Mão Certa, contribui com a PRF na articulação intersetorial (governo, empresas e sociedade civil), com a capacitação do efetivo policial e ainda disponibiliza material didático e de comunicação para divulgação do enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes. Em 2017, com apoio da Childhood Brasil, foi realizado treinamento específico com representantes de todas as Comissões Regionais de Direitos Humanos da PRF, com vistas a sensibilizá-los e habilitá-los, tanto teoricamente quanto na atividade prática.
Esta edição do MAPEAR traz outro dado emblemático. Conforme o levantamento foi sendo realizado ano a ano, em alguns estados foi detectada a “migração de pontos” para dentro pontos que não estão à beira de rodovias federais. “Notamos que com a maior identificação e atuação nos pontos vulneráveis, aliando a repressão com campanhas preventivas e educativas incentivando o uso do Disque 100, houve a ‘interiorização’ dos ambientes suscetíveis à exploração que agora estão se instalando em rodovias estaduais e isso traz uma urgência para a transferência da metodologia do MAPEAR às Polícias Rodoviárias dos Estados mais críticos”, comenta Eva Dengler, Gerente de Programas e Relações Empresariais da Childhood Brasil.
O Presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da PRF, Igor de Carvalho Ramos, também destaca o papel do projeto. “O MAPEAR é um importante instrumento de análise de risco com a capacidade de subsidiar ações preventivas e repressivas, além de orientar políticas públicas e privadas. Os dados trazem luz ao risco da exploração sexual de crianças e adolescentes e já contribuiu com o resgate de milhares de meninas e meninos.”
O enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes é um trabalho complexo e que necessita uma atuação articulada e intersetorial, pois estamos lidando com um crime multicausal. O MAPEAR, que conta com a parceria permanente da Childhood Brasil, Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério dos Direitos Humanos, Secretaria da Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Ministério Público do Trabalho é apenas uma ação dentre tantas outras necessárias, fazendo parte de uma engrenagem maior, não devendo ser considerado como ação definitiva e/ou principal, mas sim, um importante instrumento norteador de políticas públicas e privadas. Qualquer pessoa que identificar uma situação suspeita pode denunciar pelo Disque 100 ou utilizar o aplicativo Proteja Brasil.
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