Dia Internacional do Livro Infantil: sua importância e dicas de leituras

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O professor Odair Marques da Silva, diretor de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Universidade Zumbi dos Palmares, fala sobre a relevância da data e sugere leituras para diferentes fases da infância.

O Dia Internacional do Livro Infantil, celebrado em 2 de abril, é um momento especial para refletir sobre o papel da leitura no desenvolvimento das crianças. Desde os primeiros anos de vida, o contato com os livros é essencial para o crescimento cognitivo, emocional e cultural. A leitura pode começar ainda na barriga da mãe, quando a voz dos pais, ao contar histórias, fortalece laços afetivos e estimula a sensibilidade do bebê.

Nos primeiros meses, livros com texturas e cores vibrantes despertam a curiosidade e os sentidos do nenê. Conforme a criança cresce e começa a falar, a leitura se torna uma ferramenta poderosa para ampliar seu vocabulário e sua compreensão do mundo. Dos 3 aos 5 anos, a ludicidade entra em cena: brincadeiras, jogos e histórias ilustradas incentivam a imaginação e a criatividade.

“Quando os pais demonstram amor pela leitura, transmitem um exemplo valioso, que contribui para o equilíbrio físico e psicológico da criança. Além disso, o contato com um repertório cultural diversificado, incluindo músicas e poesias, enriquece sua visão de mundo e incentiva o amor pela diversidade”, afirma o professor Odair Marques da Silva, fundador da Editora Eiros, especializada na publicação de obras infantis e educacionais afro-centradas.

Celebrar o Dia Internacional do Livro Infantil é valorizar a infância — uma fase mágica em que cada história contada é uma semente plantada para um futuro repleto de conhecimento, empatia e respeito à diversidade. Para estimular o hábito da leitura dentro das casas e nas escolas, Odair Marques da Silva selecionou quatro títulos indispensáveis para crianças de diferentes idades.

“A História de Zuri” – Simão de Miranda (Editora Eiros)

Indicado para crianças de 6 a 14 anos

Uma leitura essencial para famílias e educadores que desejam abordar consciência negra, antirracismo e dignidade humana de forma sensível e inspiradora. A protagonista, Zuri, aprende desde pequena a se posicionar contra o racismo e descobre no conhecimento uma poderosa ferramenta para combater injustiças. Com reflexões profundas e um desfecho emocionante, a obra é uma excelente escolha para estimular o senso de justiça e empatia nas crianças.

“Sinto o que Sinto: Um Passeio pelos Sentimentos” – Lázaro Ramos, em parceria com o Mundo Bita (Editora Sextante)

Indicado para crianças a partir de 3 anos

Acompanhe Dan, um menino que, ao longo de um dia, experimenta diversas emoções como raiva, alegria, orgulho e tristeza. A narrativa ensina as crianças a reconhecer e aceitar seus sentimentos, mostrando que todas as emoções são naturais e fazem parte da vida. Com ilustrações vibrantes e linguagem acessível, a obra é uma excelente ferramenta para pais e educadores trabalharem a inteligência emocional desde cedo.

“África: Um Passeio pelo Antigo Continente” – Odair Marques da Silva (Editora Eiros)

Indicado para crianças de 4 a 10 anos

Um convite para crianças e adultos embarcarem em uma jornada pelo continente africano, conhecendo sua riqueza cultural, histórica e geográfica. Com uma abordagem leve e interativa, o livro apresenta os 54 países africanos, destacando sua importância na formação da identidade brasileira e mundial. Uma leitura enriquecedora para ampliar o olhar sobre a diversidade africana e valorizar a ancestralidade na construção das sociedades.

“O Pequeno Príncipe Preto” – Rodrigo França (Editora Nova Fronteira)

Indicado para crianças a partir de 6 anos

Inspirado no clássico O Pequeno Príncipe, este livro traz a história de um príncipe negro que vive em um pequeno planeta com sua árvore Baobá. Em suas viagens por diferentes mundos, ele compartilha mensagens de amor e empatia, destacando a importância da identidade, ancestralidade e representatividade. Originalmente uma peça teatral, a obra foi adaptada para o universo infantil, proporcionando reflexões valiosas sobre autoestima e pertencimento.

Incentivar a leitura na infância é abrir portas para um mundo de descobertas, diversidade e aprendizado. Que este Dia Internacional do Livro Infantil seja celebrado com muitas histórias e novas possibilidades!

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Pré-CAOS 2025: afetos e desafios em famílias com pessoas dependentes é pauta em evento promovido pelo Portal (En)Cena

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Na última sexta-feira (01/11), o Portal (En)Cena promoveu a roda de conversa “Laços de Cuidado: Afetos e Desafios em Famílias com Pessoas Dependentes” nas dependências da Ulbra Palmas. O evento reuniu profissionais e acadêmicos para discutir a importância dos vínculos no cuidado de pessoas dependentes, abordando os aspectos emocionais e os desafios envolvidos.

Com a participação especial do enfermeiro e gestor de aprendizagem, James Stefison Sousa e da psicóloga e professora da Ulbra Palmas, Isaura Rossatto, ambos pesquisadores na área do cuidado de pessoas dependentes, integraram uma roda de conversa que trouxe uma rica troca de experiências e perspectivas. Os convidados destacaram a relevância do apoio emocional no contexto familiar e compartilharam vivências e conhecimentos que enriqueceram o debate. Além dos especialistas, compôs a mesa a discente Amanda Mariana, com o seu relato como cuidadora familiar e Lilian Rosa, como mediadora.

O enfermeiro James Stefison destacou que o envelhecimento saudável, ou senescência, é caracterizado pela manutenção da saúde física e mental dos idosos, enquanto o envelhecimento patológico, ou senilidade, exige cuidados específicos devido às limitações de saúde. Com a presença de doenças crônicas e a necessidade de suporte, o papel do cuidador se torna essencial, especialmente quando são familiares que assumem essa responsabilidade. 

Convidado: James Stefison

De acordo com James Stefison, no Brasil, cerca de 91,7% dos cuidadores são familiares, e em sua maioria mulheres, refletindo um padrão cultural onde o cuidado é visto como papel feminino. Ele acrescenta que esses cuidadores enfrentam desafios significativos, incluindo jornadas intensas e condições físicas específicas, como dores crônicas, além de impactos emocionais como isolamento e tristeza, especialmente quando o cuidado é uma demanda constante e pouco compartilhada. 

Em outros países, há políticas de apoio e folgas para cuidadores, mas no Brasil, a ausência de políticas públicas adequadas sobrecarrega os familiares responsáveis. Segundo James Stefison: “a pesquisa indica ainda que o cuidado de idosos envolve uma dimensão afetiva profunda, onde sentimentos de retribuição e amor coexistem com cansaço e, muitas vezes, frustração”. Ele cita o filósofo Leonardo Boff que afirma que: “o cuidado é mais que um ato, ele é uma atitude”, ou seja, ele abrange mais que um momento de atenção, ele representa uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilidade e de envolvimento afetivo com o outro.

A discente Amanda Mariana vive a dimensão de ser cuidadora informal de seu pai. Como cuidadora, ela administrou com dedicação e criatividade os cuidados diários que ele requer, desde a organização dos medicamentos e organização dos horários de tomá-los, até o auxílio nas necessidades básicas. Amanda busca dessa forma humanizar o cuidado, recriando rotinas que lembram os hábitos e gostos do pai, como colocar na TV o programa favorito dele, o que traz algum conforto em meio à rotina exaustiva: “Eu não tenho uma palavra que defina o cansaço e o amor que a gente tem por aquele ser que está acamado”, aponta. 

Amanda Mariana, Isaura Rossatto, James Stefison, Erika Santos e Lilian Rosa

Para a acadêmica de Psicologia, Isabella Fernandes, participar da roda de conversa foi uma experiência enriquecedora: “Pude olhar para o cuidado, questionar as influências culturais e suas significações. Foi apresentado a perspectiva do cuidador, perguntas como: quem cuida de quem cuida? A possível romantização desse papel, mas ao mesmo tempo ser um lugar de sofrimento. Foi uma oportunidade incrível e um evento imperdível!”.

Segundo a discente, Nádia Ramos, através da roda de conversa foi possível alinhar pesquisas e trocas de experiências: “Gostei muito, e a contribuição da fala da Amanda veio elucidar a teoria. No nosso curso falamos muito sobre humanizar atendimentos, e a roda de conversas ontem mostrou que a humanização, a dignidade das pessoas, não se resume a um atendimento clínico/hospitalar, mas nas relações humanas mesmo. Pessoas acamadas que dependem de cuidado, muitas vezes são colocadas numa posição passiva que as distanciam do senso de pertencimento de suas vidas, nas falas ficou bem clara a importância da rotina, dos costumes no processo de cuidado, para a pessoa dependente, mas também para os cuidadores”.

O evento faz parte da série de atividades Pré-CAOS, que antecede o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2025, previsto para fevereiro do próximo ano. Os eventos Pré-CAOS, programados para o mês de novembro, seguem com o objetivo de explorar os laços familiares em diferentes contextos e seus impactos. A abertura oficial do CAOS 2025 acontecerá no dia 7 de novembro, durante os Diálogos Clínicos, onde os acadêmicos estagiários da Clínica Escola de Psicologia (SEPSI) apresentarão uma discussão de um caso clínico, na visão das diferentes abordagens da psicologia.

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(En)Cena promove roda de conversa sobre desafios e afetos em famílias com pessoas dependentes

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O evento recebe o professor e mestre James Stefison, que é enfermeiro e gestor em aprendizagem.

No próximo dia primeiro, sexta-feira, o Portal (En)Cena irá realizar a roda de conversa “Laços de Cuidado: Afetos e Desafios em Famílias com Pessoas Dependentes”. O evento ocorrerá às 19 horas no miniauditório 543, e contará com a presença da psicóloga e professora da Ulbra Palmas, Isaura Rossatto, e do enfermeiro e gestor de aprendizagem James Stefison Sousa. Ambos compartilham de experiências e conhecimento na área.

O encontro parte de uma necessidade de abordar e promover espaços de discussão sobre a temática, em vista que as difíceis experiências muitas vezes são silenciadas e pouco compartilhadas na sociedade. Os convidados devem abordar a experiência do cuidado com pessoas dependentes dentro da família, destacando os processos afetuosos e os possíveis desafios.

A roda de conversa ocorrerá como parte dos eventos de divulgação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2025, que está previsto para o mês de fevereiro do próximo ano. Os eventos Pré-CAOS acontecem ao longo do mês de novembro, e irão abordar os laços familiares em diversos contextos, bem como seus efeitos.

O lançamento do CAOS 2025 acontecerá na noite do dia 07/11, durante os Diálogos Clínicos. O evento, organizado pela Clínica Escola de Psicologia da Ulbra Palmas (SEPSI), promove a discussão de um caso clínico pelos acadêmicos estagiários de diferentes linhas teóricas e abordagens.

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“Coda, no Ritmo do Coração” – a comunicação familiar na construção de identidade na adolescência

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 CODA é um filme repleto de sensibilidade e evoca muitas reflexões acerca da deficiência auditiva e da importância da comunicação no estabelecimento dos laços familiares e sociais saudáveis.

CODA (Child of Deaf Adults, significa em português, Filho de Pais Surdos). O filme conta a história da jovem Ruby Rossi, interpretada pela atriz Emilia Jones. Ela é uma adolescente, que vive com familiares surdos: seu pai, sua mãe e seu irmão mais velho. Devido a surdez de sua família, ela enfrenta os conflitos e desafios de viver entre dois mundos: o da família e o da comunidade. Devido a morar em uma pequena cidade, família de Ruby enfrenta as dificuldades de inclusão e a falta de uma estrutura governamental que atenda às necessidades básicas de acesso aos seus direitos, fazendo
com que Ruby absorva a responsabilidade de intermediar as relações e comunicações de sua família com as demais pessoas da comunidade.

Durante todo o filme observamos que o cerne do problema é a comunicação. A jovem protagonista precisa lidar com questões complexas em sua adolescência e acaba sendo afetada por problemas que vão muito além dos comuns para a sua idade. Há uma carga grande de responsabilidade que devido à peculiaridade da surdez de sua família é compreensível, porém injusta. Tendo em vista que Ruby é a única ouvinte em sua família, ela se torna peça essencial para a comunicação familiar dentro e fora de casa, o que traz inúmeros conflitos e desconfortos à adolescente.

Para aumentar a dramaticidade da obra, Ruby tem um talento nato para a música e se envolve no coro escolar, o que a leva mais uma vez a um mundo diferente do que sua família domina e conhece. Com a ajuda de seu professor, que acredita em seu potencial e talento, a música se torna um fator de distanciamento entre ela e sua família e ao mesmo tempo provoca um processo de crescimento e amadurecimento ao fazê-la desenvolver sua comunicação familiar e alçar novos voos.

Famílias abertas ao diálogo proporcionam um ambiente acolhedor, deixando os adolescentes à vontade para falar de suas inseguranças e medos e expor seus sentimentos

A mãe de Ruby (interpretada pela atriz Marlee Matlin), vai vivenciar os dilemas da maternidade, a insegurança, o instinto de proteção e ao mesmo tempo enfrentar seus próprios medos quanto a desenvolver suas habilidades sociais e melhorar sua comunicação e interação com a comunidade. Neste processo, ela questiona se Ruby começou a cantar para irritar a família ou se ela realmente é alguém que tem este talento, mesmo sendo filha de pais surdos. É neste ponto do filme que vemos florescer a importância e necessidade de uma comunicação clara e aberta entre toda a família para enfrentar seus temores e construir diálogos que aproximam e ampliam os horizontes de cada um dos personagens quanto aos seus conflitos e inquietações. 

O irmão mais velho de Ruby, interpretado por Daniel Durant, esconde o conflito de querer se sentir independente de sua irmã, ao mesmo tempo que se preocupa com seus sonhos e deseja vê-la feliz e fazendo o que gosta. Já o patriarca da família, interpretado por Troy Kutsur, retratado com um pai amoroso, presente e sensível, protagoniza uma das mais belas cenas com sua filha, ao lhe pedir que cante para ele, fazendo-o compreender através da leitura labial e vibrações, a importância e amor que ela nutre pela música.

É importante ressaltar que o filme conta com a atuação de atores surdos que são (o pai, a mãe e o irmão de Ruby) o que traz credibilidade aos papéis e engrandece todo o elenco. Destaca-se a atuação da atriz que interpreta Ruby, a qual traz paixão e o uso da linguagem de sinais de forma impecável, após nove meses de dedicação para o aprendizado da língua e interação verossímil com seus pares surdos.   

O poeta norte americano E.E. Cummings disse certa vez que é preciso coragem para crescer e se tornar quem você é de verdade. Ao assistir ao filme CODA podemos observar toda a coragem de Ruby em sua jornada de autoconhecimento e a forma como sua percepção foi se desenvolvendo e a ajudando a reagir emocional e comportamentalmente de forma mais assertiva. Neste processo de crescimento e desenvolvimento, vemos a personagem desbravando terras desconhecidas e tendo a coragem de enfrentar seus temores, dúvidas e as reações de sua família quanto aos seus sonhos. 

Durante o filme vemos Ruby desenvolver uma ideia firme de sua identidade ao enfrentar os dilemas relativos a todos os aspectos emocionais referentes a questões importantes de sua vida. É notório o papel da comunicação, a qual foi essencial para que todos pudessem colocar seus pontos de vista e temores e assim entender uns aos outros e encorajarem-se a tomar suas próprias decisões rumo ao crescimento individual e familiar. 

A adolescência é uma das fases mais intensas da vida e a importância da família é essencial para superar os obstáculos

Ao desfrutar de uma família amorosa, que se comunica e estabelece relações empáticas e encorajadoras, vemos Ruby enfrentar os dilemas de sua existência e identificar – se com os valores de sua família, desenvolvendo o senso de pertencimento à ela e ainda assim, tomando importantes decisões sobre seu futuro e papel dentro e fora dela. 

O filme também se destaca pelo caráter político e impulsionador de mudanças na indústria cinematográfica, tendo em vista que levanta a bandeira da representação e da representatividade de pessoas com deficiências. No Brasil, segundo dados do IBGE, temos em torno de 5% da população com alguma deficiência auditiva, sendo 10 milhões de cidadãos com deficiência auditiva e 2,7 milhões com surdez profunda. CODA definitivamente é um filme repleto de sensibilidade e evoca muitas reflexões nos telespectadores acerca da deficiência auditiva e da importância da comunicação no estabelecimento dos laços familiares e sociais saudáveis. 

 

Referências

DIAS, Ana Paula. CODA: Uma história emocionante e sincera sobre encontrar o nosso lugar no mundo. Unesp Bauru, 2021. Disponível em: https://matavunesp.wordpress.com/2021/08/19/coda-uma-historia-emocionante-e-sincera-sobre-encontrar-nosso-lugar-no-mundo/ . Acesso em 15 de março de 2024.

FERREIRA, Isabela Maria Freitas, BARLETTA, Janaína Bianca; MANSUR-ALVES, Marcela. DO AUTOCONHECIMENTO AO AUTOCONCEITO: REVISÃO SOBRE CONSTRUTOS E INSTRUMENTOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Psicologia em Estudo, v. 27, p. e49076, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pe/a/XQrsmHHnN7g7SSkYGpcPjqb/#

FRANCO, Gabi. NO RITMO DO CORAÇÃO LEVA ATORES SURDOS AO OSCAR 2022. UOL, 2022. Disponível em: https://tangerina.uol.com.br/filmes-series/critica-no-ritmo-do-coracao/. Acesso em 15 de março de 2024.

LEMOS, Simone. MAIS DE 10 MILHÕES DE BRASILEIROS APRESENTAM ALGUM GRAU DE SURDEZ. Jornal da USP, 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/mais-de-10-milhoes-de-brasileiros-apresentam-algum-grau-de-surdez/#:~:text=Dados%20do%20IBGE%20(Instituto%20Brasileiro,ou%20seja%2C%20n%C3%A3o%20escutam%20nada. Acesso em: 15 de março de 2024.

PAPALIA, D. E. e FELDMAN, R. D. (2013). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, Artmed, 12ª ed. 

SCHOEN-FERREIRA, Teresa Helena, AZNAR-FARIAS, Maria; SILVARES, Edwiges Ferreira de Mattos. A construção da identidade em adolescentes: um estudo exploratório. Estudos de Psicologia (Natal), v. 8, n. 1, p. 107–115, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/epsic/a/X5DFFZCZsb4pmrLchTsQVpb/#

 

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“Matilda” – as relações no ambiente escolar e o impacto no desempenho das crianças

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O meio educacional pode ter grande influência no desempenho e desenvolvimento da criança nas escolas.

Matilda é um filme de comédia e fantasia baseado no livro homônimo de Roald Dahl. Lançado em 1996 e dirigido por Danny DeVito, o filme conta a história de Matilda Wormwood, uma criança prodigiosa e inteligente, cuja família a trata com negligência e desdém. Enquanto seus pais estão envolvidos em esquemas de golpes, Matilda descobre que possui habilidades telecinéticas, que ela começa a desenvolver e controlar.

Matilda enfrenta dificuldades na escola, onde a diretora tirânica, a Senhorita Trunchbull, faz da vida dos alunos um verdadeiro inferno. Com seu intelecto e poderes especiais, Matilda começa a lutar contra a injustiça na escola, ajudando seus amigos e buscando justiça contra a Senhorita Trunchbull.

Através da amizade com sua professora, a Senhorita Honey, Matilda encontra apoio e compreensão. Juntas, elas buscam enfrentar os desafios e traumas do passado de Matilda e da Senhorita Honey, criando um laço forte entre elas.

O filme aborda temas de empoderamento infantil, família disfuncional, amizade e superação. Com um toque de magia e humor, “Matilda” captura a jornada de uma criança excepcional que usa sua inteligência e habilidades especiais para conquistar seu lugar no mundo e fazer a diferença na vida daqueles ao seu redor.

A relação entre Matilda e a diretora Trunchbull é central para a trama do filme “Matilda”. A Senhorita Trunchbull é retratada como uma figura autoritária, tirânica e cruel na escola em que Matilda estuda. Ela é conhecida por impor regras rigorosas e aplicar punições severas aos alunos, muitas vezes de forma injusta e abusiva.

Matilda, por outro lado, é uma criança extremamente inteligente e sensível, que enfrenta desafios tanto em casa, com pais negligentes e desinteressados, quanto na escola, devido à opressão da Senhorita Trunchbull. A relação entre Matilda e a Senhorita Trunchbull é marcada por conflito, já que Matilda é uma das poucas crianças que ousa desafiar a autoridade e injustiça da diretora.

A habilidade telecinética de Matilda adiciona um elemento único à relação, permitindo que ela enfrente a Senhorita Trunchbull de maneiras criativas e, muitas vezes, humorísticas. Matilda usa suas habilidades para realizar pequenos atos de vingança, como mover objetos ou pregar peças na diretora, o que serve para aliviar a tensão e proporcionar momentos engraçados no filme.

A relação entre Matilda e a Senhorita Trunchbull culmina em um confronto emocionante e climático, onde Matilda usa suas habilidades para expor a verdade sobre os abusos e injustiças cometidos pela diretora. Esse confronto não apenas empodera Matilda, mas também ajuda a libertar a escola da opressão da Senhorita Trunchbull.

No geral, a relação entre Matilda e a diretora Trunchbull representa o conflito entre a inocência e a maldade, a inteligência e a ignorância, e o desejo de justiça contra a opressão. Através desse relacionamento, o filme explora temas de coragem, resistência e o poder de usar habilidades únicas para enfrentar adversidades.

                                                                                                                        Fonte: https://l1nk.dev/Is0uc

Por outro lado, a relação entre Matilda e a professora, a Senhorita Honey, é uma das partes mais tocantes e positivas do filme “Matilda”. A Senhorita Honey é a única figura de autoridade na vida de Matilda que demonstra compreensão, bondade e apoio genuíno. Essa relação desempenha um papel crucial no desenvolvimento emocional e no crescimento de Matilda ao longo da história.

Desde o início, a Senhorita Honey reconhece a inteligência excepcional de Matilda e fica impressionada com suas habilidades. Ela percebe que Matilda está subutilizada na escola e a ajuda a avançar academicamente, fornecendo-lhe livros e desafios mais avançados. Além disso, ela demonstra interesse pelo bem-estar emocional de Matilda, percebendo os desafios que ela enfrenta em casa e na escola.

A relação entre Matilda e a Senhorita Honey se baseia em confiança mútua e respeito. A Senhorita Honey não apenas apoia o crescimento intelectual de Matilda, mas também a encoraja a explorar suas habilidades especiais e a enfrentar a injustiça. Ela serve como um modelo de adulto amoroso e responsável, contrastando com as figuras negligentes e abusivas que cercam Matilda.

Conforme a história avança, Matilda e a Senhorita Honey desenvolvem um vínculo forte e emocional. Matilda é atraída pela gentileza e empatia da Senhorita Honey, enquanto a professora vê em Matilda uma oportunidade de ajudar uma criança talentosa a prosperar.

                                                                                                                   Fonte: https://sk.pinterest.com/

Relações ruins com os educadores e membros da administração escolar podem afetar o desempenho de uma criança na vida escolar de diversas maneiras. De acordo com Baker (2006), a natureza da relação entre professor e aluno é um indicador poderoso da adaptação escolar, especialmente quando se trata de crianças que demonstram problemas comportamentais na sala de aula.

Baker (2006) ressalta adicionalmente que a interação entre professor e aluno é fundamental para estimular o envolvimento das crianças no processo de aprendizagem. Além disso, ela serve como alicerce para a formação de crenças adaptativas em relação a si mesmas e ao mundo social, bem como para a aquisição de habilidades autorreguladoras e socioemocionais, que são elementos cruciais no contexto escolar.

Assim, uma criança que enfrenta falta de apoio, tratamento injusto ou desrespeito por parte dos professores, diretores ou coordenadores, isso pode ter consequências negativas em seu bem-estar emocional e mental. Isso pode levar a baixa autoestima, ansiedade, depressão e falta de motivação para participar ativamente nas atividades escolares.

Birch e Ladd (1997) complementam que crianças que desfrutam de uma relação mais estreita com o professor tendem a enxergar o ambiente escolar como uma fonte de apoio, o que contribui para a formação de atitudes positivas em relação à escola. Essas crianças sentem-se à vontade para compartilhar seus sentimentos e inquietações, permitindo-lhes buscar ajuda e orientação de maneira apropriada enquanto se esforçam para se adaptar ao ambiente escolar.

Dessa forma, relações positivas com os educadores e membros da administração têm um impacto significativo no desempenho escolar de uma criança. O apoio e o incentivo vindos dos professores, diretores e coordenadores podem criar um ambiente onde a criança se sente valorizada e encorajada. Isso pode levar a uma maior autoconfiança, motivação para aprender, participação ativa em sala de aula e busca de oportunidades extracurriculares.

Cultivar um relacionamento positivo com os estudantes pode desempenhar um papel preventivo em relação a questões disciplinares dentro da escola. Além disso, essa dinâmica pode contribuir para reduzir o estresse e a exaustão do professor, enquanto promove o crescimento profissional do educador (Fraser; Walberg, 2005; Wubbels, 2005).

As interações com os educadores e membros da administração também podem influenciar a percepção que a criança tem de si mesma. Relações positivas com esses adultos responsáveis pela educação podem ajudar a desenvolver uma imagem positiva de si mesma e de sua identidade, promovendo um ambiente de respeito mútuo e aceitação.

Em resumo, relações ruins com os educadores e membros da administração podem prejudicar o desenvolvimento acadêmico e emocional de uma criança, enquanto relações positivas têm o potencial de fortalecer sua confiança, motivação e envolvimento na vida escolar.

Um psicólogo pode intervir em situações em que uma criança enfrenta relações negativas com educadores e membros da administração escolar. Eles podem oferecer aconselhamento individual para que a criança expresse seus sentimentos, desenvolver habilidades sociais e emocionais para lidar com desafios.

Ademais, os psicólogos escolares desempenham um papel crucial na prevenção e intervenção em questões comportamentais. Eles utilizam abordagens teóricas, como a teoria cognitivo-comportamental, para ajudar os alunos a desenvolver habilidades de autorregulação emocional e social. Como Bandura (1986) destacou, “A autoeficácia é fundamental para a regulação do comportamento. As pessoas que acreditam que podem executar ações específicas tendem a se esforçar mais e a persistir mais diante de desafios”. Os psicólogos escolares trabalham para fortalecer a autoeficácia dos alunos, ajudando-os a lidar com situações de conflito, bullying e outros desafios sociais.

Outra área de atuação importante dos psicólogos escolares é a orientação vocacional. Através de abordagens baseadas na teoria do desenvolvimento de Erikson, eles auxiliam os alunos na exploração de suas identidades vocacionais e no planejamento de suas trajetórias acadêmicas e profissionais. Como Erikson (1959) afirmou, “A identidade profissional é uma parte crucial do desenvolvimento do ego na adolescência”. Os psicólogos escolares orientam os estudantes na tomada de decisões importantes relacionadas à educação e carreira.

Além disso, atuar como mediador na comunicação entre a criança e os educadores, fornecer orientação aos pais para melhor apoiar a criança, defender medidas apropriadas junto à escola em casos mais graves, ensinar estratégias de resiliência para enfrentar desafios, acompanhar o progresso ao longo do tempo e garantir o apoio contínuo da criança. No geral, um psicólogo ajuda a criança a lidar emocionalmente com as relações ruins e a desenvolver as habilidades necessárias para enfrentar positivamente a vida escolar.

 

 

REFERÊNCIAS

  1. Baker, J. A. (2006). Contribuições das relações professor-criança para a adaptação escolar positiva durante o ensino fundamental. Revista de Psicologia Escolar e Educacional, 44, 211-229.
  2. Birch, S. H., & Ladd, G. W. (1997). A relação professor-criança e a adaptação escolar inicial das crianças. Revista de Psicologia Escolar e Educacional, 35 (1), 61-79.
  3. Fraser, B. J., & Walberg, H. J. (2005). Pesquisa sobre relações professor-aluno e ambientes de aprendizagem: contexto, retrospectiva e perspectiva. Revista Internacional de Pesquisa Educacional, 43, 103-109.
  4. Wubbels, T. (2005). Editorial: Percepções dos estudantes sobre as relações professor-aluno na sala de aula. Revista Internacional de Pesquisa Educacional, 43, 1-5.
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Duas mães

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Nunca acreditei no significado tradicional, quase dogmático, de família. Papai, mamãe, filhinhos. Se fosse assim, pensava eu, quando esse grupo de pessoas se desfazia, não se chamaria mais de família?

Há pessoas que, por questões sociais, e mais profundamente por sangue, acabam por conviver para sempre ou por um determinado momento de suas vidas. Suas existências se entrelaçam ou seguem uma jornada paralelamente. Mas e o que dizer daquelas que se escolhem, sem as relações sociais ou a definições genéticas?

Eu tenho duas mães. Uma a qual estou ligado há 42 anos e nove meses e amo, e outra há 42 anos, e amo. Essa dupla maternidade, unicamente explicada pelo afeto de duas mulheres por mim desfez, pelo menos em minha jornada de autoconhecimento a ideia obrigatória de família do sentido literal, religioso ou mesmo legal.

Uma, Francisca me gerou e escolheu a maternidade. A outra, Cecília, me escolheu. E posso dizer que, entre as poucas certezas que tenho da vida, seu amor é o mais generoso que uma pessoa pode ter pela outra, porque nunca houve uma obrigação moral, genética ou legal dela para comigo. Nossa relação é do mais puro amor.

Era de se esperar, por Francisca ser a pessoa que é, que amasse todos os filhos que viesse a ter. Mas Cecília não gerou filho algum, não planejou ser mãe, não casou, não pensou em ser mãe solo. Nossas existências se encontraram em um determinado ponto, no caso, o meu nascimento, e de lá pra cá, mais de quatro décadas ela provou ter por mim, um amor daqueles raros, de tamanha generosidade e dedicação que conceito algum conhecido de família poderia definir.

Quando criança, falavam “a sua mãe e a sua tia”. Por mais novo que fosse eu dizia “não, ela não é minha tia. É minha mãe”. As pessoas tentam se enquadrar e enquadrar as situações suas e dos outros em estereótipos, arquétipos, caixinhas. Elas fazem isso porque para muitos a vida só tem sentido se explicada dentro de uma lógica social matemática, que é cruel para quem está à margem desse comportamento esperado.

Mas como explicar o amor de mãe que Cecília nutriu, mostrou e prova todos os dias por mim? Eu mesmo nunca tentei explicar porque não vou racionalizar algo que só me fez bem e, acredito, faz bem a ela. E o mais curioso de tudo isso é que meus pais nunca, em momento algum, se enciumaram, ou tentaram tolher essa relação. Muito pelo contrário. Passei a vida tendo duas casas, dois quartos, duas mães e um pai, e isso é máximo de matemática que posso lhes dar, meus caros.

No último dia das mães, liguei para Francisca para dizer que a amo. Ela terminou dizendo algo que jamais esquecerei. “Marcos, eu te amo, você é meu filho. Eu tenho três filhos e, talvez, a Cecília seja até mais mãe sua do que eu, porque eu acolheria você de qualquer forma, mas ela escolheu você unicamente por se sentir sua mãe. Jamais se esqueça disso”.

Sendo assim, eu retiro o conceito ordinário, comum, de família e adoto o de pessoas que se aceitam, se agregam sem explicar suas relações, unidas apenas pelo tipo de amor generoso que não cobra da vida nada além da felicidade do outro.

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Jack e o mito da perfeição: como a busca pela perfeição pode nos prejudicar

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Em 2016 foi lançada a série “This is Us” que tem como enfoque contar a história geracional da família Pearson. A história da família inicia com o casamento de Jack e Rebecca que posteriormente engravidaram de trigêmeos. Após perderem um dos filhos durante o trabalho de parto, acabam adotando um bebê que coincidentemente foi abandonado na porta do hospital no mesmo dia. 

A série vai mostrar a vida da família, seus desafios e conquistas e a realidade dos três filhos que são carinhosamente apelidados de “The Big Tree” por seus pais. Por ser uma história conectada através das três linhas de tempo (passado, presente e futuro), conseguimos enxergar os impactos dos diferentes eventos em cada um dos personagens. Essas vivências geram uma conexão emocional entre a série e os telespectadores, causando muitas emoções naqueles que já assistiram. 

Dentro da trama, existe um evento que acaba sendo central para o desenvolvimento de diversas outras partes da história, que é a morte de Jack, o pai. O seu falecimento  e todo o desenrolar da história a partir desse evento acabam trazendo diversos ensinamentos, um deles é a análise que podemos fazer sobre o mito da perfeição. 

Durante a vida de Jack podemos ver o esforço que ele empenhou para ser um bom esposo. Desde o início da relação lutou para dar um estilo de vida que condizesse com o que Rebeca possuía, trabalhando para dar o melhor para ela, fazendo presente na relação deles o amor, respeito e companheirismo. Com o decorrer da história, também conseguimos perceber o grande esforço que ele fez para quebrar os padrões que vivenciou dentro de casa da sua infância até a sua juventude, como o alcoolismo e as práticas violentas de seu pai com ele, sua mãe e irmão.

                                                                  fonte: https://encurtador.com.br/FLRVW

Todo esse histórico de esforço e superação fez com que sua família o colocasse em um pedestal após sua morte, pintando uma imagem de homem perfeito. Fez-se muito presente nos filhos a ânsia em ser como o pai, o que gerava diversas frustrações quando algum deles se via errando em coisas que o pai supostamente não erraria. Ao invés  de se ajudarem quando o outro errava, muitas vezes havia mais críticas e julgamentos por  não conseguirem alcançar o que deveria ser a sua suposta obrigação : ser como o pai. 

Assim como a série passa a mostrar adiante, essa situação acaba por se tornar adoecedora para a família, pois esse mito de alcançar e/ou ser como as pessoas que admiramos é injusto. É impossível ser como alguém, mesmo que esse alguém seja uma figura parental central na criação, afinal todos nós somos diferentes. Essas diferenças não estão necessariamente relacionadas às vivências que possuímos e sim a como as enxergamos. 

Nichols (2007) afirma “as experiências são ambíguas”, ou seja, uma mesma vivência pode causar diferentes impactos sobre as pessoas. Muitas vezes não é sobre o que vivemos e sim sobre as histórias que contamos a nós mesmos a partir dessas vivências. Assim, buscar ser como outra pessoa seria partir da ideia de que os pensamentos sobre os eventos da vida são os mesmos para todos; e não vão ser. 

Pensamos diferente, logo, possuímos pontos de vista e construções de opinião diferentes. Se apegar à ideia de ser exatamente como outra pessoa também incorre em abrir mão da própria autenticidade, fazendo com que passemos a desvalorizar os nossos acertos e supervalorizar os erros. 

Além disso, é importante pontuar que Jack não era perfeito, na verdade ele estava muito longe disso. O personagem se esforçava sim em ser alguém melhor a cada dia, no entanto,  a narrativa apresenta  diversas ocasiões em que ele não conseguiu superar suas dificuldades, como quando ele se encontra em episódios de alcoolismo, ou como quando não conseguiu resolver suas questões com seu irmão e preferiu esconder esse problema. Esses eventos acabaram sendo esquecidos  por seus filhos, que se cobravam tanto por algo que nem o próprio pai conseguia dominar. McGoldrick (1995) enfatiza que os problemas da vida familiar não devem ser controlados e sim ajustados, e esses ajustes não são lineares, isso significa que as mudanças que queremos realizar não vão caminhar de forma crescente o tempo inteiro, e a falta de entendimento dessa premissa fez com que por muitas vezes os personagens da série se colocassem em um lugar de grande culpa, e nisso podemos refletir que a mesma coisa acontece conosco quando acreditamos não existir altos e baixos nos processos que vivenciamos na vida. Ao acreditar que um processo de mudança será sempre crescente, ao vivenciarmos um regresso, desanimamos e fortalecemos crenças erradas ao nosso respeito. 

                                                           fonte https://encurtador.com.br/lFWX3

Talvez ao ouvir “seja você mesmo”, já não levemos com tanta seriedade assim, por achar algo batido de se falar e ouvir. No entanto, nesse contexto podemos encaixar perfeitamente. Ao invés de gastar nossas forças imitando um outro alguém, podemos nos esforçar para melhorar quem já somos para enfim chegar a quem queremos nos tornar.

As informações apresentadas até aqui não tem o intuito de afirmar que não devemos ter pessoas nas quais nos inspirar. Ter alguém em quem se inspirar não é algo ruim. Muito pelo contrário, significa que temos respeito e admiração por essa pessoa e esses sentimentos com certeza nos agregam. Porém, inspiração não precisa ser imitação, podemos admirar e nos inspirar em alguém sem deixar de sermos quem somos ou desejamos ser.  Talvez seja essa uma das lições mais importantes que a família Pearson possa nos ensinar. 

Referências:

NICHOLS, Michael. Terapia Familiar: Conceitos e Métodos. Porto Alegre : Artmed, 2007.

CARTER, Betty; MCGOLDRICK, Monica. As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar: Uma estrutura para a terapia familiar. Artmed. Março de 1995. 

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“Um marido fiel” – até aonde o amor pode chegar?

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O filme “um marido fiel”, classificado como sendo um drama e suspense, envolve a vida de uma família e um triângulo amoroso. Protagonizado pelos atores, como cônjuges,  Christian (Dar Salim) e Leonora (Sonja Richter), os quais vivem uma vida perfeita, especialmente porque o filho, o qual nascera com uma doença rara e grave, agora aos 17 anos, está curado.

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Em nome do amor, os nubentes juram amor e lealdade para toda a vida, cujo vínculo é pré-estabelecido, um contrato inconsciente. A partir desse vínculo, permite-se o pertencimento de um na vida do outro, a descontinuidade do “eu” para a construção e continuidade entre os “eus”, os cônjuges. São desejos distintos, os quais, se apropriam mutuamente para compartilhar os Egos, agora jungidos.  No estilo do velho jargão, “duas almas em um só corpo ”. O vínculo matrimonial funciona como um pacto, sendo ele quem estrutura e reforça os acordos.

Leonora, uma típica dona de casa, violonista de sucesso que abandonara sua carreira para cuidar do filho e, dedica-se à família, esposa e mãe dedicada. Seu ninho familiar estava perfeito, marido bem sucedido e o filho curado. Tudo em perfeita harmonia.

Christian, o cônjuge varão, um engenheiro, bem sucedido, dono/ sócio com um amigo de uma construtora, onde conhece a arquiteta Xênia (Sus Wilkins), e iniciam um relacionamento extraconjugal. A amante exige que o engenheiro separe da esposa para ficarem juntos. Eivado pelo sentimento sensual, ele confirma que executará o pedido.

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Leonora, sente seu castelo ameaçado, a ameaça da ruptura do pacto e o sentimento afeiçoado ao imaginário da pessoa amada, está sob ameaça de ruir.

Em uma madrugada o esposo recebe uma mensagem, ela pergunta-lhe quem está enviando-lhe mensagem àquela hora, o esposo disfarça e diz ser um amigo. Contudo, o recebimento das mensagens continua. Irritada, Leonora, pede para que ele mostre- lhe as mensagens, no que ele recusa.  A partir desse episódio, ela tem acesso ao celular do esposo e verifica as mensagens, descobrindo que estava mentido, e vivendo um pseudo romance e passa a investiga-lo.

As desconfianças e evidências tornam-se reais, o que eram olhares furtivos em busca de respostas, concretizam suas suspeitas. Durante uma festa da empresa de Christian, em comemoração por um contrato de grande valor, Leonara, segue- o, e flagra -o em conúbio carnal, com a arquiteta Xenia (Sus Wilkins), começa o seu pesadelo e sua obsessão em afastar a mulher que está ameaçando sua família.

Ser abandonada, trocada por outra mulher, não está nos planos de Leonora, principalmente depois de tanta dedicação. Inadmissível, uma vez que, ela desistiu de tudo que lhe era próprio, inclusive de sua carreira, por ele e para dedicar-se e cuidar do filho do casal.  Inicia-se uma pressão para a manutenção do esposo do seu lado, uma realidade experienciada, geralmente pelos casais, a necessidade do ser em estar em um vínculo para constituir-se sua própria identidade como sujeito, a necessidade de juntos para toda a vida.

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Contudo, existe uma linha tênue entre amor e ódio, não raro, esse último sobressai durante uma traição, quando o amor não é mais correspondido e/ou a ameaça de sua desconstrução, a pessoa traída entra em colapso psicológico.

Nesse diapasão, Leonora, eivada pelo sentimento de posse e no desespero da ruptura e o distanciamento de seu objeto de desejo, passa a nutrir pensamentos obsessivos de como destruir o romance extraconjugal, colocando em prática seu plano, para garantir a indissolubilidade do casamento. E, no emaranhado de sentimento de rejeição, abandono e ingratidão do marido, adentra no universo da dependência emocional, e transforma suas emoções em obsessão.

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Diante da materialidade comprovada da traição e a confissão do marido, Leonora, inicia um processo de pressão e ameaças ao esposo, manifestando a intenção em revelar segredos obscuros, uma fraude fiscal que alavancou a empresa. Para ela, é uma luta contra o tempo para preservação de sua família e, vale qualquer artimanha.

O esposo, de igual forma obsessiva e perdido em suas fantasias e, na eminencia em ter expostos seus segredos e a sua imagem arranhada perante à sociedade e à sua amante, bem como, a possibilidade em afastar-se dela, arquiteta a morte de sua esposa, sendo ele o executor do plano, assassinar a mulher em um atropelamento. Seu plano falhou e ele atropela outra mulher da vizinhança. O amor que no pretérito era gozo, passa a ser tormento, ultrapassando a linha da normalidade e razoabilidade.

O objeto de desejo de outrora, trona-se abjeto, indesejado. Agora a satisfação é pela liberdade de não estar, o distanciamento corporal e sentimental.

Leonora, descobre que o marido queria matá-la, e passam a viverem em um ambiente de insegurança psicológica, sem saber quem seria o vitorioso no processo em voga. Individualmente, cada um passa a buscar seus fins para estarem com seu amor.

O marido passa a investigar o passado da esposa e descobre que há suspeitas que ela assassinou o namorado que veio a traí-la. Diante dessa informação, passa também a chantagear a esposa.

As ameaças recíprocas entre os cônjuges, cada um em seu imaginário doentio, em virtude da possível perda de seu desiderato, passa a arquitetar os meios de eliminar os empecilhos que os impedem ou limitam seus gozos.

Partindo do princípio que a relação de objeto é o motor e a matriz do vínculo, melhor unir ao inimigo para sobreviver, e assim, a esposa, atrai, seduz e convence o marido, e expõe todo o plano para assassinar a amante, única forma dela viver livre de tal ameaça.

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O marido parecia indiferente, só ouvia. Há pressupostos que ele estava contemporizando, e no momento oportuno, sairia para não voltar.

Leonora, é a mentora intelectual do crime e, com traços de psicopatia, ordena ao marido que vá à casa da amante, na madrugada e mate-a, tendo o cuidado de  deixar evidências de um arrombamento da casa e morte da mulher.

Contudo o marido segue o plano, porém não consegue executa-lo, a esposa vai até à casa e os vê juntos, preserva seu objeto de desejo e assassina a amante, os dois tornam-se cumplices, talvez o esposo receoso que poderia ser a próxima vítima,  colocaram os restos mortais em uma fogueira, tradição dos dinamarqueses, simbolizando a queima de bruxas, preparada na casa do casal, assim,  nas investigações não encontrariam o corpo.

Nas investigações, a polícia depara com um roubo na casa de Xenia, e esta desapareceu.  Embora, sendo o suspeito principal pelo desaparecimento da amante, por sê-la, funcionária  de sua empresa e fora descoberto que eram amantes, Christian, consegue sair ileso, pelos modus operandi  engendrado por Leonora, livrando-o da condenação criminal.

Após as comemorações, Leonora  e Christian, viajam para um lugar distante com o intuito de desvencilharem dos últimos resquícios da amante e, jogam os ossos em um lago, onde, por certo, nunca serão encontrados. Agora, entrelaçados pelo amor obsessivo dela e pelos liames de um crime. Como contrariar Leonora  e não ser-lhe fiel?

Pode-se dizer , seja Leonora, a vilã do filme, entretanto, em uma análise perfunctória,  não há como defini-la como uma psicopata, possui traços compatíveis à psicopatia, tais, como falta de remorso, egocêntrica, manipuladora, sem empatia, a presença do pensamento binário, tudo ou nada, sem meio termo. Falta a evidência familiar de como fora educada, sua infância e vida conjugal de seus genitores para traçar seu perfil psicológico.

Corroborando neste sentido, Sigmund Freud, diz: “As emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem de piores formas mais tarde.”

FICHA TÉCNICA DO FILME

FILME: Um marido fiel  (Loving Adults)

PRODUTOR:  Marcella Linstad Dichmann

PRODUTOR EXECUTIVO: Lars Bjørn Hansen

ELENCO: Dar Salim, Sonja Richter, Sus Wilkins

 

REFERÊNCIAS

Artigo- Uma Leitura Psicanalítica do Laço Conjugal– Lídia Levy de Alvarenga.

Bate-papo/ “Psicanálise de Casal e Família“, de Rosely Pennacchi e Sonia Thorstensen.

Filme “Um marido fiel  (Loving Adults)– Drama suspense”. NETFLIX.

VARELA, Emílio- Curso de Psicanálise Integrada- Contribuição da Pedagogia e da Psiquiatria. 2016

YouTube- Albangela, C. Machado fala sobre a psicanálise no tratamento dos casais.

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“Não tivemos tempo para chorar a nossa dor”

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Maria Bernardo, 63 anos, a professora aposentada reside em Goianésia-Go. Seus pais faleceram em 2020 acometidos pela COVID-19.

Um furacão ocorre em um curto período de tempo, porém, provoca estragos de terríveis proporções. 2019 foi um ano marcado pelo início dessa grande peste, COVID-19, como ficou conhecido e que pela sua dimensão e proporção que foi tombado, trouxe pânico para muitos e indiferença para outros, alguns pensavam que não se passava de notícias e dados exagerados e até mesmo fake news.

Enquanto só ouvíamos falar dela, tudo parecia distante de nós, porém quando casos foram acontecendo em nossa cidade, bairro, a preocupação é o medo iam tomando conta de nossas emoções, pessoas trancadas em suas casas, sem poder sair para as inúmeras necessidades. Ninguém tinha informações concretas a respeito dessa enfermidade, muito menos a forma de contágio e tão pouco os medicamentos eficazes no combate desse mal. Foi algo tão impactante e ao mesmo tempo tenebroso que gerou polêmicas no Sistema de Saúde, na política, no meio social, enfim, nas diversas esferas da vida. De tudo acontecia e de nada se sabia. As coisas iam acontecendo e delas as experiências, trazendo aprendizado em algumas e prejuízos em outras. O fato é que nem os médicos se sentiam capacitados a lidar com a situação que se desenvolvia em uma velocidade alarmante.

Meu marido e eu fomos os primeiros da família a sermos sintomáticos do COVID-19. Fomos atendidos, medicados e posteriormente meu marido foi internado, esteve mais de uma semana sendo acompanhado por médicos, enfermeiros e fisioterapeutas. Enquanto éramos cuidados já de alta e em casa, meus pais começaram com sintomas de gripe e foram levados ao hospital para consulta. O médico plantonista prescreveu os medicamentos  como se fosse gripe e retornaram para casa (meus pais). Porém, na segunda-feira retornaram para uma consulta mais minuciosa e já foram internados. Foram submetidos a exames e os resultados mostraram que os seus pulmões já estavam com 85% de comprometimento. Foram imediatamente transferidos para a UTI.

                               Fonte: Acervo Pessoal

Meu pai com 92 anos de idade e minha mãe com 85 anos, já não tinham tanta resistência física para um tratamento mais agressivo, como era necessário.

    Após três dias na UTI, dia 13/09/2020 meu pai veio a óbito. Notícia que causou grande emoção a nossa família. Contudo, o momento era de ação para cuidar dos trâmites do funeral. Não tivemos tempo para chorar a nossa dor e nem os consolos de nossos amigos e conhecidos. A luta pela sobrevivência continuava e buscamos em Deus a força e a esperança de um milagre, especialmente pela nossa mãe que se encontra na UTI. Estávamos unidos (cinco irmãos), em orações e apoio mútuo por meio de informações, recebendo alimentos, chás, tudo que alguém sabia que era bom para a imunidade, era compartilhado entre nós. Nossa família estava na expectativa de um milagre e ficamos frustrados, recebi uma ligação do hospital para comparecer no mesmo, ao chegar recebi a notícia do óbito da minha mãe (24/09/2020).

                                                                                              Fonte: acervo pessoal 

    Nós que éramos uma família de cinco irmãos e nossos pais vivos até então, de uma forma brusca nos encontramos desprotegidos, tristes e impotentes. Todos os membros da minha família, inclusive dos irmãos, seus cônjuges e filhos, foram acometidos do vírus, alguns em estágios mais graves, outros menos, mas não houve novos casos de óbito. Trazendo à memória esses momentos de grande sofrimento, angústias e perdas, é como descortinar uma página de nossa história que ficou congelada no tempo. Foram dias difíceis, de grandes desafios mas de aprendizados também. Fomos tomados de empatia e amor pelo nosso próximo, pois estávamos no mesmo barco e naufragando; tentando nos salvar mutuamente. A tristeza passa, a dor suaviza, a esperança renasce e o amor prevalece! Assim nos apresenta a vida! Viva a vida com intensidade!

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