Amor, Sexo e Tragédia: como Gregos e Romanos nos influenciam até hoje

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O livro Amor, Sexo e Tragédia mostra que o que a maioria das pessoas faz na atualidade já existia na Grécia Antiga. O modo de olhar da sociedade Ocidental deve muito à cultura e à civilização dos gregos e romanos. Muitas foram as contribuições deste modelo civilizatório para o ocidente, e mesmo na atualidade, muito do modo de pensar e ver o mundo ainda contém influências advindas desta época. Dito isso, o presente ensaio focará nos capítulos “O corpo feminino-macio e esponjoso, depilado e recatado”, “Dele e dela-uma história de amor?”, “O amor grego” e “Um homem é um homem é um…” por Simon Goldhill.

Não é hábito do dia-a-dia questionar-se acerca da etiologia dos costumes sociais, amorosos e percepções acerca da sexualidade. O corpo e a sexualidade não é apenas o que a medicina explica. Através de análises da maneira como a sociedade lida com estes aspectos é possível entender a representação que foram para Gregos e Romanos. Não por menos, que as obras de artes por eles deixadas falam muito sobre isto.

Fonte: http://zip.net/bctHxC

Reflexões gerais acerca do corpo feminino produzem uma polêmica nos meios. A história sempre falou bastante do corpo masculino, e até o capitulo 2 do livro “Amor Sexo e Tragédia”, o autor, trata apenas este assunto. O capitulo 3 “O corpo feminino – macio e esponjoso, depilado e recatado” traz a narrativa a ser contada sobre a exibição do corpo feminino (Goldhill, 2007).

Pode-se dizer que o corpo feminino seja considerado ainda objeto particular para o discurso médico, legal, religioso, midiático, cotidiano, artístico e literário. De acordo com Goldhill:

Mas as coisas são bem diferentes e bem mais obscuras quando se trata do corpo feminino e da procura por sinais inaceitáveis de excitação sexual. Como muitos homens aturdidos, a lei também tem maior dificuldade em reconhecer os sinais do desejo sexual em uma mulher, e não sabe exatamente o que proibir. Se o problema é a excitação sexual, qual é seu sinal físico no corpo de uma mulher? E o que, no corpo de uma mulher, não poderia excitar um espectador masculino? (GOLDHILL, 2007, p.40).

Muitas destruições existiram durante e após este período, mas o ser humano nunca perdeu sua capacidade de se reinventar e reconstruir sua existência sobre escombros, dramas, catástrofes e dificuldades as mais diversas (Brazil, 2005).

O quarto capítulo, “Dele e dela – Uma história de amor” trata-se da exaltação do corpo feminino perfeito, no qual atrai olhares e exalta os corações humanos, versa sobre a cultura da Grécia, em relação as diversas formas de expressar o amor e da sua influência no mundo moderno. Diante disso o autor aponta que,

Atualmente, as normas sociais e os tabus das regras atenienses sobre o desejo são menos conhecidos. Mas a questão de como os atenienses amavam é extraordinariamente esclarecedora para nossas próprias, e mais íntimas, atitudes com relação a nós mesmos e a nossos corpos (GOLDHILL, 2007, p. 47).

Apresenta que, a forma como o amor é visto no mundo contemporâneo, quando se trata do corpo, desejo moderno, remota um pensamento, cultura e costumes da Grécia antiga, o que contradiz o clichê moderno que “o amor é igual no mundo inteiro”.

Fonte: http://zip.net/brtHC9

Cada um tem suas particularidades em relação ao amor, podendo haver história de amor com pessoas do mesmo sexo. No entanto, o Ocidente Moderno traz sempre aquela ideia de que o amor mais aceito é aquele no qual ocorre entre sexos opostos, independentemente da idade (GOLDHILL, 2007). Conta uma história de um homem que transou com uma garota de 13 anos, antes de se casarem, e que logo depois se matou, seja considerado a figura arquetípica do herói romântico. O fato de Romeu simbolizar o papel do amante na imaginação moderna, tem muito mais haver com a peça de Shakespeare, do que com os verdadeiros fatos da história.

Na cultura moderna, o nome Romeu – “o que há em um nome? ”- evoca imediatamente um suspiro lacrimejante em direção a uma sacada e a busca do amor verdadeiro apesar das barreiras das restrições sociais e disputas familiares (GOLDHILL, 2007, p.48). Percebe-se, com tais fatos relatados uma proximidade com relações na sociedade contemporânea, na qual não existe apenas um modelo de relacionamento, pois cada ser humano é livre para fazer suas próprias escolhas.

Se tratando da Grécia clássica não existe história relacionada a amor perfeito ou amor desventurado. Traz como exemplo a história de Ulisses e Penélope, visto como uma história de amor na qual o esposo é convocado para uma guerra, e Penélope aguarda com fidelidade seu retorno para casa. No entanto, não existe nesse relacionamento expressões de amor apaixonado, como: “eu te amo”, “senti sua falta”, como seria o mínimo esperado pelo Ocidente moderno, tendo em vista que o esposo estava longe de casa (GOLDHILL, 2007).

Fonte: http://zip.net/bmtHvP

Sócrates personifica o marido grego, quando no leito de morte expulsa a esposa lacrimosa para passar suas últimas horas conversando com seus companheiros. Paixões monstruosas e assassinas corrompem os corpos das heroínas das tragédias gregas, mas elas não são jamais destruídas por um belo e delicado amor. Não existe “Romeu e Julieta na Grécia clássica” (GOLDHILL, 2007, p. 48).

Os gregos, ao se referir ao amor costumam fazer uso da palavra eros para expressar os seus profundos sentimentos de desejo, atração e não o amor propriamente dito no sentido romântico, visto como algo divino, puro. Nesta perspectiva, o autor Goldhill (2007, p. 48), alude que, “em um contexto sexual, ele é com frequência escrito como uma doença, uma chama ardente e destrutiva, que não é absolutamente desejada por sua vítima”.

O amor eros não espera esse reconhecimento de amar e ser amado, como vemos na sociedade moderna essa necessidade, ou seja, no amor eros não faz diferença se o amor é ou não reciproco, não interessa se será feliz ou infeliz, o que importa é a satisfação do desejo no momento.

O capítulo 5 intitulado de “O amor grego” mostra que na relação de homens com homens, antigamente os mais velhos podiam ficar com meninos que estavam entrando na puberdade, que tinham por volta de 12 anos. Os homens mais velhos procuravam no menino o chamado “Corpo Perfeito”, que era quando um menino tinha um corpo definido como das estatuas da antiga Grécia. Os garotos que possuíam pelos nascendo no rosto já mostravam a passagem da adolescência para a fase adulta. Com isso os mais velhos não podiam mais ter relações com esses garotos, porque na ideologia deles estavam perdendo a beleza pura.

Fonte: http://zip.net/bktHDV

Para o homem grego na cidade clássica, o desejo que um cidadão adulto livre sente por um menino livre constituiu o modelo dominante de laço erótico. Nenhuma outra forma de contato masculino tem o mesmo prestigio, a mesma aceitação ou as mesmas pretensões ao êxtase erótico” (GOLDHILL, 2007, P.55).

Para que os homens mais velhos ficassem com os garotos, eles tinham que dar presentes e conselhos sobre a vida, e sempre estavam por perto dos garotos para mostrar que  estavam realmente interessando neles. No ato da relação sexual os garotos precisavam permitir que eles o tocassem. Sem a permissão, os mais velhos não o poderiam fazer.

Os mais velhos tinham muita paixão e desejo pelos garotos, porém a paixão não era mútua. Esse assunto pode ser relacionado com a homossexualidade, porém, a diferença é que hoje não está presente a questão da idade, podendo ter relações entre homens com qualquer idade.

Fonte: http://zip.net/bwtG8X

O capítulo seis do livro “Amor, Sexo e Tragédia”, trata de um assunto bastante complicado na atualidade, a masculinidade. Tal assunto é bastante difundido na sociedade contemporânea por diversos setores como o feminista, o homossexual e até mesmo o masculino. Ser do sexo masculino, por muito tempo significou ser um ideal de macho, alfa, provedor do sustento da casa, que de maneira alguma poderia demonstrar sentimentos, pois assim seria uma demonstração de fraqueza a qual ainda hoje é difundida. Porém nem sempre foi assim e é sobre isso que o presente capítulo discorre.

O autor inicia falando, que hoje em dia sempre que a masculinidade é questionada, se olha para o passado para a sociedade grega, com olhos saudosistas ou de total reprovação. Isso acontece porque, a Grécia antiga é vista sob duas visões, como um mundo pagão cujo os vícios foram gradativamente sendo rejeitados em detrimento do surgimento de uma moralidade moderna, ou como um paraíso perdido anterior à prisão do desejo pela sociedade moderna.

A verdade é que a vida social, civil e política na Grécia era comandada por homens, e o mais elevado status social era delegado aos homens detentores do saber. Naquela época era muito comum a prática da pederastia, que consiste em uma relação sexual entre homens mais velhos (os mestres) e um rapaz mais jovem (que ofereciam sede pelo conhecimento e sua beleza), ou seja era totalmente permitida e até bem vista a prática da homossexualidade.

Muitas vezes os gregos usavam a mitologia metaforicamente, para explorar a fronteira entre o humano do bestial. O autor cita no capítulo o exemplo dos sátiros, criaturas metade humano e metade bode, que faziam tudo o que os meninos bem-comportados não podiam fazer. Geralmente os sátiros eram desenhados em jarras que eram enchidas de vinho, os homens brincavam de sátiros, nas ocasiões em que se reuniam e bebiam juntos se tornavam semelhantes aos sátiros, ou seja, sátiros cruzavam e descruzavam as fronteiras da adequação masculina.

Fonte: http://zip.net/bmtHvW

Trazendo para um contexto atual, o ponto principal em que o autor toca é que existe uma enorme fragilidade da masculinidade, tanto na Grécia antiga, quanto na nossa cultura ocidental. E que embora a masculinidade seja reforçada por regras e expectativas, existem oportunidades para driblar de forma brincalhona ou transgressora, os limites e fronteiras.

Com a chegada da sociedade pós-moderna, bastante reconhecida pela época dos avanços tecnológicos, medicinais e políticos, muita coisa mudou, mas a Grécia e a Roma clássicas continuam como pano de fundo. O modo como as pessoas vivem os corpos, a sexualidade, e suas percepções mudaram pouco em comparação com o que os gregos e romanos viviam. Pode-se afirmar que a mudança principal ocorreu na maneira como é vivenciada, divulgada e vista. Enfim, a sociedade ainda vive explicitamente influenciada pela cultura clássica, no que diz respeito aos corpos, a mídia, a moda e a produção cultural.

FICHA TÉCNICA:

AMOR, SEXO E TRAGÉDIA – COMO GREGOS E ROMANOS INFLUENCIAM NOSSAS VIDAS ATÉ HOJE

Autor: Simon Goldhill
Editora: Zahar
Páginas: 300
Ano: 2007

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo & tragédia: como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Tradução Claúdia Barbela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2007.

CARLOS BRAZIL, Universia Brasil, Maio 2005. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/ciencia-tecnologia/noticia/2005/05/27/481369/humanidade-no-pos-segunda-guerra.html# >. Acesso em: 15/03/2017.

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Hera – A grande mãe

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Hera é a grande deusa da Mitologia Grega. A rainha dos deuses é irmã e esposa de Zeus. Em Roma é conhecida como Juno. Preside o casamento e a fidelidade conjugal.

O nome Hera significaria a Protetora, a Guardiã. É uma deusa solene, e comumente retratada com o pólos (uma coroa usada por várias deusas).

Sua ave favorita é o pavão por possuir muitos olhos como os quais podem vigiar o esposo. O lírio, símbolo da pureza e a romã, símbolo da fecundidade também lhe eram consagrados. A vaca também lhe está associada, sendo um símbolo da Grande Mãe, mas no caso de Hera, daquela que derrama o leite dos céus, da via-láctea.

Junto com Zeus, ela exerce uma ação poderosa sobre os fenômenos celestes. Hera pode desencadear tempestades e comandar os astros que adornam a abóbada celeste. O casal celeste controla o sol e a chuva que promovem a fecundação da terra.

Hera é uma deusa cretense, sendo uma transposição da grande Mãe. Como grande Mãe teve um culto especial na Lacônia, Arcádia e Beócia em seu aspecto de fecundidade. Mas posteriormente ela foi convertida em deusa do casamento.

Geralmente retratada como ciumenta, agressiva e vingativa. Vive se vingando das traições do marido, perseguindo as amantes e os filhos do adultério. Uma de suas vítimas foi Heracles (Hércules) a qual impôs os célebres 12 trabalhos.

Conforme Brandão (1986), Hera é a esposa rabugenta de Zeus. A deusa que nunca sorriu! Penetrando nos desígnios do marido, vive a fazer-lhe exigências e irrita-se profundamente quando não atendida com presteza. Para ela os fins sempre justificam os meios. Para atingi-los usa de todos os estratagemas a seu alcance: alia-se a outros deuses, bajula, ameaça, mente.

Mas apesar da mitologia grega enfatizar a humilhação e a índole vingativa de Hera, ela era por contraste grandemente honrada e venerada. A despeito da infidelidade de Zeus, a relação dos dois nunca foi muito normal. A raiva e a vingança pontuam sua relação em outros aspectos, mostrando que elas se originam de outro motivo.

Certa vez, como narra o mito de Narciso, Hera discutia com o marido para saber quem conseguia usufruir de maior prazer no amor, se o homem ou a mulher. Como não conseguissem chegar a uma conclusão, porque Zeus dizia ser a mulher a favorecida, enquanto Hera achava que era o homem, resolveram consultar Tirésias, que tivera sucessivamente a experiência dos dois sexos. Este respondeu que o prazer da mulher estava na proporção de dez para um relativamente ao do homem. Furiosa com a verdade, Hera prontamente o cegou (Brandão, 1986).

Dificilmente podemos citar uma história mítica onde Hera não tenha uma participação mais ou menos importante.

Podemos citar como seus principais mitos (Wikipédia, 2014):

  • Seu casamento com Zeus: e a sedução feita pelo deus sob a forma de um pássaro cuco;
  • O nascimento de Hefesto: que ela teria gerado sozinha e lançado do céu, porque ele era aleijado;
  • Sua perseguição aos consortes de Zeus: especialmente Leto, Semele e Alkmene;
  • Sua perseguição aos filhos bastardos de Zeus, como Herácles;
  • A punição de Ixion que foi acorrentado a uma roda de fogo por tentar violar a deusa;
  • A assistência aos Argonautas em sua busca pelo velo de ouro, sendo o líder Jasão um de seus heróis favoritos;
  • O julgamento de Paris, no qual ela concorreu com Afrodite e Atena, para o prêmio da maçã de ouro;
  • A Guerra de Tróia, em que ela favoreceu os gregos;

Hera é uma deusa obstinada e com uma disposição a brigas, que às vezes fazia seu próprio marido tremer. Tanto que um dos poucos filhos que ambos tiveram foi Ares, o deus da guerra. Simbolizando os conflitos conjugais do casal, mas também a discórdia e a rixa entre o patriarcado e o matriarcado que havia perdido a sua força.

Essa disposição para a briga já fez com que Zeus batesse várias vezes nela. Hera geralmente cede diante da raiva do marido, mas recorre à astúcia e intrigas para atingir seus objetivos. Hera é a deusa que apresenta qualidades e defeitos de forma mais marcante em todo panteão grego.

Ela se consolidou como deusa do casamento na época em que as regras, normas e leis do patriarcado entravam em vigência e nesse caso eles necessitavam de um representante da monogamia. O que é muito estranho para uma deusa representante da Grande Mãe ser eleita de forma a simbolizar uma lei, já que o matriarcado é justamente pontuado pela falta de regras e pela sensualidade e fecundidade.

Hera pode ser considerada uma deusa ferida, em sua feminilidade. Pois como uma poderosa deusa da fecundidade e que precedeu Zeus em veneração, ela assume um papel secundário que lhe foi dado a lado do marido com o advento do patriarcado. Zeus é o macho fecundador e ela apenas a sua consorte. Seus aspectos de fecundidade foram relegados suprimidos.

Como vimos na discussão da sexualidade masculina e feminina entre o casal celeste, Hera passou assumir um requisito patriarcal para organização da instituição familiar, a fidelidade. Enquanto que Zeus, inquestionavelmente pai e soberano dos deuses é uma expressão exuberante do fertilizador, que é a característica essencial da sensualidade matriarcal (Byington, xx).

Entretanto ela ainda carrega consigo traços matriarcais, como o famoso “olho por olho, dente por dente”. E enquanto feminino desprezado e humilhado ela então passa a perseguir e se vingar justamente das mulheres isentado seu esposo do adultério. É como se ela quisesse dizer: “Já que sou humilhada você também será!”. No plano pessoal vemos Hera em muitas mulheres que em nome da instituição do casamento suporta agressões e infidelidade. Anulando seus desejos em prol da imagem de esposa perfeita.

O arquétipo de Hera proporciona capacidade de estabelecer elo, de ser leal e fiel, de suportar e passar pelas dificuldades com companheiro (Bolen, xx). Em termos psicológicos ela simboliza um amadurecimento da psique onde homens e mulheres assumem um compromisso de lealdade com seus processos psíquicos e suportam as provações em nome de algo maior, que não se sabe explicar nem nomear. Esse compromisso pode ser projetado no outro, entretanto, é um compromisso consigo mesmo.

O casamento é uma forma de se chegar à totalidade e iniciar o processo de individuação e Hera representa a fidelidade ao inconsciente e ao próprio processo de individuação. Seu amor é um amor amadurecido, em oposição ao amor erótico e passional de Afrodite, e por isso Hera tinha nessa deusa sua maior rival.

Ela representa o amor onde a fase da paixão acaba e as projeções começam a serem retiradas e passamos a ver o cônjuge como ele é, sem os idealismos do animus ou da anima. E nesse momento, em que vemos o outro como ele é, podemos nos sentir traídos, pois aquele homem ou mulher com quem nos casamos não é mais o mesmo. Na verdade vemos a pessoa sem as máscaras e nossas ilusões caem trazendo uma carga de sofrimento. Mas é nessa hora que a personalidade pode dar um salto de desenvolvimento com a assimilação das qualidades que projetávamos em outro.

O arquétipo de Hera é poderosíssimo e extremamente realizador. É um símbolo da coniunctio, operação alquímica onde ocorre o casamento sagrado com nossa contraparte interior (animus ou anima). Entretanto é um dos mais destrutivos em seu aspecto negativo. Por essa razão, Hera era adorada e ao mesmo tempo desprezada.

Hera e Zeus formam um par de opostos em nossa psique, nossas necessidades de união e compromisso e nossas necessidades de transgressão as normas e fecundidade que gera um processo criativo. Ficar preso demais as regras e leis pode ser estagnador e nocivo, e ficar preso à pura sensualidade não traz desenvolvimento psíquico, nem amadurecimento. Por isso Hera e Zeus representam duas forças colossais com as quais a humanidade tenta se entender a séculos. E a busca do equilíbrio entre elas é algo que demanda muita energia e trabalho.

Quando o arquétipo de Hera é constelado, sabe-se que há uma busca de comprometimento da psique, uma união sagrada ocorrerá em breve, mas que trará também o estigma da traição e da transgressão que poderá gerar frutos se ambas forem compreendidas e reverenciadas.

 

 

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Atena e o arquétipo da sabedoria

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Atena, também conhecida como Palas Atena, ou Minerva em Roma, é na mitologia grega, uma das principais divindades de seu panteão e uma dentre os doze deuses olímpicos.

É a deusa da guerra, da civilização, da sabedoria, da estratégia, das artes, da justiça e da habilidade.

Em seu mito mais famoso ela é filha de Zeus e não conheceu sua mãe, Métis. Atena nasceu da cabeça do pai plenamente armada.

Em As Deusas e a mulheres, Jean Shinoda Bolen cita:

“Como relata Hesíodo, Métis foi a primeira esposa real de Zeus, uma divindade do oceano, que ficou conhecida por sua sabedoria. Quando Métis estava grávida de Atenas, Zeus a enganou tornando-a pequenina e a engoliu. Foi profetizado que Métis teria dois filhos muito especiais: um a filha igual a Zeus em coragem e sábia resolução, e um filho, um rapaz de coração totalmente cativante, que se tornaria rei dos deuses e dos homens. Ao engolir Métis, Zeus contrariou o destino e assumiu o controle dos atributos dela como se fossem seus.”

Tão logo saiu da cabeça do pai, soltou um grito de guerra e se engajou ao lado do mesmo na luta contra os Gigantes.

Jamais se casou ou teve amantes, mantendo virgindade eterna. Era imbatível na guerra, nem mesmo seu irmão Ares lhe era páreo. Foi padroeira de várias cidades, mas se tornou mais conhecida como a protetora de Atenas e de toda a Ática. Também protegeu vários heróis e outras figuras míticas, aparecendo em uma grande quantidade de episódios da mitologia.

Como deusa da guerra Atena é a perfeita antítese de Ares, o outro deus encarregado desta atividade. Atena é dotada de profunda sabedoria e conhece todas as artes da estratégia, enquanto que seu irmão carece de bom senso, prima pela ação impulsiva, descontrolada e violenta, às vezes, no calor do combate, mal sabe distinguir entre aliados e inimigos. Por isso Ares é desprezado por todos os deuses, enquanto que Atena é universalmente respeitada e admirada.

Atena é complexa e cheia de nuances, enquanto guerreira era defensora das cidades, mas também tinha características de Grande Mãe, sendo uma deusa da fertilidade do solo, devido ao fato de estar ligada a Dioniso quando solenemente se levavam a ela ramos de videira carregados de uvas. E também na disputa com Posseidon pelo domínio da Ática e, de Atenas, onde ela fez brotar da terra a oliveira, sendo, por isso, considerada como a inventora do “óleo sagrado da azeitona”.

Pintura retratando a deusa Atena (centro), acompanhada pelas musas

Mas antes de qualquer coisa, ela é a deusa da inteligência, da razão, do equilíbrio, da sabedoria, da diplomacia e do espírito criativo. Ela submete a guerra ao intelecto, à disciplina e à ordem. Ela equilibra justiça e razão.

Atena é aquela que cria a cultura e a civilização. Ela preside às artes, à literatura e à filosofia, à música e a toda e qualquer atividade do espírito. Ela também preside aos trabalhos femininos da fiação, tecelagem e bordado.

Conforme Junito Brandão em Mitologia Grega Vol 2, o perfil de Atena, como o de Zeus e o de Apolo, evoluiu consideravelmente, de maneira constante e progressiva, no sentido de uma espiritualização. Ela evoluiu de mãe ctônica a um perfil de mulher inatingível que inspira os homens na luta.

Minerva e Centauro, Sandro Botticelli (1444/45-1510)

Atena, então se configura como o arquétipo da Anima, enquanto Sofia, ou seja, aquela que inspira o homem. Em sua mitologia esse aspecto inspirador se manifesta nos mitos de Aquiles, Héracles, Perseu e Ulisses. Atena concedeu sua proteção a esses heróis, concedendo a sabedoria do espírito à força bruta, levando a conseqüente transformação da personalidade do herói e à vitória.

Arquétipo, então da inteligência socializada, da espiritualização das emoções, da racionalidade. Não tendo mãe, e nascendo da cabeça de Zeus, Atena representa também o patriarcado, com suas leis e estratégias, isso está evidente quando Atena tomou o partido do patriarcado, dando o voto decisivo a Orestes.

Orestes tinha matado sua mãe Clitemnestra para vingar o assassinato de seu pai Agamêmnon. Apolo falou em defesa de Orestes, alegando que a mãe era apenas a nutridora da semente plantada pelo pai, proclamou o princípio de que o macho predomina sobre a fêmea e citou como prova o nascimento de Atena que não nascera do ventre de uma mulher. O voto dos jurados foi empatado quando Atena deu o voto decisivo.

Moeda antiga da Grécia, deusa Atena com capacete (630 a.C.)

Atena representa a nossa curiosidade intelectual, nossa necessidade de socialização e realização no mundo. Quando esse arquétipo é ativado sentimos necessidade de instrução, de uma busca de conhecimento mais elevado.

O grande problema de uma identificação unilateral com esse arquétipo está na repressão exacerbada das emoções. Atena repudiava manifestações desenfreadas das emoções, ela era comedida. Entretanto, o não reconhecimento das emoções gera neurose e até somatizações.

O mecanismo de defesa utilizado pelo ego, nesse caso, é o da racionalização. O que faz o individuo se manter longe de qualquer espécie de sofrimento. O individuo começa a ter pouca intensidade emocional, atração erótica, intimidade, paixão ou êxtase.

A mulher que se identifica com esse arquétipo e não se abre a outras possibilidades, focando apenas em seus estudos e carreira pode se tornar intragável. Ela passa a desprezar as outras mulheres e a preferir apenas o contato com os homens, que são vistos como aliados.

A sombra de Atena se apresenta no mito da górgona Medusa. A deusa usava em seu escudo a cabeça da Medusa que foi morta por Perseu, graças a sua ajuda.

A Medusa é um complexo que petrifica, tirando a vitalidade, espontaneidade e qualquer forma de vida do indivíduo. Ela desvitaliza com o seu olhar, transformando a vida em pedra.

As emoções renegadas se tornaram um complexo autônomo inconsciente. Somente quando Atena encara, com a ajuda de Perseu, essas emoções renegadas, ela passa a conhecê-las e a ter controle sobre elas

Conforme Junito Brandão em Mitologia Grega Vol.2, a cabeça de Medusa colocada no centro de seu escudo é como um espelho da verdade, para combater seus adversários, petrificando-os de horror, ao contemplarem sua própria imagem.

Atena passa então a utilizar as emoções destrutivas ao seu favor, no momento correto, sem reprimi-las no inconsciente.

Portanto, esse arquétipo é que nos permite manter a calma, quando estamos a ponto de explodir em uma situação de forte carga emocional e assim desenvolver boas táticas em meio aos conflitos, e dessa forma enxergarmos com mais clareza situaçõesem que antes ficávamos “cegos”.

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