Se na presença já existia ausência, como fica a falta no virtual?

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Um cansaço tem me tomado diariamente, constantemente, faço tanto, faço mais e ainda estão faltando, não acaba mais, me socorro diante de tamanha cobrança e não raro, mas com frequência percebo pessoas tão bem preparadas, agora afetadas pela aceleração da vida e de tudo, uma nova forma nascendo, acelerando sempre dentro de nós.

Tento olhar com calma e de posse das emoções, nomeá-las, saber de onde veem e por que veem, se têm sentido e pra onde irão, como irão, um turbilhão de exigências, muita comparação, muito volume, pouco aproveitamento e pouca aplicação. 

Ampliaram-se os graus de exigências pelas salas virtuais, reuniões virtuais, encontros virtuais, cafés virtuais e uma nova forma de adoecimento e alegria virtual, relacionamentos e vazios se conectam e como fica o isolamento, não o físico, mas sim o psicológico.

Novos padrões me fazem questionar, o que pode em mim caber, o que faz sentido seguir ou ter, ou ser. Tão rápida a informação, tão frágil, tão fake, com tanta potência e impacto para tantos. 

Como não entrar nesse turbilhão, e se entrar como não se perder nele, como se encontrar diante de tantas possibilidades e caminhos perdidos.

Fica aqui uma reflexão para os nossos porões, nossos pequenos quartos fechados, colados pra dormir, que acordem, que se abram portas e se entre ar para limpar os pulmões dos cômodos e gavetas fechadas. Que o ar traga fluidez e recompensa pelas escolhas feitas, as bem-feitas e as mal-feitas, que fazem parte de um crescer, apenas desejo que cada um possa perceber e em si se encontrar, na presença do seu eu, real, não virtual.

Não é apenas meu este sentimento, escrevi porque ouço relatos, escuto depoimentos do dia cansado, das conquistas efêmeras, pouco aproveitadas e pouco curtidas, na maioria isolada. Tão rápida outra já nem pede licença, mas entra e invade sem nem perguntar.

Assim vão seguindo sem presença, na presença, nem no virtual, uma falta sem fim. Busca em cima de busca, que não acaba mais, olhe a sua volta, depois de olhar-se no espelho, será que só eu estou cansada.

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Antes tarde do que nunca

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Não lembro se já falei disto, tal como falarei agora. Caso o tenha feito, que me perdoe o leitor. É que, às vezes (às vezes?), sou mesmo repetitivo. Ora o faço por provocação (provocação tola talvez), ora, não. Involuntariamente de vez em quando, diria. Vamos lá, então. Quero falar do pensar calado. Aliás, lembro-me agora de que já tratei disso, sim, em 2008 ou 2009. Contudo, vamos lá! Não faz mal.

Fui, sempre fui, ao longo da vida, uma pessoa introspectiva. Era um menino tímido e vergonhoso, cerimonioso, sempre muito metido consigo mesmo, que pensava muito, porém calado, sem revelar o que sentia a quem quer que seja. Assim era, como ainda sou, com projeto de maior monta, mas também com coisas simples, como, por exemplo, pôr no quadro um cartaz que achara bonito.

Vem daí o não desistir facilmente dos meus sonhos, anseios, planos ou coisa que o valha. Sempre adiei muito as coisas, passava anos, pensando calado em fazer determinada coisa, levar a efeito determinado projeto. Isso é verdade. Só que adiava, mas não desistia, como ainda adio, mas, geralmente, não desisto – nem fácil nem dificilmente – dos meus projetos. Adiar, se necessário, sim; desistir, nunca! Eis aí o meu lema.

Falei de cartaz parágrafo acima porque pretendo citar um exemplo acerca do qual falei hoje cedo ao telefone com uma amiga muito querida. Refiro-me a um quadro que possuo na minha modesta biblioteca. Passei, mais ou menos, de 1992 a 2009 com ele guardado, pensando em mandar pô-lo no quadro. Um belo dia o fiz. Pode haver pequeno equívoco de datas aí, tipo 1993 ou 1994 em vez de 1992, e 2010 em vez de 2009. Mas foi isso. Um cartaz, um simples cartaz, mas eu não desisti. Demorou demais? Talvez. Penso que não, porque não havia razão para a pressa.

Muita gente, eu sei, pode pensar e dizer que isso é besteira, ou, pior ainda, que é errado. Concordo, talvez sejam mesmo as duas coisas ao mesmo tempo: erro e besteira, não necessariamente nessa ordem. É, contudo, meu jeito de ver, pensar e agir. Embora respeite a quem pensa e age diferentemente, sempre fui adepto da filosofia do antes tarde do que nunca. É! Eu sou assim mesmo, e daí? Quer ser diferente? Seja!… Às vezes, sou mesmo cínico, ou (como queiram) debochado, mas somente um pouquinho. Já me cansei de viver sempre muito seriamente e sofrer com isso.

E olhem que, um pouquinho debochado ou não, eu vivo quase a morrer de angústia, ansiedade, aborrecimentos e sentimentos que tais, com pessoas e instituições. Viver seriamente é muito difícil e penoso, não vale a pena. O outro, o semelhante, o próximo, o seu como chama, o coisa que o valha é, quase sempre, muito complicado, embora, não muito raramente, o problema esteja em nós mesmos. O outro é o bicho, conquanto, em relação aos demais, todos nós sejamos o outro. Você já pensou nisso? Se não o fez, faça-o! É muito proveitoso e leva a mudar de atitudes (às vezes, claro).

Pois é. Eu pensava calado sempre. Pensava. Isso, contudo, era quando solteiro. Agora, casado, minha mulher me obriga a pensar alto, a falar o que penso. É verdade! Às vezes, de tanto ouvi-la falar de determinados assuntos ou projetos, vejo-me obrigado a revelar-lhe que, há tempo, ando pensando sobre a mesma coisa e planejando fazer isso ou aquilo. “Quando?”, ela, quase invariavelmente, me pergunta.  “Ah, isso não sei! No tempo devido”, quase invariavelmente, lhe respondo.

Não desista jamais dos seus sonhos! Antes tarde do que nunca. Eu acredito nisso. A demora, às vezes, traz benefícios. Tudo depende do caso concreto. O que não vale, repito, é desistir. Pensar e guardar em silêncio o que pensa, não raro, faz muito bem, a depender do assunto e da situação, claro.

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