IV Mostra – um evento que mudou meu conceito sobre a Saúde Pública no Brasil

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Primeiramente devo dizer que fiquei lisonjeada ao ser convidada pela Coordenadora dos cursos de Comunicação Social do CEULP/ULBRA – Irenides Teixeira, para fazer parte da equipe de mídia colaborativa do Projeto (En)Cena na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica.

Durante o evento desenvolvemos atividades na área da comunicação, abrangendo fotografia, produção audiovisual, textos entre outras. Assim, além de informar o público sobre a IV Mostra, tivemos a oportunidade de nos aprimorar nas áreas atuadas.

Equipe de mídia colaborativa do (En)Cena na IV Mostra – Foto: Irenides Teixeira

Sobre a minha participação, posso afirmar que conhecer distintos projetos desenvolvidos em todo o Brasil, englobando a temática Saúde Pública, me possibilitou quebrar o preconceito a respeito do assunto, pois pude perceber que esse sistema é feito diretamente pelos próprios brasileiros que trabalham nele, e não pelo governo como muitos pontuam. E com a alegria e dedicação que eles levam adiante seus projetos, mesmo com todas as dificuldades, é claramente percebível que há muitas pessoas empenhadas e dispostas a fazer a mudança na Saúde Pública do Brasil.

Oficina que possibilitava a troca de experiências entre participantes através de relatos dos projetos desenvolvidos – Foto: Beatriz Cruvinel.

 Já no último dia, finalização das atividades com roda de maracatu aberta aos presentes na IV Mostra – Foto: Beatriz Cruvinel

Oficina na tenda Paulo Freire – Foto: Beatriz Cruvinel

Além do conhecimento dos projetos, com as diversas expressões artísticas e culturais desenvolvidas na IV Mostra, pude vivenciar um pouco mais os “Brasis” que temos. Assim, em quatro dias, tive a grande oportunidade de participar de um intercâmbio riquíssimo que agregou valor não somente à minha vida como profissional de comunicação, mas também, e principalmente, à minha vida pessoal e como cidadã brasileira. Sem dúvida alguma, foi uma experiência inesquecível.

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Raphael Henrique Travia: do desespero à militância

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Raphael andou um longo percurso até receber o diagnóstico adequado – Foto: Michel Rodrigues

Raphael Henrique Travia tem 28 anos, é natural de São Paulo, e mora grande parte de sua vida no interior de Santa Catarina. Ele tem transtorno bipolar, é autor do site “Folha de lírio: O Jornal Virtual da Saúde Mental”, uma referência em notícias que abordam a luta das pessoas em sofrimento psíquico. Quando tinha 15 anos e ainda morando na grande São Paulo, começou a ter alguns surtos, mas demorou muito tempo para descobrir a patologia. Passou por vários hospitais psiquiátricos, por diversos CAPS e os médicos não conseguiam diagnosticá-lo corretamente; eles achavam que Raphael tinha esquizofrenia, “já que eu só apresentava apenas a parte triste do transtorno bipolar, não havia a euforia”, recorda.

Aos 19 anos, Raphael mudou-se para o Meio Oeste de Santa Catarina, uma vez que o seu irmão havia lhe arrumado um emprego numa agroindústria da região. “Acabei surtando lá dentro, na linha de produção”. Raphael foi conduzido para o CAPS I de Herval D’ Oeste, mas não obteve sucesso no tratamento. Aos 23 anos, mudou-se para Joinville com sua família, mas o início do tratamento na cidade dos príncipes não foi fácil… Houve até um médico, ele lembra, que dizia que ele era o eterno “Peter Pan”, que ele tinha que crescer, pois “tudo o que eu começava eu não terminava”. Raphael não conseguia permanecer na faculdade nem nos empregos. “Ele [o médico] falava que eu já tava velho e que eu tinha que parar de ser criança”, comenta, para emendar que, com isso, descartou a hipótese de esquizofrenia.

Raphael continuou fazendo um tratamento na Atenção Básica, com uma terapeuta ocupacional bastante conhecida de Joinville. Por trabalhar na área há mais de 20 anos e ter ajudado a estruturar toda a rede de saúde mental da cidade, “ela me entendia muito”, explica. “O objetivo dela era que eu voltasse a trabalhar, e todo o tratamento era para que isso acontecesse. E aí eu comecei a fazer um curso de aprendizagem no Senai e no meio do ano eu vi que tinha vestibular para o Instituto Federal de Santa Catarina. Passei no vestibular, fiz seis meses de Mecatrônica, um curso totalmente baseado na matemática, e apesar de todo mundo ter muita educação, ninguém falava com ninguém”, recorda. “Percebi que eu tinha dificuldade com a matemática, e o IF-SC ofereceu outro curso, de Gestão Hospitalar. Daí eu pensei que este curso poderia ser um pouco mais fácil, e senti que podia concluí-lo. Só que quando eu troquei de curso no primeiro semestre de 2010, eu comecei a me sentir incomodado, e aí apareceu a fase da euforia, pois as coisas estavam dando certo, eu tinha acabado de entrar na faculdade, e eu não parava de dar risadas”, conta.

Atualmente Raphael possui uma vasta experiência na área de Saúde Mental, e foi convidado pela Mostra para falar um pouco de suas experiências – Foto: Michel Rodrigues

Conduzido ao Pronto Atendimento Psicossocial (PAPS), uma espécie de ambulatório em Saúde Mental da cidade, julgaram que Raphael não tinha nada que configurasse situação de emergência, e sua consulta foi marca para alguns dias depois. Nesta espera, ele teve um surto na sala de aula. Assustado, o pessoal da sala falou que se ele não estivesse feliz lá [no curso de Gestão hospitalar], poderia então voltar para a Mecatrônica. “A minha professora tinha ido para a sala dos professores, eu saí da minha sala fui atrás dela, quando a encontrei eu comecei a falar que não aguentava mais as pessoas, estava um pouco agressivo e comecei a chorar. Quando ela [a professora], percebeu que eu estava tendo um surto, ligou imediatamente para o SAMU, mas o serviço não quis fazer o atendimento. Como a professora é também enfermeira, convenceu a equipe a vir à faculdade”, lembra-se. O SAMU então o levou para o Hospital Regional de Joinville. Como já era noite, o psiquiatra só retornaria no dia seguinte, às 7h30. “Eu e minha mãe não queríamos ficar ali esperando a noite inteira. Então pegamos um táxi e fomos para casa”, conta.

Dois dias depois, Raphael foi para o CAPS III e fez o primeiro acolhimento, passando então uma semana no local. Uma psiquiatra (Dra. Carla) começou a tratá-lo com ácido valpróico, já que acreditava que o lítio (recomendado para o tratamento de bipolaridade) não resolveria mais o seu problema. “Lembro que ela me falou para fazer o tratamento direitinho e parar de ter surtos, pois um dia eu não iria conseguir mais voltar ao normal”, comenta.

No fim da primeira semana de tratamento no CAPS, ia ocorrer a Conferência Regional de Saúde Mental, e Raphael saiu do período de hospitalidade e já foi direto para a Conferência. Lá, ele conseguiu ser eleito delegado para participar da conferência estadual e pouco tempo depois chegou a participar da etapa nacional do evento. Nesse meio tempo, a sua mãe – que é psicóloga – não aceitava muito aquela circunstância. Ela julgava que Raphael não merecia passar por tudo aquilo, pois além de ter nascido com uma deficiência física, sequela da falta de oxigênio em seu cérebro no momento de seu nascimento, agora acabara por ser diagnosticado com transtorno mental. “Eu e meu irmão fomos criados pela nossa mãe. Quando eu tinha cinco anos meus pais se separaram, e não tive convivência com meu pai. Apesar de ser psicóloga e de ter trabalhado muito tempo com usuários de álcool e outras drogas, ao se deparar com uma situação destas dentro de casa, é outra história. Minha mãe estava confusa, dizia que eu não merecia passar por aquilo, por quê Deus tinha feito isso comigo”, relata. A família é membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mórmons).

Ao ser eleito para a etapa nacional da Conferência, devido ao fato de estar medicado, Raphael tinha direito de ir com um acompanhante. Foi então que ele levou a sua mãe. Lá, ela conheceu outras famílias e outras pessoas que também têm o mesmo problema, e percebeu que isso não acometia somente o filho dela. “Ou seja, passou a ver que podia acontecer com qualquer um. E aí percebeu a importância de eu fazer o tratamento no CAPS, já que quando eu fazia [o tratamento] nos hospitais, eu sempre voltava muito pior do que eu tinha ido”, relata.

Assim, Raphael esteve em acompanhamento terapêutico no CAPS III 24 Horas de Joinville durante os anos de 2010 e 2011; paralelo a isso, o pessoal da faculdade foi no CAPS e fez uma parceria, pois mesmo sendo de uma faculdade que tinha um curso na área de saúde, “estava difícil para eles entenderem a situação”. Raphael conta que na sua turma, de 40 alunos, havia cinco pessoas com transtorno mental grave, e quando ele surtou, “o surto dos demais também apareceu”, conta,entre risos. Raphael, no entanto, conseguiu terminar o curso e se formar em abril de 2013.

Durante o período de estudos, ele era aposentado por invalidez, teve oportunidades de fazer pesquisas pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), passou a ganhar uma bolsa (o que ele acumulou com a aposentadoria, com previsão legal), e também enfrentou algumas resistências. “Eu procurei uma professora minha, para que ela me colocasse para fazer pesquisa, mas ela estava com medo, pois havia visto o meu surto”, lembra. “Depois de um tempo eu consegui fazer a pesquisa, e foi aí que nasceu a Folha de lírio”, conta, em referência ao jornal virtual com notícias voltadas para a saúde mental. “Durante a pesquisa, eu vi que todos os serviços de saúde mental de Joinville estavam na página de saúde mental da prefeitura, menos o CAPS III, que já existia há pelo menos três anos. Ou seja, os serviços não estavam sendo atualizados nas páginas oficiais. Foi daí que surgiu a ideia de eu fazer o website”.

Inicialmente Raphael contou com o apoio financeiro da bolsa de estudos fornecida pelo CNPq para arcar com a confecção e hospedagem do site. Quando a bolsa de estudos acabou, o site foi mantido com o auxílio de seus familiares. A primeira projeção só viria com a inscrição do trabalho no 2° Laboratório de Inovação e Participação Social da OPAS (Organização Pan Americana da Saúde, ligada à Organização Mundial de Saúde). Ele foi selecionado para apresentar o projeto neste Laboratório, sendo que de 10 trabalhos do Brasil inteiro, o de Raphael estava lá. “Então eu apareci em jornais, fui na televisão, várias pessoas me procuraram para saber mais detalhes. Foi tudo muito recompensador. Na época eu fiquei marcado como alguém que sabia demais de saúde mental, os meus professores já não aguentavam mais porque tinha coisas que eu falava que eles ainda não sabiam, e eles tinham que correr atrás”, recorda.

Há menos de 1 ano,  Raphael Henrique Travia conseguiu passar no concurso público para o IF-SC (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina), no sistema de cotas para Pessoas Com Deficiência (PCD). Ele foi lotado na cidade de Canoinhas, no norte catarinense, a 380 km de Florianópolis.

O sonho de Raphael é volta a Joinville para poder se engajar na Rede de Atenção Psicossocial da cidade – Foto: Michel Rodrigues

Sobre a recente participação na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família, ocorrida em Brasília entre os dias 12 e 15 de março último, Raphael diz ter ficado atento aos editais do Ministério da Saúde, até que percebeu, ainda em 2013, que a Mostra iria reservar um espaço considerável para os laboratórios de inovação. “Então eu mandei um e-mail para o departamento de Atenção Básica, os organizadores da IV Mostra, e eles me convidaram para que eu fizesse o relato na Comunidade de Práticas [do SUS] sobre a experiência com a Folha de Lírio. Eles acharam a iniciativa legal, e em seguida fui convidado a colocar os relatos de experiência na Rede HumanizaSUS”, conta. Raphael “postou” várias matérias que havia feito para a Folha de Lírio na Rede HumanizaSUS, o pessoal começou a gostar e surgiu então o convite para participar da Mostra. No evento, Raphael participou do “Encontro de Humanautas” e da “mesa dos blogueiros em rede” do CiberespaSUS.

Paralelo a isso, Raphael havia tido contato com o coletivo tocantinense (En)Cena. “Eu comecei a ver no Facebook aquelas postagens, aquelas frases de impacto sobre saúde mental. Foi daí que eu entrei em contato com a Irenides [Teixeira, coordenadora do (En)Cena e professora do CEULP/ULBRA] e compartilhei alguns escritos com ela. Então ela me explicou a proposta do projeto e eu pude fazer algumas publicações”, lembra.

Em relação ao futuro, Raphael pretende voltar para Joinville (cidade que diz amar), onde quer estar mais presente na Rede de Atenção Psicossocial da cidade, além de colocar seu projeto para concorrer a outros editais. “Hoje eu olho para trás e me orgulho, por tudo o que passamos [eu e minha família]. Mas ainda há muito a ser feito, e disposição para correr atrás temos demais”, arremata.

Saiba mais sobre a Folha Delírio: acessar http://www.folhadelirio.com.br/

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O papel do Cuidado na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica – Saúde da Família

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“O cuidado mais que uma técnica ou uma virtude entre outras,
representa uma arte e um paradigma novo de relação
para com a natureza e com as relações humanas,
amoroso, diligente e participativo.” 

Leonardo Boff (2012)

Foto: Paulo André Borges

Falar de saúde sempre foi um problema, não só pela gama de concepções do tema, mas pela dificuldade em se definir o que é doença. A discussão é ampla, e abre um horizonte de possibilidades e de aspectos (filosóficos, éticos, técnicos, religiosos etc) pelos quais o assunto pode ser tratado/concebido/empregado.  Prevendo não me alongar, já que não seria difícil me perder em meio às muitas ideias, me proponho a abordar saúde pelo viés do Cuidado. Mas um tipo específico de cuidado, um peculiar, e que teve um papel de protagonismo durante as atividades da IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica – Saúde da Família.

O cuidado a que me refiro – deixando bem claro que em nenhum momento ele se distanciou ou perverteu-se das literaturas –  do contrário, encontrou no território do evento um lugar de credibilidade, e tornou-se verdade na fala de cada um.

Estou falando de um cuidado real que é praticado e exercido, para além de uma técnica respaldada por uma teoria, um cuidado relacional que emergia em que cada sorriso, cada olhar, cada fala, e foi ganhando forma pela pluralidade de experiências disseminadas num espaço real.

No território da amostra as experiências encontravam lugar comum e seguro para serem compartilhadas, e somavam-se, uma a uma. Dada as diversidades que lá convergiam, vindas das mais diversas regiões do país, o ponto de encontro, e precisamos frisar que era um encontro respeitoso, pautado numa ética e inebriado por uma afetividade que inundava as cenas.

As palavras ganhavam significado e se tornavam significantes que se confirmavam a cada nova experiência relatada/apresentada. Mas preciso fazer uma ressalva para a atmosfera que circundava o Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB) de Brasília/DF, local do evento. A publico, em grande maioria técnicos dos serviços (agentes de saúde, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, psicólogos, dentistas, fisioterapeutas, médicos, enfermeiros, secretários municipais e estaduais de saúde etc), estavam mais que abertos a receber informações, o que, acredito eu, fez toda diferença.

Foto: Paulo André Borges

Pelo viés de receptividade e reciprocidade, os relatos eram ouvidos/recebidos/percebidos/sentidos/significados a partir da realidade do outro, e contrapondo a realidade social/política/econômica/espiritual/cultural do eu, ganhavam uma verdade individual – de acordo com cada realidade de prática em promoção de saúde/cuidado – e que se traduzia no nós.

Esse Cuidado era captado não apenas nas falas, mas também nas relações interpessoais e subjetivas de trocas e afetos que se davam compulsoriamente dentro daquele espaço.

Dos encontros, emergiam novos olhares. E por mais que os projetos traziam ações distintas advindas de realidades diversas – o que é também uma característica geografia, social e política do nosso país – elas proporcionavam, pelos encontros coletivos, um contraponto de ideias que resultavam em novas ideais/possibilidades/ambições tecnológicas, que emergiam ali nos espaços relacionais e nas rodas de conversa/sentido/significância.

Toda voz era ouvida. Não porque o cuidado esteja embebido num saber único e de superioridade, mas porque ele nasce da necessidade do outro e da possibilidade do eu em oferecer o que é desejado.Estou falando de um cuidado guiado por uma práxis ética e centrada no sujeito, que em suma, parece estar ligado a uma teoria “X” ou “Y”, mas que no fundo diz de Respeito, que é saber ouvir.

As experiências eram diferentes e se destacavam pelo fato de intervirem exatamente na necessidade específica de determinada comunidade – necessidade esta que partia deles (sujeitos desejantes) –  e não da imposição/aplicação de políticas (Pré)determinadas. Desse modo garantia-se uma gestão participativa e colaborativa, como aquela prevista na instituição SUS, e que está cada vez mais escassa em nossas comunidades. E para você que pensa que estou errado (e eu espero mesmo estar) me responda; por quem é formado o Conselho Municipal de Saúde de sua cidade?

Foto: Paulo André Borges

Esse cuidado, que é relacional e respaldado por trocas afetivas, é aplicado por numa metodologia humanizada e igualitária, dentro de cada saber cientifico, por uma equipe (pluri)profissional que deixa de ser técnica/perita, para – quando agindo por este viés – tronarem-se sujeitos investidos de um saber que institui/aplica/gera saúde/direitos.

Se pensarmos na saúde como a possibilidade de

(…) ultrapassara norma que define o normal momentâneo, a possibilidade de tolerar infrações à norma habitual e de instituir normas novas em situações novas (CANGUILHEM, 1995).

A práxis do profissional deve perpassar “o promover” e “o assegurar” as condições necessárias para que o sujeito, a quem se oferece saúde – muito mais que um usuário, um Ser atuante e participativo no seu processo de reabilitação –  tenha um ambiente (externo e interno) no qual ele tenha condições de gastar de consumir sua própria existência (CANGUILHEM, 1995). Desse modo o profissional em saúde se torna muito mais que um técnico, mas sim, um agente/promotor/facilitador de acesso à saúde.

O cuidado que emergia nos discursos, inundavam os espaços e as múltiplas territorialidades que configuravam a IV Mostra, gerando novo olhares, novas verdades, novos conceitos, mostrando/criando novas tecnologias de asseguração e promoção desse cuidado que surge da necessidade do outro, mas que parte uma resposta concisa/consciente/ética/humanizada do eu.

 

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Saúde com Arte: teatro informa a sexualidade

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Há cinco anos, um grupo de agentes comunitários e agentes endêmicos criou o grupo Saúde com Arte, da cidade de Horizonte/CE. A equipe de servidores públicos transmite informação dinâmica sobre temas na área da saúde, principalmente sobre sexualidade, em forma de teatro.

O (En)Cena entrevistou Fabio Sousa, agente de endemias, que está à frente do grupo composto por seis pessoas. Fábio conta sobre o surgimento do projeto e as motivações de trabalhar assuntos por meio da arte e agregar educação e saúde de forma cultural.

Foto Paulo André

Fabio Sousa presente na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica e Saúde da Família

(En)Cena – Como o projeto Saúde com Arte surgiu? O que vocês pretendem com o teatro?

Fabio Sousa – Antigamente, palestras e ferramentas de divulgação da informação eram utilizadas somente de forma oral, com apresentação de slides. Somente texto técnico. Não havia interesse por parte da população. E nós, como agentes comunitários e endêmicos, percebíamos que o nosso principal objetivo, que é informar e mobilizar a população, não estava sendo alcançado. Aí, organizamos um grupo com interesse em arte e cultura e começamos a escrever peças e esquetes teatrais com duração mínima de 20 minutos e temas ligados à saúde.

(En)Cena – Qual é o maior trabalho de vocês?  Em quais locais vocês encenam as esquetes?

Fabio Sousa – A peça carro-chefe do Projeto é O Auto da Camisinha, texto do Ministério da Saúde, é apresentada para adolescentes e jovens a partir de 14 anos. Nos apresentamos em escolas, empresas, praça pública, postos de saúde e demais locais que nos convidam para apresentar.

Foto Paulo André

(En)Cena – Vocês tem financiamento de alguém para o trabalho do Saúde com Arte?

Fabio Sousa – No início, demos a cara à tapa (risos). Cada um dos integrantes da equipe auxiliava da forma que podia. A partir do segundo ano de trabalho, a Prefeitura de Horizonte se interessou pelo projeto e viu que ele atingia os objetivos desejados. Desde então, temos o patrocínio deles.

(En)Cena – Vocês procuram os locais para apresentação ou as organizações requisitam as peças?

Fabio Sousa – Começamos indo aos locais explicar o projeto e então fazer as apresentações. Hoje, como o grupo já está conhecido na cidade e com trabalhos consolidados, muitos órgãos solicitam as nossas peças.

(En)Cena – Ao longo dos 5 anos de atuação, vocês encontraram alguma dificuldade para executar o trabalho? Existem barreiras por causa da temática da sexualidade?

Fabio Sousa – Ainda há um pouco disso sim. Mas nós nos organizamos da seguinte forma: convidamos os pais dos adolescentes para uma conversa explicativa e lá, falamos da importância do teor projeto e de como ele será direcionado aos filhos. A camisinha ainda é um tabu e temos que lidar com o assunto de forma dinâmica e eficaz.

 

(En)Cena – Há algo que você queira destacar sobre o Saúde com Arte?

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Labirinto de Sensações: você não imagina, sente

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Coelhinho e coelhinha me convidam para o labirinto das sensações1.  A entrada do espaço é permeada de preservativos de todos os tipos, tamanhos, cores e sabores 2.

Foto: Divulgação

Ao entrar, me deparei com uma morena, alta, sexualmente maquiada e fantasiada de policial. Me vendou e solicitou, gentilmente, para pegar no que ela dispunha na mão: não sei o que era mas era espinhento, como se fossem feridas em algo roliço. Após, pediu para apontar o dedo indicador ao chão e lá foi mais uma sensação de estranhamento, uma gosma estranha com pequenos resquícios de algo ruim. Aí veio a explicação: órgãos sexuais com doenças sexualmente transmissíveis. “Assim que são órgãos com DSTs. Portanto, se há corrimento, cheiro forte, bolhas e feridas, procure o médico e faça o acompanhamento completo”. (isso em voz sexy)

Próxima: cowboy com discurso nada romântico chama para uma rapidinha: fomos até um painel com fotos de 5 mulheres e 5 homens (todos esculturalmente sedutores). Me pergunta “com qual deles você transaria a noite inteira?”. Escolho alguém e recebo a notícia de que, na situação proposta, o sexo de madrugada foi sem camisinha e, abaixo da foto, a nota: negativa. “Sorte a sua de ele não ter HIV hein? Mas essa sorte pode não te acompanhar a vida inteira. Então, independente da parceria, use sempre a camisinha”.

Andando mais um pouco, um casal com pequenas roupas me venda e fala ao ouvido para unir dois dedos da mão direita e aproveitar a sensação. Em meio a gemidos e vozes sexualizadas, me colocam um preservativo masculino nos dedos e pressionam, assopram e chupam. “Está sentindo? Mesmo com camisinha, a sensação é boa, não é? Dá pra usar o preservativo e sentir prazer. Não tem desculpa: previna-se”.

Cheguei em outra parte do labirinto e a moça fantasiada de enfermeira (ok, todos já entenderam que todos são sexy, certo?) pediu pra eu fazer biquinho e beber o líquido no copo. Bebi. “Ops, você bebeu líquido sexual”. Obviamente não era mas a intenção valeu. O susto foi grande. E me explicou líquidos que transmitem DSTs, os que não transmitem e de quais formas isso acontece. Muito instrutivo sentir na pele.

E finalmente, o último casal me abordou e pediu pra sentar na poltrona. Perguntaram se já havia chupado hoje e me vendaram. Pediram para abrir a boca e pôr a língua pra fora. E eis que o pirulito surge. De tutti-frutti. Tiraram a venda e me informam: “você pode chupar porque é gostoso mas sempre com camisinha. As DSTs são transmitidas pelo sexo oral então cuide todo tempo”.

Foto: Divulgação

Acabou e saí. Fui embora com o pirulito na boca e sensação de… ah, enfim! Você devia ter sentido.

 

Nota:

1 desenvolvido pela Cia Paulista de Artes, de Jundiaí/SP.

2 Espaço montado na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica – Saúde da Família.

 

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Hellen Dias – Cinema Terapia mudou a minha comunidade

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Hellen Dias é Agente Comunitária de Saúde na ESF – Estratégia de Saúde da Família em Caratinga/MG e acadêmica de Psicologia no Centro Universitário de Caratinga. Ela realiza visitas domiciliares em uma micro área em Caratinga/MG, que possui aproximadamente 165 famílias.

Hellen Dias na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica e Saúde da Família
Foto: Michel Rodrigues

A população de Caratinga não conseguia ser totalmente abrangida com um atendimento psicológico individual, pela alta procura aliada a particularidade do processo terapêutico, que muitas vezes requer maior tempo de atendimento. Percebendo isso, Hellen juntamente com o Psicólogo e o Enfermeiro da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bairro Esperança de sua cidade, e na qual ela atua atualmente.

Foi pensando, em alternativas que pudesse atender a comunidade partindo de demandas de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que nasceu no coletivo a ideia de implantar um Cinema Terapêutico. A princípio, foi realizado um levantamento, em busca de identificar a quantidade de pessoas que faziam uso de medicamentos psicoativos. E foi neste momento que surgiu um novo desafio, em meio ao levantamento eles perceberam outra demanda: a de pessoas com problemas emocionais, mas que não utilizavam medicamentos psicoativos, como: depressão leve, problemas familiares, crianças com dificuldades de aprendizagem, entre outros.

Foi então que o grupo percebeu que precisavam abrir esse grupo de Cinema Terapia para incluir demandas de sofrimento mental de toda a comunidade. A ideia após apresentada foi bem aceita pela comunidade e implantada no bairro em 2013, e toda comunidade aderiu ao grupo terapêutico, participando das sessões que aconteciam mensalmente.

Hoje, o grupo continua com o mesmo formato, encontros mensais, com duração de duas horas. Cada mês é selecionado o filme com temas de acordo as demandas que surgem nos grupos: mulheres, gestantes, idosos, e crianças.

A Agente Comunitária de Saúde esteve no IV Mostra para apresentar o trabalho desenvolvimento pela equipe no qual participa na ESF e os resultados que o Cinema Terapia proporcionou para a sua comunidade. Com esse trabalho ela teve a oportunidade de colocar em prática o aprendizado que vem adquirindo ao longo de sua graduação em Psicologia.

O trabalho da equipe de Hellen tem bons resultados nas famílias atendidas. Houve uma redução de procura para consultas psiquiátricas entre os participantes da terapia. Como saldo positivo ela diz que “é perceptível a mudança de vida, com maior motivação e vontade de viver”.

Graças ao trabalho desenvolvido por Hellen e sua equipe, a comunidade do Bairro Esperança passou a ver o profissional em psicologia com outro olhar, sem os preconceitos relacionados à doença mental. Com seu projeto ela pode se aproximar ainda mais da profissão que pretende seguir ao passo em que teve meios para contribuir com a saúde mental de sua comunidade.

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Dona Antônia: se destruírem a Amazônia o mundo adoece

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Foto Dona Antonia
Dona Antônia das Neves, pensionista, encontrou alegria em projeto que envolve cultura e saúde.
Foto: Sonielson Luciano de Sousa

A marabaense Antônia Alves das Neves, 67 anos, era só alegria nos quatro dias da IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família, ocorrida em Brasília/DF, de 12 a 15 de março. Esta é a primeira vez que ela viaja pelo projeto “Transformance”, idealizado há vários anos pelo galês Dan Baron, que trocou a Europa pelo interior da Amazônia, onde desenvolve mais de uma dúzia de ações focadas em meio ambiente e saúde preventiva.

Uma das típicas representantes das populações tradicionais da região Norte do país, de pele escura, muita disposição e um grande sorriso no rosto, dona Antônia ainda se utiliza de plantas medicinais para prevenir e tratar patologias, como a gripe, diarreias e alergias. “Meu filho, eu uso isso [as plantas] desde menina, aprendi desde cedo, e você ainda vai encontrar muita gente lá em Marabá que usa [ervas medicinais]. Muitas vezes as pessoas estão gastando muito dinheiro comprando remédios e não resolve, sendo que um chá ou uma garrafada poderia atender”, enfatizou.

Viúva há 10 anos, dona Antônia é pensionista e viu na alegria das netas (ao todo ela tem 20 netos) uma forma de enfrentar a morte do marido, vítima de acidente de trânsito. “Passei a ver minhas netas participando desses movimentos do Dan [Baron], e percebi que uma delas chegou até a viajar para a Colômbia, para tentar dizer ‘pro’ povo lá fora que se destruírem a Amazônia o mundo adoece, e fiquei interessada em participar”, conta, ao relatar sua entrada no projeto que alerta para a necessidade de cultivar as raízes culturais, a produção de arte popular e os laços sociais como forma de se evitar e enfrentar o adoecimento.

Dona Antônia é uma espécie de “faz de tudo” no “Transformance”. Ela participa das campanhas de conscientização em Marabá/PA, além de ajudar na organização de eventos e de apresentações. “Sinto uma alegria grande quando vejo minhas netas dançando no grupo, viajando para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, falando da importância da preservação da nossa Amazônia para que o planeta não adoeça”, comenta.

Trabalhadora da roça por muitas décadas, dona Antônia tem uma ligação intensa com o campo, com a natureza. Ela fazia a farinha para o próprio consumo, e só comprava produtos industrializados em último caso. Depois, ao se mudar para a cidade, percebeu que algumas pessoas estavam lutando para preservar estes costumes. “Me disseram que o que a gente fazia ajudava a preserva a natureza e ter uma saúde boa. Comecei a ver valor no que eu tinha feito durante a vida inteira”, conta, para em seguida destacar que outra de suas netas está com uma viagem marcada para Washington (DC). “Ela vai participar de um evento, meu filho, um evento no exterior para alertar sobre o problema que a Amazônia ‘tá’ passando, e o sofrimento e falta de saúde que isso pode levar”, explica.

Recentemente dona Antônia descobriu que estava com um mioma no útero, e teve que fazer uma vasectomia. Por causa disso, viaja constantemente para Belém, onde faz acompanhamento médico. “Mesmo assim, eu me dedico a esse projeto do Dan [Baron], é uma coisa que vejo futuro, que me alegra e também gosto de ver as meninas felizes (em referência às netas). Eu tenho aprendido muita coisa com isso aí, e espero que outras pessoas vejam os benefícios de se viver de forma simples. Com este projeto, minha vida mudou”, finalizou.

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Inclusão e diversidade na IV Mostra de Saúde reflete a própria dinâmica do SUS

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“Perceber que há um sistema de saúde que acontece, que está em movimento e dando certo, foi uma experiência profundamente marcante para mim”.
Sonielson Luciano de Sousa.

Foto IV Mostra

Abertura do evento IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família
Foto: Paulo André

Como comunicador social e interessado pelo tema da saúde pública brasileira (modelo que julgo ideal, no entanto ainda não implementado em sua totalidade, portanto com muitas imperfeições), confesso que aprendi muito durante minha participação na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família. Isso porque o evento, em si, é uma espécie de “colcha de retalhos” onde a colaboração e a troca de experiências dão a tônica, e é impossível deixar de refletir sobre o papel que cada brasileiro tem para construir um modelo de saúde pública, de fato, eficiente.

A Mostra é um exemplo de que há inúmeras práticas dentro do Sistema Único de Saúde e das secretarias de Saúde, em todos os Estados brasileiros, que estão fazendo a diferença e transformando a vida não apenas dos usuários, mas também dos profissionais que estão no “front” para levar a saúde pública. Esse é o caso de um grupo de agentes de saúde do interior de Santa Catarina, que encontrei no traslado entre o hotel e a Mostra. “Moço, eu amo o meu trabalho e gosto de interagir com as pessoas”, contou-me uma delas, em referência ao perfil de alguns profissionais mais jovens, que, para ela, não pensam no papel social de sua atuação, mas apenas na sua carreira individual.

O “recorte” acima é só um dos vários (na verdade, tem milhares, mas seria impossível conhecer todos) que pude perceber durante o encontro. Fiquei profundamente tocado ao me deparar com pessoas envolvidas “de corpo e alma” com a saúde do próximo, pessoas que obviamente e merecidamente recebem pelo que fazem, mas que de forma clara não colocam as questões pecuniárias em primeiro plano. Elas brilham os olhos sempre que tem que falar de suas práticas, das pessoas que influenciam positivamente. Uma delas, inclusive, uma professora da rede estadual do Rio Grande do Sul, chorou ao assistir a apresentação de um slide com as suas ações no campo da saúde na escola. “Quando se faz o que ama, é impossível não se emocionar com o resultado de nosso trabalho”, me contou. Respirei fundo, mas também foi difícil não “encher os olhos d’água”.

Foto IV Mostra

Hall da entrada IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família
Foto: Paulo André

Como usuário do SUS, eu estaria sendo injusto se negligenciasse todos os percalços que os profissionais enfrentam para levar um atendimento e serviço de qualidade. E conheço muitas pessoas em Palmas profundamente apaixonadas pelo que fazem. De forma geral, sempre nos perguntamos se o acolhimento que às vezes nos dispensam nas unidades “próximas” de nossas casas (por já estarmos familiarizados culturalmente) também ocorre em outras cidades e regiões. As práticas exitosas e desafiantes expostas em Brasília foi uma oportunidade de me mostrar que existe uma proposta de universalização da saúde que é viva, mutável, que pulsa em igualdade com a própria existência e anseios de quem “produz” os serviços de saúde. Que está em constante crescimento e aperfeiçoamento. E falar mal da saúde pública e/ou do SUS, de forma generalista, é olhar apenas um lado desabonador do sistema (filas, demoras, alguns atendimentos inadequados etc), sem levar em conta os inúmeros profissionais que fazem a diferença, que adotam posturas “dialogistas”, originais e que, nas suas comunidades, contribuem para oferecer um serviço de saúde com o mínimo de qualidade.

Estar próximo de uma mulher que lida com plantas medicinais, e que participa em Marabá-PA de um grupo que promove cultura para alertar para a saúde é também uma grande oportunidade de perceber que, pelo menos em comunidades do Norte do país, ainda se alia a tradição cultural com o saber científico. E o que dizer do grupo de palhaços de João Pessoa-PB? Eles lutam contra o que chamam de “espoliação” do atendimento em saúde, pelo setor privado, e veem o trabalho nesta área mais como uma missão, e menos como uma mera profissão que garanta seus salários no início de cada mês. São pessoas e experiências que, certamente, me influenciaram de forma profunda. Aliás, este é um dos objetivos da Mostra, explicitar “um SUS profundo”, que não é retratado na mídia tradicional e que, assim, é conhecido apenas pelo seu aspecto negativo.

Nestes últimos seis anos, em contato com o Budismo e o Taoismo, aprendi que uma mesma circunstância pode apresentar muitas facetas, e que se deve ter muito cuidado com os (pré)julgamentos. Longe de querer negar os vários problemas do SUS, nesta Mostra pude perceber parte destas máximas orientais. Se se investigar com esmero, sem inclinações ideológicas (o que confesso que é difícil), há sim como vê os “dois lados da moeda”. Estava acostumado a ver apenas um dos lados. Esta IV Mostra me possibilitou outros olhares sobre a saúde. O mais importante, creio, é perceber que o processo (de oferecer saúde pública, universal e de qualidade) é uma meta a ser buscada constantemente, e que há muita gente boa envolvida nisso. Que possamos, então, atingir logo este objetivo.

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Edinaldo Coriolano – O Lampião da arte, saúde e educação

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Edinaldo presente na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica – Foto: Isadora Fernandes

Edinaldo Coriolano é assistente social da Estratégia de Saúde da Família em Santa Cruz – PE e também apoiador do Programa de Saúde nas Escolas do Ministério da Educação.  O PSE é um programa que une a saúde e a educação com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos educandos. Ele implantou em sua unidade em 2011, com o objetivo de promover saúde por meio de expressões artísticas.

A função do assistente social é basicamente fazer com que os princípios do SUS aconteçam, são eles: Integralidade, dar assistência completa ao paciente; Gratuidade, deve ser um serviço gratuito; Equidade, classificar o atendimento de acordo com a necessidade e Universalidade, todos têm direito à assistência. A ESF tem como principal linha de trabalho a atenção primária que visa prevenção e promoção de saúde, portanto a equipe deve assistir ao cliente pautada em um planejamento de intervenções educativas.

Vendo que a Unidade Básica de Saúde na qual ele trabalha não estava obtendo muito êxito com palestras educativas, pois é algo cansativo e pouco atraente, foi quando ele viu a necessidade de trabalhar a saúde nas escolas usando a arte nas suas variadas formas, pois o público principal das escolas é composto por crianças e adolescentes, e pensando nisso, reuniu a equipe para pensar em maneiras de como chamar a atenção desses jovens.

Formou um grupo condutor com seus colegas da UBS, com a finalidade de planejar as “novas intervenções”. Inicialmente ele, junto a equipe, desenvolveu oficinas para conhecer o perfil daquele grupo em especial e permitir que eles expressem o que esperam e como esperam ser abordados pela equipe. Instigava os alunos a mostrar o que eles já sabiam sobre saúde de maneira artística. Suas ações partem do diagnóstico que ele faz da turma, por exemplo, se a demanda do local é esclarecimento sobre DST, higiene, gravidez na adolescência, relações sociais, entre outros.

Trabalhando com os educandos, sentiram que precisavam do apoio dos professores, e para isso, tinham que inseri-los no processo. Portanto passou a criar oficinas com os educadores, de forma que pôde conhecer o que eles já entendiam sobre o assunto e foi uma forma de facilitar na busca da demanda, pois os professores passam a maior parte do tempo com os alunos então têm a oportunidade de observar o comportamento e as necessidades.

Apesar da dificuldade em unir-se com a educação, sua proposta foi um grande sucesso que foi evidenciado pelos excelentes resultados e também, pela grande aceitação entre os escolares ressaltando a importância de sua originalidade e iniciativa. Quando se fala de um público jovem, já se cria uma resistência por parte dos profissionais, porque é uma turma difícil de atrair a atenção, por isso requer muita criatividade e consequentemente muito esforço, que claro não faltaram para Coriolano.

Ponto de Encontro em que Edinaldo apresentou seu trabalho – Foto: Isadora Fernandes

De maneira inusitada apresentou seu trabalho na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica. Vestido de lampião, encantou a todos recitando um trecho da música de Luiz Gonzaga com uma adaptação logo no início de sua apresentação.

 

“A minha vida é trabalhar no meu sertão

Com arte, saúde e educação

Levando informação aos territórios onde eu passei

Andando pelos sertões, muitos amigos eu encontrei

Chuva, sol, poeira e carvão

Longe de casa, seguindo o roteiro da educação

Auê, auê, auê

E com a saúde no coração”.

 

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