Piaget e as contribuições para a Psicologia Escolar
5 de janeiro de 2024 Daniela Iunes Peixoto
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As teorias de Piaget influenciaram e ainda influenciam na educação infantil, assim como a psicologia escolar.
Jean Piaget, um dos mais influentes psicólogos do século XX, desenvolveu uma teoria do desenvolvimento cognitivo que teve um impacto profundo nas áreas de psicologia, educação e pedagogia. Sua abordagem construtivista enfatiza a importância da interação entre o indivíduo e o ambiente no processo de desenvolvimento cognitivo. Conforme afirmado por Piaget (1970), “a inteligência não é o que o homem sabe, mas o que ele faz quando não sabe.”
Jean Piaget, um pioneiro na psicologia do desenvolvimento, iniciou sua carreira como biólogo, e essa formação influenciou profundamente sua abordagem à compreensão do desenvolvimento cognitivo. Sua teoria, que se concentra nas mudanças qualitativas e quantitativas nas estruturas mentais das crianças, teve implicações duradouras para a psicologia escolar e a pedagogia.
A abordagem de Piaget baseia-se na premissa de que o conhecimento é construído ativamente pelos indivíduos em vez de ser transmitido passivamente. Ele identificou quatro estágios de desenvolvimento cognitivo – sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal – cada um caracterizado por formas específicas de pensamento e raciocínio. Esses estágios têm implicações profundas para a educação, uma vez que os educadores precisam adaptar suas práticas ao estágio de desenvolvimento cognitivo dos alunos.
Fonte: https://blog.portaleducacao.com.br
Uma das contribuições mais importantes de Piaget para a psicologia escolar e a educação é a mudança no papel do educador. A teoria piagetiana desafiou a visão tradicional do professor como mero transmissor de informações. Em vez disso, o educador se torna um facilitador do processo de construção do conhecimento pelo aluno.
Essa mudança de paradigma encoraja os educadores a criar ambientes de aprendizagem desafiadores que incentivem os alunos a explorar, questionar e construir seu próprio conhecimento. Isso significa que o ensino deve ser adaptado ao nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos, garantindo que as atividades sejam apropriadas para o estágio em que se encontram.
Piaget (1970) também destacou a interconexão entre desenvolvimento cognitivo e aprendizagem. Sua teoria enfatiza que o processo de aprendizagem ocorre à medida que os indivíduos se desenvolvem. Isso implica que os educadores devem respeitar o momento em que os alunos estão preparados para absorver um determinado conteúdo.
A equilibração, um conceito central na teoria de Piaget, envolve a busca de equilíbrio entre o conhecimento prévio e a nova informação. Isso ressalta a importância de permitir que os alunos se engajem ativamente no processo de aprendizado, experimentando desequilíbrios e, em seguida, trabalhando para restaurar o equilíbrio por meio da assimilação e acomodação. Os educadores desempenham um papel fundamental nesse processo, fornecendo experiências desafiadoras e apoiando os alunos na resolução de conflitos cognitivos.
Ele revolucionou a maneira de pensar com relação às crianças. Até então, a teoria pedagógica tradicional afirmava que as crianças eram “caixas vazias” esperando que os adultos depositassem conhecimento. Na Teoria de Jean Piaget acredita-se que as crianças passam a construir seu mundo de acordo com o que lhes é oferecido, criando e testando suas teorias. Nesse percurso é possível, então, afirmar que Jean Piaget ofereceu uma teoria interacionista em contraposição à teoria comportamentalista que existia na época (Gomes; Ghedin, 2012).
Piaget (1970) propôs que as crianças são ativas construtoras de conhecimento, e essa noção alterou fundamentalmente a maneira como os educadores abordam o ensino. Conforme observado por Piaget (1970), a aprendizagem constitui um processo dinâmico e participativo, no qual se desenvolvem novos conhecimentos a partir das experiências anteriores. Essa perspectiva desafiou o tradicional modelo de educação centrado no professor, favorecendo uma abordagem centrada no aluno, na qual o educador atua como facilitador do processo de construção do conhecimento pelo aluno.
Além disso, Piaget (2013) ressalta a importância do interesse do aprendiz, que está diretamente ligado ao seu esforço, então facilitando o processo de acomodação e assimilação. Dessa forma, um ponto importante a ser discutido é a didática utilizada em sala de aula, bem como o relacionamento de alunos e professores. Não existem métodos de ensino gerais corretos, como uma receita a ser seguida, mas sim técnicas que se adequam melhor à situação de aprendizagem proposta. Dado que a aprendizagem é um processo individual, o professor deve levar em consideração a formação de cada turma ao escolher os procedimentos metodológicos mais apropriados para os alunos em questão.
De acordo com Lefrançois (2008), a teoria de Piaget teve um impacto significativo no currículo escolar, uma vez que destacou que a aprendizagem vai além da simples transferência de informações de fora para dentro da criança. No entanto, é importante ressaltar que essa também é uma teoria da aprendizagem, uma vez que o processo de aprendizagem só ocorre quando há desenvolvimento.
Fonte: https://www.todamateria.com.br
No contexto da psicologia escolar, o psicólogo desempenha um papel essencial na promoção das ideias de Piaget. Ele aplica conhecimentos psicológicos na escola, diagnosticando e orientando psicologicamente os alunos. Além disso, promove a integração entre família, comunidade e escola, contribuindo para o desenvolvimento integral dos estudantes.
Os psicólogos escolares desempenham um papel crucial na implementação desses princípios na prática. Conforme a Resolução nº 013/2007, eles aplicam conhecimentos psicológicos na escola, diagnosticam e orientam psicologicamente, promovem a integração entre família, comunidade e escola, e desenvolvem programas visando o desenvolvimento humano e a qualidade de vida. Eles também são responsáveis por validar instrumentos psicológicos e pesquisar a realidade escolar.
No entanto, é fundamental que os psicólogos escolares atuem considerando a dimensão institucional, ultrapassando a queixa individual para compreender o contexto educacional como um todo. O trabalho em parceria com agentes educacionais e a comunidade escolar é essencial para qualificar o processo educacional.
Os psicólogos escolares devem respeitar o sigilo profissional e agir de acordo com o Código de Ética Profissional da Psicologia, garantindo a confidencialidade e a proteção da intimidade dos indivíduos. Além disso, devem evitar a negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, colaborando com outros profissionais quando necessário.
Portanto, as contribuições de Jean Piaget para a psicologia escolar atual e a educação são profundas e duradouras. Sua teoria do desenvolvimento cognitivo redefiniu a relação entre educadores e alunos, promovendo uma abordagem centrada no aluno e encorajando a construção ativa do conhecimento. Os psicólogos escolares desempenham um papel fundamental na aplicação desses princípios na prática, contribuindo para a criação de ambientes de aprendizagem mais eficazes e respeitando o desenvolvimento cognitivo individual de cada aluno.
Essa abordagem não apenas transformou a educação, mas também empoderou os alunos a se tornarem agentes ativos na busca pelo conhecimento. Em vez de serem receptores passivos, as crianças e jovens se tornam construtores ativos de seu próprio entendimento, capacitando-os a enfrentar desafios complexos e a se tornarem cidadãos críticos e engajados na sociedade. Jean Piaget, com sua abordagem revolucionária, deixou um legado duradouro na educação e na psicologia escolar, influenciando positivamente a maneira como ensinamos e aprendemos.
Referências
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP N.º 013. 2007
GOMES, Ruth Cristina Soares GHEDIN, Evandro. Teorias Psicopedagógicos do Ensino Aprendizagem. O desenvolvimento cognitivo na visão de Jean Piaget. Boa Vista: UERR Editora, 2012, p. 215- 232. Disponível em: <http://evandroghedin.com.br/files/Texto_Teorias_Psicopedagogicas_Evandro_Ghedin.pdf> Acessado em 20 de set. de 2023.
LEFRANÇOIS, G. R. Teorias da Aprendizagem. São Paulo: Cengage, 2008.
PIAGET, J. Epistemologia Genética. Tradução de Os Pensadores. Abril Cultural, 1970.
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Meu amigo Totoro e a importância da fantasia na infância
A fantasia tem um papel fundamental para a criança.
O longa conta a história de Mei e sua irmã Satsuki, que se mudam do campo para a cidade a fim de ficarem mais próximas de sua mãe que está internada em um hospital. Elas acabam conhecendo vários espíritos da floresta, dentre eles Totoro, que só podem ser vistas por algumas crianças. O estúdio Ghibli é responsável por essa e várias outras obras maravilhosas, que tratam de temas da realidade utilizando-se da fantasia.
Texto contém spoilers!!!
O filme mostra o processo de adaptação e de exploração do novo ambiente de moradia, em apresenta diversas criaturas sobrenaturais do folclore japonês e, dentre eles, a criatura Totoro. Mei, a irmã mais nova, é a primeira a interagir com Totoro enquanto explorava o quintal de sua nova casa.
Winnicott (1975) fala sobre a importância do brincar na infância como o início da construção da subjetividade da criança, assim o ambiente tem importância para que a criança passe pela experiência de que existe uma realidade externa similar a que ela fantasia. Mei, enquanto brinca no quintal, explorava por todos os cantos enquanto brincava, e outro fato importante é o da presença do seu pai que a observava deixando que ela exercesse suas fantasias.
Existe uma senhora que aparece no início do filme e fala que as criaturas que vivem por ali, ela viu quando era criança e um menino que durante a história, parece não ter contato com essas criaturas. Mostrando assim que elas não aparecem ou fazem parte do cenário de todas as pessoas. Quero chegar à ideia de que as criaturas fazem parte da fantasia e tem um papel em auxiliar no momento em que estão passando, desde a mudança de casa até o encontro com a mãe internada no hospital.
Em determinado momento do filme a irmã mais velha (Satsuki) tem seu primeiro contato com Totoro, que até então era apenas visto pela Mei, enquanto esperava seu pai que viria de ônibus do trabalho e não havia levado o guarda chuva. Era um momento que ela estava sozinha, cuidando da irmã que estava dormindo e preocupada com seu pai, necessitando assim de algo ou alguém que pudesse funcionar como suporte.
Dessa forma, a fantasia tem um papel fundamental para a criança. Winnicott (1975) aponta que a configuração do mundo interno subjetivo é produto direto da criatividade. Então em diversos momentos de angústia, incerteza e a falta de uma pessoa que a criança possa recorrer, ela acaba por fantasiar para amenizar ou sanar tais sentimentos. Piaget (1968) discorre que quando a criança brinca, ela reproduz sua vida, tentando corrigir os conflitos e reviver os prazeres, completando através da ficção.
As duas irmãs acabam se desentendendo quando precisam avisar ao pai que o hospital entrou em contato, pois a mãe que deveria voltar para casa acabou piorando o quadro da doença. O pai é avisado e nisso Satsuki é auxiliada pelo Totoro a encontrar a Mei que estava perdida, e ganham uma carona para o hospital em um gato-ônibus.
Prado (1991) afirma que as atividades lúdicas são formas em que as crianças se apropriam da realidade enquanto recriam usando a fantasia e acabam alcançando um melhor desenvolvimento físico e metal.
Dessa forma, a fantasia é uma maneira saudável e importante do desenvolvimento infantil e acaba refletindo em todas as fases da vida.
Ficha técnica
Título original: Tonari no Totoro
Direção: Hayao Miyazaki
Ano: 1988
País de origem: Japão
Referências
PIAGET, J. Seis estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1968.
PRADO, M. M. R. Des-cobrindo o lúdico. In: Revista de Terapia Ocupacional USP. São Paulo, v. 2, n. 4, 1991.
WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1975.
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Matilda e os processos de aprendizagem e alfabetização
‘’A inteligência não começa nem pelo conhecimento do eu nem pelo conhecimento das coisas enquanto tais, mas pelo conhecimento de sua interação e, orientando-se simultaneamente para os dois polos desta interação, a inteligência organiza o mundo, organizando-se a si mesma’’.
O filme Matilda é uma comédia lançada em 1996 interpretada pela atriz Mara Wilson que retrata uma criança com múltiplas inteligências. Desde pequena a menina foi mal compreendida pelos pais (Harry e Zinnia) e pelo irmão (Michel). Eles chegaram ao ponto de serem mal-educados e rudes com ela, pois eles nunca souberam trabalhar com as altas habilidades da filha, assim acabam mandando a pequena para uma escola que é coordenada por uma diretora (Agatha Trunchbull) altamente autoritária que não simpatiza com crianças.
Desde pequena a personagem demonstrou a sua incrível capacidade de aprendizado, com isso acaba desenvolvendo seu senso de independência muito cedo por acabar ficando sozinha em casa todos os dias, pois seu pai trabalha, a mãe vai ao bingo e o irmão à escola. E para passar o tempo a personagem descobre o caminho até a biblioteca pública, onde lá pode se aventurar no fantástico mundo da leitura.
Ao passar do tempo Matilda descobre que possui poderes psicocinéticos e acaba usando-os para ‘’acertar a conta’’ com todos aqueles que fizeram mal ou magoaram tanto ela quanto seus amigos. A criança é apoiada por sua professora (Srta. Honey) uma mulher que trata todos seus alunos com carinho e que adora mudar o ambiente de sua sala para que os alunos se sintam mais à vontade e que ela saia da posição de detentora do saber conquista a personagem principal a cada aula presente, pois era o sonho da mesma poder ir à escola.
Entende-se que o processo de aquisição da linguagem falada se relaciona com diversos fatores e pode ser dinâmico, ou seja, tem influências culturais, costumes sociais, relacionamento com o outro, ambiente, etc. Para Piaget o desenvolvimento da inteligência surge por reorganizações mentais, para que se possa obter a maior possibilidade de assimilação, ocorrendo empiricamente e de maneira reflexiva, onde a criança entra no processo de pensar sobre o mundo e como ela age no mesmo.
Para entender o processo educativo de Matilda é necessário perceber que as inteligências múltiplas consistem em um potencial intelectual autônomo, nota-se que a personagem tem sede de conhecimento o que acaba contribuindo para uma alfabetização eficaz, pois ela não foi motivada nem pelos pais nem pela escola.
Embora Ana Teberoski e Emília Ferreiro (1985) acreditem que para o sujeito concluir o processo de alfabetização é necessário passar pelas quatro fases (pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético) todo o processo de construção da aprendizagem da menina ocorreu de maneira rápida por causa de seu interesse e sua curiosidade, onde facilitou e acelerou os quesitos leitura e escrita.
Contudo deve-se respeitar o ritmo especial de cada criança durante os processos de aprendizagem e principalmente o de alfabetização, pois cada indivíduo tem um contexto particular e único que é formado por uma estrutura psicológica, social, cultural e biológica.
FICHA TÉCNICA:
MATILDA
Direção: Danny DeVito Elenco: Mara Wilson, Danny DeVito, Rhea Perlman País: EUA Ano: 1996 Gêneros: Comédia, Fantasia
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Teorias de Piaget, novas tecnologias e educação inclusiva: uma reflexão
A obra de Piaget teve o nome cunhado pelo próprio autor como “Epistemologia Genética” (grifo nosso), onde fica evidente sua principal preocupação, a Epistemologia é uma reflexão sobre os princípios fundamentais das Ciências: Episteme (Ciência para os gregos) + logos (tratado, estudo). Abreu (2010) destaca que Piaget teve a preocupação metodológica com respeito à forma como o conhecimento surge no ser humano, partindo das mesmas raízes do conhecimento mais primitivo, onde não se tornam único em um conhecimento primeiro, como chama a atenção o próprio autor: a grande lição contida no estudo da gênese ou das gêneses é mostrar que não existem jamais conhecimentos absolutos.
E nesse sentido, Abreu (2010) destaca que a Epistemologia Genética vem explicar a continuidade entre processos biológicos e cognitivos, sem diminuir os últimos aos primeiros, o que ao mesmo tempo delimita a particularidade da pesquisa de Piaget. Destaca que a inteligência é a solução de um problema novo para o indivíduo, sendo uma primazia dos meios para atingir certo fim.
Jean Piaget. Fonte: https://bit.ly/2PDDI9V
Abreu (2010) afirma que para Piaget, anterior ao objeto constituído simbolicamente o sujeito do conhecimento, existe enquanto ação direta, portanto, a zona de contato entre o corpo próprio e as coisas, dessa forma, os sujeitos se determinam simultaneamente, a partir de duas direções complementares do exterior e do interior, e é desta dupla construção progressiva que depende a elaboração solidária do sujeito e dos objetos. A autora afirma que Piaget em sua teorização sugere que existe evolução natural-cognitiva da aquisição de conhecimentos. Formulou quatro estágios para explicitar como os sujeitos evoluem, sendo eles conforme texto de Abreu (2010):
Estágio 1: “sensório motor” (grifo nosso) a criança com idade de 0 – 2 anos atinge um nível de equilíbrio biológico e cognitivo que permite constituir uma estrutura linguística, isto é propriamente conceitual por volta dos 12 – 18 meses.
Estágio 2: “pré-operatório” (grifo nosso) terminado este período anterior, ela adentra nesta segunda fase ancorada na constituição ainda incipiente de uma estrutura operatória, e permanece nele até completar mais ou menos 7 – 8 anos, sendo que o equilíbrio próprio é atingido aqui quando a criança está com a idade de 4 – 5 anos.
Estágio 3: “operatório concreto” (grifo nosso) com início no final do segundo estágio e calcado na capacidade de coordenar ações bem ordenadas em “sistemas de conjunto ou ‘estruturas’, suscetíveis de se fecharem” (grifo autora) enquanto tais, ele tem duração, em média, até os 11 – 12 anos. E quanto, especificamente, ao nível de equilíbrio próprio, este acontece aqui por volta dos 9 – 10 anos.
Fonte: https://bit.ly/2RWyVx9
Estágio 4: “operatório formal” (grifo nosso), que se inicia ao final do terceiro e no qual o ser humano permanece por toda a vida adulta, atingindo um estado de equilíbrio próprio por volta dos 14 – 15 anos de idade.
Independentemente do estágio em que os seres humanos se encontram, a aquisição de conhecimentos segundo Piaget acontece por meio da relação sujeito/objeto. Esta relação é dialética e se dá por processos de assimilação, acomodação e equilibração, num desenvolvimento sintético mútuo e progressivo (ABREU, 2010).
A autora explicita que para Piaget o dinamismo da equilibração acontece por meio de sucessivas situações de “equilíbrio – desequilíbrio – reequilíbrio” (grifo nosso) que visam, dominar o objeto do conhecimento que vai se constituindo nesse processo, portanto, a necessidade de conhecimento do objeto pelo sujeito, leva-o a executar desde simples ações até operações sobre o objeto.
Se por um lado, os estágios foram estabelecidos na teoria, supondo o contexto evolutivo, a partir da pura necessidade não identificada com um objeto específico, enquanto tal, até que se chega à capacidade de realizar operações formais pelas quais se abstrai de um objeto visto subjetivamente como puramente em si, e isso após a constituição para si de objetos propriamente concretos (ABREU, 2010).
Por outro lado, Piaget entende que, para além do fluxo contínuo das abstrações, as próprias operações perpassam três grandes etapas estruturantes que as levam a se libertar da duração objetivamente do contexto psicológico das ações do sujeito, com o que estas comportam de dimensão causal, para finalmente atingirem esse caráter extemporâneo, essencialmente estrutural e pensado apenas através da reconstituição de sua gênese temporal, que é próprio das ligações lógico-matemáticas depuradas (ABREU, 2010).
Conforme a autora observa segundo Piaget, a primeira dessas três etapas perpassadas pelas operações é o da função semiótica, compreendida como a interiorização em imagens e a aquisição da linguagem permitem “a condensação das ações sucessivas em representações simultâneas” (grifo autor), estruturando-se aí um quadro operativo conceitual ainda incipiente a partir de um esquematismo “pré-lógico” (grifo nosso) já constituído por uma percepção espaço-temporal de caráter sensório motor.
Fonte: https://bit.ly/2QONWAP
Continua Abreu (2010), segundo estágio “natural-cognitivo” (grifo nosso) de aquisição dos conhecimentos, o que se ocorre por volta dos 18 meses – 2 anos. A segunda das etapas coincide com o início do terceiro estágio, das operações concretas, coordenando as antecipações e as retroações que chegam a uma reversibilidade suscetível de refazer o curso do tempo e de assegurar a conservação dos pontos de partida, porém de modo ainda demasiado preso aos objetos percebidos concretamente como em si mesmos.
Na terceira etapa, segundo Piaget, o sujeito do conhecimento supera o real e insere-se no possível, conseguindo de modo paradoxal extemporaneamente “relacionar diretamente o possível ao necessário sem a mediação indispensável do concreto” (grifo autor). Neste sentido, Abreu (2010) diz que entre as teorias do conhecimento já elaboradas, é possível que a Epistemologia Genética seja uma das mais completas, por ser um estudo mais sistemático das origens naturais-cognitivas do conhecimento por parte de uma epistemologia mais tradicional. Continua a autora, se seguirmos o que diz o próprio Piaget na sua obra seria completa porque abrange desde o nascimento até a idade adulta, também porque ela procuraria responder, com certo nível de detalhamento prático e teórico, quais são os processos naturais-cognitivos dessa aquisição.
Piaget diferencia a estrutura linguística da associação positivista, em última instância pré-determinadas e de fundo intimamente empirista, algo como uma assimilação dos conteúdos por esquemas objetivos em essência, que vão se estruturando extemporaneamente conforme o desenvolvimento natural-cognitivo do próprio sujeito do conhecimento, conforme Abreu (2010);
A autora elenca tendência mútua de continuidade e ruptura que vai retrospectivamente além das operações causais sobre objetos para operar abstratamente sobre o próprio processo operativo, lógico-matemático como sendo o de assimilação dos conteúdos; isso conforme três tipos de processos (ABREU, 2010):
1. Assimilação generalizadora: ocorre quando esquemas estruturantes se modificam de modo a assimilar novos e problemáticos objetos da realidade em função de uma totalidade esquematicamente ainda mais generalizante, tendendo mesmo à formalização;
Assimilação reconhecedora (discriminante): é a capacidade desses esquemas de buscarem os objetos seletivamente a partir de uma ou mais características dos objetos experienciados, estruturados estes apenas a partir da ativa construção lógico-matemática de um efetivo sujeito do conhecimento;
Assimilação recíproca: neste caso, dois ou mais esquemas se fundem em uma totalidade generalizante de maior hierarquia, pois para Piaget só nos aproximamos da estrutura das coisas por aproximações sucessivas, nunca definitivas.
Fonte: https://bit.ly/2zfd78T
Abreu (2010) levanta uma crítica quanto ao alcance epistemológico e pedagógico do construtivismo piagetiano, destacando a incapacidade do sistema educacional, e não só dele, em formar professores com condições de aplicar essa teoria essencialmente desenvolvimentista na situação real de uma crise dos paradigmas modernizantes calcados num sentido efetivo do progresso humano. Apontando mais do que a deficiência do sistema escolar, numa crise social que alcança o próprio sistema de conhecimentos historicamente estabelecidos com certa naturalidade, seja físico-mecânico ou mesmo lógico-matemático de fundo biológico, ainda que intersubjetivamente constituído.
Neste sentido, a autora enfatiza o seguinte aspecto:
a) são os comportamentos, não as pessoas, que estão em estágios; a idade é um indicador e não um critério de desenvolvimento;
b) é a necessidade lógica, não a verdade, a questão central;
c) a construção do conhecimento não é uma tarefa individual, mas social;
d) e que as estruturas de conjunto são critérios formais mais do que entidades funcionais.
Por último Abreu (2010) afirma que há múltiplos percursos desenvolvimentistas, não apenas um; ao raciocinar os sujeitos não seguem regras lógicas somente, agem e operam em conteúdo e significado, no desempenho da compreensão epistêmica. Aproveitando essa deixa da autora, Dunker (2002) enfatiza que a ideia de construção genericamente remete à produção de objetos partindo da articulação entre elementos. Para esse autor outro campo de construção mostra a afinidade com a ideia de continuidade como ocorrência é a construção lógica ou a construção geométrica.
Neste sentido, um ponto de partida teórico insidioso na psicologia construtivista é aquele que considera o sujeito como redutível à consciência ou ao conjunto das funções psicológicas por ela centralizado e representado. Esse é o caso do construtivismo piagetiano, que concebe a consciência primitiva como fechada em si mesma e exterior ao outro. O anelamento de uma consciência à outra surgiria como um fato secundário. Para Piaget o estado inicial da consciência corresponderia a uma espécie de núcleo de autismo, onde o sujeito equivaleria a um núcleo de experiência interior íntimo; uma espécie de núcleo inconstruido de toda construção posterior. Tal configuração, ainda segundo a concepção de Piaget, seria sucedida pelo egocentrismo, momento em que o mundo se alarga, a criança percebe o outro, más onde o eu é ainda o centro. O outro é um complementar do sujeito, daí a ideia de interação. No terceiro momento, adviria a aquisição cognitiva e operatória da relação de reciprocidade. Os pontos de vista opostos ou distintos agora podem ser ponderados sob uma medida comum. Finalmente por volta dos sete anos, a criança seria capaz de pensar a partir de um pluralismo de pessoas: intercâmbio e comutação entre lugares onde está o sujeito (DUNKER, 2002 p. 35-36).
Para Piaget a intersubjetividade tem por condição a emergência de uma mentalidade teórica diretamente dependente de uma certa construção de conceitos. A apreensão de objetos, a objetificação do real seria a condição para a emergência da intersubjetividade e da consciência social, conforme Dunker (2002).
Fonte: https://bit.ly/2A15gLM
Tecnologia e Educação
Em geral no senso comum na contemporaneidade o termo “tecnologia” (grifo nosso) acaba tendo a atenção voltada para o funcionamento do computador ou equipamentos conectados à web, como uma extensão do modo operativo do pensar humano, contextualizado por Lima Júnior (2005 apud Aguiar & Passos, 2014); universo esse que em certa medida propicia às pessoas, elaboração e abstrações dentro dos variados contextos, transformando as relações de trocas em si e ao mesmo tempo no mundo vivenciado.
Se o funcionamento dos softwares e aplicativos são abstrações ou proposições que ao serem utilizados pelo ser humano, desencadeiam uma rede de acontecimentos e significações, compreendendo que cada programa representa algum tipo de sentido para o usuário, servindo-lhe como referência que permite ancorar/apoiar soluções para problemas experienciado no contexto vivencial, como explicita Lima Júnior (2005 apud Aguiar & Passos, 2014), alterando as relações humanas no circuito e além do campo do espaço digital, sendo todo esse processo permeado de interesses, valores, possibilidades cognitivas, todos transitórios e diversificados, porém válidos.
Neste sentido fica clarificado que Lima Júnior (2005 apud Aguiar & Passos, 2014) não define tecnologia apenas como a utilização de equipamentos, máquinas e computadores, nem pode ser entendido como algo mecânico ligada à ideia de produtividade industrial, seu conceito é muito mais abrangente. O autor lembra á matriz grega de teckné trata-se de um processo criativo através do qual o ser humano utiliza-se de recursos materiais e imateriais, ou os cria a partir do que está disponível na natureza e no seu contexto das relações vivenciais, a fim de encontrar respostas para os problemas do seu cotidiano, superando-os.
A de ficar compreendido que na matriz grega o processo tecnológico relaciona e articula indissociavelmente o ser humano e os recursos tangíveis ou intangíveis por ele criados não sendo concebidos separadamente. Lima Júnior (2005 apud Aguiar & Passos, 2014) reafirma que a técnica é uma criação humana, sua consequência é fruto da ação imaginativa, reflexiva e motora do sujeito, ou como diz o autor, o ser humano é tecnologizado, pois ao criar e utilizar recursos e instrumentos para atuar no seu contexto vivido, o transforma e ressignifica suas relações de objeto.
Fonte: https://bit.ly/2TnGaQ1
Neste processo, o ser humano transforma o meio que está inserido e a si mesmo, inventa e produz conhecimento; portanto trazendo para a práxis educacional este movimento pode ser traduzido com a dissociação do uso do aparato tecnológico apenas como recurso, conforme afirma Pretto ( 2011 apud Aguiar & Passos, 2014).
Sampaio e Leite (2008 apud Aguiar & Passos, 2014) afirmam que na década de 60 as discussões mais sistematizadas sobre tecnologia educacional no Brasil era baseada na teoria pedagógica tecnicista que empregava recursos técnicos na educação não levando em conta o desempenho do professor a partir de sua utilidade.
Hoje quando a expressão “tecnologia na educação” é empregada, giz, quadro, livros, revistas, currículos, programas (entidades abstratas) e fala dificilmente é levado em conta, neste sentido, a espécie humana desenvolve tecnologias desde a antiguidade. As mais diferentes tecnologias, em todos os tempos, fazem parte da engenhosidade humana (KENSKI, 2011 apud AGUIAR & PASSOS, 2014).
A tecnologia está intermediando a relação entre a informação e o ser humano, nesse momento social, entretanto, para garantir a utilização confortável dessas tecnologias é preciso esforço e atualização, portanto, fica entendido à importância da educação eu seu contexto transdisciplinar em fazer parte de todo esse processo. Já que é promovida a interação entre o objeto (informação), o sujeito (educando) e os diversos campos do saber (disciplinas), conforme contextualização de Aguiar & Passos (2014). A ideia é complementada por Pretto (2011 apud AGUIAR & PASSOS, 2014) ao evidenciar que a tecnologia propicia capturar, armazenar, organizar, pesquisar, recuperar e transmitir a informação; quanto mais é possível acessar essas possibilidades, mas é necessário aprender através das inúmeras possibilidades trazidas pela complexidade.
Fonte: https://bit.ly/2KbfBtj
O impacto das novas tecnologias não é de imediato, demora um tempo para os indivíduos incorporarem os avanços e aprender como utilizá-las, afirmam as autoras; não basta adquirir máquinas e equipamento é preciso saber utilizá-las para reproduzir novas condições de aprendizagem e modos de vida, o conhecimento da ampla produção da tecnologia na sociedade necessita de democracia de acesso.
Sampaio e Leite (2008 apud AGUIAR & PASSOS, 2014) contribuem dizendo que dentro dessa perspectiva a de ser considerado que a escola não pode colocar-se neutra ou excluído do processo social, sob pena de perder a oportunidade da participação e influencia na construção do conhecimento social, e democratização da informação e conhecimento.
Atuar tecnologicamente na sociedade é estar aberto ao conhecimento, buscando ampliar saberes, não basta utilizar tecnologias, faz-se necessário recriá-las, assumir a produção e a condução tecnológica de modo que haja reflexão da ação sobre o processo educativo, porque segundo Silva (2011 apud AGUIAR & PASSOS, 2014) isoladas de um projeto pedagógico, a mesma tecnologia utilizada na organização social também tem um potencial desmedido para alargar as distâncias existentes entre os mundos dos sujeitos incluídos e excluídos.
As autoras complementam o raciocínio enfatizando que promoção tecnológica tem que fundar sua validade propiciando cidadania, entendida neste texto como acesso a informação e ampliação do conhecimento através de recursos tecnológicos. Neste sentido mais uma vez é convocada a ideia que busca proposta educativa, priorizando a afirmação da criticidade e do despertar da consciência, perspectiva esta, segundo Aguiar & Passos, 2014, atendida por uma prática transdisciplinar que agrega pensamento e ação, permitindo situações de ensinoaprendizagem que envolve recursos e procedimentos metodológicos inovadores.
Fonte: https://bit.ly/2Fu8OMC
Educação Inclusiva
O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação cultural, política, social, e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos, sem nenhum tipo de discriminação, estarem unidos, participando e aprendendo no ambiente educacional. O movimento da educação inclusiva, surge embasado na Declaração de Salamanca (1994), defendendo que a escola deve assumir o compromisso de educar cada estudante, aplicando a pedagogia da diversidade, uma vez que todos os alunos deverão estar dentro da escola regular, independentemente de sua origem social, étnica ou linguística (GUIMARÃES, 2017).
Antes de tudo inclusão é uma questão de direitos apresentando-se como um grande desafio, porque também é constituída como valor. Neste sentido a sociedade toma inclusão com mais consciência, portanto, a inclusão em termos educativos, faz mais sentido se for perspectivada como educação inclusiva, isto vem dar significado que a escola, além de proporcionar aos alunos um espaço comum, tem de proporcionar-lhes, também, oportunidades (SILVA, 2011).
De acordo com Mazzota (2017 apud GUIMARÃES, 2017), a prática da inclusão tem como pressuposto uma amostra de que cada criança é importante para assegurar a riqueza do conjunto, sendo aceito que na classe regular permaneçam todos os tipos de alunos. Dessa maneira, se espera que a escola seja criativa no intuito de buscar recursos visando manter no espaço escolar os diversos alunos, permitindo com eles tenham resultados satisfatórios em seu desempenho escolar e social.
Aceitar que a escola é um lugar que proporciona interação de aprendizagens significativas a todos os seus alunos acaba sendo um equivoco, não é fácil gerir uma educação inclusiva, conforme contextualiza Silva (2011) particularmente quando alguns indivíduos apresentam problemas complexos, quando os recursos são insuficientes e quando a própria sociedade está ainda longe de ser inclusiva (SILVA, 2011).
Fonte: https://bit.ly/2qThAK6
A autora explica que a dificuldade na construção da escola inclusiva, fica evidenciada quando na prática, as condutas pedagógicas não favorecem tal atuação. Silva (2011 p. 120) nomeia a aprendizagem cooperativa e a diferenciação pedagógica em prol da prática inclusiva, como elementos importantes na formação pedagógica, entretanto, isso só terá razão de ser se “os professores souberem pôr em prática atividades e estratégias que vão ao encontro dos pressupostos que lhes subjazem” a práxis da educação inclusiva.
É evidente que sem diferenciação pedagógica não podemos falar de inclusão. No entanto, se a diferenciação não for inclusiva, isto é, se o trabalho que o aluno com necessidades educativas especiais ou mesmo com dificuldades de aprendizagem realiza é marginal relativamente ao que se passa com o resto da turma, esse aluno está inserido na sua turma mas não está incluído. Isto significa que estes alunos, ainda que tenham problemáticas muito complexas, devem, de acordo com as suas capacidades, participar nas atividades em que essa participação é possível. Para tal, é desejável que os professores criem ambientes de trabalho facilitadores desta interação e que a promovam, tendo em conta, no entanto, que a diferenciação não é um método pedagógico, é uma forma de organização de trabalho na aula, no estabelecimento e no meio envolvente. Não se limita a um procedimento particular, nem pode atuar apenas por grupos de nível ou de necessidade: Deve ter em conta, todos os métodos, todos os dispositivos, todas as disciplinas e todos os níveis de ensino (PERRENOUD, 2010 apud SILVA, 2011 p. 122).
Na procura de conseguir implementar os objetivos da inclusão, torna-se necessário à adesão de teorias interacionistas de Piaget e Vygotsky. O primeiro em sua teoria “ressalta que o sujeito é construtor de seu oportuno conhecimento por meio de sua atuação sobre o meio”. O segundo assegura que a “constituição da informação sugere uma atuação repartida, por meio dos outros que as afinidades entre sujeitos e objeto são instituídas e, consequentemente ocorre o desenvolvimento” (LA TAYLLE; OLIVEIRA; DANTAS, 2000 apud GUIMARÃES, 2017).
Não se pode imaginar uma escola inclusiva, sem métodos pedagógicos construtivistas ou sócios-interacionistas, essas abordagens parecem proporcionar melhores estruturas de estabilidade do aluno na escola, articulando condições de conseguir sucesso na constituição do seu desenvolvimento escolar, através do acesso ao currículo, acatando suas probabilidades de aprendizagem (FREITAS, 2007 apud GUIMARÃES, 2017).
REFERÊNCIAS:
ABREU, Luiz Carlos de Abreu, et. al. A Epistemologia Genética de Piaget e o Construtivismo. Rev. Bras. Cresc. e Desenv. Hum. S2010 p. 361-366. Disponível: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbcdh/v20n2/18.pdf . Acesso: 24.10.2018.
AGUIAR, I. A.; PASSOS, E. A Tecnologia como Caminho para uma Educação Cidadã. 2014. Disponível:https://www.cairu.br/revista/arquivos/artigos/2014/Artigo%20A%20TECNOLOG IA%20COMO%20CAMINHO%20PARA%20UMA%20EDUCACAO%20CIDADA.pdf. Acesso: 24.10.2018.
DUNKER, C. I.L. et. al. Uma Psicologia Que Se Interroga: Ensaios. São Paulo: Edicon, 2002. SILVA, M. O. E. Educação Inclusiva – Um Novo Paradigma de Escola. Rev. Lusófona de Educação n.19, Lisboa: 2011. Disponível: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-72502011000300008 Acesso: 24.10.2018.
GUIMARÃES, H. O. A Inclusão Escolar e as Políticas Educacionais: possibilidades e novos caminhos. Revista FAROL, v. 5, n. 5, Rolim de Moura: 2017 p. 114-128. Disponível: http://revistafarol.com.br/index.php/farol/article/view/81/93. Acesso: 24.10.2018
As interações sociais no início da vida são fundamentais para o desenvolvimento.
A maternidade é um aprendizado único; é uma experiência de transformação pessoal; é sentir o movimento da vida que inicia dentro do útero; é aprender a comunicar-se sem palavras. A vida inicia como uma única célula, menor que um alfinete. Nove meses depois, existimos como organismos extraordinariamente complexos, formados de bilhões de células diferentes. E esta intricada dinâmica é apresentada em pormenores através do documentário ‘O Começo da Vida’, disponível na Netflix.
Os bebês geralmente nascem minúsculos, vermelhos, enrugados e mal conseguindo aguentar a própria cabeça. As primeiras alterações bio-psico-comportamentais da criança ocorrem no momento do nascimento, na saída de dentro do útero para um ambiente quente e úmido, no qual os pulmões se inflam pela primeira vez, são fechados os canais secundários, que desviam o sangue dos pulmões para a placenta, e as artérias umbilicais. O recém-nascido tem a visão de outros seres humanos pela primeira vez e dá o início à construção de um relacionamento social e do relacionamento pai, mãe e filho(a). Os familiares têm a expectativa da aparência do bebê e expectativas sociais desse novo ser.
Fonte: http://twixar.me/md3K
Logo a criança respira por conta própria, consegue explorar o mundo usando os sentidos, se alimenta e começa a assumir seu lugar dentro do contexto familiar e na comunidade em que faz parte. Porém o bebê é totalmente indefeso e aprende uma imensidão de coisas nos primeiros anos de vida, sendo uma fase importante e que pode refletir durante o resto da vida. Os bebês nascem “míopes” e passam por processos sensoriais referentes à visão. Ele conseguirá enxergar com clareza por volta dos oito meses de idade. Contudo, o bebê já explora o ambiente com o olhar desde o nascimento, assimilando formas visuais.
Fonte: http://twixar.me/hd3K
Os bebês passam por outros processos sensoriais referentes ao olfato, paladar, tato, temperatura e posição. Aos oito e dez dias de vida os bebês já são aptos de distinguir o odor do leite materno em relação ao leite de outra mulher, podem apresentar expressões faciais diferentes para gostos diferentes, reagem a toques desde o período pré-natal e mostram sensibilidade às alterações de temperatura e estudos apresentam que reagem com movimentos distintos dos olhos ao serem girados. O documentário reforça que eles aprendem mais do que jamais imaginamos, uma vez que as vias associativas funcionam antes mesmo da criança nascer e, mesmo no útero da mãe, o feto já percebe as vibrações do som, começando pela voz e pelos batimentos cardíacos da mãe.
Conforme o documentário, a cada segundo o cérebro do bebê faz milhares de conexões entre as células nervosas, o que proporciona todos os tipos de experiências, interações físicas e sensações que permitem à criança o processamento do que está acontecendo ao seu redor. O bebê passa pela habituação que se refere ao processo em que a atenção à novidade diminui com a exposição repetida, realizando um processo de aprendizagem e a desabituação que ocorre quando o interesse é renovado após uma mudança no estímulo. Ambos os processos ocorrem automaticamente, sem qualquer esforço consciente. Portanto, o que comanda tais processos é a relativa estabilidade e a familiaridade do estímulo.
Fonte: http://twixar.me/Xd3K
Segundo Jean Piaget, psicólogo do desenvolvimento, o conhecimento dos bebês é construído através da ação (construtivismo) e através de esquema que se refere a uma estrutura mental que proporciona a um organismo um modelo de ação em circunstâncias similares ou análogas. Em cada comportamento ocorre a adaptação que proporciona a assimilação. Piaget conceitua a aquisição da aprendizagem pelo processo de adaptação, assimilação e acomodação. Os reflexos e as coordenações sensoriais e motoras presentes no recém-nascido tornam-se mais complexos, coordenados e propositais enquanto se desenvolvem no processo de adaptação, no qual o ser humano adapta-se ao meio e organiza suas experiências (WADSWORTH, 1997).
No documentário a mente da criança é totalmente aberta, não planejada e à espera de descobertas, passando pelo processo cognitivo e psicológico mediante os quais as crianças adquirem, armazenam e usam o conhecimento sobre o mundo. Piaget apresenta o desenvolvimento percepto-motor como umas das conquistas dos primeiros anos de vida da criança a qual ocorre quando a percepção e o agir da criança estão intimamente conectados e ela tem a capacidade de girar, mover, sacudir um objeto, segurar com uma mão e depois, com as duas mãos, brincar de encaixar, erguer a cabeça, rolar o corpo, sentar-se sem apoio, caminhar sozinha, levantar, subir degraus dentre outros.
Nos primeiros anos de vida, os bebês categorizam o gênero dos sons de voz, conseguindo reconhecer a voz da mãe e diferenciar das demais, categorizam os adultos como sendo confiáveis versus estranhos imprevisíveis. A memória desenvolve-se rapidamente e o desenvolvimento cerebral é tão influenciado pelo ambiente quanto pela genética. As experiências e interações que uma criança pequena tem literalmente ficam marcadas na pele e no cérebro, além de afetarem a constituição dos circuitos e da arquitetura do cérebro.
Fonte: http://twixar.me/Jd3K
O documentário apresenta casos de pessoas que foram seriamente privadas de afeto quando eram bebês, podendo manifestar na fase adulta uma dificuldade em ter afeto com crianças pequenas pois essa experiência afetiva não fez parte do seu repertório comportamental da infância.
Destarte, o documentário mostra que o contato com a família, o afeto e a demonstração de amor e carinho são melhor que brinquedos, uma vez que a interação com outros seres humanos é fundamental para o desenvolvimento da criança. Logo, a comunicação, o contato e o convívio social são inerentes ao bebê, à medida que os primeiros laços são estabelecidos nos primeiros anos de vida.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
Título Original: O Começo da Vida Direção: Estela Renner Elenco: Nenhum Ano: 2016 País: Brasil Gênero: Programa e séries, série documental
Referências:
BEE, H. O Ciclo Vital. Porto Alegre: ArtMed, 1997.
COLE, M. COLE, S. O Desenvolvimento da Criança e do Adolescente. 4.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2003.
WADSWORTH, B.J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget: fundamentos do construtivismo. 5. ed. rev. São Paulo: Pioneira, 2003
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