Reinventando no Caminho… 2

Compartilhe este conteúdo:

No mundo real, somos preparados para viver com os pais até certa idade e depois tomar asas e voar rumo ao seu destino, porém é confortante saber que se tem para onde voltar caso necessário. Assim vivi por 15 anos da minha caminhada neste mundo.

Indo e vindo, bebendo da água da sabedoria de meus pais, abastecendo-me para seguir em frente novamente. Até que, ao ser tomada de susto, percebo que não tenho mais um ninho pra onde voltar… e agora, o que fazer?

Desesperar-me? Desistir? Fugir para uma aldeia longínqua?

Não eram as opções viáveis…

Fonte: encurtador.com.br/eFGTX

A única coisa possível a se fazer naquele momento era novamente me reinventar. Sem o conforto do lar paterno, sem um ombro pra me apoiar, tive que vivenciar o luto pela perda dos pais, administrar a vida que agora se descortinava sabendo que dali para frente não teria mais como voltar para casa.

O único recurso era criar meu próprio lar. Minha casa de passagem. Meu espaço de consolo. Juntei as forças novamente na reconstrução da vida solitária, porém desejosa de fazer dela celebres encontros, novas amizades, novos convívios, novos amores, novo futuro, novo presente.

Carpe Diem.

Compartilhe este conteúdo:

Uma casa deve ser um Lar: intervenção em uma casa abrigo

Compartilhe este conteúdo:

Como diz a clássica canção de Hal David A house is not a home; uma casa pode ter toda estrutura necessária para abrigar uma família, mobília e aquecimento, mas uma casa não é um lar se não houver abraço, atenção, apoio e cuidado.

Recordamos também de Zezé, personagem do romance juvenil Meu Pé de Laranja Lima de José mauro de Vasconcelos, que apesar de ter familiares ao seu lado, se sentia sozinho por não ter um carinho de pai ou afago de mãe, ou seja, por não ter um lar.

Propomo-nos, a contribuir no aprimoramento de uma Casa Abrigo, para que se aproxime de umlar.  E foi um grande desafio, a experiência de vivenciar a rotina de uma instituição que recebe crianças com histórico de abuso e abandono. Essa vivência produziu algo singular em nossa formação.

O lugar dispõe de uma estrutura física  adequada para que uma criança se desenvolva e evolua como qualquer outra. O desafio diário da equipe é tornar essa instituição em um lar, onde as crianças recebam carinho e atenção de seus pais sociais, e juntos possam caracterizar uma família, ou o mais próximo possível desse núcleo tão importante no desenvolvimento humano.

Foi evidente no convívio de seis meses com os pais dessa Casa Abrigo, o quão é difícil o que aqui propomos. Cada criança traz consigo histórias e experiências distintas e requerem cuidados e atenção específica. Por outro lado, os cuidadores mobilizados com as especificidades dessas crianças, com o abandono e maus tratos comuns em cada caso, ou talvez por defesa, automatizam suas práticas, e acabam tratando iguais os diferentes, e o que deveria ser singular, passa a ser coletivo. Assim, criam uma aproximação íntima e ao mesmo tempo distante de cada criança.

Eis aí o imbróglio de um estabelecimento instituído, que a muito custo se mantém, tem suas limitações e necessidades, reconhece o desejo de suprir a necessidade emocional de cada criança, mas por ser uma instituição- casa e não um lar, não sabe como fazê-lo.

Tentamos auxiliá-los nessa e em outras demandas surgidas nesse caminhar, e formulamos, junto aos educadores (pai e mães sociais), um grupo de apoio na tentativa de estabelecer processos de autoanálise e autogestão; conceitos comuns do movimento institucionalista ou análise institucional; que propõe que os próprios coletivos se deliberem, produzam saberes sobre si mesmos e se organizem para melhor gerir suas atuações.

As provocações, como o previsto, produziram mais questionamentos do que respostas, o desconforto na descoberta de uma atuação alienante, incomodou a todos, incluindo nós. Como pode se trabalhar tanto tempo sem mesmo pensar o porquê ou quais as implicações desse labor? Percebemos neles inquietações, e juntos levantamos reflexões que indicavam a eminência de mudanças em suas atuações. Eles estiveram comprometidos todo o tempo, colocaram-se em análise e apontaram formas diferentes de atuar, para transformar a casa em um lar, evidenciando a singularidade de crianças e cuidadores, tratando com equidade as diferenças de cada um.

Assim, finalizamos nossa intervenção em meio aos questionamentos. Certamente o processo que construímos vai repercutir na atuação nossa e dos educadores, talvez não como houvéssemos planejado, porém o incômodo recorrente ao término das reuniões nos faz crer em uma mudança positiva na práxis de todos os envolvidos, cada um a sua maneira e no seu tempo.

É mais comum do que imaginávamos, tomar a forma do instituído e se acomodar em sua atuação, sem perceber. É muito tênue a linha que divide a reflexão e o comodismo. A autocrítica e a ação foram os produtos do processo de autoanálise e autogestão que foram estabelecidos no grupo de educadores sociais, e apesar de reconhecer as dificuldades de instaurar mudanças em uma instituição, esperamos ter contribuído para que essa casa se torne um LAR.


Nota: Texto produzido por acadêmicos de Psicologia do CEULP/ULBRA para a disciplina Intervenção da Psicologia na Educação ministrada pelo professor Jonatha Rospide.

Compartilhe este conteúdo:

Acolher, cuidar e amar: a transformação do CAPS em lar

Compartilhe este conteúdo:

O Centro de Atenção Psicossocial de Paraíso do Tocantins, cidade localizada a 60 km da capital Palmas, lembra mais uma residência habitada por enorme família que compartilha junto as alegrias e aflições do mundo contemporâneo. Seja pela forma como as coisas são coordenadas por ali, seja pela arquitetura e atmosfera residencial que o prédio da instituição carrega, reforçadas pelas enormes mangueiras e também pelo conjunto de residências ligadas a instituição.

O Centro abriga aproximadamente 165 usuários – Foto: Victor Hugo Morais

Se todo lar precisa de alguém para colocá-lo em ordem, nesta pequena casa, que acolhe aproximadamente 165 usuários, a coordenadora Lucimar Mota Alves assume este papel. Desde 2005, ela coordena o CAPS de Paraíso, de acordo com a mesma, “com disponibilidade, dedicação e muito esforço”.

Graduada em Enfermagem pelo Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp/Ulbra, e atualmente, estudante de Pós-Graduação no Instituto Brasileiro de Educação e Cultura – IBEC, especialização em Saúde Pública, a coordenadora recebeu a equipe do portal Encena nas dependências do CAPS para falar sobre responsabilidade de administrar o centro destinado a pessoas com problemas relacionados a saúde mental.

(En)Cena – Para entender melhor como é coordenar o CAPS voltaremos exatamente quando tudo começou. Relembre para nós como se deu seu ingresso frente à coordenação da instituição e quais foram suas impressões iniciais acerca da administração de centro psicossocial?

Lucimar – A título de curiosidade comecei a trabalhar no CAPS em outubro de 2004, como enfermeira. Foi somente em janeiro de 2005 que assumi a coordenação do centro, a convite da Secretaria Municipal de Saúde que acreditou em minha capacidade. É evidente que todo novo trabalho gera ansiedade, medo e incertezas, aliás coordenar é um grande desafio, pois não só a saúde mental, mais qualquer outro tipo de particularidade médica exige responsabilidade, compromisso, seriedade, ética e profissionalismo.

 

(En)Cena – E quais foram seus primeiros passos na coordenação da instituição?

Lucimar – De imediato foi elaborado relatório situacional da instituição e encaminhado a Secretaria municipal de saúde para que as autoridades competentes observassem as condições reais do centro no momento em que assumi. Na época, a instituição funcionava normalmente, com isso dei continuidade no serviço que já vinha sendo prestado.

(En)Cena – Tecnicamente o que é coordenar o CAPS?

Lucimar – (risos) Bem eu planejo, estabeleço algumas metas, delego algumas competências e faço avaliações dos serviços prestados, tudo isso com disponibilidade, dedicação e muito esforço.

(En)Cena – A luta pela saúde mental dos usuários da instituição é maior do que as competências estabelecidas para quem coordena?

Lucimar – Com certeza. Não é o simples dever de trabalhar e cumprir horário. É trabalhar com amor e dedicação. É contribuir para que o usuário tenha condições iguais a de qualquer outro indivíduo e ser visto como um cidadão.

(En)Cena – E quais são as pessoas que te auxiliam nesta luta diária?

Lucimar – Ao todo são 19 funcionários que colaboram pela manutenção do serviço, sendo 11 do setor administrativo, com funções que vão de auxiliares administrativos a vigiais, e, oito da parte técnica voltada à assistência psicossocial como psicólogo, farmacêutico, médicos, assistente social entre outros. Minha relação com eles é a mais estreita possível, aliás trabalhamos com os mesmos objetivos. Além disso, tenho em mente que é preciso saber cultivar boa relação a partir da troca de experiências e de vínculos afetivos. Implica ainda na capacidade de sensibilizar-se na partilha do sofrimento e de garantir atendimento de qualidade ao usuário.

Graduada em enfermagem, Lucimar coordena o CAPS de Paraíso desde 2005

Foto: Victor Hugo Morais

(En)Cena – O time é completo?

Lucimar – Não, no momento o centro possui demanda de um psicólogo e um terapeuta ocupacional. Mas já foram tomadas as medidas cabíveis para resolver esta situação.

(En)Cena –  Mas exatamente qual é essa luta?

Lucimar – O CAPS de Paraíso é classificado com CAPS I, sendo preconizado pelo Ministério da Saúde a atender municípios de 20 mil a 70 mil habitantes com capacidade para acolher 165 usuários. O atendimento é dividido em três modalidades, sendo 25 no sistema intensivo, 50 no sistema semi-intensivo e 90 no sistema não intensivo. Os usuários são pessoas que apresentam intenso sofrimento psíquico, impossibilitados de entender a realidade e realizar projetos de vida. Por outro lado, não atendemos somente a cidade de Paraíso, mas também 15 cidades circunvizinhas, o que consequentemente aumenta a demanda de usuários.

 

(En)Cena – Qual é a demanda de pacientes que apresentam problemas relacionados a saúde mental em toda essa região?

Lucimar – Estima-se que 15% da população destas 16 cidades apresentam problemas relacionados à saúde mental. Inclusive revelo a vocês que estamos caminhando rumo ao CAPS II devido a grande demanda reprimida.

 

(En)Cena – E a instituição possui recursos suficientes para suprir todo o serviço psicossocial estabelecido?

Lucimar – Sim. A instituição possui recursos suficientes.

(En)Cena – Você tem esta afirmação por que também coordena o recurso?

Lucimar – Na verdade eu não administro os recursos destinados ao CAPS. Falo isso devido ao fato que sempre que solicitadas, as verbas são repassadas pela Secretaria municipal de saúde, responsável pela coordenação do recurso oriundos do Ministério  da Saúde, através de laudos emitidos a partir das APAC’s – Autorizações para procedimentos de Alta complexidade. Sempre encaminho ofícios de solicitação, atendidos frequentemente pela pasta.

 

(En)Cena – Qual o atendimento dado ao paciente do CAPS de Paraíso?

Lucimar – Quando uma pessoa é atendida no CAPS, ela tem acesso a vários recursos terapêuticos, atendimento individual, em grupo, medicamentoso, atendimento a família, oficinas terapêuticas e atividades comunitárias, também não esquecendo atividades prática como processo de humanização, responsabilidade e compreensão. Damos atendimento com competência e tolerância.

(En)Cena – E quanto ao controle dos medicamentos oferecidos na Instituição. Como se dá?

Lucimar – A necessidade de medicação de cada usuário do CAPS deve ser avaliada constantemente com os profissionais do serviço. O CAPS organiza a rotina de distribuição de medicamentos e determina a família como responsável quanto à administração dessa medicação no que tange seu consumo pelo usuário. Os medicamentos são enviados constantemente pela Secretária de saúde.

 

(En)Cena – Há políticas voltadas também para o acompanhamento das famílias dos usuários?

Lucimar – É sabido que não somente o usuário precisa de atendimento, mas a família também necessita, pois ela adoece junto. É preciso que tenhamos uma atenção especial às famílias fragilizadas, que muitas vezes não encontram-se preparados para lidar com parente  que apresenta transtorno mental. Membros da equipe técnica como assistentes sociais e psicólogos, além de outros profissionais, realizam visitas domiciliares a fim de acompanharem as condições tanto financeiras como emocionais, seja do usuário ou de seus familiares. As visitas são relatadas no prontuário do paciente e também registrada no livro de visitas.

(En)Cena – Lucimar é sabido também que os CAPS devem atuar na tentativa de reinserção social de seus pacientes. Como é feito este trabalho?

Lucimar – A reinserção social dos pacientes se dá a partir de diversas atividades, dentre elas o acesso ao trabalho. São realizadas oficinas de artesanato, onde usuários produzem produtos que posteriormente são vendidos ou apresentados em exposições. Fazemos exercícios dos direitos civis e, atuamos no fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Além disso, realizamos o projeto Mostra de Cinema do CAPS que se encontra em sua 8ª edição, onde são apresentados filmes relacionados a saúde mental com efetiva participação da comunidade.

 

(En)Cena – Qual sua opinião acerca dessa aceitação social, ou seja, a população acolhe bem tanto o programa quanto o usuário?

Lucimar – Acredito que a população tem uma boa aceitação, pois quando levamos os projetos do CAPS para fora da Instituição somos bem recebidos. Afinal, a instituição tem reconhecimento, pois atua no alivio e amenização do sofrimento dos que ali buscam atendimentos.

(En)Cena – Quais são os parceiros do CAPS?

Lucimar – O centro tem como parceiros a Secretaria Municipal de Saúde, o Colégio Supremo, a Universidade Luterana Brasileira – Ulbra, Ruraltins, Frango Norte e demais entidades. Os apoios vão de ajuda em projetos desenvolvidos pelo centro à doação de alimentos, além da disponibilidade de estagiários para auxílio nos serviços desenvolvidos.

(En)Cena – Para finalizar vamos falar de futuro. Quais são seus próximos projetos ou planos para a instituição?

Lucimar – Atualmente, nós trabalhamos para a concretização da ampliação da estrutura física da unidade, visando oferecer à toda região o CAPS II. Paralelo a isso, busca-se a aquisição de mais profissionais a fim de atender com qualidade e prontidão toda a demanda existente.


Nota: texto originalmente publicado na Revista Laboratorio EU – www.revistaeu.blogspot.com – , do curso de Jornalismo do CEULP/ULBRA vinculada à disciplina de Produção Jornalística II – Revista orientada pela professora Jocyelma Santana.

 

Compartilhe este conteúdo: