A diversidade e o preconceito linguísticos no Brasil: uma luta da psicologia e do multiculturalismo

Compartilhe este conteúdo:

O preconceito linguístico existe no Brasil e persiste ao longo da história desde o período colonial. Os portugueses ignoraram a língua nativa dos moradores que aqui viviam e passaram a ensinar o português. E por não saberem a língua portuguesa, os nativos perdiam os seus direitos garantidos diante da Corte.

Quanta injustiça os índios não viveram? E para sobrevierem, muitos tiveram que aprender o português que aos poucos fez com que muitas línguas indígenas fossem esquecidas, já que não foram documentadas e não mais ensinadas para as gerações futuras.

Na sociedade atual, diariamente somos surpreendidos com notícias de que alguém sofreu algum tipo de preconceito, seja social, sexual, preconceito físico, de gênero, etc., e também preconceito linguístico. Mas, como definir o preconceito linguístico em um país que tem 26 Estados e o Distrito Federal, onde no mesmo Estado ou região, pode haver variação de sotaques e usos de palavras para um determinado objeto?

Primeiramente vamos compreender o significa de lingüística. Segundo o dicionário Houaiss, “linguística é a ciência que estuda a linguagem humana, a estrutura das línguas e sua origem, desenvolvimento e evolução”. Ou seja, cada lugar, cada povo possui a sua própria língua, a sua forma de se comunicar uns com os outros. Além da língua, existe o dialeto, o qual conforme o dicionário citado anteriormente é “qualquer variedade linguística coexistente com outra e que não pode ser considerada outra língua (p.ex.: no dialeto português do Brasil, o dialeto caipira, o nordestino, o gaúcho, etc.)”. Logo, conclui-se que dialeto é uma variedade linguística, termo utilizado para se referir a formas diferentes de utilizar a língua de um mesmo país. Essas variedades linguísticas resultam da variação de uma língua que ocorre devido a vários fatores, como por exemplo, a faixa etária, a escolaridade, a região, o contexto social e cultural.

O PRECONCEITO LINGUÍSTICO

Agora é preciso compreender o termo preconceito. O dicionário de Evanildo Bechara define-o da seguinte forma: “Conceito, sentimento ou atitude discriminatória em relação a pessoas, ideias, etc.”. Assim, o preconceito linguístico se manifesta ante as diferenças que existem na forma diversificada de falar, que “cada indivíduo observa como errado”, considerando apenas como certa a variação de aceitação no que diz respeito à norma culta ou padrão, e diminuindo o valor das demais formas linguísticas, classificando-as como inferiores.

Pode-se dizer que preconceito linguístico é qualquer crença sem fundamento científico acerca das línguas e de seus usuários. Ora, a linguagem, como dito, é um mecanismo de comunicabilidade e deve ser usada por todos, sem discriminação. É um absurdo achar que somente a língua aprendida nas academias, que segue as regras da norma culta, é correta. Se a linguagem é uma forma de expressão do indivíduo, o que importa é que a mensagem emanada pelo emissor chegue até o ouvinte e por esse seja decodificada e compreendida. Se isso aconteceu, está tudo certo.

Outra questão que necessita ser observada é diferenciar a linguagem escrita, que segue regras e padrões de formatação que não podem ser alterados pelo fato da linguagem falada ser diferente. Se uma pessoa falar “nóis vai”, não quer dizer que irá escrever da mesma forma.

O sistema econômico subjugou a língua falada, padronizando o comportamento das pessoas, privilegiando alguns para exercer o poder. Isto é, quem pertence à classe social alta, tem mais acesso à educação, inclusive, alguns estudam em escolas que alfabetizam em duas ou mais línguas, além do português.

Tanto é verdade que, por exemplo, entre grupos de médicos, engenheiros, advogados, psicólogos, entre outras tantas profissões, há termos técnicos que são falados entre aqueles profissionais e que não fazem parte do vocabulário dos falantes daquela língua e nem por isso, estes, por se utilizarem de vocábulos “diferentes” são excluídos ou diminuídos pelos demais, ao contrário, são venerados.

Dessa maneira, estes são tratados de forma diferente daqueles que não têm acesso ao ensino básico de qualidade e não conjugam, por exemplo, os verbos da forma padrão. As salas de aula, quando tem aula e onde tem escola, são improvisadas e não há divisão de turmas, de idade entre os alunos, grau de escolaridade, etc., numa visão totalmente antagônica à anterior. Mesmo nos dias de hoje, podemos encontrar escolas como essas em alguns Estados brasileiros.

Fonte: Chico Bento – Tirinha de Maurício de Sousa. 1998.

Outro aspecto relevante a ser abordado são as diferentes formas de se comunicar entre os brasileiros. O Brasil, pela sua dimensão territorial, abriga povos que apresentam diferentes culturas e formas de se expressarem, a depender da região. E as regiões consideradas mais economicamente desenvolvidas discriminam as menos favorecidas no plano econômico.

Fato é que os meios de comunicação também reforçam essa diferenciação, inferiorizando algumas maneiras de falar. Muitas das vezes, o sotaque nordestino aparece quando é encenado por um trabalhador da limpeza ou que atua como humorista. Não se observa com frequência em posição de destaque e influência em papéis principais nos filmes, novelas ou telejornais nacionais.

De igual forma, há uma discriminação dos mais jovens para com os mais velhos, mesmo em relação à linguagem. Como explica Maria Homem, em seu canal, esse fenômeno consiste no embate estrutural, como sempre, que está implícito na palavra cringe, pois, durante milênios, os anciãos eram os que tinham mais respeito, em razão dos anos vividos, da experiência e com ela a sabedoria. Inverter essa estrutura se traduz na prepotência da modernidade, que não cuida dos mais velhos, ao contrário, maltrata, não abarca esse caldeirão de experiências, desvalidando aquilo que não se faz mais.

Ora, não é diferente com a linguagem. Os mais jovens desvalidam os mais antigos, a partir de gírias como “broto, pão, avião” que se referiam a alguém bonito e que representam uma determinada geração. Aqueles que reproduzem esses vocábulos são alvo de tratamento pejorativo, jocoso, demonstram estar fora de época, ultrapassados, cringe, como alguém que traz vergonha, e, portanto, algo que deve ser marginalizado, discriminado, numa verdadeira expressão do preconceito linguístico.

A prática desse tipo de preconceito é constatada em todos os lugares e ambientes. Como bem nos assegura Mariane (2008), o ato de julgar antecipadamente consiste na discriminação existente entre pessoas falantes do mesmo idioma que elegem esse outro idioma como oficial e exclui outras variações existentes.

Assim, o preconceito linguístico existe, inclusive, dentro das escolas. O bullying tem levado adolescentes à depressão, à ansiedade e até ao suicídio. Já que o ensino tradicional determinou quem fala certo ou errado, crianças, adolescentes e jovens, que mudam de uma região do Brasil para outra, podem ser alvo de piadas em sala de aula.

Fonte: Imagem por pikisuperstar no Freepik

É oportuno lembrar que existem dois tipos de gramáticas para os linguistas: a normativa e a descritiva. A primeira é a “base da maioria dos livros didáticos e gramáticas pedagógicas, em que se caracteriza um conjunto de regras. Considerada como o conjunto sistemático da norma, ou seja, para o falar bem e escrever. Essa concepção parte do princípio de que todos que falam, sabem de fato, falar. Essa fala segue regras que são consideradas legítimas do ponto de vista do uso e da comunicação entre os diversos tipos de falantes/usuários”. Já a descritiva “tem a preocupação de analisar, descrever e explicar a construção dos enunciados, que são utilizados de fatos pelos falantes”.

Dessa forma, os professores precisam ensinar a variação da língua de forma realista (gramática descritiva) e não utópica (gramática normativa), a fim de minimizar os impactos, fazendo com que o aluno reconheça a importância da própria história, sem perder a essência e ser inserido no novo ambiente, de forma que os demais o recebam com respeito.

Essa atitude está em conformidade com o que prega o Multiculturalismo, que defende a luta pelos direitos civis dos grupos dominados, excluídos.

É oportuno frisar que, diante desse contexto, o preconceito devia ser considerado um problema de saúde pública. O site Veja Saúde publicou uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (USFC), que “concluiu que vítimas de discriminação têm um risco quatro vezes maior de desenvolver depressão ou ansiedade e ainda estão propensas a agravos como hipertensão”. “A experiência crônica de intolerância estimula a liberação de hormônios relacionados ao estresse, como o cortisol”, explica o epidemiologista João Luiz Dornelles Bastos, um dos autores do trabalho”.

Desse modo, nota-se que não somente a pessoa que está sendo discriminada, mas, também quem está discriminando pode sofrer problemas psicológicos, como afirma na matéria: a “pessoa prestes a agir de maneira hostil se submete a um estresse interno”, explica Ricardo Monezi, psicobiólogo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Outro fator importante que precisa ser observado é a questão da rejeição e as consequências, pois pode levar o indivíduo que está sendo hostilizado à baixa estima, agressão, solidão e inseguranças, que causam medos de enfrentar os desafios de uma vaga de emprego, por exemplo. É aqui que a Psicologia entra em campo, no cuidado da saúde mental desses indivíduos que sofrem com preconceitos, inclusive o linguístico, já que as consequências são tão devastadoras quanto qualquer outro tipo de discriminação.

CONCLUSÃO

A classificação de certo ou errado para os usos da língua portuguesa não deveria existir, já que há a adaptação do contexto coloquial. A pessoa utiliza determinada maneira para falar, levando em consideração o ambiente familiar, a renda, região que mora, formando a sua própria identidade.

A diversidade na forma de falar torna o Brasil com múltiplas características, já que cada região tem um sotaque, seu vocabulário próprio, sua forma de se expressar, a exemplo das diversas línguas indígenas que carregam em si uma história.

O ser humano pertence a um determinado grupo e isso o torna autêntico, donde se conclui que a “língua” não poderia ser considerada como um problema, ao contrário, a “diversidade linguística, neste caso, está relacionada com a existência e a convivência de línguas diferentes. O conceito defende o respeito por todas as línguas e promove a preservação daquelas que se encontram em vias de extinção por falta de falantes”.

Portanto, a diversidade linguística se refere às múltiplas identidades de cada um e como tais merecem respeito e não preconceito.

REFERÊNCIAS

Pequeno Dicionário Houaiss da língua portuguesa/Instituto Antônio Houaissde Lexicografia, [organizador]; [diretores Antônio Houaiss, Mauro de Sales Villar, Francisco Manoel de Mello Franco]. – 1. Ed. – São Paulo: Moderna, 2015

BECHARA, Evanildo, Minidicionário da língua portuguesa Evanildo Bechara/ Evanildo Bechara. – Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2009, página 718.

HOMEM, Maria. O que é cringe? Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Hjh6p5Ip6Bg. Acessado em 24/11/21.

SANTOS, Patrícia da Cruz Ferreira dos [1], ANDRADE, Marta Mires Da Cruz de [2], ALMEIDA, Daiane Vithoft de [3], Preconceito linguístico: Intolerância que retrai, língua que marginaliza.Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 08, Vol. 15, pp. 12-33. Agosto de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/lingua-que-marginaliza, DOI:10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/lingua-que-marginaliza. Acesso em 17/11/21.

MATTA, Sozâgela Schemim da. Português, linguagem e interação. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro Ltda, 2009.

BERGAMO, Karolina. A intolerância de hoje pode ser a doença de amanhã — inclusive entre quem pratica a discriminação. Publicado em 28 jun 2016. Disponível em https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/preconceito-faz-mal-a-saude/amp/. Acesso em 24/11/21.

[1] Pequeno Dicionário Houaiss da língua portuguesa/Instituto Antônio Houaissde Lexicografia, [organizador]; [diretores Antônio Houaiss, Mauro de Sales Villar, Francisco Manoel de Mello Franco]. – 1. Ed. – São Paulo: Moderna, 2015, p. 593.

[2] Idem. p. 334.

[3] BECHARA, Evanildo, Minidicionário da língua portuguesa Evanildo Bechara/ Evanildo Bechara. – Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2009, página 718.

[4] HOMEM, Maria. O que é cringe? Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Hjh6p5Ip6Bg. Acessado em 24/11/21.

[5] SANTOS, Patrícia da Cruz Ferreira dos [1], ANDRADE, Marta Mires Da Cruz de [2], ALMEIDA, Daiane Vithoft de [3], Preconceito linguístico: Intolerância que retrai, língua que marginaliza.Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 08, Vol. 15, pp. 12-33. Agosto de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/lingua-que-marginaliza, DOI:10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/lingua-que-marginaliza. Acesso em 17/11/21.

[6] MATTA, Sozâgela Schemim da. Português, linguagem e interação. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro Ltda, 2009, p. 136.

[7] Idem

[8] BERGAMO, Karolina. A intolerância de hoje pode ser a doença de amanhã — inclusive entre quem pratica a discriminação. Publicado em 28 jun 2016. Disponível em https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/preconceito-faz-mal-a-saude/amp/. Acesso em 24/11/21.

[9] Idem

[10] Conceito da diversidade lingüística. Publicado em 2011/atualizado em 2019. Disponível em https://conceito.de/diversidade-linguistica. Acesso em 24/11/21.

Compartilhe este conteúdo:

Novo livro detalha o autismo em Lacan

Compartilhe este conteúdo:

O psicanalista argentino Patrício Alvarez Bayon faz parceria com a Escola Brasileira de Psicanálise para lançar seu no livro para “El autismo entre lalengua y la letra”.

No texto, o autor destaca retoma os três estatutos do simbólico em Lacan: a língua, a letra e a linguagem. Para ele, “a linguagem não existe”, pois pressuporia um encontro subjetivo impossível entre dois sujeitos. E a “língua é um conjunto indiferenciado de uns”, com ausência de significantes que lhe ofereçam sentido. Somente a letra, que representa o momento em que algo, extraído do zumbido da língua, se inscreve no inconsciente do sujeito, é que faz furo no real e articula à linguagem.

No caso do autismo, a foraclusão do furo produz consequências na letra e, por consequência, na linguagem. E o desafio da clínica do autismo é usar a lalengua para apoiar o saber fazer do paciente para travar uma relação com a linguagem.

Ficha técnica:

Título: El autismo entre lalengua y la letra

Gênero literário: livro técnico

Editora: Grama

Preço: R$ 59,90 + frete para o Brasil

Links para comprar: https://www.gramaediciones.com.ar/br/produtos/el-autismo-entre-lalengua-y-la-letra-patricio-alvarez-bayon/

Compartilhe este conteúdo:

A Chegada: a linguagem e os limites do mundo

Compartilhe este conteúdo:

Com oito indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado (Eric Heisserer), Melhor Diretor (Denis Villeneuve), Melhor Fotografia (Bradford Young), Melhor Mixagem de Som (Bernard Gariépy Strobl e Claude La Haye), Melhor Edição de Som (Sylvain Bellemare), Melhor Design de Produção (Patrice Vermette ‘design de produção’ e Paul Hotte ‘decoração de set’) e Melhor Edição (Joe Walker).

Banner Série Oscar 2017

Exibido no final de 2016 em todo o Brasil, o filme A Chegada, do prestigiado diretor canadense Denis Villeneuve, é baseado no livro The Story of Your Life, de Ted Chiang, e conta a estória da Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma linguista que é convidada por militares para descobrir as intenções de um grupo de alienígenas que chega simultaneamente a estratégicos pontos da Terra, e pairam literalmente sobre nossas cabeças. “Conforme aprende a se comunicar com os aliens, ela começa a experienciar flashbacks que se tornam a chave para desvendar o propósito da visita”, escreve o site Omelete, especializado em cinema.

O enredo se dá pela lógica da combinação de um luto pessoal (o da Dra. Louise) com o intrigante processo de aproximação com uma civilização completamente estranha e mais avançada que a nossa. Neste contexto, não basta se utilizar de um aparato tecnológico de ponta para tentar mediar este contato e entender uma nova língua. É preciso recorrer à linguística para, então, ter um vislumbre de comunicação e um entendimento da linguagem em seu sentido mais lato.

a chegada

Fica clara a influência – direta ou indireta – do pensamento do austríaco naturalizado britânico Ludwig Wittgenstein sobre a narrativa, tendo em vista que os limites da linguagem, expressas primorosamente no longa, também significam os limites do mundo. Portanto, mais que um processo comunicativo ou de comportamento, a linguagem seria intrinsecamente ligada à consciência e, entendida como uma forma lógica possibilita que as ambiguidades das proposições sejam extintas.

No caso do filme, a Dra. Louise tinha como desafio entender as reais intenções da chegada dos alienígenas. Vieram em missão de paz, ou queriam explorar os humanos? Esta dúvida só poderia ser debelada se se compreendesse a linguagem dos visitantes, num processo não apenas de reconhecer o fato em si (a chegada dos alienígenas ou os códigos da fala, a língua), mas a totalidade que está por trás de tal visita. Desta forma, o filme apresenta mais que um contato alienígena, ele remete a um alargamento de consciência a partir da mediação/decifração pela linguagem.

Imagem2

Também sobre esta temática, Quine diz que, no contato com outras formas de linguagem, somos perpassados pela “indeterminação da tradução”, fonte de instabilidade e incômodo, como fica claro no filme. Isso ocorre porque, para o autor, as palavras não tem significado próprio, mas estariam inteiramente ligadas a nossos padrões de comportamento. Além disso, aprende-se a linguagem como uma dinâmica social viva, e ao nos depararmos com um grupo de falantes cujos códigos linguísticos são radicalmente diferentes, surge uma barreira a ser transposta, sob pena de não se entender a visão de mundo destes falantes, e de não ampliarmos a nossa própria visão de mundo, a partir deste contato.

Comte-Sponville (2011, p. 352) diz que

A linguagem não fala, não pensa, não quer dizer nada, e não é uma língua; é por isso que podemos falar e pensar. A linguagem é apenas uma abstração: somente as falas, mas traduzidas em atos, são reais, e elas se atualizam apenas numa língua particular. Assim, a linguagem é mais ou menos para as línguas e para as falas o que a vida é para as espécies e para os indivíduos: sua soma.

Por fim, não por menos a Dra. Louise teve de encarar este desafio em uma fase da vida fortemente perpassada pelo luto. O filme, em parte, expressa as ideias cognitivistas de Gordon Bower, para quem os estados emocionais determinam a ênfase dada aos padrões de pensamento. Dra. Louise estava triste, com medo e confusa, estados que perpassavam as dinâmicas gerais de toda a humanidade, a partir do contato alienígena. Assim, o filme é um exemplo perfeito, para além de mentalismos, da associação entre estados de humor e os fatos externos, emoções e informações concretas.

a-chegada-oscar-2017

A Chegada é, antes mesmo de uma ficção científica rebuscada, uma obra de pegada existencialista, é um vislumbre de panaceia futurista em que a língua, e depois a linguagem, além das emoções e das mudanças vertiginosas porque passa o mundo, se bem decifrados, podem conter a chave para mudanças verdadeiramente substanciais, individualmente e coletivamente falando.

REFERÊNCIAS:

COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. São Paulo: WMF, 2011;

O Livro da Filosofia (Vários autores) / [tradução Douglas Kim]. – São Paulo: Globo, 2011;

O Livro da Psicologia (Vários autores). São Paulo: Globo, 2013;

Resumo de A Chegada. Disponível em < https://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/a-chegada-amy-adams-conversa-com-aliens-no-primeiro-trailer-completo-do-filme/ >; acesso em 19/02/2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

a-chegada-cartaz

A CHEGADA

Diretor: Denis Villeneuve
Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Michael Stuhlbarg, Forest Whitaker
País: EUA
Ano: 2016
Classificação: 13

Compartilhe este conteúdo: