CAOS: “Todo mundo tem a Bruxa e a Branca de Neve dentro de si”

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Nesta segunda, 21 de agosto, a psicóloga Hellen Reis Mourão, esteve no Congresso Acadêmico dos Saberes em Psicologia ministrando o mini curso ‘Arquétipos da violência nos contos de fada’. Hellen é analista Junguiana e especialista em Mitologia e Contos de Fadas. Atua como psicoterapeuta, professora e palestrante de Psicologia Analítica e Contos de Fadas em São Paulo e Rio de Janeiro. Criadora do Blog Café com Jung e colaboradora do Portal (En)Cena – A Saúde Mental em Movimento. Recentemente, Hellen concedeu uma entrevista para o portal (En)Cena. Confira.

Durante o minicurso, Hellen apresentou a vida e obras de Carl Gustav Jung e seus conflitos até a criação da Psicologia Analítica, bem como as estruturas básicas do psiquismo recorrente da abordagem. Dessa maneira, os participantes tiveram o arcabouço necessário para compreender os aspectos humanos que favorecem a violência. De acordo com a Psicóloga, consciente e inconsciente se regulam, de modo que o Ego é o centro da consciência, com alto grau de continuidade e resistência. Porém, deve haver ligação entre o ego e o inconsciente.

Para a Psicologia Analítica, há duas camadas no inconsciente: o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. O inconsciente pessoal seria formado principalmente de conteúdos emocionais que foram adquiridos individualmente, complexos e a sombra; enquanto o inconsciente coletivo seria uma camada mais profunda, inerente a todos os humanos contendo padrões universais, como os arquétipos e instintos. Desse modo, os arquétipos foram apresentados como componentes impessoais e coletivos sob a forma de categorias herdadas. São objetos de experiências vividas pela humanidade em um processo repetitivo.

O inconsciente possui a Sombra, um arquétipo que configura tudo o que desconhecemos, como um lado sombrio com conteúdos rejeitados pelo Ego, podendo ser coletiva ou individual. A Sombra seria todo o inconsciente, e tudo que reprimimos ao inconsciente seria projetado no outro, resultando em ações violentas, por exemplo.

Os contos de fadas, por sua vez representariam a expressão mais pura e simples dos arquétipos e do inconsciente coletivo, provocariam também uma revitalização dos processos inconscientes, pois restabeleceriam a conexão com a consciência. Neles são retratados inúmeros aspectos de maldade e violência, porém a busca atual por perfeição nos afastaria dos aspectos sombrios de nossa consciência, impedindo a ressignificação dos medos. Segundo Hellen, quanto mais conscientes dos nossos aspectos sombrios, menos dominados estaremos, de modo que se deve “olhar –para a sombra- mas não se identificar com ela”.

Nos contos de fadas o mal impulsiona a individuação sendo um aliado no crescimento e desenvolvimento do herói. Logo, se esses contos de fadas permitem ver os próprios aspectos através dos arquétipos, devemos assimilá-los e nos educarmos com nossas emoções sombrias, aponta Hellen. De acordo com a psicóloga “Tudo o que a gente reprime, vem do inconsciente, ganha mais energia”, pois “todo mundo tem a Bruxa e a Branca de Neve dentro de si”.

Para a acadêmica de psicologia Bruna Medeiros, que participou do minicurso, houve uma ressignificação da violência em vários âmbitos: “Pra mim antes violência era bater ou apanhar. Agora entendo que a violência é um elemento presente na nossa sociedade de forma tão suscita que tanta coisa é sinal e não percebemos”, aponta.

O Congresso

Durante os dias 21 a 25 de agosto de 2017, semana em que se comemora o Dia do Profissional de Psicologia, o Congresso Acadêmico de Saberes da Psicologia (Caos) acontece no Ceulp/Ulbra contando com uma série de atividades que se debruçam sobre um dos temas mais emergentes da contemporaneidade, a violência. Temas como ‘Manejo clínico de vítimas de violência doméstica’, ‘Violência no Trânsito’, ‘Prevenção ao Suicídio e automutilação’, ‘Violência nas redes: em que momento nos tornamos tão insensíveis ao outro?’, ‘Alienação Parental no contexto sociojurídico’, ‘Violência e Sofrimento Psíquico no Trabalho’ e ‘Mídia, Corpo e Violência’ serão alguns assuntos abordados, dentro de uma programação que envolve aproximadamente 30 atividades.

Serviço:

O que: Palestra e mesas-redondas

Quando: 21 a 25 de agosto de 2017
Onde: Auditório Central do Ceulp/Ulbra

Realização: Curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra

Apoio: Conselho Regional de Psicologia – CRP-23, Prefeitura de Palmas, Jornal O Girassol, Psicotestes, GM Turismo, Coordenação de Extensão do Ceulp/Ulbra, Coordenação de Pesquisa do Ceulp/Ulbra.

Mais informações:

Coordenação de Psicologia: Irenides Teixeira (63) 999943446
Assessoria do Ceulp/Ulbra: 3219 8029/ 3219 8100
Programação e Inscrições: http://ulbra-to.br/caos/

Notícias do Evento: http://encenasaudemental.com/mural

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Loucura não tem nada a ver com maldade

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Ao assistir o último capítulo da novela Cúmplices de um Resgate, do SBT, (acompanho a novela desde o início por conta do interesse de minha filha), uma das últimas cenas me causou revolta e preocupação. Vimos em nossas casas, com uma audiência grande de crianças e adolescentes, uma mulher má, muito má, acabar em um hospital psiquiátrico. Seus parceiros, com atitudes ruins e desonestas, foram para cadeia.

Vilã da novela Cúmplices de um Resgate Fonte: http://zip.net/bdtzFG
Vilã da novela Cúmplices de um Resgate
Fonte: http://zip.net/bdtzFG

Vivi a experiência da loucura desde a infância. Meu pai foi um médico dermatologista e desenvolveu muitos anos da sua profissão no Hospital psiquiátrico “Colônia Juliano Moreira”, onde atendia os internados com relação às questões dermatológicas. Para desempenhar bem o seu trabalho estudou muito a psiquiatria. Há 40 anos ele já falava de uma psiquiatria mais progressista, com internações breves e pontuais. Devido a esta postura de meu pai convivi com ditos doentes mentais na minha casa em toda a minha infância e adolescência.

Além disso, minha mãe, com o decorrer do tempo, foi diagnosticada com psicose maníaco depressiva, que hoje chamamos de transtorno bipolar. Ela foi algumas vezes internada e frequentei hospitais psiquiátricos para visitá-la, quando ainda pequena. Sou Terapeuta Ocupacional, com 33 anos de formada. Não trabalho diretamente com psiquiatria, mas minha experiência de vida está ligada à psiquiatria. Eu sei o que o meu pai sofreu por ter uma esposa tida como louca. Principalmente no meio médico. Sustentou o casamento e a criação de seus filhos chegando a se afastar da própria família.

Vejo que hoje é inconcebível e inaceitável que se compare problemas mentais com maldade. Nunca presenciei maldade na minha mãe ou nas pessoas com quem convivi e convivo. Pelo contrário, são pessoas boas que se fazem o mal é somente para si mesmas. Precisam sim de ajuda e tratamento. Fora das crises não tenho nada para falar da minha mãe. Ajudou-nos no dia a dia, inclusive escolar. Tornou-se uma excelente avó.

Não posso aceitar um desrespeito a tantos segmentos da sociedade que lutam contra o estigma da loucura, entre eles, o conjunto dos que encampam a luta antimanicomial. Inclusive uma das cenas da novela foi gravada num local que lembra um hospital psiquiátrico. Cena nada agradável, com um enfermeiro bem autoritário. Modelo de uma psiquiatria que deveria estar morta ou deve morrer.

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