Contexto lança livro ‘Crônicas Despidas e Vestidas’, da antropóloga Betty Mindlin

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Autora compartilha sua experiência e impressões com povos indígenas e importantes personagens intelectuais

A editora Contexto lança no fim de setembro Crônicas Despidas e Vestidas, da antropóloga Betty Mindlin. A obra, com 216 páginas, divide-se em duas partes. Na primeira delas, “Crônicas Despidas”, a autora expõe uma variedade de assuntos relacionados ao universo indígena e contempla diversos povos.

Com diversos mitos perpassando os relatos, essa parte do livro dedica um olhar sobre aqueles que não cobriam o corpo em tempos antigos e para quem a nudez não era proibida. “Muita gente me pergunta como minha vida mudou depois que comecei a passar grandes temporadas com os índios, tentando aprender seu jeito de ser. Sempre desconverso, pois foi uma transformação tão extraordinária que jamais contei a ninguém o que hoje resolvo explicar”, relata a autora Betty Mindlin.

Já nas “Crônicas Vestidas”, personagens marcantes de diversas áreas do conhecimento – literatura, pintura, cinema – surgem, com “seus trajes habituais”, por vezes com base na admiração que despertam nela, em outras, a partir de convivência verdadeira. Assim, estas crônicas “despidas” e “vestidas” são relances de um percurso de vida. “Erigir memória em patrimônio intangível contém riscos. Tradições, costumes, crenças, para se manterem e serem transmitidos estão ligados a formas de sobrevivência e recursos materiais, à educação, a oportunidades sociais”, conclui a autora.

Foto: Lúcia Mindlin Loeb. Fonte: https://goo.gl/cWjZML

Autora

Betty Mindlin é antropóloga, autora de Diários da floresta e de sete livros em coautoria com narradores indígenas, como Vozes da origem e Moqueca de maridos, traduzido para várias línguas. Pela Contexto, é coautora de As religiões que o mundo esqueceu.

 

Fonte: https://goo.gl/u7KwmC

Serviço:

Crônicas Despidas e Vestidas

Editora Contexto

Autora: Betty Mindlin
Páginas: 216
Preço: R$ 29,90

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Mulher Maravilha: um novo paradigma para a mulher moderna

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O filme Mulher Maravilha se inicia mostrando o mundo das Amazonas, na ilha de Themyscira, e como são criadas para serem guerreiras imbatíveis. Conhecemos a rainha Hipólita e sua pequena filha Diana, que se tornará a heroína da história. A Rainha narra a filha – que deseja se tornar uma guerreira – que as Amazonas foram criadas por Zeus para proteger os humanos contra a ira de Ares (deus da Guerra).

Na Mitologia Grega, as Amazonas eram integrantes de uma sociedade de mulheres guerreiras, que não permitiam a entrada dos homens e nem se casavam. Eram independente e lutavam com os homens que tentavam domina-las. Em algumas versões, elas eram proibidas de ter relações sexuais com os homens e esses eram proibidos de viver na comunidade amazona. Mas em outras versões- para preservar a raça–elas tinham relações sexuais com estrangeiros. Os meninos que nasciam destas relações eram, ou mortos, ou enviados ao pai; as meninas eram criadas pelas mães e treinadas em práticas agrícolas, e nas artes da guerra.

As amazonas aparecem em diversos mitos. Um dos mais famosos é um dos 12 trabalhos de Hércules, onde ele precisa roubar o cinturão da Rainha Hipólita. Nessa jornada, seu amigo Teseu sequestrou a irmã de Hipólita, Antíope, e essa morre em batalha contra suas compatriotas. Em vingança, por tentarem roubar o cinturão de Hipólita e por terem levado Antíope como refém, as Amazonas entram em guerra contra os gregos.

Na Mitologia, Hipólita e Antíope são filhas de Ares com a rainha Amazona Otrera. No filme, as irmãs, estão em guerra contra Ares, ou seja, elas estão em guerra com o Pai, por haverem sido reprimidas e esquecidas em uma ilha (no filme escondida por Zeus). O filme apresenta uma visão diferente da cultura patriarcal em relação ao mal. O mal entrou no mundo pelo masculino, em contraste com a cultura judaico – cristã, onde o mal entrou pela mulher. Essa talvez seja uma reação contrária a unilateralidade do patriarcado.

Contudo, no filme o mal também está presente na humanidade. O ser humano é um mosaico de opostos. Luz e sombra convivem em cada alma, e essa guerra interna é a marca do homem ocidental. A princesa Diana nasceu nessa ilha e foi treinada para ser uma guerreira desde criança. Diana é a grande heroína da história e traz uma imagem de feminino bastante valorizada nos dias atuais: o da mulher guerreira e independente.

As mulheres modernas se identificam com esse papel de guerreira e são treinadas desde novinhas a assumi-lo. Hoje a mulher tem sua carreira, cuida da casa, dos filhos e de si própria e cada vez mais desconfia do amor e do relacionamento. Mas ela também é a heroína, ou seja, ela irá restaurar a situação saudável da Psique (Von Franz, 2005).

O filme apresenta dois mundos bem distintos: o das Amazonas, escondido, matriarcal e com um ódio terrível dos homens e o dos humanos, em guerra e estritamente patriarcal. Diana tem como missão unir esses mundos. As Amazonas eram estritamente matriarcais, adoravam a deusa Ártemis – senhora da natureza e vida selvagem -, cultuavam a terra e eram agrícolas.

Como afirma Neumann (1995), o desenvolvimento da psicologia feminina no patriarcado está em oposição a Grande Mãe. Mas ele não deve levar a violentação da natureza feminina através do masculino, nem o feminino deve perder o contato com o Self feminino. O “aprisionamento no patriarcado” representa uma derrota diante da estabilidade matriarcal feminina, por isso a oposição das forças matriarcais forma uma oposição ao aprisionamento do feminino no patriarcado. Podemos ver a ação dessas forças de oposição nas Amazonas e seu ódio aos homens.

Essa força opositora pode parecer regressiva, mas existe nela um elemento positivo no desenvolvimento feminino. Diana é impulsionada por essa “regressão”. O ódio impulsionado pela sombra feminina leva a heroína a uma ampliação da personalidade. Seu nome vem da deusa romana equivalente a Ártemis. Deusa da Lua e da caça, Diana era uma caçadora vigorosa e indiferente ao amor. Portanto, vemos o desenvolvimento provindo do aspecto feminino do Self em uma ação “regressiva”.

Diana observa um avião das forças armadas caindo na ilha e resgata o capitão Steve Trevor. A ilha logo é invadida pelo grupo de alemães que o perseguia. Conhecendo Steve, Diana coloca em movimento as forças masculinas de sua natureza. Ela sai armada de uma espada com ele e passa a percorrer um caminho que se opõe a Grande Mãe. Com ele, Diana vai colocar em movimento as forças masculinas positivas, para então se apaixonar e abandonar toda a inflação que essas forças provocaram em si.

Diana como um ego ideal, mostra como o ego feminino empresta a força masculina positiva para então sucumbir (do ponto de vista do patriarcado) ao amor, assim como Psiquê no mito “fracassa” movida por amor a Eros. A heroína parte rumo ao encontro com Ares para mata-lo e acabar com a guerra, que está destruindo a humanidade. Nesse embate Diana irá se confrontar com o aspecto paterno terrível.

No processo de desenvolvimento psíquico, o confronto com os aspectos terríveis da uroboros materna e paterna são decisivos para a estruturação da personalidade. Diana usa a espada nesse confronto, ou seja, ela ainda se apropria dos aspectos masculinos da personalidade nesse embate. Mas ela realmente se descobre e atinge a realização ao abrir mão da espada.

Steve se sacrifica pilotando um bombardeiro. Ao presenciar a morte do amado – que se sacrifica pela humanidade – Diana acessa o amor e a compaixão, todos aspectos da coniuctio superior, que na alquimia é o objetivo máximo da opus e do processo de individuação (Edinger, 2006). Com esse confronto e com esse amor ela se descobre deusa e imortal, bem como descobre sua missão. Edinger (2006) comenta que a coniuctio superior, o Si – mesmo une e reconcilia os opostos, com isso o ego humano faz com que o Si – mesmo se manifeste. Mas esse sustentar os opostos equivale a uma paralisia que chega às raias de uma verdadeira crucificação.

Jung (1997) sobre a coniuctio diz:“(…) E uma imagem daquele que ama alguém e seu coração é ferido de amor. Assim Cristo foi ferido na Cruz pelo amor à Igreja. ” Ele cita Santo Agostinho: “Cristo caminha em frente como o esposo ao deixar seu aposento; como o presságio das núpcias, sai para o campo do mundo…chega ao leito nupcial da cruz e lá estabeleceu a união conjugal…e entregou-se em castigo no lugar da esposa…e uniu a si sua mulher por direito eterno. ”

Portanto, em Mulher Maravilha, vemos retratado simbolicamente o desenvolvimento feminino rumo a realização máxima do processo de individuação, que ocorre por meio do amor. Diana suporta o sofrimento em si própria e integra os aspectos positivos e negativos de forças arquetípicas. Ela une Logos e Eros em si e se torna um símbolo que pode espelhar o desenvolvimento da mulher moderna em seu processo de individuação.

REFERÊNCIAS: 

EDINGER, E.F. Anatomia da psique:O simbolismo alquímico na psicoterapia. São Paulo, Cultrix: 2006.

JUNG, C. G. O Desenvolvimento da Personalidade. Ed Vozes. Petrópolis, 1988.

JUNG, C.G. MysteriumConiuctionis. ed.Vozes. Petrópolis: 1997.

NEUMANN, E. Amor e Psique – Uma interpretação psicológica do conto de Apuléio. São Paulo, Cultrix: 1995.

VON FRANZ, M. L. A interpretação dos contos de fada. 5 ed.Paulus. São Paulo: 2005.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

MULHER MARAVILHA

Diretor: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Connie Nielsen, Robin Wright;
País: EUA
Ano: 2017
Classificação: 12

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A Origem dos Guardiões: a relação com o inconsciente na infância

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A Origem dos Guardiões é um filme de animação estadunidense. Lançado em 21 de novembro de 2012, o filme traz como personagens principais figuras do folclore famosas: Papai Noel, Fada do Dente, Jack Frost, Sandman e Bicho Papão. Papai Noel, Fada do Dente, Coelho da Páscoa e Sandman, são responsáveis por garantir a sobrevivência da inocência das crianças e das lendas infantis. Até que aparece um inimigo Breu (Bicho papão) que pretende transformar todos os sonhos das crianças em pesadelos, despertando medo em todas elas.

A inocência da criança, que ainda possui uma forte ligação com o inconsciente, e o encantamento com histórias, fábulas e contos de fadas é algo que perdemos quando nos tornamos adultos. Na Psicologia Analítica a criança possui um ego incipiente que se encontra ainda “mergulhado” no inconsciente coletivo. Seu pensamento é ainda simbólico e não linear. A infância é um período de grande intensidade emocional. E a juventude caracteriza-se por um despertar gradativo, um estado no qual o indivíduo se torna, aos poucos, consciente do mundo e dele mesmo.

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Fonte: http://migre.me/wAIFX

Ao chegar à idade escolar a criança começa a fase de estruturação do seu ego e de adaptação ao mundo exterior. Esta fase em geral traz um bom número de choques e embates dolorosos. E nessa fase o ego começa a se estruturar e a iniciar uma separação do inconsciente.  Conforme JUNG (2002)

“Ao mesmo tempo, algumas crianças nesta época começam a sentir-se muito diferentes das outras, e este sentimento de singularidade acarreta certa tristeza, que faz parte da solidão de muitos jovens. As imperfeições do mundo, e o mal que existe dentro e fora de nós, tornam-se problemas conscientes; a criança precisa enfrentar impulsos interiores prementes (e ainda não compreendidos), além das exigências do mundo exterior.”

Na segunda metade da vida, após ter se estabelecido no mundo exterior, o ego então recebe um “apelo” do inconsciente para se voltar a ele.  Este “apelo” se inicia com um choque inicial, apesar de nem sempre ser reconhecido como tal, causando sofrimento.  Ao contrário, o ego sente-se tolhido nas suas vontades ou desejos e geralmente projeta esta frustração sobre qualquer objeto exterior. Isto é, o ego passa a acusar Deus, ou a situação econômica, ou o chefe, ou o cônjuge como responsáveis por esta frustração (JUNG, 2002).

O filme então retrata esse momento da infância onde ainda nos “relacionamos” com o inconsciente. Os guardiões seriam então, uma espécie de apelo para que a nossa sociedade ocidental e industrializada não deixássemos as crianças perderem esse contato. Hoje nossas crianças têm cada vez mais acesso às informações, e sua infância fica cada vez menor. Isso por um lado desenvolve seu raciocínio, mas por outro lesa seu lado lúdico e estruturador da personalidade – que são os arquétipos do inconsciente coletivo.

Além disso, nós ocidentais – enquanto consciência coletiva – nos afastamos demais do inconsciente. Com isso ficamos longe do irracional e dos processos que ocorrem nas camadas mais profundas do inconsciente coletivo. Esse movimento de desenvolvimento da consciência foi até certo ponto importante, mas como hoje se tornou unilateral, precisamos encontrar um equilíbrio entre essas duas instâncias. Pois o processo de individuação consiste no desenvolvimento do eixo Ego – Self, e da relação entre os dois.

 Esse desprezo pelo inconsciente aparece simbolizado pela figura de Breu. Breu é o Bicho Papão que se esconde debaixo das camas das crianças e simboliza o medo de sermos engolidos, caso não nos comportemos. No filme, vive em um covil subterrâneo, que é o espelho maléfico dos reinos dos Guardiões. Ou seja, ele é o aspecto sombrio dos Guardiões.

Breu tem suportado gerações de pais que dizem aos filhos para não acreditarem nele, enquanto os demais Guardiões recebem toda a aclamação. Então ele decide mudar esta situação. Cria um plano para convencer as pessoas a acreditarem nele em vez de acreditarem nos Guardiões. Ele tenta fazer desaparecer sistematicamente os Guardiões, um a um, e o que eles representam, até não restar nada mais a não ser o medo.

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Fonte: http://migre.me/wAIG9

O Bicho Papão com o qual lidamos em nossa infância, simboliza nossos medos e aspectos sombrios reprimidos da consciência. Nossa sociedade Ocidental judaico – cristã também acabou menosprezando a questão do mal. A imagem de Deus foi dissociada de sua sombra e tida como modelo de perfeição. Isso acarretou alguns problemas para o processo de individuação do homem ocidental, pois esse se trata de um processo eu visa a completude e não a perfeição. A individuação visa a assimilação dos conteúdos do inconsciente na personalidade, e isso engloba também aspectos sombrios.

Breu é a noite, a sombra e o medo. Ao ser reprimido pela consciência coletiva é investido de mais energia e vem cobrar seu preço por ser negligenciado. Nós precisamos aprender a lidar com nossos medos e com nossos aspectos devoradores. Os outros Guardiões simbolizam outros aspectos da psique coletiva, bem como anseios infantis nossos. Além de serem figuras conhecidas do nosso folclore, as quais aceitamos de bom grado sem questionar e entender o porquê elas estão em nossa cultura.

Norte (Papai Noel) não é como o Papai Noel com o qual estamos familiarizados. Norte é um antigo cossaco russo que possui a palavra “mal comportado” tatuada em um braço e “bem-comportado” no outro. Os Cossacos são muito famosos pela sua coragem, bravura, força e capacidades militares (especialmente na cavalaria), mas também pela capacidade de auto-suficiência.Ele é impetuoso, exigente e impulsivo. Consegue ver tudo. Tem grande capacidade de estratégia e é o líder dos Guardiões. Ele emana felicidade e se acredita em uma causa, não há nada nem ninguém que o consiga segurar.

O Papai Noel tradicional é uma figura lendária que, em muitas culturas ocidentais, traz presentes aos lares de crianças bem-comportadas na noite de Natal. Foi inspirado por São Nicolau, arcebispo de Mira na Turquia, no século IV. Nicolau costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Colocava o saco com moedas de ouro a ser ofertado nas chaminés das casas. Foi declarado santo após muitos milagres lhes serem atribuídos. Sua transformação em símbolo natalino aconteceu na Alemanha e daí correu o mundo inteiro. Esse caráter belicoso, cheio de força e bravura, atribuído a Norte no filme, é um aspecto valorizado pela consciência coletiva ocidental; muito diferente do caráter pacífico de São Nicolau.

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Fonte: http://migre.me/wAIGN

O outro personagem é Coelhão. Ele é o Coelho da Páscoa, um australiano querido e calmo, mas seco como o interior australiano. Um guarda-florestal por excelência, sempre pronto para o trabalho, além de ser um protetor da natureza duro e brusco. Segue os ritmos da natureza e quando chega a oportunidade de ação, espera pelo momento certo para agir. O Coelhão é completamente imperturbável. A única

coisa que o consegue deixar louco é a constante provocação do Norte, sempre a afirmar que o Natal é mais importante do que a Páscoa. Ele mede 1,80 metros de altura, e entra em sua toca abrindo buracos mágicos no chão que chegam de qualquer parte do mundo.

A tradição do Coelho da Páscoa foi trazida para a América pelos imigrantes alemães, entre o final do século XVII e o início do século XVIII. A Páscoa simboliza a ressurreição, vida nova, tanto entre os judeus quanto entre os cristãos. No entanto, o coelho e os ovos tratam de um costume pagão. No Antigo Egito, o coelho representava o nascimento e a nova vida. Além disso, coelhos são notáveis por sua capacidade de reprodução, e geram grandes ninhadas.

De acordo com a mitologia germânica, o coelho era um dos símbolos da deusa da fertilidade Ostara, deusa da primavera, ressurreição e renascimento. O culto a essa deusa costumava ser feito durante a primavera e uma das principais tradições desse festival é a decoração de ovos. O ovo representa a fertilidade da Deusa e do Deus, onde havia a tradição de esconder os ovos e depois achá-los. A partir desta mesma lenda mítica, surgiu entre os alemães a tradição de entregar ovos (de galinha) pintados de várias cores para as crianças.

E por este motivo os cristãos, para evitar as celebrações pagãs, os cristãos associaram o coelho e a tradição da “coleta dos ovos” à Páscoa Cristã. Portanto, o Coelho representa aspectos pagãos que ainda sobrevivem em nossa cultura e que são necessários. Os ritos de fertilidade e nova vida são de imensa necessidade

A Fada dos Dentes recolhe os dentes de leite que as crianças colocam debaixo dos travesseiros. No filme é meio humana e meio colibri. Representada como uma criatura iridescente, elegante, com tons azuis e verdes. Tem imensa energia, não para de se mexer, os seus pés nunca tocam no chão. Ela expressa um vasto cortejo de emoções através das penas e da cauda.

Na Europa Ocidental, antigamente, acreditava-se que os dentes deveriam ser guardados ou queimados para que não os procurássemos após a morte ou para que não caíssem no poder de bruxas, que poderiam usá-los em feitiços. Era dever dos pais cuidar para que os dentes dos filhos não caíssem em mãos erradas. Alguns pesquisadores acreditam que a lenda tenha apenas cerca de 200 anos e que descendeu do conto francês “O Bom Ratinho”, escrito por Madame D’Aulnoy em 1697, que conta história de uma Fada que se transforma em um ratinho para ajudar uma rainha escapar de um rei malvado que invadiu seu reino. Na história, o ratinho se esconde no travesseiro do rei para atormentá-lo. Trocar “dentes de leite” por presentes é algo que remonta aos vikings, mais de mil anos atrás.

A Fada do Dente simboliza um rito de passagem, quando começamos a sair do paraíso e encarar a realidade. Os dentes permanentes mostram que agora vamos crescer e nos tornar adultos. As fadas possuem poderes sobrenaturais, capazes de interferir na vida dos mortais em situações-limite. Por isso trocar os dentes, tenha um caráter mágico, pois esses novos dentes marcam nossa mudança e saída do uroboros, da inconsciência e o ego começa a se estruturar.

No filme esses dentes guardam as mais preciosas memórias de infância, e a Fada guarda-os no seu palácio, para quando mais tarde, na vida, precisarmos dessas memórias. Talvez essa seja a personagem mais importante e mais rica em termos simbólicos e sensibilidade. Esse banco de dados de memórias da infância seria a nossa ligação com aspectos de nossa formação e estruturação da personalidade. Acessar esse banco de dados pode trazer informações sobre nós riquíssimas. Emoções esquecidas, aspectos da personalidade e desejos reprimidos, podem nos auxiliar na expansão de nossa consciência.

O personagem Sandman é o arquiteto e portador de bons sonhos. Ele é mudo, comunica através de imagens de areia expressivas, que conjetura em sua mente. Existe um elemento de sábio e ancião neste personagem. No filme é quem mostra aos outros Guardiões o que é realmente importante. Sandman é uma figura do folclore europeu, conhecido como João Pestana em Portugal e Brasil. Ele vem para as pessoas no momento em que fechamos os olhos pela última vez antes de dormir.

É retratado com uma cabeça em forma de uma lua crescente, e às vezes com um gorro. Seus olhos são escuros e fundos, e dentro dele há estrelas, veste um casaco de seda, que muda de verde para vermelho e de azul para amarelo a cada vez que muda de posição. Ele carrega um guarda-chuva com a parte de dentro cheia de ilustrações das historias que gosta de contar e também um saco ou bisnaga com areia mágica, para jogar nos olhos das pessoas em pequenas quantidades; essa areia é cintilante como purpurina, e faz barulhos como uma caixinha de música ou o bater de asas de pequenas Pixies.

Sandman é então o guardião do sono e dos nossos sonhos. Ele é o guardião dos processos inconscientes que se manifestam nos sonhos. Ou melhor, ele é o arquiteto desses sonhos. Aquele que tece com suas areias o material necessário para compensar a consciência. No filme ele precisa ser resgatado pelos outros, o que simboliza que precisamos regatar a importância dos sonhos e da sua compreensão para a consciência. As crianças, assim como os povos mais antigos, dão muita importância às mensagens dos sonhos. Elas ficam muito assustadas com sonhos ruins. Com o tempo nossa sociedade deixou de acreditar nos sonhos e somente com a Psicanálise e a Psicologia Analítica sua mensagem pode ser resgatada.

Para combater Breu, a Lua então designa um novo guardião para ajudar o grupo: Jack Frost, um garotinho invisível que controla o inverno. Sem conhecer sua própria vocação de guardião, ele embarca em uma aventura na qual vai descobrir tanto sobre as crianças quanto sobre seu próprio passado. Jack Frost representa o inverno e o frio. Figura lendária do folclore anglo-saxão, ele era responsável por criar neve e condições típicas para o inverno. Ele costuma ser retratado como um velho, um jovem ou um espírito invisível. Embora amigável, ele se provocado pode matar suas vítimas soterrando-as na neve.

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Fonte: http://migre.me/wAIH5

Também é uma figura do paganismo antigo que tem se tornado popular, sendo considerado um dos integrantes da comitiva do Papai Noel. E assim se tornando uma figura Natalina. Jack na verdade é tido como um demônio do frio e da vida congelada, mas no filme é o heroi principal, mostrando um verdadeiro paradoxo. No filme Frost é um ser sobrenatural solitário, o clássico rebelde sem causa. É imortal, eternamente jovem, carismático e esperto. Lembrando uma versão do Puer Aeternus. Tem incríveis poderes climáticos, que controla com a ajuda do seu bastão mágico. Pode evocar o vento, a tempestade, o frio e a neve e viaja pelo vento como um snowboarder.

No filme, ele é humanizado. Salvou sua irmã quando a levou para brincar no gelo e esse estava tão fino que foi se quebrando. Ao resgatá-la de lá com auxilio de seu bastão mágico ele acabou caindo na água congelada. O homem na lua então o  transformou em um guardião. O homem da Lua já é algo bastante incomum na cultura Ocidental, que associa a Lua ao feminino e a mãe. Em culturas mais antigas, como a nórdica, a Lua era representada por um Deus. Vemos aqui resquícios de culturas antigas pagãs e a um retorno da valorização de conhecimentos perdidos.

Contudo, Frost representa – por mais humanizado que seja no filme – a vida congelada que o homem atual vive. Congelados em uma normose e na vida pautada em aquisições de bens materiais e conquistas externas. A falta de compromisso e a imaturidade que permeia o homem moderno congelam sua visão para novas formas de realização e para uma vida mais plena.

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Fonte: http://migre.me/wAIHh

A Humanização de Frost congelante e seu aspecto Puer, representam a humanização da alma do homem. A Lua, símbolo dos sonhos, dos mistérios da alma, da ligação com o inconsciente traz esse novo guardião. Os aspectos congelantes dos complexos e a paralisação da vida na neurose devem ser levados a sério e olhados com a alma. Somente trazendo-os à consciência podem ser humanizados e assim perdendo sua força demoníaca.

REFERÊNCIAS:

JUNG, C; VON FRANZ, M. L…(et al.). O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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A ORIGEM DOS GUARDIÕES

Direção: Peter Ramsey
Elenco: Hugh Jackman, Chris Pine, Isla Fisher, Jude Law;
País: EUA
Ano: 2012
Classificação: Livre

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Desnudando alguns mitos a respeito do uso da maconha

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Bem, desde criança, ouço falar da possível legalização da maconha no Brasil, e sempre que esse assunto aparece na mídia, há vários debates sobre os seus possíveis malefícios e benefícios. Muitos desses debates sustentam-se em questões de saúde pública, onde, acredita-se que a maconha traria vários males à saúde. Por outro lado, os que defendem a liberação da mesma também tentam se basear em questões de saúde pública, afirmando que drogas liberadas, tais como o álcool ou o cigarro, causam mais malefícios à saúde que a maconha. Esses argumentos, em sua maioria, sustentam-se em mitos acerca da maconha sem nenhuma base científica.

Eu tenho minha própria opinião sobre a legalização da maconha, mas antes de falar, tentarei explicar os principais mitos acerca dessa planta tão polêmica.

Primeiramente, o que é a maconha?

Maconha é nome popular da planta Cannabis Sativa. Não se sabe ao certo quando a humanidade começou a utilizar essa planta, mas há relatos de sua utilização como medicamento desde o século XV a.C.

No Brasil, acredita-se que a planta foi trazida pelos escravos africanos por volta do século XV d.C.. Por muito tempo a maconha foi utilizada como medicamento, sendo inclusive seu plantio incentivado pela coroa portuguesa no Brasil. A maconha só foi legalmente proibida no Brasil no ano de 1930, quando foi proibido o uso recreativo e medicamentoso da mesma. A partir desse ano, começaram a surgir os grandes mitos acerca dos possíveis males e benefícios que a planta poderia proporcionar, e até hoje esses mitos são difundidos pela mídia, e a população, leiga, aceita como verdade científica. Então vamos aos principais mitos e verdades científicas por traz da maconha.

 

A maconha é menos prejudicial que o cigarro aos pulmões?

Muitos acreditam que a maconha, por conter menos “química” que o cigarro, cause menos mal ao pulmão quando fumada. Eis um grande mito difundido pelos que defendem sua legalização.

Por não ter filtro a fumaça na maconha e totalmente absorvida pelos pulmões; isso leva a um dano respiratório muito maior. Já se sabe que 1 cigarro de maconha equivale de 2,5 a 5 cigarros em termo de obstrução respiratória. Porém, diferente do que se acredita, não há relatos de enfisema (uma doença pulmonar que dilata e rompe a passagem do ar nos pulmões, levando a problemas respiratórios) causado pela maconha.

 

A maconha pode levar a câncer de pulmão?

Argumento que os contrários à legalização da maconha adoram usar. Bem, se o medo de câncer de pulmão é real, porque permitir o cigarro, onde o risco é maior?  Não há evidencias suficientes para crer que a maconha pode levar ao câncer, porém podemos de fato especular que isso é possível, já que a fumaça do cigarro de maconha contém substâncias irritantes e cancerígenas assim como o cigarro.

O uso de maconha pode levar a um infarto?

Este é um mito com fundo de verdade. De fato, um dos efeitos do uso agudo da maconha é elevar o trabalho do coração, além de que a sua fumaça é rica em monóxido de carbono, o que piora os danos ao coração.

Porém, o risco de enfarta com uso de maconha não é tão alto. Se você não tiver nenhum tipo de doença cardiovascular, o risco é realmente baixo. Agora, se você tiver alguma doença como Angina Pectoris ou Doença Coronária, é melhor evitar o uso, pois a chance de você enfartar após o uso aumenta em até 4 vezes.

O uso de maconha pode causar dano hepático igual ao consumo de álcool?

Não sei afirmar quem teve essa ideia, já até usaram esse argumento contra mim. Fiquei sem entender como a maconha pode causar dano no fígado. Após muita pesquisa cheguei a uma conclusão: a maconha só pode causar dano ao fígado se você a ingerir junto com álcool, e tem que ser um volume elevado de álcool. Há varias pesquisas que mostram que a maconha não causa dano hepático nenhum.

A maconha destrói os neurônios e te deixa “burro”?

Outro grande mito usado por quem é contra a legalização. Várias pesquisas provam que o uso de maconha não causa qualquer tipo de dano de cerebral e nem afeta seu QI. Contudo, essas pesquisas foram realizadas em adultos. O uso da maconha durante a adolescência pode sim levar a um leve dano cerebral, mas nada muito significativo. Já sobre as funções cognitivas, pesquisas indicam que o uso crônico da maconha pode levar a um declínio dessas funções.

A maconha pode causar doenças psiquiátricas, tais como esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar e ansiedade?

Eis uma questão polêmica, e de constantes discussões entre a comunidade científica. Vale lembrar que todas essas doenças são multifatoriais e que o simples uso da maconha não pode desencadeá-las.

Várias pesquisas indicam que o uso da maconha na adolescência é um fator de risco para o surgimento da esquizofrenia na fase adulta, além de acelerar o inicio da doença. Vale lembrar que um dos efeitos da intoxicação pela maconha e a alucinação, conhecido entre os usuários como “má viagem”.

Um dos efeitos agudos é do uso de maconha, é uma crise de ansiedade, que acomete principalmente os usuários recentes da droga. Mas há pesquisas que mostram que o uso crônico da maconha pode levar a um quadro de ansiedade e/ou síndrome do pânico.

Sobre a depressão e o transtorno bipolar, não há provas que indicam que a maconha induza a esses quadros. Talvez o mito tenha surgido justamente pelo fato de que pessoas diagnosticadas com essas doenças tendem a usar mais drogas, principalmente a maconha.

A maconha pode levar a overdose e a dependência?

A maconha pode matar sim, mas só se um caminhão carregado com ela cair em cima de você. Brincadeiras a partes, não há relato que o uso de maconha pode levar a um quadro de overdose. Porém, a dependência, apesar de ser rara se comparada a outras drogas, é um risco real.

Bem, esses são os principais mitos acerca da maconha, essa planta tão polêmica que causa tantas discussões.

Minha opinião sobre a legalização da maconha?

Sou contra o uso recreativo dela, pois já bastam o álcool e o tabaco para complicar a vida do sistema público de saúde e o trânsito (a maconha reduz o reflexo igual o álcool, o que pode levar a um aumento de acidentes). Contudo, renegar totalmente a planta é um erro, pois ela tem um potencial para o uso medicinal. Nesse caso, sou a favor da liberação do seu uso medicinal.

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