“Condição pós moderna” de David Harvey

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A pós-modernidade se apresenta como uma ruptura com as certezas da modernidade, trazendo à tona a fragmentação das identidades, a fluidez das relações sociais e a efemeridade das interações humanas.  Quando digo que a pós -modernidade rompe com as certezas, quero dizer que é uma reação à modernidade, questionando suas certezas e trazendo a ideia de que não há uma verdade absoluta ou um caminho único para o progresso. Ela celebra a diversidade, a pluralidade de experiências e a liberdade de viver em um mundo mais “liberal”. Esses aspectos  são discutidos e apresentados por David Harvey em sua obra O Mundo Pós-Moderno (2007), na qual o autor analisa o impacto das transformações econômicas e culturais no cotidiano contemporâneo. Meu intuito com este artigo é  ter como objetivo realizar uma análise crítica das ideias de Harvey, correlacionando-as com as relações contemporâneas, marcadas pela pluralidade, pela transitoriedade e pela influência da tecnologia digital.

David Harvey (2007) caracteriza a pós-modernidade como um período de “compressão espaço-tempo”, onde o avanço tecnológico e a globalização encurtam distâncias e aceleram o ritmo de vida. Para o autor, a modernidade baseava-se em grandes narrativas que buscavam dar sentido ao mundo e garantir certa estabilidade às interações sociais. Contudo, com o advento da pós-modernidade, essas narrativas perderam força, dando lugar a uma pluralidade de perspectivas, o que, de acordo com Harvey (2007), gera uma fragmentação nas identidades e nas relações sociais.

A fragmentação pode ser observada em diversas áreas da vida contemporânea. Nas interações interpessoais, por exemplo, a identidade não é mais vista como um elemento estável e imutável, mas como algo fluido e constantemente renegociado. Essa pluralidade de identidades reflete a complexidade do contexto globalizado, onde culturas e valores se misturam de maneira contínua (HARVEY, 2007). O impacto dessa fragmentação nas relações contemporâneas é evidente, uma vez que as pessoas transitam entre diferentes papéis sociais e apresentam múltiplas versões de si mesmas, conforme o contexto e a plataforma social em que estão inseridas.

Essa fragmentação que caracteriza a pós-modernidade também afeta diretamente as relações sociais. Enquanto, na modernidade, as interações eram mais estáveis e ancoradas em instituições sólidas, como a família, o trabalho e a religião, na pós-modernidade essas instituições perdem parte de sua centralidade. As relações contemporâneas se tornam mais transitórias e menos dependentes de compromissos a longo prazo, um fenômeno que pode ser observado nas dinâmicas familiares e laborais (HARVEY, 2007).

No contexto das relações familiares, a estrutura tradicional da família nuclear, defendida por muitos como o pilar da sociedade moderna, é desafiada por novas configurações familiares, como famílias monoparentais e casais homoafetivos. Harvey (2007) afirma que essa pluralidade é uma consequência direta da fragmentação pós-moderna, que permite o florescimento de novas formas de convivência social. Além disso, no ambiente de trabalho, a flexibilidade e a informalidade predominam, refletindo o modelo da “gig economy”, no qual as relações de emprego se tornam mais instáveis e fluídas (HARVEY, 2007).

Outro aspecto importante destacado por Harvey (2007) é a aceleração do tempo, impulsionada pelo avanço das tecnologias digitais e pelas demandas do capitalismo tardio. Na pós-modernidade, as interações sociais são marcadas pela efemeridade, onde os laços entre as pessoas se formam e se dissolvem rapidamente. Esse fenômeno pode ser observado nas relações interpessoais mediadas pela tecnologia, onde plataformas digitais, como redes sociais e aplicativos de namoro, facilitam o estabelecimento de conexões rápidas, porém muitas vezes superficiais.

Harvey (2007) aponta que essa aceleração contribui para a superficialidade das relações contemporâneas, pois as interações humanas se tornam breves e desprovidas de profundidade emocional. Nas redes sociais, por exemplo, os indivíduos são incentivados a manter múltiplas conexões, mas essas conexões carecem de compromisso e continuidade, refletindo a natureza fragmentada e fugaz da pós-modernidade.

A mediação tecnológica nas interações sociais é um dos principais fatores que contribuem para a fragmentação e efemeridade das relações humanas, de acordo com Harvey (2007). A tecnologia digital, embora facilite a comunicação entre indivíduos em diferentes partes do mundo, também cria novas formas de alienação e distanciamento. As interações virtuais, apesar de rápidas e eficientes, muitas vezes não substituem a profundidade das relações face a face, resultando em um tipo de conexão desprovida de empatia e intimidade (HARVEY, 2007).

Harvey (2007) também destaca que a tecnologia reflete as lógicas do capitalismo tardio, onde o consumo rápido de informações e a busca por validação social se tornam centrais para as interações humanas. As plataformas digitais moldam as interações de acordo com essas lógicas, resultando em uma cultura de superficialidade e imediatismo nas conexões interpessoais. Assim, as relações contemporâneas são profundamente influenciadas pela tecnologia, mas também sofrem com a falta de profundidade e compromisso a longo prazo.

REFERÊNCIA

HARVEY, David. O Mundo Pós-Moderno: Condições Sociais, Culturais e Econômicas no Capitalismo Avançado. São Paulo: Loyola, 2007.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

 

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Modernidade líquida: uma análise do episódio “Nosedive” da série Black mirror

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  A cada momento que passa, as tecnologias sofrem diversos avanços e trazem novas formas de se conectar com o mundo, formas mais acessíveis e rápidas. O processo de globalização trouxe também uma grande ironia para o atual contexto que vivemos, onde cada vez mais parecemos nos afastar e nos individualizar em nossa existência. Isso é o que pode ser descrito como modernidade líquida.

  Zygmunt Bauman em seu livro “Modernidade líquida” publicado em 1999, descreve como vivemos em mundo moderno de relações líquidas, utilizando uma analogia entre os relacionamentos as ligas formadas pelos átomos em seus diferentes estados. O estado líquido sugere uma ligação mais distante, enquanto o sólido sugere a maior proximidade entre os átomos para levarem tal forma. Nesta obra ele também fala sobre uma “modernização da modernidade”, onde acontece uma desintegração ou modificação de padrões de relacionamentos, além da liquefação dos padrões de dependência e interação. Quando pensamos em uma obra que trazia essa temática em 1999 sobre o distanciamento das pessoas e o aumento dos processos de individualização devido aos novos padrões estabelecidos na modernidade, nos faz pensar se agora, 25 anos de tecnologias depois, nós não estamos vivendo uma nova fase nas relações: a modernidade gasosa.

  Atualmente a temática da liquidez das relações colocada por Bauman, é amplamente retratada em filmes e séries. Entre elas destacamos a série antológica Black Mirror, que busca contar várias histórias independentes entre si que retratam um futuro não tão distante, onde a tecnologia se transforma em um “vilão”, causando impactos a nível mundial. Cada episódio retrata isso de uma forma diferente, em como nós humanos podemos ser facilmente corrompidos e como nós somos capazes de abrir mão até mesmo daqueles mais amados em nossas vidas pessoais.

   Em um de seus episódios mais famosos é o primeiro episódio da terceira temporada, chamado de “Queda Livre” ou “Nosedive”, que narra sobre a queda da protagonista Lacie, em uma realidade que avalia uns ao outros por meio da tecnologia, podendo elevar ou descer a posição de um membro da sociedade. Apesar de ser retratada como uma pessoa “louca” durante o episódio, Lacie é uma pessoa comum, que busca não apenas uma validação em meio a sociedade, mas uma aproximação de sua amiga Jayne.

  Lacie demonstra ir além de tudo que a sociedade retratada avalia como “bom” ou “aceitável” desde que isso signifique poder comparecer ao casamento de sua amiga, deixando sua máscara cair durante o processo e resgatando sua humanidade a cada vez que caia de posição e classificação. 

  Em dado momento, a protagonista Lacie publica uma foto de um brinquedo que possuía grande afeto e relação com a amizade com Jayne, mostrando uma busca por validação. Alguns podem pensar que a busca seria por uma validação em meio e a sociedade e boas avaliações, mas eu particularmente vejo que a felicidade de Lacie ao ver que Jayne deu a melhor avaliação possível para a foto, se dá pelas “migalhas de afeto” que busca em meio a uma modernidade líquida.

  Ao contrário do que os demais prezavam ser importante, Lacie demonstra um real desespero para reatar ou estreitar laços de uma amizade antiga com Jayne, que revela para Lacie que sua intenção ao convidá-la não era uma demonstração de afeto e consideração, mas sim uma tentativa de elevar sua própria classificação. Quando Jayne vê que a classificação de Lacie caiu drasticamente, ela imediatamente desconvida de seu casamento, jogando a fora com apenas uma ligação. Jayne não faz ideia e sequer quer saber as distâncias que sua amiga foi para poder comparecer no casamento, porque os laços não significam nada sem uma boa avaliação da sociedade. 

  O desfecho do episódio se dá com um breve diálogo entre Lacie e um homem, ambos na prisão. No primeiro momento Lacie se mostra irritada com a situação e troca “ofensas” com o homem na cela da frente, o que nos leva de volta ao conceito de avaliar uns aos outros de forma negativa mesmo que seja a primeira impressão sobre alguém que não conhecem profundamente. A cada “avaliação ruim”, tanto Lacie quanto o homem da cela na frente parecem se divertir com a ideia de falarem o que quiserem sem precisar temer uma “má reputação”, finalizando com os dois sorrindo e rindo um para o outro enquanto desbravam sua angústia e raiva pela sociedade com um “vá se foder”.

      Fonte: Reprodução Netflix

  A história de Lacie e Jayne nos coloca para pensar sobre como os valores que cada um de nós colocamos em nossas relações em uma sociedade que a cada dia que passa se torna mais tecnológica e líquida. O que Lacie poderia ter feito de diferente, diante um contexto que se nega a ouvi-la e acolhê-la por suas qualidades? Se Lacie se sentisse sozinha e abandonada, a solução seria tentar subir de classificação? Ou deveria Lacie jogar fora completamente a ideia de classificações, buscando pessoas que valorizem mais relações do que ser “bem” avaliado e visto na sociedade? Teria Lacie finalmente encontrado uma verdadeira conexão mesmo que talvez breve com seu parceiro de cadeia? Isso tudo podemos apenas imaginar.

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A valorização da diversidade na pós-modernidade e as relações contemporâneas

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A era pós-moderna, segundo o filósofo Jean-François, foi caracterizada pela desconstrução de alguns conceitos enraizados na sociedade e pela valorização da diversidade. Nas relações atuais, essa apreciação se reflete no aumento da inclusão e respeito por diferentes identidades de gênero, orientações sexuais, etnias, culturas e estilos de vida. No entanto, essa transformação vem acompanhada por desafios expressivos que evidenciam as tensões presentes em um mundo cada vez mais globalizado e interligado (Lyotard, 1979).

A valorização da diversidade está diretamente ligada à inclusão, que na pós-modernidade é entendida como mais do que a simples aceitação das diferenças, obviamente ainda há uma grande luta pelos direitos. A inclusão, nesse contexto, significa criar espaços onde as “diferenças” possam ser expressas e celebradas, contribuindo para uma sociedade mais rica e dinâmica. Judith Butler, em “Problemas de Gênero” 1990, desafia o que é dito tradicionais de gênero e sexualidade, argumentando que o gênero é uma performance e que as identidades de gênero são socialmente construídas. Esse entendimento desestabiliza as categorias rígidas de gênero e abre espaço para a inclusão de uma ampla gama de expressões de gênero (Butler, 1990).

Fonte: Storyset

Movimentos sociais contemporâneos, como o feminismo e o movimento LGBTQIAPN+, têm desempenhado um papel importantíssimo na promoção da diversidade e inclusão. Esses movimentos não apenas lutam por igualdade, mas também por um reconhecimento mais profundo das complexidades das identidades individuais e coletivas. Questionam as normas sociais estabelecidas e promovem a ideia de que todas as identidades, independentemente de sua conformidade com as normas tradicionais, merecem respeito e reconhecimento.

A pós-modernidade é marcada pela crise das metanarrativas, como descrito pelo filósofo Jean-François Lyotard. Essas grandes narrativas, que tentavam explicar a história e a sociedade de forma unificada, começaram a ser questionadas, dando espaço para uma multiplicidade de pequenas narrativas. Essas novas narrativas valorizam as experiências individuais e coletivas de grupos que antes eram marginalizados, como as minorias étnicas, sexuais e culturais. Essa valorização da diversidade é, portanto, uma resposta à inadequação das abordagens universalistas que ignoravam as diferenças.

O movimento pós-colonial trouxe à tona as vozes e experiências das culturas não ocidentais, que foram sistematicamente oprimidas e marginalizadas durante o período colonial. Autores como Edward Said, em Orientalismo, criticam a construção ocidental do “Outro” como uma forma de dominar e controlar as culturas não ocidentais (Said, 2007, p. 41). Na pós-modernidade, essa crítica abriu caminho para a valorização das identidades culturais híbridas e para a compreensão da identidade como algo fluido e em constante construção.

Embora a pós-modernidade tenha promovido a valorização da diversidade, ela também trouxe novos desafios. Zygmunt Bauman, em Modernidade Líquida, argumenta que a sociedade contemporânea é caracterizada pela fluidez e pela incerteza. Essa volatilidade nas relações sociais pode levar a novas formas de exclusão e marginalização, mesmo em contextos onde a diversidade é oficialmente reconhecida (Bauman, 2001).

Fonte: Storyset

Por exemplo, a globalização tem aumentado a diversidade cultural nas sociedades, mas também gerou tensões relacionadas à identidade nacional e ao multiculturalismo. Em alguns casos, o aumento da diversidade tem sido visto como uma ameaça às identidades nacionais e ao tradicionalismo, resultando em movimentos xenófobos exclusão sociais. Homi Bhabha, em “O Local da Cultura”, explora como a hibridização cultural pode gerar tanto criatividade quanto conflito, destacando a complexidade das interações culturais na pós-modernidade.

Nas relações contemporâneas, a valorização da diversidade se reflete em práticas sociais, políticas e organizacionais. Empresas e instituições têm adotado recursos de diversidade e inclusão, como propagandas que geram identificação, reconhecendo que a pluralidade de perspectivas pode ser uma fonte de inovação e dinamismo. No entanto, a implementação dessas políticas não é isenta de dificuldades. A eficácia das políticas de inclusão muitas vezes depende da capacidade das organizações de lidar com as resistências internas e com as tensões entre a diversidade e a coesão social.

A valorização da diversidade também tem implicações nas relações pessoais. As identidades na pós-modernidade são menos fixas e mais flexíveis, o que pode levar a uma maior aceitação das diferenças nas interações interpessoais. No entanto, essa mesma flexibilidade pode gerar incertezas e ansiedades, como apontado por Richard Sennett em A Corrosão do Caráter. As relações contemporâneas, portanto, são um campo de tensão entre a celebração da diversidade e a busca por estabilidade e continuidade (Sennett, 1999).

Embora a pós-modernidade tenha promovido a inclusão e o reconhecimento das diferenças, ela também trouxe à tona novas formas de exclusão e novas tensões sociais. Nas relações contemporâneas, a diversidade é uma fonte de riqueza e dinamismo, mas também exige um constante esforço para equilibrar a pluralidade com a coesão social. A busca por uma sociedade mais inclusiva e diversa continua sendo um dos principais desafios da era pós-moderna.

Referências:

BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. 1. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1994.

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

FEMINISMO. Página principal. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 set. 2024.

LYOTARD, Jean-François. A Condição Pós-Moderna. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.

MOVIMENTO LGBTQIA+. Página principal. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 set. 2024.

PLUMMER, Ken. Contando Histórias Sexuais: Poder, Mudança e Mundos Sociais. 1. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 1995.

SAID, Edward W. Orientalismo: O Oriente como Invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter: Consequências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999.

 

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Como eu gostaria que Zygmunt Bauman estivesse errado

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Certa feita me deparei com a obra de Bauman falando sobre a modernidade líquida, à primeira vista, dada a inexperiência crítica, achei pretensiosa demais as afirmações propostas pelo renomado autor.

Com o passar dos anos a ficha foi caindo, fui percebendo que Bauman nunca esteve tão certo quanto nos tempos atuais. O forte consumismo oferecido no capitalismo é um constante comparativo e fonte de inspiração para compreendermos a visão moderna da sociedade.

Antigamente, todo e qualquer produto era feito para durar, construções edificadas ainda nos tempos antigos e que duram até hoje são um grande exemplo disso. Assim como na antiguidade as construções visavam a durabilidade e profundidade dos significados, os relacionamentos sociais e amorosos eram feitos visando a durabilidade e consistência.

Fonte: encurtador.com.br/jorCI

Atualmente, no entanto, com a industrialização na produção de produtos, criou-se a cultura da fácil substituição de um objeto com defeito. Os produtos atualmente são feitos já com uma data de validade pré determinada, instigando o consumidor a adquirir o mesmo produto reiteradas vezes ou realizar a troca por um produto melhor.

Fonte: encurtador.com.br/iyzDW

Não muito diferente do que aconteceu no passado, atualmente as relações sociais estão sendo mantidas desta forma: Alguém te magoou? Pra quê perdoar, exclua esta pessoa da sua vida, é mais fácil. A visão consumista nos relacionamentos tem diluído cada vez mais o significado de amizade, amor, compromisso. 

Muitas vezes os indivíduos já começam uma interação social ou mesmo um relacionamento pensando em seu término ou já desejando comparar com o próximo, como um teste de produto, onde poucos buscam se aprofundar no universo do outro, compreender verdadeiramente algo, focando somente no imediatismo.

Infelizmente, o imediatismo tem guiado a sociedade a buscar incessantemente esta satisfação quase que instantânea dos seus desejos. 

Antigamente, para alguém ser colocado no posto de alguém notório, ou até mesmo ser conhecido publicamente demandava grande esforço e empenho, além de anos de trabalho árduo. Ser famoso outrora custava caro. Hoje, no entanto, um simples vídeo pode se tornar viral e mudar sua vida da noite para o dia, como é o caso do jovem da Luva de Pedreiro.

Fonte: encurtador.com.br/kwJPT

Não é de se estranhar, com isto, que a sociedade tenha perdido sua essência, músicas e obras cinematográficas já não são criadas com o intento de impactar a vida das pessoas, mas sim como produtos que podem arrecadar milhões caso sejam produzidas seguindo uma receita mágica que agrade a grande massa.

É por esta e outras razões que, infelizmente, Bauman sempre esteve completo de razão em suas obras.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt; DONSKIS, Leonidas. Cegueira Moral a perda da sensibilidade na modernidade líquida. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Ed. Zahar. 2021. 

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As transformações tecnológicas e a ascensão dos relacionamentos líquidos

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O advento de novas tecnologias mudou a concepção de tempo para a sociedade. As reuniões de trabalho podem ser feitas simultaneamente, aos quatros cantos do mundo, e para conhecer alguém não é preciso sair de casa, basta somente instalar um aplicativo de relacionamentos no celular. As conversas em frente à porta de casa foram transferidas para os grupos de WhatsApp, assim é o mundo pós-moderno, em que tudo é muito rápido e pouco duradouro. Esta percepção sobre os relacionamentos é explicada pelo sociólogo Zygmunt Bauman (2007), o qual observa que a sociedade vive em um tempo líquido, em que nada dura. Ou seja, tudo é passageiro. Uma crítica a superficialidade das relações que vão embora como água no ralo.

 Conforme Bauman (2009), o que importa é a velocidade e não a duração dos fatos, ou seja, dos relacionamentos.  Ainda aponta que a valorização do indivíduo em detrimento do coletivo também é característica dessa sociedade líquida que vive em constante autocrítica, autoexame e autocensura. (Bauman, 2009). Para o sociólogo, as mudanças comportamentais seguem as renovações tecnológicas, ou seja, uma transformação constante. Isto é, uma sociedade que precisa viver o instantâneo, sem a necessidade de criar uma base sólida, pois o que importa não é a construção em si, mas o auge do momento, mesmo que seja segundos.  

Nessa linha de pensamento, Oliveira (2015) destaca que “as condições tecnológicas e modernas de vida fazem com que os indivíduos se deparem com uma grande variedade de escolhas ou experimentos”. Situação que interfere no dia a dia da humanidade, desde sua forma de comer, vestir e agir (Oliveira, 2015). Ou seja, a expressão de vida de uma pessoa tem sido determinada pela tecnologia que influencia sua forma de lidar com os outros, bem como a expansão ao acesso digital, que a cada dia tem alcançado também a terceira idade (Oliveira, 2015)

Para Martinez (1998) os relacionamentos atuais podem fazer surgir um vazio o qual não será preenchido, pois na ética do prazer imediato e rápido não existe lugar para grandes investimentos amorosos o que pode frustrar o sujeito. Martinez (1998). Sobre esse pensamento, Jablonski (2001) admite que as variáveis sociais exerçam impacto nas relações de conjugalidade, como a modernização, a urbanização da sociedade, a diminuição dos membros que compõem uma família. A valorização do individualismo, o aumento da expectativa de vida, a valorização cultural do amor são outros posicionamentos que explicam a fragilidade dos relacionamentos. Jablonski (2001)

Fonte: Freepick

Lipovetsky (2004) afirma que apesar das relações atuais serem frágeis, os ideais de relacionamento estável, duradouro não foram descartados pela sociedade. Ou seja, as pessoas desejam ter relações amorosas sólidas, em detrimento do relacionamento líquido exposto por Bauman, mas admite que existe uma ausência de referência normativa sobre relacionamentos fortalecidos, o que pode ser traduzido pela mídia, que diariamente traz o divórcio de celebridades estampadas na capa das revistas eletrônicas.  Nesse sentido, o telespectador, leitor são bombardeadas com esse tipo de informação, cotidianamente. 

A fragilidade do ser humano pode ser explicada pela sua falta de entidade em diversos momentos de sua trajetória, bem como a influência dos noticiários, em especial, o que é exposto na internet. Bauman (2004) ao expor uma sociedade líquida, temporária, sem nenhuma solidez, expõe a problemática dos relacionamentos superficiais, em que as pessoas desejam viver o lado bom, em detrimento ao momento ruim, por isso tudo é líquido como água do rio, que sempre está indo para algum lugar.  Não há um tempo para criar raízes e aprofundar os sentimentos, por isso a sociedade vive em constante insatisfação. Tudo é líquido, mas todos querem o sólido, mas não querem pagar o preço. 

Fonte: Freepick

Referência

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro, 2001. Jorge Zahar.

BAUMAN, Zygmunt.  Vida Líquida. Rio de Janeiro, 2009. Jorge Zahar.

JABLONSKI, Bernardo. Atitudes frente à crise do casamento (2008)

LYPOVESTSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.

MARTINEZ, Marlene Castro Waideman. Sexualidade – família – AIDS. Na família e no espaço escolar contemporâneo. São Paulo: Arte e ciência, 1998.

OLIVEIRA, Diego. A terceira idade e os relacionamentos líquidos nas redes sociais(2015). 

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Soneto dos tempos líquidos

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Fonte: Google Imagens

 

O celular vibra 

A notificação nova chega 

O coração dispara 

E inicia então mais uma entrega

 

Conversa vai, conversa vem 

Dia após dia cresce a curiosidade

De se conhecer, de se degustar e desenvolvem

O medo domina! Será se sou atraente o suficiente?

 

Enfim cara a cara, enfim pele com pele

Troca de calor, de suor, de pudor

O tempo passa, e tudo é novo

 

Depois, perde o encanto, cadê a novidade?

E descarta, deixa de lado, 

Já conheci, já sei como é, próximo! 

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A noção de territorialidade nos dias atuais como forma de fortalecer a identidade do indivíduo

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Fonte: encurtador.com.br/nDITZ

A ideia de pertencimento gera uma sensação de acolhimento, por isso o ser humano, constantemente, está em busca de sua territorialidade, baseada em sua identidade construída ao longo de sua trajetória, desde a infância. A noção de território fez no decorrer da história mundial, o acontecimento de muitas guerras, que tinha como essência a defesa de sua propriedade, família e tradição. Pode-se citar como exemplo, os highlander (povos do alto) de origem escocesa, que por não terem aceitado o domínio inglês, lutaram bravamente para a preservação de sua cultura, além das terras. 

No Brasil, destacam-se os povos indígenas que vivem constantemente em conflitos de terras com grileiros para a preservação de sua cultura, bem como o modo como enxergam a terra. Para muitas pessoas o termo territorialidade vem como sinônimo de pertencimento e acolhimento.  Ou seja, um local em que sua história pode ser entendida por representar sua origem. 

 De acordo com o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Baumam, em sua obra Modernidade Líquida (1999) a teoria do homem líquido aponta que as relações humanas são frágeis, justamente pelo indivíduo absorver tudo que é imposto. Isto é, sua identidade torna-se frágil por não haver uma identidade, como consequência uma falta de territorialidade, que vai além de um local, mas um espaço de valores.

Nesse aspecto, o geógrafo baiano Santos (2001), em sua obra “Brasil: Território e Sociedade no Início do Século XXI”, busca entender a partir da territorialidade, uma interpretação realista, empírica, do Brasil, no sentindo de perceber o comportamento do povo brasileiro, a partir do seu território. 

Para Santos (2001), o território é o espaço geográfico de acordo que ele está sendo utilizado, não é uma questão abstrata, mas uma posição concreta, um sistema que combina o objeto que temos disponíveis no território com as ações que estão sendo utilizadas, uma mistura de objetos e ações.

Para mim, Ludimila Bezerra, acadêmica de psicologia, do CEULP/ULBRA, minha territorialidade está no Estado do Tocantins, mais específico, em Palmas.  Apesar do sol escaldante, a maior parte do ano, Palmas remete ao meu lugar de pertencimento territorial.

Referência

Bauman, Zygmunt. A Modernidade Líquida.  São Paulo. Editora Zahar, 1999.

SANTOS, Milton e Silveira, M. O Brasil: Território e Sociedade no Início do Século XXI. São Paulo. 28 de fevereiro de 2001.

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Modernidade Líquida: um relato sobre ser docente em tempos pandêmicos

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Este relato apresenta um olhar pontual sobre ser docente em tempos de pandemia, em especial sobre a dificuldade em usar as estratégias de ensino voltadas à tecnologia em um mundo em que alunos são, como diria Prenski (2001), nativos digitais. Mas, ao refletir mais profundamente, percebe-se que este aspecto possivelmente é apenas consequência de outro fenômeno: a fluidez (BAUMAN, 2000).

Harari (2018, p. 317) expressa o que parece bastante plausível tendo em vista a imprevisibilidade dos dias que vivemos: “Como podemos viver numa era de perplexidade, quando as narrativas antigas desmoronaram e não surgiu nenhuma nova para substituí-las?”

Fonte: Arquivo (En)Cena

Se as relações surgem e, antes mesmo de elas se findarem, irrompem novas situações – igualmente momentâneas – emerge a necessidade de se reaprender o que já fora aprendido e, para isso, esquecer rapidamente o que não é mais necessário. Nesse sentido, há que se tentar compreender como essa era –  marcada pela doença, que trouxe uma obsolescência quase certa –  afeta nossa vida em sociedade, inclusive as Instituições de Ensino, que foram bastante impactadas com essa fluidez, tendo em vista sua sólida e histórica estrutura (DIESEL; BALDEZ; MARTINS, 2017). Porém, esse é um caminho acidentado, principalmente no campo da educação, arraigada que é.

Masetto (2003) assinalou que, para a atuação docente nas instituições, exige-se precisão de conhecimentos, atualizações, domínio das técnicas e línguas. Mas, quanto à ação do professor propriamente dita, evidencia-se certo descaso com a tecnologia, com as diferentes estratégias que facilitam a aprendizagem, além da crença comum de que dominar o conteúdo é suficiente para que os estudantes aprendam.

Ocorre que, em um mundo assolado pelo vírus, se readaptar não é uma opção, mas como ensinou Bauman (2000), uma necessidade. Quase obrigatoriamente, estamos reaprendendo a ensinar, ainda que usássemos a tecnologia anteriormente em nossas aulas, mesmo que já tivéssemos sido professores na modalidade à distância.

Rapidamente tivemos que revisitar a nossa absoluta solidez. Agora, não é prudente sermos sólidos e mantermos facilmente a forma, com nossas claras certezas e dimensões. Não. O cenário é de dor e o isolamento impede as aulas presenciais. A partir de agora, a fluidez. O contexto das diretrizes a cada minuto. A cada dia. A cada dez dias. Ouso sugerir que a modernidade líquida de Bauman (2000), nunca foi tão adequada, porque é impensável nos atrelarmos as formas anteriores.

Metaforicamente, Bauman (2013) comparou professores e alunos a mísseis balísticos. Os mísseis, ao iniciarem seu percurso, eram perfeitos para alvos pré-determinados e fixos. Contudo, tais qualidades foram superadas quando os alvos começaram a se mover erroneamente e mais rápido que os mísseis, prejudicando os cálculos iniciais e a trajetória exigida (BAUMAN, 2013). Os mísseis somos nós, os professores. Os alvos, os alunos.

Fonte: Arquivo (En)Cena

Problematizando a metáfora, é visível a necessidade premente que nós, professores e nossos alunos tenham, diante dessa fluidez, de aprender não ao final, mas durante a experiência e o percurso da aprendizagem, bem como de esqueceremos o que já foi aprendido se não fizer mais sentido. “Assim, o que precisam que lhes forneçam de início é a capacidade de aprender, e aprender depressa. Isso é óbvio. O que é menos visível, porém, […], é a capacidade de esquecer instantaneamente o que foi aprendido antes” (BAUMAN, 2013, p. 17).

A modernidade líquida (e agora, pandêmica) reestreia a era da liquefação dos arquétipos de obediência e convívio e “[…] são agora maleáveis a um ponto que as gerações passadas não experimentaram e nem poderiam imaginar, mas como todos os fluidos, eles não mantem a forma por muito tempo” (BAUMAN, 2000, p. 22). Ou seja, manter as formas pré-determinadas em um contexto social caótico, é quase tão difícil quanto nelas permanecer, o que exige mudanças constantes. Aliás, como afirma Harari (2018), a mudança é a única constante!

REFERÊNCIAS:

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

______. Sobre educação e juventude: conversas com Riccardo Mazzeo. Zahar, 2013b.

DIESEL, Aline; BALDEZ, Alda Leila Santos; MARTINS, Silvana Neumann. Os princípios das metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica. Revista Thema, v. 14, n. 1, p. 268-288, 2017.

MASETTO, Marcos Tarciso. Competência pedagógica do professor universitário. Summus editorial, 2003.

PRENSKY, Marc. Nativos digitais, imigrantes digitais. On the horizon, v. 9, n. 5, p. 1-6, 2001.

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Amor Líquido: a opção por se afastar de laços de longo prazo

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Na obra Amor Líquido, Zigmund Bauman traz uma metáfora da Modernidade Líquida. Mas o que significa essa liquidez e qual a relação que ele faz com os nossos dias? A pós-modernidade é liquida, pois os valores se moldam com muita facilidade, assim como o líquido se molda  mais  que o sólido. Portanto na modernidade sólida teríamos comportamentos mais previsíveis, onde o indivíduo defenderia aquilo que acredita, mesmo em um ambiente e contexto opostos ao que ele defende; o indivíduo perdeu a capacidade citada anteriormente  mas ao mesmo tempo criou outra habilidade, a de se adaptar facilmente a novas situações e perspectivas, tendo sempre em vista seu bem estar em primeiro lugar.

No livro Amor Líquido, Bauman traz justamente a influência dessa Modernidade Líquida nos relacionamentos amorosos. O homem contemporâneo não gosta de vínculos de longos, os relacionamentos não tem comprometimento e provocam uma insegurança no ser humano, tudo isso é o resultado de várias transformações culturais, sociais e econômicas que nossa sociedade sofreu. Para Bauman, a rede social nos permite ter e não ter amigos com muita facilidade. Hoje quando se termina um namoro é possível com apenas um clique deletar tudo que lembre o outro de sua rede social, sendo essa uma forte característica da Modernidade Líquida, onde o que atrai as pessoas para as redes sociais não é apenas a facilidade em ter muito amigos, mas também de desfazer uma amizade. Sendo assim as redes sociais facilitam muito essa substituição nos relacionamentos.

Fonte: http://zip.net/brtJYl

 

Bauman ainda afirma que em consequência da baixa qualidade nesses relacionamentos as pessoas compensam isso na quantidade, já que se o indivíduo não tem qualidade ele pode ter quantidade para se satisfazer de algum modo, e isso reflete justamente na grande rotatividade e fragilidade dos laços amorosos, aumentando assim esse mal-estar em que vivemos diante da dificuldade em que os indivíduos têm de lidar com o outro.

O ser humano tende a evitar aquilo que considera ruim, que magoa, que faz sofrer, portanto evita relações longas justamente para escapar de possíveis sofrimentos.  Diante disto não se apegam a nada para que não sofram por isso. Assim, se troca facilmente de parceiro, amigos e etc.

Bauman traz uma comparação entre o consumismo compulsório e os relacionamentos afetivos, onde o ser humano não precisa de muita coisa para realizar seus desejos, se ele tiver um cartão de crédito nada o impede de consumir e se satisfazer de forma instantânea.  No entanto essa satisfação passa assim que é lançado um produto novo, e aquele que era bom se torna ruim, sendo dessa forma substituído sem nenhum constrangimento. Os relacionamentos estão seguindo esse mesmo padrão compulsório: se considerado defeituoso ou não satisfatório pode ser plenamente trocado por outro que agrade mais.

Bauman aborda duas contradições, de um lado a vontade de ser livre, independente, e do outro a busca por um parceiro ideal, alguém que se encaixe nas nossas perspectivas e desejos, alguém perfeito de acordo com nosso pensamento. Porém esse alguém não existe, o que existe é alguém que mesmo diferente do que esperamos é capaz de nos compreender e nos amar verdadeiramente. Entretanto, nessa busca pela pessoa ideal que não existe, a troca de parceiro é incrivelmente constante e rápida.

O livro Amor Líquido nos faz refletir sobre a fragilidade dos relacionamentos e a forma errada de amar e de buscar o amor nos dias de hoje. Onde o importante é satisfazer-se apenas enquanto convém, e quando esse desejo passa descarta-se e busca algo novo.

Fonte: http://zip.net/bttKG4

 

Seguindo a dinâmica do consumismo o amor não tem mais o mesmo significado. Pelo que pude compreender, na Modernidade Líquida os avanços tecnológicos  influenciam muito o ser humano em suas relações de um modo geral. O amor líquido representa justamente esta fragilidade dos laços humanos, e a flexibilidade com que são substituídos. Um amor criado pela sociedade atual (Modernidade Líquida) para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros. Já que nada permanece nesta sociedade, o amor não tem mais o mesmo significado, foi alterado. É como algo líquido, que se molda facilmente de acordo com o contexto e ambiente, totalmente diferente do seu real significado de durabilidade.

FICHA TÉCNICA DO LIVRO:

Autor: Zygmunt Bauman
Editora:
Zahar
Páginas:
192
Ano:
2004

REFERÊNCIA:

BAUMAN, Z.  Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Ziar Editor, 2004.

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