Passarinho

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Passarinhos-Emicida

Despencados de voos cansativos
Complicados e pensativos
Machucados após tantos crivos
Blindados com nossos motivos
Amuados, reflexivos
E dá-lhe antidepressivos
Acanhados entre discos e livros
Inofensivos

Será que o Sol sai prum voo melhor?
Eu vou esperar
Talvez na primavera
O céu clareia, vem calor, vê só
O que sobrou de nós e o que já era

Em colapso o planeta gira
Tanta mentira aumenta a ira de quem sofre mudo
A página vira, o são delira
Então a gente pira e, no meio disso tudo, tamo tipo

Passarinhos soltos a voar, dispostos a achar um ninho
Nem que seja no peito um do outro
Passarinhos soltos a voar, dispostos a achar um ninho
Nem que seja no peito um do outro

Laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá

La-laia, la-laia, la-laia
Ah-ahn-ahn-ahn-ahn
Ah-ahn-ahn-ahn (ah, ah, ah, ah)

A Babilônia é cinza e neon, eu sei
Meu melhor amigo tem sido o som, okay
Tanto carma lembra Armagedom, orei
Busco vida nova tipo ultrassom, achei
Cidades são aldeias mortas, desafio nonsense
Competição em vão, que ninguém vence
Pense num formigueiro, vai mal
Quando pessoas viram coisas, cabeças viram degraus
No pé que as coisas vão, jão, doideira
Daqui a pouco resta madeira nem pro caixão
Era neblina, hoje é poluição
Asfalto quente queima os pé no chão
Carros em profusão, confusão
Água em escassez, bem na nossa vez
Assim não resta nem as barata (é memo)
Injustos fazem leis e o que resta procês?
Escolher qual veneno te mata
Pois somos tipo

Passarinhos soltos a voar, dispostos a achar um ninho
Nem que seja no peito um do outro
Passarinhos soltos a voar, dispostos a achar um ninho
Nem que seja no peito um do outro

Laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá

Laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá

Laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá

Passarinhos soltos a voar, dispostos a achar um ninho
Nem que seja no peito um do outro
Passarinhos soltos a voar, dispostos a achar um ninho (dois, três, quatro)
Nem que seja no peito um do outro

Fonte: Desenho para Colorir

Quem diria que uma música lançada lá em 2015 faria tanto sentido ainda em 2024? Como ele revela na letra de “Passarinhos”: “E dá-lhe antidepressivos /  o são delira / Então a gente pira  / Cidades são aldeias mortas / Competição em vão, que ninguém vence”. Estes refrões carregados de significado simbólico, marcam uma angústia muito contemporânea, na qual o homem vive de anestesiar suas emoções, em uma vida de competições, que acaba por ser sem sentido, dito que a linha de chegada é inalcançável, e a evidente perda do senso coletivo, de um pertencimento comunitário resultando em uma aldeia morta, então o que resta a nós, a não ser pirar? E ouso dizer que pirar é o mais perto que chegamos da lucidez. 

Nos tensiona a uma reflexão acerca de como temos sofrido um deslocamento de valores, na perda de processos de significâncias, que postulam tanto o homem, quanta a terra em objetos: “Quando pessoas viram coisas, cabeças viram degraus”/“No pé que as coisas vão, jão, doideira Daqui a pouco resta madeira nem pro caixão. Simbolizando aqui a nossa perda e desencantamento do mundo, de onde se desloca o sagrado do corpo e território, transformando-os em matéria, que podem ser exploradas, vendidas e subjugadas, dada a essa perda de significado e sentido, e a um processo de racionalização que retira o sentido mágico que transforma tudo em apenas “coisas e objetos”. 

“Quanto mais o intelectualismo repele a crença na magia, e com isso os processos do mundo ficam ‘desencantados’, perdem seu sentido mágico e doravante apenas ‘são’ e ‘acontecem’, mas não ‘significam’ mais nada, tanto mais urgente resulta a exigência, em relação ao mundo e à ‘conduta de vida’ como um todo, de que sejam postos em uma ordem significativa e plena de sentido” (WEBER, 1991, p. 344). 

Em uma rápida busca no google, em 2024, esses são os títulos de algumas manchetes : “Seca ‘sem precedentes’ faz lago no AM definhar” (Uol, 2024);  “Inmet publica alerta laranja” (Agora RS, 2024); “Cerrado tem alta de 19% nos alertas de desmatamento” (Agência Brasil, 2024); “Focos de incêndio na área amazônica em 2024 superam os números do ano anterior” (CNN Brasil,2024); E lá em 2015 já cantava Emicida: “Era neblina, hoje é poluição/Asfalto quente queima os pé no chão /Carros em profusão, confusão/ Água em escassez, bem na nossa vez/ Assim não resta nem as barata (é memo)/ Injustos fazem leis e o que resta procês? Escolher qual veneno te mata”/ No pé que as coisas vão, jão, doideira/ Daqui a pouco resta madeira nem pro caixão” com muita sensibilidade esse refrão me toca, pois todos os dias as notícias e manchetes pronunciam, a chegada desse dia, em que não teremos madeira nem pra caixões, e sentir a iminência desses versos, nós despertam indignação e desesperança, com o descaso por crises humanitárias que são recorrentes de anos, me faz pensar no que disse Alanis Obomsawin “Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver sido poluído, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come.”  É urgente rever nossas formas de existir, é urgente que se dê nome aos grandes “produtores” dessas crises os “Injustos fazem leis”, que sejam taxadas as desigualdades, que imperam na criação de calamidades humanitárias e ambientais.

Mas apesar de: “Despencados de voos cansativos/ Complicados e pensativos/ Machucados após tantos crivos/ Blindados com nossos motivos/ Amuados, reflexivos.” Podemos então acreditar que “Será que o Sol sai prum voo melhor” Emicida traz aqui uma metáfora “soltos a voar, dispostos a achar um ninho/ Nem que seja no peito um do outro” que eu traduzo como uma tecnologia revolucionária o procurar o outro, o formar um ninho, o encantar o mundo, o resgatar simbolismos, e quem sabe assim voltar a criar dias melhores.

Referências

CAPRIOLI, Victor. Agora RS. O retorno da chuva. Inmet publica alerta laranja de tempestade para o RS. Rio Grande-Sul. Disponível em: <link>. Acessado em: 03 Out, 2024.

UOL. Seca ‘sem precedentes’ faz lago no AM definhar. São Paulo,2024. Disponível em: <link>. Acesso em 03 Out, 2024.

BONDE, Letycia. Agência Brasil.Cerrado tem alta de 19% nos alertas de desmatamento em fevereiro. São Paulo, 2024. Disponível em: <link>. Acesso em 03 Out, 2024.

CARDOSO, Alan. CNN Brasil. Focos de incêndio na área amazônica em 2024 superam os números do ano anterior. São Paulo, 2024. Disponível em: <link>. Acessado em 03 Out, 2024.

WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. vol. I. Brasília: Ed. Univ. Brasília, 1991.

 

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A música como meio de acolhimento, identificação e encorajamento

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A música é uma forma poderosa de arte que vai além do entretenimento. Ela tem a capacidade de tocar profundamente o ser humano, influenciar o humor, promover o bem-estar psicológico e fortalecer os laços sociais (Marques, 2017). É uma expressão humana profunda, por meio dela, criam-se belas melodias, arranjos, combinações de sons, detalhes… uma construção que culmina num lindo produto. Mas, além de lindas melodias e belos arranjos, particularmente, o que mais me toca, é o cuidado e a intencionalidade presente nas letras, gosto de pensar que é a alma da música.

Nesse texto quero evidenciar letras de músicas, trilhando um caminho entre elas. Ambas são interpretadas pela mesma artista, que iniciou sua carreira muito jovem e até hoje possui esse viés social de música destinada ao público infanto-juvenil e adolescente. Porém, ao ouvir as canções de seus trabalhos solo, pude apreciar melodias e letras que trazem questões muito presentes no emocional do ser humano, desde conflitos à resiliência. 

Letras como as que serão expostas, tem o poder de alcançar o íntimo, tocam em conflitos humanos que muitas vezes não podem ser ditos, assim, as canções dão a possibilidade de se instrumentalizar e contribuir para a elaboração de cada questão pessoal. Este recurso é utilizado em campos como da Musicoterapia, mais intencionalmente, com músicas que remetem a história de vida do paciente, ajudando também no aspecto de identificação e verbalização dos problemas (Brignol, 2009).

Nesse quarto escuro

Existe um menino assustado

Ele é sozinho

E teme que o mundo encontre o seu cantinho

Me entrega ele pra cuidar

Eu sei guardar segredo

Eu sei amar

Não conto pra ninguém

Que esse menino é alguém

De barba e gravata e que esse quarto escuro é sua alma

(Lima, 2010)

Em primeira instância, temos a música Esconderijo, inicialmente nos deparamos com a terminologia “menino”, que está num quarto escuro, sozinho, temeroso, depois surge alguém que traz a figura do acolhimento que assegura o amor, o cuidado, a discrição. Porém vemos ao final da canção, que esse menino, é alguém “de barba e gravata”, um adulto, que esconde na sua alma, todo esse medo, esse sentimento de solidão. Ao refletir num âmbito coletivo, muitos adultos escondem seus anseios, seus temores, e muitas vezes, precisam de alguém como a figura da música, alguém que acolha e exerça o ouvir e o legitimar.

Desacelera

Deita essa cabeça no meu peito

Que a gente encara até o que não tem jeito

Olha como eu faço

Um passo de cada vez

Desapega

Deixa aquela sombra no passado

Agora e sempre eu fico do teu lado

Respira, confia

Um dia de cada vez

Vem amor

Do mundo a gente não vai levar nada

Entre o amor e a alegria

Escolho um de cada

Amor, alegria, um passo, uma coisa, um dia

De cada vez

Recomeça

Tenta ser mais brisa do que vento

Encara o dia nesse movimento

Seja mais dança, mais alma

Mais vida, mais poesia

Vem amor

Do mundo a gente não vai levar nada 

Entre o amor e a alegria

Escolho um de cada

Amor, alegria, um passo, uma coisa, um dia

O tempo cura, fica a cicatriz

Lembrar de uma tristeza

Te faz saber o quanto é lindo ser feliz

Vem amor

Do mundo a gente não vai levar nada

Entre o amor e a alegria

Escolho um de cada

Amor, alegria, um passo, uma coisa, um dia

De cada vez

(Tedeschi, 2022)

 

De cada vez é uma das canções mais lindas que já ouvi, seguindo o teor da primeira canção, vemos novamente a figura do acolhimento chamando à lidar com os medos e temores desacelerado, contando com o apoio, desapegando, respirando, confiando, lembrando que além dos pesares, podemos contar com coisas boas da vida, como o amor e a alegria. Vemos analogias como “Ser mais brisa do que vento”, novamente remetendo à diminuição do ritmo, e na atenção plena a cada instante. Em “Lembrar de uma tristeza te faz saber o quanto é lindo ser feliz” lembramos que podemos olhar para o passado e para cada pesar, e a partir disso, notar e valorizar cada momento de felicidade. E assim, viver um dia de cada vez. 

Hoje eu acordei sem pressa

Deixei a janela aberta

Vi a vida tão repleta de amanhecer

Hoje eu pude ver de perto

Que um coração aberto

Torna tudo mais fácil de acontecer

Eu abro as asas e preparo a alma pra respirar, pra respirar

Eu abro as asas e preparo a alma pra respirar, pra respirar

Hoje eu me joguei das nuvens

Tirei o pó e a ferrugem

Vi que o sol brilha mais claro se a gente ‘tá bem

Voos podem ser mais altos

Frases podem ser mais belas

Hoje eu vou gritar mais forte a sorte que a gente tem

De ser feliz sem ser refém

Eu abro as asas e preparo a alma pra respirar, pra respirar

Eu abro as asas e preparo a alma pra respirar, pra respirar

(Lima, Lima e Lopes, 2017)

Respirar é uma canção com um teor de esperança, a partir do entendimento de que pode se viver a vida um dia de cada vez, o posicionamento agora é outro, durante toda a letra vemos uma permissão pessoal de sentir, de aproveitar cada acontecimento, fator evidenciado em “Hoje eu pude ver de perto que um coração aberto torna tudo mais fácil de acontecer”, “Vi que o sol brilha mais forte se a gente tá bem” e também no refrão “Eu abro as asas e preparo a alma, para respirar”. 

Eu senti

O vento arrastar o medo pra longe de mim

Eu senti

O tempo se abrir e o sol tocar a pele

E eu vi que eu podia mais do que eu sabia

Eu vi a vida se abrir pra mim

Quando eu disse sim

Eu disse sim pro mundo

Eu disse sim pro sonhos

E pra tudo que eu não previa

Sim pro inexplicável

Eu disse sim, eu caso

Eu disse sim pra tudo que eu podia

E eu podia mais do que eu sabia

Eu vivi fugindo de arrependimentos

Sem me redimir

Me perdi, navegando em erros

Sem buscar o leme

E eu vi que eu podia mais

Do que eu sabia

Eu vi a vida se abrir pra mim

Quando eu disse sim

Eu disse sim pro mundo

Eu disse sim pro sonhos

E pra tudo que eu não previa

Sim pro inexplicável

Eu disse sim, eu caso

Eu disse sim pra tudo que eu podia

E eu podia mais do que eu sabia

(Lima Jr, Lima e Lima, 2013).

Quero findar esse caminho de intersecção com essa linda letra que pertence a canção com o nome: Sim. Nessa música, vemos o resultado da abertura pessoal às experiências e desafios da vida, a partir de um Sim. Temos afirmações como “eu disse sim pros sonhos, sim pro inexplicável, eu vi que eu podia mais do que eu sabia, eu vi a vida se abrir pra mim”, evidenciando como se permitir vivenciar é importante para até mesmo descobrir que se pode ir além do que sabia. Aquele menino assustado pode encontrar acalento, pode expressar seus medos, pode viver um dia de cada vez, pode abrir as asas e preparar a alma para respirar , e ver a vida se abrir, a partir de um Sim.  

Como vimos durante a análise e ligações dessas letras, a música é uma ferramenta fantástica e democrática de expressão e identificação. Quando as emoções não são facilmente faladas, a música oferece uma forma simbólica de expressão, e assim muitos podem ouvir e se reconhecer (Brignol, 2019), além de encontrar também possibilidades de esperança frente a intensidade e complexidade que é viver.

Referências: 

Brignol, R. Análise de canções num processo terapêutico grupal e interdisciplinar. URCAMP, 2009.

Lima, S. intérprete: Sandy Leah De Lima, Esconderijo, São Paulo, Universal Records, 2010.

Lima, S;  Lima, L; Lima Jr, D. intérprete: Sandy Leah De Lima, Sim, São Paulo, Universal Records, 2013.

Lima, S;  Lima, L; Lopes, D. intérprete: Sandy Leah De Lima, Respirar, São Paulo, Universal Records, 2017.

Marques, P. A influência da música na saúde mental e bem-estar: um estudo exploratório, Universidade Fernando Pessoa , 2017.

Tedeschi, E. intérpretes: Sandy Leah De Lima; Agnes Nunes, De Cada Vez, São Paulo, Universal Records, 2022.

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Entre cantilenas, massas e sentidos: a música e a modelagem da/na existência

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Profa. Dra. Fernanda Maria Macahiba Massagardi –  fernanda.macahiba@mail.uft.edu.br

 

Cozinhar é o mais privado e arriscado ato.

No alimento se coloca ternura ou ódio.

Na panela se verte tempero ou veneno.

[…]

Cozinhar não é serviço.

Cozinhar é um modo de amar os outros.

 

Mia Couto

Convido o leitor para uma visita dominical à cozinha italiana de minha infância, na casa de minha avó materna, de onde brotavam travessas fumegantes de macarrão ao molho bolonhesa e legítimos gnhoccis (popularmente conhecidos no Brasil como “nhoques”), decorados com o mármore verde das levemente amargas escarolas.

Sequer recordo quantos anos tinha quando presenciei o milagre da feitura das massas. A beleza da modelagem e corte das formas, a organização e enfileiramento sobre a bancada enfarinhada.  E a surpresa das que, ao contato com a água fervente, só erguiam-se após o mergulho profundo realizado na panela, sendo recolhidas e salvas pela escumadeira. O aroma, o suco dos tomates orgânicos da horta e o som das cantilenas italianas na vitrola e na voz de minha avó acompanhavam as toalhas de mesa que, em quadrados de vermelho e branco, remetiam ao passado da “nostra” Itália. O movimento das mãos, vozes altas e a generosidade das porções consagravam àquele dia da semana uma verdadeira experiência estética ancestral. À mesa adultos, crianças e amigos experimentavam o verdadeiro banquete, fruto do trabalho de mãos fortes, de dedos longos e ágeis de uma alma que valorizava o encontro familiar.

Os anos passaram e aprendi as cantilenas e receitas. Ingressei no mundo dos adultos e um dia minha avó, após muitos enfrentamentos dolorosos que a vida trouxe, me disse:

            – Eu costumava cantar o tempo todo, sentia tanta alegria! Mas a música foi acabando dentro de mim. E hoje só há o silêncio. Não consigo mais cantar.

Naquela época a narrativa soou triste e, por que não dizer poética, em sua dor. Minha avó diante de mim era a figura da “Pietá” de Michelangelo que, assim como ela, teve um filho morto nos braços, minha mãe. Eu não tinha conhecimento suficiente para elaborar com maior profundidade a confissão, que emergia de um mergulho de dor naquela alma.

            Não há racionalidade que permita compreender um sentimento.

Entretanto, a empatia e o sentir possibilitam uma imersão em afetos. Há um outro veículo de poder imensurável chamado Arte, que pode tocar e curar o coração dos homens. A Música, as Artes Visuais, da Cena, a Dança, a Literatura etc., são linguagens que permitem o acesso às dimensões da realidade que só podem ser alcançadas pela Arte.

Explico. O dicionário define o que é saudade e todos compreendem a descrição. Entretanto, quando Chico Buarque e Zizi Possi cantam que “saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”, eles elevam a um grau máximo o sentimento, pela poesia. Assim, é perceptível o quanto a dicionarização minimiza e racionaliza definições, quando nos referimos ao campo do emocional. Não obstante, é inegável o alcance da Arte como veículo de mobilização do sagrado, do profundo, daquilo que significa a existência do homem e desperta a alma, humanizando.

Um exemplo é a mitologia. Cada existência dialoga com um ou mais mitos. Este foi um dos maiores assombros que a obra de Jung[1] instigou em meu processo de autoconhecimento e de conhecimento do outro.

Enquanto educadora da área de Arte, recebo habitualmente um repertório considerável de histórias de meus alunos, seja oralmente, nos silêncios ou expressões artísticas. Todo professor, de certa forma, é um ouvinte contumaz da existência humana. A partir do outro me insiro nas adversidades, nos sonhos, nas possibilidades e poéticas. Visito o passado, procuro diferentes perspectivas do presente e avento futuros. Não há certezas. Mas tangenciar possíveis na esfera do humano e dos diferentes meios culturais, sociais e pessoais, em sentidos “sentidos”, é imenso e congrega espaços solidários, coletivos e de beleza.

Estudo as diferentes mitologias e, ao ouvir narrativas biográficas, procuro identificá-las, em um jogo de adivinhação e conhecimento. E vejo em meus alunos as imagens de Posseidon, Atena, Apolo, Sísifo, Ulisses e tantos outros deuses e heróis.

Considerando que para Jung os mitos não foram criados, mas sempre existiram no inconsciente coletivo, este exercício permite o acesso a uma esfera de revelação das funções psicológicas. Mitos são mapas que indicam caminhos e trazem à consciência o estatuto do eu no mundo, das singularidades e peregrinação do homem pela existência.

Deste modo a Psicologia, sendo uma ciência interdisciplinar, está imbuída de potestades e pode constituir um tripé, se unida à Educação e Arte. Vale ressaltar que a Arte apresenta diversas terapêuticas, em suas múltiplas atividades e fruições. Cada uma delas metáforas manifestas, relacionadas às situações do percurso existencial.

Nise da Silveira percebeu, em suas atividades de ateliê, que a psiquê de seus pacientes promovia uma ordenação, na medida em que a configuração das composições apresentava um estado inicial de caos e passava a uma organização, com o exercício constante do fazer artístico. Assim, a prática externa dialoga intimamente com o interno.

Após o acima exposto, voltemos à cozinha de minha avó e pensemos em tantas cozinhas que conhecemos, desde a de nossa casa, dos amigos e das escolas. O que configura um modelo educativo? Por qual motivo restringimos atividades específicas a determinados espaços? Será a sala de aula detentora de estruturas ótimas para o conhecimento ser levado a termo? De que forma podemos enriquecer o ensino e a aprendizagem, promovendo uma educação sensível em espaços polivantes?

Minha avó, filha de agricultores, estudou apenas quatro anos. Sem saber, foi uma grande educadora de Biologia, Gastronomia e Arte (Música e Artes Visuais). Também promovia ações terapêuticas e de desenvolvimento do pensamento lógico-matemático.

Assim, ensinou o tempo correto do plantio, da colheita, das estações, como Deméter, bem como o preparo da terra que recebe a semente. À mesa manipulou os tomates, as batatas, os ovos do galinheiro, a manteiga e a farinha. Cuidou de modelar a massa, cortá-la e ordená-la sobre a mesa, sob cantilenas aprendidas com a sua mãe, minha nonna Adelaide. Depois determinou o tempo exato do cozimento da massa e a melhor forma de servir os convidados, decorando pratos com folhas de manjericão, de propriedades terapêuticas que auxiliam no relaxamento, atuando no sistema nervoso central, melhorando sintomas como depressão, ansiedade e insônia.

Não por acaso, muitos pensadores e educadores defendem o ensino de Arte e da Gastronomia nos espaços escolares. Para além de todos os conhecimentos supracitados, eles promovem uma aproximação com o estado coletivo do homem, de estar junto, além de concentração, observação e cuidado. É o mantenimento do estado de humanidade desejável em um grupo social.

A modelagem, que pode acontecer com plastilina ou massa de gnocchi (nhoque) traz a percepção tátil do mundo; o relaxamento e liberação de tensões; percepção de tridimensionalidade; consciência de peso, volume e temperatura, além de ativar elementos arquetípicos. Durante a existência estamos modelando a nós mesmos e nossos conceitos de mundo incessantemente.

E a música, que permeia os dias, diz muito do estado de ânimo individual e coletivo e das escolhas que tocam a alma. Podemos criar uma biografia de vida a partir de músicas que fizeram parte dos diferentes períodos etários. É um estímulo externo que pode beneficiar e catalisar instantes significativos. Quando a música cessa, algo aconteceu e precisamos atentar para os silêncios.

O espaço de aprender é também o espaço do aprimoramento interno a partir de estímulos externos, percepções e reflexões. Tais atributos são parte dos estudos da Psicologia, que atenta para os comportamentos do homem e sua manifestação e ação no e sobre o mundo.

A matéria da Arte é também matéria da Alma, na medida em que transformando aquela estamos movimentando esta, sempre em direção a um maior conhecimento de nós mesmos e do outro.

Sugiro que o leitor experimente observar o ato de cozinhar, modelar e cantar no cotidiano de uma perspectiva mais educativa e poética. A experiência diz muito sobre a construção de si num ambiente generoso de significados simbólicos, que podem ser despertados pela ação em afeto e reflexões.

Assim como os gnocchis (nhoques), a vida nos convida ao mergulho profundo, para que, após o cozimento, possamos emergir com mais sabedoria diante da natureza de todas as coisas, que trazem o caráter do numinoso ao mundo, por associações e experiências estéticas. Esta é a educação dos sentidos e a terapêutica da Arte.

Profa. Dra. Fernanda Maria Macahiba Massagardi, Professora Adjunta da Universidade Federal do Tocantins, Doutora em Psicologia da Educação, Pós-doutora em Artes, bacharel e licenciada em Artes Visuais, graduada em Práticas Integrativas, especialista em Gastronomia Criativa e Autoral, contadora de histórias e focalizadora de danças circulares.

 

Referências bibliográficas:

DUARTE JÚNIOR, J.F. O sentido dos sentidos. Curitiba: Criar editora, 2004.

JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

PHILIPPINI, A. Linguagens e materiais expressivos em arteterapia. Rio de Janeiro: Wak, 2022.

RUD, E. Caminhos da musicoterapia. São Paulo: Summus, 1990.

SILVEIRA, N. Imagens do inconsciente. Brasília: Alhambra, 1981.

[1] Carl Gustav Jung

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VOCIFER – Por dentro do heavy/power metal tocantinense

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Jurupary” foi lançado em 23 de junho de 2023 explorando as lendas por trás de uma controversa figura do folclore amazônico. Naturais do estado do Tocantins, com a proposta de levar a essência brasileira para além das fronteiras nacionais, a Vocifer entrega um som singular

Ana Júlia Labre Tavares (Acadêmica de Psicologia)  – anajulialabre@rede.ulbra.br

 

A riqueza mística que permeia as diversas culturas e lendas em um país tão vasto como o Brasil oferece inspiração para narrativas envolventes, sejam compartilhadas ao redor de uma fogueira, registradas em páginas de livros desgastadas pelo tempo, ou até mesmo ecoando através de acordes poderosos em discos de heavy metal. O que a banda de power/heavy metal tocantinense, Vocifer, demonstrou com maestria nos álbuns ‘Boiuna’ (2020) e ‘Jurupary’(2023).

A banda de Heavy/Power Metal originária do Tocantins mantém sua dedicação em difundir a rica cultura amazônica globalmente. Em seu mais recente feito, a banda oficializou parceria com a gravadora grega Alone Records, encarregada da distribuição internacional do álbum ‘Jurupary’ em formatos de CD e vinil. Fundada em 2016, a atual formação da Vocifer conta com João Noleto nos vocais, Lucas Lago no baixo, Pedro Scheid e Gustavo Oliveira nas guitarras e Alex Cristopher na bateria.

O Portal (En)Cena entrevista o guitarrista da banda, Pedro Scheid, de Palmas-TO, para melhor compreender o cenário atual da música no Tocantins e, também, como tem sido sua experiência como músico.

(En)cena – Considerando suas experiências até o momento, qual a tua percepção sobre o cenário da música no Tocantins?

Pedro Scheid – O Tocantins é um Estado que pouco explora a vastidão de sua cultura. Existem muitas manifestações artísticas e culturais que são pouco divulgadas, pouco difundidas, sequer faladas nos ambientes acadêmicos. Acredito que inicialmente, para que possamos fortalecer a nossa cultura, consequentemente o cenário musical, deve-se investir em locais de divulgação. Uma regularidade maior em apresentações no espaço cultural por exemplo, trazendo artistas de fora de todos os nichos para realizar apresentações no teatro Fernanda Montenegro, seria uma forma efetiva de criar uma cultura de consumo e propagação das manifestações artísticas do nosso estado. Existem vários artistas locais, desde a velha guarda como Dorivã, projetos musicais como Tambores do Tocantins, bandas que já apresentam relevância mundial como a Vocifer, enfim, vários estilos diferentes que respiram inspirações muito semelhantes presentes no cotidiano tocantinense. Portanto, com os incentivos e investimentos certos, as manifestações culturais serão difundidas e se tornarão um hábito para a população, contribuindo para seu desenvolvimento e evolução.

(En)cena – Pouco se fala sobre a temática que vocês têm levado mundo afora. Como vocês chegaram nessa ideia de abordar lendas e mitos da região Norte nos álbuns? 

Pedro Scheid – Como toda grande ideia de bandas famosas, tudo começou na mesa de um bar (risos). Através de conhecidos que tinham projetos e convivência com povos originários locais, suscitou-se a temática inicialmente em torno da Boiuna, a grande cobra que atormenta/acalenta os ribeirinhos e os povos originários que difundem suas histórias. O tema despertou muito interesse por nossa parte, uma vez que essa temática fantasiosa e mitológica é muito comum dentro das bandas de metal no mundo todo. Nada melhor, então, que contar histórias sobre a nossa região, onde nascemos, crescemos e fazemos parte e levar para o mundo uma história tão pouco conhecida entre os próprios tocantinenses. Tal temática foi muito bem recebida pela crítica, como pudemos perceber pelo feedback gerado no nosso primeiro disco (intitulado “BOIUNA”) sendo chamados de “os contadores de história do Tocantins”. Isso marcou tanto a banda que levamos a ideia para o segundo disco, trazendo a história por trás do “Jurupary”.

                                                                                                                Fonte: Acervo Pessoal

Foto retirada nas gravações do último álbum, Jurupary. Em sequência, da esquerda para a direita, Pedro scheid, Thiago Bianchi, João Noleto, Luis Fernando Ribeiro, Leandro Abrantes, Gustavo Noleto e Lucas Lago.

(En)cena – Com a grande quantidade de tribos presentes no Tocantins, e, consequentemente, uma grande diversidade de crenças e culturas, como vocês conseguiram elaborar uma única linha de narrativa para a composição dos álbuns? 

Pedro Scheid -Apesar de existirem, como eu posso dizer… muita difusão “boca-a-boca” dessas histórias, a nossa principal fonte de pesquisa foram as dissertações de acadêmicas na área, principalmente de faculdades como a UFAM. Através das referências, encontramos vários livros sobre as temáticas, livros estes que eram basicamente relatos dos historiadores que visitaram as tribos indígenas no século XIX. Fizemos um compilado de várias versões e várias histórias até chegar em uma linha que nos agradasse e fosse possível converter numa história desenvolvida com início, meio e fim, enfim, uma cronologia lógica. A ideia, na verdade, não é utilizar apenas uma versão narrativa, ou evidenciar alguma versão como sendo correta, na realidade, nós bebemos das várias versões e nos inspiramos para desenvolver algo nosso e que levasse a várias interpretações sobre a vida como um todo, para que quem lesse nossas letras e escutasse nossas músicas, trouxesse os acontecimentos narrados para sua própria vida.

(En)cena – Como você aborda o processo de composição de músicas? Você segue alguma rotina específica?

Pedro Scheid -Normalmente o processo de composição depende de vários fatores. Inicialmente é necessário definir uma temática e quais as referências que servirão como base para inspiração. Através da temática e do contexto de cada música, é possível inferir quais as interpretações instrumentais serão ideais para despertar nos ouvintes os sentimentos equivalentes ao que está sendo contado na música. Dessa forma, imerso nas referências e na temática, aguça-se a criatividade de forma orgânica e os arranjos passam a ser criados. É um processo demorado e volátil pois as composições vão se adaptando ao longo do tempo até chegar em sua versão final. A Vocifer sempre foi muito criteriosa, calculista e perfeccionista em suas composições e isso é exemplificado quando se escuta cada música nos álbuns já produzidos.

                                                                                                                                 Fonte: Acervo Pessoal

Pedro Scheid nas gravações do videoclipe de “Rain of Doubts”, uma das canções do segundo álbum. A composição é uma balada bastante introspectiva que emana uma sensação melancólica e angustiante de incerteza.

(En)cena – Quais são seus álbuns ou guitarristas favoritos?

Pedro Scheid – Hoje em dia meus guitarristas favoritos são: Kiko Loureiro, Andy James, Rick Graham, Timo Tolkki, John Petrucci, Steve Vai, Michael Romeo, Roberto Barros, Bastian Martines, enfim, a lista é grande. Álbuns é mais difícil de citar, acredito que é melhor citar bandas que vieram me inspirando ao longo dos anos em minhas composições como Iron Maiden, Angra, Shaman, Helloween, Edguy, Avantasia, Symphony x, Stratovarius, Kamelot, essas principalmente para a Vocifer, no entanto para o desenvolvimento como músico tenho consumido muito música clássica da escola barroco, metal moderno e instrumental como djent e também linhas de música brasileira como Toquinho, Djavan e Yamandu Costa.

(En)cena – Como lidar com imprevistos durante uma performance ao vivo?

Pedro Scheid – É muito difícil lidar com imprevistos, pois como o próprio nome sugere, é algo que você não consegue prever. Então a melhor forma de lidar é se preparar muito bem para a performance ao vivo, seja fisicamente, seja mentalmente, e lógico, se preparar musicalmente. Os imprevistos sempre acontecem, não existe ambiente musical sem imprevisto, mas aqueles que estão mais preparados e que possuem mais experiência sempre sabem como dar a volta por cima. Uma dica importante é estar acompanhado de profissionais habilitados, como bons técnicos de som, bons roadies, bons produtores e sempre se organizar e pensar em todos os backups. Por exemplo, para o meu caso, guitarrista, eu levo duas guitarras caso uma dê problema, dois jogos de encordoamento caso arrebente, várias palhetas caso eu perca ou caia durante a execução das músicas, cabos de instrumento extra, a possibilidade de tocar em linha caso dê problema nos amplificadores e caixas de ferramenta multiuso para qualquer recurso técnico – gambiarra – que seja necessário.

(En)cena – Quais tendências musicais você acha mais interessantes?

Pedro Scheid – Hoje em dia eu busco não rotular um nicho específico como mais interessante que outro. Eu busco encontrar as qualidades e aquilo que está por trás de uma manifestação artística. Todos os estilos musicais têm suas qualidades e, para um músico, quanto mais este conhecer os linguajares dentro de estilos musicais diferentes, maior a sua desenvoltura principalmente em aspectos criativos e nas composições. Infelizmente, hoje no Brasil nós vivemos um monopólio cultural por conta do alto investimento do agronegócio no estilo “sertanejo”, o que ofusca tantos outros estilos muito mais ricos culturalmente falando.

(En)cena – Por fim, que conselhos você daria a artistas aspirantes que estão começando suas jornadas?

Pedro Scheid – A dica de ouro que eu dou é encontrar o seu ídolo, é buscar referências, é escutar muita música, degustar música, assistir shows, ir em shows, ver o seu ídolo tocar, entender como seu ídolo chegou aonde está e buscar trilhar um caminho parecido. E principalmente, encontrar aquilo que você gosta e traçar um objetivo para se desenvolver cada vez mais, fazendo tudo com seriedade e buscando o profissionalismo.

 

 

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Animação Encanto: precisamos falar sobre o Bruno

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A animação Encanto, criação de Jared Bush e Byron Howard,  se tornou o mais novo fenômeno da Disney. Trazendo muita representatividade e música latina. A  trilha sonora, composta por Lin-Manuel Miranda chegou ao topo da Billboard 2000 e já superou a marca de 500 milhões de streams . Entre  essas canções está ‘’ Não falamos do Bruno’’ We Don’t Talk About Bruno” (na versão original) que atingiu o marco número 1 das paradas internacionais, como a música da Disney mais ouvida de todos os tempos.

Encanto é um filme cheio de personagens marcantes, sendo uma animação reflexiva,  que nos mostra a  saga da família Madrigal, onde cada membro da família possui ou está à espera de um dom. Algumas das mensagens que o filme nos trás é a toxicidade familiar e o processo de cura das relações. Cada uma de suas canções traz o ponto de vista de seus principais personagens e suas dificuldades, que estão encobertas, pelo “bem maior” da família.

A canção ‘’não falamos do Bruno’’ é a única não cantada pelo seu personagem central e nos leva a refletir sobre o abandono das relações entre familiares.

Podemos perceber que ao longo da canção, cada um tem seu motivo para não falar do Bruno, o seu dom era a profecia, e por ser alguém muito diferente dos demais, ele nunca foi bem visto. Quando então começou a prever coisas que eram nada mais nada menos que a realidade, ficou ainda mais marcado. As pessoas em sua volta não estavam preparadas para lidar com aquilo. Aos poucos Bruno foi sendo excluído pela família, até o ponto em que ele mesmo foge, e todos o enxergam como alguém que abandonou a família, resolvendo então silenciar qualquer assunto sobre ele.

Uma pesquisa da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, concluiu que mais de um a cada quatro norte-americanos relata ter se distanciado de algum parente. Segundo reportagem da BBC, empresa estatal de mídia do Reino Unido, um estudo similar foi realizado pela Stand Alone, organização britânica dedicada ao distanciamento familiar, levantando que o fenômeno atinge uma a cada cinco famílias naquele território. O artigo ainda informa que estudiosos e terapeutas na Austrália e no Canadá também afirmam observar uma “epidemia silenciosa” de rompimentos familiares. 

Segundo um artigo da BBC (2021) Não existem dados concretos, mas há uma percepção crescente entre terapeutas, psicólogos e sociólogos de que esse tipo de rompimento intencional entre pais e filhos vem crescendo nos países ocidentais. Podemos entender então que o rompimento familiar é mais comum do que imaginamos, Bruno não está sozinho,  nos levando a refletir: quais são os fenômenos que podem estar por trás de tal acontecimento?

fonte:http://encurtador.com.br/kmBD5

Visões de mundo conflitantes

Segundo Samuel (2022) a impossibilidade de diálogo a respeito das diferentes visões de mundo é um dessas dificuldades, Samuel destaca ainda.‘’Não é um problema que os entes familiares pensem diferente. O problema é a imposição autoritária dessas perspectivas, pois gera violências e impede a construção de uma identidade própria”. Nessa visão de mundo, acontece o  abandono de parentes com identidades marginalizadas e as minorias sexuais e de gênero,  como aponta uma matéria da BBC (2021).

Distanciamento Emocional

Chamado formalmente de estrangement, expressão inglesa para uma situação na qual alguém se separa ou deixa de estar em bons termos com um grupo social, que poderia ser traduzida como “distanciamento”, o conceito é definido com leves variações pelos especialistas. (BBC, 2021) .

A pessoa que se afasta, vê em sua família uma ameaça, às suas crenças, seu jeito de ser e pensar, podendo haver relações de violência psicológica, abusos emocionais, verbais, físicos ou sexuais. Segundo o pesquisador Karl Andrew Pillemer, o divórcio é outro fator de influência, quando o filho, já adulto, é levado a escolher um lado ou passa a lidar com disputas – sejam elas financeiras ou afetivas.Logo a pessoa resolve se afastar, cortando todas as comunicações com um ou mais parentes, essa situação pode perdurar a longo prazo, mesmo quando membros do grupo do qual a pessoa se afastou tentam restabelecer o contato.

fonte:http://encurtador.com.br/BDFJR

Diferenças de valores culturais, políticos e religiosos

O doutor em psicologia social Cláudio Paixão Anastácio, aponta que o aumento da polarização e o recrudescimento do conservadorismo observado nos últimos anos contribuem de maneira significativa para os afastamentos. Um estudo publicado em outubro por Coleman e pela Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, demonstrou que desavenças baseadas em valores foram mencionadas por mais de uma a cada três mães de filhos que se distanciaram .(BBC,2021)

Karl Pillemer, da Universidade Cornell, diz que nessas diferenças de valores, começa a acontecer o distanciamento, devido a conflitos resultantes de “questões como preferência pelo mesmo sexo, diferenças religiosas e adoção de estilos de vida diferentes”. Em uma pesquisa realizada foram percebidos alguns exemplos dessas radicalidades. BBC(2021)

O distanciamento é por muitas vezes algo silencioso

Em uma pesquisa feita, observou-se que os entrevistados  não conseguiam identificar um incidente que causou tal afastamento, costumavam dizer ‘’ que não sabem como isso aconteceu’’. BBC (2019) Tais acontecimentos até podem ser fruto de uma comunicação atravessada, onde não existe diálogo e compreensão.

O empobrecimento social, gerado por um modelo econômico capitalista excludente, concentrador de rendas, ampliado pela falta de políticas públicas, faz com que comportamentos adversos se instalem no seio familiar, afetando diretamente sua tarefa primordial de cuidado e proteção de seus membros e um de seus maiores valores, o afeto (Mioto, 1997). Embora seja uma citação antiga, podemos trazer a visão de Mioto a atualidade, relacionando a modernidade líquida de bauman, onde as relações e afetos são atravessados por uma ótica capitalista, de um mundo capitalista, que exige de nós pressa, produção e menos cuidado.

fonte:http://encurtador.com.br/dmO24

Bruno  podia prever o futuro e isso assustava, os outros membros da família, suas visões eram muito realistas, e fugiam daquilo que seus familiares esperavam. No enredo do filme, Bruno resolve ir embora, porque prevê a maior tragédia de todas. Mas implicitamente percebemos que as fortes críticas dos membros da família,  juntamente com o medo e o sentimento de rejeição, foram os elementos  que levaram Bruno a fugir. Mas ele não fugiu de fato, passou a viver dentro da casa da família, em um lugar escuro, juntamente com ratos e uma grande sujeira, talvez a maior representatividade de como a família o enxergava alguém obscuro, que deveria viver longe do convívio de outras pessoas.

 

 Bruno viveu um  relacionamento familiar tóxico.

Sobre relacionamentos familiares tóxicos: ”Se não é possível atendermos ou sermos atendidos inteiramente quanto às nossas expectativas, a outra pessoa torna-se uma espécie de obstáculo ou entrave. Mas não é simples, afinal é também nesse enganche relacional que nutrimos nossos desejos, o que gera um impasse. Ao mesmo tempo que nos sentimos repelidos, somos atraídos por algum tipo de conexão que nos mantém atrelados. Lidar com essas tensões é parte natural da construção dos laços sociais e familiares.” Felipe Batista (VOGUE, 2021)

fonte:http://disneyplusbrasil.com.br/wp-content/uploads/2022/02/Bruno-Encanto.jpg

Por um buraco na parede ele observava, a família, sua afeição e devoção, fizeram continuar ali, esperando que um dia pudesse ser aceito novamente ao convívio de seus familiares, nos mostrando na prática a intensidade desses laços e as consequências ruins desse tipo de relação. Na concepção espinosa (conceito filosófico) a família é o único grupo que promove a separação e sobrevivência biológica e humana, sendo a sua eficiência dependente da sensibilidade e da qualidade de vínculos afetivos estabelecidos entre os indivíduos do grupo no decorrer da história (SAWAIA, 2005). Aquilo que se entende por família é ‘’um núcleo de pessoas que convivem em determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos longo, tendo laços sanguíneos ou não (MIOTO,1997)

Algumas famílias buscam por reconciliação, outras não têm dimensão dos problemas causados, nesses casos o diálogo e o não julgamento são boas estratégias de aproximação. No caso da canção, cada um tinha um motivo pessoal com Bruno e as gerações mais novas nem sequer sabiam quem ele era, mostrando o impacto do rompimento dessas relações. Percebemos ao longo do filme que Bruno, foi apenas uma pessoa mal compreendida, e que tudo não passou de grandes mal entendidos. Em outra canção do filme intitulada ‘’vocês’’ vemos a reconciliação com seus familiares.

[Camilo] E que tal falar um pouco do Bruno?

Antonio] O Bruno

[Bruno] Bom 

O que vou dizer sobre o Bruno?

Ok, lá vai

Pepa, estraguei seu casamento

Me desculpe o sofrimento

Não era o horóscopo

Eu só li seu pensamento

Não se esqueça, por favor

Do valor desse amor

Se chover, garoar

Se nevar, chuviscar

É amor!

[Félix] Eu vou com ela onde for!

[Bruno] Eu tenho tanta coisa pra me desculpar[Julieta]

Ei, o que importa é você voltar!

[Bruno] Uh, mas

[Pepa] Não tente fugir

[Agustin] O seu lugar é aqui

Enfatiza-se aqui a importância do diálogo, da diversidade, e da compreensão, enxergar o outro como diferente, praticando a tolerância e o respeito. Bruno foi inserido no contexto familiar, onde houve perdão e compreensão. Mas quero destacar que esse texto não tem o intuito de normatizar as relações familiares tóxicas, pois ninguém é obrigado a  estar em relações prejudiciais. O filme todo mostra um processo de mudança entre os familiares e a  busca pela ‘’cura’’

Referências:

BATISTA, Felipe. ‘’Precisamos falar de relacionamentos toxicos’’. VOGUE, 2021. Disponivel em  https://vogue.globo.com/Wellness/noticia/2021/09/precisamos-falar-sobre-o-relacionamento-toxico-familiar.html> acesso em 24 de maio de 2022 

BESSAS, Alex. Por razões emocionais, mais filhos têm rompido relação com os pais.Otempo, 2022. Disponivel em <https://www.otempo.com.br/interessa/por-razoes-emocionais-mais-filhos-tem-rompido-relacao-com-os-pais-1.2656123> Acesso em 24 de maio de 2022

Dinamarco, Marco Aurélio. Em busca dos elos rompidos: um estudo sobre a importância do vínculo afetivo nas relações familiares. 2009. 250 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.

FRANGO, Luis. Vamos falar um pouco mais sobre o Bruno: uma analise da música de Encanto. Clapper, 2022. Disponivel em <https://www.clapper.com.br/artigo/analise-musica-encanto> acesso em 24 de maio de 2022.

RO, Cristien. por que tantas pessoas se  distanciam de seus familiares?. BBC. 2019

Disponivel em<https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-48157656>. Acesso em 24 de maio de 2022.

SAVAGE, Maddy. Por que cada vez mais filhos cortam laços com pais por saúde mental. BBC, 2021. Disponivel em <https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-59656561> acesso em 24 de maio de 2022

 

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Isso é amor? canção looney tunes “estamos apaixonados”.

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Um pouco sobre amor patológico através da canção: ‘’estamos apaixonados’’ Looney Tunes Song.

Looney tunes show (2011) é uma série animada, produzida pela Warner Bros e reproduzida pela stream HBO. A série  mostra a vivência e interação dos clássicos personagens Patolino e Pernalonga, com seus  inúmeros vizinhos do mundo Looney que aparecem com uma nova cara e novas personalidades. Cada episódio nos traz um tema, e no meio desses episódios são reproduzidos um curta metragem intitulado como  ”Merrie Melodie’’ um clássico de curtas produzidos pela Warner entre 1931 a 1969. Que em 2011 ganharam uma versão mais atual e repaginada.

No episódio 11 intitulado ‘’o descascador’’ (PT, BR.) encontramos a ‘’merrie melodie’’ ‘’Estamos apaixonados’’, na qual a personagem Lola, resolve declarar todo o seu ’’amor’’ por Pernalonga. É uma canção interativa, que acaba por virar um diálogo entre os dois. 

Letra

(Lola)Eu quero te dizer uma coisa que eu tenho pensado

(Pernalonga) Ah tô meio ocupado

(lola) Que o nosso amor está cada mais forte em nós dois

(Pernalonga) Amor? Pera,aí

(Lola) É fácil ver que está se afirmando

(Pernalonga)Afasta um pouco

(Lola) E dentro do seus olhos vejo que você se sente igual

(Pernalonga)Tá me sufocando

 

(isso é amor)

(Lola)Hoje eu quero só você

(isso é amor)

(Pernalonga)Eu acho que é melhor correr

(isso é amor)

(Pernalonga) Congestionou a linha

(isso é amor )

 

(Lola) Sim isso é coisa minha

(Pernalonga) Tenho que dizer que você é muito linda

(Lola) Lindão!

(Pernalonga) Mais também e muito doida

E me faz querer mudar para a bolívia

(Lola) Vou com você

(Pernalonga) Eu penso em pedir um mandado de afastamento

(Lola) Isso é difícil conseguir

(Pernalonga) Pois seu carro eu vejo me minha porta toda a noite,sim

(Lola) Vizinho gentil

(Pernalonga) E por sua causa que eu fecho as cortinas

(Lola) Eu olho pela chaminé

(Pernalonga) Eu instalei alarmes com detectores de movimentos

(Lola) Eu sei o código

(isso é amor)

(Pernalonga) Vê se dá um tempo

(isso é amor)

(Lola) Tempo esgotado

(isso é amor)

(Pernalonga) Você se mudo pra cá

(isso é amor)

(Lola) Sim,eu vim morar aqui

(isso é amor)

Não é não!!!

Seria esse um relacionamento tóxico? ou o Pernalonga apenas deveria ser uma pessoa mais aberta  e falar sobre seus reais sentimentos? Antes de iniciarmos tais especulações, precisamos dimensionar; afinal o que é amor? No dicionário Oxford languages amor se define por uma forte afeição por outra pessoa. Na bíblia livro cristão, encontramos em coríntios (13:4-7) o amor como algo paciente, que tudo crê, tudo suporta, tudo espera, onde não há inveja, nem orgulho, um ato marcado pela bondade, pela paciência e pela verdade. Sendo considerado por muitos como o ideal de amor. Mas existe um ideal de amor, ou um amor ideal? Ao longo de sua obra platão hierarquiza diferentes discursos sobre amor, e a certeza que ele consegue ter é que sua origem vem de muito longe, e o que temos sobre o amor na verdade é uma sequência fragmentada de múltiplos e heterogêneos discursos, onde existem falhas, hiatos e silêncio, nunca um discurso inteiro e contínuo (PESSANHA,  2022). Então o fato que podemos reconhecer  é o amor como algo subjetivo, inerente a cada um, a forma de sentir, de expressar, ou até mesmo de guardar tais sentimentos. 

Como definido por platão amor e palavra estão intrínseca e definitivamente ligados, o amor é sobretudo um discurso. No diálogo com Lísis, Platão  mostra que o amor passional é escravizante, avassalador, e contrapõe-se a outro tipo de amor, o amor baseado no aprendizado, no saber um amor que liberta. Dando continuidade a essa ideia, no diálogo de o banquete (380 a.c) Platão reúne grande variedade de recursos e estilos literários para encerrar a selvageria do amor/paixão de Alcebíades. Enxergamos aqui o amor passional como algo negativo, que consome e leva o sujeito a inúmeras idealizações que se distanciam da realidade, tornando o sujeito alguém alienado às suas próprias ideias. Baseado nesse conhecimento podemos perceber  através da canção, esse amor passional, e obsessivo que Lola alimenta por Pernalonga.

Muitos são os motivos que levam uma pessoa a  desenvolver formas ‘’incorretas’’ de demonstrar carinho e  afeto, como aponta  a psicóloga Fernanda Brito (2021). Um deles pode ser o medo exagerado de perder a pessoa. O  problema é que esse mesmo medo não deixa o amor ser leve, e acaba criando quadros de amor obsessivo e de sufocamento, que só prejudicam o desenrolar da relação. Pernalonga até considera ter sentimentos por Lola:

            

              ‘’Tenho que dizer que você é muito linda

                            Mas também e muito doida

  E me faz querer mudar para a bolívia’’  (Pernalonga)

Mas essa obsessão que ela carrega por ele, acaba o afastando ainda mais, fazendo com que ele enxergue tudo isso como loucura, não permitindo que fluam sentimentos sinceros. Lola pode ser identificada  em um quadro de amor patológico, caracterizado  pelo comportamento de prestar cuidados e atenção ao parceiro, de maneira repetitiva e desprovida de controle. Pernalonga tenta várias vezes afastar ela, mas mesmo assim, Lola dá um jeito de conseguir burlar as barreiras que ele impõe, motivada por seu ‘’sentimento incodicional’’ e fora da realidade, mas que por muitas vezes a  mesma não consegue perceber.  

Um estudo feito em 2004 pela psicóloga Eglacy  Sophia publicado pela revista Synapsis identificou que entre o amor patológico e a dependência química coexistiam seis critérios em comum, um exemplo são os sinais de abstinência  que surgem quando o parceiro está distante, além de dedicação de tempo e energia exagerados para o parceiro, comprometendo as  atividades anteriores.A pessoa que sofre de amor patológico tem atitudes bem peculiares em relação ao parceiro, tais atitudes fogem do controle e muitas vezes invadem a liberdade do outro, trazendo desentendimentos entre ambos.

(Pernalonga) Eu penso em pedir um mandado de afastamento

(Lola) Isso é difícil conseguir

(Pernalonga) Pois seu carro eu vejo me minha porta toda a noite,sim

(Lola) Vizinho gentil

(Pernalonga) E por sua causa que eu fecho as cortinas

(Lola) Eu olho pela chaminé

 É Importante entender que a essência desta patologia não é o amor, mas sim o medo como aponta a psicóloga Thaiana Brotto (2014) logo as atitudes de espionagem e desconfiança apesar de trazer grande desconforto ao relacionamento, proporcionam um alívio destes temores. Também é importante destacar que atos de  stalking e perseguição podem ser caracterizados como crime apontados na  Lei 14.132/21, que entrou em vigor na data de sua publicação (1º/04/21).

De uma forma cômica vemos um comportamento problemático, que pode estar presente em muitas relações. Autores recentes identificam que a atitude de fixar atenção e cuidados em relação ao companheiro é esperada em qualquer relacionamento amoroso saudável. Porém quando ocorre a falta de controle e liberdade, de tal forma que um sujeito se anule e anule o outro, foge dos limites se tornando algo patológico. Podendo estar presente em outros transtornos, se associando a sintomas depressivos e ansiosos, ou ocorrendo de forma isolada em personalidades vulneráveis, com baixa autoestima, sentimentos passivos de raiva e rejeição (Sophia,Tavares e Zilberman, 2007)

 

(Pernalonga) Vê se dá um tempo

(isso é amor)

(Lola) Tempo esgotado

(isso é amor)

(Pernalonga) Você se mudo pra cá

(isso é amor)

(Lola) Sim,eu vim morar aqui

A ’’ solução’’ para esse problema não é se mudar invasivamente para o apartamento da pessoa desejada, como Lola fez, mas sim quem sabe dar o tempo maior  que Pernalonga pediu, e ir em busca de um profissional. Ao ponto de que o mesmo possa partir de uma avaliação, havendo um critério diagnóstico, poderá ser oferecido um melhor suporte para o controle de atitudes e pensamentos destrutivos ao relacionamento e ao próprio indivíduo.

  O amor patológico não é determinado apenas por fatores culturais como aponta a psicóloga Elgacy Cristina (2021) Lola precisa de ajuda tanto quanto Pernalonga precisa da sua liberdade, ela deve se responsabilizar por suas atitudes, mas antes é importante que ela possa criar consciência  de que isso não é um comportamento saudável.  

Outro ponto é que tudo que Lola expressa na canção, ela diz “isso é amor” mas sabemos que   NÃO É NÃO!  Como já deixou claro Pernalonga. É apenas uma visão distorcida daquilo que ela enxerga como amor.

Lola desrespeita os sentimentos de Pernalonga e os seus limites, a isso deve-se ter uma atenção e cuidado, pois existem diferentes tipos de relacionamentos não saudáveis, existindo emoções e comportamentos prejudiciais que precisam ser identificados e solucionados. Embora  esses comportamentos estejam partindo de Lola, não são exclusivos de um gênero, podendo acometer todos os diferentes tipos de relação, até mesmo relações não românticas. Por isso é bom estarmos atentos a entendermos aquilo que nos faz mal, sermos conhecedores de nossos limites e de nossos direitos, assim estaremos prontos para buscar  ajuda ou oferecer ajuda a alguém.

 

 

 

REFERÊNCIAS

BRITO, Fernanda. Amor obsessivo: quais os sinais e o que fazer? desenvolver 2021. Disponível 

em<https://desenvolviver.com/relacionamentos-amorosos/amor-obsessivo-quais-os-sinais-e-o-que-fazer/#:~:text=Relacionamentos%20amorosos%20traum%C3%A1ticos%20tamb%C3%A9m%20podem,para%20evitar%20uma%20nova%20perda.> acesso em 25 de abr de 2022.

BROTTO, Thaiana. Amor patológico: limites e características. Psicologia e terapia, 19 de outubro de 2014, Paraná. disponível em <

https://www.psicologoeterapia.com.br/blog/amor-patologico/.> Acesso em 25 de abr de 2022.

COSTA, Adriano. FONTES, Eduardo. HOFFMANN, Henrique. Stalking: o crime de perseguição ameaçadora. Consultório  jurídico, 6 de abril de 2021. Disponível em <

https://www.conjur.com.br/2021-abr-06/academia-policia-stalking-crime-perseguicao-ameacadora> acesso em 25 de abr de 2022

MEDEIROS, Roberta. O cérebro apaixonado e o transtorno do amor patológico.Synapsis. 21 de maio de 2021. Disponível em <https://sinapsys.news/o-cerebro-apaixonado-e-o-transtorno-do-amor-patologico/> acesso em 25 de abr de 2022.

PESSANHA, José. Platão: as várias faces do amor. Arteepensamento 1987 Disponível em <https://artepensamento.ims.com.br/item/platao-as-varias-faces-do-amor/> acesso em 25 de abr de 2022.

Sophia, Elgacy C, Tavares, Hermano e Zilberman, Monica LAmor patológico: um novo transtorno psiquiátrico?. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 2007, v. 29, n. 1 [Acessado 26 Abril 2022] , pp. 55-62. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44462006005000003>. Epub 04 Ago 2006. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44462006005000003.

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Estudantes de psicologia Caio Brum, Gabriel Toshio e Maria Eduarda são convidados do 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica

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No dia 25/05 o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica irá contar com a presença dos estudantes de psicologia Caio Brum, Gabriel Toshio e Maria Eduarda, das instituições CEULP/ULBRA e UFT.

O 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica, que ocorrerá no dia 25 de Maio de 2022, abordará diversos temas relevantes para o mundo acadêmico e profissional. Abrindo a palestra final do evento, acontecerá farão uma apresentação musical que será apresentada pelos psicologia: Caio Brum, Gabriel Toshio e Maria Eduarda, no auditório central do CEULP/ULBRA, às 18h.

 

Todos estudantes de psicologia, o trio buscará nessa apresentação, acrescentar através da arte reflexões propícias para a temática. Sendo a avaliação psicológica do âmbito da medição de padrões mensuráveis do ser humano, as músicas apresentadas, em um sentido de complementação, procurarão exprimir aquilo que não é diretamente aferível. Visto que que a arte e a cultura é a manifestação da diversidade humana, as músicas irão expor a multiplicidade da vivência humana.

O trio é composto por:

Caio Cesar Brum, estudante do décimo período de psicologia do CEULP/Ulbra, é cantor, e busca destacar, através da voz, a profundidade dos sentimentos humanos, na medida em que interpreta as canções de forma a dar fidedignidade expressiva para a letra proposta, se colocando no lugar do eu lírico.

Gabriel Toshio Acácio Ogawa, estudante sétimo período de psicologia da Universidade Federal do Tocantins (UFT), é músico, e a partir do estudo das diferentes brasilidades musicais como samba, bossa nova, forró e MPB, busca exprimir em violão um ritmo orgânico, que dê andamento suave e cadenciado para uma interpretação musical que traz a sensação de intimidade para o ouvinte, bem como curiosidade para com a canção.

Conhecida por Maré no ramo artístico, a estudante de psicologia do CEULP/Ulbra Maria Eduarda costuma se expressar através de suas composições autorais. Apresenta-se em eventos alternativos palmenses desde meados de 2018, em formato solo e também com participações em shows de artistas locais parceiros. Se autodenomina como artista independete, tendo como atual vertende o que chamam de “a Nova MPB”, vivenciando como seu ponto de partida a expressão pela escrita e voz.

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A senhora na minha sala

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Ali estava ela radiante, soltando seus cabelos e dançando como se fizesse aquilo pela primeira vez, mesmo eu a observando de pertinho ela estava tão entretida que nem podia ver minha risada de canto.

A senhora na minha sala, dançando alegremente, me fazendo pensar o que se passa ali? Ela dançava e cantava com tanto entusiasmo que a alegria contagiava o lugar. Eu me pergunto quantas histórias têm ali, são tantos anos vividos, quantas músicas cantadas? Quantas delas foram de alegria? Será que quando ela canta também chora?

Ela faz parecer que a vida é tão leve, que a música leva embora toda solidão, enquanto ironicamente dança sozinha. É como se essa dança fizesse com que anos de história passassem igualzinho uma retrospectiva de fim de ano na TV, mas a juventude segue sendo conservada ali, por alguns minutos da canção.

Ela me faz enxergar que a música é nada mais nada menos que, uma viagem no tempo. Ela canta uma letra que existia mesmo antes de eu nascer, mas tanto ela quanto a música estão ali e agora.
Talvez a vida seja isso, se lembrar do passado com alegria ou com tristeza.
Cada um sabe dentro de si a emoção que se carrega, enquanto aqui e agora se aproveita o momento, a canção se conecta com o passado, criando memórias para o futuro. Mesmo que os próximos minutos sejam sentar no sofá e descansar, depois de se cansar em consequência de instantes radiantes. Pois a vida também tem seus momentos de pausa e respiração, para que então haja continuidade e amanhã ou depois novas outras canções.

Um dia, infelizmente essa senhora, não vai estar mais na minha sala, mas deixará comigo a certeza de que sempre estará eternizada em uma canção e no meu coração.A música é: palavras, tempo, momento, cura, contagia, transforma, transtorna, conecta e liberta. Agradeço pela senhora na minha sala, que me ensinou tanta coisa que sei, mas mesmo assim continuo a aprender…
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Uma analise simbólica do mundo de Aladdin e Jasmine

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Canção: Um mundo ideal ( Aladdin)

Um mundo ideal é uma canção classica e romântica do famoso desenho da Disney Aladdin (1992) com o título original :“A Whole New World” foi composta por  Alan Menken, juntamente com letras escritas por Tim Rice. Regravada recentemente na versão brasileira pela banda Melim para o live action do filme (2019). A canção casa muito com a teoria do mundo das ideias de plantão, que saber como? Vem comigo!

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Antes de começar a canção Alladin convida sua amada Jasmine a um passeio de tapete e no primeiro verso canta:

                                                      ‘’Olha, eu vou lhe mostrar

                                                        Como é belo este mundo

                                                        Já que nunca deixaram

                                                        O seu coração mandar’’

Nessa cena os dois estão em um tapete mágico voador, o que torna esse ato muito simbólico, de liberdade, como a letra já sugere ‘’ nunca deixaram seu coração mandar’’ dando um  sentido de que Jasmine estava presa às regras, agindo apenas de forma racional e não mandando com o coração; se permitindo viver de acordo com suas emoções.

 

                                                         Eu lhe ensino a ver

                                                         Todo encanto e beleza

                                                         Que há na natureza

                                                         Num tapete a voar

Aladdin resolve demonstrar o encanto que existe na liberdade se reconectando com a natureza. Para schopenhauer o conceito de  liberdade, em seu sentido físico, implica o reconhecimento de que homens e animais são considerados livres quando não existem obstáculos em suas ações, isto é, quando eles podem agir sem que laços, prisões ou paralisias os detenham.(PAVÃO,2019) No caso das prisões são as coisas do dia a dia que não permitem Jasmine enxergar os encantos da natureza,  pois a mesma vive presa em um castelo. ‘’num tapete a voar’’ significa ter um olhar mais amplo sobre todas as coisas.

                                                           Um mundo ideal

                                                           É um privilégio ver daqui

                                                           Ninguém pra nos dizer o que fazer

                                                           Até parece um sonho

Esse ‘’ mundo ideal’’ pode ser definido para  platão como Inteligível (das Idéias). Onde as ideias habitam na própria esfera, mantendo suas características de unidade, pureza e imobilidade.  Esse mundo ideal de fato é um sonho, segundo Kant (1074) a liberdade mesmo sendo uma propriedade da vontade, não  é desprovida de lei, mas antes uma causalidade segundo leis imutáveis, ainda que de uma espécie particular, pois de outro modo uma vontade livre, seria absurda.

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                                                            Um mundo ideal

                                                            Um mundo que eu nunca vi

                                                            E agora eu posso ver e lhe dizer

                                                            Estou num mundo novo com você

                                                            (Eu num mundo novo com você)

 

                                                             Uma incrível visão

                                                             Neste voo tão lindo

                                                             Vou planando e subindo

                                                             Para o imenso azul do céu

 Esses ideais podem se manifestar em um plano diferente, das coisas sensíveis (das representações) o que seria o nosso mundo. Sendo esse mundo uma espécie de imitação do inteligível. Ou seja, Aladdin e Jasmine enxergam através do tapete um mundo real, se percebiam planando e subindo um céu azul, porque enxergavam, algo legível a visão, porém em suas cabeças fazem desse mundo, um mundo perfeito, incrível, desconsiderando toda a realidade. Um mundo ao qual os dois podem ficar juntos, onde um ladrão e uma princesa, não são apenas os seus rótulos, mas apenas duas pessoas apaixonadas.

 

                                                            Um mundo ideal (feito só pra você)

                                                             Nunca senti tanta emoção (pois então aproveite)

                                                             Mas como é bom voar, viver no ar

                                                             Eu nunca mais vou desejar voltar

No mundo ideal encontra-se a ideia máxima de bem, identificada em alguns diálogos de Platão com Parmênides, um ideia, que representa a busca do filósofo rumo ao conhecimento absoluto. Observando então a matéria por essência como algo imperfeito, onde não se pode manter a identidade das coisas,  pois ela está sempre mudando, Platão passou a  acreditar que Parmênides estava certo, quando dizia que devemos abandonar o mundo sensível e se ocupar ao mundo verdadeiro, invisível aos sentidos mas  visível ao puro pensamento (CHAUÍ, 1995). 

Entendemos então que Jasmine faz um caminho contrário, ‘’nunca senti tanta emoção’’, ou seja ela está  deixando a racionalidade dos pensamentos de lado, buscando a emoção em sua forma mais pura, nos mostrando outra teoria de platão a Reminiscência, que diz; todo nosso conhecimento não é um processo de construção mas de recordação de algo já antes vivenciado. O aprendizado então se torna uma recordação de tudo o que a alma anteriormente contemplou. ‘’Como é bom voar, viver no ar’’, ou seja viver em um mundo onde as regras naturais e sociais não se aplicam. ‘’ Eu nunca mais vou desejar voltar’’ segundo Platão, a alma tem um conhecimento inteligível, no qual se tem por completo o saber de todas as coisas,  é o plano da pura permanência, neste as ideias são “Protótipos, Formas, modelos únicos e perfeitos de todas as coisas que existem” (RIBEIRO, 1988, p.43). Não querer mais voltar pode se tornar perigoso, pois viver apenas num mundo ‘’perfeito’’, pode se tornar algo delirante, ocasionado comportamentos que  fogem de uma  normalidade social. 

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                                                             Um mundo ideal (com tão lindas surpresas)

                                                             Com novos rumos pra seguir (tanta coisa empolgante)

                                                             Aqui é bom viver, só tem prazer

                                                             Com você, não saio mais daqui

O mundo ideal seria uma cópia do mundo inteligível, construída a partir daquilo que platão denomina de ‘’demiurgo’’: o princípio organizador do universo que, sem criar de fato a realidade, modela e organiza a matéria caótica preexistente através da imitação de modelos eternos e perfeitos (Platão 428-348 a.C.). 

Um mundo onde só tem prazer, se distancia da realidade, para Freud (1920) São nossos atos que são determinados pelo prazer ou pelo desprazer e essa motivação pode não ser percebida conscientemente.O desejo inconsciente tende a realizar-se restabelecendo os sinais ligados às primeiras vivências. Na teoria de platão essas primeiras vivências seriam a busca pela reminiscência, a ”alma humana antes de encarnar o corpo’’ já para Freud os desejos primários de infância.

 

                                                              Um mundo ideal (um mundo ideal)

                                                              Que alguém nos deu (que alguém nos deu)

                                                              Feito pra nós (somente nós)

                                                               Só seu e meu

Um mundo que ‘’alguém nos deu’’ esse alguém pode ser o próprio inconsciente buscando as satisfações dos desejos em uma inalcançável busca. Para Lacan (1964) o desejo é um processo que passa por momentos de alienação. Ele está projetado no outro. ‘’feito para nós, somente nós’’. Ou seja: ‘’ o desejo humano é o desejo do outro (LACAN, 1964 p.223) Esses desejos são sobretudo aquilo que não se pode ter: Um mundo ideal. 

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Barbara.Uma Reflexão acerca do Crátilo, de Platão. Universidade Federal do Tocantins. Palmas-Tocantins, p.(1-19) novembro, 2017. Disponível em: file:///C:/Users/Diana/Downloads/2770-Texto%20do%20artigo-16706-1-10-20170228%20(2).pdf. Acesso em 18 de abr de 2022.

MAIRINIQUI, Igor. KARL POPPER E A TEORIA DOS MUNDOS DE PLATÃO.iniciação Científica-Piic-UFSJ), São jordan do rei p. (1-11), julho, 2003. Disponível em:https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/lable/revistametanoia_material_revisto/revista05/texto01_teoriadosmundos_platao_popper.pdf. Acesso em: 15 de abr de 2022

Melim. Um mundo ideal . BRASIL: Disney: 2019. Suporte (2:57). Disponível em: https://www.letras.mus.br/aladdin/um-mundo-ideal-2019/ . Acesso 15 de abr de 2022.

NASCIMENTEO, Rosemberg.A compreensão de liberdade na perspectiva Kantiana: princípio supremo da moralidade.Pensamento extemporâneo, 2012. Disponível em: <https://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2273>. Acesso em: 15 de abr de 2002.

REDAÇÃO, equipe de psicanálise. Prazer e o significado em psicanalise. Psicanálise clínica 2020. Disponivel em: https://www.psicanaliseclinica.com/prazer-significado/#:~:text=Freud%20postula%20a%20tese%20que,al%C3%A9m%20do%20princ%C3%ADpio%20do%20prazer%E2%80%9D.. Acesso em 15 de abr de 2022.

REDAÇÃO, equipe de psicanálise.Principio do prazer e da realidade para freud. Psicanalise clinica 2017. Disponível em:https://www.psicanaliseclinica.com/principio-do-prazer-realidade/. Acesso em 15 de abr de 2022.

TAFFAREL, Marisa. O desejo segundo Lacan. Blog psicanalise, 2019. Disponivel em: https://www.sbpsp.org.br/blog/o-desejo-segundo-jacques-lacan/. Acesso em: 15 de abr de 2022.

 

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