Rei do show: $84 milhões contra o preconceito e o racismo

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Vocês já ouviram uma música chamada Rewrite the stars, e uma chamada This is me? Essa é uma das músicas mais icônicas e inesquecíveis que já escutei, elas pertencem a um filme, do gênero musical, que é um grito de $84 milhões contra o preconceito e o racismo. Se você não conhece, corre para conhecer que você não vai se arrepender.

Só para começar, a música “This Is Me” ganhou o prêmio de “Melhor Canção Original em Filme” no 75º Golden Globe Awards. Ela também foi indicada para “Melhor Canção Original” no 90º Academy Awards, mas perdeu para “Remember Me”. Além disso, foi indicada para o Grammy Award de Melhor Canção Escrita para Mídia Visual na 61ª edição do Grammy Awards.

A trama se passa no século XIX e é inspirada na vida de P.T. Barnum, considerado um dos pais do circo moderno. Barnum era um sonhador de origem humilde que, desde a infância, sonhava com um mundo mágico. Ele desafiou as convenções sociais ao se casar com a filha do patrão de seu pai e abriu um museu de curiosidades. Após falir em seu empreendimento, resolveu criar um grande e curioso show com as mais diversas pessoas, e a partir daí começa a sua aventura.

(Alerta de spoiler) Barmun inicia sua procura por pessoas diferenciadas, em diversos lugares, e vai criando esse maravilhoso show, em meio a muita música, encontra um sócio o qual o ajuda com esse novo sonho, e cada pessoa que ele encontra é uma baita de uma surpresa, cada um com suas características diferentes, e talentos singulares.

Dentre os diversos “mini” dramas que se desdobram ao longo do filme, um que realmente me empolgou foi a relação entre Anne e Phillip. Phillip, um jovem branco, desafia todas as expectativas familiares ao se apaixonar por uma mulher negra. É muito bom acompanhar os altos e baixos desse relacionamento. Uma das canções mais belas do filme, “Rewrite the Stars”, é apresentada justamente nessa parte da trama. Traduzi uma parte dela aqui em baixo, para terem uma ideia.

“Você que decide, e eu que decido

Ninguém pode dizer o que nós podemos ser

Então, por que não reescrevemos as estrelas?

E talvez o mundo possa ser nosso hoje à noite”

 Lettie Lutz é outra personagem de grande importância no filme. Ela assume a liderança do grupo, quando o mesmo se encontra em uma situação extremamente desconfortável. Barnum, ao que parece, sente vergonha deles e os impede de entrar em uma festa de gala. E é nessa parte que aparece a música This is me, aquela que também já mencionada, e que ganhou o prêmio de melhor canção original em filme.

“Quando as palavras mais afiadas quiserem me cortar

Eu vou enviar um dilúvio, vou afogá-las

Eu sou corajosa, eu tenho feridas

Eu sou quem eu deveria ser, essa sou eu

Cuidado, porque aí vou eu

E estou marchando na minha própria batida

Não tenho medo de ser vista

Eu não peço desculpas, essa sou eu”

                                                                                                                              Fonte: adorocinema.com

Uma das mais simbólicas músicas do filme: This is me

O filme tem muitos assuntos a abordar, um dos temas principais é aceitação do próximo e a luta contra o preconceito, o empoderamento, e busca de seus sonhos, o musical, é uma obra de arte na fotografia e nas próprias músicas, é emocionante, e ainda existem inúmeras tramas vale a pena conhecer.

Referências:

O rei do show, Adoro cinema, [S.D.]. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-170828/. Acesso em: 02 de outubro de 2023;

O Rei do Show,moviescrit.blogspot,2017. Disponível em: moviescrit.blogspot.com/2017/12/o-rei-do-show.html. Acesso em: 02 de outubro de 2023.

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Técnicas para se concentrar nos estudos ouvindo música

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Muitos alunos têm dúvidas se ouvir música durante os estudos pode melhorar o desempenho. De acordo com um estudo da Universidade de Caen, na França, estudar ouvindo música favorece a concentração do estudante. Já a pesquisa realizada pela Universidade de Phoenix, nos EUA, apontou que os alunos que ouviam música, tinham um rendimento menor do que aqueles que não ouviam.

Vale ressaltar que cada ser humano é único e possui suas próprias características e limitações. Logo, isso não significa necessariamente que é impossível ouvir música enquanto estuda e ter um rendimento excelente.

Para começar, é preciso entender que alguns tipos de música específicos devem ser selecionados. Por exemplo, não dá para optar por um “pancadão” ou um “rock pesado” – esses estilos são ótimos para fazer atividade física – mas, durante o estudo, ao invés de te ajudar, pode acabar atrapalhando.

Fonte: encurtador.com.br/glADT

A plataforma de streaming Spotify também realizou uma pesquisa utilizando diferentes tipos de gêneros musicais para avaliar como cada matéria se comportava com o estilo de música. Escutar música clássica, por exemplo, melhorou o desempenho nas disciplinas exatas. Já nas de linguagens, ficou entendido que músicas acompanhadas de letras não eram adequadas, principalmente quando se faz necessário muita atenção, pois o cérebro pode começar a captar a letra da música e tirar o foco da leitura.

É claro que o estilo musical de cada pessoa varia e alguns não gostam da música clássica. Por isso, o que fazer? Primeira opção: crie uma playlist com músicas que você já conhece que não tenham letras muito estrondosas. Assim, seu cérebro não vai prestar tanta atenção naquela letra, deixando apenas um som de fundo.

A segunda opção é o famoso estilo lo-fi, que tem características de leveza e simplicidade, e não tem muitos vocais. Ele ajuda a manter o foco e a concentração. E se você quer manter o ritmo de calmaria, pode optar pelo som da natureza. Assim como os bebês se acalmam com as canções de ninar, o barulho da chuva pode ser uma alternativa para te concentrar. Não existe fórmula mágica. Veja o que se aplica melhor a você e bons estudos.

Fonte: encurtador.com.br/foLT8
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Fantasias e Deslumbramentos em Mary Poppins

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Concorre com 4 indicações ao OSCAR:

Melhor Design de Produção (John Myhre, Gordon Sim), Melhor Trilha Original (Marc Shaiman, Scott Wittman), Melhor Música Original (The Place Where Lost Things Go – Marc Shaiman, Scott Wittman), Melhor Costume Design (Sandy Powell)

‘O Retorno de Mary Poppins’ (2018), de Rob Marshall (o mesmo de ‘Chicago’, ‘Nine’, dentre outros), é um filme musical arrebatador. Na era digital conseguem-se efeitos visuais extraordinários, mas aqui estão servindo a uma belíssima história e não pairando, se sobrepondo a ela, como acontece bastante hoje, onde estes efeitos passam a ser os protagonistas das narrativas.

Até ‘Pantera Negra’ se perde nisto em correrias de carro e afins no país africano. O trabalho dos atores é excelente, principalmente o de Emily Blunt como Mary e do descendente de porto-riquenhos (do grande musical na Broadway, ‘Hamilton’) Lin-Manuel Miranda, como o acendedor de lampiões de ruas, numa Londres cinzenta dos anos 20, cenário de depressão econômica.

Os dois formam, como o filme precisava imperativamente, uma química surpreendente. Jack é quem mais entende Mary. A coreografia e as músicas são encantadoras. A interação com as animações também. E temos coadjuvantes de luxo como a prima Topsy de Mary, feita por Meryl Streep, que rouba a sequência toda, confirmando o quanto é uma excepcional atriz.

Fonte: https://glo.bo/2UuJdWj

Aparições de Dick Van Dick (o acendedor do filme de 1964) e de Angela Lansbury soam deliciosas; algo bastante próprio da personagem Mary é manter uma carinhosa distância de todos e só fazer seus sortilégios quando ela mesma decide. Não atende pedidos de outros.

Ela mantém uma pose de arrogância bem inglesa, mas light, nos momentos em que aparece. Fica atenta numa sequência crucial até que decide agir. Isto acontece em outras situações. O clássico anterior se passava nos anos 1910 e o grande conflito da família Banks era amolecer o coração do pai workalic, bastante tirano com os filhos.

Neste filme de agora temos uma era de depressão econômica, com desemprego, protestos dos anos 20, uma casa a ser logo encampada por um banco, na ausência de pagamentos etc. Tudo isto nos remete ao nosso 2018, antes e no horizonte depois que temos pela frente. Daí a necessidade de filmes assim que evocam os poderes da imaginação, da fantasia, como forma de mitigar, afastar por alguns momentos, as agruras da vida.

Fonte: https://glo.bo/2UuJdWj

Uma das coreografias musicadas com vários clones de Jack, bem longa, é arrebatadora. Só saberemos com o tempo se teremos um novo clássico, mas há um calcanhar de Aquiles neste filme de agora. Dentre outros trabalhos, Julie Andrews nasceu para fazer a noviça em ‘A Noviça Rebelde’ (The sound of music) e ‘Mary Poppins’!

Assisti ‘Mary Poppins’’ (1964) recentemente na sessão Clássicos Cinemark; por melhor que seja o trabalho de Emily Blunt como Mary em 2018, passa longe da grande magia de Julie em 1964. Inclusive, bem no final deste de 1964, Mary olha para trás e ela que sempre foi super-otimista, tem um leve e muito breve traço de melancolia, por ter de deixar a casa, os meninos, o pai já de coração amolecido, num breve e belíssimo plano, mas logo se recompõe e vai embora pelos céus com seu guarda-chuva e a valise. Não deixa de existir aí um elo bem forte entre os dois filmes.

Fonte: https://bit.ly/2RX5Eql

A favor deste de 2018 está a ideia de que Mary, em seu retorno, está tanto motivada pela saudade da família Banks, como quer ajudá-los numa era de depressão econômica, onde uma casa pode ser perdida. Um dos grandes encantos dos dois filmes é não sabermos nunca para onde vai e de onde vem Mary Poppins. A menos que isto seja revelado numa continuação futura que já pode ser tida como péssima, por quebrar este cativante mistério.

Houve um filme, que passou batido no circuito, onde havia discussões de Walt Disney (Tom Hanks) com a escritora do livro em que se baseou o filme de 1964, P.L.Travers, composta por Emma Thompson. Trata-se de ‘Walt nos Bastidores de Mary Poppins’ (2013) de John Lee Hancock. Ela quer mais fidelidade à sua história, mais realismo. Walt, grande gênio da fantasia no Cinema e Quadrinhos, claro que não concorda. E venceu esta queda de braços.

De certa forma gostei bastante de não ter visto este filme, para não receber uma ducha de água fria e perder o encanto destes dois trabalhos admiráveis.

Fonte: https://bit.ly/2FZgiGH

FICHA TÉCNICA:

O RETORNO DE MARY POPPINS

Título original: Mary Poppins Returns
Direção: Rob Marshall
Elenco: Emily Blunt, Lin-Manuel Miranda, Ben Whishaw;
País: EUA
Ano: 2018
Gênero: Comédia Musical, Fantasia

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La La Land – Cantando Estações: uma ode ao sonhador

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Com quatorze indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Diretor (Demien Chazelle), Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Ator (Ryan Gosling), Melhor Roteiro Original (Demien Chazelle), Melhor Fotografia (Linus Sandgren), Melhor Direção de Arte, Melhor Montagem, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som, Melhor Figurino, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original (“Audition” e “City of Stars”). 

Banner Série Oscar 2017

“Essa vida é uma mistura de algo puramente fantástico, calidamente ideal e, ao mesmo tempo, palidamente prosaico e comum, para não dizer vulgar até o inverossímil. […]
…nesses recantos vivem pessoas estranhas: os sonhadores. ”
(Noites Brancas, Dostoiévski) [1]

Em uma época que filmes de heróis com máscaras, força colossal ou indumentárias de ferro se reproduzem na velocidade da luz, é bom ir ao cinema para simplesmente assistir a um tipo de filme que parecia existir apenas no passado: um filme sobre (e para) sonhadores.

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Damien Chazelle, diretor e roteirista, fez de La La Land uma inesquecível homenagem aos antigos musicais da era de ouro de Hollywood. A fotografia do filme já é, por si só, uma ode a esses musicais, com longas tomadas líricas, uma câmera fluida e uma paleta de cores vibrante. Chazelle e Linus Sandgren (Diretor de Fotografia) falaram que “a decisão de usar o formato analógico foi amplamente motivada pelo fato de que as câmeras digitais capturam a realidade tão bem que torna-se difícil fazer um filme com um olhar ‘mágico’ durante a edição” [2]. E trazer a magia, especificamente essa que tem relação com a realidade que existe apenas em nossos sonhos, não é uma tarefa simples, considerando os filmes que lotam as sessões de cinema atualmente.

Segundo Bruner, crítica de cinema da Time [3], antes de La La Land ser um sucesso nos vários festivais em que foi apresentado, era apenas uma fantasia que o diretor Chazelle e o compositor Justin Hurwitz tinham quando tocavam em uma banda em Harvard. “Existe uma maneira de fazer um grande filme no estilo dos clássicos musicais da MGM em um ambiente completamente moderno, em um contexto realista, ou isso é um paradoxo intransponível?” Chazelle se perguntava.

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É ousado, em muitos aspectos, ter como cena de abertura de um filme atual um grupo de pessoas cantando e dançando em uma Los Angeles ensolarada em meio a um trânsito infernal. A quantidade de nãos que Chazelle levou da maioria dos estúdios mostra o quanto foi difícil para alguém acreditar que a ingenuidade de um filme musical poderia fazer sucesso junto ao público moderno. Um público aparentemente avesso a mundos em que a canção pode vir de forma espontânea e normal e a vida pode ser uma busca incessante de um sonho.

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La La Land acompanha a história de Mia (Emma Stone), uma talentosa aspirante a atriz que trabalha em uma cafeteria nos estúdios da Warner Bros, e Sebastian (Ryan Gosling), um apaixonado pianista de jazz. É o terceiro filme que os dois atores atuam como par romântico e a química entre eles é evidente na tela. Mia e Sebastian são a personificação do sonhador e estão em Los Angeles, a terra do cinema, a procura de uma oportunidade para tornar real aquilo que imaginaram. E essa oportunidade parece nascer desse encontro. Mas, por detrás das músicas alegres do início, do encontro poético no cinema e no planetário e da leveza que esse encontro parece trazer aos dois a ponto de metaforicamente flutuarem em uma das cenas, há um romance complexo e bem delineado sendo construído, que atinge toda a sua plenitude na segunda metade do filme.

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City of stars
Are you shining just for me?
City of stars
There’s so much that I can’t see
Who knows?
I felt it from the first embrace I shared with you
That now our dreams
They’ve finally come true

Não há em La La Land um número de dança com o refinamento técnico e artístico dos grandes musicais antigos, estrelados por Fred Astaire e Ginger Rogers, nem há músicas cantadas com vozes tecnicamente perfeitas. Mas segundo Chazelle, era esse naturalismo que ele estava procurando, logo Emma e Ryan se encaixaram plenamente em seus papeis. Segundo Bruner [2], dois dos números mais emocionantes do filme, a cena da audição da Mia, “Audition” cantada por Emma e o dueto de “City of Stars”, no apartamento do casal, cantada por Ryan e Emma, foram gravadas ao vivo, e as falhas se tornaram parte da magia.

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A voice that says (uma voz que diz)
I’ll be here, and you’ll be alright (Eu estarei aqui, e você ficará bem)

Na música que Mia canta na audição mais decisiva da sua vida, ao contar uma história de sua tia que morou em Paris, ela diz “um viva aos sonhadores, tolos irremediáveis, um viva aos corações que sofrem, um viva ao caos que causamos”. Seja em um romance de Dostoiévski do século XIX, seja em um filme musical do século XXI, o sonhador parece estar destinado a extremos: uma alegria contagiante nascida da esperança nas pessoas e no amor, e uma melancolia e solidão profundas, originadas dos mesmos motivos.

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Nem sempre a voz estará lá para lhe dizer que você ficará bem, ainda que em meio a desilusões, mesmo aquelas autoprovocadas, o sonhador ouse acreditar mais uma vez no mundo que cria para si a cada manhã…  e só quem sonha sabe o quanto é preciso acreditar.

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Não há nada melhor do que imaginar outros mundos para esquecer o quanto é doloroso este que vivemos. Pelo menos eu pensava assim naquele momento. Ainda não compreendera que imaginando outros mundos, acabamos por mudar também este nosso.” (Baudolino, Umberto Eco) [4]

La La Land, ao final, termina com uma das sequências mais lindas de um filme nos últimos anos. A sequência do E se…, que ao invés de nos deixar com um sentimento de tristeza pelo que não é, nos fornece uma contagiante sensação de esperança por aquilo que podemos construir dentro de nós, pelos mundos que imaginamos, que nos faz ser quem nós somos e que modifica também quem o outro é.

Acima de tudo, La La Land é uma grande declaração de amor ao cinema. Novamente temos aquela sensação, ao final de um filme, de que podemos ser felizes, mesmo que por um breve momento, de que músicas podem tocar o coração e que, ao levantarmos os pés do chão por alguns segundos, podemos dançar.

REFERÊNCIAS:

[1] Dostoiévski, F. Noites Brancas [1848]. Tradução Nivaldo dos Santos. Editora 24, 2011.

[2] http://zip.net/bqtGm9

[3] http://time.com/4587682/la-la-land-review/

[4] Eco, Umberto. Baudolino. Editora Record, 2001.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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LA LA LAND – CANTANDO ESTAÇÕES

Direção e Roteiro: Damien Chazelle
Elenco:Emma Stone e Ryan Gosling
País: EUA
Ano:2016
Classificação: Livre

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“Caminhos da Floresta” e a psicologia dos contos de fadas

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Com 3 indicações ao Oscar 2015:

Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep); Melhor Desenho de Produção (Anna Pinnock eDennis Gassner); e Melhor Figurino.

Caminhos da floresta é uma síntese de vários contos de fadas. No filme encontramos Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, Cinderela e João e o pé de feijão. Todas as histórias desses personagens se entrelaçam ao redor dos personagens principais que são o Padeiro e sua Mulher, que foram amaldiçoados por uma bruxa e por isso não podem ter filhos.

 

É interessante observar que o nome do casal não é mencionado. Sobre isso podemos explorar algumas coisas. Bem os contos de fadas nos apresentam figuras arquetípicas, como o herói, a bruxa, fadas, ogros, etc. Ou seja, os contos nos apresentam figuras presentes no inconsciente coletivo, mas que não são humanas, mas representam aspectos da psique coletiva.

O Padeiro é o herói da trama e como herói ele representa um ego arquetípico que é edificado pelo Self. Ou seja, um modelo de ego ideal e um modelo de comportamento para a personalidade consciente. É aquele que age em harmonia com seus instintos e com a totalidade psíquica e que vai estabelecer o equilíbrio perdido da consciência coletiva.

 

 

O fato do padeiro não ter nome simboliza um caráter não pessoal e coletivo. Quando nomeamos algo damos forma a ele e trazemos ao nível pessoal. Essa impessoalidade do herói do filme é um pouco problemática, uma vez que não nos ligamos a ele de forma pessoal, em comparação aos outros heróis de contos de fadas, como Aladim, Peter Pan etc. Significando, então, que esse ego ideal ainda não é capaz de ser totalmente assimilado pela consciência humana.

 

 

O herói do filme é chamado pela sua função – a de padeiro. Ele não é um guerreiro, nem um nobre e não é valente. Sua função é sovar massa e assar os pães e doces do reino. O ato de sovar a massa e alimentar as pessoas está ligado a função sensação. Função essa que liga-nos à realidade, aos cinco sentidos e ao aqui e agora.

O fato de ele ser uma pessoa simples se opõe a ideia contemporânea que o homem precisa ser bem sucedido, um guerreiro másculo e viril. E essa figura do padeiro, que alimenta as pessoas e é sensível mostra justamente o que falta na nossa consciência ocidental para uma ampliação de horizontes.

 

E através dessa jornada narrada no filme, o padeiro entra em contato com a intuição (função essa que se opõe a sensação), simbolizada pela floresta e pelos seres que nela habitam. Ele como é visto terá de confiar naquilo que ele não vê. E não pode provar e a força que o impulsiona a isso é sua mulher que deseja ardentemente um filho.

A ação se inicia quando a bruxa – que também não tem nome – revela ao Padeiro e sua esposa que o pai dele roubou hortaliças de seu jardim, para satisfazer o desejo da esposa, e como punição ele teve de entregar a ela sua filha (Rapunzel), que agora vive em uma torre sem portas. Além disso, o pai do herói roubou alguns feijões do jardim da bruxa e a bruxa o puniu jogando um feitiço que deixou toda sua descendência estéril.

Mas a bruxa lhe oferece uma saída. Para reverter o feitiço o padeiro deverá conseguir quatro objetos até a meia noite. São eles: uma vaca branca, uma capa vermelha, um cabelo amarelo e um sapato que brilha como o ouro.

 

 

Bem todos os objetos solicitados pela bruxa pertencem aos personagens de contos de fadas. A vaca pertence a João, a capa a Chapeuzinho, o cabelo a Rapunzel e o sapato a Cinderela. E dessa forma todos esses personagens clássicos se fundem na história do casal e da bruxa.

Não vou entrar aqui nos detalhes da trama e nem de cada personagem de contos de fadas, pois o texto se tornaria longo demais. Os detalhes de Cinderela, Chapeuzinho, João e Rapunzel devem ser esmiuçados em textos diferentes. Vou apenas me ater ao simbolismo de cada um dos artefatos.

 

 

Bem os objetos solicitados pela bruxa são em numero de quatro. O quatro na psicologia analítica simboliza a totalidade. Dessa forma a jornada do herói no filme é em busca a totalidade. Além disso, as cores da vaca, da capa e do cabelo e sapato se referem a estados da alquimia conhecidos como albedo, rubedo e citrino.

O albedo simboliza uma purificação, um renascimento, o clareamento das ideias, a paz e a tranquilidade. É o momento no qual se ressurge das sombras. Mas é um estado impossível de ser mantido, e logo o citrino surge.

O citrino é um estágio intermediário. Nesse estágio há a transformação da prata em ouro. É o despertar do estado paradisíaco do albedo. A alma se volta para as questões mundanas, para a racionalidade.

A rubedo é o fogo, o sangue, o calor. Depois da calmaria do albedo, chegamos à paixão, ao desejo, à ação. É a transmutação através do fogo. É a vontade de agir. Nessa fase não há mais medo.

 

A cor e estado alquímico que falta nesses objetos é o negro da nigredo. Entretanto ela se apresenta simbolizada pela floresta escura, onde os personagens encaram seus medos e temores. Na segunda parte de filme, após os conhecidos finais felizes dos contos clássico terem ocorrido, a nigredo se faz presente.

Após o Padeiro e sua mulher conseguirem os objetos e a bruxa desfazer a maldição, o casal tem seu sonhado filho. E os personagens clássicos encontram seus finais felizes conhecidos. Até a bruxa consegue o que deseja, uma vez que sua intenção não era ajudar o casal, mas se tornar mais jovem e bela para que Rapunzel não tivesse mais vergonha dela.

 

 

Entretanto, um pé de feijão cresce sem o conhecimento dos personagens, e desse pé a esposa do gigante desce buscando vingança contra quem matou seu marido, ou seja, João. E após isso tudo muda, os personagens mostram seus aspectos sombrios, o príncipe, por exemplo, é infiel a Cinderela. E isso vem nos mostrar que na vida real após um final feliz vem sempre um novo desafio, um novo recomeço. A vida é cíclica e não sabemos quais novos desafios e aspectos sombrios nossos iremos encarar logo em seguida.

 

 

O fato de ninguém ter visto o feijão cair mostra que o desafio se formou no inconsciente primeiramente. Ao cair no solo ele é reprimido e pela consciência e se avoluma chegando a alcançar o céu.

Os gigantes nos contos de fadas simbolizam complexos autônomos de forte conteúdo emocional. Eles são representados como lentos e estúpidos. Psicologicamente também representam uma supervalorização de si próprio, mas que por vezes é necessária, pois caso contrário a pessoa não consegue realizar nada e assim sair de um estado que é apenas confortável. Os gigantes então representam certa megalomania do ego e por serem lentos e estúpidos mostram o tamanho do esforço que deve ser feito para sair da zona de conforto.

 

 

A gigante desce do céu, mostrando que um complexo e uma forte emoção atrelada a ele estava apenas no mundo das ideias, sendo racionalizada. Portanto, aquele final feliz escondia um segredo, uma megalomania inflacionaria que estava disfarçada e reprimida.

 

 

O feijão cai no solo e cresce atingindo o céu. Ou seja, esse pé de feijão tem a função de ligar dois mundos com a função de trazer o que há neles para o mundo humano. Na Mitologia o mundo subterrâneo e o céu representado pelo Olimpo não se misturavam. Cada um dos reinos tinha o seu deus regente e em raríssimas exceções eles iam ao reino um do outro. Apenas um deus podia transitar em todos os reinos e no mundo humano, esse deus era Hermes.

Podemos interpretar a vingança da mulher gigante como uma vingança contra a inflação humana. Uma deusa que desce dos céus para punir todos os eu tentam se igualar aos deuses.

 

 

A segunda parte do filme pode ser desconcertante para os mais sensíveis, pois mostra a noite escura da alma humana, a Nigredo. Ela mostra a vaidade, a ambição, a cobiça, a mesquinhez, o adultério, ou seja, toda a parte obscura que nossa sociedade judaico-cristã tenta de forma capenga reprimir.

 

O filme é então uma critica a essa sociedade, que busca finais felizes sem antes olhar suas mazelas, e que transfere para o outro seus aspectos sombrios ,(uma das cenas desconcertantes é quando os personagens tentam encontrar um culpado pela vinda da gigante) sem assumir seus erros e responsabilidades.

 

Enquanto olharmos apenas para a pureza, racionalidade (albedo), iluminação (citrino) e a ação (rubedo), e nos esquecermos e desprezarmos nossa sombra, não prestaremos a devida atenção aquilo que plantamos e sempre seremos pegos por gigantes vingativos. Somente com o enfrentamento dessa sombra podemos nos tornar mais humanos.

 

Trailer

 

Mais filmes indicados ao OSCAR 2015: http://ulbra-to.br/encena/categorias/oscar-2015


FICHA TÉCNICA DO FILME

CAMINHOS DA FLORESTA

Título Original (EUA): Into the Woods (Original)
Direção: Rob Marshall
Duração: 125 minutos
Classificação: 12 anos
Ano: 2015

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