“Nell” e os aspectos da aprendizagem

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Segundo Vygotsky o desenvolvimento cognitivo se dá por meio da interação social, interação esta que possibilita novas experiências e conhecimento. O conhecimento permite o desenvolvimento mental que se dá através da relação com o outro, é uma troca dialética. A importância do contato social na infância e na constituição do sujeito dá-se ao interagir. A subjetividade construída socialmente se manifesta, modificando ativamente a situação estimuladora como uma parte do processo de resposta a ela. (Coelho, 2012 apud Vygotsky, 1984.)

Para Vygotsky, o desenvolvimento depende da aprendizagem e é promovido pela convivência social e a maturação, que é onde se dão os processos mentais superiores. Vai depender da internalização dos conceitos e das atividades que primeiramente serão mediadas por outros para depois se tornarem autônomas. Quanto mais instrumentos o sujeito internaliza maior a gama de atividades que ele pode aprender e maior será seu desenvolvimento.

No filme Nell, percebe-se que o protagonista teve um modelo de aprendizagem diferente do modelo comum da sociedade, e este modelo que sua mãe lhe passou regeu o seu desenvolvimento, a sua forma de executar as coisas, a sua forma de se relacionar com o ambiente, com as pessoas. Por exemplo, Nell não saia de casa durante o dia, pois a sua mãe a ensinou que isso era perigoso, logo ela desenvolveu toda uma rotina que girava em torno de dormir durante o dia e realizar suas atividades durante a noite.

Isso exemplifica bem a questão da convivência social para a aprendizagem, a única convivência social de Nell era com sua mãe e irmã, as duas adoravam este padrão de rotina, então esta era a rotina que conhecia e reproduzia.

Fonte: encurtador.com.br/lsIN5

Segundo Vigotsky, linguagem e pensamento têm raízes genéticas diferentes, porém se cruzam no momento do desenvolvimento. O pensamento se realiza por meio das palavras e a linguagem auxilia no processo de internalização de conceitos. A linguagem se desenvolve primeiro socialmente/externamente para depois se converter internamente e a soma desta com o pensamento produz a capacidade de planejar, prever, de controlar ações e impulsos.

O desenvolvimento da linguagem da Nell foi a partir de uma linguagem diferente, mas isso não impediu que ela o desenvolvesse, inclusive ela desenvolveu bem a sua linguagem e apresentou ter todo o domínio esperado que a relação pensamento x linguagem propõe.

Mesmo sendo uma linguagem mais restrita, com menos palavras, cheia de expressões corporais e facial, a sua linguagem é uma mescla da linguagem verbal e não verbal, tendo visto que sua mãe tinha uma deficiência que comprometia a fala, então precisava se comunicar também com gestos e essa linguagem é evidente em Nell.

Pela análise do filme, Nell provavelmente não tem deficiência mental nem transtornos psiquiátricos, pode sim, ter um atraso mental, pelo fato que não teve interação com outras pessoas além da sua mãe por quem foi criada em uma floresta, que pode ser a resposta para determinados comportamentos, como o repertorio linguístico de Nell, no qual a prendeu com sua mãe que era deficiente, não era uma linguagem totalmente errada e sim diferente.

Fonte: encurtador.com.br/ginQ5

Mudanças de Nell

Nell não saia a noite porque sua mãe a ensinou que era perigoso, assim Nell só saia durante a noite, para nadar no lago. Após alguns reforços dados pelo Dr. Lovell, Nell passou a sair durante o dia e desfrutar das coisas que ela ainda não conhecia por não sair durante aquele horário. Nell não conversava com outras pessoas, tinha medo e preferia se esconder ou agredi-las. Após um convívio com o Dr. Lovell e a Dra. Olsen, Nell foi se acostumando com outras pessoas, chegando ao ponto de falar em público em um julgamento.

Mudanças dos amigos

O Dr. Lovell no começo não queria cuidar de Nell, mas logo depois de conhecer a história dela, passou a ter compaixão e curiosidade por Nell. Também não conhecia a linguagem de Nell e tinha dificuldades de entendê-la, assim como de entender as expressões físicas de Nell, mas após um convívio maior com Nell e o desempenho em querer compreendê-la, passou a entender sua linguagem.

Dra. Oslen que antes considerava que o melhor para Nell era interná-la em um hospital psiquiátrico, passou a ter outra visão quando conheceu a história de Nell.Diante dessas mudanças e de acordo com a teoria de Vygotsky podemos dizer que todos passaram por um processo de aprendizagem e desenvolvimento. Principalmente Nell, com todo esse seu contexto atual desenvolveu as suas funções psicológicas, passou a se comunicar mais e a ser menos agressiva. Dessa forma aprendemos que o desenvolvimento é mutável e não universal, ou seja, pode ser mudado de acordo com suas interações sociais.

A linguagem também teve um papel importante nessa história, pois o desenvolvimento na fala de Nell e a aprendizagem dessa linguagem pelo Dr. Lovell facilitou a interação ente os dois. Pois segundo a teoria de Vygotsky “a linguagem é um sistema de signos que possibilita o intercambio social entre indivíduos que compartilhem desse sistema de representação da realidade”. (REGO,1995, p.54)

FICHA TÉCNICA DO FILME:

NELL

Título Original: Nell
Direção: 
Michael Apted
Elenco: Jodie Foster, Liam Neeson, Natasha Richardson
País:  EUA
Ano: 1994
Gênero: Drama

Referência

COELHO, Luana; PISON, Silene. Vygotsky: sua teoria e a influência na educação. 2012. Disponível em: <http://facos.edu.br/publicacoes/revistas/e-ped/agosto_2012/pdf/vygotsky_-_sua_teoria_e_a_influencia_na_educacao.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2019.

REGO, Teresa Cristina, Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ : Vozes, 1995.

MOREIRA, Marcos Antônio; Teorias da Aprendizagem, EPU, São Paulo, 1995.

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Nell: a aprendizagem e o desenvolvimento para Vygotsky

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O filme Nell (Jodie Foster), inicia com a morte de uma senhora eremita, conhecida pela sociedade por aparentar possuir doença ou retardo mental. Até a sua morte, todos achavam que ela morava sozinha, em uma cabana, no meio da floresta. Porém, logo se descobre que nessa cabana há mais alguém. É Nell, filha da senhora eremita, com aproximadamente trinta anos de idade. Não demora muito para que Nell se torne “objeto” de estudiosos, pois percebe-se que ela morou a vida inteira na floresta, não tendo contato com o restante da sociedade, possuindo linguagem e cultura próprias, adquiridas com a convivência com sua mãe.

O caso chama a atenção dos doutores Jerry Lovell (Liam Neeson) e Paula Olsen (Natasha Richardson), que apresentam ideias diferentes sobre ele, e essa divergência vai à júri, sendo decidido que é preciso compreender o contexto e o modo de vida de Nell, para identificar se ela necessita de algum tipo de ajuda para sobreviver. Então, os dois iniciam uma jornada de observação da jovem eremita, colhendo informações sobre ela, cada um a seu modo e com alguns conflitos no começo.

Mas, passados alguns poucos meses, torna-se nítida a empatia que os doutores sentem por Nell, compreendendo, de certa forma, sua linguagem, modo de pensar e comportamentos. Porém, o cerco começa a se fechar, e ambos precisam dar uma resposta ao júri sobre o destino de Nell. Nesse tempo, ela começa a se tornar “atração” para a sociedade, devido seus modos totalmente diferentes de ser e de agir. Até então, todos se acham no direito de julgar e decidir por Nell.

Entretanto, quase no final do filme, Nell, no tribunal, dá uma demonstração de maturidade, autonomia e conhecimento da vida e dos sentimentos humanos, que surpreende à todos. Certamente, todos aprenderam muito com Nell, que mostrou saber mais do que os ditos cultos, no que tange a viver a vida de modo pleno, enaltecendo sua simplicidade e natureza. Ao final, Nell está de volta à floresta, comemorando seu aniversário com seus novos amigos.

Utilizando-se do método histórico-crítico, Vygotsky empreende um estudo original e profundo do desenvolvimento intelectual do homem, cujos resultados demonstram ser o desenvolvimento das funções psicointelectuais superiores um processo absolutamente único. Assim, do ponto de vista da aprendizagem, a importância dos estudos de Vygotsky é inquestionável, pois ele critica as teorias que separam a aprendizagem do desenvolvimento (GIUSTA, 1985 apud NEVES).

No filme, observa-se que Nell, mesmo separada da sociedade, aprendeu comportamentos e uma linguagem inerentes de sua mãe e, mesmo sendo estes diferentes da maioria, Nell se desenvolveu muito bem, sobrevivendo à seu modo. Portanto, aprendizagem e desenvolvimento ocorreram de forma mútua.

Para Vygotsky, pensamento e linguagem são processos interdependentes desde o início da vida. A aquisição da linguagem pela criança modifica as suas funções mentais superiores, dá forma definida ao pensamento, possibilita o aparecimento da imaginação, o uso da memória e o planeamento da ação. Neste sentido a linguagem sistematiza a experiência direta da criança e, por isso, adquire uma função central no seu desenvolvimento cognitivo, reorganizando os processos em desenvolvimento ao pensamento. Ou seja, ambos ocorrem de forma simultânea (BRITES e CÁSSIA, 2012).

Isso é nítido em Nell, quando mostrada sua forma de pensar. Essa está de acordo com sua linguagem, pois os símbolos e as palavras que ela usa representam aquilo que ela entende do mundo à sua volta, dos objetos, das pessoas, dos animais, da floresta, dos sentimentos, etc. Percebe-se que ela associou em seu pensamento os significados e a que se direcionam as palavras (neologismos) ensinadas por sua mãe.

Finalmente, cabe destacar que o pensamento não é o último plano analisável da linguagem. Podemos encontrar um último plano interior: a motivação do pensamento, a esfera motivacional de nossa consciência, que abrange nossas inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos, nossos afetos e emoções. Tudo isso vai refletir imensamente na nossa fala e no nosso pensamento (Vygotsky, 1998).

Dentro da aprendizagem de Nell, está a confiança que foi estabelecida com Jerry Lovell e Paula Olsen através da motivação do pensamento, onde Nell abriu espaço para suas necessidades, interesses, impulsos e emoções. Segundo (Vygotsky, 1998) todos esses aspectos refletem na fala e pensamento. Assim, em contato com uma nova cultura e linguagem, Nell, de certa maneira, introduziu essa nova realidade em sua vida, não modificando ela, mas compreendendo melhor aquilo que lhe é diferente. Desse modo, tem-se ao final do filme, uma “selvagem” que, ao seu modo, está socializando com outras pessoas, já suas amigas.

REFERÊNCIAS:

NEVES, R. A. DAMIANI, M. F. Vygotsky e as teorias da aprendizagem. UNIrevista – Vol. 1, n° 2 : (abril 2006).

RABELLO, E.T. e PASSOS, J. S. Vygotsky e o desenvolvimento humano. Disponível em: < http://www.josesilveira.com/artigos/vygotsky.pdf>. Acesso  em: 25 de out, 2016.

BRITES, I. CÁSSIA, R. Vigotsky, L. S. (2005). Pensamento e linguagem. Rev. Lusófona de Educação, no.22, Lisboa, 2012.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

NELL

Diretor: Michael Apted
Elenco: Jodie Foster, Liam Neeson, Natasha Richardson
País:  EUA
Ano: 1994
Classificação: 16

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