Oxalá e o símbolo da criação

Compartilhe este conteúdo:

Oxalá é um Orixá masculino bastante cultuado e reverenciado no Brasil, sendo considerado o Orixá mais importante do panteão africano.

Na África é cultuado com o nome de Obatalá. Quando os negros vieram para o Brasil, trouxeram consigo, além do nome do Orixá, outra forma de a ele se referirem, Orixalá, que significa orixá dos orixás. Numa versão contraída, o nome que se acabou popularizando, é Oxalá.

Oxalá é um Orixá Fun Fun. Na África, todos os Orixás relacionados com a criação são designados pelo nome genérico de Fun Fun. Eram cerca de 154 Orixás Fun Fun, mas no Brasil a quantidade reduz-se significativamente, sendo que dois, Oxalufã, valho e sábio, rei de Ifón (Oxalufã) e Orixá Oxaguiã, jovem e guerreiro, o comedor de inhame e rei de Egigbó, se tornaram as suas expressões mais conhecidas.

Oxalá é, então, o criador dos seres humanos. Diz a lenda que Olorum deus supremo dos yorubas e criador do universo enviou seu filho Oxalá para criar o mundo e os seres humanos a partir do barro (ZACHARIAS, 1998).

Outra lenda conta que Oxalá foi encarregado por Olodumaré de criar o mundo com o poder de sugerir e o de realizar. Para cumprir sua missão, antes da partida, Olodumaré entregou-lhe o “saco da criação”. O poder que lhe fora confiado não o dispensava, entretanto, de submeter-se a certas regras e de respeitar diversas obrigações como os outros orixás. Uma história de Ifa conta-nos como, em razão de seu caráter altivo, ele se recusou a fazer alguns sacrifícios e oferendas a Exu, antes de iniciar sua viagem para criar o mundo.

Oxalá pôs-se a caminho apoiado em um grande cajado de estanho, seu opáxorò ou paxorô, o cajado para fazer cerimônias. No momento de ultrapassar a porta do Além, encontrou Exu, que entre as suas múltiplas obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre os dois mundos. Exu, descontente com a recusa do Grande Orixá em fazer as oferendas prescritas, vingou-me fazendo-o sentir uma sede intensa.

Oxalá, para matar sua sede, não teve outro recurso senão o de furar, com o seu paxorô, a casca do tronco de um dendezeiro. Um líquido refrescante dele escorreu: era o vinho de palma. Ele bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou bêbado, não sabia, mas onde estava e caiu adormecido. Veio então Odùduà, criado por Olodumaré depois de Oxalá é o maior rival deste.

Vendo o Grande Orixá adormecido, roubou-lhe “o saco da criação”, dirigiu-se à presença de Olodumaré para mostrar-lhe seu achado e lhe contar em que estado se encontrava Oxalá. Olodumaré exclamou: “Se ele esta neste estado, vá você, Odùduà! Vá criar o mundo!” Odùduà saiu assim do Além e se encontrou diante de uma extensão ilimitada de água. Deixou cair à substância marrom contida no “saco da criação”. Era terra. Formou-se então um montículo que ultrapassou a superfície das águas. Aí, ele colocou uma galinha cujos pés tinham cinco garros. Esta começou a arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície das águas. Onde ciscava, cobria as águas, e a terra ia se alargando cada vez mais. Odùduà aí se estabeleceu, seguido pelos outros orixás, e tornou-se assim o rei da terra.

Quando Oxalá acordou não mais encontrou ao seu lado o “saco da criação”. Despeitado, voltou a Olodumaré. Este, com castigo pela sua embriaguez, proibiu ao Grande Orixá, assim como aos outros de sua família, os orixás funfun, ou “orixás brancos”, beber vinho de palma e mesmo de usar azeite de dendê. Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos, aos quais ele, Olodumaré, insuflaria a vida. Por essa razão, Oxalá é também chamado de, o “proprietário da boa argila”. Pôs-se a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério a proibição de beber vinho de palma e, nos dias em que se excedia, os homens saíam de suas mãos contrafeitos, deformados, capengas, corcundas.alguns, retirados do forno antes da hora, saíam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente pálidas: eram albinos. Todas as pessoas que entravam nessas tristes categorias são-lhe consagradas e tornam-se adoradoras de Orixalá.

É sempre representado com a cor branca. Verger aponta que o hábito de se vestir de branco na sexta-feira estende-se a todas as pessoas filiadas ao candomblé, mesmo aquelas consagradas a outros orixás, tal é o prestígio de Oxalá. Seu dia é a sexta feira e seu símbolo é o opaxoró (um cajado de prata, onde ele se apóia). Na Bahia é sincretizado com o Senhor do Bonfim, devido a um enorme prestígio e inspirar fervorosa devoção aos habitantes de todas as categorias sociais. Também costuma ser associado a Jesus Cristo.

No Xirê (a dança consagrada aos Orixás), Oxalá é homenageado por último porque é o grande símbolo da síntese de todas as origens. Ele representa a totalidade, o único Orixá que, como Exú, reside em todos os seres humanos. Todos são seus filhos, todos são irmãos. Oxalá representa o patriarca, o chefe da família e é o símbolo da procriação masculina e seu poder fertilizante, tanto que um de seus símbolos é o sêmen.

Orixá calmo, paciente e que abomina a guerra, pode ser associado ao trunfo do Tarot, O Hierofante, ou O Papa. Esse trunfo simboliza a moral, as regras, a santidade. Ele rege as leis que dizem respeito à boa conduta aos olhos de Deus. Ele simboliza o pai divino, as regra espirituais. Ele é a ordem pré-estabelecida.

Oxalá forma um par de opostos com Exú. Exú é o que inicia tudo, o começo e Oxalá o fim. Enquanto Oxalá é um guardião da paz, Exú fomenta disputas e catástrofes. Até no sincretismo vemos esse par de opostos: Exú foi associado ao diabo e Oxalá a Jesus. Simbolicamente, Oxalá – como orixá criador – mantém a ordem e Exu desestabiliza essa ordem de forma a criar uma nova. Ou seja, dão dois arquétipos que trabalham juntos.

Oxalá é o movimento de estabilização, de finalização (tanto que é o ultimo orixá a ser saudado no xirê). Após a finalização, um novo movimento deve começar e a velha ordem deve ser desestruturada e invertida. Conforme Zacharias (2010), a psique como um todo possui uma ação transitória. E a atuação do si-mesmo é pluralista em relação à totalidade da psique e centralizadora em função da estruturação do ego. O autor ainda aponta que mesmo em culturas politeístas a prática individual religiosa é a da monolatria, a eleição de um ou mais deuses como imagem de adoração pessoal, apesar de se reconhecer a grande quantidade de outros deuses.

Portanto Oxalá representa essa ação centralizadora, que impõe limites ao ego para que ele possa se desenvolver sem se fragmentar. É possível observar que mesmo diante de inúmeras possibilidades o ego acaba se envolvendo com apenas algumas atividades. E esses limites vêm até nós por meio das leis.

Em nossa infância, após o período matriarcal, em que somos bebês embalados no colo da mãe, começamos a nos ver diante do patriarcado como seu conjunto de regras e leis, que devemos obedecer até para nossa sobrevivência. É ai que Oxalá entra em cena, nos colocando ordens e limites centralizadores. Após isso…bem após isso é uma outra história, que começa novamente com o compadre Exú.

Compartilhe este conteúdo:

Ewá e o arquétipo da castidade

Compartilhe este conteúdo:

Ewá ou Iyewa é uma divindade feminina reverenciada como a dona dos horizontes, da névoa e do cemitério. Filha de Nanã, seu nome significa mãezinha do caráter.

Ela também é um Orixá das águas, mais especificamente do rio Yewá, em lagos da Nigéria. Aparece em algumas lendas vivendo no cemitério com Iansã e Omulu, em outras na névoa e em outras com Oxumaré no arco-iris.

É representada por uma bela virgem. O próprio Xangô se apaixonou por ela, mas não conseguiu conquistá-la. Representa a castidade. Tudo o que é virgem e inexplorado contam com a proteção dela: a mata virgem, as moças virgens, rios e lagos onde não se pode nadar ou navegar. Entretanto, em algumas lendas é retratada como a esposa de Oxumaré, pertencendo a ela a faixa branca do arco-íris, em outras aparece como esposa de Obaluaiê.

Na verdade ela mantém fundamentos em comum com Oxumaré, inclusive dançam juntos, mas não fica claro em suas lendas se ela é a sua porção feminina, sua esposa ou filha. Mas juntos eles conduzem o arco íris e o ciclo da água.

Por se tratar de um Orixá pouco cultuado no país é muitas vezes identificada como uma Oxum guerreira, ou como Oxumaré fêmea, devido ao fato de também portar uma cobra.

Ewá também tem o poder da vidência, atributo que Orunmilá (com quem também já apareceu casada) lhe concedeu. É também a rainha do céu estrelado e dos cosmos, ou seja, do lugar onde o homem não alcança. Sua saudação é “Riró”!

 

Seus símbolos são o Ejô (cobra) a espada e o Ofá (lança ou arpão).Sua origem é um tanto controvertida. Alguns afirmam que tal como Oxumaré, Nanã, Omulúe Iroko, Ewá era cultuada inicialmente entre os Mahi, sendo assimilada pelos Iorubas e inserida em seu panteão.  Havia um Orixá feminino oriundo das correntes do Daomé chamado Dan. A força desse Orixá estava concentrada numa cobra que engolia a própria cauda, o que denota um sentido de perpétua continuidade da vida, pois o círculo nunca termina. Ewá teria o mesmo significado de Dan ou uma das suas metades – A outra seria Oxumaré.

Ewá enquanto deusa virgem e das florestas inexploradas pode ser comparada à grega Artemis e à romana Diana. Artemis, assim como Ewá também tinha uma intensa ligação com seu irmãoApolo. A ponto de ser a sua única relação significativa com um homem.

É importante, a partir desse ponto, analisar esse aspecto virgem da deusa.  Na Alquimia a prima-mater, a matéria prima é virgem, ou seja, é pura, mas que deve ser transformada pela Opus.

Em seu livro As deusas e a mulher, Jean Shinoda Bolen nos traz uma reflexão profunda sobre esse aspecto da virgindade. Ele é muito mais que não ser inviolada por um homem. É o aspecto de não pertencer ou ser “impenetrável” ao homem. É a mulher que não é afetada pela necessidade de um homem ou pela necessidade de ser aprovada por ele, que existe completamente separada dele, em seu próprio direito. Portanto, quando a mulher está vivendo um arquétipo de virgem, isso significa que um aspecto significativo seu é psicologicamente virginal, e não que ela seja fisicamente ou literalmente virgem.

Toda mulher carrega em si um aspecto de virgindade, mesmo que já seja casada e mãe. É o aspecto da prima mater que deseja ser fecundado para que possa gerar nova vida. É o aspecto onde a mulher é uma em si mesmo, onde não leva rótulos de esposa e mãe. O lado de sua personalidade que não foi afetado pelas expectativas coletivas sociais e culturais. É o seu trabalho criativo que deve ser fecundado por seu animus.

Mas esse aspecto, quando levado de uma forma muito radical, pode ser muito perigoso. A mulher pode se tornar alheia a relacionamentos, não se permitindo viver emoções e experiências transformadoras. Outro aspecto importante desse arquétipo, a ser explorado, e que também se liga ao tema da virgindade é o fato de Ewá ser o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o estado gasoso, gerando nuvens e chuvas.  Transformar a água do seu estado liquido para o gasoso remete a operação alquímica sublimatio.

A sublimação é um processo onde uma substância inferior se transforma em uma superior. Tudo o que se refere ao movimento para cima, como escadas, aviões, elevadores, etc, está diretamente ligado à sublimatio. Ou seja, o arco-íris inatingível, o céu, a névoa, campos de atuação de Ewá correspondem a essa operação alquímica.

 

Em Anatomia da Psique, Edinger, descreve essa operação alquímica como um se colocar a uma distância das emoções.

“A sublimatio é uma ascensão que nos eleva acima do emaranhado confinador da existência terrestre, imediata, e de suas particularidades concretas, pessoais. Quanto mais alto nos elevamos, tanto maior e mais ampla nossa perspectiva, mas, ao mesmo tempo, tanto mais distantes ficamos da vida real e tanto menor a nossa capacidade de agir sobre aquilo que percebemos.Tornam-nos expectadores magníficos, mas impotentes.”

Se colocar acima dos problemas, tomar distância nos ajuda a ter uma nova perspectiva sobre problema, mas também pode nos alienar dessas mesmas emoções. Esse arquétipo, representado por Ewá, não se altera por suas experiências com os outros. Nunca é dominada por suas emoções, nem por outros. É invulnerável ao sofrimento, intocáveis nos relacionamentos, sendo, portanto, inacessíveis a transformações.

Outro aspecto importante desse arquétipo é narrado em uma de suas lendas. Na qual Ewá era filha de Obatalá, e o amor de seu pai por ela era muito estranho, fazendo-a viver em seu castelo como se estivesse em uma clausura. A fama da beleza e da castidade da princesa chegou a todas as partes, inclusive ao reino de Xangô. Mulherengo, Xangô planejou seduzir Ewá, empregando-se como jardineiro no palácio de Obatalá. Um dia Ewá apareceu na janela e admirou a beleza de Xangô. Não se tem notícia de como Ewá se entregou a Xangô, no entanto, arrependida de seu ato, pediu ao pai que lhe enviasse a um lugar onde nenhum homem lhe enxergasse. Obatalá deu-lhe o reino dos mortos. Desde então é Ewá quem, no cemitério, entrega a Oyá os cadáveres que Obaluaiê conduz para que Orisá-Okô os coma.

Algumas versões desse mesmo mito, narram que Ewá se decepcionou com Xangô indo viver no cemitério. Indo morar no cemitério, Ewá se torna morta para qualquer atividade afetiva. Essa é uma das características da mulher dominada pelo animus. A possessão pelo animus, ao contrario da anima, leva a mulher à morte. A morte de sua criatividade, de sua capacidade de se relacionar e amar.

Diferentemente de Oyá, que mesmo sendo a senhora dos mortos mantinha relacionamentos e era sexualmente ativa. Para finalizar, esse arquétipo, quando constelado, pode nos ajudar a nos distanciar dos problemas e das emoções intensas, de forma a garantir que possamos ver a situação como um todo e tomarmos uma decisão mais acetada.

Ele também representa nosso aspecto virginal, puro, nossa prima-mater, que guardamos em nosso íntimo e que não deve se submeter às convenções sociais. Mas para nosso desenvolvimento pessoal, nosso processo de individuação deve se abrir para a Opus, deve se abrir à fecundação, para que possa gerar novos frutos e nos transformar.

REFERÊNCIAS

BARCELLOS, M. C. Os orixás e a personalidade humana. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.

JUNG, C. Os Arquétipos e o inconsciente coletivo. 2 ed. Petrópolis, RJ, Vozes 2002.

VERGER, P. F. Orixás. Círculo do Livro.

Compartilhe este conteúdo:

Obá – deusa do amor e da paixão incontrolável

Compartilhe este conteúdo:

Obá é uma divindade do rio de mesmo nome, foi a terceira mulher de Xangô, junto com Oxum e Oyá, e também mulher de Ogum segundo uma lenda de Ifá.

Orixá feminino muito forte e enérgico. É extremamente temida, sendo considerada mais forte que muitos Orixás masculinos como, Oxalá, Xangô e Orumilá, os quais venceram em lutas.

Sua lenda mais famosa é a da disputa entre ela e Oxum pelo amor de Xangô.

Oxum era jovem e elegante; Obá era mais velha e usava roupas fora de moda, fato que nem chegava a se dar conta. Obá pretendia monopolizar o amor de Xangô e sabendo o quanto ele era guloso, procurava sempre surpreender os segredos das receitas de cozinha utilizadas por Oxum, a fim de preparar as comidas de Xangô. Oxum, irritada, decidiu pregar-lhe uma peça e, um belo dia, pediu-lhe que viesse assistir, um pouco mais tarde, à preparação de terminado prato que, segundo lhe disse Oxum maliciosamente, realizava maravilhas junto a Xangô. Obá apareceu na hora indicada.

Oxum, tendo a cabeça atada por um pano que lhe escondia as orelhas, cozinhava uma sopa na qual boiavam dois cogumelos. Oxum mostrou-os à sua rival, dizendo-lhe que havia cortado as próprias orelhas, colocando-as para ferver na panela, a fim de preparar o prato predileto de Xangô. Este, chegando logo, tomou a sopa com apetite e deleite e retirou-se, gentil e apressando, em companhia de Oxum, Na semana seguinte, era a vez de Obá cuidar de Xangô. Ela decidiu pôr em pratica a receita maravilhosa: cortou uma de suas orelhas e cozinhou-a numa sopa destinada a seu marido. Este não demonstrou nenhum prazer em vê-la com a orelha decepada e achou repugnante o prato que ela lhe serviu.

Oxum apareceu, neste momento, retirou seu lenço e mostrou que suas que suas orelhas jamais haviam sido cortadas nem devoradas por Xangô. Começou, então, a caçoar da pobre Obá, que furiosa, precipitou-se sobre sua rival. Segui-se uma luta corporal entre elas. Xangô, irritado, fez explodir o seu furor. Oxum e Obá, apavoradas, fugiram e se transformaram nos rios que levam seus nomes. No local de confluência dos dois cursos de água, as ondas tornam-se muito agitado em conseqüência da disputa entre as duas divindades.

Por isso quando se manifesta em seus filhos, esconde seu defeito na orelha com a mão. Seus símbolos são uma espada e um escudo. Sua cor é o vermelho, seu dia é a quarta-feira e sua saudação é Obá Xirê.

Obá é o Orixá do vigor e da coragem, e se distingue das outras Iabás pela falta de charme e feminilidade. Entretanto ela não teme nada nem ninguém no mundo. Seu maior prazer está na luta. Obá venceu todas as disputas que foram organizadas entre ela entre diversos orixás, com exceção de Ogum, que aconselhado por um babalaô, preparou uma oferenda de espigas de milho e quiabo, amassando-os em um pilão, obtendo uma pasta escorregadia, a qual espalhou pelo chão, no lugar onde aconteceria a luta. Chegado o momento, Obá, que fora atraída até o lugar previsto, escorregou sobre a mistura, aproveitando-se Ogum para derrubá-la e possuí-la no ato. Assim tornou-se esposa de Ogum.

Ela também é um orixá das águas, entretanto representa as águas revoltas e fortes dos rios, assim como as pororocas. O lugar das quedas também são considerados domínios de Obá. Ela representa também a transformação dos alimentos de crus em cozidos. Obá, enquanto orixá do elemento água, representa as emoções. Mas emoções fortes e avassaladoras, como o amargor de não ser amado, o ciúmes e a vingança.

Nesse aspecto vingativo e ciumento Obá se assemelha a grega Hera ou Juno para os romanos. Deusa do casamento e da fidelidade conjugal era constantemente traída Zeus e se vingava de todas as investidas românticas dele.

Obá é orixá do amor não correspondido, das dores de amor, assim como a vingança e o rancor decorrentes disso. Ela é capaz de sacrifícios extremos pelo ser amado, a ponto de se mutilar. De perder uma parte de si mesmo.

Representa o aquele que foi enganado e rejeitado, e que por isso tornou-se amargo, passando assim a rejeitar uma nova experiência afetiva e a se voltar à realização profissional. Mesmo sendo extremamente forte fisicamente perde a sua personalidade em função do outro.

Obá pode representar a mulher masculinizada, onde a força bruta e a disputa com os homens imperam no lugar da sedução e vaidade (Oxum), e da alegria e sensualidade (Oyá). Entretanto, ela é mais que isso. Ela é uma mulher muito forte e que foi ferida, abandonada. Ela é considerada a representante suprema da ancestralidade feminina.

Obá é saudada como o Orixá do ciúme, mas não se pode esquecer que o ciúme é o coronário inevitável do amor. Portanto, Obá é a deusa do Amor e da Paixão incontrolável, com todos os dissabores e sofrimentos que o sentimento pode acarretar.

Referências:

BARCELLOS, M. C. Os orixás e a personalidade humana. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.

JUNG, C. Os Arquétipos e o inconsciente coletivo. 2 ed. Petrópolis, RJ, Vozes 2002.

VERGER, P. F. Orixás. Círculo do Livro.

Compartilhe este conteúdo:

Oxumaré: o símbolo da continuidade e permanência

Compartilhe este conteúdo:

Oxumaré é um Orixá complexo, suas funções são múltiplas. Na Mitologia yorubá é considerado o Orixá dos movimentos e de todos os ciclos.

Senhor da mobilidade e da atividade, é representado pela cobra e pelo arco-íris, por isso é considerado o senhor de tudo o que é alongado, como, por exemplo, o cordão umbilical.Em sua mitologia é filho mais novo e preferido de Nanã. É irmão de Omulu, Ewa e Ossain.

Representado por uma serpente que morde a própria cauda, se mostra como símbolo da continuidade e permanência. Ao mesmo tempo em que representa a movimentação e mobilidade da Terra, com seus movimentos de rotação e translação, segundo Verger, Oxumaré enrola-se em volta da terra para impedi-la de se desagregar. Se perdesse as forças, isso seria o fim do mundo. Portanto, ele controla os movimentos para que não sejam nem rápidos nem lentos demais.

Seus domínios estão nos movimentos regulares, que não podem parar, como a alternância entre chuva e sol, dia e noite, frio e calor, positivo e negativo. O arco-íris, a grande serpente colorida, representa a comunicação entre o céu e a terra, um elo entre os dois. A ligação entre o velho e o novo, entre os homens e seus antepassados é assegurada pelo cordão umbilical.

Ainda sobre Oxumaré, Verger em Orixás diz:

“Oxumaré é, ao mesmo tempo, macho e fêmea. Esta dupla natureza aparece nas cores vermelha e azul que cercam o arco-íris. Ele representa também a riqueza, um dos benefícios mais apreciados no mundo dos iorubás.”

É o Orixá da tese e da antítese. Oxumaré é então um Orixá ambíguo. Macho e fêmea, belo (arco-íris) e perigoso (serpente), céu e terra, exprime, portanto a dualidade, a união dos opostos. A vida se expressa por meio do conflito entre os opostos, estar vivo é estar em meio aos opostos, dia e noite, sofrimento e prazer, calor e frio. Podemos afirmar, então, que Oxumaré exprime a vida humana, encarnada.

 

 

Arquétipo, onde está sintetizada a duplicidade humana, seu corpo mortal e seu espírito imortal. A imagem da serpente que engole a própria cauda, enrolada ao redor do planeta pode ser comparada ao trunfo XXI do tarô, O Mundo. Neste trunfo, está representada a Ouroboros, símbolo da eternidade, dos ciclos da vida, a espiral da evolução, a dança da morte e ressurreição.

A Ouroboros está ao redor de uma figura metade macho, metade fêmea, simbolizando os opostos, o negativo e o positivo. E também aparece rodeada por quatro animais, que simbolizam os quatro elementos.

Esse trunfo, assim como Oxumaré, nos remete a um universo ordenado, em harmonia com os ciclos da vida e em consonância com o Self. É então, a totalidade, a harmonia, o equilíbrio, mas também o início de uma nova jornada, não mais centrada no ego.

Outro paralelo está na mitologia judaico-cristã, onde a serpente simboliza o mal, a queda do homem, Satanás. E no arco-íris, símbolo da aliança de Javé com o seu povo, após o dilúvio.

Oxumaré é uma imagem ideal. Como seres humanos, essa totalidade raramente é encontrada. Mas como arquétipo Oxumaré mostra a necessidade de movimento e de transformação. Ele é o movimento psíquico, a dinâmica entre o inconsciente e o consciente, a relação entre ego e Self.

Sem esse arquétipo, a vida psíquica se torna estagnada e o processo de individuação paralisado.  Esse arquétipo, quando ativado na dinâmica psíquica do individuo, leva a descoberta dos opostos dentro de si. Negá-los é negar a vida. A dualidade é condição humana e aceita-la é o princípio da individuação.

E assim é a caminhada humana, sempre mudando, crescendo, sempre em movimento. Em estado de renovação, sem nunca alcançar o centro, o Self, mas sempre em direção à totalidade.

Referências:

BARCELLOS, M. C. Os orixás e a personalidade humana. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.

JUNG, C. Os Arquétipos e o inconsciente coletivo. 2 ed. Petrópolis, RJ, Vozes 2002.

VERGER, P. F. Orixás. Círculo do Livro.

Compartilhe este conteúdo:

Ossain e a transformação da realidade

Compartilhe este conteúdo:

 

Ossain, conhecido também por Ossonhe, Ossãe e Ossanha é o orixá das plantas e ervas tanto medicinais como litúrgicas.

É um orixá originário da região de Iraó, na Nigéria, muito próxima com a fronteira com o antigo Daomé. Não faz parte, como muitos pensam, do panteão Jeje assimilado pelos Nagô, como Nana, Omolú, Oxumaré e Ewá. Ossain é um deus originário da etnia Ioruba. Contudo, é evidente que entre os Jeje havia um deus responsável pelas folhas, e Ágüe é o seu nome, por isso Ossain dança bravun e sató, a exemplo dos deuses do antigo Daomé.

Orixá de extrema importância, uma vez que as plantas e a folhas são imprescindíveis nos rituais e obrigações de cabeça e assentamento de todos os Orixás através dos banhos feitos de ervas. O nome das plantas, a sua utilização e as palavras mágicas (ofó), cuja força desperta seus poderes, são os elementos mais secretos e importantes do ritual de culto aos deuses iorubás.

Ossain é uma divindade que juntamente com Oxossi rege as florestas.

Seus conhecimentos sobre os mistérios das folhas se estendem sob o âmbito da utilização mágica e do uso medicinal, tornando-o um orixá da cura e da medicina, formando assim um par de oposto com Omulu, orixá das doenças.

Suas cores são o verde e o branco. Seu dia da semana é a quinta feira. Sua saudação é: Ewé ó! Seu símbolo é uma haste de ferro, tendo, na extremidade superior, um pássaro em ferro forjado; esta mesma haste é cercada por seis outras dirigidas em leque para o alto.

Conforme uma lenda de Ifá “o pássaro é a representação do poder de Ossain. É o seu mensageiro que vai a toda parte, volta e se empoleira sobre a cabeça de Ossain para lhe fazer o seu relato”. O simbolismo do pássaro é bem conhecido das feiticeiras, por esse motivo Ossain é considerado o grande feiticeiro. Aquele que por meio das folhas pode realizar curas e milagres, e trazer progresso e riqueza.

Orixá do sexo masculino, que como feiticeiro e estudioso das plantas, não possuía tempo para relacionamentos amorosos. Sabe-se que foi parceiro de Iansã, mas o controvertido relacionamento com Oxóssi, que ninguém pode afirmar se foi ou não amoroso, é o mais comentado.

Na verdade, Ossaim e Oxóssi possuem inúmeras afinidades: ambos são orixás do, da floresta, do mato, das folhas, são grandes feiticeiros e possuem ligação com as Iami Oxorongá.

Devido a sua relação com a medicina, Ossain se aproxima do grego Asclépio (ou Esculápio). Deus da Medicina. Enquanto feiticeiro, Ossain também pode ser associado ao trunfo do Tarot, O Mago. O Mago é aquele que conhece a manipulação dos elementos. É aquele que transforma um elemento em algo útil e curativo.

Em termos arquetípicos, O Mago é aquele que tem a capacidade de transformar a realidade, ele é capaz de fazer uma modificação da consciência. Ossain, pode ser considerado o representante do arquétipo do xamã, um misto de mago e  curandeiro.

 

 

Em nossa vida prática, quando o xamã é constelado, podemos ter acesso a uma transformação psíquica, uma cura mágica de uma neurose ou de um conflito. Uma vez que o xamã tem a capacidade de entrar em um estado alterado de consciência. Ele vive em um limiar entre o ego e o inconsciente coletivo, sendo uma ponte entre o consciente e o inconsciente

Além disso, começam acontecer uma série de acontecimentos sincrônicos. A vida está seguindo seu fluxo corretamente. Mas nem tudo são flores nesse arquétipo. E como todos os outros ele possui uma sombra, que deve ser reconhecida, reverenciada e compreendida.

 

 

O mago-curandeiro tem um poder maior que o rei, apesar de sua atuação ser discreta e menos evidente. Entretanto, ele é imprescindível, pois sem ele haveria muitas mortes. E esse poder gera um desejo de controlar e manipular os outros. A sua sombra, então, é justamente querer mudar o outro e manipulá-lo.

Quando aprendemos algo, ou temos uma experiência que muda as nossas vidas queremos que os outros nos sigam. E isso é um erro! Cada um tem a sua forma de viver que não está certa nem errada.

 

 

E a maior lição que Ossain nos deixa é que nosso mago, curandeiro interno deve ajudar cada um a descobrir seu próprio caminho e a entender a hora em que algo deve morrer ou ser curado. E isso só se aprende com muita sabedoria e paciência.

 

BARCELLOS, M. C. Os orixás e a personalidade humana. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.

JUNG, C. Os Arquétipos e o inconsciente coletivo. 2 ed. Petrópolis, RJ, Vozes 2002.

VERGER, P. F. Orixás. Círculo do Livro.

Compartilhe este conteúdo:

Nanã – a mãe terra

Compartilhe este conteúdo:

Nanã é um orixá muito antigo, e que está associada às águas paradas, à lama dos pântanos, ao lodo do fundo dos rios e mares. Pierre Verger ressalta que Nanã é um termo de deferência empregado na região de Ashanti para as pessoas idosas e respeitáveis e que esse mesmo termo significa “mãe” para os fon, os ewe e os guang da atual Gana.

Nanã é representada como uma senhora idosa, que quando se manifesta em seus iniciados, possui um andar lento e penoso, curvados para frente. Por essa razão é chamada carinhosamente de avó. Ela é mãe de Omulu, Ewá, Ossaim e Oxumarê. No Brasil, é sincretizada com Sant’Ana, a avó de Jesus Cristo.

O seu dia de consagração é a segunda-feira, juntamente com seu filho Obaluaê; ou o sábado, ao lado das outras divindades das águas. Sua saudação é Salubá! E seu símbolo é o Íbíri (um feixe de ramos de folha de palmeira com a ponta curvada e enfeitado com búzios). Foi o único Orixá que não reconheceu a soberania de Ogum como dono dos metais, pois seu culto é anterior à descoberta do ferro e, em seus rituais, não costumam ser utilizados objetos cortantes de metal.

Nanã é a junção dos elementos água e terra, ou seja, o barro.

Do barro surgiu o homem, portanto Nanã é o feminino ancestral, participante da criação, podendo ser comparada a Sofia. Além disso, ela é a senhora da morte, das coisas pútridas. É aquela que recebe seus filhos em seu ventre, após a morte, onde ocorre a decomposição dos corpos, para que surja nova vida. Disso surge a associação dela à operação alquímica putrefactio.

Enquanto arquétipo, Nanã corresponde a “Mãe-Terra Primordial”, Gaia.

Ela é uma figura austera, justiceira e absolutamente incapaz de uma brincadeira ou de alguma forma de explosão emocional. Ela é o feminino autoritário e controlador. A grande matriarca!

Considerada a mais antiga divindade das águas, não das ondas turbulentas do mar, como Iemanjá, ou das águas calmas dos rios, como Oxum, mas das águas paradas dos lagos e lamacentas dos pântanos, que lembram as águas primordiais que Odùduà encontrou no mundo quando criou a terra. E como divindade das águas rege os processos da fertilidade feminina, mas em outro pólo do que o referente a Oxum e Iemanjá.

Nanã rege o fim da maternidade, e do poder de procriação. Ela é encontrada na menopausa. Oxum é aquela que estimula a sexualidade feminina para que possa gerar filhos; Iemanjá estimula a maternidade e o cuidado com os filhos; e no fim está Nanã, paralisa tanto a sexualidade quanto a geração de filhos.

Ela, portanto, representa o fim de ciclos, a maturidade.

Nanã também representa o feminino ancestral que foi ferido e subjugado pelo patriarcado. Por isso ela não rende homenagens a Ogum, pois com o advento do ferro, o patriarcado se instituiu e assim sua influência foi diminuída.

Ela é a epítome do poder do Matriarcado, que possui como característica a Lei de Talião, o “olho por olho, dente por dente”. O Eu explica o seu caráter vingativo. E esse poder feminino quando destronado se tornou vingativo e rancoroso, e hoje clama por ser ouvido e reverenciado novamente.

Essa passagem do matriarcado para o patriarcado é narrado em várias mitologias. Na Mitologia grega, o mito de Orestes retrata essa passagem. Orestes matou a própria mãe Clitemnestra, para vingar a morte de seu pai Agamêmnon, assassinado por ela e o amante Egisto. Orestes recebeu ordens der Apolo, um deus essencialmente patriarcal, para matar sua mãe.

Ao matar sua mãe, Orestes é, imediatamente, envolvido pelas Erínias, as vingadoras do sangue parental derramado. Orestes então se refugia no santuário de Apolo em Delfos. Julgado por seu crime em Atenas, o voto da deusa Atena desempatou o resultado a seu favor.

O perdão e a absolvição de Orestes representam a ascensão dos valores do patriarcado, enquanto a permissão do matricídio representa o desprezo aos valores do matriarcado.

Essa passagem do matriarcado para o patriarcado foi necessária, uma vez que se fez necessário implantar a lei, a ordem e a justiça. Entretanto, isso se deu à custa e repressão dos princípios femininos. Hoje uma nova ordem se torna urgente, o que foi reprimido deve voltar a ser reverenciado e o arquétipo da alteridade, onde masculino e feminino convivem de forma harmônica, clama para vir à consciência.

De forma pessoal cada individuo pode colaborar nesse processo com o resgate da sabedoria de Nanã. A mulher quando chega à menopausa se encontra em um grande impasse, e há uma grande crise nesse processo. Sua capacidade geradora findou!

Ela pode se ressentir pela perda de poder sobre os filhos que cresceram e pela diminuição de sua atividade sexual. E é nesse momento que esse arquétipo em sua grandeza se constela, podendo auxiliá-la a encontrar um feminino mais profundo e sábio.

Quando mulheres e homens (por meio da anima) se empenham em resgatar esse poder feminino, e aprendem a honrá-lo podem encontra a verdadeira sabedoria que somente a maturidade pode trazer.

 

Compartilhe este conteúdo:

Oxóssi e o arquétipo da liberdade

Compartilhe este conteúdo:

Oxóssi é basicamente o Orixá da caça que vive nas florestas. E é retratado sempre munido de seu o arco e flecha. É o caçador por excelência. Conforme as lendas, teria sido o irmão caçula ou filho de Ogum.

Orixá da fartura e do sustento (pois provê os alimentos), Oxóssi está sempre presente nas refeições. Sendo o símbolo da ligeireza, da astúcia, da sabedoria e do jeito ardiloso para faturar sua caça. De acordo com Pierre Verger, em sua obra Orixás, Oxóssi significaria “o guarda noturno é popular”.

Oxossi vive na floresta e está relacionado com as árvores e os animais. As abelhas lhe pertencem e representam os espíritos dos antepassados femininos. Possui a habilidade de imitar os gritos dos animais com perfeição. E a sua principal função é propiciar, o alimento em forma de caça e proteger contra o ataque das feras.

Esse orixá tem uma estreita ligação com Ogum e Ossain, o senhor das ervas medicinais. Da sua ligação com Ogum, aprendeu a arte da caça, pois dele recebeu suas armas e com Ossain obteve o conhecimento do uso das folhas terapêuticas, atribuindo a si uma importância também de ordem médica.

Oxóssi, apesar de sua ligação amorosa com Iansã e Oxum (com quem teve um filho, Logun Edé) é retratado como um solitário, pois em sua qualidade de caçador, tem que se afastar das mulheres e de tudo que lhe atrapalhe a concentração. Orixá da mesa farta e do despojamento, não é dado a grandes conquistas, somente ao que lhe é necessário ao sustento. Sua saudação entre os adeptos é “Okê Arô” e seu dia da semana é quinta-feira.

Para começarmos a análise psicológica do arquétipo representado por Oxóssi, é importante analisarmos seu principal símbolo, o arco e flecha. Nele está contido muito da personalidade de Oxóssi. O arco e flecha pode ser caracterizado como uma das mais inteligentes invenções da história da humanidade. Com essa arma, o homem passou a evitar a luta corpo a corpo, à qual estava submetido

Na antiguidade, o homem precisava lutar corpo a corpo com os animais para caçá-los ou atirar dardos ou lanças, o que era extremamente perigoso e tornava praticamente impossível a caça às aves. O arco e flecha, então, passou a proteger o homem que podia atirar a uma distância segura e em silêncio. Levando a humanidade a um salto para frente em termos de melhoria quanto à sobrevivência.

Arco e flecha então é considerado uma invenção inteligente, fruto da função intuição, uma vez que veio se opor a força bruta. Além disso, para se utilizar o arco e flecha em uma caçada, era necessário não apenas ter uma boa pontaria, mas um estado psicológico adequado. Se antes disso o caçador houvesse tido uma briga, certamente erraria o alvo.

Portanto é necessário para se atingir um alvo buscar o equilíbrio interior. E com isso, chega-se a conclusão que Oxossi simboliza essa busca do equilíbrio interior para que se alcance uma meta. Acertar o alvo requer concentração, inteligência e intuição.

Oxóssi é o arquétipo que quando constelado, nos auxilia a encontrar o equilíbrio interior para alcançarmos uma meta. Ele auxilia no processo de individuação, pois a meta é estar consciente do Self, trazendo paciência, concentração, autocontrole. Não adianta usar de força bruta para acelerar a conscientização de aspectos obscuros. Isso demanda tempo, paciência.

Outro aspecto importante a ser analisado é a floresta. A floresta é símbolo de regiões obscuras, inexploradas e ainda primitivas. O ato de entrar em sair da floresta, do caçador, levando alimentos ao povo simboliza a entrada e saída do inconsciente em um movimento de regressão e progressão da libido.

Uma de suas lendas também mostra uma faceta de Oxóssi muito importante.

Vamos à lenda, tirada do livro Orixas de Pierre Verger.

“Olofin Odùduà, rei de Ifé, celebrava a festa dos novos inhames, um ritual indispensável no inicio da colheita, antes do quê, ninguém podia comer desses inhames. Chegado o dia, uma grande multidão reuniu-se no pátio do palácio real. Olofin estava sentado em grande estilo, magnificamente vestido, cercado de suas mulheres e de seus ministros, enquanto os escravos o abanavam e espantavam as moscas, os tambores batiam e louvores eram entoados para saudá-lo. As pessoas reunidas conversavam e festejavam alegremente, comendo dos novos inhames e bebendo vinho de palma. Subitamente um pássaro gigantesco voou sobre a festa, vindo pousar sobre o teto do prédio central do palácio. Esse pássaro malvado fora enviado pelas feiticeiras, as Ìyámi Òsòròngà, chamadas também as Eleye, isto é, as proprietárias dos pássaros, pois elas utilizam-nos para realizar seus nefastos trabalhos. A confusão e o desespero tomam conta da multidão. Decidiram, então, trazer sucessivamente Oxotogun, o caçador das vinte flechas, de Ido; Oxotogí, o caçador das quarenta flechas, de Moré; Oxotadotá, o caçador das cinqüenta flechas, de Ilarê, e finalmente Oxotokanxoxô, o caçador de uma só flecha, de Iremã. Os três primeiros muitos seguro de si e uns tanto fanfarrões, fracassaram em suas tentativas de atingir o pássaro, apesar do tamanho deste e da habilidade dos atiradores. Chegada a vez de Oxotokanxoxô, filho único, sua mãe foi rapidamente consultar um babalaô que lhe declarou: “Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza. “Faça uma oferenda e a morte tornar-se-á riqueza”. Ela foi colocar na estrada uma galinha, que havia sacrificado, abrindo-lhe o peito, como deveriam ser feitas as oferendas as feiticeiras, e dizendo três vezes: “Quero o peito do pássaro receba esta oferenda”. Foi no momento preciso que seu filho lançava sua única flecha. O pássaro relaxou o encanto que o protegia, para que a oferenda chegasse ao seu peito, mas foi a flecha de Oxotokanxoxô que o atingiu profundamente. O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu. Todo mundo começou a dançar e cantar: “Oxó é popular! Oxó é popular! Oxowussi! Oxowussi!! Oxowussi!”

As Iami Oxorongá representam as mães ancestrais. Elas são apresentadas como um misto de feiticeira e pássaro com um grito pavoroso e estão sempre iradas. São cruéis, chegando ao ponto de matar e devorar os próprios filhos. As Iami representam o inconsciente devorador, e o fato de matá-las representa o ato de se desprender do caráter regressivo e destrutivo do inconsciente. Levando a saida do paraíso representado pelo útero materno, para a vida adulta.

Esse tema do herói que mata o dragão, ou o animal terrível, é comum nas fábulas e contos de fada. E simboliza a saída do herói das garras da “mãe” terrível, possibilitando o encontro com a sua anima. Oxóssi, portanto, representa o arquétipo da liberdade. Mas a liberdade verdadeira só pode ser alcançada quando nos libertamos do caráter regressivo do inconsciente e de atitudes infantilizadas. Pois com a liberdade encontramos a responsabilidade. E Oxóssi é a responsabilidade de ganhar seu próprio sustento.

 

Compartilhe este conteúdo:

Exú – o guardião dos caminhos

Compartilhe este conteúdo:

 Exú é uma das figuras mais controvertidas do panteão das religiões afro-descendentes e o mais humano dos Orixás. Exú faz parte tanto do candomblé como da umbanda. No candomblé se apresenta como orixá e na umbanda se apresenta como entidade. Mesmo apresentando algumas diferenças nos rituais, esse arquétipo mantém as características básicas nas duas religiões.

O campo de ação de Exú é ilimitado. Possui múltiplas facetas dependendo da função exercida. O termo Exu em yorubá quer dizer esfera, elemento que realiza o círculo na terceira dimensão, criando o espaço em profundidade.

No candomblé, ele é o principal responsável pela ligação do mundo espiritual com o mundo material, entre os deuses e as pessoas, pois realiza a comunicação entre os homens e os Orixás, levando oferendas para os deuses e expressando suas vontades no jogo de búzios. Também é ele quem faz com que os ritos sejam cumpridos.

Segundo Pierre Verger em seu livro Orixás, antes de começar o “xirê” dos orixás no barracão de candomblé, deve-se fazer sempre o “padê”, palavra que significa “encontro” em ioruba; um encontro, principalmente com Exu, para acalmá-lo e dele obter a promessa de não perturbar a boa ordem da cerimônia que se aproxima.

É o Orixá guardião dos caminhos que levam e trazem e fazem as pessoas se encontrarem ou se distanciarem.

É conhecido como supervisor das atividades do mercado, padroeiro dos ladrões e arruaceiros, além de guardar templos e casas. Transita entre os limites do mundo, rua e casa, fora e dentro, imanente e transcendente, pessoas e deuses.

Originalmente é conhecido como um Orixá masculino, provido de um grande falo de madeira chamado opa-ogó, que teria a propriedade de transportá-lo, em algumas horas, a centenas de quilômetros e de atrair, por um poder magnético, objetos situados a distâncias igualmente grandes. Este objeto também representa a truculência e irreverência, bem como a fertilidade, que é resultado da comunicação e interação entre os princípios masculinos e femininos.

Além do opa-ogó, suas ferramentas e símbolos também são a chave e o tridente.

Sendo um orixá do fogo está ligado à criação dos seres, à procriação e à fertilidade. Ele é o primogênito da criação e o mensageiro dos orixás, quem abre e fecha os caminhos, portanto senhor das encruzilhadas, portador da fortuna ou do infortúnio.

Exú é representado como um ser impulsivo e de fácil comunicação, sabe envolver com palavras sendo irreverente e satírico. Prefere a convivência das ruas e bares, na companhia estimulante de boêmios e malandros. Apresenta caráter intelectualizado, criando intrigas e sofismas enigmáticos. Pode ficar de ambos os lados de uma questão por simples diversão, gostando de debates e discussão, tendendo a inverter a lógica de maneira criativa e zombeteira.

Apresenta qualidade de Trickster. Ou seja, é moleque, brincalhão, zombeteiro, malicioso e arrogante, e sendo somente coerente com sua própria incoerência.

É astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente, a tal ponto que os primeiros missionários, assustados com essas características, comparam-no ao diabo, dele fazendo o símbolo de tudo o que é maldade, perversidade, abjeção, ódio, em oposição à bondade, à pureza, à elevação e ao amor de Deus.

Outra característica é a de corromper os limites do tempo e do espaço, invertendo o estabelecido e trazendo o inusitado e absurdo. Possibilitando o rompimento dos limites impostos sugerindo, por exemplo, que o sol brilhe a noite e a lua durante o dia.

Exu também não se submete ao estabelecido, pois representa todas as possibilidades e contradições.

Como princípio criador, também expressa à consumação de tudo o que foi criado. Duas lendas contam que Exú resolveu devorar todas as coisas que existem, começando por alimentos, passando por animais e plantas, até a sua própria mãe. Diante dessa ameaça, Orunmilá, seu pai, parte em seu encalço com uma espada e a cada encontro com Exú, cortava-lhe uma parte do corpo, essa perseguição se estende até aos nove níveis de Orum (céu), portanto ele é cortado em 201 pedaços. Ao chegar ao último nível eles fazem um acordo e Exú devolve tudo que havia devorado, inclusive sua mãe, com a promessa de que sempre seria servido primeiro. Em virtude disso, Exú deve ser alimentado sempre antes de qualquer atividade.

Contraditório em si mesmo, pode promover disputas e catástrofes – se as pessoas se esquecerem de lhe oferecer sacrifícios e oferendas. No entanto, dependendo de como é tratado, torna-se prestativo e protetor.

Revela-se, dessa, maneira o mais humano dos orixás, nem completamente mau, nem completamente bom – assim como seu equivalente grego Hermes, o romano Mercúrio, o hindu Ganesha e o egípcio Thot.

Exú está associado às funções de mensageiro, de condutor de mortos, transmutador de elementos; de aplicador de justiça de forma indireta, de restabelecimento da justa medida, das trocas e do comércio; dos caminhos e das entradas, das porteiras e dos umbrais, deus dos limites entre mundos, das artimanhas e dos embustes, da esperteza e da jocosidade.

Em termos psicológicos, podemos dizer que Exú representa a constelação de um arquétipo. Este arquétipo atua no sentido do desenvolvimento da psique e da construção dos aspectos pessoais de cada indivíduo, pois não pode haver troca, comunicação e criatividade onde não haja diferenciação – que é o objetivo final da psique.

O arquétipo constelado por Exu é o arquétipo do psicopompo. Psicopompo é uma palavra que tem origem no grego psychopompós, junção de psyché (alma) e pompós (guia) e designa um ente cuja função é guiar ou conduzir a percepção de um ser humano entre dois ou mais eventos significantes.

Este é um arquétipo presente na maioria dos registros mitológicos, sonhos, filmes e contos populares, e surge espontaneamente assumindo a tarefa de revelar um símbolo ou sentido de orientação, necessário para a continuidade da trajetória individual de quem o encontra.

Este guia interior pode ser de natureza humana, (na mitologia como Ariadne), animal (coelho de Alice no País das Maravilhas) ou espiritual (Hermes, Daimon).

A capacidade de lidar com os três níveis – o inferior, o terreno e o superior, o torna capaz de transitar e trazer mensagens destes planos. Em uma análise profunda, é capaz de trazer mensagens do inconsciente para a consciência, possibilitando que os conteúdos reprimidos (sombra) e o lado não digno tanto do analisando quanto do analista sejam elaborados e ressignificados.

Pessoas muito comprometidas com a vida consciente é comum serem surpreendidas por eventos que desestruturam seu frágil equilíbrio emocional. Nessas ocasiões, este arquétipo estará sempre presente, a fim de restabelecer a integridade psíquica, levando o individuo a lidar com neuroses, pânicos ou sumarizações.

Além disso, a capacidade de conduzir almas por estes planos o torna, sob o ponto de vista da psicologia analítica, um condutor dos seres em sua transmutação e em seu processo de individuação.

Portanto, a presença deste arquétipo é de importância vital para o processo psicoterapêutico, uma vez que esse é um trabalho em conjunto de negociação entre inconsciente e consciente.

O ato de se tornar consciente, portanto, deve passar pelo nosso lado menos bonito, menos digno, o nosso lado Exu, aquele que constantemente desprezamos, mas que é extremamente necessário para entrarmos em contato com outros lados de nossa personalidade.

Compartilhe este conteúdo:

Iansã – Senhora dos relâmpagos e das tempestades

Compartilhe este conteúdo:

Iansã ou Oya é um Orixá muito famoso e popular no Brasil. Oya-Iansã foi mulher de Xangô, juntamente com Obá e Oxum. É a deusa das tempestades e dos relâmpagos. Rege os ventos, o fogo e as paixões. Seus seguidores a saúdam gritando: “Epa Hey Oya!”.

É saudada como a deusa do rio Níger. E mesmo estando relacionada à água pelo rio e pela tempestade, ela também está relacionada com o fogo e com o ar (furacões, ventania). Isto indica a união de elementos contraditórios e conflitantes, o que vai influenciar diretamente a personalidade da deusa.

Domina o mundo dos mortos (Eguns), sendo o único orixá capaz de enfrentá-los e dominá-los. Para isso utiliza um instrumento litúrgico chamado Eruexim, uma chibata feita de rabo de um cavalo atado a um cabo de osso, madeira ou metal. No Brasil foi sincretizada com Santa Bárbara.

Oya é uma Orixá guerreira. Representante da força feminina e das mulheres que querem se firmar em um mundo masculino. Seu temperamento é ardente, impetuoso e transgressor. E essa tendência transgressora lhe permitiu ampliar ainda seus conhecimentos. Em Orixás, de Pierre Verger:

“Conta uma lenda que Xangô enviou-a em missão na terra dos baribas, a fim de buscar um preparado que, uma vez ingerido, lhe permitiria lançar fogo e chamas pela boca e pelo nariz. Oya, desobedecendo às instruções do esposo, experimentou esse preparado, tornando-se também capaz de cuspir fogo, para grande desgosto de Xangô, que desejava guardar só para si esse terrível poder.”

Representante da sensualidade desenfreada e das paixões avassaladoras, seus sentimentos são intensos. Não há meio termo com ela, ama e odeia com a mesma intensidade. Demonstrando seu amor e alegria da mesma forma desmedida com que exterioriza sua cólera.

Iansã, apesar de ser feminina e vaidosa se aproxima mais dos terrenos consagrados tradicionalmente ao homem. Em sua mitologia está sempre presente em campos de batalha e em caminhos onde riscos e aventuras se misturam. Enfim, não é o feminino apregoado pela cultura vigente. Não aprecia afazeres domésticos, e está sempre longe do lar. Mesmo assim, é extremamente sensual e fogosa.

Tendo muitos amores e verdadeiramente se apaixonando por eles (ela foi casada com quase todos os Orixás, adquirindo seus poderes com eles). Todavia, a fidelidade dela não está necessariamente relacionada a um homem, mas às suas convicções e aos seus princípios. Em uma de suas lendas, Iansã usava uma pele de búfalo, relacionando a deusa com antigos cultos agrários africanos ligados à fecundidade. Os chifres de búfalo, um de seus símbolos a liga à virilidade e à caça.

Iansã é aquela mulher que quer um homem ao seu lado para ser seu companheiro e não para dominá-la, nem sustentá-la. Não é dada a picuinhas, mostrando que nada nela é medíocre ou discreto. Enquanto figura arquetípica Iansã revela-se cheia de nuances. Ela pode ser associada à grega Afrodite, a suméria Inanna e a romana Vênus, enquanto deusa das paixões, do erotismo e do arrebatamento. Lembrando que Afrodite, assim como Iansã não possui pudores, sendo fiel ao principio do amor e da paixão.

Enquanto deusa ctônica e senhora dos mortos, tece paralelos com a grega Perséfone e com a suméria Ereshkigal. Perséfone era responsável por receber os mortos e encaminhá-los, assim como Iansã, que juntamente com Obaluaye servia de guia para as almas. Isso confere um caráter de psicopompo a Iansã, ou seja, de guia para as almas.  Em seu aspecto guerreiro, Iansã se aproxima da hindu Durga, que é uma Deusa Guerreira, por excelência.

A Grande Durga é extremamente bela, nascida da fusão da cólera de todos os deuses. Em alguns contos, possui 8 braços, em outros, 10, 12 ou até 18. Sempre segurando armas sagradas e realizando mudrás (gestos simbólicos com as mãos), montada em um leão, ou tigre, feroz. Assim como Iansã é representada com a cor vermelha, que simboliza movimento, ação, fogo, destruição, sexualidade.

Iansã, assim como Durga e suas armas, com sua espada está sempre em prontidão para combater o mal e a dominar os aspectos sombrios da psique. Durga matou o búfalo-demônio Mahishasura, outra ligação com Iansã, que utilizava pele de búfalo para se disfarçar. O búfalo simboliza o aspecto viril, instintivo e combativo, representa também o elemento terra, sendo dominado pelo feminino. Além disso, Durga aparece representada montada em um leão ou um tigre. Iansã também se liga ao leão, por meio de Xangô, que foi seu marido.

Essa ligação com as feras, como o leão, remete ao simbolismo do arcano 11 do tarô, a Força. E aqui o arquétipo de Oya-Iansã pode ser aprofundado e melhor compreendido. Essa lâmina do tarô apresenta uma mulher abrindo, com as duas mãos, as mandíbulas de um leão, tem como significado o domínio sobre as emoções instintivas, poderosas e selvagens.

Note que a dama não mata o leão, ela o doma; portanto o simbolismo consiste em não desprezar o inferior, em não aniquilar o que é bestial, destrutivo, mas sim aprender a utilizá-lo. A dama faz isso, de modo a conter a fera preservando o instinto criativo e instintivo presente no leão. O leão é um animal ligado a realeza, é o rei dos animais. E representa um aspecto infantilizado da psique, o egocentrismo, o “eu primeiro”, extremamente destrutivo se mal canalizado. Essa carta, então representa a coragem e a disciplina necessárias para dominar a raiva e usá-la a seu favor.

Para concluirmos esse estudo, Oya-Iansã, então representa a energia criativa do feminino. Ela destrói, por meio dos raios, para criar nova vida. Remetendo a outra lâmina do taro, o Arcano 16, A Torre. Energia que rompe padrões pré-estabelecidos. Quando a estrutura egóica está ultrapassada e cristalizada.

Iansã, em termos arquetípicos, representa também a perda do controle, por isso ela é considerada o Orixá do arrebatamento. A paixão nos toma como um relâmpago, com a força de um furacão e retira o chão de nossos pés. O ego perde totalmente seu controle. A paixão é experimentada como uma morte do ego. A perda do controle, por meio de uma paixão por alguém, ou por algo, ou por um ideal, é um baque para o ego, que muitas vezes se amedronta e foge. Entretanto, tão necessária para o processo de individuação.

Iansã é a quebra dos limites impostos pelas normas, que impedem o desenvolvimento da psique. Ela avança, de forma dinâmica, em direção aos aspectos regressivos, trazendo a uma nova vida aquilo que estava morto. Esse arquétipo, quando constelado, pode trazer a coragem para quebrar paradigmas e romper com limites já desgastados.

Pode ser conflitante e estranho o fato da deusa das paixões ser a que doma os instintos, mas somente um encontro genuíno e franco com esse aspecto instintivo pode levar a um entendimento e compreensão dessas forças. O que remete a frase de Carl Jung “O homem que não atravessa o inferno de suas paixões também não as supera.” Iansã, portanto, quando constelada, ajuda-nos a atravessar nossas paixões, mantendo a lealdade a nós mesmos, levando-nos assim a alcançar a sabedoria e a força de nosso guerreiro interior.

 

Compartilhe este conteúdo: