Psico-oncologia: conceito e atuação

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A psico-oncologia é uma especialidade de estudo que envolve a Psicologia e Oncologia, esta última compreendida como a ciência de estudo do câncer, seu desenvolvimento e possíveis tratamentos. O início do desenvolvimento dessa área tem suas influências, como aponta Carvalho (2002), ainda em Hipócrates e Galeno, quando questionavam-se a respeito de mente e corpo: um poderia influenciar o outro? Os dois se conectam de alguma forma ou são independentes?

Com a superação da ideia presente na Idade Média de que as doenças eram punições divinas, pôde-se, através de Freud no final do século XIX, ampliar-se o olhar sobre o tema e buscar as correspondências presentes entre os eventos de ordem orgânica e psíquica (CARVALHO, 2002). É a partir do desenvolvimento da Psicologia, Psiquiatria e dos estudos em Psicossomática que compreende-se nos dias atuais a psico-oncologia como uma área da Psicologia da Saúde, responsável por realizar o aperfeiçoamento da saúde através da identificação de fatores psicológicos, comportamentais e sociais da doença (STRAUB, 2005, apud ALVES; VIANA; SOUZA, 2018).

De acordo com Alves, Viana e Souza (2018), a atuação da(o) psicóloga(o) com o paciente oncológico e também com sua família é de crucial importância para que se tornem capazes de ressignificar o sofrimento, auxiliando no enfrentamento do câncer. Considerando que esta é uma doença que tende a ter resultados devastadores caso a descoberta e tratamento sejam tardios, entende-se que afeta todo o núcleo familiar, mobilizando os indivíduos. Tendo em vista a promoção e manutenção da saúde é que os profissionais envolvidos irão atuar, e de maneira especial, a(o) psicóloga(o), no que tange aos aspectos biopsicossociais.

Em relação ao diagnóstico do câncer, a psico-oncologia procura, segundo Holland (1990, p. 11), estudar duas dimensões, quais sejam: “1) o impacto do câncer no funcionamento emocional do paciente, sua família e profissionais de saúde envolvidos em seu tratamento; 2) o papel das variáveis psicológicas e comportamentais na incidência e na sobrevivência ao câncer” (apud Carvalho, 2002). A partir disso, depreende-se que a atuação da Psicologia na Oncologia é voltada não apenas para o paciente e no tempo corrente da doença, mas também para toda sua família e nos casos de cura ou mesmo de retorno ao quadro debilitado.

Fonte: encurtador.com.br/knoL5

No Brasil, o primeiro encontro destinado à psico-oncologia aconteceu ainda em 1989 em Curitiba e logo ocorreu também em São Paulo e Brasília, contando com a presença de vários profissionais da área dedicados a discutir sobre o tema e superar os desafios encontrados através da troca de experiências. Atualmente, contamos com a Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO), que através da Psico-oncologia procura aplicar-se (Gimenes, 1994, p. 46):

1º) Na assistência ao paciente oncológico, sua família e profissionais de Saúde envolvidos com a prevenção, o tratamento, a reabilitação e a fase terminal da doença;

2º) Na pesquisa e no estudo de variáveis psicológicas e sociais relevantes para a compreensão da incidência, da recuperação e do tempo de sobrevida após o diagnóstico do câncer;

3º) Na organização de serviços oncológicos que visem ao atendimento integral do paciente, enfatizando de modo especial a formação e o aprimoramento dos profissionais da Saúde envolvidos nas diferentes etapas do tratamento (apud Carvalho, 2002).

A respeito dos desafios encontrados, podemos citar o modelo biomédico que pensa a doença apenas como uma manifestação orgânica, sem relação com o psicológico; variedade de abordagens psicológicas e suas respectivas formas de lidar com o paciente oncológico, gerando discussões sobre que aspecto deve ser o norteador da prática; prognóstico do câncer; personalidade do paciente; dificuldade em realizar o trabalho com a equipe multidisciplinar e outros (CARVALHO, 2002).

Diante dos desafios que ainda se encontram e com o objetivo de fomentar a discussão do tema, novos encontros e trabalhos continuam sendo publicados. No mais, como apresentam Alves, Viana e Souza (2018, p. 530), a atuação do profissional em Psico-oncologia vem de ser o de facilitador na “identificação dos medos, dúvidas  e  expectativas  do  paciente”, promovendo bem-estar na medida do possível, além de uma melhor comunicação entre médico e paciente.

Fonte: encurtador.com.br/nC139

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Maria Margarida. Psico-oncologia: história, características e desafios. Psicol. USP, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 151-166, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642002000100008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 25  nov. 2020. https://doi.org/10.1590/S0103-65642002000100008.

ALVES, G. DA S.; VIANA, J. A.; SOUZA, M. F. S. DE. Psico-oncologia: uma aliada no tratamento de câncer. Pretextos – Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 3, n. 5, p. 520-537, 7 mar. 2018. Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/index.php/pretextos/article/view/15992/13025>. Acesso em: 25  nov. 2020.

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Papel do Psicólogo e Cuidados Paliativos

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Cuidados paliativos tem como objetivo melhorar a qualidade de vida de pacientes que estão em estágios avançados de doenças terminais, para que haja diminuição da dor e do sofrimento e na geração de novos repertórios para lidar com a dor. É feito a partir de equipes multiprofissionais composta por médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, conselheiros espirituais, entre outros profissionais que prestem assistência ao paciente e a seus familiares.

Para se definir a prática dos cuidados paliativos é fundamental que se tenha uma abordagem multidisciplinar que produza uma assistência harmônica, onde o foco é amenizar e controlar os sintomas de ordem física, psicológica, social e espiritual e não de buscar a cura de determinada doença. Trata-se de oferecer ao paciente qualidade de vida, enquanto vida houver (FERREIRA at al, 2011 apud OLIVEIRA & SILVA, 2010)

A contribuição do profissional psicólogo neste âmbito é de entender os sintomas, as patologias e as desordens psíquicas oriundas deste processo de adoecimento e empoderar o paciente para o seu tratamento e processo. A intenção é que o psicólogo trabalhe de forma a minimizar os efeitos causados pela doença, juntamente com o paciente, facilitando a reintegração desse paciente com a família, sua rotina, a sociedade, evitando assim o surgimento de maiores complicações. “Desse modo, evita-se o surgimento de complicações de ordem psicológica que possam interferir no campo profissional, afetivo e social tanto do sujeito em tratamento quanto na de seus familiares” (FERREIRA at al, 2011 apud SAMPAIO & LÖHR, 2008).

Neste processo é de suma relevância respeitar a espiritualidade do paciente, mesmo que não seja papel do profissional psicólogo influenciar neste processo, mas este deve perceber o fenômeno religioso como um recurso neste tratamento, pois ele proporciona ao paciente sentido à vida, suporte emocional, reforço para o paciente, tendo assim papel terapêutico. Existe o líder espiritual que vem somar neste processo, ele tenciona alívio de sintomas estressantes, sofrimentos que vão além do físico, estão em dimensão espiritual, cuidado este que apresenta a morte com a visão de um processo natural e não necessariamente a representação do fim de tudo (ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2009).

Fonte: encurtador.com.br/quQR5

Um exemplo de quadro adoecedor que se utiliza de cuidados paliativos é de pacientes oncológicos, neste quadro é importante que o cuidado promova respeito aos direitos do paciente, para que promova autonomia dele no processo, empoderamento e que ele tome as próprias decisões quanto ao seu tratamento. O papel da família é apoiá-lo neste processo enquanto a equipe multiprofissional oferece informações claras a respeito de suas possibilidades, a doença, seus sintomas, sua evolução, de forma a respeitar a compreensão do paciente sua tolerância emocional.

 Ainda sobre o processo é necessário entender que o paciente está todo o tempo sob o uso de fármacos, e nem sempre os sintomas que ele tem são exatamente da doença, mas podem ser efeitos colaterais das medicações para dor. Os opióides, por exemplo, causam mal-estar, cólicas intestinais, intestino preso causando desconforto para o paciente e dificuldade na sua alimentação. Então a medicação precisa ser entendida como uma extensão do tratamento e causadora de alívio e de sofrimento.

São comuns quadros de dependência de fármacos, mas em cuidados paliativos ela não é encarada de forma prejudicial ao indivíduo, ela faz parte do processo, uma vez que a pessoa está em dor e sofrimento, não é um problema estar sob efeito de medicação durante todo o tempo, é neste momento que cabe falar a respeito da bomba de ACP (Analgesia Controlada pelo Paciente), pois ela é uma ferramenta de uso do próprio paciente que é quem discerne o momento de usá-la e o papel da equipe terapêutica é ajudá-lo a se entender no processo, entender seu corpo e seus limites, para que assim ele se sinta apto a decidir quando usar a medicação e como.

Analgesia controlada pelo paciente (ACP) permite a titulação dos analgésicos de forma individualizada […] apesar de geralmente ser utilizado opióide, por via intravenosa ou epidural, qualquer analgésico administrado por diferentes vias pode ser considerado uma ACP, sendo administrado imediatamente após a solicitação do paciente. [..]Para que a ACP promova analgesia adequada a concentração sérica do opióide deve permanecer dentro da “janela terapêutica” (YASSUDA, 2018)

Fonte: encurtador.com.br/eksw9

Por fim, podemos concluir que a equipe profissional deve ajudar o paciente no enfrentamento e elaboração das experiências emocionais intensas vivenciadas na fase de terminalidade da vida. Tendo cuidado para não ocupar o lugar de mais um elemento invasivo no processo de tratamento, mas de facilitador no processo de integração do paciente, da família e da equipe multidisciplinar, mantendo como foco o doente (não a doença) e a melhora na qualidade de vida do paciente (não o prolongamento infrutífero do seu sofrimento).

REFERÊNCIAS

 ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS.  Manual de cuidados paliativos. Rio de Janeiro: Diagraphic, 2009. 320 p. Disponível em: <http://www.santacasasp.org.br/upSrv01/up_publicacoes/8011/10577_Manual de Cuidados Paliativos.pdf>. Acesso em: 29 out. 2018.

FERREIRA, Ana Paula de Queiroz; LOPES, Leany Queiroz Ferreira; MELO, Mônica Cristina Batista de; O Papel Do Psicólogo Da Equipe De Cuidados Paliativos Junto Ao Paciente Com Câncer. 2011. Rev. SBPH. Vol. 14 no.2, Rio de Janeiro – Jul/Dez – 2011.

YASSUDA, Heitor. Analgesia controlada pelo paciente (ACP). Disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?id_materia=265&fase=imprime. Acesso 29 out. 2018.

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